O USO DE IMAGENS DE SATÉLITE COMO RECURSO DIDÁTICO PARA A COMPREENSÃO DE PROBLEMÁTICAS URBANAS
Mariano de Oliveira Carvalho Secretaria da Educação Básica do Estado do Ceará
[email protected] Virgínia Célia Cavalcante de Holanda Universidade Estadual Vale do Acaraú
[email protected]
INTRODUÇÃO Historicamente diferentes
fatores
e com intensidades distintas impulsionaram o
advento das cidades como espaço de densidade populacional tornando-as evidentes e influentes no cenário mundial. E muito embora a revolução industrial seja um marco de mudança no espaço interno das cidades e em suas relações com outros espaços, a produção agrícola foi grande impulsionadora do processo de conformação da cidade, provocando nessa diversas formas e funções no circuito espaço temporal. Segundo Lefebvre, 2001: A partir do sobreproduto crescente da agricultura, em detrimento dos feudos, as cidades começam a acumular riquezas: objetos, tesouros, capitais virtuais. Já existe nesses centros uma grande riqueza monetária, obtida pela usura e pelo comércio. (p. 12)
O referido autor salienta ainda que para apresentar e expor a ¨problemática urbana¨, impõe-se um ponto de partida: o processo de industrialização. (LEFEBVRE, 2001, p. 11). Assim sendo, a temática urbana é anterior ao século XIX e tem no seu bojo uma série de questões e fatores a ela relacionados que, a partir de seu estudo e análise podem permitir a compreensão da estruturação do espaço geográfico nos dias atuais. Tal situação ao passo que enriquece o rol das questões sócio-espaciais urbanas também dificulta o entendimento destas em função de fatores como: extensão, influência e abrangência destes sobre a sociedade e o próprio espaço. Esta dificuldade é sentida sobremaneira na prática didático-pedagógica de Geografia do Ensino Médio especialmente em escolas situadas em cidades pequenas e distantes dos grandes centros,
quando da realização de discussões que envolvam o espaço urbano, face a heterogeneidade de processos e nuances espaciais constituídas. Segundo o que se preconiza nos Parâmetros
Curriculares para o Ensino Médio
(BRASIL, 2006): A Geografia compõe o currículo do ensino fundamental e médio e deve preparar o aluno para: localizar, compreender e atuar no mundo complexo, problematizar a realidade, formular proposições, reconhecer as dinâmicas existentes no espaço geográfico, pensar e atuar criticamente em sua realidade tendo em vista a sua transformação. A partir dessas premissas, o professor deverá proporcionar práticas e reflexões que levem o aluno à compreensão da realidade. (p. 43)
Amparados pelas ideias de Kaercher, pode-se afirmar que dentre os complicadores para a efetivação da relação ensino-aprendizagem em geografia - o que inclui as discussões relacionadas a temática urbana - temos o fato de haver uma concepção que considera ‘tudo é geografia’, porque tudo ocorre no espaço. Então, qualquer assunto enfocado em aula será entendido pelos alunos como geográfico, mas como geografizar os temas? (KAERCHER, 2009, p.3) Tal dificuldade amplifica-se pelo desafio de se apresentarem exemplos que permitam ao aluno abstrair-se e compreender as problemáticas urbanas de modo que este possa fazer comparações com a realidade vivenciada cotidianamente por ele relacionando com outras realidades, dentro de uma visão totalizadora. Comumente uma das ferramentas consideradas satisfatória e mais difundidas para a execução desta tarefa sendo o livro didático. Entretanto, segundo Verseze & Silvino, 2008: [...] os livros didáticos, ainda hoje, possuem um conteúdo unificado com textos específicos e em grande parte só literários que não atendem às necessidades de todas as camadas sociais, o que causa grandes dificuldades para se desenvolver efetivamente um trabalho pedagógico com enfoque nas peculiaridades regionais. (p. 93)
Os avanços técnicos, científicos e informacionais sentidos sobremaneira pós década de 1980 provocam mudanças em todos os níveis da vida em sociedade o que inclui o espaço escolar que, na atualidade, contém uma variedade de recursos técnicos que se apresentam com potencial didático pedagógico e os temas geográficos, sobretudo os
ligados à questão urbana, podem lançar mãos destes recursos a fim de enriquecer os processos de ensino-aprendizagem. Contudo, para que possamos fazer uso adequadamente das novas tecnologias ligadas ao ramo geocartográfico faz-se necessário que relembremos qual o papel do geógrafo perante a sociedade bem como tenhamos o mínimo conhecimento acerca das ferramentas que tradicionalmente caracterizam o modus operandi de se fazer geografia. Segundo Fitz, 2008: A ideia de espaço geográfico e de como este é construído, organizado e estruturado traduz-se na preocupação do geógrafo enquanto pesquisador. Nesse sentido, a inesgotável busca de conhecimento pelo estudo da realidade verificada nesse espaço geograficamente constituído traz a necessidade do auxílio de um ferramental de apoio bastante significativo. Apesar de esquecida por muitos geógrafos, uma das ferramentas mais associadas a figura desses profissionais, sem dúvida, é o mapa. (p. 19)
Nesse contexto as técnicas de geoprocessamento são um dos avanços ligados ao ramo geocartográfico que se dispõe a auxiliar na execução desta tarefa. Tomando por base a disponibilidade de softwares gratuitos tais como: QGis e Google Earth; bem como a facilidade de acesso às imagens de satélite por meio da navegação web, surge a possibilidade de se desenvolverem estratégias de uso destes recursos como via de apresentação de alguns dos diferentes processos espaciais urbanos para os alunos de ensino médio, a fim de diversificar as práticas desenvolvidas em sala de aula.
OBJETIVOS A pesquisa visa discutir e apresentar uma experiência didática desenvolvida na E.E.M. de Campos Sales-Ceará onde por meio da mescla teoria/prática; da interação dos estudantes com a comunidade e com a gestão municipal e; do trabalho de campo e de gabinete assessorado pelas técnicas de geoprocessamento aplicadas ao espaço urbano da cidade de Campos Sales; está sendo possibilitada a apreensão dos conceitos de geografia urbana inerentes à matriz regular de ensino de forma contextualizada bem como um aguçamento do senso crítico construído pela participação dos estudantes na vida da comunidade com a execução do projeto intitulado: Exercendo à Cidadania: aluno informado, município organizado.
METODOLOGIA O trabalho está pautado na discussão em sala de aula norteada pelo incentivo a vivência do espaço geográfico conhecido pelos alunos através da interação com a comunidade pelo processo da pesquisa qualitativa e quantitativa. Os dados produzidos nesta primeira fase são a base para o desenvolvimento de produções cartográficas - através do uso dos softwares Google Earth e QGis para manipular imagens de satélite obtidas gratuitamente na web - que se dispõe a apresentar os conceitos estudados em sala de aula através da aplicação prática destes para o entendimento do meio em que os alunos vivem.
RESULTADOS PRELIMINARES Até a presente data foram diagnosticadas áreas de segregação espacial na cidade de Campos Sales através das informações coletadas entre os próprios alunos sob o direcionamento metodológico do professor embasado nos conteúdos da matriz curricular além da delimitação dos bairros existentes na cidade mediante o conhecimento empírico da população campossalense. Os dados produzidos pela pesquisa escolar associadas ao processo de parcerias institucionais estabelecido entre a E.E.M. de Campos Sales, a Câmara Municipal de Campos Sales, a agência local dos Correios e a Agência do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE de Juazeiro do Norte estão sendo utilizados como bases para a criação da primeira lei de bairros da cidade de Campos Sales bem como a atualização dos limites urbanos da cidade, processos estes que já foram impetrados junto a Câmara Municipal e estão em fase de tramitação junto ao legislativo do município. Tal fato tem possibilitado o enriquecimento das discussões em sala de aula no tocante a assuntos ligados a temática urbana tais como: apropriação do solo urbano, uso e ocupação do solo, segregação espacial, políticas públicas, etc.; permitido ainda fazer uso de discussões
técnicas e conceituais
da disciplina de geografia tais como:
cartografia, novas tecnologias geocartográficas, globalização, relações de poder no sistema capitalista, questões ambientais, dentre outros para o entendimento do processo de expansão urbana da cidade de Campos Sales.
BIBLIOGRAFIA BRASIL. Secretaria de Educação Básica. Orientações Curriculares para o Ensino Médio: Ciências humanas e suas tecnologias. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2006. 133 p.
FITZ, Paulo Roberto. Geoprocessamento sem complicação. São Paulo: Oficina de Textos, 2008. 160 p. KAERCHER, Nestor André. Quando a Geografia Crítica é um pastel de vento e nós, seus profesores, Midas. In: Coloquio Internacional de Geocrítica, 9., 2007, Porto Alegre. Disponível em: http://www.ub.edu/geocrit/9porto/nestor.htm. Acesso em 04 de junho de 2014.
LEFEBVRE, Henri. O direito à cidade. Tradução: Rubens Eduardo Frias. São Paulo: Centauro, 2001. 144 p.
VERCEZE, Rosa Maria Aparecida Nechi. SILVINO, Eliziane França Moreira. O livro didático e suas implicações na prática do professor nas escolas públicas de Guajará-mirim. In: Práxis Educacional. vol. 4, No 4 (2008). Disponível em: http://periodicos.uesb.br/index.php/praxis/article/viewFile/328/361. Acesso em 08 de junho de 2014.
INDICAÇÃO DO ESTÁGIO DA PESQUISA A pesquisa vem sendo implementada juntos as turmas "A" do primeiro, segundo e terceiro ano do ensino médio na E.E.M. de Campos Sales desde o ano de 2012 e espera alcançar ainda este ano a aprovação da primeira lei de bairros da cidade de Campos Sales junto a Câmara Municipal. Paralelamente, espera-se com a aprovação da lei comprovar não apenas a eficácia pedagógica da interação dos alunos com a comunidade e outras instituições para a efetivação da aprendizagem em geografia, mas também subsidiar a afirmação deste processo de interação como via de inserção e reconhecimento dos alunos na comunidade e como contribuintes da produção do espaço em que vivem.
