O USO DE TECNOLOGIA NO MUSEU CASA DO MARANHÃO COMO FERRAMENTA NO PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM: UM ESTUDO SOBRE A PERCEPÇÃO DOS USUÁRIOS

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Revista Querubim – revista eletrônica de trabalhos científicos nas áreas de Letras, Ciências Humanas e Ciências Sociais – Ano 12 Nº30 vol. 01 – 2016 ISSN 1809-3264 Página 45 de 141

O USO DE TECNOLOGIA NO MUSEU CASA DO MARANHÃO COMO FERRAMENTA NO PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM: UM ESTUDO SOBRE A PERCEPÇÃO DOS USUÁRIOS Anderson Roberto Corrêa Pinto Mestrando no Programa de Pós Graduação Interdisciplinar de Cultura e Sociedade na Universidade Federal do Maranhão (UFMA) Bolsista CAPES/UFMA Especialista em Metodologia em Ensino-Aprendizagem de Língua Espanhola Faculdade Santa Fé Andréia Maciel Santos Moutinho Graduação em Licenciatura em Educação Física – UFMA Especialista em Magistério Superior e em Educação de Jovens e Adultos Profª de Educação Física do Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Maranhão Sarany Rodrigues da Costa Mestranda em Cultura e Sociedade – UFMA Membro do Grupo de pesquisa em Patrimônio e Identidade Welyza Carla da Anunciação Silva Mestrando em Cultura e Sociedade – UFMA João Batista Bottentuit Junior Doutor em Educação com área de especialização em Tecnologia Educativa pela Universidade doMinho (2011) Prof. Dr. da Universidade Federal do Maranhão Departamento de Educação II Prof. dos Programas de Pós-graduação em Cultura e Sociedade (Mestrado Acadêmico) e Gestão de Ensino da Educação Básica (Mestrado Profissional) da UFMA Linha de Cultura, Educação e Sociedade (Tecnologias de Informação e Comunicação na Educação)

Resumo Este artigo visa a apresentar como a utilização de recursos tecnológicos em espaços museais auxilia no processo de ensino-aprendizagem de estudantes que visitam suas exposições. Apresenta-se os resultados de um estudo exploratório no Museu Casa do Maranhão, e São Luís - MA, com uma amostra formada por uma turma de alunos de ensino médio de uma escola da rede pública. Constatou-se que a experiência fora da sala de aula, quando planejada, facilitou a assimilação do conteúdo proposto pelo professor, ratificando que a tecnologia pode ser grande aliada na construção de conhecimentos de forma lúdica e interativa. Palavras-chave: Museu. Tecnologia. Educação. Abstract This article aims to present the use of technological resources in museological spaces assists in the teaching-learning process of students who visit their exhibitions. It presents the results of an exploratory study on the Museu Casa do Maranhão, and São Luís, with a sample formed by a group of high school students from a public school. It was found that the experience outside of the classroom, as planned, facilitated the assimilation of the content proposed by the teacher, confirming that technology can be a great ally in the construction of knowledge in a fun and interactive way. Keywords: Museum. Technology. Education.

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Considerações iniciais sobre o espaço museal O museu é um local institucional privilegiado, que possibilita através da apropriação de seu acervo o entrecruzamento entre passado, presente e futuro. Dessa forma, propicia um enriquecimento cultural, sendo um espaço onde o aprendizado fora do ambiente escolar flui de maneira a propagar o conhecimento. Segundo o Conselho Internacional de Museus (ICOM,1987), museu é “uma instituição (...), ao serviço da sociedade e do seu desenvolvimento, (...) que adquire, conserva, investiga, comunica e expõe o patrimônio (...) da humanidade e do seu meio envolvente com fins de educação, estudo e deleite”. Para Lourenço (1997), os museus surgem pelo desejo que alguém nutre em reunir formas e superfícies ao meio vivenciado pelo homem, quer seja no âmbito natural, como no âmbito cultural. A constituição de um acervo, portanto, prescinde de um trabalho museológico que abarca os campos patrimonial, educacional, investigatório, comunicacional, preservacional e o dos estudos específicos da tipologia do museu. É importante pensar que, em tempos remotos, os museus eram privados e seu acervo voltava-se para guardar artefatos das elites. Apesar de hoje percebemos sua relação direta com a educação fora do ambiente escolar, o papel educativo que estes espaços possuem ainda não estava tão evidente naquela época. Segundo Souza e Melo (2009), o museu, por muito tempo, foi visto “como um espaço estático, ‘sacralizado’, destinado à preservação da memória da humanidade” (p.14). A partir disso, surge um questionamento: como conseguir atrelar a imagem de patrimônio que precisa ser preservado ao lugar que precisa ser visitado e visto pelas pessoas? Uma possível resposta pode ser encontrada na definição de Choay (2001): O museu, que recebe seu nome mais ou menos ao mesmo tempo que o monumento histórico, institucionaliza a conservação material das pinturas, esculturas e objetos de arte antigos e prepara o caminho para a conservação dos monumentos da arquitetura (p. 62)

O pesquisador reflete sobre um importante momento da história, quando é instaurada uma nova prática dentro do contexto de catalogação de acervos. A transformação do estatuto de antiguidades baseia-se, porém, na importância e no novo estatuto que a época concede à arte. Por um lado, o círculo dos colecionadores e dos apreciadores se amplia e se abre a novas camadas sociais: novas práticas se institucionalizam (exposições, vendas públicas, edição de catálogo das grandes vendas e das coleções particulares)... Por outro lado, a reflexão sobre a arte emancipa-se e ultrapassa as teorias clássicas da mimesis (CHOAY, 2001, p. 85).

Observa-se que o museu enquanto lugar físico, nesse contexto, surge, pois, a partir do tombamento do patrimônio e de sua divisão em duas categorias, móveis e imóveis, que requerem dois tipos diferentes de tratamento. Os móveis “serão transferidos de seu depósito provisório ao definitivo aberto ao público. Consagrado então com o nome recente de museum ou de museu” (CHOAY, 2001, p. 100-101). No século XIX, o Brasil acompanhava esse estabelecimento das instituições museais com a criação do Museu Real, em 1818, hoje conhecido como Museu Nacional, local voltado para guardar a riqueza natural do império. O museu mantinha-se ainda distante da realidade da maioria populacional que não tinham interesses culturais pelo acervo. Contudo, Peréz (2009) afirma que é nessa época que começam a surgir discussões sobre a contextualização museal, sua função em criar, desenvolver o saber e educar.

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Somente em meados do século XX, os museus foram reconhecidos como espaços de interdisciplinaridade e educação. Nesse período surgem museus com novas temáticas, como o Museu Histórico Nacional (criado em 1922), e também museus populares que expunham artefatos das classes menos nobres, como a Cafua das Mercês (criada em 1975) e o Museu Domingos Vieira Filho (criado em 1976), ambos na capital maranhense. Percebe-se a importância dos estudos humanísticos e da valorização dos sujeitos nesses novos espaços. A diversificação no conceito de acervo museográfico também corrobora com o processo de democratização dos museus. Estudantes e visitantes que não os da elite passam a frequentar estes espaços. Como parte dessa abertura, os museus criaram setores educativos para receber alunos e professores. Tais setores são também responsáveis pela elaboração das formas de mediação do público com o acervo museológico. Na atualidade, a “[...] palavra de ordem parece ser acessibilidade: arquitetônica, física, cultural e intelectual – esta última procurando favorecer, ao visitante, melhor compreensão das obras” (LEITE, 2005, p. 31). Convém destacar que “[o] acesso aos bens culturais é meio de sensibilização pessoal que possibilita, ao sujeito, apropriar-se de múltiplas linguagens, tornando-o mais aberto para a relação com o outro, favorecendo a percepção de identidade e de alteridade” (LEITE, 2005, p. 23). O museu, entendido como um espaço privilegiado de propagação dos saberes, tem sua proximidade com a escola, como um complemento da educação escolar e seu papel de difusor cultural junto aos visitantes com diversos perfis sociais. Essa aproximação vem sendo facilitada com uso de novas ferramentas tecnológicas para apresentação do acervo. Com o advento das tecnologias, a concepção de um museu mais interativo, que possibilita novas formas de comunicação e apropriação de conhecimento, tem sido cada vez mais discutida. É sobre essa questão que este trabalho se debruça. Busca-se, portanto, investigar como esse tipo de tecnologia influencia no processo de ensino-aprendizagem, compreendendo o espaço museal como um espaço alternativo para aquisição de conhecimento. Dentro desta perspectiva, a partir de um estudo exploratório no Museu Casa do Maranhão se quer compreender as percepções de estudantes que visitam essa instituição como forma de adquirir novos conhecimentos e/ou complementar o conteúdo estudado em sala de aula. Para entender melhor esse processo, apresenta-se algumas ideias e conceitos pertinentes à educação não-formal e ao uso de recursos tecnológicos como ferramenta pedagógica. Museu como espaço educativo Na contemporaneidade, as acepções sobre espaço museal têm ganhado conotações diversas, além daquela de simples compêndio de história e memória. A questão educacional agora também vai alicerçar a nova museologia. Nesse sentido, percebe-se o museu como um espaço híbrido de lazer e de educação não-formal que favorece a reflexão a partir do desenvolvimento de ações educativas, que englobam “desde ações pontuais de caráter experimental local até estratégias institucionais e políticas setoriais de abrangência nacional” (FALCÃO, 2009). Nesse sentido, cabe um breve esclarecimento sobre as ideias de educação formal e não formal. Segundo Chagas (1993), a educação formal é estruturada e acontece dentro de instituições reconhecidas em que os alunos devem seguir um programa comum estabelecido. Já a não-formal se dá fora do âmbito escolar, como em feiras, museus e meios de comunicação, por exemplo, de forma mais livre, segundo os anseios dos indivíduos, e por isso, talvez, mais agradável. Para ele ainda há a educação informal, estabelecida na vivência cotidiana dos sujeitos envolvidos. Gohn (2006) também demarca as diferenças entre a educação formal, não-formal e informal. Para a autora:

Revista Querubim – revista eletrônica de trabalhos científicos nas áreas de Letras, Ciências Humanas e Ciências Sociais – Ano 12 Nº30 vol. 01 – 2016 ISSN 1809-3264 Página 48 de 141 a educação formal é aquela desenvolvida nas escolas, com conteúdos previamente demarcados; a informal como aquela que os indivíduos aprendem durante seu processo de socialização - na família, bairro, clube, amigos etc., carregada de valores e culturas próprias, de pertencimento e sentimentos herdados: e a educação não-formal é aquela que se aprende ‘no mundo da vida’, via os processos de compartilhamento de experiências, principalmente em espaços e ações coletivos cotidianas. (n.p.)

A Araújo (2006) corrobora quando afirma que a escola não é o único “lugar de conhecimento” e, portanto, de transformação de subjetividades e construção de identidades. O museu também é um espaço propício para a aprendizagem. Nessa direção, Leite (2005) entende que no espaço museal um sujeito aprende com a cultura e não somente sobre a cultura, possibilitando perceber o mundo a sua volta. A experiência museal é, sobretudo, uma experiência cultural coletiva, na qual há várias aterialidades/subjetividades, espacialidades e temporalidades em interação: sejam as que envolvem o sujeito-contemplador, sejam aquelas referentes ao sujeito-autor, e ainda as concernentes aos objetos em si. Em outras palavras, é “no diálogo com o outro e com a cultura que cada um é constituído, desconstruído, reconstruído, cotidianamente” (LEITE, 2005, p. 23). Com opinião semelhante, Moussouri (2007) defende que a experiência vivida no museu possibilita construção de identidade. Segundo a autora, o sujeito ao entrar em contato com a peça do acervo pode reconhecer sua história nele. Isso se dará, especialmente, em um âmbito coletivo, pois, como afirma, a experiência coletiva é muito mais favorável à aprendizagem do que uma experiência individual. Para Gardner (1991), esses ambientes de aprendizagem possibilitados nos museus são ricos e de grande diversidade o que leva á aproximação dos ambientes naturais dos sujeitos, principalmente os jovens estudantes. Ali é possível criar espontaneamente seu próprio conhecimento, o que já não acontece dentro dos ambientes propostos pela escola, que, contrariamente, são artificiais, limitados e descontextualizados, não despertando o interesse desses sujeitos. Como propõem Allard et alii (1996), escola e museu se diferenciam, portanto, conforme seu objeto, sua relação com o público, a natureza das atividades propostas, a forma de apresentar o conteúdo, o tempo e a periodicidade das ações. Essas diferenças nos levam a indagar qual seria o interesse dos educadores em apresentar o espaço museal aos alunos como alternativa no processo cognitivo. Araújo (2006) explica que ao utilizar espaços não-formais de educação, os professores objetivam apresentar de forma interdisciplinar os conteúdos disposto no currículo pedagógico, permitir a interação com o cotidiano dos estudantes e possibilitar a ampliação cultural a partir da visita. Logo, “as visitas teriam o objetivo de fazer uma alfabetização científica do cidadão. Para isso trabalha-se com elementos de relevância social que informam os indivíduos e os conscientizam de problemas político-sociais” (p.2). Esses ambientes estimulam a aprendizagem aguçando a curiosidade de um modo distinto das metodologias usais em sala de aula e tornam-se mais estimulantes ratificando a ideia de que espaços não formais de ensino podem ser bons aliados das aulas formais. Tem-se, assim, que um museu é um local privilegiado de motivação do aluno pela busca do conhecimento que se dá a partir dessa interação entre o estudante e o acervo disponível nessas instituições. Mas ao escolher fazer uma visita ao museu, é imprescindível que se analise em que essa atividade pode contribuir verdadeiramente para a aprendizagem do aluno, sendo ela melhor aproveitada por eles. Além disso, deve-se pensar a metodologia a ser utilizada para a fixação e compreensão dos temas abordados. Assim, em um mundo onde os jovens são tidos como nativos digitais, recorrer à tecnologia é sempre uma alternativa para estimular a curiosidade do visitante.

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Muitos espaços museais já utilizam novas linguagens, como as mídias digitais, para apresentar ao público o seu acervo. Cabe, portanto, ao professor conhecer bem sua clientela para eleger o método mais adequado considerando o trinômio acervo / tecnologias / alunos. O uso das tecnologias em museus Com destaque para as questões da educação não-formal, diversos espaços antes não considerados como extensão do ambiente escolar passam a ser fundamentais para o processo de aprendizagem e adotam as Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) para acompanhar as novas diretrizes da educação que permitem ao aluno mais interatividade, participação e autonomia no processo de ensino aprendizagem. Muitos espaços já alcançados pelo sistema educacional fazem uso da tecnologia como instrumento de apoio pedagógico, entre eles estão bibliotecas, feiras, teatros, cinema, espaços de cultura e museus. A inserção desses recursos faz parte de um processo relacionado ao desenvolvimento sociocultural que propicia a interatividade, tornando a aprendizagem mais dinâmica. Segundo Muchacho (2005, p. 580): Os museus podem ser mais atrativos para o público se disponibilizarem mais informação e entretenimento, ou a combinação dos dois (...) constituindo um espaço atrativo, com capacidade para alargar e multiplicar as experiências sensoriais e cognitivas que cada sujeito pode usufruir.

Assim, destacam-se os museus que vêm sendo verdadeiros laboratórios vivos para (re) construção do conhecimento, de acordo Sabbatini (2003). “Um dos objetivos dos museus na atualidade é o de promover a aproximação e a compreensão pública da ciência e da tecnologia mediante atividades e experiências educativas informais apoiadas em enfoques interativos, experimentais e lúdicos” (n.p.). Desta forma, o uso das tecnologias em museus, segundo Sabbatini (2003), deve ser pensado como forma de despertar no visitante/aluno o interesse por aprender e aprofundar seus conhecimentos pautado dentro do currículo pedagógico contextualizado com fatos atuais, bem como influenciar na formação de um espírito crítico. Entende-se, portanto, que as tecnologias possibilitam um diálogo interativo perpassando um paradigma conservador que limitava à simples observação no espaço museal. Assim, “a sua utilização como complemento de uma exposição vem facilitar a transmissão da mensagem pretendida e captar a atenção do visitante, possibilitando uma nova visão do objeto museológico” (MUCHACHO, 2005, p. 580). Entre as inúmeras possibilidades do uso das tecnologias em museus, Hawkley (2003) lista algumas tecnologias aplicáveis no contexto educativo museal como a internet e intranet; multimídia; comunicação por computador, que inclui e-mail, listas de discussão, boletins, salas de bate-papo (chat), videoconferências; tecnologias de apresentação; simulações; dentre outras formas. Além destas tecnologias mais tradicionais, muitas vezes utilizadas para a gestão. Temos ainda a possibilidade de utilização de tecnologias para a Interação com o público como exemplo temos o museu de História Natural em Londres que dispõe de telas de toque para que o usuário possa interagir melhor com as imagens e obras de arte (ver figura 1).

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Figura 1: Tela de interação com a imagem Fonte: http://www.revistawide.com.br/images/fotos_materia/foto_1947483312.jpg Outro recurso bastante utilizado nos últimos tempos são os códigos QR que permitem aos usuários do museu acessar diversas informações auxiliares acerca da obra de arte, até mesmo áudios e explicações sobre o objeto observado. Na figura 2 temos um exemplo de uma espécie extinta e um código QR ao lado, onde através de um dispositivo como smartphone ou tablet associado a um leitor de códigos é possível acessar mais informações acerca da espécie, seu habitat e mais características.

Figura 2: Uso do código QR em Museus Fonte: http://australianmuseum.net.au/blogpost/at-the-museum/qr-codes Além das tecnologias apresentadas outro recurso tecnológico que auxilia os usuários é a própria realidade aumentada, pois permite uma aproximação às telas e obras de arte sem prejuízo ao original, bem como a manipulação virtual (ver figura 3)

Figura 3: Realidade aumentada nos museus Fonte: http://www.techtudo.com.br/artigos/noticia/2011/01/e-se-os-quadros-do-museu-dolouvre-usassem-uma-interface-da-apple.html Utilizando de todas essas possibilidades tecnológicas para que seus visitantes/aprendizes possam absorver da maneira mais dinâmica todas as informações, os museus têm se firmado como espaços multiculturais e interdisciplinares, proporcionando um leque de opções para o processo de ensino-aprendizagem, pois tudo que está nos livros de história, geografia, português, artes e demais

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disciplinas tomam vida permitindo que os alunos possam interagir com o conhecimento em um processo muito mais dinâmico. Outra grande vantagem das tecnologias são os museus virtuais que permitem a democratização da arte através da fácil divulgação do acervo a nível mundial. Tecnologia e aprendizado na Casa do Maranhão A Casa do Maranhão é um Centro de Interpretação Turístico-Cultural que funciona no antigo prédio do tesouro estadual em frente ao cais de São Luís. O centro narra um pouco da história da capital maranhense, desde sua fundação até o momento em que recebeu o importante título de Cidade Patrimônio da Humanidade, e apresenta um rico acervo representativo de aspectos da cultura do estado.

Figura 4: Museu Casa do Maranhão Fonte: http://www.mercadoeeventos.com.br/site/noticias/view/88339/confira-fotos-dosprincipais-atrativos-do-maranhao O espaço, que devido às suas características é considerado museu, utiliza várias ferramentas tecnológicas para apresentar seu acervo de forma dinâmica e interativa, tais como: televisores e retroprojetores que expõem vídeos e imagens da cidade de São Luís, telas sensíveis ao toque que permitem a interação dos visitantes e possibilitam a visualização de pontos turísticos da cidade por vários ângulos, além de ambientação sonora. A Casa do Maranhão possui 16 salas distribuídas entre os pisos inferior e superior. No primeiro plano estão as salas que contam a história da fundação da capital e mostram seus pontos, além de um espaço reservado a outras cidades do estado. É nesse piso onde se concentram os recursos tecnológicos da Casa. No andar superior fica a mostra representativa da cultura maranhense, onde são expostos artefatos da festa do divino, tambor de crioula e bumba meu boi, entre outras manifestações culturais. Para abordar a utilização da tecnologia como ferramenta educativa na Casa do Maranhão, conduziu-se a pesquisa com o objetivo de investigar como as tecnologias podem favorecer as atividades educativas no museu, entendendo como espaço de educação não-formal. Para tanto usou-se como base os dados do relatório de atividades da Casa no período de janeiro a julho de 2015, e os dados coletados a partir de questionários aplicados com alunos do segundo ano do Ensino Médio de uma escola pública da rede estadual situada em São Luís, os quais haviam visitado a Casa no mês de setembro de 2015, sendo aplicado o total de 15 questionários compostos por perguntas abertas e fechadas. Observando os dados do relatório de atividades da casa percebeu-se que em julho de 2015 a Casa do Maranhão recebeu um total de 581 alunos em visitas agendadas pelas instituições de ensino, dos quais a maioria (492 alunos) era proveniente de Escolas de Educação Básica do Município. Sendo as demais provenientes de: uma escola particular (30 alunos), uma universidade

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(22 alunos), um instituto federal (25 alunos) e uma instituição de curso profissionalizante (12 alunos). Notou-se também que as visitas agendadas só ocorreram no mês de julho, e nos demais meses (janeiro a junho) ocorreram apenas visitas avulsas, ocasionais de públicos diversos. Observou-se que a maior parte dos alunos que visitaram a Casa do Maranhão é advinda de escolas municipais de educação básica, as quais, em sua maioria, não dispõem de muitas tecnologias no âmbito de sua estrutura física. Nesse sentido, a Casa representa não só um espaço de interpretação turístico-cultural, mas também um lugar onde tradição e modernidade se encontram e promovem um processo de ensino-aprendizagem mais proveitoso, interativo e divertido a esses alunos, estimulando a curiosidade e a criatividade. O público que respondeu aos questionários era formado por adolescentes na faixa etária de 15 a 17 anos. Dos 15 alunos que participaram da pesquisa, 12 nunca haviam visitado um museu antes, fato este que muito chama atenção, tendo em vista que os referidos alunos se encontram no segundo ano do Ensino Médio, ou seja, já passaram pelo menos 11 anos na escola e em nenhuma outra ocasião tiveram oportunidade de visitar um espaço museal, seja levados pela instituição de ensino, pela família, ou mesmo na companhia de amigos. Tal fato leva a comprovar que, mesmo o museu sendo uma instituição cuja existência no Brasil data de 1818, e também considerado um espaço de complemento da educação, onde há educação não-formal, ainda não é dado a ele a devida importância no âmbito pedagógico e familiar. Quando questionados se as tecnologias utilizadas na Casa do Maranhão podem ser consideradas ferramentas educativas, a maioria dos alunos (13) respondeu positivamente e apresentou justificativas similares, as quais compilamos da seguinte forma: sim, porque facilitam o aprendizado dos alunos; despertam maior interesse dos visitantes; possibilita maior interação com o público; proporciona o aprendizado de forma descontraída; possibilita a disseminação de um maior número de informações. As respostas dos alunos possibilita constatar que as tecnologias representam um atrativo a mais para o museu, atrativo este que é capaz de aguçar a curiosidade dos visitantes e ainda serve para favorecer a compreensão dos temas abordados no espaço museal. Pois, as tecnologias ali existentes oferecem uma maior proximidade e interação com o acervo, ao contrário do que ocorre nos museus tradicionais onde, por uma questão de conservação, é proibido até mesmo tocar as peças expostas. A utilização das TIC para a criação desta nova realidade museológica integra o conceito de interatividade no percurso museológico e possibilita ao visitante várias alternativas de fruição. Ao poder escolher e interagir tem uma experiência própria do espaço museológico (MUCHACHO, 2005, p. 581)

Com o intuito de sondar a compreensão dos alunos, questionou-se a respeito do que eles haviam aprendido com a visita à Casa do Maranhão. Os participantes responderam que aprenderam sobre a cidade de São Luís, a importância de preservar o patrimônio histórico, a cultura e história da cidade e do estado, a valorização da cultura local, os pontos turísticos da região, sobre o catolicismo e despertando um novo olhar sobre a cidade. A partir dessas respostas verificou-se que os alunos tiveram uma boa assimilação do conteúdo apresentado naquele museu, o que ratifica a constatação de que as tecnologias auxiliam na transmissão de informações e facilitam a percepção por parte do público visitante quando utilizadas adequadamente, dentro de uma proposta pedagógica planejada.

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Para Santos (1995, p. 27): Não basta criar um novo conhecimento, é preciso que alguém se reconheça nele. De nada valerá inventar alternativas de realização pessoal e coletiva, se elas não são apropriáveis por aqueles a quem se destinam. Se o novo paradigma aspira a um conhecimento complexo, permeáveis a outros conhecimentos, local e articulável em rede com outros conhecimentos locais, a subjetividade que lhe faz jus deve ter características similares ou compatíveis.

A fim de investigar a relação dos temas abordados na Casa do Maranhão com aqueles apresentados na escola, questionou-se se a visita ao museu contribuiu para que eles compreendessem os conteúdos trabalhados em sala de aula. Os participantes foram unanimes em responder que sim, e alguns deles ainda justificaram que com o auxílio das vistas por meio das telas interativas, ou mesmo das peças expostas, as informações se tornam mais claras, mais “visíveis”. Afirmaram ainda que a visita serviu para aprofundar e clarificar os conhecimentos em literatura, arte, história e cultura, e também que as informações são apresentadas de uma forma mais “real” e que os assuntos abordados no museu e em aula são correlatos. Dessa forma, fica evidente a interdisciplinaridade dos temas apresentados pelo museu Casa do Maranhão e a sua importante contribuição na disseminação da história e cultura maranhenses, e ainda das riquezas naturais do estado e do patrimônio histórico e cultural de São Luís. A forma dinâmica pela qual esses temas são expostos representa um diferencial que pode favorecer a realização das atividades educativas das escolas. Considerações finais O uso da tecnologia como ferramenta educativa constitui-se em uma estratégia para aperfeiçoar o processo de ensino e aprendizagem, fazendo com que este vá além das salas de aula e seja incorporado no próprio modo de viver dos professores e alunos, transformando o ato de educar em um processo contínuo. A utilização de tecnologias na Casa do Maranhão como ferramenta educativa representa, portanto, uma possibilidade de aprimorar o aprendizado dos alunos, mas para que isso aconteça de forma efetiva as instituições educacionais precisam se apropriar desse espaço, pois observamos que, apesar do grande potencial educativo que a Casa possui, ainda recebe pouca visitação por parte das escolas, tendo em vista o grande número de instituições existentes na cidade. Nessa perspectiva, entende-se que, para que o espaço contribua com o processo educativo, é importante que ele seja dotado de recursos tecnológicos, mas também que seja de fato “consumido” pela comunidade escolar. Assim, é salutar que se pense em fortalecer a parceria entre museus com instituições diversas responsáveis pela gestão da educação no país, como universidades e Secretarias de Educação municipais e estaduais para que possibilitem a maior aproximação dos estudantes e professores com o espaço museal. Também é de fundamental importância que esses órgão realizem cursos de formação com professores em todos os níveis para que possam ser estimulados a utilizar o espaço museal como uma alternativa no processo de ensino. Referências ALLARD, M. et alii. La Visite au Musé. In: Réseau. Canadá, Décembre 1995/jan. 1996. ARAÚJO, Helena Maria Marques. Memória e produção de saberes em espaços educativos nãoformais. In. XII Encontro Nacional de História ANPUH. Rio de Janeiro: 2006. Disponível em: . Acesso: 20 de out. 2015.

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