O uso de dispositivos móveis para o ensino de jornalismo

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FÓRUM NACIONAL DE PROFESSORES DE JORNALISMO (FNPJ) Grupo de Trabalho: Produção Laboratorial – Eletrônicos

O Uso de Dispositivos Móveis Para o Ensino de Jornalismo Prof. Dr. Antônio Francisco Magnoni 1 Prof. Ms. Marcos Américo 2

Resumo: A Revolução Informática reserva lugar cada vez menor à divisão entre espaços públicos e privados; entre ambientes de trabalho e domicílio; entre o contato presencial e remoto das pessoas etc. É inegável que os equipamentos portáteis de comunicação sem fio (wireless) estão cada vez mais presentes no cotidiano social. Em empresas de comunicação, especialmente as jornalísticas, a atualização tecnológica constante pode assegurar a liderança de público e de mercado. Para os jornalistas, a comunicação móvel com emissão e recepção simultânea, sem fio e em aparelhos portáteis significa uma reviravolta profissional e está provocando uma remodelação do jornalismo. O objetivo desta pesquisa é levantar subsídios sobre o processo de implantação e o padrão de uso dos novos dispositivos móveis nas redações de diferentes veículos de comunicação. Outro foco conceitual é desenvolver no Curso de Comunicação da FAAC-UNESP-Bauru, uma estrutura de ensino e pesquisa, para desenvolver estudos de linguagem, formatos e procedimentos para o uso de dispositivos móveis como recursos de cobertura jornalística.

Palavras-chave: Ensino de jornalismo; Dispositivos móveis; Convergência de mídias.

1

Jornalista e professor de Radiojornalismo do Departamento de Comunicação Social da Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação da Universidade Estadual Paulista-UNESP/Bauru. ([email protected]) 2 Radialista e professor de “Produção multimídia” do Departamento de Comunicação Social da Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação da Universidade Estadual Paulista-UNESP/Bauru. Mestre em Comunicação Midiática, pela FAAC/UNESP e doutorando em Educação para a Ciência na FC/UNESP. ([email protected]) 10º Encontro Nacional de Professores de Jornalismo – Goiânia-GO – 27 a 30 de abril de 2007 http://www.fnpj.org.br/soac/ocs/index.php?cf=1

2 O desenvolvimento intenso da tecnologia digital registrado nas últimas três décadas permite que sistemas computacionais sejam incorporados rapidamente aos mais diversos aparelhos eletrônicos presentes no cotidiano de bilhões de pessoas, independente da condição econômica, educacional ou da região geográfica em que elas residam. Presenciamos uma progressão contínua do número de indivíduos que incorporam em seu cotidiano, algum tipo de equipamento com capacidade de processamento digital. A disputa do mercado global online acelera a convergência tecnológica e a interface técnica e de linguagens entre todos os equipamentos providos de memória digital. Multiplicam-se os novos usuários de aparelhos eletrônicos informatizados e a motivação para a rápida popularização de tantos tipos de equipamentos binários reside provavelmente, na capacidade multilateral crescente que tais equipamentos apresentam para emitir e receber mensagens. Todos os aparelhos digitais presentes nos diversos ambientes humanos têm sempre mais recursos para realizar “funções cerebrais/comunicacionais”. Tal fato que permite uma rápida remodelação cultural-cognitiva de seus usuários, com resultados semelhantes entre diferentes povos com situação material distintas. Todos eles passam a ter todas as suas relações sociais sempre mais mediadas por recursos de comunicação ubíquos, interativos e pluridimensionais. Com a nova geração de máquinas teleinformatizadas, as concepções não modernas e os atuais padrões culturais e hábitos sociais modernos declinantes terão menos chances de resistência e sobrevida. Ao contrário da máquina-ferramenta e do maquinismo elétrico e motriz, que permaneciam confinados no espaço fabril, as máquinas binárias se espalham por todos os espaços sob ação humana. A Revolução Informática reserva lugar cada vez menor à divisão entre espaços públicos e privados; entre ambientes de trabalho e domicílio; entre conceito de produção e de consumo; entre produção, informação, comunicação e educação; entre cultura e entretenimento; entre arte verbal/sonora, visual e plástica; entre o contato presencial e remoto das pessoas etc. Um novo ambiente informacional vem se expandindo exponencialmente e acelerando a obsolescência dos meios de comunicação e de produção analógicos criados por tantos conhecimentos e tecnologias, insumos e substâncias químicas, que foram desenvolvidos incessantemente desde os primeiros instantes da Era Moderna. Os conglomerados informacionais dos Estados Unidos e da Europa disputam 10º Encontro Nacional de Professores de Jornalismo – Goiânia-GO – 27 a 30 de abril de 2007 http://www.fnpj.org.br/soac/ocs/index.php?cf=1

3 acirradamente o imenso mercado dos serviços e do comércio digital nos continentes euro-asiático e americano, que concentram a maioria dos consumidores do planeta. Todas as empresas cobiçam o crescimento digital das telecomunicações, da televisão, do cinema, do rádio, dos jornais, revistas e editoras de livros, veículos que experimentam com a difusão pela rede um novo vigor midiático. A expansão e a perspectiva de barateamento e popularização dos serviços privados de telefonia móvel em todos os mercados significativos do mundo alimentam disputas e acordos estratégicos entre os maiores fabricantes mundiais de tecnologia telefônica. Por não depender de um terminal fixo como o microcomputador, a webfone poderá conquistar mobilidade e popularidade semelhante aos do “rádio de pilhas”, o equipamento eletrônico mais barato e mais consumido a partir da década de 60 do século XX. Com a disseminação mundial dos sistemas de banda larga e dos celulares de terceira geração serão possíveis ainda na primeira década do século XXI, o recebimento e a transmissão de imagens e de quaisquer outras informações extensas pela rede sem fio. É inegável que os equipamentos portáteis de comunicação sem fio (wireless) estão cada vez mais presentes no cotidiano social. A diversificação de modelos com capacidade crescente de processamento, de emissão e recepção de dados, amplia as opções de comunicação móvel para os usuários. A miniaturização dos componentes reduziu o porte e o consumo de energia dos aparelhos móveis e tornou-os independentes de fontes de alimentação externas. O uso de meios portáteis de comunicação é apontado como insumo racionalizador de tempo e potencializador das vantagens competitivas para indivíduos e empresas em geral. É por conta das projeções exuberantes para os mercados de bens tecnológicos, que a economia digital desencadeou uma nova corrida do ouro em que muitos disputam um quinhão do imenso território virtual, onde sempre prevalece a lei do mais forte ou do mais rápido. O principal paradoxo da “revolução informacional” e de suas ferramentas informacionais, é que dela derivou a nova plataforma digital para a produção de bens de consumo de qualquer natureza. As máquinas industriais robóticas substituem com vantagem as máquinasferramenta e já permitem automatizar quase a totalidade do trabalho manual e uma crescente parcela do trabalho mental, presente, por exemplo, nas agências bancárias, em setores de serviço, de educação, veículos de comunicação e entretenimento etc. Porém, só a inovação radical no sentido tecnológico, como ocorreu com a transição da 10º Encontro Nacional de Professores de Jornalismo – Goiânia-GO – 27 a 30 de abril de 2007 http://www.fnpj.org.br/soac/ocs/index.php?cf=1

4 máquina-ferramenta para o computador, não altera o modelo econômico e cultural, que prossegue vinculado à tradição industrial moderna. Várias gerações serão necessárias para se entender efetivamente que “a máquina-ferramenta objetiva o trabalho da mão que manuseia a ferramenta; o computador objetiva certas funções abstratas do cérebro: a memória, o cálculo, o tratamento complexo de algumas informações, etc.” (Lojkine, 1999). A transformação da tecnologia e do ambiente tecnológico não implica em mudança correspondente das relações sociais. Isto significa que o uso capitalista das máquinas “inteligentes” faz com que elas absorvam antigas funções repetitivas das máquinas-ferramentas. Objetivamente, as “tecnologias digitais” e a “nova economia” representam nos dias atuais, a extrema radicalização do processo de automatização do trabalho e de hegemonia do capitalismo, que Marx detectou desde a década de 1860, e que citou no primeiro volume de “O Capital”. Parece-nos que a grande burguesia internacional reassumiu desde as duas últimas décadas do passado, um ímpeto imperialista ainda mais intenso que aquele ocorrido no final do século XIX. Ela promoveu, graças ao pleno domínio das tecnologias binárias durante a segunda metade do século XX, a robotização da indústria, dos setores de serviços, dos sistemas de informação e comunicação e aplicou seus preceitos neoliberais em todo o universo globalizado. Graças ao desenvolvimento da rede mundial de computadores, conglomerados capitalistas e os governos dos países ricos puderam unificar todos os sistemas isolados de informação e prospecção de dados, comunicação, finanças e gestão empresarial. No ambiente informatizado e interligado, tempo e espaço locais perderam significado. No espaço binário da internet predomina o tempo global determinado pela velocidade dos fluxos de informação, e um tempo virtual que encurta conforme aumenta a potência de transmissão das redes.

Como a técnica informacional se instalou no mundo como um todo, a globalização significa também a possibilidade de comunicar. E é pôr isso que as multinacionais puderam se instalar, unindo graças à técnica informacional, os mais diversos pontos do planeta, tanto os que comandam como os que são comandados ou meramente fiscalizados. Esse povoamento do mundo pela informação, que passa a ser a grande forma de energia a comandar o movimento, faz com que em cada lugar estejamos no mundo e que o mundo, por sua vez, esteja em cada lugar. (...) Mais ou menos completamente, todos os lugares são mundiais hoje em dia.(SANTOS, 2000)

Apesar disso, tais máquinas com capacidade de reproduzir habilidades manuais e mentais humanas, são antípodas das máquinas-ferramenta e do modelo

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5 industrial desenvolvidos em toda a Era Moderna. A ironia é que o aparato informático, que relega ao “ferro velho” toda a maquinaria das linhas produtivas taylorista-fordista, não teve sua origem na pujante produção de mercadorias duráveis e supérfluas, que gerou a civilização de consumo material do século XX. Ele foi gerado pela indústria cultural, pelos meios de comunicação e entretenimento. Começou com os pioneiros da telegrafia e da radiodifusão, tecnologias primordiais para a indústria de equipamentos audiovisuais, que permitiu desenvolver a fabulosa produção fílmica, radiofônica, televisiva, jornalística, publicitária etc., desde o início do século XX. A etapa tecnológica e produtiva atual começou com o desenvolvimento das primeiras plataformas digitais de uso civil, que deu origem ao ciberespaço como espaço público e a cibercultura como um movimento coletivo e global. Teve início efetivo no começo dos anos 1970, em sintonia com os movimentos da sociedade dos EUA contra a Guerra do Vietnã. A informática era, naquela época de “guerra fria”, exclusividade dos projetos militares e dos fabricantes de armamentos e de equipamentos de telecomunicações encomendados pelo governo dos Estados Unidos. O conhecimento sobre a tecnologia digital era sigilo de estado, questão de segurança nacional. Os ativistas passaram a defender o uso civil e pacífico dos computadores. O movimento adquiriu dimensão com a campanha californiana “Computers for the peoples”, uma reação simbólica que tomou impulso graças à proliferação de protótipos experimentais de computadores e programas desenvolvidos por técnicos e pesquisadores adeptos do movimento contra o controle da informação e pela popularização da informática. Como é comum à sociedade capitalista, em pouco tempo despontou um mercado promissor para os microcomputadores e ferramentas digitais. A informática foi inserida, pela pressão comercial, aos múltiplos objetivos do cotidiano social e se popularizou exponencialmente a partir de 1980. A própria internet e suas principais ferramentas são resultados da apropriação coletiva de tecnologias que foram produzidas para objetivos restritos e autoritários de militares e das grandes indústrias bélicas do ocidente. A Agência de Projetos de Pesquisas Avançadas (ARPA em inglês) do Pentágono criou a rede e suas três principais tecnologias, que são a realidade virtual, a videoconferência e o correio eletrônico. Essas três ferramentas foram desenvolvidas durante a “guerra fria” e apresentadas ao governo Jimmy Carter “como armas 10º Encontro Nacional de Professores de Jornalismo – Goiânia-GO – 27 a 30 de abril de 2007 http://www.fnpj.org.br/soac/ocs/index.php?cf=1

6 essenciais na luta contra a espionagem e o terrorismo”. (O Estado de S.Paulo, 2001). O fenômeno informacional em curso motiva muitas interpretações derivadas de uma infinidade de tendências científicas e ideológicas, exatamente porque transforma a economia, o meio social e cultural e põe em risco os pactos políticos nacionais e internacionais. Para Max (O Capital, 1972), “o que diferencia umas épocas das outras não é “o que se faz”, mas sim “como”, com que meio se faz”. Se o homem depende de seus artefatos, de seus instrumentos para produzir sua própria existência, em nenhum momento o ser humano possuiu tecnologia tão polivalente e contraditória quanto os meios informacionais. As “ferramentas” computacionais se espalham por todos os espaços vivenciais e exigem conhecimentos e habilidades contemporâneas para a realização mental ou material do trabalho, em todas as áreas do fazer humano. Um novo ecossistema digital se estabelece e aprofunda a crise das sociedades industriais e das formas pré-modernas e modernas de subsistência humana. Aumenta a incerteza do futuro para uma maioria de pessoas que só dispõe de sua força de trabalho moldada para um modelo produtivo, em desaparecimento. Diante da mais prolongada crise do emprego na sociedade industrial, a educação volta a ser cogitada como a única alternativa para resolver o impasse social. Os arautos e artífices da “nova economia”, diante do agravamento recorde do antigo fenômeno do desemprego, recomendam para os pretendentes ao trabalho em um mundo “pósindustrial” a formação escolar permanente, conhecimentos apurados e habilidades flexíveis. É um contexto apartador, que transforma a vítima em réu. A pessoa que não teve oportunidade da “alfabetização tecnológica” é taxada de incapaz e assume a “culpa” de sua “incompetência”. E o pior, a falta de conhecimento das tecnologias digitais é transformada em “falta grave” que permite a exclusão das pessoas em nome da pós-modernidade. Acesso constante às fontes de informação atualizadas, aquisição contínua de conhecimentos gerais e específicos, formação profissional polivalente e habilidades flexíveis de trabalho: são algumas das exigências pessoais que a nova ordem binária impõe aos trabalhadores como requisitos fundamentais para que eles possam encontrar trabalho em um ambiente produtivo cada dia mais concorrido e automatizado. Se o novo modo de trabalho ocorre, cada vez mais, em ambientes informáticos e com ferramentas digitais, pôr conseqüência, os que não têm acesso à 10º Encontro Nacional de Professores de Jornalismo – Goiânia-GO – 27 a 30 de abril de 2007 http://www.fnpj.org.br/soac/ocs/index.php?cf=1

7 nova realidade estão sendo rapidamente apartados da vida produtiva e ficarão sem meios efetivos de sobrevivência. A

velocidade

das

evoluções

tecnológicas

e

as

transformações

socioeconômicas que elas acarretam reduzem ainda mais as possibilidades competitivas daqueles países que não dominam o conhecimento e os processos de produção dos aparatos informacionais.

Igualmente, acentua-se a exclusão dos indivíduos

despreparados para trabalhar com as novas ferramentas digitais. A conseqüência é o agravamento do subdesenvolvimento que transforma países inteiros em territórios com espaços majoritariamente opacos, como aponta Milton Santos:

A globalização leva à afirmação de um novo meio geográfico cuja produção é deliberada e que é tanto mais produtivo quanto for maior o seu conteúdo em ciência, tecnologia e informação. Esse meio técnico-científico-informacional dá-se em muitos lugares de forma extensa e contínua (Europa, Estados Unidos, Japão, parte da América Latina), enquanto em outros (África, Ásia, parte da América Latina) apenas pode-se manifestar como manchas ou pontos. Cria-se, desse modo, uma oposição entre espaços adaptados às exigências das ações econômicas, políticas e culturais características da globalização e outras áreas não dotadas dessas virtualidades, formando o que, imaginativamente, podemos chamar de espaços luminosos e espaços opacos.(SANTOS, Folha de S.Paulo, 2000)

Um modelo de economia ainda mais desigual se dissemina e se sustenta com a ampliação constante de redes digitais de informação, que se estabelecem sem limitações de fronteiras nacionais ou continentais, sem distinção de características histórico-culturais ou étnicas, independentes de regimes ou de tendências políticas. No sentido cultural, a world wide web é a nova Babel contemporânea. Porém, ao contrário da Babel bíblica, a internet com seus bilhões de páginas pessoais (cujo link de conexão é seu próprio endereço) em pouco mais de dez anos, tornou-se um meta-território onde todos seus habitantes virtuais podem ser facilmente encontrados e entendidos. Ela atua como um agente informático universal, um motor sociocultural e econômico muito potente e veloz quanto à luz. No sentido tecnológico e comercial, com sua imensa força centrípeta, a web move a indústria binária no rumo da convergência e da digitalização de todos os meios de comunicação existentes. É um movimento que libera mais espaço de tráfego informacional no limitado número de canais disponíveis no espectro eletromagnético natural. Estes canais são indispensáveis para a existência da telefonia e da internet móvel, sem contar com uma infinidade de outros serviços públicos e reservados que não podem dispensar as transmissões eletromagnéticas. 10º Encontro Nacional de Professores de Jornalismo – Goiânia-GO – 27 a 30 de abril de 2007 http://www.fnpj.org.br/soac/ocs/index.php?cf=1

8 A digitalização integral dos veículos audiovisuais poderá resultar na transição do padrão de radiodifusão, ou seja, de transmissões abertas para grandes públicos heterogêneos, para o modelo que Negroponte (1995) denomina de narrowcasting, que destinará suas mensagens de forma objetiva para públicos muito menores e constituídos pôr indivíduos com interesses semelhantes. No momento atual, o desafio tecnológico e comercial é o desenvolvimento de um terminal móvel, eficiente e barato para conexão à internet. Só assim será possível tornar o ciberespaço um território coletivo, universal e democrático. Até agora, o telefone celular lidera a utilização entre os aparelhos portáteis existentes. Ele é um terminal multimídia cada vez mais eficiente e adequado para o desenvolvimento nacional e internacional de um enorme mercado consumidor de conteúdos e serviços móveis de comunicação para telefonia, internet, jogos, música, vídeo e televisão, transmissão de dados públicos e privados etc. A União Internacional de Telecomunicações-UIT, em seu relatório de dezembro de 2006, apresenta pesquisa que demonstra que um em cada três habitantes do planeta carrega um celular digital durante todas suas atividades diárias. Para o assombro de muitos, o relatório da UIT revela que o rádio e a televisão, os dois maiores, mais abrangentes e populares meios de comunicação de massa do século passado, tiveram a audiência absoluta ultrapassada em meados da primeira década do século XXI, pelas mídias digitais. As pessoas em todo mundo estão passando mais horas expostas à comunicação multilateral da internet e de outros terminais binários, que consumindo mensagens das tradicionais mídias analógicas. Vivemos efetivamente um período de transição para a “vida digital” preconizada por Negroponte (1995), onde os bits passam a ser tão importantes quanto os átomos. Dentro da “revolução dos bits”, destaca-se a importância do desenvolvimento veloz dos microprocessadores, que garante o aparato tecnológico para que a expansão da capacidade de processamento continue a ocorrer de acordo com a “Lei de Moore”, uma previsão divulgada em 1965, por um dos fundadores da pioneira fábrica de processadores Intel. Gordon Moore anteviu o aumento progressivo da capacidade de pesquisa e desenvolvimento de microprocessadores menores e mais potentes. Para o engenheiro da Intel, a produção de processadores de computador dobraria anualmente. As previsões atuais do ritmo de atualização dos chips mantêm a média de duplicação da

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9 capacidade de processamento a cada dezoito meses e deve manter o mesmo ritmo de inovação, pelo menos até 2020 (Medeiros, 2001). A evolução dos chips e a rapidez de incorporação da informática ao ambiente social poderiam assustar até mesmo o evolucionista Charles Darwin, se ele pudesse presenciar a utilização tão frenética da mão humana e de seu “polegar opositor” em teclados e mouses de tantos terminais binários. O “polegar opositor”, tão brilhantemente descrito no curta-metragem “Ilha das Flores” de Jorge Furtado (1989), torna-se dispositivo fundamental para inputs de informações em games e dispositivos móveis. É notável a velocidade e desenvoltura com que os jovens manipulam os teclados de celulares e joysticks de seus consoles digitais de jogos. De uma população de cerca de 185 milhões de pessoas, quase 26 milhões de brasileiros são usuários da rede, um número que representa 2,5% da população mundial com acesso à internet. Apesar da desigualdade social persistente, o Brasil está entre os 20 países do mundo com o maior número de internautas. A expansão da internet fez convergir diversos interesses dentro da rede, sejam particulares ou corporativos. Se pensarmos na comunicação como um bem público e coletivo, a convergência e o acesso à rede deveriam ser igualitários em todo o mundo. Cada usuário, cada empresa, cada organização, cada meio de comunicação poderia ter disponível os meios de acesso e ser responsável pela produção de conteúdos que se constituiriam num acervo cultural universal. Até porque, a internet tornou-se uma produtora mundial de valores e está contribuindo para mudar o repertório cultural de muitas sociedades. O Instituto Gartner prevê para 2010, três bilhões de usuários mundiais de equipamentos sem fio. O Brasil e a China deverão expandir seus mercados internos de comunicação móvel e digital num ritmo de 50% ao ano, nas duas primeiras décadas do século XXI. A ANATEL divulgou em 1996 a estimativa de 1,4 milhão de aparelhos celulares em uso no Brasil. Segundo a mesma ANATEL, em 2006 o número de linhas de telefonia móvel habilitadas saltou para cerca de 100 milhões (W News, documento eletrônico). O telefone celular passou a incorporar o SVA (Serviço de Valor Agregado) desde 2001 com o início do SMS (Short Message Service). Com isto deixou de ser um telefone móvel e foi transformado em um terminal multimídia. Hoje em dia, a difusão de conteúdos audiovisuais pelo celular envolve as operadoras de telefonia, fornecedores de conteúdo e os integradores e provedores de aplicações, ou seja, os parceiros técnicos, 10º Encontro Nacional de Professores de Jornalismo – Goiânia-GO – 27 a 30 de abril de 2007 http://www.fnpj.org.br/soac/ocs/index.php?cf=1

10 que realizam, por exemplo, a compactação dos dados. As empresas de telefonia e de telecomunicações instaladas no Brasil têm capital suficiente, condições tecnológicas e logísticas para operar distribuir dados digitais de qualquer natureza, num curto espaço de tempo. A comunicação digital, pela internet ou pelo celular, se transformou na primeira mídia utilizada para lazer entre as pessoas de menos de 55 anos (gráfico 01), ultrapassando a televisão, o rádio, jornais, revistas e o cinema, segundo os dados coletados pela UIT - União Internacional de Telecomunicações (2006). É importante notar, ainda no citado relatório, que as linhas de telefone fixo demoraram 125 anos para atingir o primeiro bilhão de unidades enquanto que o telefone celular levou apenas 21 anos para chegar ao mesmo número. Desde então, as conexões fixas evoluíram a uma taxa muito mais lenta para atender aos 1,2 bilhão de usuários, à medida que a telefonia móvel expande-se rapidamente. Segundo Tim Kelly, chefe da unidade política e estratégica da UIT em entrevista para a Folha On-line (05/12/2006): "É preciso considerar que o segundo bilhão foi atingido em apenas três anos. Se a tendência continuar, teremos cerca de 3 bilhões de usuários, uma pessoa a cada três, até o fim de 2008". Kelly adianta que as estimativas da UTI projetam que a internet e os mercados de tecnologia da comunicação movimentem cerca de US$ 3,13 trilhões, sendo 7% do PIB (Produto Interno Bruto) mundial”.

Gráfico 01 – Consumo global de mídias durante o lazer por faixas etárias. Fonte: ITU Digital life – Internet Report 2006

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11 No Brasil, apesar de haver perspectiva de eclosão de um mercado interno promissor, três obstáculos impedem sua concretização imediata. O primeiro é a restrição legal para difusão massiva de conteúdos audiovisuais pelas operadoras telefônicas. O segundo obstáculo é a tarifação por pulso ou minuto, fator que inviabiliza o uso prolongado do celular. O custo elevado para o uso contínuo do celular poderia ser resolvido com a adoção pelas as operadoras do sistema VOIP, protocolo de voz sobre IP. Com isso haveria imensa redução de tarifas e com certeza ocorreria uma rápida universalização deste meio móvel de comunicação digital, porque as ligações por IP permitiriam que os usuários se mantivessem conectados ao ciberespaço em tempo integral. O derradeiro aspecto que poderá dificultar a viabilização comercial de um sistema portátil de comunicação multimídia no Brasil é a falta de formatos e linguagens apropriadas para este novo terminal. Parece também, que não há profissionais em quantidade e com conhecimento consolidado para produzi-los em grande escala para tantos novos players. Em empresas de comunicação, especialmente as jornalísticas, a atualização tecnológica constante pode assegurar a liderança de público e de mercado. Os dispositivos móveis tornam-se cada vez indispensáveis para um jornalismo que exige tempo real de emissão, atualização constante dos conteúdos exibidos, hibridismo de ferramentas e suportes, sincretismo de linguagens e possibilidade cada vez maior de interação com o público. O processo de comunicação informativa pela internet está apenas no início, mas é relevante observar que o número de pessoas com acesso ao ciberespaço no Brasil, em apenas uma década, se aproximou do número de leitores. Para os veículos comerciais de informação e entretenimento, este não é um dado desprezível, uma vez que no país, o público que possui conexão com a internet é praticamente o mesmo que lê jornais, revistas e livros, vai ao cinema, assina tevê a cabo, consome bens duráveis caros, faz turismo etc. Para os jornalistas, a comunicação móvel com emissão e recepção simultânea, sem fio e em aparelhos portáteis significa uma reviravolta profissional. A popularização dessas novas ferramentas profissionais está provocando uma remodelação do jornalismo e dos diferentes meios portadores de notícias e informações em geral. O processo de comunicação dos novos meios digitais on-line agrega para os profissionais da

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12 informação e para todos os usuários, a mobilidade, a difusão e a recepção multilateral de qualquer tipo de mensagem particular, noticiosa ou comercial. A maioria dos aparelhos informáticos móveis permite a conexão a web e a interação num fluxo on-line um-todos, todos-um, todos-todos. São muitos recursos, principalmente imagéticos cada vez mais eficientes de comunicação interativa, que colocam a internet como um veículo informativo privilegiado e em condições crescentes de disputar o público dos meios escritos, do rádio e da televisão.

As fotos e os vídeos feitos com dispositivos móveis (celulares, palms, câmeras digitais, mas principalmente os celulares) têm a potência de registro [...]mas o que os diferenciam é a produção em massa individualizada, a circulação imediata, a conexão planetária, fazendo de todos nós, queiramos ou não, testemunhas virtuais, partícipes da experiência, de tudo e de qualquer coisa. Pessoas ao redor do mundo tiram fotos e fazem vídeos com celulares, editando, apagando (não é mais o momento solene, mas qualquer momento, sendo visualizado de forma instantânea e podendo também ser editado, apagado, instantaneamente) e circulando imagens entre suas “comunidades individuais” (amigos próximos e distantes), como forma de reforço social e de divulgação. A foto e o vídeo ganham (talvez de forma mais radical) o status de media, e não apenas de suporte para um registro. O que importa não é a “história, mas o momento presente vivido coletivamente, a comunicação pelas imagens “.(LEMOS, documento eletrônico)

Vários acontecimentos internacionais recentes demonstram isso: as imagens dos ataques às “Torres Gêmeas” em Nova Iorque, as bombas no transporte urbano em Madri e Londres, o Tsunami na Ásia, as manifestações violentas de estudantes e de jovens imigrantes na França, etc. No Brasil vimos cenas dramáticas gravadas pelo celular. O seqüestro de um ônibus no Rio de Janeiro e a queda de veículos na cratera aberta pelo desmoronamento do túnel do Metrô, em São Paulo, na Marginal Pinheiros. Todos estes acontecimentos têm em comum a captação de imagens por dispositivos móveis pelas chamadas “fontes amadoras”, pessoas que estavam presentes no momento do fato jornalístico e que foram não só testemunhas oculares, mas também “repórteres momentâneos” que eternizaram digitalmente o ocorrido. Dentro desta nova realidade de produção audiovisual jornalística, três fatos são emblemáticos para enfatizar a importância estratégica dos dispositivos móveis para a cobertura noticiosa:

1- O choque de um pequeno avião com um prédio nos EUA em outubro de 2006 , que teve pela primeira vez, na história da TV, as imagens transmitidas

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13 ao vivo de um Smart-phone (Windows Mobile Palm Treo 700) pela emissora Fox News (Hess, 2006);

2- Imagens do enforcamento de Saddam Hussein gravadas por um celular que percorreu o mundo em poucas horas e obteve as mais variadas repercussões;

3- O primeiro registro nos EUA, da profissão do “jornalista ou repórter móvel”, também chamado de MoJo, abreviatura de Mobile Journalist, feita por uma empresa jornalística de Fort Myers, Flórida. A iniciativa procura expandir o jornalismo on-line e utiliza 14 repórteres móveis munidos de laptops, câmeras e filmadoras digitais para abastecer full-time um site de notícias. (Ahrens, documento eletrônico)

Todos estes fatos despertam algumas indagações: até que ponto o potencial destas novas tecnologias e de novos conhecimentos conceituais são aplicados no dia-adia das redações? Outras questões também se tornam pertinentes: os futuros jornalistas e comunicadores em geral recebem formação dos cursos para pensar e trabalhar num contexto de convergência de tecnologias e de linguagens? Os professores estão preparados para ensinar/orientar neste novo contexto informacional? O objetivo desta pesquisa é levantar subsídios teóricos, tecnológicos e éticos sobre o processo de implantação e o padrão de uso dos novos dispositivos móveis nas redações de diferentes veículos de comunicação. Outro foco conceitual é desenvolver no Curso de Comunicação da FAAC-UNESP-Bauru, uma estrutura de ensino e pesquisa, para desenvolver estudos de linguagem, formatos e procedimentos profissionais e deontológicos para o uso de dispositivos móveis como recursos de cobertura jornalística.

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