O Uso dos Dreadlocks e sua Ressignificação na Juventude Contemporânea

May 31, 2017 | Autor: William Figueiredo | Categoria: Cultural Studies, Urban Studies, Consumo, Culturas Populares, Cultural Hibridity, Dreadlocks
Share Embed


Descrição do Produto

 

Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação  XVII Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sul – Curitiba ­ PR – 26 a 28/05/2016 

    1

O Uso dos ​ Dreadlocks​  e sua Resignificação na Juventude Contemporânea     2 William FIGUEIREDO   3 Dr. Deivison Moacir Cezar de CAMPOS   Universidade Luterana do Brasil, RS      Resumo  O  presente  estudo  busca  compreender  os  aspectos  culturais  que  permeiam  o  uso  dos  dreadlocks  na  contemporaneidade,  os  elementos  de  sua  construção   identitária  e  as relações  de  consumo  vinculadas  ao  cabelo.  Para  tal,  foi  realizada  uma  pesquisa  na  internet  com  usuários,  ex­usuários  e  não  usuários  de  dreadlocks,  de  diferentes regiões do Rio Grande do  Sul,  recebendo  32  resposta.   São   utilizados  os  conceitos  de  juventude  (DAYRELL,  2003),  cultura  (CANCLINI,  1997),   consumo  (CANCLINI,  1995;   2012).  Conclui­se  com  a  pesquisa  que o uso dos dreadlocks se apresenta como significante de contestação, negação e  produção cultural.    Palavras­chave  Consumo; cultura; ressignificação; dreadlocks; híbridismo.    1 Introdução  A  juventude  contemporânea é marcada pelo desejo de convivência e interação em grupo, ao  mesmo  tempo  em  que  busca  a  personalização  das  suas  relações  (CANCLINI,   2012).  Sua  busca  por  uma  identidade  social e pessoal em meio a uma sociedade com padrões de beleza  e  de  comportamentos  moralmente  estabelecidos  faz  com  que  esta  juventude  busque  incorporar  hábitos  alternativos  de  consumo  e  produção  cultural,  criando  um  ambiente  propício  ao  uso  de  símbolos  culturais.  Entre  os   hábitos  consumidos  está  o  uso  dos   dreadlocks​ .  Os  ​ dreads​ ,  ​ nattydreads  ou  ​ jata  (no  hinduísmo),  dentre  outras  denominações,  são  cabelos  enrolados  em  forma  cilíndrica  com  seus  mais  variados  estilos,  construindo,  dentro  de  um  universo  estético,  parte  de  uma  identidade  ligada  a  um  discurso  de  resistência  e  de  1

  Trabalho  apresentado  no  DT  1  –  Jornalismo do XVII  Congresso de  Ciências da Comunicação na  Região  Sul  realizado  de  26 a 28 de maio de 2016.  2  Bacharel em Comunicação Social ­ Hab. Jornalismo pela ULBRA/Canos, email: ​ [email protected]  3  Orientador do Trabalho. Professor do Curso de Jornalismo da ULBRA/Canoas, email: ​ [email protected]  

  1   

 

Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação  XVII Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sul – Curitiba ­ PR – 26 a 28/05/2016 

    contracultura.  O  resgate  do  penteado  na  contemporaneidade  se  deve  a  popularização  do  Reggae  a  partir  da  década  de  1960  através  do  Movimento  Rastafári  iniciado  nos  anos  30,  que  busca  o  emponderamento  do  negro  e  de  sua  cultura  na  diáspora  como  forma  de  resistência à cultura colonialista no âmbito sociopolítico e religioso.  Contudo  é  incerto  precisar  a  origem  do  dread​ .  Entretanto,  há  relatos  do  uso  de  cabelos  longos  e  emaranhados  em  toda  a  antiguidade  (TAYLOR,  2008).  Nas  culturas  do  Egito  4

5

Antigo  (EGITO,  2010),  Índia   (Sadhus ​ )  e  até  mesmo  na  América  pré­colombiana  com  os  6

Astecas   (MEXICOLORE,  2013),  a  presença  e  o  simbolismo  deste penteado, embora essas  culturas  estejam   geograficamente  e  temporalmente  distantes  uma  das  outras  (NATIONAL  GEOGRAPHIC, 2005), a ideiasão comuns.  Na  contemporaneidade,  as  práticas  culturais,  como  a  estilização  e  o  consumo,  “oferecem  sentidos  de  pertencimento  na  composição  de  repertórios  ​ culturais  híbridos”  (CANCLINI,  1997).  Assim,  os  grupos  culturais  de  identificação  organizam  suas  vivências  em  torno  de  estilos  e  de  significados  que   atribuem  a  eles no contexto social em que se inserem.  Dayrell  (2002)  vai  ao  encontro  de  Canclini  (2013)  quando  diz  que  a  juventude  desenvolve  estilos  que  possibilitam  a  criação  de  espaços  próprios  construídos  a  partir  de  “práticas,  relações  e  símbolos,  significando  uma  referência  na  elaboração  e  vivência  da  sua  condição  juvenil,  além  de  proporcionar  a  construção  de  uma  autoestima  e  identidades  positivas”. Entretanto,  não há estudos disponíveis sobre o uso dos ​ dreadlocks no Brasil, fortalecendo a importância  do  presente  artigo  para  compreender  os  aspectos  culturais  que  permeiam  seu  uso  na  contemporaneidade,  os   elementos  de  sua  construção  identitária  e  as  relações  de  consumo  vinculadas ao cabelo.  Para  assimilar  esse  fenômeno,  uma  pesquisa  etnográfica  de  caráter qualitativo foi realizada  na  primeira  quinzena  de  junho  de  2015,  na  Região  Metropolitana  de  Porto  Alegre.  As 

 Taylor, BR. (pág.1356).   ​ Sadhus​ : monges iogues hindus, está ligado à divindade ​ Shiva, ​ deidade relacionada à destruição, ao renascimento e  renovação.  O simbolismo em torno do penteado também está ligado ao sagrado e traz consigo a renúncia pelo material.  6  Usado por ​ sacerdotes astecas (​ teopxqui​ ), como símbolo sacro e de conhecimento (MEXICOLORE, s/d)  4

5

2   

 

Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação  XVII Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sul – Curitiba ­ PR – 26 a 28/05/2016 

    plataformas  de  coleta  e  divulgação  foram  on­line  através  do  ​ Google  Sheets  e  ​ Facebook​ ,  respectivamente.  Os  hábitos  e  métodos  de  consumo  cultural,  como  o  de  percepção  do  uso  dos  ​ dreads  como  hábito  alternativo  de  comunicação,  produção  e  apropriação  simbólica,  a  religiosidade,  a  musicalidade,  além  do  conhecimento  médio  sobre  a  história  do  penteado  foram levados em conta, recebendo um total de 36 respostas.    2 A Construção Midiática da Juventude    A  cultura,  como  observa  Kellner  (2001),  “é  uma  forma  de  atividade  que  implica  alto  grau  de  participação,  na  qual  as  pessoas  criam  sociedades  e  identidades”.  No  que  se  refere  à  juventude,  a  década  de  1950  é  um  marco  importante  de  empoderamento  dessa  cultura. Em  um  mundo  devastado  do  pós­guerra,  os   jovens  sobreviventes  se  aglomeram  nas  grandes  cidades,  principalmente  nas  mais  industrializadas  como  Londres  e  Nova  York.   Assim,  como  previra  Marx,   houve  um  esvaziamento  do  campesinato,  e  a  partir  daí  o  moderno  se  isolou do passado (HOBSBAWN, 1992, p.284).  Os  elementos  sociais  antes  fundamentados  na  moral  religiosa  das  instituições  tradicionais,  como  a  família  patriarcal,  na  adoração  ao  ​ traditionnel,  ​ nas  artes​ ,  começaram  a  entrar   em  crise  diante  de  um  mundo que caminhava para a globalização trazida pelo desenvolvimento  tecnocultural   de massas. As comunidades de outrora deram lugar a sociedades anônimas, na  qual  os  sujeitos  se  relacionam  e  constituem  identidades  e  múltiplos  estilos  (HOBSBAWN,  1992,  p.333).  Dayrell  (2005,  p.41)  define  estilo  como  “a  manifestação  simbólica  expressa  em  um  conjunto  mais  ou  menos  coerente  de  elementos materiais e imateriais que os jovens  consideram representativos da sua identidade individual e coletiva”.  A  consolidação  do  jovem  como  massa  de  trabalho  contribuiu  para  a  ampliação  das  esferas  de  liberdade  juvenil,  modernizando  os  usos  e  costumes  sociais,  como  a  política:  a  reivindicação  do  corpo,  através  da  revolução  sexual  feminista,   a  ampliação  do  acesso  à  educação,   os  cabelos  compridos  pelos  homens,  o  ​ jeans,  por  exemplo,  causaram  estranheza  3   

 

Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação  XVII Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sul – Curitiba ­ PR – 26 a 28/05/2016 

    ao  passado  e  se  espalharam  pelo  mundo  moderno  através  da  mídia  (HOBSBAWN,  1992,  p.292; DAYRELL, 2005, p.30).   7

O  rock,  estilo  diretamente  derivado  do  ​ Blues   negro  norte­americano  (FLORY  &  COVACH,  2005),  foi  popularizado  pela  juventude  moderna  em  todo  o  mercado  globalizado,  transformando­se  em  produto  de  uma  cultura  de  consumo  jovem,  fomentada  pelo  sistema  de  mídia.  O  gênero  produziu  um  estilo  peculiar  de  vestir,  de  se  comportar,   tanto  na  produção  quanto  no  consumo  de  bens  simbólicos  e  identidade  (DAYRELL, 2005,  p.38).  A  música  e  letras,  os  cabelos  e  as  roupas,  se  tornam  produtos  simbólicos  de  identificação,  reconhecimento  e  pertencimento,  em  seus   mais  variados  estilos,  fomentando  a  socialização  diária  através  da  cultura  de  mídia  e  levando  à  construção  de uma identidade   juvenil  em  âmbito  global  (KELLNER, 2001). O  modelo  de identificação centrado na figura  heroica  do  artista  individual  passa  a  ser  orientado  pela  colaboração  criativa  e  potencialidades tecnológicas (DAYRELL, 2005, p. 38).  Apesar  de  Elvis  Presley e  Marilyn Monroe terem se tornado ícones de juventude desta nova  cultura  nos  anos  de  1950,  foi  com  os  Beatles,  na  década  seguinte,  que  a  ideia  de  grupo  como  referência  cultural  começa  a  se  popularizar.  A  banda  e os músicos, com seu estilo de  vestir  e  performar,  venderam  milhões  de  discos  em  todo  o  planeta,  influenciando  a  cultura  de  toda  uma  geração.  Tornam­se  o  símbolo  dessa  geração  de  jovens  que  tem  na  ideia  do  prazer,  baseada  na  ampliação  das  esferas  de  liberdade,  do  autoconhecimento,  da  expressão  de  comportamentos  exóticos,  do  hedonismo,  da  irresponsabilidade,  da  transitoriedade  e  do  distanciamento da família, suas principais características (DAYRELL, 2005).   A  popularização  das  mensagens  de  juventude  é  um  paradoxo  social.  Como  uma  forma  de  cultura  comercial,  os  produtos  culturais  tem  a  “produção  padronizada  de  massa  para  a  massa,  por  tipos  (gêneros),  segundo  fórmulas,  códigos  e  normas  convencionais,  tentando  atrair  o  lucro  para  o  âmbito  privado”  (KELLNER,  2001).  Entretanto,  em  tempo,  proporciona  a  emancipação  dos  símbolos  culturais,  sua  expansão,  renovação, 

7

 Dayrell (2005). 

4   

 

Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação  XVII Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sul – Curitiba ­ PR – 26 a 28/05/2016 

    democratização,  resistência  e  renovação,  substituindo  as  tradições  locais  sem  destruí­las.  Esse  processo  de  formação  cultural,  é  denominado  por  Canclini  (1997,  p.111)  de  culturas  híbridas  e  é  caraterizado  pelos  “entrelaçamentos  entre  o  tradicional  e  o  moderno,  entre  o  culto, o popular e o massivo”.  Dos  estilos  que  oferecem  elementos  significativos  para  a  juventude  contemporânea estão o  Reggae​ ,  o  movimento  ​ Hippie  (1960),  e  o  ​ Punk  Rock  nos  anos  de  1970.  Com  o  mundo  dividido  entre  Estados  Unidos  e  União   Soviética,  na  Guerra  Fria,  levando  à  Guerra   Americana  no  Vietnã,  o  movimento  ​ hippie  com  suas  ideologias  anarco­socialistas,  anti­guerra,  de  liberdade  e  paz,  negação   do   consumo  de  mídia, figuram como referência de  juventude.  Vivendo  em  comunidades  alternativas  ou  como  nômades,  baseados  na  filosofia   8

satyagraha   ​ de  Mahatma  Gandhi,  eles   movimentam  a  opinião  pública  sobre  questões  ignoradas  socialmente,  como  os  direitos  civis  e  a  liberdade  sexual.  O  Festival  de  Música e  Arte  Woodstock (1969), como  manifestação da juventude ​ hippie​ , entrou para  a história e no  imaginário  da  juventude   moderna.  No  início  da  década  de  70,  o  movimento  é  sintetizado  através  da  música  “Imagine”  do  beatle  John  Lenon,  e  cooptado  pela  cultura  de  mídia  (KELNNER, 2001).  Nesta época, o reggae é cooptado da religiosidade rastafári jamaicana pela cultura de massa,  como  estilo  musical  e  identitário  com  mensagens  de  paz,  união,  fé,  redenção  e  amor  em  suas  letras,  que  apresentam  semelhanças  ao  posicionamento  ​ hippie​ ,  como  a  ideia  de  não  9

violência ​ .  Assim  como  o  rock,   o   reggae  e  o  punk  são  produtos  da  diáspora  africana  nas  Américas.  Históricamente,  a  origem  do  Punk  é  atribuída  à  uma  juventude  branca  no  contexto  das  grandes  cidades  como  Nova  York  e  Londres.  É  correto  afirmar  que  como  cultura  de  mídia  o  Punk  é  massificada  por  bandas  brancas  (Ramones  e  Sex  Pistols).  Entretanto,  no  reggae,  o  protagonismo  é  negro  e  jamaicano  através  de  Bob  Marley, 

8

 A filosofia Satyagraha desenvolve a ideia de desobediência civil e protestos não­violentos. Pensada e empregada no  movimento de independência da Índia por Gandhi (1869­1948), idealizador do moderno estado indiano.  9  Entre os pontos que o movimento hippie se distingue do rastafári está a relação destes com o sagrado. Enquanto o  primeiro está ligado a uma ideia de espiritualidade, o segundo está ligado a percepção de religiosidade. Entretanto, ao  serem capturados pela cultura de mídia, perdem seu caráter heterogênico, se homogeneizando. 

5   

 

Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação  XVII Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sul – Curitiba ­ PR – 26 a 28/05/2016 

    diferentemente  do  rock  e  do  punk,  protagonizados  por  uma  juventude  branca  na  cultura  midiática.  Além  disso,  os  símbolos  que  compõem  a  atmosfera  reggae  são  baseados  em  10

princípios  religiosos  ligados  ao  garveysmo   pan­africanista,  de  combate  ao  ​ status  quo  do  stablishment​ : “a Babilônia” (MANGET­JOHNSON, 2008; GILROY, 2001).   O mesmo aconteceu com o punk nos  anos de 1970 que, baseado na ideia de autonomia (​ “do  11

yourself”​ ),  liberdade  e  prazer  imediato,  com  músicas  de  acordes  simples  álbuns  baratos ​ ,  trouxe  novas  possibilidades  a  cultura  jovem  global  ao  ser  cooptado.  As  músicas  contra  o  stablishnmen​ t,  apesar  do  teor  de  contestação  baseada  na  agressividade  sonora  e  lírica,  em  essência,  são  iguais  ao  reggae.  Outro  elemento  que  o  punk  trouxe  foi  sua  negação  e  ressignificação  de  símbolos  e  emprego  destes  simplesmente  pela  estética  subversiva  do  choque  estético:   os  cabelos,  as  roupas,  a  linguagem  e  as  intervenções nos espaços públicos  codificam  seus  anseios  e  constroem  experiências  locais  de  pertencimento  em  torno  de  estilos  globais,  num  deslizamento  de  significantes,  através  de  uma  negociação  de  sentidos  únicos,  porém  semelhantes  vínculados  à  ideia  do  homem  primitivo,  não  civilizado  (BHABHA, 1997).  Para  Dayrell  (2005,  p.  30),  estes  contextos  “possibilitam a criação de grupos juvenis que se  distinguem  em  torno  do  tempo  livre,  com  uma  identidade  própria  expressa  no  estilo,  que  implica  a  articulação  de  uma  escolha  musical  e  uma  estética  visual”.  O  consumo  destes  símbolos  é  visto  como  uma  apropriação  coletiva,  de  envio  e  recebimento  de  mensagens  através  desses  estilos,  em  relação  de  solidariedade  e  distinção  com  seus  pares,  de bens que  dão satisfações simbólicas (CANCLINI, 1995).  A  cultura  midiática   ao  desenvolver uma cultura de consumo hegemônica no espaço público  cria  circuitos  culturais  midiáticos  que  ganham  mais  peso  que  os  tradicionais  locais  na   transmissão  de  informações  e  imaginários  sobre  a  vida  urbana.  Apesar   de  interagir  com  10

 O garveysmo tem como foco fundamental a promoção da união e integração dos povos das diásporas africana no  mundo. Desenvolvida a partir da UNIA (Universal Negro Improvement Association), fundada por Marcus Garvey em  1914, na Jamaic, com cunho pan­africanista: defende a unificação socio­política e cultural do continente africano.  (MANGET­JOHNSON,2008)  11  ​ O primeiro álbum da banda nova­iorquina de punk Ramones foi gravado em uma semana ao custo de US$ 6,400,  enquanto se gastavam milhões em álbuns de anos (MCNEIL & MCCAIN, 2013). 

6   

 

Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação  XVII Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sul – Curitiba ­ PR – 26 a 28/05/2016 

    referenciais  tão  distantes,  tanto  no  tempo  quanto  geograficamente,  novas  modalidades  de  encontro  e  reconhecimento  proporcionadas  pela  internet  na   contemporaneidade,  por  exemplo,  criam   leituras  únicas  de  apropriação  de  desenvolvimento   contínuo   (CANCLINI,  2003; KELLNER, 2001).  Os  estilos  definidos  por  uma  cultura   de  mídia,  ao  serem  cooptados  por  usuários  de  realidades  distintas  entre  si,  influenciados  pela  dinâmica  da  subjetividade  e  reflexibilidade  do  indivíduo  na  sua  construção  social,  atribuí  um  terceiro  significante  ao  estilo  escolhido.  Essa  apropriação  coletiva  por  parte  da  juventude  na  contemporaneidade,  encontra  elementos  na  cultura  reggae,  hippie  e  punk  para  sua  construção  e  legitimação  contracultural.  A  ideia  do  “​ do  yourself​ ”,  de  paz,  amor,  não­violência,  de  união,  de  espiritualidade  e  de  uso  simbólico  como  estética  subversiva,  de  resistência,  como  os  dreadlocks,  são  tão  atuais   quanto  outrora  como  elementos  da  construção  fragmentada  de  identidade  (HALL,  2003;  BHABHA  1997).  Esse  recorta  e  cola estilístico proporciona uma  subjetivação única desses usos de estética global, aplicados à realidade do usuário.  O  preconceito  social   decorrente  do  uso,  com  cunho  claramente  etnofóbico,  não  atinge  da  mesma  maneira  os  usuários  caucasianos,  sendo  um  pouco  mais  tolerado.  No  entanto  organizada  por   uma  cultura  eurocêntrica  clássica, o uso  limita a juventude a uma colocação  na economia formal das cidades.  Sofro preconceito direto. Olhares  de  medo ao entrar em estabelecimentos,  não  ser  atendida em estabelecimentos. As pessoas não te levam a sério. O  esforço  que  precisa fazer para mostrar que é competente, por exemplo, é 5  vezes maior do que de quem não tem dreads. (resposta ao questionário) 

  Contudo,  em  tempo,  proporciona  uma   economia  alternativa  solidária  e  colaborativa  local  conectada  ao  global  com  um  alto  nível  de  criatividade,  como  forma  de  cidadania  e  legitimação do uso (CANCLINI, 2012).  A  partir  desses  paradigmas,  a  juventude  contemporânea  inspira­se  para  reinventar  seus  estilos,  reatribuindo  sentidos  que  dialoguem  com  sua  realidade,  reconstruindo  o  estar  jovem.  7   

 

Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação  XVII Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sul – Curitiba ­ PR – 26 a 28/05/2016 

      3 Uso do Dread como Marca Identitária e Símbolo de Estilo    Há  relatos em disferentes povos, nas Américas,  em Ásia e África, de que a cultura do dread  representa  estágios  da  vida  e  ligações  com  o  sagrado  (ANGOLA,  2012;  EGITO  2011).  Entretanto,  o  uso  moderno  dos  dreadlocks  tem  no  ratafarismo  da  Jamaica  sua  origem.  O  movimento  etiopianista  pan­africano  surge  com  Marcus  Garvey  em  1914,  propondo  o  emponderamento  do  povo  negro   jamaicano  através  do  retorno  à  Àfrica.  Nos  anos de 1930,  o  rastafarianismo  inicia­se  como  uma  religião  messianica.  Em  tempo,  adquire  características  de  um  movimento  de  protesto  contra  a  situação  socioeconômica  dos  jamaicanos  negros.  Marca  da  cultura  Rastafári,  o  dreadlocks  está  ligado  às  escrituras  12

religiosas,  a  Bíblia ​ ,  referindo­se  à  separação  do  mundano.  Relaciona­se  igualmente  em  seu  uso  contemporâneo  a  uma  filosofia  de  vida  simples,  ou  seja,  afastada  dos  vínculos  do  13

s​ tabilishment   ​ e  ligada ​ e a uma atitude de resistência ao ​ status quo​ , principalmente entre os  14

jovens ​ .  O processo de massificação e ressignificação do estilo terá início nos anos 60 com  o  Reggae  cooptado  pela  cultura  de  mídia,  tendo  seus  elementos  sagrados  esvaziados   de  sentido.  Vinculado  à  cultura  de  juventude,  ainda  em  processo  de  reconfiguração,  ​ as  mensagens  de  paz,  amor  e  redenção;  as  marcas  e  produtos  culturais  do  rastafarismo,  como  o  ​ reggae  e  o  penteado ​ dreadlocks​ , conquistam o imaginário da juventude globalizada apontando para um  tipo de vida resignificada (DAYRELL, 2005).  Dessa  maneira,  ao  mesmo tempo em que enfraquecem determinados  sentidos simbólicos de  consumo  e  de  jogo  de  forças  (CERTAU,  1980),  neste  caso  os  ligados  ao  sagrado,  a  12

 BÍBLIA: Números 6:5 ­ “Durante todo o período de seu voto de separação, nenhuma lâmina será usada em sua cabeça.  até que termine o tempo de separação para o Senhor ele estará consagrado e deixará crescer crescer o cabelo da sua  baceça.” ;  Levítico 21:5 ­ “Não farão calva na sua cabeça, e não raparão as extremidades da sua barba, nem darão golpes na sua  carne.”  13  Stabilishment: ​ ordem ideológica, econômica e política que constitui uma sociedade ou um Estado.  14  O valor de enfrentamento de dreadlocks foi debatido e iniciada por uma organização conhecida como Youth Black Faith  na Jamaica. Manget­Johnson, CA. "Dread Talk ­ ScholarWorks @ Georgia State University." 2008. 

8   

 

Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação  XVII Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sul – Curitiba ­ PR – 26 a 28/05/2016 

    reconfiguração  da  juventude  contemporânea  fortalece  outros,  como  produto  contracultural.  O  penteado e o estilo, que descentram padrões eurocentricos de beleza, são apontados como  fatores  de  identificação.  “Uso  os  dreadslocks  principalmente  por  achar  estiloso  e  quebrar  com os padrões (estéticos)  pré­determinados.” (resposta ao questionário).  A  maioria  dos  entrevistados  tem  no  uso  dos   ​ dreadlocks​ ,  além  do  apelo  estético,  como  elemento  de  desconstrução  do  arquétipo  estético­social  normativo,  a  partir  do  estranhamento  ao  estilo,  traz  o  sentimento  de  “força”  e   de  empoderamento  identitário.  De  igual  forma,  sentimentos  de  admiração com a música e a mensagem destas. Essa admiração  possibilita  um  deslizamento  de  representação  que, articulando­se com o sentido de negação  e  desapego  dos  bens  de  consumo  mais  massificados  da  cultura  de  mídia,  se  tornam  o  elo  contracultural entre os jovens pesquisados.    Primeiro  o  uso  foi  pela  imagem.   Eu  tenho  um  projeto  de  ​ progressive  (música  eletônica/e­music) e  foi  mais fácil  as  pessoas  aceitarem o projeto  pelo  uso de  Dreads. Com o  tempo ele  foi se apropriando de mim. Hoje eu  vejo  ele  como a extensão da minha evolução como ser humano,  onde você  desapega da  imagem e  do que os  outros pensam.  Sai da caixa aonde tudo  tem que seguir um padrão. (Resposta ao questionário) 

  Para  os  pesquisados,  o  uso  dos  ​ dreadlocks  é,  portanto,  um   significante  de  contestação,  negação  e   produção  cultural.  Estes  aspectos  são  fragmentos  de  matrizes  culturais  de  juventude  moderna  que  foram  reconfiguradas  e  ressignificadas,  ganhando  com  isso  novos  usos  e  recombinando  marcas  de  diferentes  estilos.  Entretanto,  na  contemporaneidade,  articulam­se entre si construindo uma cultura atualizada à ela. Uma cultura híbrida.    4 Reconstruindo os Sentidos de Juventude    A  cultura  da  juventude  ​ tem  sido  tensionada  pelo  fluxo  de  informações  atualmente  aceleradas  pela internet, que possibilita uma ambiência diária das conexões de sociabilidade

9   

 

Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação  XVII Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sul – Curitiba ­ PR – 26 a 28/05/2016 

    15

  e  suporte  de  emancipação,  expansão,  renovação  e  democratização  da  produção  e  do 

consumo  cultural,  influenciando  cada  vez  mais  modelos  alternativos  de  economia  colaborativa  (CANCLINI,  1997;  2012).  A  velocidade  das  informações  aumenta a oferta de  referências  simbólicas  para  serem  utilizadas  na  construção  de  identidades,  possibilitando  diferentes estilos e entendimentos do que seja juventude.  Dayrell  (2005,  p.  22)  observa  que  para  pensar  a  juventude  é  preciso  considerar  essa  “enorme  diversidade  contextual  e  sociocultural  existente”.  As  transformações  do  mercado  de  produção  e  consumo   culturais,  a  crise  das  instituições  tradicionais,  responsáveis   pela  socialização,  influenciam  diretamente  essas  diversidades.  ​ Os  usuários  de  dreads,  por  exemplo,  apesar  dessa  característica  em comum, estão ligados a diferentes estilos. O visual,  assim  como  a  música  (o  ​ reggae​ ),   foram  dissociados  do  sagrado  pela  cultura  de  massa.   Atualmente,  o  penteado  tem  diferentes  usos,  reconstruindo  sentidos  de  juventude  e  pertencimento.  O  consumo  cultural  constrói  identidades.  Essa,  por  sua  vez,  reflete  às  subjetividades   individuais  e  as  relações  sociais  na  construção  de  uma  identidade  coletiva,  muitas  vezes  explorada  pela  mídia  (CERTAU,  1980)​ .  ​ No  processo  desta  construção  identitária, o uso de  símbolos  culturais  servem  de  marcador  social,  construindo  discursos  políticos,  como  a  negação  dos  modelos  estéticos  oferecidos  pela cultura de massa. Com o tempo, cria lugares  férteis  de  mercados  simbólicos  autônomos  que  ressignificam  símbolos através de táticas de  apropriação (CANCLINI, 1997; CERTAU, 1980).  Como  produto  de  consumo,  os  dreads  são  afetados  por  ressignificações  e  traduções,  pois  oferece  sentidos   de  pertencimento  recorrentes  às   experiências  multiculturais  de  sociabilidade,  compondo  o  que  Canclini  (2009)  denomina  como  repertórios  híbridos.  A  ideia  de  subversão  interna  de  produtos  e  ofertas  de  consumo  tem  como  características  “estratégias  de  persuasão,  seu  colapso  ao  capricho  das  ocasiões,  suas  caças  furtivas,  sua 

15

 "Explore ­ Cetic ­ Portal de Dados ­ CETIC.br." 2015. 21 Oct. 2015  

10   

 

Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação  XVII Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sul – Curitiba ­ PR – 26 a 28/05/2016 

    clandestinidade,   seu  murmúrio  (discursos)  incansável.  Em  suma,  uma  espécie  de  invisibilidade que se distingue pela arte do uso do que são impostos.”​  ​ (CERTAU, 1980).  A  amostragem  da  pesquisa  se  deu  através  da  internet,  por  um  questionário  virtual,  disponibilizado  pelo  Facebook  que  atingiu um grupo de pessoas que circulam pelo mercado  de  economia  criativa,  aberto  a  usuários  e  não  usuários  de  dreads,  desde  que  tivessem  uma  percepção  e  um  conhecimento  mínimo  sobre  o  penteado  e  seus  usuários.  A  partir   das  respostas  de  usuários  e  não  usuários  de  ​ dreadlocks​ ,  observa­se  que  todos  se  identificam  pela  busca  do  que  se   caracterizadamente  pelo   consumo  focado  na  alimentação  alternativa,  na compra de livros e no uso do tempo livre para “desenvolver conhecimento”.  A  maioria  do  grupo  é  formado  principalmente  por  pessoas  que  usam  ou  já  usaram  dreadlocks​ .  Do  total  de  31  entrevistados,  77,5%  atende  a  esse  critério.  Os  demais  22,5  %  não  usam.  Destes,  57,1% não usariam por não sentirem atração estética, por desconhecer os  significados  ou por não ter uma mensagem para passar através do estilo. Os 47,9% restantes  usariam  pela  atração  estética, pelo estilo musical e por questões espirituais. Além disso, dos  que  afirmaram  que  não  usam  e  não  usariam,  o  reggae  não  é  listado  entre  os  cinco  estilos  musicais  de  preferência,  diferentemente  da  música  eletrônica, evidenciando a música como  agente formador do estilo através da cultura de mídia.   De  acordo  com  a  autodeclaração  étnica,  19  se  definem  como  brancos,  sendo  que  alguns  especificam  a   descendência  germânica.  Há  também  cinco  que  se  consideram  “mistos”,  mestiços,  “todas  as  cores”,  ou  simplesmente  como  brasileiros.  Dois  como  pardos  e  apenas  um  se  define  como  negro,  o  que  significa  que  o  uso dos ​ dreadlocks não possui neste grupo  um  protagonismo  negro.  Essa  percepção  e  projeção  da  hibridez  etno­cultural  (CANCLINI,  1996)  pode  ser  pensada  em  dois  aspectos:  político  e  de  negação  da  cultural  eurocêntrica  e  de  mídia  massiva  que constrói uma ideia de juventude através da pasteurização de símbolos  culturais (KERNELL, 2001).  O  grau  de  instrução  dos  entrevistados  é  majoritariamente  ensino  médio.  Do  total,  20  deles  informaram  cursar,  ou  ter  concluído.  Os  que  possuem  graduação  e  pós  contabilizam  10  11   

 

Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação  XVII Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sul – Curitiba ­ PR – 26 a 28/05/2016 

    indivíduos.  Entre  os  indivíduos ocupados, oito trabalham no comércio, um com publicidade  e propaganda e dois com educação e saúde.  Levando  em  conta  a  idade  média  de  22  anos  dos  entrevistados  e  o  nível  de  desemprego,  aproximadamente  28,5%,  enquanto  a  média  nacional  entre  os  jovens  de  18  a  24  anos  no  16

Brasil  é  de  16,4%,   ​ pode­se   relacionar  o  desemprego  a  duas  questões:  a  necessidade  de  formação superior; e o uso dos dreadlocks, ainda relacionado com falta de higiene.   Os  usuários  do  penteado  apontam  sofrer  preconceito  na  hora  de  conseguir  um  emprego  tradicional,  pois  barreiras  simbólicas  baseiam  a  decisão  de  contratação,  levando­os,  algumas  vezes,  às  novas   alternativas  econômicas.  Como  alternativas  econômicas,  o  17

artesanato  e  dreadmaker ​ ,  são  realizados  por  cinco  pessoas,   sendo  que  uma  delas  também  exerce ocupação formal no mercado de trabalho.   Este circuito de  economia alternativa apresenta marcas dos movimentos ​ hippie ​ e do ​ punk​ . A  ideia  ​ punk  “do  yourself”,  como  forma  de  ​ subversão  dos  modelos  econômicos,  através  do  artesanato,  que  por  sua  vez  é  de  característica  ​ hippie,  ​ como  modalidade  de  ação  do escape  social  hegemônico   como  uma  variante  da  atividade  formal  no  trabalho  (CERTAU,  1980).  Dessa  maneira,  essas  contribuições  estéticas  e  de  técnicas,  aliadas  a  tantas  outras possíveis  através  da  globalização,  cria  o  que  Canclini  (1997)  chamada  de  “cosmopolitismo  flexivel”  que,  a  partir  do  processo  de  hibridação,  apropria­se  de  táticas  de  outras  culturas  como  empoderamento e fortalecimento de alternativas à realidade local.   Apesar  de  80,65%  de  o  grupo  pesquisado  ter  hábitos  onívoros,  três  destes  (12%)  apontam  para uma tendência de mudança de hábitos alimentares, buscando tornarem­se vegetarianos.  Esses,  por  sua  vez,  são  19,35%  e  buscam  apropriar  práticas  alimentares  e  alguns  outros  18

hábitos  encontrados  no  rastafarianismo ​ .  Entendem  essa  apropriação  como  expressão 

16

 "IBGE: desemprego sobe mais entre jovens de 18 a 24 anos ..." 2015. 3 Nov. 2015   

 aquele que faz dread   ​ Manget­Johnson, CA. "Dread Talk ­ ScholarWorks @ Georgia State University." 2008. p. 36 e 37. 

17 18

 

12   

 

Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação  XVII Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sul – Curitiba ­ PR – 26 a 28/05/2016 

    política  de  resistência  e  espiritualidade.  Entretanto,  essa  ideia  não  se  aplica  a  todos  e  se  desenvolve em diferentes níveis com cada indivíduo (CERTAU, 1980).  Quanto  ao  tempo  livre,   hábitos  de  leitura,  de  consumo  de  filmes  e  séries,  de música, como  forma  de  reflexão  e  de  desenvolvimento  cultural,  fazem  parte da vida deles, não negando o  consumo  de  produtos  da  cultura  de   mídia,  Netflix,  por  exemplo.  O  reggae  ainda   se  faz  presente  no  gosto  musical,  mas   não  como  elemento central e esvaziado  de seu uso sagrado,  dando  espaço  para  o  consumo  de  música  eletrônica,  como  expressão  da tecnologia à época  (KELNER, 2001).  A  prática  de  atividades  físicas,  como  andar  de  bicicleta,  o  desenvolvimento da criatividade  através  de  desenhos  e  outros  trabalhos  manuais,  constitui  um  circuito  de  produção  e  consumo  cultural  voltados  no  lazer  e  a  práticas  autonomas.  Neste  sentido,  a  leitura  como  forma  de  criação  de  conhecimento  necessário  para  atuar  e  principalmente  resistir  à  cultura  essencialmente  consumista.  A  bicicleta  como  símbolo  autônomo  de  locomoção dentro das  grandes  cidades.  E   a  produção  artística  independente  que  valoriza essa cultura pulverizada,  através da apropriação é considerada de grande importância social.  Para  se  informar,  utilizam mecanismos de pesquisa, como o ​ Google; ​ Sites de Redes Sociais  (​ Facebook​ )  e  app  (​ Whatsapp)​ ,  são  as  ferramentas  mais  utilizadas.  A  TV,  como símbolo da  modernidade,  ainda  exerce  papel  de  informação   significante,  ficando  atrás  apenas  da  Internet  e  Facebook,  símbolos  pós­modernos,   tidos  como  elementos  de  contestação  do  discurso  de  mídia  tradicional  da  geração  de seus pais, tendo o progresso tecnológico digital  e a facilidade de informação através deste como características.  Esse  processo  de  consumo  cultural,  muitas  vezes  esvaziados  em  seus  sentidos  originários,  que  caracteriza  a  cultura contemporânea, cria laços afetivos que produz identidade, estilos e  levam  à  formação  de  grupos  sociais  híbridos  a  partir  de  marcas  identitárias.  Os  dreadlock  tem  sido  usado  por  esses  jovens  como  uma  marca  de  pertença  e  um  projeto  de  identidade  baseada não só no estilo, mas em outros aspectos de consumo cultural, como referido.    13   

 

Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação  XVII Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sul – Curitiba ­ PR – 26 a 28/05/2016 

    5 Conclusão    Os  aspectos  culturais  que  permeiam  o  uso  dos  dreadlocks  na juventude contemporanea são  a  estética  e  o  seu   uso  deste  como  símbolo  contracultural  de  contestação.  Os  usuários  preferem  buscar  um  consumo  minimalista, que tem na internet o meio de sociabilidade e de  informação  mais  usual.  Sua  construção  se  dá  a  partir  de  rastros  de  estilos  para  a  representação  de  juventude,  disponibilizados  e  vinculados  à  cultura  de  mídia   que  sofrem  por  isso  ressignificações  de   sentido  a  partir das experiências de cada indivíduo.  O consumo  e  a  sua  vinculação  com  o  penteado  está  portanto  ligado  a  uma  cultura de  juventude global,  que  mantém  como  como  referência  a  mensagem  de  paz,   união  e  resistência  ao  stabilishment​ .  Com  a  massificação  do  uso  dos  dreadlocks  a  partir  doa  anos  de  1960,  como  referencial  de  cultura  jovem,  o  estilo  nattydread  torna­se  sinônimo  de  resistência  estética.  O  penteado  se  consolida  no  imaginário  jovem,  como  ferramenta  de  representação  ideológica  e  política,  com  diferentes  níveis  de  consciência  desta  ação.  Além  disso,  os  aspectos  sagrados  historicamente  vinculados   ao  estilo, tanto no rastafarianismo, quanto nas sociedades antigas  pelo mundo, se transformaram na ideia da espiritualidade e não tanto em religiosidade.  O  grupo  pesquisado,  com  média  de  idade  de  22  anos,  desenvolve  sua  ambiência  em  torno  do  processo  de  desenvolvimento  tecnológico  entre o analógico e o digital. A internet, como  meio  de  aproximação e de identificação entre  pares com referências da cultura  de midiática,  apresenta­se  como  principal  ferramenta  de  construção  do  conhecimento  e  da  percepção  de  mundo  dessa  juventude.  Isso  não  faz  com  que  os  encontros  sociais  em  espaços  públicos  sejam  não  tão  frequentes;  mas  potencializam  esses  momentos  através  da   tecnologia,  também  em  encontros  em Sites de Redes Sociais, ​ Facebook​ , ou aplicativos de ​ chat​ , como o  Whatsapps​ , mantendo relações de produção e consumo cultural.   A  opção  pelo  uso  do  estilo,  por  outro  lado,  dificulta  a  colocação  para  alguns   dos  entrevistados  no  mercado   economico  tradicional.  Esse  preconceito  em  relação  à  estética  14   

 

Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação  XVII Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sul – Curitiba ­ PR – 26 a 28/05/2016 

    justifica,  em  parte,  o  nível  de  desemprego  desses  jovens,  que  é  maior  do  que  a  média  nacional.  Também  como  causa,  observa­se  que  o  nível  de  instrução  da   maioria  é  o  ensino  médio,  o  que  impossibilita  contratações  em  cargos  melhor  remunerados.  Os  pesquisados  que tinham algum tipo de graduação estavam empregados, mesmo usando dreadlocks.  A  produção  e  consumo  do  grupo  referencia­se  em  diferentes   manifestações  do  sentido  de  juventude  a  partir  da  segunda  metade  do  Século  XX,  como  o  ​ punk,  ​ o  ​ hippie  ​ e  o  rastafarianismo,  através  da  música  ​ reggae​ .  No  entanto,  constroem  suas  identidades   a partir  de rastros desses movimentos, apontando para uma hibridez. A música, como expressão dos  sentimentos  de  juventude,  continua  como catalizador de pertencimentos. A maioria dos que  usam  dreadlocks  neste  grupo  escuta  música  eletrônica,  como  reflexo   do   tempo  e  da  digitalização  da  cultura.  Com  isso,  elementos  diversos  ligados  a  esses  movimentos  de  juventude  convergem  entre  si  na  contemporaneidade,  construindo  uma cultura híbrida cada  vez mais complexa.  Assim,  os  usos  dos  dreadlocks  na  contemporaneidade  são  a  expressão  de  diversos  sentimentos  de  pertencimentos  que  tem  na  ideia  de  resistência  aos  padrões  dominantes  da  cultura  de  consumo  sua  mais  forte  representatividade.  Dessa  forma, cria­se uma identidade  social  e  pessoal,  com  posicionamento  crítico  de  negação  aos  padrões  de  beleza  e  de  comportamentos baseados no consumo massivo da sociedade contemporanea​ .    REFERÊNCIAS    ANGOLA.   "WELCOME  ​ TO  ANGOLA."   Acesso em: out 2015. 

2012. 

Disponível 

em: 

  BEFORE  THEY.  ​ HIMBA​ .  2011. Disponível  em:  ​ http://www.beforethey.com/tribe/himba Acesso  em: out 2015. 

  BHABHA, Homi K. ​ O local na cultura. ​ Belo Horizonte: UFMG, 1997. 

  CANCLINI,  Néstor  García.  ​ Consumidores  y  Ciudadanos:  ​ Conflictos  multiculturales  de  la  globalización. México: GRIJALBO, 1995. 

  15   

 

Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação  XVII Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sul – Curitiba ­ PR – 26 a 28/05/2016 

    ______________________. ​ Culturas Híbridas y Estrategias Comunicacionales:  estudios sobre las culturas Contemporaneas. México: Universidad de Colima, 1997. 

  ______________________. ​ Culturas  Híbridas:  estratégias  para entrar e  sair  da Modernidade. São  Paulo: EDUSP, 2003. 

  ______________________.  ​ Jóvenes,  culturas  urbanas:  ​ prácticas  emergentes  em  las  artes,  las  editoriales y la música y redes digitales. Madrid, Espanha: Fundación Telefónica, 2012. 

  ______________________.  ​ Ni   folklórico  ni  massivo:  ¿qué  es  lo  popular?  Disponível  em:  fhttp://www.infoamerica.org/documentos_pdf/garcia_canclini1.pdf​ > Acesso em: set 2015. 

  DAYRELL, Juarez. ​ O  jovem como sujeito social. ​ Artigo na Revista Brasileira de Educação. Brasil;  2003. 

  ________________.  ​ A  música  entra  em   cena:  o  funk  e o rap na  socialização da juventude.  Belo  Horizonte: Editora UFMG, 2005. 

  EGITO.  ​ Egyptian  beauty  secrets:  article  two  ­  tour  Egypt.  2010.  Disponível  em:   Acesso em: out 2015. 

  FLORY, Andrew e  COVACH, John.  ​ What’s that  sound? : an introduction  to rock and its history /  Andrew Flory, John Covach. — 3rd ed. New York:  W. W. Norton & Company, Inc, 2006. 

  HOBSBAWM, Eric. ​ Era dos Extremos :​  o breve século XX : 1914­1991. São  Paulo: Companhia das Letras, 1995. 

  KELLNER,  Douglas.  ​ A   cultura  da  mídia  –  estudos  culturais:  ​ identidade  e  política  entre  o   Moderno e Pós­moderno. Bauru, SP: EDUSC, 2001. 

  MANGET­JOHNSON,  Carol  Anne.  ​ Dread  talk:  ​ the  rastafarians'  linguistic  response  to  societal  oppression.  Thesis,  GeorgiaStateUniversity,  2008.  Disponível  em:  http://scholarworks.gsu.edu/english_theses/44​  Acesso em: nov 2015. 

  MCNEIL,  Legs.  ​ Mate­me  por  favor:  ​ Legs McNeil e  Gilian McCain; tradução  de  Lúcia Brito ­ 6ª  ed. Porto Alegre: L&PM, 2013. 

  MAXICOLORE. ​ Aztec hairstyle.​  S/D. Disponível em:  http://www.mexicolore.co.uk/aztecs/aztec­life/aztec­hairstyles Acesso em: out 2015.  

  ______________. ​ Why did mexica priests have matted hair?​  S/D. Disponível em:  http://www.mexicolore.co.uk/aztecs/aztefacts/priests­and­their­matted­hair​  Acesso em: out 2015. 

  16   

 

Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação  XVII Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sul – Curitiba ­ PR – 26 a 28/05/2016 

    NATIONAL  GEOGRAPHIC.  ​ The  Genographic  Project​ .  2005.  Disponível  https://genographic.nationalgeographic.com/human­journey/​  Acesso em: out 2015. 

em: 

  SANATAN.  Shiva  ​ ­  Sanatan  society.  2003.  Disponível  em:   Acesso em: out 2015. 

  TAYLOR,  BR.  ​ Traditional ecological knowledge ­ religion and  nature.  2008.  (pág.1035; 1036;  1561).  Disponível  em:    Acesso em: out 2015. 

   

17   

Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.