O USO DE AMBIENTES VIRTUAIS DE APRENDIZAGEM NAS PERSPECTIVAS DISCENTE E DOCENTE

May 27, 2017 | Autor: Marcus Kucharski | Categoria: Educational Technology, Teacher Education, Teacher Training, Virtual Learning Environments
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O USO DE AMBIENTES VIRTUAIS DE APRENDIZAGEM NAS PERSPECTIVAS DISCENTE E DOCENTE

Ademir Valdir dos Santos – UTP-PR [email protected] Dinamara P. Machado – UTP-PR [email protected] Marcus Vinicius Santos Kucharski – UTP-PR [email protected]

Introdução

Este artigo discute as possibilidades das práticas pedagógicas com a utilização de ambientes virtuais de aprendizagem no Ensino Superior, sob perspectivas discente e docente. O objetivo é apresentar as possibilidades de produção de conhecimento, a aprendizagem, o desenvolvimento de habilidades e a interação em situações em que os ambientes virtuais de aprendizagem foram utilizados como estratégia pedagógica com turmas de graduação. A metodologia adotada considerou atividades didático-pedagógicas em uma Universidade sul-brasileira, utilizando os registros de avaliação de estudantes de Graduação que compartilharam ambientes virtuais de aprendizagem em processos semipresenciais e o teor de três entrevistas com docentes. Os dados foram submetidos à análise de conteúdo (BARDIN, 1977). Selecionamos experiências pedagógicas vinculadas às disciplinas cursadas pelos alunos depoentes, que foram Ética, Fundamentos Filosóficos da Educação e Metodologia da Pesquisa; já os professores entrevistados utilizaram ambientes nas disciplinas de Comunicação e Expressão, Metodologia da Pesquisa, Navegação Aérea e Ética. Inicialmente

apresentamos

uma

abordagem teórica

sobre

as

tecnologias

educacionais e sua inserção nas práticas pedagógicas contemporâneas. Noutra parte, descrevemos os ambientes virtuais de aprendizagem e seu potencial didático-pedagógico. Na análise, evidenciamos as falas discente e docente sobre o uso dos ambientes virtuais como ampliadores de conhecimentos e possibilitadores de interação, discussão, autonomia intelectual e capacidade de produção e aprendizagem.

Da sala de aula convencional para o ambiente virtual de aprendizagem: possibilidades das práticas pedagógicas

Os espaços escolares têm mantido a mesma configuração desde os tempos da educação jesuítica. Os aspectos espacial, temporal, de seleção de dados socioculturais e da estrutura de poder que configuraram os colégios nos períodos medieval e moderno, foram mais ou menos preservados, de modo que as instituições educacionais contemporâneas mantiveram esses elementos (PETITAT, 1992), ainda influenciando as atuais pedagogias. Por outro lado, as transformações sociais, econômicas, políticas e culturais da contemporaneidade implicaram transformações que atingiram os espaços educativos convencionais. Neste cenário, a incorporação de tecnologias às práticas pedagógicas merece destaque. As tecnologias educacionais inovadoras significam possibilidades para a Educação: o ambiente formativo escolar, quer em seus aspectos políticos como físicos, é metamorfoseado. A íntima relação entre a gestão escolar mais ampla e a docência nas salas de aula fica também reconfigurada, estabelecendo-se uma nova dinâmica. As transformações na chamada sociedade do conhecimento trazem desafios para a Educação, que necessita responder por meio de uma formação em sintonia com as determinações deste momento histórico, em que o mundo transita da organização centrada na produção de bens materiais para aquela em que se torna essencial a produção intelectual com uso intensivo das tecnologias (BEHRENS, 2000). Tais transformações são fundantes na medida em que apresentam novas possibilidades de produção de conhecimento, de aprendizagem, de desenvolvimento de habilidades e de interação entre os sujeitos educativos e o meio. Diferentemente dos antigos espaços escolares, hoje as salas de aula que visam educar com qualidade requerem professores com formação atualizada, preparados, motivados, bem remunerados, que tenham à sua disposição um espaço agradável, com infra-estrutura adequada, e, tanto quanto possível, incorporando tecnologias educacionais de informação e comunicação (MORAN, 2004). As Tecnologias da Informação e Comunicação – TIC – são apresentadas como possibilidade didático-pedagógica efetiva em práticas pedagógicas que se preocupem com a construção de aprendizagens e atitudes solicitadas pelo estágio atual de desenvolvimento científico e tecnológico da sociedade mundial. Conforme Brunner (2004, p.21), a educação enfrenta, em escala mundial, um período de mudanças e ajustes antes não conhecidos. Se, de um lado, abre caminhos para o encontro da tecnologia em ambientes virtuais de aprendizagem, de outro é preciso que se aprenda com plena segurança como lidar com a tecnologia no trabalho, no cotidiano, no exercício de praticamente todas as profissões. Particularmente quanto aos ambientes virtuais de aprendizagem, os aspectos colaborativos que possibilitam são evidenciados, tendo na construção do conhecimento uma

resultante de ações compartilhadas por alunos e professores, de modo dialógico e consensual, caracterizando uma mediação pedagógica possibilitadora de autonomia e crescimento concomitante das individualidades e do coletivo. As novas TIC exigem que se desenvolvam estratégias simbólico-reconstrutivas pelo uso das diversas formas literárias, com registros escritos, assim como perceptivo-motoras, relativas ao meio informatizado, ligada à interatividade e à linguagem pictórica. Então, múltiplas e diversas linguagens são envolvidas, colaborando para a ampliação dos modos de aprender para além daqueles previstos nas práticas pedagógicas tradicionais. Os procedimentos educativos criam dinâmicas novas e especiais (CORTELAZZO, 2004). Os ambientes virtuais redimensionam as possibilidades de relação entre professoraluno e aluno-aluno, não vistas mais como vias de mão única, mas com diversos sentidos. O professor deixa de ocupar o local central, o posto de comando. A nova posição docente é dada em função das posições de investigação e aprendizagem que esta assume, no mesmo plano e nível dos alunos, com base em que são abandonadas as posturas competitivas e individualizantes para substituí-las por hábitos cooperativos e de busca comum por aprender, por apropriar-se e produzir conhecimentos. Os estudantes abandonam posturas de recepção passiva, reprodutivas e de repetição, de incorporação meramente mnemônica, para desenvolver a busca, a criatividade, a incorporação crítica de atitudes e saberes contextualizados e vinculados a vivências profissionais, cidadãs e humanas. O ideal é que todos os aprendizes desenvolvam percepção crítica, sejam capazes de solucionar problemas e, com autonomia e iniciativa, questionem e busquem transformar as suas realidades. Os ambientes de aprendizagem têm o professor como orientador, as práticas pedagógicas centradas nos alunos; busca-se a aprendizagem em grupo, a transformação, enfatizando-se posturas investigativas e proativas, todo um processo de aprender. Tais características se opõem àquelas próprias da sala de aula tradicional, em que a autoridade e os objetivos ficam centrados no professor e os alunos são induzidos a posturas passivas, sendo a aprendizagem uma busca solitária para os alunos em que se valoriza a memorização (KENSKI, 2003). Com relação às características da aprendizagem colaborativa, explicitamos as seguintes (ALCÂNTARA e BEHRENS, 2004): conhecimento compartilhado entre professores e alunos; autoridade compartilhada entre professores e alunos; professores como mediadores e agrupamentos heterogêneos de alunos. Na sala de aula colaborativa, o conhecimento é compartilhado. Os professores detêm o conhecimento sobre os conteúdos, mas também valorizam as experiências pessoais, a linguagem, as estratégias e a cultura que os

alunos trazem para as situações de aprendizagem. A autoridade do professor é compartilhada com os alunos de várias maneiras, como, por exemplo, ao encorajarem os alunos a usarem seus próprios conhecimentos, a se engajarem em diálogos abertos e significativos, a compartilharem suas estratégias de aprendizagem. Os professores são considerados mediadores na medida em que o papel do professor enfatiza a aprendizagem mediada, construída por meio da valorização das experiências dos alunos, da preocupação com o processo de aprendizagem. Sobre a heterogeneidade na aprendizagem colaborativa, o professor deve criar atividades educacionais que ajudem os alunos a descobrirem as habilidades do grupo para aumentar o potencial de aprendizagem de cada membro.

Possibilidades das práticas pedagógicas com o uso dos ambientes virtuais de aprendizagem na Educação Superior

Detivemo-nos sobre o relato das práticas pedagógicas em ambientes virtuais que envolveram acadêmicos de Pedagogia, na disciplina Fundamentos Filosóficos da Educação; de Letras, em Ética e de Administração, na disciplina Metodologia da Pesquisa. A pesquisa acrescentou a perspectiva da atuação docente. Foram analisadas as atividades didáticopedagógicas docentes e discentes realizadas em salas virtuais em disciplinas semipresenciais e, num segundo momento, elaboramos e aplicamos entrevistas a docentes responsáveis pela criação de ambientes virtuais de ensino-aprendizagem. O instrumento de entrevista foi estruturado com 21 perguntas, dispostas em 3 blocos, sendo o primeiro de informações pessoais e de formação profissional, o segundo com perguntas a respeito de aspectos didáticos, docência e interação no ambiente virtual de aprendizagem e, o último, composto de perguntas a respeito da formação específica para desenvolver atividades pedagógicas com essas tecnologias. Os dados foram analisados com base na análise de conteúdo, proposta por Bardin (1977). No exame de atividades, da documentação e das falas registradas nos ambientes virtuais, alguns dados foram evidenciados. A metodologia de trabalho nas disciplinas de Fundamentos Filosóficos e Ética previa: exposição docente e discente, leitura, análise e interpretação de textos de obras literárias clássicas e filmes, de obras de arte e musicais, exercícios individuais de produção textual, trabalhos em grupo e o uso de tecnologias educacionais no laboratório de informática, especialmente o uso de um ambiente virtual de aprendizagem. Na Metodologia da Pesquisa, o enfoque metodológico recaiu em atividades para o desenvolvimento de habilidades relacionadas à pesquisa, com discussões sobre a

epistemologia, a produção de conhecimento na universidade e a sistematização da trajetória de investigação científica por meio da elaboração de um projeto de pesquisa e sua apresentação em seminário. A avaliação foi processual, com depoimentos dos alunos a cada encontro, bem como nas aulas finais. Em todos os casos, o plano de estudos considerou a possibilidade de utilizar até 20% da carga horária das disciplinas com atividades de Educação a Distância, mais propriamente com programação semipresencial, mediada pelo ambiente virtual de aprendizagem. Considerando não apenas a quantidade de encontros e interações “fora da sala de aula”, para os alunos de Pedagogia foram agendados encontros no laboratório de informática, de modo que a “alfabetização tecnológica” fosse possível. Assim, se permitiu a quem não dominava os recursos técnico-instrumentais necessários uma melhor utilização do computador e da Internet como elemento de interação com os colegas e professores. A perspectiva foi de utilização do computador e da Internet como elementos disponíveis para o ensino com pesquisa e através da pesquisa, de modo que os acadêmicos não só vislumbrassem as possibilidades das tecnologias educacionais para a sua própria aprendizagem como percebessem usos que poderiam ser incorporados futuramente nas escolas. A arquitetura dos ambientes foi pensada em dois usos de natureza distinta, porém imbricados. Por um lado, elementos de cunho pedagógico, em que as práticas estariam orientadas para apropriação e domínio didático: agenda, fórum de discussão, portfólios individuais, materiais e leituras. De outro, aspectos da arquitetura que poderiam ser utilizados de modo menos diretivo, objetivando a socialização entre os “habitantes” do ambiente virtual: correio, bate-papo e mural. Havia, sobretudo, a solicitação de registros escritos, de autoria individual ou coletiva, que auxiliariam nas aprendizagens mediante a utilização democrática e compartilhada dos conteúdos. É necessário frisar, ainda, que os ambientes virtuais de aprendizagem são elaborados de modo que o docente ocupe uma posição de formador, através da qual gerencia a quantidade e natureza dos acessos realizados por todos os estudantes ao ambiente nos diferentes pontos de sua arquitetura, permitindo acompanhar a evolução da interação e o cumprimento das atividades pedagógicas solicitadas. Desse modo, o formador tem à sua disposição recursos técnicos que lhe oferecem uma visão panorâmica, constatando aspectos de participação individual e coletiva. Cada parte do ambiente atende a uma função específica relacionada aos objetivos da disciplina. Os portfólios individuais servem para que se registre a evolução do aluno e sua aprendizagem. São compostos, gradualmente, por textos que cada estudante produz tratando das temáticas em discussão. No caso específico da disciplina de Metodologia da Pesquisa, foi

inserido um tópico específico no portfólio, intitulado “projeto de pesquisa”, em que os alunos foram gradualmente inserindo sua redação dos elementos estruturantes do projeto de pesquisa (problematização e objeto de pesquisa, justificativa, objetivos, metodologia e referencial teórico). Desse modo, os portfólios são importantes constituintes dos ambientes virtuais, pois espelham a capacidade de produção de cada sujeito, que é compartilhada por todos. Então, na consulta aos diversos portfólios, cada aluno pode perceber o estágio em que sua produção se encontra, conhecer outros itinerários de pesquisa, comparar aspectos técnicos e epistemológicos, analisar outras perspectivas metodológicas e teóricas. Os fóruns de discussão trazem a possibilidade de comentar, sistematicamente, a produção de todos os habitantes do ambiente de aprendizagem virtual, constituindo um espaço colaborativo, pois as idéias e argumentos são lidos, analisados, interpretados e criticados. Os campos de “materiais” e “leituras”, às vezes configurados como uma webteca (biblioteca virtual), são enriquecidos durante o período de trabalho pedagógico com artigos, livros eletrônicos e diversos materiais bibliográficos encontrados em bases eletrônicas. A presença desses elementos na arquitetura dos ambientes virtuais amplia as possibilidades de contato dos estudantes com textos relacionados aos conteúdos abordados. As partes do ambiente intituladas correio, bate-papo e mural vem atender às necessidades de comunicação informal entre os participantes no ambiente. Entende-se que os alunos apreciam a possibilidade de se mostrarem e de conhecerem uns aos outros utilizando sua própria linguagem, livres da necessidade de redação técnico-científica (exigida noutros pontos do ambiente). Nesses espaços, configura-se estrutura similar aos chats, ou seja, salas de bate-papo, em que se trocam dados pessoais e se abordam questões do cotidiano. De modo geral, se verifica que, por meio do computador e da Internet, os estudantes encontram caminhos de comunicação, de expressão de desejos, de sentimentos, de troca de conhecimentos e vivências: o ambiente virtual passa a ser elemento central no relacionamento humano e pedagógico com os colegas e com o professor.

As perspectivas discentes e docentes sobre o ambiente virtual de aprendizagem: avaliando limites e possibilidades

Como a utilização dos ambientes virtuais de aprendizagem nos processos de ensino na Graduação tem sido recebida pelos estudantes e professores? É possível afirmar o êxito na sua utilização com finalidades de gerar aprendizagem e interação entre os sujeitos?

Quanto à avaliação discente sobre os usos do ambiente virtual, destacamos as falas de quatro alunos, presentes em instrumentos de auto-avaliação utilizados nas disciplinas, avaliados no primeiro momento da pesquisa: O uso da Internet foi muito importante. (ALUNO A) O ambiente virtual ajuda e contribui muito para o nosso aprendizado durante o curso, é um meio de facilitar o desenvolvimento de cada um. (ALUNO B) Quanto aos trabalhos que apresentamos e/ou inserimos no portfólio, adorei faze-los (sic)! Considero uma atividade muito produtiva. (ALUNO C) A tecnologia realmente foi um recurso a mais para pessoas que possuem alguma deficiência, para discussões e também para expor alguma novidade. (ALUNO D) As falas dos discentes indicam sua percepção de que os usos das tecnologias na educação precisam ser pensados de forma crítica. Ou seja, não basta a mera incorporação de computador nas práticas pedagógicas para que ganhos efetivos de aprendizagem e socialização se realizem. Reflete a aluna E, de Pedagogia: “Por isso, inserir muitos textos, sendo a maioria copiados e colados da internet não signifique adquirir conhecimento”. Complementa sua perspectiva analítica: “Apesar de concordar que quanto mais informação o aluno adquirir, maior conhecimento ele virá a ter, porém (sic) se esta informação não for analisada e criticamente processada, irá se transformar em um conhecimento vaziou (sic), ou seja, conhece mas não sabe, não consegue opinar sobre o assunto”. Do conteúdo das entrevistas dos docentes, nominados 1, 2, 3, quanto ao uso do ambiente virtual de aprendizagem, mostramos trechos que evidenciam a interação, ainda que às vezes seja entendida na perspectiva da obrigatoriedade, como parte de um processo avaliativo: Interação é que você faz e o que recebe de retorno. O aluno é obrigado a manifestar a interação, por muitas vezes o aluno na sala de aula presencial, muitas vezes o aluno não responde, no TelEduc 1 os alunos são obrigados a participar mesmo que de forma escrita. (PROFESSOR 1)

1

TelEduc é o nome do ambiente virtual de aprendizagem utilizado pelos depoentes.

A aula a distância no TelEduc ajuda o aluno interessado, somente quem quer estudar consegue realizar as atividades e vai bem na prova. (PROFESSOR 2) Em outra entrevista, os processos de interação e avaliação são compreendidos de forma mais crítica, em que os discentes estão crescendo a partir do momento em que lêem as atividades de outros alunos, quando fazem perguntas abertas ao professor e aos colegas e até mesmo quando uma ferramenta específica do ambiente faz a correção de algumas atividades automaticamente. O portfólio é uma ferramenta muito importante da socialização do conhecimento, pois, grande maioria dos alunos disponibilizam os trabalhos para todos os alunos. (PROFESSOR 3)

Com o TelEduc consegui realizar pequenas avaliações a partir das atividades postadas com a correção automática, assim consigo avaliar melhor os alunos. (PROFESSOR 3)

No TelEduc coloco muitos exercícios assim os alunos podem praticar, nesta área é muito importante praticar. Se fosse somente na sala de aula presencial, não possibilitaria tantas atividades, seria um acúmulo muito grande de atividades para corrigir. (PROFESSOR 1) Com as ferramentas proporcionadas pelo ambiente, o docente recebe dados em relatórios para fazer avaliações diagnósticas constantes dos alunos. Associado ainda à positividade, o discurso docente enaltece aspectos de controle possibilitados. A máquina impõe um rigor que é semelhante ao ambiente de trabalho, já que temos horas, datas e momentos de decisão precisos, um ambiente técnico, sem curvinhas, isto estimula a aprendizagem. É isso é bom! (PROFESSOR 1) Práticas semipresenciais, com a inserção de ambientes virtuais de aprendizagem ainda são recentes. Por isso, é preciso enfrentar desafios administrativos e burocráticos para que este recurso consiga apoiar atividades educativas com a qualidade necessária. Assim, talvez num futuro não tão distante, instituições de ensino e governo precisarão discutir uma outra agenda, complementar: Como remunerar o docente que atua em ambientes virtuais de aprendizagem?

Como estruturar matrizes curriculares e horários que permitam a utilização de computadores dentro do espaço físico acadêmico tradicional? Em que momento social teremos acesso aos recursos provenientes da evolução tecnológica para a maioria da população? Estes foram questionamentos que apareceram nas entrevistas, como se constata: A interação acontece muitas vezes independente do horário, pois, o aluno acha que agora trabalho 24 horas, então precisamos estabelecer horários. (PROFESSOR 2) Existe uma barreira econômica para o uso do ambiente interativo, pois muitos alunos não tem computador em casa então precisam usar lan house, o que dificulta que

o processo interativo aconteça!

(PROFESSOR 2) No ambiente virtual de aprendizagem ainda temos o problema de sobrecarga de trabalho quando optamos por trabalhar a distância, a parte burocrática não é valorizada, pois a hora-aula continua como da presencial. (PROFESSOR 3) As práticas pedagógicas desenvolvidas em ambientes virtuais de aprendizagem proporcionam aos docentes momentos de aprendizagem favorecidos pela pesquisa e elaboração de materiais didáticos com mais rigor científico, trazendo benefícios inclusive ao seu fazer pedagógico na modalidade presencial: A docência em ambiente virtual de aprendizagem ajudou no crescimento

científico

para

as

aulas

presenciais.

Então

o

desenvolvimento das práticas pedagógicas a distância melhorou o trabalho presencial. Hoje meu aluno presencial pode faltar na (sic) aula que mesmo assim consegue entender o que aconteceu na aula anterior. (PROFESSOR 3) Para o ambiente virtual de aprendizagem aprendi a elaborar apostilas com maior qualidade para meus alunos, pois, o material deveria ser auto-explicativo e formal. Com isto os alunos estudavam em qualquer horário, realizando a leitura, enviando e-mail para tirar dúvidas e em seguida respondiam os exercícios. O aluno que não tinha feito as tarefas ficava perdido nos momentos presenciais. (PROFESSOR 3)

Na perspectiva docente, apoiada pelo referencial teórico apresentado, os aspectos positivos da adoção dos ambientes virtuais são vários: aproximam o professor de posturas mais democráticas de gestão; ampliam os canais de comunicação com os estudantes e entre estes; ampliam o tempo e o espaço destinados à leitura, pesquisa e registro, uma vez que o trabalho pedagógico solicitado na agenda pode ser efetuado em casa ou no trabalho, ampliando a qualidade da produção possível nos processos presenciais; geram a extrapolação das fronteiras da sala de aula e da própria instituição universitária ao colocar os alunos em contato com a sociedade global contemporânea através dos recursos midiáticos; amplia as possibilidades de avaliação processual da aprendizagem e o acompanhamento dos percursos pedagógicos de cada estudante, uma vez que os registros do ambiente virtual acabam gerando um histórico de atividades pedagógicas devidamente registradas e situadas no espaço-tempo. As avaliações dos docentes e discentes vêm ao encontro do pensamento educacional contemporâneo que evidencia o significado de incorporar as tecnologias às instituições de ensino. Mas destacam, por outro lado, que sua mera utilização, como modismo ou sob perspectiva instrumental alicerçada a uma racionalidade técnica que dá centralidade aos meios, não é e nem discute ganhos pedagógicos efetivos na aprendizagem e na interação entre os sujeitos, não garante avanços nas práticas pedagógicas formativas. A utilização dos ambientes virtuais na Educação precisa estar alicerçada numa relação pedagógica em que as atividades propostas e a racionalidade que as orienta tenham como objetivos a geração de aprendizagem e ganhos na comunicação, interação e socialização entre os atores escolares e a sociedade contemporânea. As propostas educativas podem gerar ganhos com a adoção do computador e da Internet, pois estas ampliam as interações entre os sujeitos aprendizes, com ganhos na formação profissional e humana, conforme docentes e discentes relatam.

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