O USO DO VOCABULÁRIO CONTROLADO: ESTUDO SOBRE MEMÓRIAS DE EXPOSIÇÕES EM SITES DE MUSEUS PÚBLICOS PAULISTAS DEDICADOS À ARTE CONTEMPORÂNEA

May 27, 2017 | Autor: Charlley Luz | Categoria: CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO, Arte contemporáneo, Museus, Arquitetura Da Informação, Taxonomia
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FUNDAÇÃO ESCOLA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA DE SÃO PAULO III SEMINÁRIO DE PESQUISA DA FESPSP

O USO DO VOCABULÁRIO CONTROLADO: ESTUDO SOBRE MEMÓRIAS DE EXPOSIÇÕES EM SITES DE MUSEUS PÚBLICOS PAULISTAS DEDICADOS À ARTE CONTEMPORÂNEA

Silvana Karpinscki ([email protected]) Charlley Luz ([email protected])

RESUMO

O uso da rede de computadores para os mais diversos fins, inclusive para pesquisa livre dos internautas, tem proporcionado aos profissionais da informação um vasto campo de discussão sobre como democratizar o conhecimento especializado para a sociedade, sem empobrecê-lo ou simplificá-lo. O objetivo principal desta pesquisa foi refletir, a partir da revisão da literatura mais recente editada sobre o tema e realizando um estudo exploratório de navegação livre no buscador Google, se no ambiente digital (sites) os quatro museus públicos paulistas de arte contemporânea - MAC de Americana, MAC Itajahy Martins de Botucatu, MACC de Campinas e MAC USP – ofereciam ao internauta a oportunidade de recuperar informações estruturadas sobre memórias de exposições por eles efetuadas. Por meio do estudo exploratório constatou-se que, excetuando-se o MAC USP, não há uma prática regular de se colocar à disposição informações sobre os processos curatoriais. Foi notado também que as informações disponíveis sobre exposições não são disseminadas a partir de uma estrutura mais controlada do vocabulário. Palavras-Chave: Internet (Uso); Web Sites. Arte contemporânea (Pesquisa). Arte Contemporânea (Exposições). Museus de arte

1 INTRODUÇÃO A proposta central deste trabalho é compartilhar os resultados obtidos durante a pesquisa realizada para fins de elaboração do Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Escola Pós-Graduada de Ciências Sociais da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, como parte dos requisitos para obtenção do título de Pós-Graduado Lato Sensu em Gestão de Documentos de Arquivo no primeiro semestre de 2014. No mundo digital, com a Tecnologia da Informação (TI) e a internet, a difusão da informação tornou-se uma ferramenta essencial do processo de comunicação entre indivíduos e entre indivíduos e instituições. A circulação de informações ocorre em diversos níveis, pode-se encontrar desde o endereço desejado até mesmo textos complexos sobre, por exemplo, a existência ou não da interação entre o espaço e o tempo. Nesse universo da informação difundida por meio da rede de computadores, a pergunta realizada para este trabalho foi: o internauta não especializado em estética e história da crítica de arte consegue recuperar informações sobre memórias de exposições realizadas por museus dedicados à arte contemporânea? Com essa pergunta idealizada buscou-se, primeiramente, na literatura dedicada ao tema se profissionais da área de arquivos estão estreitando diálogos e cooperação com as comunidades de bibliotecários e museólogos. Observou-se que o modelo de descrição aplicado para descrição de acervos arquivísticos, a Norma Brasileira de Descrição Arquivística-NOBRADE (2006), nos fala de um posicionamento que traduz o desejo de mudanças conceituais e que traz embutidas preocupações com o controle da estruturação das informações, economia de recursos, intercâmbio de dados e melhoria da qualidade metodológica, além da busca de políticas institucionais colaborativas, com vistas à democratização da difusão da informação. Durante o processo de revisão da literatura sobre o tema foi observado que a globalização da informação, estimulada pela democratização do uso de computadores pessoais, trouxe ao mundo dos profissionais da área novas demandas, entre elas, como proporcionar a recuperação da informação sem homogeneizar e simplificar a reflexão de teóricos e especialistas. Essa preocupação também está vinculada ao conhecimento de que o internauta, mais escolarizado, possui capacidade de análise e crítica para navegar em repertórios culturais e estéticos mais sofisticados (CANCLINI, 2008, p. 28). A partir dessas reflexões, o estudo exploratório foi realizado com a intenção de investigar como foram estruturados os recursos digitais (sites) de quatro museus públicos paulistas de arte contemporânea, e se seria possível acessar as informações desejadas sobre as memórias de exposições, utilizando-se palavras e expressões associadas ao

objeto da pesquisa de forma livre. A intenção final dessa busca, embora livre, era identificar se havia ou não o uso de termos controlados que permitiriam ao internauta recuperar informações sobre exposições, obras e artistas de forma mais estruturada.

2 PRÁTICAS HISTÓRICAS DE INDEXAÇÃO Quando tratamos propriamente da eleição de termos que melhor podem descrever o conhecimento humano há acaloradas discussões. Como eleger informações e hierarquias de assuntos quando sabemos que os termos são produtos intelectuais de atores sociais imersos em seu contexto histórico e presos ao conhecimento do tempo presente? As soluções propostas revelam por si só múltiplas interrogações segundo Canclini (2008). Criar ferramentas de acesso e disseminação da informação é uma tarefa com o objetivo de proporcionar aos usuários meios para que tenham condições de pesquisar de forma autônoma, contudo, paradoxalmente, o universo de pesquisa acaba sendo condicionado pela própria criação da ferramenta, uma vez que traz embutida a reflexão de quem as concebeu. Ou seja, o mundo sem barreiras acaba sendo delimitado e cercado pelas próprias ferramentas criadas para organizar, democratizar e disseminar a informação (BARRIENDOS, 2013). Por outro lado, Brandhorst (2013) aponta que a não existência de ferramentas que organizam o conhecimento podem impedir o acesso à informação. Nesse contexto, a discussão sobre o papel dos vocabulários controlados na construção de caminhos de acesso à informação é essencial para que possamos compreender como se dá a produção do saber em museus de arte, uma vez que estes são verdadeiros repositórios da criação humana e, em última instância, ainda um dos principais difusores de percepção do chamado mundo sensível. Conciliar as necessidades das Linguagens Documentárias, ou seja, a codificação do conhecimento em informação é hoje um dos grandes desafios dos teóricos da área. Como nos movimentarmos entre as exigências da organização da produção do conhecimento para que seja possível, de alguma maneira, acessá-los e, por outro lado, lidarmos com a possibilidade de criarmos universos organizados, porém monossêmicos e engessados culturalmente? (BELUCHE, 2008). Acreditamos que as discussões em torno das Linguagens Documentárias devem ser revisitadas, considerando que a recuperação de informações não estruturadas na rede mundial é um fato e somos obrigados a sair do universo do conhecimento controlado pelos especialistas. Nesse movimento, os conceitos decorrentes do processo classificatório serão necessariamente avaliados na sua própria historicidade, e quem sabe, permitirá futuramente

que sejam criadas ferramentas capazes de absorver o conhecimento que está sendo gerado pelos próprios internautas. Desta forma, na busca da difusão do conhecimento produzido institucionalmente, acredita-se que a criação e o compartilhamento de informações produzidas durante os processos de curadoria de uma exposição podem ser planejados para serem utilizados como memórias de exposições, e disseminados nas páginas dos sites de museus, desde que a informação receba uma estruturação. No entanto, essa proposição nos impeliu a buscar nos teóricos o sentido de uma estrutura com um perfil pretendido de acesso mais universal. Assim, vale notar que Foucault (2013, p. 196) nos fala que “a ideia de uma língua universal, artificial e perfeita fora remanejada e utilizada por classificadores como Lineu e Adanson”, e que Dahlberg (1979) frisa que a ideia de classificar para organizar o conhecimento humano é considerada tão antiga quanto à própria humanidade. Seguindo essa trilha, compreende-se que soluções classificatórias são perfeitamente passíveis de transformação: [...] a arte de elaborar sistemas, com alguma ideia intuitiva sobre divisões, prioridades no arranjo – primeiramente hierarquias e subordinações e finalmente ‘auxiliares’ – era tido como teoria da classificação até muito recentemente [...] (DAHLBERG, 1979).

Essa transformação é particularmente visível quando os especialistas privilegiaram o ponto de vista analítico: [...] considerar as estruturas classificatórias do ponto de vista analítico – o que se tornou possível através da elaboração consciente de facetas com base em categorias de conceitos – compreende-se a necessidade de aclarar os elementos categoriais dos sistemas de classificação [...]. (DAHLBERG, 1979).

Essa colocação nos alerta de que soluções de ordem classificatórias trazem embutidas na sua concepção o contexto histórico e sociocultural em que foram concebidas. Nesse sentido, pensarmos hoje em estruturas classificatórias em ambientes digitais nos obriga a conhecer as proposições e discussões em torno da Folksonomia, uma vez que atualmente a prática de criação de tags se transformou em um recurso largamente utilizado como ferramenta para recuperação de informação na rede. Basta, por exemplo, reparar como esse recurso tem sido utilizado nos portais da grande imprensa. Mas o que é a Folksonomia? Segundo Catarino e Baptista (2007) a definição de Folksonomia deve ser compreendida como:

[...] a tradução do termo folksonomy que é um neologismo criado em 2004 por Thomas Vander Wal, a partir da junção de folk (povo, pessoas) com taxonomy. Para Wal (2006), Folksonomia é o resultado da atribuição livre e pessoal de etiquetas [10] (tagging) a informações ou objetos (qualquer coisa com URL), visando à sua recuperação. A atribuição de etiquetas é feita num ambiente social (compartilhado e aberto a outros).

Se por um lado há uma corrente de teóricos que acredita que as tags nos revelam uma atitude de classificação da ordem do social, outra corrente de teóricos defende que essa classificação, embora traga em potencial a riqueza etnocultural, entre outros predicados dos seus criadores, compromete a busca de informações pela falta de confiabilidade, uma vez em que não há controle na elaboração dos descritores utilizados para recuperar a informação, como nos alerta Smit e Kobashi (2003, p. 14) no como elaborar vocabulário controlado para aplicação em arquivos “O controle de vocabulário é um recurso para organizar e recuperar documentos – e informações – com consistência, gerando consequentemente, confiança no sistema”. Porém, pergunta-se como devemos atuar frente ao volume incomensurável de bits de informação produzidos diariamente? E, ao mesmo tempo, como deixar de lado a produção de um conhecimento de matriz coletiva? Catarino e Baptista (2007) argumentam sobre esse ponto, e nos obrigam a refletir sobre o processo de “etiquetagem” (tags): Há, ainda, a vantagem de todos os recursos etiquetados estarem disponíveis na Web e, portanto, acessíveis de qualquer computador que esteja ligado à Internet. Agora já é possível que os marcadores possam ser armazenados, por exemplo, no Del.icio.us, e se tornem disponíveis de qualquer lugar, e não apenas num computador específico. Outro exemplo é a possibilidade de criar uma biblioteca de informação sobre artigos e/ou textos acadêmicos, por exemplo, utilizando o Connotea, que também estarão acessíveis em qualquer lugar, não sendo necessário copiar pastas de um computador para outro. Enfim, fotos, vídeos sejam quais forem os documentos ou links armazenados, ficam disponíveis na Web para seus usuários. Como desvantagem, parece haver um consenso de que o maior problema é justamente a falta de um controle do vocabulário, que é resultado da característica de liberdade na classificação dos conteúdos. Então, a característica de ausência de controle de vocabulários apresenta vantagens e desvantagens de acordo com o ponto de vista. [...] São os usuários que atribuem as palavras-chave e, portanto, são frequentemente ambíguas, muito personalizadas e inexatas. Por enquanto, há pouco ou nenhum controle de sinônimos ou homônimos, também não são impostas regras de indexação: são utilizados termos no singular ou plural, simples ou compostos, palavras sem sentido que não têm significado, exceto para um grupo específico de usuários. Tudo isso pode resultar num conjunto caótico de termos que poderá interferir no resultado da recuperação da informação. A falta de controle de vocabulário, ou seja, o não uso de instrumentos de terminologia tais como listas de cabeçalhos de assunto ou tesauros, e de regras gerais para a aplicação das palavraschave, singular ou plural, termos simples ou compostos causam vários problemas que poderão afetar a recuperação da informação.

Acreditamos que a era digital da informação cifrada do “0 e 1” nos coloca diante de novas reflexões, e caberá ao profissional da área de informação buscar novas alternativas, procurando aliar os benefícios já creditados do vocabulário controlado ao lado das novas proposições de criação compartilhada pelos internautas. A era digital modificou radicalmente os instrumentos informacionais e, concomitantemente, as discussões sobre pontos de acesso ganharam uma nova dimensão. Nos primórdios, a quantidade de pontos de acesso confinava-se aos limites possíveis de uma obra impressa. Hoje, cada palavra de um texto disponível em meio eletrônico e indexado por um motor de busca qualquer constitui um ponto de acesso. Desse modo, todas as discussões sobre vocabulários controlados e formação de indexadores parecem ter ficado perdidas em um tempo que, da capacidade de representação sucinta e exata de um conceito, dependia do acesso do usuário à informação. Todavia, mesmo sendo esse o senso comum, as questões de representação da informação não estão completamente solucionadas com a indexação do texto integral dos documentos (STREHL, 2011).

Nesse cenário, acreditamos, mesmo com as novas possibilidades proporcionada pela popularização dos recursos da tecnologia Web 2.0 (STREHL, 2011), que vocabulários controlados são instrumentos ainda necessários, todavia, entendemos também que sistematizar não significa higienizar conceitos e definições, partindo-se de um falso pressuposto da homogeneidade dos discursos, como se eles fossem experimentos passíveis de uma dissecação asséptica. Ou seja, não há como recuperar integralmente a criação humana, uma vez que a criação de enunciados, que servem como descritores, revelam o tempo e a identidade de quem os criou. Como nos diz Foucault (2013, p. 197): Em todas essas descrições, nada se apoia na determinação de influências, trocas, informações transmitidas, comunicações. Não que se trate de negálas ou contestar que jamais possam ser objeto de uma descrição, mas sim de tomar, em relação a elas, um recuo medido, de deslocar o nível de análise, de revelar o que as tornou possíveis; de demarcar pontos em que se pôde efetuar a projeção de um conceito sobre o outro.

3 O ESTUDO EXPLORATÓRIO: OS MUSEUS E O AMBIENTE DIGITAL O recorte escolhido para o estudo exploratório foi definido, em princípio, com a intenção de recuperar em busca livre na rede instituições que traziam já em seu nome a natureza de sua vocação. A partir desse pressuposto, embora tenhamos à disposição inúmeras instituições no estado de São Paulo que se dedicam à arte contemporânea como, por exemplo, a Pinacoteca do Estado de São Paulo, selecionou-se quatro museus públicos cadastrados no site do SISEM-SP: Museu de Arte Contemporânea de Americana (MAC), Museu de Arte Contemporânea Itajahy Martins de Botucatu (MAC Itajahy Martins), Museu de Arte

Contemporânea de Campinas José Pancetti (MACC) e o Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC USP). Note-se que na lista de museus do SISEM-SP localizamos apenas dois sites cadastrados, o do Museu de Arte Contemporânea da USP (www.mac.usp.br) e do Museu de Arte

Contemporânea

de

Campinas

(www.campinas.sp.gov.br/governo/cultura/museus/macc/). Considerando que uma das metas deste estudo exploratório era verificar na rede a eficácia do termo em busca livre, a seleção destas quatro instituições permitiu que investigássemos

quais

respostas

seriam

obtidas

utilizando-se

os

termos

arte

contemporânea e museus em São Paulo. Esta questão é relevante, na medida em que procuramos termos que imaginamos poderiam ser selecionados por um internauta não especializado em história e crítica da arte. Embora o nosso foco de análise fosse recuperar memórias de exposições de arte contemporânea, entendemos que o primeiro acesso nos traria elementos para investigar como os museus são difundidos na rede, e se as informações relativas às exposições eram apresentadas com alguma estruturação. Na sequência foi realizada a captação das informações disponíveis sobre as exposições, em cartaz ou realizadas pelos museus eleitos para investigação, avaliando-se como eram apresentadas ao visitante virtual. Durante o trabalho de captura das quatro instituições selecionadas para pesquisa, uma ligada à Universidade de São Paulo e as outras três ligadas às Prefeituras Municipais, foi possível detectar que há uma diferença perceptível de recursos financeiros e humanos disponíveis para divulgação no ambiente digital. Vejamos o resultado obtido:

3.1 Museu de Arte Contemporânea de Americana: MAC de Americana A busca de informações estruturadas sobre exposições realizadas pelo Museu de Arte Contemporânea de Americana mostrou-se de certa forma infrutífera. Além de não encontrarmos no site da Prefeitura de Americana uma descrição detalhada da missão do Museu, localizamos apenas algumas notícias sobre a programação da instituição em sites dispersos sobre eventos culturais. Como pode ser observada na figura 2, a primeira página que aparece no topo da lista é da Wikipédia, e foi somente nesta página que conseguimos uma descrição mais detalhada sobre a instituição.

Figura 1 – MAC de Americana (link)

Fonte: Disponível em: . Acesso em: 14 maio 2014.

Figura 2 – Secretaria de Cultura e Turismo (página Guiamais)

Fonte: Disponível em: Acesso em: 14 maio 2014.

Figura 3 – MAC de Americana pelo buscador Google (hierarquia)

Fonte: Disponível em: Acesso 14 maio 2014.

Figura 4 – MAC de Americana pelo buscador Google (hierarquia)

Fonte: Disponível em: Acesso em: 14 maio 2014.

Figura 5 - MAC de Americana associado ao termo “exposição”

Fonte: Disponível em:
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