O uso das obras de Salvador Dalí como Caminho para se discutir conceitos de Física Moderna em sala de aula

July 9, 2017 | Autor: Wagner Jardim | Categoria: Artes, Ensino de Física, Arte e Ciência
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Jardim (2015) Tradução IHPST THIRTEENTH BIENNIAL INTERNATIONAL CONFERENCE RIO DE JANEIRO JULY 22-25, 2015

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O uso das obras de Salvador Dalí como Caminho para se discutir conceitos de Física Moderna em sala de aula1 The Use of Salvador Dali’s Works to Discuss Concepts of Modern Physics in the Classroom Wagner Tadeu Jardim IF Sudeste MG – Campus Juiz de Fora/Brasil [email protected] Resumo Apresentar a Física ensinada nas escolas como parte dissociável da cultura humana, que influência e é influenciada por outros ramos do conhecimento tem sido uma necessidade (e desafio) apontada por diversos pesquisadores, como um caminho para trazer maior significado ao ensino de tal disciplina. As implicações conceituais da Física Moderna e seu papel atuante na formação cultural do cidadão não são devidamente exploradas, o que reduz muitas vezes, tal conteúdo a um emaranhado de fórmulas que pouco contribuem à formação do alunado. Construímos uma proposta de trabalho concreto no Ensino Médio que visa ampliar algumas discussões conceituais da Física construída no século XX, traçando um paralelo entre tópicos de Física Moderna e obras de arte de Salvador Dalí, aproximando assim, duas culturas aparentemente tão distantes. Como resultado desta proposta, os estudantes criaram desenhos que provocaram a reflexão e o interesse em assuntos relacionados à Física Moderna mesmo por parte dos alunos que apresentam grandes afinidades apenas por estudos sociais e artísticos. Palavras-chave: Ensino Interdisciplinaridade.

de

Física,

Salvador

Dalí,

Física

Moderna,

Arte,

Abstract This Work presents physics taught in schools as a separable part of human culture, that influence and are influenced by other branches of knowledge has been a need (and challenge) pointed out by many researchers as a way to bring greater meaning to the teaching of this discipline. The conceptual implications of modern physics and its way of acting in the citizen role and his cultural formation is not properly exploited, which often reduces such content to a tangle of formulas that contribute little to the formation of the students. We built a concrete proposal for work in high school that aims to expand some conceptual discussions of physics built in the twentieth century, the parallels between modern physics topics and masterpieces by Salvador Dalí, approaching thus the two seemingly distant cultures. As a result of the proposed, the

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O Presente trabalho é a tradução do original: JARDIM, W. T (2015) The Use of Salvador Dali’s Works to Discuss Concepts of Modern Physics in the Classroom. IHPST THIRTEENTH BIENNIAL INTERNATIONAL CONFERENCE RIO DE JANEIRO JULY 22-25, 2015. Publicado em http://www.abq.org.br/ihpst2015/trabalhos/1/28/T1-28_1427288330.doc 1

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students created drawings which provoked the reflection and interest of the concepts and content of Modern Physics that feel greater affinity for the Arts and social subjects. Keywords: Art, Interdisciplinarity, Modern Physics, Physics teaching, Salvador Dalí’s Masterpieces.

Introdução Os Parâmetros Curriculares nas Orientações Educacionais Complementares (BRASIL, 2002) indicam a necessidade de oferecer maior sentido ao ensino da Física, possibilitando ao estudante de nível básico “compreender a construção do conhecimento físico como um processo histórico, em estreita relação com as condições sociais, políticas e econômicas de uma determinada época” (ibid. pp. 67). Ressalta, também, “sua presença em diferentes âmbitos e setores, como, por exemplo, nas manifestações artísticas ou literárias, em peças de teatro, letras de músicas etc., estando atento à contribuição da ciência para a cultura humana” (ibid. pp. 68). Tal direcionamento referente à formação dos estudantes concorda com questões anteriormente levantadas em 1959 por C.P. Snow as quais indicam a necessidade do trabalho interdisciplinar entre o que o autor chamou de “as duas culturas” (SNOW, 1995). Dentro desse contexto de aproximação, podemos destacar as relações entre artes e ciência (ZANETIC, 2006; REIS, GUERRA e BRAGA, 2006) que, além de auxiliar na compreensão do processo de construção histórica do conhecimento científico, apresenta-se como de grande potencial didático para a discussão de conceitos de Física Moderna (FM) no ensino básico (ANDRADE, NASCIMENTO, GERMANO, 2007). A utilização de imagens relacionadas às artes traz uma possibilidade que extrapola o passo inicial pré-abstração referente à introdução de novos conceitos. As pinturas artísticas de diversos períodos históricos podem ser utilizadas como um ambiente de reflexão aprofundado das relações entre “diferentes” áreas do conhecimento. Essa discussão aponta para uma aproximação entre educação científica e cultural, externando alternativas para se discutir os valores culturais e disciplinares do conhecimento cientifico (GALILI 2013). No panorama que remete ao ensino de ideias construídas com base na física do século XX, encontramos um plano de fundo muito frutífero ao analisarmos o trabalho de Salvador Dalí. O pintor explicita a influência que a Física Moderna (FM) exerce em várias de suas obras, principalmente após a publicação do manifesto místico, trazendo para suas telas conceitos e discussões referentes à FM (DALÍ, 1976). Apresentaremos, a seguir, uma proposta de discussão que visa a ampliar o entendimento conceitual dos alunos acerca das novas ideias trazidas pela Física Moderna. Interpretamos, sob a luz dos conceitos e implicações dessa nova Física, algumas obras do Pintor Salvador Dalí, objetivando explorar pontes feitas pelo pintor entre as “duas culturas”. Por vários anos, Dalí fez conexões entre os campos da ciência e da arte em suas obras, antecipando Snow (SCHIEBLER, 2011). A proposta foi inserida no planejamento de turmas do terceiro ano do Ensino Médio (EM) de uma escola federal brasileira de ensino técnico/integrado.

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Dalí e a Física Moderna: aplicando a proposta. O presente trabalho foi introduzido no planejamento escolar durante o quarto (e último) bimestre letivo do terceiro ano técnico/integrado dos anos de 2013 (4 turmas) e 2014 (2 turmas). Nessa última etapa do terceiro ano, os alunos em questão já haviam discutido temas como Segunda Guerra Mundial (nas aulas de História) e o movimento Surrealista (dentre outros, nas aulas de Literatura), o que possibilitou reduzir o tempo despendido na introdução à discussão. A proposta se desenvolveu durante 8 aulas de 50 minutos em cada turma. As aulas foram gravadas em áudio/vídeo e, por meio de diário de campo, foram registradas anotações sobre as impressões de cada encontro. Focaremos a descrição, no entanto, dos momentos que se referem às relações artísticas. A princípio, abriu-se espaço aos alunos para que pudessem levantar o que conheciam sobre o movimento Surrealista, o que lhes causou estranheza por se tratar de aulas de Física. Nesse momento, eles demonstraram possuir conhecimento básico sobre o contexto no qual surge o movimento e as influências recebidas por ele. Apresentamos que Apollinaire, em 1917, definiu o Surrealismo como sendo “uma corrente organizada, mas também o produto de uma mentalidade própria da época” (ARGAN, 2004). Além disso, apontamos que o Movimento sofre influência do cubismo de Picasso, do Dadaísmo de Tzara e da teoria do inconsciente de Sigmund Freud e que, segundo este, o sonho é a representação distorcida de algo que se encontra no inconsciente e poderia manifestar um conteúdo “escondido” na mente. Nesse sentido, justificamos que os surrealistas estavam interessados em trabalhar os sonhos, pois eles “libertavam o inconsciente de um modo impossível no estado de vigília”. (FER, BATCHELOR, WOOD, 1998). Além disso, foi apresentada, nesse momento, uma breve bibliografia de Salvador Dalí, na qual destacamos o período em que o artista se une ao movimento surrealista e conhece Gala Edúard (1929); os anos que os dois passam exilados nos EUA (1940 1948); seu regresso à Espanha - onde se instala em Port Lligat - e a publicação do Manifesto Místico em 1951, época na qual se inicia o período corpuscular em que o artista faz claras referências a alguns mestres da pintura e temas religiosos e científicos2. Ressaltamos, no entanto, que mesmo em trabalhos anteriores a esse período já havia diversas alusões a conceitos científicos em algumas de suas obras (DESCHARNES, NÉRET, 2013). O objetivo, nessa introdução às discussões, era o de apresentar, dentre outros aspectos, a forte influência de temas científicos sobre o trabalho de Dalí (LOPEZ, 2006). Diversas obras de Dalí poderiam ser escolhidas para o objetivo proposto. Todavia, tornar-se-ia inviável trabalhar com um número muito grande de telas. Optamos, deste modo, pelas seguintes obras3 do autor: Croix Nucléaire (1952), Figure Équestre Moléculaire (1952), Galatea de Esferas (1952), Mandone Corpusculaire (1952) e Velocidade máxima da Madona de Rafael (1954) para iniciar a reflexão sobre a teoria atomística que supõe a descontinuidade da matéria. Essas obras foram trabalhadas em paralelo a simulações do Phet Colorado (PHET) que representam, por exemplo, os modelos atômicos de Dalton a DeBroglie. Foram discutidos também, os processos radioativos como emissões de partículas alfa, beta e gama em conjunto com outras simulações que constituem o arcabouço necessário à discussão do processo de fissão nuclear que foi levado também ao âmbito cultural e artístico. Neste momento, obras 2

Todavia, não há ruptura com suas obras que antecedem ao período e às técnicas pictóricas utilizadas ou ao método paranoico-crítico, apenas os temas mudam. 3 As imagens podem ser visualizadas em http://www.dali-gallery.com/ (Último acesso, 22/12/2013)

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como Sans Tire – Frontispice de temple avec explosions de bombes atomiques (1947), Idílio Atômico e o Átomo de Urânio (1945) e As três Esfinges de Biquini (1947) aparecem como recurso estruturante da sequência didática. Em relação às concepções de tempo e espaço trazidas pela Relatividade, utilizamos obras como Persistência da Memória (1931) e Ossificação Prematura de Uma Estação (1930), no intuito de abrir espaço a temas relacionados (SLHAIN, 1991). Para encerrar a discussão, utilizamos a tela A desintegração da persistência da memória (1952-1954) para ressaltar um aspecto altamente relevante na Física: a compatibilidade e Unificação de Teorias. A primeira obra apresentada foi a Persistência da Memória (fig. 1), por ser uma das mais conhecidas. Sempre que uma tela era apresentada, a primeira palavra sobre o possível significado da obra partia dos alunos que, em seguida, com o auxílio do professor, construíam relações entre obra e conceitos de FM. Ao observá-la, os alunos argumentaram que, nos sonhos, o ambiente às vezes nos parece maleável e deformado, não muito claro. Um aluno lembrou que já teria visto os relógios deformados em algumas outras obras de Dalí. Todavia, as interpretações não ultrapassaram em muito esses argumentos. Sobre o quadro Ossificação Prematura de Uma Estação (1930), os alunos enfatizaram o relógio que aparece novamente deformado e repararam nas sombras. Na parte superior central do quadro, no que parece ser a representação de uma pessoa, sua sombra aponta para a direção oposta às demais representadas na tela, um aluno disse que existiam fontes de luz opostas indicando que seriam dois momentos de tempo diferentes representados na mesma figura.

Figura 1 A Persistência da Memória - Salvador Dalí (1931) Persistance de la mémoire. Óleo sobre Tela, 24 x 33 cm. Nova Iorque, The Museum of Moder Art (Anonymous Gift, 1934).

A persistência da Memória (como outras obras) traz representações que se contrapõem aos absolutos (espaço e tempo) da física clássica. Desde os relógios moles, eu sou, historicamente, aquele que soube fornecer a equivalência da equação espaço-tempo, mas toda a minha arte traduz a qualidade da angústia ultramoderna (...) A minha pintura 4

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é realmente a das quatro dimensões, às quais se junta a afirmação de uma alma paranóico-crítica. (DALÍ, 1976 pp.238)

A Teoria da Relatividade (TR) traz conceitos relacionados à estrutura espaçotempo de forma maleável. Os relógios amolecidos representam a deformação dessa estrutura (SCHIEBLER 2011). Além dos relógios, Dalí tem como cenário de fundo uma praia “vazia” de onde se destaca a areia, bem como as formigas no canto inferior esquerdo, ambos remetendo a referências temporais (SHLAIN, 1991). Expusemos a tela A velocidade Máxima da Madona de Raphael (fig.2) e a Galateia de Esferas (1952), voltando a analisar a constituição básica da matéria. A seguir, apresentamos a simulação do modelo de Bohr para o átomo de Hidrogênio4, (fig. 9). Nesse momento, os alunos foram convidados a refletir sobre a constituição da matéria. A maioria dos alunos ficou muito intrigada, pois, apesar de haver estudado os modelos atômicos anteriormente, não pararam para pensar que a maior parte dos átomos - portanto, de tudo que é palpável - seria formada por espaços vazios de acordo com o modelo atomista. “Somos todos um grande vazio! Que triste...(risos)”, concluiu um aluno. Nas telas A velocidade Máxima da Madona de Raphael (1954 – fig.2), Galateia de Esferas (1952), Cruz Nuclear (1952) e Figura Equestre Molecular (1952), existe esse pensamento proveniente do Misticismo Nuclear de Dalí, em que fragmentos (átomos) independentes formam uma unidade. Outras pinturas rementem a uma maior desordem no movimento desses fragmentos, que não estão muito bem definidos como a Cabeça Nuclear de um Anjo (1952), Madona Corpuscular (1952), Cabeça Bombardeada Por Grãos de Trigo (1954), Santo rodeado por três mésons pi (1956) dentre outras. Essas obras auxiliaram a introduzir discussões acerca da constituição e natureza dual da matéria segundo a mecânica quântica, apesar de não discutirem conceitos de preenchimento do espaço por campos, o que foi ressaltado pelo professor posteriormente.

Figura 2 Velocidade Máxima da Madonna de Rafael 1954, e Simulando o átomo de Hidrogênio (PHET).

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Essa e outras simulações podem ser encontradas em http://phet.colorado.edu/pt

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Para reforçar os conceitos referentes à dualidade onda-partícula e suas implicações, foi apresentado um vídeo didático5 que apresenta a descrição dual da matéria segundo a mecânica quântica. Apresentamos, então, a tela Pierrot a Tocar Viola (ou Arlequim e Garrafinha de Rum - 1925) que, além de buscar representar o que Dalí chama de Plasticidade do Vácuo através da Garrafinha (ou da falta dela), traz a dualidade nas formas onduladas presentes no Arlequim. No que se refere à radioatividade, apresentamos a tela Ilídio Atômico e Urânio Melancólico (1945 - fig.3 - pintada logo após a explosão das bombas6 do novo México, Hiroshima e Nagasaki). A maioria dos alunos identificou a data ao término da segunda Guerra, fazendo inferências à tristeza representada no rosto (formado pelo avião), a face de horror no canto inferior esquerdo, a explosão nuclear no canto inferior direito. Surgiram diversos comentários relacionando o avião, a explosão e o horror trazido pela guerra.

Figura 3 Ilídio Atômico e Urânio Melancólico, 1945 - Idylle atomique et uranium mélancolique

Ao serem questionados sobre o processo de fissão nuclear de um átomo, poucos alunos se lembraram do disparar do nêutron contra o núcleo em questão. Utilizamos, desse modo, a simulação sobre fissão nuclear (fig. 11) para relembrar a instabilidade dos elementos radioativos e “visualizar7” o processo (fig. 3).

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Doutor Quantum http://www.youtube.com/watch?v=2NuLa29WKnI duração 4min e 50s, último acesso em 23/10/2013 6 Nessa segunda bomba, a de Hiroshima, foi utilizado Urânio, nas outras duas, Plutônio. 7 A palavra “visualizar” está entre aspas, pois como já discutido anteriormente com os alunos, o modelo científico ser a representação absoluta da realidade, constitui um dos mitos sobre a Natureza das Ciências ressaltados por McCOMAS (1998)

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Figura 4 Simulando a fissão nuclear; nêutron é disparado contra o núcleo do átomo de Urânio (PHET)

Com relação a este quadro, informamos aos discentes que diante dos horrores trazidos pela Guerra, Dalí se pôs a pensar nos efeitos das explosões nucleares e como ninguém estaria seguro, sendo todos, dependentes dos azares da história. Suas incertezas são assim exprimidas: “A Melancolia Atômica que então pintei, exprime minhas dúvidas e minhas incertezas, nascidas em 6 de agosto de 1945” (DALÍ, 1976 pp.198). Nessa obra, Dalí adicionou ao modelo de Gota Líquida - sua própria contribuição - o Baseball Nuclear, no qual as bolas rebatidas pelo jogador fazem referência aos nêutrons disparados contra os núcleos radioativos (SCHIEBLER, 2011). No caso representado, o núcleo do átomo de Urânio 235 absorve o nêutron, tornando-se Urânio 236 ainda mais instável, induzindo, assim, a fissão nuclear que, além da liberação de energia, origina elementos mais leves e nêutrons que podem gerar uma reação em cadeia. Uma das possíveis reações é representada pela equação a seguir (eq.1)

Equação 1 Representação de um possível processo de fissão do urânio 235

Acerca de As três Esfinges de Biquini (1947), os alunos atentaram que, de acordo com a data, a tela refere-se ao pós Guerra e representa pessoas que voltavam suas costas às atrocidades trazidas pela Guerra. Além disso, perceberam que o formato das “cabeças” e os “cabelos de nuvens” simbolizavam explosões nucleares. Destacamos que a pintura, de fato, faz menção a explosões nucleares e ao absoluto silêncio que se seguiu. Foi exibida, nesse momento, uma reportagem8 que possibilitou relembrar a

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A reportagem pode ser visualizada em http://www.youtube.com/watch?v=RE2TWzahyiQ, cuja duração é de 3min e 10s e (último acesso em 05/11/2014)

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destruição causada pelas bombas de Hiroshima e Nagasaki. Experimentamos, então, alguns segundos de silêncio.

Figura 5 A Desintegração da Persistência da Memória. The Disintegration of Persistence of Memory, 1952-54

Apresentamos, como última obra, A Desintegração da Persistência da Memória (fig. 5) que visa a representar a união das teorias da Relatividade e Mecânica Quântica. Os alunos identificaram as duas teorias em conjunto, expandindo as ideias do primeiro quadro apresentado (Persistência da Memória - 1931) em união com as ideias de fragmentação e quantização trazidas pela Teoria Quântica. Essa aproximação entre teorias é trazida, por exemplo, com Paul Dirac na descrição relativística dos elétrons ao indicar que “[...] Ao se tomar consciência desta realidade, passa-se a perceber outros aspectos antes não visíveis do mundo...” (ANDRADE, NASCIMENTO E GERMANO, 2007) AVALIAÇÃO E RESULTADOS Além das discussões realizadas em sala, foram aplicadas avaliações que compuseram a nota bimestral dos alunos9. Uma das avaliações consistiu na elaboração de um desenho que se baseasse em conceitos da Física Moderna escolhidos pelos próprios estudantes. Como resultado, apresentamos, a seguir, cinco dos aproximadamente cento e cinquenta desenhos construídos.

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Nas avaliações realizadas em aula, questões “tradicionais” foram mescladas às Obras de Dalí, os alunos fizeram análises de algumas das obras trabalhadas em sala.

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Figura 6 Lentes da Simultaneidade, Ilustração de aluno.

As Lentes da Simultaneidade (fig.6), “Busca representar, dentro da Teoria da Relatividade, a Simultaneidade de eventos por meio da figura dos óculos que, em cada lente, nos apresenta uma visão diferente da central, enfatizando o quão relativo é observar um evento, no caso a importância do papel do referencial. O balão representa o conceito de Bohr a respeito do átomo, sendo o saco de areia um fóton emitido na perda de energia e consequentemente a transição de camadas. Por fim, o eclipse solar transmite a ideia da radiação de corpos negros, que é condicionada à temperatura.” (Descrição feita pelo aluno e autor)

A ilustração Dualidade Natural (fig. 7) “mostra, metaforicamente, conceitos da Física Moderna. O fato de metade da obra ser preta e branca e a outra colorida justifica o título e mostra a natureza dual dos constituintes atômicos. Os elementos (folhas) flutuando significam partículas e forças intra-atômicas em equilíbrio na composição do átomo. A maleabilidade dos relógios transmite a noção de dilatação do tempo, tendo caráter não absoluto. O que ‘amolece’ é o próprio tempo e não os relógios. As horas diferentes indicam que dois eventos podem ser ou não simultâneos dependendo do referencial adotado. Einstein, na Teoria da Relatividade, afirmou que tempo e espaço deixam de ser absolutos e passam a depender do observador. O espaço não é independente do tempo, mas se combinam. Uma dilatação do tempo está relacionada à contração do espaço, ideia representada pela plasticidade e curvatura dos relógios.” (Descrição feita pela aluna e autora da ilustração)

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Figura 7 Natureza Dual, Ilustração de aluna – 2014

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Figura 8 - Os Vários tempos de um mesmo Relógio, Ilustração de aluna - 2014.

Na Obra Os Vários Tempos de um Mesmo Relógio (fig. 8), “O tempo é real, o tempo é a sombra do real, o tempo é imaginário, o tempo é relativo” (descrição da imagem da aluna e autora). Em Relógios da Torre (Fig. 9), A descontinuidade da matéria aparece nos espaços entre as partes da figura. O Vácuo é representado pela ampulheta que está, mas, na “realidade”, não está. O Tempo da ampulheta que se desfaz e está se separando do meio do “Big Ben” indica a dificuldade de se descrever o tempo inicial do Universo, no momento em que tudo começa, o tempo se revela ainda mais misterioso e enigmático, ultrapassando os conceitos da Relatividade, momento sobre qual é até difícil filosofar.” (Descrição da aluna e autora)

Figura 9 Os Relógios da Torre, Ilustração de aluna – 2014.

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A Ilustração entregue sem título (fig. 10), É baseada na Teoria do Efeito Fotoelétrico. O desenho é formado por esferas de cores diferentes que representam os elétrons dos diferentes tipos de metais existentes. A Energia Mínima para ocorrer o efeito envolve a frequência da radiação, metais diferentes  Energias Diferentes  Frequências diferentes  Cores diferentes. Além disso, as bolinhas mais distantes do centro já sofreram o efeito, são os fotoelétrons.” (Descrição da aluna e autora).

Figura 10 Ilustração sem título, Ilustração de aluna - 2014.

O objetivo desta etapa avaliativa, além do processo em si, é fazer com que algumas das ilustrações trabalhadas em paralelo com as obras de Dalí motivassem as discussões nas aulas de Física Moderna no ano seguinte, construindo, ao passar do tempo, um pequeno acervo contando com a contribuição dos alunos. As obras discutidas em sala constituíram parte das avaliações posteriores. Uma das questões apresentou a tela Galateia de Esperas (1952), que deveria ser analisada pelos alunos com base em conceitos discutidos nas aulas. Dentre as diversas análises, destacaram-se algumas como a apresentada a seguir, Na obra de Dalí, inspirada em sua esposa, pode ser feita uma relação com a questão quântica. A matéria, segundo os conceitos da física moderna, é formada por partículas - os átomos – formados de outras menores ainda – os quarks. Este conjunto de partículas forma algo que nos parece contínuo, o que pode ser observado na ilustração em que se percebe que o conjunto de esferas cria a imagem de um rosto (o todo). Ainda pode-se ressaltar a presença de espaço entre essas esferas, que simbolizam o fato das partículas não apresentarem contato, todavia se mantêm unidas por forças intranucleares. (Análise da Galateia de Esferas feita por uma aluna)

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CONCLUSÃO Na introdução do presente trabalho, indicamos a preocupação em se aproximar as duas culturas – a saber, artes e ciências - e o potencial didático apresentado por essa ponte de ligação. A proposta descrita se mostrou um caminho eficaz para trazer para o ambiente da sala de aula de ensino básico questões referentes a essa problemática. Apesar de, a princípio, estranharem em demasia a abordagem de movimentos artísticos e a figura de Salvador Dalí nas aulas de Física, os alunos manifestaram grande interesse na discussão. Pudemos observar um aumento significativo na participação dos alunos, principalmente no que diz respeito aos estudantes que sempre apresentaram maior afinidade com as disciplinas ligadas à área das Ciências Humanas. Trabalhar o conteúdo necessário para “resolver” problemas de vestibular mostrase uma estratégia muito limitada para uma compreensão mais ampla da Física e sua Natureza. Acreditamos que, nessa experiência de Ensino, a discussão conceitual sobre conceitos de Física Moderna alcançou níveis mais profundos que os habituais, trazendo mais sentido e significância para o aluno e, em contrapartida, à mera exposição de fórmulas e “macetes”. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Andrade, R. R. D.; Nascimento, R. S.; Germano, M. G. (2007). Influências da Física Moderna na Obra de Salvador Dalí. Caderno Brasileiro de Ensino de Física. v.24, n.3 : p.400 – 423. ARGAN, G. C. (2004) Arte Moderna – Do Iluminismo aos movimentos contemporâneos. São Paulo: Companhia das Letras. BRASIL, BASES LEGAIS–Parâmetros Curriculares Nacionais; MÉDIO, Parâmetros Curriculares Nacionais Ensino. PCN+ para o Ensino de Ciências e Matemática. Brasília: Ministério da Educação, 2002. DALÍ, S. (1976) As confissões inconfessáveis de Salvador Dalí. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora. DALÍ, S. – Art Gallery. Disponível em http://www.dali-gallery.com/html/ DESCHARNES, R.; NÉRET G. (2013) Dalí; A Obra Pintada. Ed. Taschen. FER, B.; BATCHELOR, D.; WOOD, P. (1998). Realismo, Racionalismo, Surrealismo A arte no entre-guerras. COSAC & NAIF Edições. GALILI, I. On the Power of Fine Arts Pictorial Imagery in Science Education. Science & Education, v. 22, n. 8, p. 1911-1938, 2013. GUERRA, A.; REIS, J. C.; BRAGA, M. (2010). “Tempo, Espaço E Simultaneidade: Uma Questão Para Os Cientistas, Artistas, Engenheiros E Matemáticos No Século XIX” Caderno Brasileiro de Ensino de Física, v. 27, n. 3: p. 568-583. JARDIM, W. T. (2015) The Use of Salvador Dali’s Works to Discuss Concepts of Modern Physics in the Classroom. Ihpst Thirteenth Biennial International Conference Rio de Janeiro July 22-25, 2015 LOPEZ F. M. (2006) La obsesión de Salvador Dalí por la ciencia. História, Ciências, Saúde – Manguinhos,v. 13 (suplemento), p. 125-31. 12

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