O uso das Novas Tecnologias para um ensino de Ciências contextualizado.

June 29, 2017 | Autor: V. Gomes dos Santos | Categoria: Tecnología Educativa, Aprendizagem, Ensino De Ciências
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O uso das Novas Tecnologias para um ensino de Ciências contextualizado. a

Suseli de Paula Vissicaro e bVerônica Gomes dos Santos

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Universidade Federal do ABC, mestranda do programa de Ensino, História e Filosofia das Ciências e Matemática, [email protected] b Universidade Federal do ABC, mestranda do programa de Ensino, História e Filosofia das Ciências e Matemática, e-mail, [email protected] Resumo. O ensino de ciências no Ensino Fundamental, para alunos com idades entre 6 a 10 anos, tem sido realizado basicamente a partir da leitura de textos nos manuais didáticos, imagens e esporádicas experiências meramente ilustrativas. Isto contribui para um distanciamento entre os conteúdos científicos abordados na sala de aula e suas relações com o dia a dia das crianças, dificultando a contextualização e significância dos mesmos. O presente trabalho propõe, a partir do uso de Novas Tecnologias, uma estratégia viável para o ensino das ciências, que tem recebido cada vez mais destaque na Educação Brasileira nos últimos 50 anos. Partindo de um gênero conhecido pelos alunos e através de uma abordagem histórica, conceitual e contextualizada, objetiva-se a produção autoral dos estudantes com a construção de conhecimentos significativos e a atribuição de sentidos aos conteúdos, numa perspectiva que coloca o aluno como protagonista no processo de aprendizagem. Palavras Chave: Tecnologia, ciências, aprendizagem Abstract. Teaching Science in Elementary Education, for students with age between 6 and 10 years has been basically realized reading texts in textbooks, images and experiences sporadic merely illustrative. It contributes to a gap between the science content covered in the classroom and their relationships with the children every day, creating some difficult on the contextualize and significance of content. This paper proposes, through the use of New Technologies, a viable strategy for the teaching of science, which has received increasing prominence in Brazilian Education on last 50 years. Starting from a literary genre known by students and through a historical approach, conceptual and contextual, the objective is to build knowledge and the attribution of meaning to the content, in the perspective that sees the student as the protagonist in the process of learning. Keywords: Technology, science, learning

INTRODUÇÃO E JUSTIFICATIVA O uso das novas tecnologias aplicadas à Educação tem sido objeto de pesquisas acerca de suas potencialidades pedagógicas e relevância no processo de ensino e aprendizagem dos alunos, independentemente de idade ou modalidade educativa em que se encontrem. Diversos pesquisadores defendem que a tecnologia pode contribuir significantemente para a construção do conhecimento de forma íntegra e contextualizada, desde que a mesma não sirva para reproduzir os velhos métodos e instruções de ensino, ou seja, apenas animando a velha Educação (PRETTO, 1996). Com a tecnologia, temos a possibilidade de fazer conexões entre o conhecimento historicamente construído pela sociedade com exemplos, modelos, representações, imagens e tantas outras mídias e formatos disponíveis atualmente. Afinal, “aprendemos melhor quando relacionamos, estabelecemos vínculos, laços entre o que estava solto, caótico, disperso, integrando-o em um novo contexto, dando-lhe significado, encontrando um novo sentido” (MORAN 2009, pg 22). Nos últimos anos, houve um marcante aumento na implantação de Laboratórios de Informática e na aquisição de tablets e netbooks para uso na escola e pela escola, com o intuito que a mesma caminhe lado a lado com as inovações, mobilidades e invenções que chegam quase que diariamente ao mercado e à sociedade. Tal situação nos remete a uma reflexão profunda sobre o quanto as NTDICs 1 podem estar a serviço da educação inclusiva dos variados estilos de aprendizagem, como propõe Kolb (Kolb, 1984 apud Belnoski e Dziedzic, 2007), quando sugere um ciclo de aprendizagem que abranja todos os perfis de alunos.

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NTDICs: Novas Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação

Neste prisma é compreendido o uso das novas tecnologias na educação, uma vez que as mesmas trabalham com recursos visuais, sonoros, verbais e híbridos, podendo auxiliar na promoção da argumentação, seleção, comprovação, coleta de dados e tratamento de informações para a transformação de conteúdos em gêneros e meios diversos, efetivando a construção do conhecimento. Para Almeida (2002), nesta nova perspectiva pedagógica e tecnológica, o aluno aprende-fazendo, coloca a prova tudo o que sabe e busca novas compreensões significativas para o que produz. Com uma vasta experiência na utilização das novas tecnologias contextualizadas ao currículo na rede municipal de Ensino de São Bernardo do Campo, vimos uma ênfase grande na integração dos conteúdos de Línguas e Matemática, deixando as demais áreas curriculares em uma posição desprivilegiada e em segundo plano. Diante desta realidade qual valor se dá aos conteúdos relacionados aos campos das ciências? Qual a importância deste para a vida cotidiana do sujeito? Como desenvolver um trabalho afim de que o mesmo ocorra de forma contextualizada, significativa e significante aos alunos? Os Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN de Ciências (BRASIL, 2001), após apresentarem o histórico do ensino de ciências nos últimos 50 anos, com destaque para as tendências e teorias de aprendizagem que o influenciaram e ainda influenciam e a ênfase que se deu em cada período, apresenta uma série de objetivos que se espera alcançar com o ensino de ciências de forma contextualizada, tais como: desenvolver habilidades de descrever, comparar, selecionar, buscar, transformar e argumentar sobre os conteúdos abordados. Tais objetivos nos remetem a uma abordagem histórica, que localizada a ciência no tempo e no espaço, inserida em sociedades em constantes transformações. Destacam-na (a ciência) como uma construção humana, visando à compreensão do mundo e passível de influências das mais distintas linhas e instituições que compõem o cenário social. Promover um ensino de ciências na Educação Fundamental I para além dos textos instrutivos e de experimentos isolados, que estimule a reflexão, a compreensão do todo, o estabelecimento de relações com o cotidiano e que permita entender a transformação da sociedade nos seus diferentes níveis e segmentos de forma real e significante, condizente com a faixa etária dos estudantes, podem ser objetivos também alcançados com o uso das NTDICs. Weissmann (1998, p.52) destaca a necessidade de que o aluno seja capaz de colocar a prova sua capacidade criativa, trabalhar de forma cooperativa e colaborativa, desenvolver o espírito crítico, comunicar e publicar os resultados de seus experimentos e trabalhos e buscar caminhos criativos para testar e colocar a prova suas ideias e questionamentos. Assim, soma-se às ideias de Weissmann a constatação de Almeida (2012) que os alunos já nascem inseridos em um contexto tecnológico midiático social, onde podem aprender desde a infância a buscar, confrontar, investigar e produzir seus interesses e dúvidas, através de equipamentos que promovem a convergência digital que está cada vez mais acessível às pessoas. Assim, a escola possui uma gama de possibilidades através do trabalho com softwares, ambientes virtuais de aprendizagem, objetos de aprendizagens, vídeos, imagens, sons, laboratórios virtuais, banco de dados para pesquisas e uma grande seleção de possíveis sistematizações, tratamentos e publicações dos resultados e conhecimentos construídos através de recursos tecnológicos midiáticos e ambientes tecnológicos educacionais, já presentes dentro de muitas escolas, como no caso do município de São Bernardo do Campo. Mas, mesmo diante desta gama de possibilidades, é fundamental delimitar o papel imprescindível do professor ao propor o uso da tecnologia de forma consciente e contextualizada, uma vez que a mesma, por si só, não é capaz de promover o aprendizado significativo, devendo ser articulada ao currículo através da intencionalidade pedagógica. Um exemplo que pode caracterizar esta ação mediadora entre professor-aluno-tecnologia é a utilização de recursos variados que podem tornar a aula, muita vezes predominantemente expositiva, em uma aula capaz de atender a vários estilos de aprendizagens e atuar em habilidades e competências diversas ao propor a sistematização do conteúdo, transformando-o em veículos, gêneros ou portadores diferentes atendendo a função social do conhecimento. Afinal, “aprendizagens significativas ocorrem apenas quando os alunos transformam informações disponíveis em conhecimento adequado à solução de um problema ou criação de um novo produto” (BARATO 2004, pg 4).

O Projeto e a Interdisciplinaridade: Os Contos de Fadas e as Invenções Tecnológicas Com o objetivo de compreender a história e o processo evolutivo da tecnologia como uma construção humana e sua aplicação na sociedade, assim como, reconhecer os recursos tecnológicos educacionais como possibilidades para aprofundar e sistematizar o conhecimento, vimos na turma do 2º ano A do ciclo I (7 anos) um campo fértil para investigarmos o valor dos conteúdos curriculares de ciências atrelados à Física e à História das

Ciências, assim como a potencialidade dos recursos tecnológicos diversos usados em favor da contextualização e significância dos mesmos ao cotidiano destes alunos. A partir da parceria estabelecida entre a professora da turma (Suseli de Paula Vissicaro) e a professora mediadora dos recursos informacionais e tecnológicos da escola (Verônica Gomes dos Santos), foi elaborado o projeto “Os contos de Fadas e as investigações científicas” com intuito de abordar conceitos considerados distantes para a faixa etária, passeando pela história das invenções 2 de uma forma dinâmica, concreta e significativa. Desta forma, através do trabalho com um gênero textual conhecido pelos alunos (os contos de fadas tradicionais), utilizados a fim de manter a fantasia e criar o enredo necessário para o estabelecimento de relações entre o fantástico e o real, buscou-se promover a interdisciplinaridade ao abordar conteúdos relacionados às ciências, línguas, matemáticas e história. O planejamento central prevê o desenvolvimento a partir de 7 eixos temáticos contendo:      

Eixo 1 2 3 4 5 6 7

1 conto de fadas; 1 invenção tecnológica condizente com a problemática do conto; 1 conceito físico constante na invenção tecnológica abordada; 1 montagem com material estruturado; 1 momento de pesquisa; 1 momento de tratamento da informação;

TABLE a.) Descrição da organização dos Eixos temáticos trabalhados no projeto. Invenção Tecnológica Mecanismos e Conceitos Conto de Fadas João e o pé de feijão Elevador Manivela – direção A princesa e o grão de Ervilha Guindaste Polias e Roldanas - força Branca de neve e os 7 anões Batedeira Engrenagens – movimento uniforme Cinderela Carruagens Rodas e Eixos - rotação A pequena Sereia Barco Estrutura - equilíbrio Rapunzel Escorregador Plano Inclinado – fora e distância A Bela Adormecida Catapulta Alavanca – força e potência

A partir desta organização os alunos passam por uma sequência de atividades que abordam estratégias e vivências diversas, dentre as quais podemos destacar: a apreciação dos contos escolhidos em formato de vídeo, reflexão oral e coletiva sobre a situação problema destacada no vídeo, levantamento de hipóteses, montagem com material estruturado, pesquisas em diversas fontes (Internet, livros, revistas, jornais) e com recursos e locais diferenciados (Laboratório de Informática, netbooks, biblioteca interativa, sala de aula, casa), apreciação de curtas e animações, experiências físico-reais, jogos e simuladores, apreciação de histórias para-didáticas, elaboração de texto descritivo e conceitual, digitação, seleção de imagens, edição e impressão do produto final. Como material estruturado para trabalhar com a montagem e reflexão dos recursos tecnológicos, escolhemos a caixa 9674 do Lego Dacta da Edacom, pois possibilita o brincar, privilegiando o lúdico imprescindível nesta faixa etária sem desconsiderar o potencial cientifico e pedagógico planejado para o projeto. O trabalho com outras mídias, portadores e gêneros textuais, alem de linguagens e formatos diversos garante uma aprendizagem integral, além da inclusão dos alunos com dificuldades de aprendizagens e os alunos com necessidades educacionais especiais, no caso, duas alunas deficientes auditivas que utilizam a Libras – Língua Brasileira de Sinais – para se comunicar com o mundo. Ao final do projeto os alunos confrontarão o conhecimento construído e as aprendizagens abordadas elaborando coletivamente um álbum de figurinhas contendo conceitos, definições e características dos personagens dos contos trabalhados, dos recursos tecnológicos e dos conceitos e mecanismo da física. Desta forma, o produto final elaborado será pertinente e interessante à sua faixa etária, dando sentido a função social e real da escrita, além de colocar a prova todo o conteúdo abordado durante o projeto, revisitando-o de forma significativa e contextualizada. Os PCN’s sugerem algumas possibilidades de trabalho na área de ciências, destacando a importância de se trabalhar com a Hist´roa das Ciências, através da história das invenções, no ensino fundamental I. 2

Até a presente data trabalhamos dois eixos completos (eixos 1 e 2 ) e tivemos o prazer de constatar o quanto o projeto promove o envolvimento, a curiosidade e o desempenho dos alunos, que estabelecem relações reais com conceitos e mecanismos até então considerados distantes da idade da turma, além de promover a ampliação do repertório linguístico, acrescentando termos e vocabulário até então considerados comuns aos anos finais do Ensino Fundamental II.

AGRADECIMENTO Agradecemos a todos aqueles que colaboraram direta ou indiretamente com a realização desta pesquisa.

REFERÊNCIAS ALMEIDA, M. E. B. de. Educação, projetos, tecnologia e conhecimento. São Paulo: PROEM, 2002. ALMEIDA, M.E.B. de. Maria Elizabeth de Almeida fala sobre tecnologia na sala de aula. Entrevista à revista Nova Escola. 2012. Disponível em http://revistaescola.abril.com.br/planejamento-e-avaliacao/avaliacao/entrevista-pesquisadora-puc-sptecnologia-sala-aula-568012.shtml BARATO, Jarbas N. El Alma de las Webquest. Revista eletrônica Quaderns Digitals.net, nº 32, Março de 2004 Disponível em http://www.quadernsdigitals.net/index.php?accionMenu=hemeroteca.VisualizaArticuloIU.visualiza&articulo_id=7360 BRASIL, Parâmetros Curriculares Nacionais: Ciências Naturais. Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1997. BELNOSKI, Alexsandra M. e DZIEDZIC, Maurício. O ciclo de aprendizagem na prática de Sala de aula. ATHENA • Revista Científica de Educação, v. 8, n. 8, jan./jun. 2007 BRASIL, Ministério da Educação, Secretaria da Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: ciências naturais. Brasília: A Secretaria, 2001. MIRANDA, Guilhermina Lobato. Limites e possibilidades das TIC na educação. Revista de Ciência da Educação, nº 3, Maio/Agosto 2007 MORAN, José Manuel. Novas Tecnologias e Mediação Pedagógica, 15ª ed. SP: Papirus, 2009, p.22-24 PRETTO, Nelson de Luca. Uma escola sem/com Futuro: educação e multimídia. Campinas/SP, Papirus, 1996. WEISSMANN, Hilda. Didática das Ciências Naturais: contribuições e reflexões/ organizado por Hilda Weissmann; trad. Beatriz Affonso Neves – Porto Alegre: ARTMED, 1998.

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