O USO DO IMPERATIVO NO PORTUGUÊS BRASILEIRO Alumno de la carrera de grado de Profesorado de Portugués

May 23, 2017 | Autor: Luiz Barucke | Categoria: Portuguese Studies, Grammar, Brazilian Portuguese
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O USO DO IMPERATIVO NO PORTUGUÊS BRASILEIRO Alumno de la carrera de grado de Profesorado de Portugués Luiz Alexandre Barucke Marcondes [email protected] Universidad Nacional de Córdoba Facultad de Lenguas RESUMO O presente trabalho busca demonstrar as diferenças existentes entre o uso do verbo em sua função imperativa no português brasileiro (PB) e a teoria prescrita pelas gramáticas tradicionais do idioma português. Este fenômeno já havia sido identificado por linguistas brasileiros de longa trajetória no estudo científico da língua portuguesa, tais como Ataliba Teixeira de Castilho, Mário Perini e Marcos Bagno, dedicados a observar, estudar, sistematizar e demonstrar as formas de uso da língua falada em situações cotidianas. Para o desenvolvimento deste trabalho, além de obras publicadas por tais autores, as quais serviram de base teórica e ponto de partida para esta pesquisa, foi utilizado como fonte de observação o filme Central do Brasil, dirigido por Walter Salles e lançado no Brasil em 1998. Por meio de exemplos coletados na mencionada obra cinematográfica, foi possível identificar que o uso do imperativo no PB, especialmente em sua modalidade oral, variedade informal, em situações de simetria social e distintos graus de intimidade, em quase nada “obedece” à norma culta do modo imperativo, ensinado de maneira exclusiva nas escolas brasileiras e formalmente considerada a única possibilidade correta de seu emprego. Palavras-chave: gramática, imperativo, português brasileiro, sociolinguística.

EL USO DEL IMPERATIVO EN EL PORTUGUÉS BRASILEÑO RESUMEN El presente trabajo busca demostrar las diferencias existentes entre el uso del verbo en su función imperativa en el portugués brasileño (PB) y la teoría prescripta por las gramáticas tradicionales del portugués. Este fenómeno ya había sido identificado por lingüistas brasileños de larga trayectoria en el estudio científico de la lengua portuguesa, tales como Ataliba Teixeira de Castilho, Mário Perini y Marcos Bagno, dedicados a observar, estudiar, sistematizar y demostrar las formas de uso de la lengua hablada en situaciones cotidianas. Para el desarrollo de este trabajo, además de obras publicadas por dichos autores, las cuales sirvieron de base teórica y punto de partida para esta investigación, se utilizó como fuente de observación la película brasileña Estación Central, dirigida por Walter Salles y lanzada en Brasil en 1998. Por medio de ejemplos colectados en la mencionada obra cinematográfica, fue posible identificar que el uso del imperativo en el PB, especialmente en su modalidad oral, variedad informal, en situaciones de simetría social y distintos grados de intimidad, en casi nada “obedece” a la norma culta del modo imperativo, enseñado de manera exclusiva en las escuelas brasileñas y formalmente considerada la única posibilidad correcta de su empleo. Palabras clave: gramática, imperativo, portugués brasileño, sociolingüística. .1

Introdução O presente trabalho busca demonstrar como o uso do verbo na forma imperativa pelo português brasileiro (PB) se diferencia do modo imperativo prescrito pelas gramáticas normativas do idioma português e ensinado virtualmente em todo o sistema de ensino formal do Brasil. Não são consideradas como objeto de estudo todas as formas de manifestação imperativa do PB (por exemplo, diferentes construções de suavização, formas imperativas não verbais etc.); este estudo tem como foco aspectos verbais relacionados a modo, tempo, pessoa e número, em uma análise comparativa com os mesmos aspectos previstos pela norma gramatical tradicional. Foram utilizadas como referências teóricas cinco gramáticas, duas delas prescritivas, representando o posicionamento da tradição normativa – Nova gramática do português contemporâneo, de Cunha e Cintra (2008); e Moderna gramática portuguesa, de Bechara (2009) –, e três descritivas – Gramática pedagógica do português brasileiro, de Bagno (2011); Nova gramática do português brasileiro, de Castilho (2012); e Gramática do português brasileiro, de Perini (2010). Enquanto as primeiras se prestam a definir as normas de aplicação do português culto, muitas vezes semelhantes ao uso do idioma por seus falantes europeus, as gramáticas descritivas adotam a abordagem científica de observar, descrever e revelar a estrutura existente na realidade linguística do idioma português empregado pelos brasileiros, evitando a determinação de supostos “erros” cometidos pelo uso efetivo e corrente quando comparado à norma prescrita pela tradição gramatical. Para a extração de exemplos que demonstrem alguns dos padrões identificados pelas gramáticas descritivas, foi utilizado o filme Central do Brasil, do cineasta Walter Salles.

O imperativo no PB São muitas as diferenças encontradas entre a tradição gramatical do português e o uso efetivo por parte de seus falantes no Brasil (o chamado português brasileiro, ou PB). E não poderia ser diferente com relação ao emprego do imperativo. Como ponto de partida, podemos considerar as palavras de Bagno (2011), para quem

as formas do imperativo, no português brasileiro contemporâneo, seguem regras bem mais complexas do que as que aparecem nos livros didáticos e nas gramáticas, regras que não são exclusivamente linguísticas, mas em que entram também elementos sociais, culturais, geográficos, interacionais etc. (p. 567).

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O modo imperativo prescrito pela tradição gramatical e ensinado no sistema formal de ensino brasileiro pode ser resumido na tabela a seguir.

Tabela 1: Modo imperativo tradicional

Tu Você Nós Vós Vocês

Andar Afirmativo Negativo anda andes ande ande andemos andemos andai andeis andem andem

Correr Afirmativo Negativo corre corras corra corra corramos corramos correi corrais corram corram

Dormir Afirmativo Negativo dorme durmas durma durma durmamos durmamos dormi durmais durmam durmam

No entanto, o efetivo emprego do imperativo pelo PB, conforme identificado pelos gramáticos descritivistas, pode ser esquematizado de forma resumida nesta segunda tabela.

Tabela 2: Esquema de uso do modo imperativo no PB Andar Correr Dormir Afirmativo Negativo Afirmativo Negativo Afirmativo Negativo anda # andes corre # corras dorme # durmas Tu Ande + ande + corra + corra + durma + durma + Você andemos + andemos + corramos + corramos + durmamos + durmamos + Nós andai andeis correi corrais dormi durmais Vós andem + andem + corram + corram + durmam + durmam + Vocês abc Formas não utilizadas no PB. # Formas coincidentes com a 3.ª pessoa do singular do presente do modo indicativo. + Formas coincidentes com o presente do modo subjuntivo.

Em uma análise comparativa entre ambas as tabelas apresentadas, destacam-se alguns aspectos: a) não são utilizadas no PB as formas do imperativo negativo de 2.ª pessoa (2P; não andes tu/andeis vós) e nenhuma das formas de 2P do plural (andai, andeis, correi, corrais, dormi, durmais); b) há uma coincidência de forma entre o verbo imperativo afirmativo conjugado na 2P do singular e o mesmo verbo conjugado na 3.ª pessoa (3P) do singular do presente do indicativo (anda tu ~ ele/ela/você/o senhor/a senhora/a gente anda); e c) as demais formas, não mencionadas nos itens anteriores, coincidem em sua forma com o tempo presente do modo subjuntivo.

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É interessante notar que o PB não emprega justamente aquelas formas que distinguem o modo imperativo, a saber, a polaridade negativa e sua conjugação na 2P do plural (vós), esta já há muito abandonada não só no Brasil, mas também em Portugal (Bagno, 2011, p. 570). Sobre as formas distintivas do imperativo, e seguindo a tradição normativa, Cunha e Cintra (2008) afirmam que

há em português, como sabemos, dois imperativos: um afirmativo, outro negativo. O imperativo afirmativo possui formas próprias somente para as segundas pessoas do singular (sujeito tu) e do plural (sujeito vós). As demais pessoas são expressas pelas formas correspondentes do presente do subjuntivo (p. 490, grifos dos autores).

Portanto, considerando que as formas distintivas do modo imperativo são justamente aquelas não empregadas no Brasil, é possível afirmar que “o imperativo não dispõe de formas próprias no PB” e que “nossas gramáticas retratam uma época que já passou” (Castilho, 2012, p. 440); em seu lugar, emprega-se o verbo no presente do indicativo – na 3P do singular quando se refere à 2P do discurso – e no presente do subjuntivo – quando se refere às demais pessoas e, em diversas ocasiões, também à 2P do discurso. Cabe acrescentar que ambos os modos verbais atuam de forma equivalente, ou seja, possuem valor semelhante e podem inclusive ser empregados em uma mesma oração. Segundo Bagno (2011) e Castilho (2012), tal fenômeno tem relação direta com o abandono praticamente completo da 2P gramatical pelos falantes brasileiros, que, em seu lugar, empregam a 3P (tu > você/o senhor; vós > vocês/os senhores), sendo o você – que gramaticalmente concorda com o verbo na 3P do singular – considerado a forma “neutra” de tratamento em praticamente todo o território brasileiro. Ou seja, ao ser abandonada pelos brasileiros, a 2P gramatical levou consigo (como não poderia ser diferente) justamente as únicas formas que diferenciam o modo imperativo. Como síntese, “nosso imperativo hoje é um jogo entre formas do indicativo e formas do subjuntivo” (Castilho, 2012, p. 439) e, para a escolha de um modo ou de outro, são identificados fatores de ordens geográfica, social, cultural, interacional, entre outros. Quanto aos fatores geográficos, Perini (2010) afirma que “a forma mais frequente do imperativo no Sudeste é idêntica ao presente do indicativo, terceira pessoa do singular”, ao passo que “no Nordeste conserva-se a forma idêntica ao subjuntivo” (p. 309). Bagno (2011) concorda com esse posicionamento e acrescenta que o subjuntivo em função imperativa tende a ocorrer com mais frequência em alguns estados do país em que ainda

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pode ser encontrado o tu conjugado da forma clássica – como Pará, Maranhão, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Mas curiosamente, nessas regiões há uma “inversão quase completa do que está previsto nas gramáticas normativas”: ainda que o tu possa ser conjugado da forma clássica nos diferentes modos e tempos verbais, o imperativo é empregado nas formas do subjuntivo – por exemplo, “Se tu ainda não fizeste o que eu pedi, faça agora!” (p. 567). Outros fatores identificados pelos autores descritivistas para a seleção ora do indicativo ora do subjuntivo em função imperativa relacionam-se com as modalidades escrita ou falada da língua, bem como os graus de monitoramento, formalidade e simetria entre emissor e destinatário. Vejamos cada um desses fatores mais detalhadamente. Com relação à modalidade, na língua falada há a tendência do emprego do indicativo quando o sujeito da oração está no singular (ou seja, você), cabendo ao subjuntivo o uso nos casos do sujeito no plural (vocês e nós). Já na língua escrita, o imperativo é expresso majoritariamente no subjuntivo, uma vez que o indicativo tende a gerar ambiguidades de leitura. Dessa forma, uma mesma mensagem oral que expressaria comandos imperativos no indicativo, ao ser transmita por escrito, provavelmente será expressa no subjuntivo (Bagno, 2011, p. 568). Quanto ao grau de monitoramento, conceito que se refere à correção realizada por um falante sobre seu próprio enunciado, uma mensagem menos monitorada tende ao emprego do indicativo, ao passo que um grau mais elevado de monitoramento (ainda que na língua falada) conduz ao uso do subjuntivo, o que se relaciona com o fato de os falantes verem o subjuntivo como uma forma mais correta do que o indicativo, sendo este vinculado mais a situações da oralidade e informais. Por essa mesma razão, em se tratando de grau de formalidade, ocorre fenômeno semelhante, ou seja, uma situação informal tende ao emprego do indicativo, sendo o subjuntivo mais utilizado em situações formais. O grau de simetria depende de questões relacionadas com diferenças sociais, hierárquicas, etárias, entre outras que provoquem um distanciamento no tratamento entre as pessoas envolvidas no enunciado. Uma relação simétrica é mais propícia ao emprego do indicativo, enquanto uma relação assimétrica tende ao uso do subjuntivo. Contudo, há duas exceções aos padrões identificados anteriormente: os verbos ser e estar, cujo imperativo é expresso invariavelmente no subjuntivo – seja/esteja você; sejam/estejam vocês –, independentemente de número (singular ou plural) ou qualquer outro fator (Bagno, 2011, p. 568; e Perini, 2010, p. 309). Trata-se de outro afastamento do

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PB em relação à tradição normativa, a qual prescreve os imperativos desses verbos como sê/está, não sejas/estejas tu; sede/estai, não sejais/estejais vós. Uma última peculiaridade relaciona-se com o emprego do imperativo na 1.ª pessoa (1P) do plural. Ainda que possamos encontrar o verbo no presente do subjuntivo em situações mais formais, na língua falada espontânea, o imperativo para o nós se realiza com uma perífrase com o verbo ir (vamos sair, vamos começar, vamos andando etc.), fenômeno observado tanto por Bagno (2011) como por Castilho (2012). Castilho (2012) menciona também que o subjuntivo tende a ser empregado quando o imperativo ocorre na polaridade negativa (não faça isso, não queira saber) e nas situações em que o pronome é expresso de forma enclítica (mexa-se, cale-se). No entanto, sobre este último aspecto, Bagno (2011) destaca que o uso brasileiro mais comum do imperativo é a próclise (quando o pronome oblíquo se situa antes do verbo). Vejamos a seguir alguns exemplos dos padrões de uso identificados, extraídos do filme Central do Brasil.

O imperativo no filme Central do Brasil O filme Central do Brasil, dirigido por Walter Salles e lançado em 1998, narra o encontro de Dora (interpretada por Fernanda Montenegro), uma professora de português aposentada que trabalha escrevendo cartas para analfabetos na estação de trens carioca Central do Brasil, e Josué (Vinícius de Oliveira), um recém-órfão em busca de seu pai. A obra cinematográfica é especialmente interessante para extrair exemplos de emprego do imperativo pelo PB por ser ambientado tanto na região Sudeste como na Nordeste do Brasil, o que nos permite identificar diferentes formas de uso, conforme apontadas pelos autores anteriormente mencionados. Ao longo de todo o filme, foram encontradas 128 ocorrências de verbos no imperativo (lembrando que este estudo tem como objeto exclusivamente questões relativas ao uso de tempo e modo verbais, e não considera outras formas de expressão do imperativo). Quanto às principais características do discurso encontrado na obra, seu gênero é o diálogo, ou seja, a variedade predominante é a oral; e, apesar da diferença de idade entre os protagonistas, há uma relação de simetria entre emissor e destinatário, o que proporciona um registro informal. Tais características são preponderantes na “escolha” da forma verbais utilizadas.

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É na “etapa Sudeste” que pôde ser encontrada grande parte das formas imperativas, majoritariamente expressas na 3P do presente do indicativo, como é possível notar em alguns dos exemplos seguir. “Senta aqui. Vem.” (00h05min59seg) “Colabora, vai.” (00h06min13seg) “Pega aí.” (00h06min14seg) “Me dá a mão, Josué.” (00h11min47seg) “Anda. Escreve!” (00h14min05seg) “Vem aqui no Rio que a minha mãe se machucou.” (00h14min12seg) “Mostra!” (00h14min19seg) “Então, devolve a carta da minha mãe!” (00h14min34seg) “Rapa fora!” (00h17min05seg) “Aproveita, gente.” (00h17min49seg) “Pega o ladrão!” (00h18min08seg) “Cala a boca!” (00h18min32seg) “Responde, menino!” (00h20min44seg) “Vai embora!” (00h33min57seg) “Fala baixo!” (00h34min06seg) “Adivinha!” (00h34min58seg) “Deixa um pouquinho de dinheiro pra eu comer.” (00h37min00seg) “Me dá a carta da minha mãe!” (00h37min09seg) “Olha lá, pessoal.” (00h42min53seg) “Põe isso aqui na minha bolsa. Põe aqui já! Põe aqui que eu vou devolver. Bota aqui.” (00h50min37seg) “Vai me esperar lá no caminhão.” (00h50min49seg) “A senhora abre a bolsa e a gente esclarece tudo.” (00h51min14seg) “Volta aqui, menino!” (01h12min20seg) “Olha aqui.” (01h16min42seg) “Dá pra ela ler.” (01h34min49seg) “Vai. Lê!” (01h35min35seg)

Conforme já observado, o imperativo afirmativo do tu coincide com o presente do indicativo do você. Portanto, ainda que já tenha sido destacado que a 2P gramatical foi praticamente abandonada no Brasil, os exemplos anteriores poderiam suscitar dúvidas se a forma verbal empregada é realmente o presente do indicativo. No entanto, é nos exemplos seguintes que tal fenômeno deixa claro o abandono da forma prescrita de imperativo pelo PB, uma vez que continua sendo empregado o presente do indicativo mesmo quando é explicitado o pronome sujeito (e este nunca é o tu) e/ou a sentença é expressa na polaridade negativa (contrariando, portanto, a forma clássica do imperativo negativo de segunda pessoa). “Não. Não rasga essa não.” (00h07min23seg) “Você põe a carta no correio amanhã.” (00h07min59seg) “Não me mata não!” (00h18min41seg) “Olha aqui, você devia ser mais agradecido!” (00h22min57seg) “Você não vai mentir outra vez.” (00h26min20seg) “Não vai esquecer da gente!” (00h27min53seg) “Não fala mais isso, hein!” (00h31min03seg)

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“Você fica na tua, hein!” (00h35min08seg) “Não vai convidar pra tomar cafezinho, tá?” (00h35min10seg) “Não fala mais nada.” (00h35min36seg) “Você tranca o meu apartamento. Você passa a chave. E toma muito cuidado você também.” (00h36min08seg) “Você me empresta duzentos reais de manda pro Banco do Brasil de Bom Jesus do Norte.” (00h36min14seg) “A senhora faz o favor de abrir a bolsa.” (00h51min07seg) “A senhora abre a bolsa e a gente esclarece tudo.” (00h51min14seg) “O dia que você quiser lembrar de mim, dá uma olhada no retratinho que a gente tirou junto.” (01h43min56seg)

É possível encontrar também a forma de uso do imperativo na 1P do plural em perífrase verbal com o verbo ir, conforme já observado: “Vamos brincar lá com a Selene.” (00h28min25seg) “Vamos assistir a televisão.” (00h30min23seg) “Mas se a Ana Fontenele não voltou, vamos nós abrir então, Moisés.” (01h34min58seg) “Ô, minha gente, vamo chegar.” (01h38min15seg)

Quase a totalidade dos exemplos do Sudeste ocorre no indicativo, e é possível encontrar somente uma ocorrência do subjuntivo (a seguir). A prevalência do indicativo pode ser explicada pelo caráter oral, bem como o alto grau de informalidade e de simetria presentes na obra. “Nunca mais você faça isso.” (00h51min46seg)

É na “etapa Nordeste” do filme que o uso do subjuntivo ganha maior frequência, e então a lógica se inverte, o que corrobora a opinião dos gramáticos descritivistas de que o imperativo no subjuntivo tende a ser mais utilizado no Nordeste do país (além de outras regiões onde o tu pode ser encontrado conjugado da forma clássica); e que os dois modos – indicativo e subjuntivo – são considerados equivalentes, uma vez que as mesmas personagens empregam ambos de forma alternada. “Deixe de ser mal educado, menino!” (00h11min30seg) “A senhora não vá me fazer essa desfeita.” (1h30min09seg) “Geraldo, venha cá.” (01h30min34seg) “Se achegue.” (01h30min36seg) “Repita.” (01h30min44seg) “Veja só.” (01h31min13seg) “Geraldo, vá. Se achegue.” (01h32min08seg) “Dê pra ela. Dê pra ela ler pra gente.” (01h33min10seg) “Esquece, Isaías.” (01h33min16seg) “Dê, por favor.” (01h33min24seg) “Fala assim não, Moisés.” (01h34min36seg) “Mas se a Ana Fontenele não voltou, vamos nós abrir então, Moisés.” (01h34min58seg)

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“Escuta o que eu tenho pra te dizer. Me espera.” (01h36min11seg) “Mas me espera que eu volto.” (01h36min40seg) “Me perdoa.” (01h37min22seg) “Ô, minha gente, vamo chegar.” (01h38min15seg) “Diga.” (01h38min39seg)

Conclusão A partir do demonstrado, é possível perceber que o imperativo do PB difere em muito do modo imperativo prescrito pelas gramáticas normativas e apresentado nos cursos do idioma português lecionados nas escolas, caracterizando um ponto mais – dentre tantos outros – de distanciamento entre a norma prescrita e o uso efetivo do idioma pelos falantes do Brasil. Em seu lugar, são empregados de forma equivalente e, por vezes, simultânea em uma mesma sentença imperativa, o presente do indicativo na 3P do singular e o presente do subjuntivo nas demais pessoas e números (exceto na 1P do singular, inexistente no imperativo). Tal fenômeno estaria relacionado com o crescente abandono da 2P gramatical pelo PB e sua substituição pela 3P. Assim, como as formas verbais características do modo imperativo clássico referem-se exclusivamente às 2P (tu e vós), restou ao PB o emprego das demais formas “emprestadas” pelos modos indicativo e subjuntivo. Para concluir, citamos um trecho da letra da música Beija eu, na qual, por fins estéticos (todos os verbos são terminados com a letra a), foram empregados em forma imperativa ora o indicativo ora o subjuntivo, o que demonstra mais uma vez a equivalência entre ambos os modos. Destaca-se também (em itálico) o emprego do pronome possessivo seu, o que explicita não ser o tu o sujeito dos verbos imperativos presentes na canção.

Beija eu Composição de Arnaldo Antunes, Arto Lindsay e Marisa Monte Seja eu! Seja eu! Deixa que eu seja eu E aceita O que seja seu Então deita e aceita eu... Molha eu! Seca eu! Deixa que eu seja o céu E receba O que seja seu Anoiteça e amanheça eu... Beija eu! Beija eu! Beija eu, me beija Deixa O que seja seu...

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Então beba e receba Meu corpo no seu Corpo eu, no meu corpo Deixa! Eu me deixo Anoiteça e amanheça (...)

Referências bibliográficas BAGNO, M. (2011). Gramática pedagógica do português brasileiro. São Paulo: Parábola Editorial. BECHARA, E. (2009). Moderna gramática portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira. CASTILHO, A. T. de (2012). Nova gramática do português brasileiro. São Paulo: Contexto. CUNHA, C. & CINTRA, L. F. L (2008). Nova gramática do português contemporâneo (5.ª ed.). Rio de Janeiro: Lexicon. PERINI, M. (2010). Gramática do português brasileiro. São Paulo: Parábola Editorial. SALLES, Walter (Diretor). (1998). Central do Brasil. [Filme]. Brasil: Europa Filmes. Acessado em https://www.youtube.com/watch?v=NpZgPWTUrlE pela última vez em 16/11/2014.

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