O verdadeiro sentido da Arte Moderna em Portugal — e outras páginas inéditas de Ruy Coelho (Compilação, transcrição e notas de Edward Luiz Ayres de Abreu)

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O vedadeito sentido

port u ga I em *?*tfÍ,S^"{![,glSÍna E oIl-rBAS

pÁcruas mÉomes DE RuyCoruro

EDVARD LUIZAYRES DABREU i.,:i::i..,

*o

l.-,:,,

çôes relevantes; não se transcreveu todar ia âS r.ài

I

1tr:i.:,i.

..-

rxvEntantÃR o ;spôlco

do compositor Ruy Coelho (rB89_ Biblioteca Nacional de poúugal em 2orr, deparei com várias folhas soltas e desorganizadas com textos de sua pena. Estavam todas sequencialmente identifrcadas (ora com

r9B6), doado

à

algarismos, ora alfabeticamente), pelo que a sua ordenação não levantou problemas à transcrição que se segue primeira publicação integralt destes valiosos testemunhos do se, pensa_ mento e do seu tempo.

Pe*rç gç

parálg diz respeito

positor apresentou no Brasil, 0 çerdad,eíro sentíd,o

d,a

a

.r:.:

r: .-. ::

gralhas ou pormenores sem reler,ância para a srrr -, ,. documento. Para clarificar o texlo, as personalideütrs :-:- . _ .: por Ruy Coelho que estão hoje menos preseltres rr ,rr j..-, . nosso colectivo foram identificadas em notas de r,- i... . a

{

uma conferência que o com_ Agosto d,e r9zz, intitulada

..'-

lE3rcrÉ*.-* {*§s§u#Ts

*_*

_

3

S Hsepsgrges sstrrs§$ e.* §grgelêossÊtrê

se=

F**ri;c.tr

(Conferência dita peio autor nâ Sociedade de Culr.rra \1.;.- -. Rio de Janeiro)

a zB de

Arte Mod,erna em portugol

-

eyento espe

_

cialmente curioso no contexto dos mod.ernismos brasileiro e porfuguês, sobre o qual apresentei, em Agosto d.e zor5, no VI Simpósio Internacional de Musicologia da UFRJ & ColOguio Internacional do Instituto Ibero-americano de Berlim (IAI) e Universidade das Artes de Berlim (UDK), o artigo ,,Ruy Coetho como arâuto do portuguezismo e da modernidade lusitana; as üagens ao Brasil em r9r9 e r9z?, . *rerç pntâãrrao c6xrt H?$ de papéis identifrquei umâ se_ quêncla de vinte folhas, numeradas de I a§, seguidas de outras

orze (possivelmente acrescentadas em momento posterior

à

primeira versão da redacção), as quais o autor identificou por o, b, c, d,, er , ez' fi fz, J3, f4,,f5; a última destas folhas aponta a leirura parâ uma seguinteg, mas encontrei apenas as folhas o, ot e 02, ,

pelo gue há agui, seguramente, umâ secção em falta. Não é claro que a folha o2 aponte pâra â retoma da numeração romanâ, mas não se acharam mais folhas de numeração alfabética, concluin_ do*se por isso a transcrição com âs restantes )O(I a )ffW. Um seguruoe (oí*rutr?o de papéis dirá respeito a uma outrâ possível palestra sobre a sua actividade como compositor de bai_ lados, antecedendo um espectáculo realizado em local e data por

identiflcar. Aprimeira folha encontrada está identificada como que se pode assumir segu.ramente a incompletude do documento. Falta também a folha X. A última folha encontrada

MI, pelo

identi frca -se como )fi_lX.

Âclu*urou-§E É tro*HtÂÊllog*§s a ortografia, originalmente errante entÍe a tradição pré-reforma e as novas directivas de r9rr. Harmonizou-se alguma pontuação e mudança de parágra{os. Palavras indecifráveis foram assinaladas com ponto de interrogação entre colchetes, e quando a decifraçâo é incerta mas possível incluiu-se a palavra proposta antes do ponto de interrogação. Transcreveu-se também os rasurados, assirn-iffircados, que nalguns casos oferecem pistas de interpretação assaz interessantes, ou âcrescentam informa_

§xt*grorçgeF§?§ €*is as pâlavras agora pronunciadas r, , r.rr : paraV Ex.as. não serão ditas com qualquer aspecÍo b.rlr,-., ,. -. literato. que o não sou, nem tâmpouco com ares e-1,,:-i : _ Ieves

-

de conferencista, que tambem nào sou. As lrr...- - . vras gue vos vou dizer, Ex.mas Senhoras e Senhores. n". ._profundo desejo que possuo de fazer um pouco de hrsr,_1._: : . râpazes arlistâs da minha geração, meus companheiros ii. ,.r ..

-

e de propaganda, umavez que chegou o

fixar

o

momento de errli.,. . verdadeiro sentido da Arte desses artistas mocier.r . ,.

meu país,

@

paçôes estéticas e dlrecção

assuasffi'eS;@

quais as suas

pr.! --

:

espiritual eãte,:rresmú+n:rrrtrt

§aa ã*t§3, rn* Fext*, num café de Boulevard. indo assrs: :. uma conferência de trIagalhães Lima3, vinclo eu de Ber,rrr. .:

.-

uma curtissimavisita à capital do mundo. entre frguras drr.r..-._ de diversos países. umâ estavâ na assistência que me char,- : a âtenção. pela sua Õdrava rara linha esguia e correctissrrrra r.

artista italiano da Renascença, de fina cabeça recofiada

nur:--_

comprida cabeleira de pagem, e toda vestida num fato negro eirque o laço também negro da gravâta, no branco de polimenl_ da camisa, dava austeridade premeditada. Reparei melhor. t perguntava me quem seria. quando, no fim das tiradas orató_ rias do conferente. a ftgura curiosa se ergueu. O rosto mâgro. seco, vendo a figura marchar, e vendo-lhe os pequeninos olhos interrogâti\.os de jesuita, o tronco estreito em cima, alarganilo _ -se sempre até ao fim do jaquetão, larguÍssimo. e entào as cal_ ças ainda alargando-se mais, ficando mais largas sobre o sapato negro de verniz do que as de "boca de sino". agura errtâo me diziam que aquele rapaz não poderia ser um italiano como a princípio julgara. Aquilo tudo só poderia ser um porluguês, e de Lisboa. As calças, corladas em um alfaiate de paris, lá tinham o jeito fadrsta do Marialva da Mouraria. Os olhos cram mesmo de jesuíta do Largo de S. Domingos. Vivos como uma Íbgueira assando cristàos-novos. Enquanto observava tudo isto, pen_ glosas

rirurnorr maio :or6 67

-

sando na personalidade tão ori$inal e simultaneamente tão porfuguesa daquela figu.ra, a ponto de se distinguir entre assistência tão cosmopolita, - como estranha e nobre -, eis que ela a mim se dirige e me pergunta: É Ruy Coeiho? Sim. Quem é o senhor? Santa-Rita Pintor. lnl o Gutrs=nnnç EE §ÀtÍÀ-RtÍÂ, o pobre Guilherme que meia dúzia de anos depois morria em Lisboa, jovem, sem ter feito a sua obra. I{rscl totrG, [a] do meu primeiro encontro com Santa-Rita, logo ele me fez diversas perguntas indagando das minhas

opiniões sobre

o Conservatório de

Música de Lisboa, dos

compositores porfugueses, da Música em geral, de Strauss, de Debussy. Falámos de tudo, e assim enquânto estive em Paris rara erâ a noite [em] que não ficássemos conversando até de madrugada, isto é, discutindo, porque Santa-Rita emArte, em tudo, quasi que só discutia. Essas questões nocturnas tinham-se sempre em longos passeios. Emum deles, logo no segundo talvez, fomos conversando, tendo passado por uma ruâ em que o templo de Notre Dame nos ficava à esquerda, [e] andámos sempre, enquanto ele falava de Picasso, o pintor cubista seu Mestre e amigo, da sua franca adesão ao cubismo, então em voga, de novas teorias da Pintura, que de forma alguma deveria ser objectiva, representando formas do mundo fisico, mas sim uma arte criadora das suas próprias formas, subjectiva. Por isso, ele estava acabando o seu quadro Cabra cegotocand'o gu,ítarra em que â - sonoridade -- o som ritmico - era procurado como meio pictural da descrição do quadro, em que não se veria nem a cabra cega nem tão-pouco a guitarra, figuras objectivas sem interesse criador. O José Camp2s4, esse afinal era um pintor fotográfico como a maior parte, dizia ele, sempre caminhando nos seus longos passos lentos. AAcademia mandava os rapazes para Paris, e afinal eles aqui ficavam seguindo mecânicamente os processos da Escola de Lisboa. Ele não. Nunca faria Arte para burgueses. Náo o compreenderiam? Melhor. Faria a sua arte. Entretanto já tinhamos ido muito longe e já únhamos de volta, em frente de novo a Notre Dame. Santa-Rita pára súbito, interrompe o seu discurso, e nervosamente perguntâ-me: "Mas então como é que há pouco Notre Dame estava à esquerda e agora está à direita? Como hei-de agora encontrar a minha casa?" El* ê g!^acucuc" Eis o Santa-Rita. Pintor que passeava todas as noites pelas ruas de Paris, até altas horas, conversando e criando as suas fantásticas teorias de ârte, e que depois perdido não sabia ir para casa. Blague? Foi assim, porque assim morreu sem nos deixar uma obra, aquele que tântâs belas [e] grandes obras criou na mais sugestiva fantasia, sendo como que o iniciador da sensicriando pela bilidade da arte moderna em Porfugal, ffio palavra imagens novas no espirito de todos agueles rapazes que sempre, desde Paris, Ihe ouviram as bizarras prelecçÕes.

§rmr-ü9*s

D$€ÍPuüɧffi

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e

Guerra teve o condão de os juntar todos em Lisboa, reunindo-se todas as noites no Café Tavares, valendo-lhes isso a cognominação de "Grupo do Tavares". Eram eles, Guilherme Santa-Rita, Almada Negreiros, Eduardo Vianna, José Pacheco, João do Amaral5, Victor Falcão6, e eu. Algumas vezes 1á aparecia o Amadeo de Souza-Cardoso gue estava no Norte, e lpre era, como Manoel JardimT, pintor gue estaya em Coimlra, tambem vindo de Paris, artista moderníssimo muito considerado pelo grupo. Fol uoTlvnnE! quenasceramtodasasiniciativas dearte Moderna Portuguesa. De



saiu logo o Orpheu [em r9r5J, a

cação, e depois o Portwgal Fwturísta

68

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úurno u I uio

I

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contra [sic] a velha escola. Foi de 1á que saíu a célebre conferência de Santa-Rita e Almada Negreiros no Teatro S. Luiz. Depois os Bailados aristocráticos no Teatro de S. Carlos [em r9rBJ, com Almada, Pacheco, e a parte musical minha. O Tavares triunfava na mais aristocrática nobreza de Portugal, tendo como intérpretes das suas concepções mais ousadas o melhor da Írdalguia nacional. Enrnrrlrto Âmloro BE SoutÀ-CJtRDoSo abria na Liga Naval lem 19l61 asua bizarríssima exposiçáo de pintura. Mário

de Sá-Carneiro, colaborador do )rpheu, morria em

Paris,

deixando fundas saudades entre o grupo que o admirava. Santa-Rita morria também em Lisboa lem r9r81, mas o grupo continuava realizando o seu sonho de arte. Eduardo Vianna, isolado durante alguns anos em Vila do Conde, trabalhava e realizava na pintura aquela renovação apregoada pelo grupo. De facto, algum tempo depois, dois ou três anos, âpresentavâ em Lisboa uma galeria de quadros que o impunha como o mais forte pintor nacionalista. Trazia paisagens, aspectos do Norte. Pedaços do Porto. Galeões da Ribeira. Casarias. Tudo Portugal peninsular. Viana era o verdadeiro pintor do nosso Portugal de sol. As suas feiras, as suas ermidas de dias de festa, são uma gargalhada forte no meio da tristura colectiva. Há foguetes estralejando, sinos gritando ao ar, polkas de festança, no pincel de Vianna. Vianna pinta como ![uem come castanhas à dentada. Bom pintor, todas

as transcendentes teorias de Santa-Rita, de Delaunay que com ele viveu emVila do Conde, as purificava no ar lavado da Pátda. Todas as subjectivíssimas especulações interseccionistas de Delaunay resolüa-as Eduardo Vianna pintando uma boa abóbora portuguesa ao sol quente do Minho, em dia farto de Agosto. É pois Vianna o pintor português moderno assim mesmo. Neste momento está pintando o SuL Está no Algawe. De dia pinta, como qualquer operário, de so1 a sol. Ànoite, põe umbonetn:acabeça e lávai ele ao cinema. Não escreve a ninguém porque quasi não sabe escrever. O Vianna só pinta. §nxtl-fum era a Teoria. Vianna é aAcção.

o Amrlol ilrc*plnos

eo

pJr*rao,

e executor em continuas

"recherches", no desenho e na literatura. Na literatura desde a Míma Fatara ao llend,es, Q.uad,rad,o azul, Invençao d'o Dia Aaro, o Almada é sempre mais diferente e mais complexo, paralelamente à sua série de desenhos, desde o retrato pessoal do Díó,rio d,e Lisboa do Jaime Cortesão e do Presidente aos seus úItimos desenhos da C ont emp orâ,n ea - " D. AÍfonso H enriques", "Cintra", etc.. É o mais forte e verdadeiro espirito moderno da

Arte, em Portugal, sempre avançando

e susferúando salvando, todos, a sua notável individualidade rara. Ulrt;r*nrx?E com aInvençã'o d,o Día Aaro Almada descobriu a mais formosa teoria da sua arte. Achou ele que a verdadeira felicidade espiritual está na conquista do "Dia Claro"; isto é, do dia simples e luminoso, tal como é para as criancinhas com as suas verdades decididas, sem as convenções e todos os enganos de que ó feita avida das pessoas grandes, artificiosas de tudo. E agui, na Invençdo d,o Dia Aaro, se encontra a Arte de Almada e Vianna, fugindo de tudo que não seja tranquilamente natural, no sentido que esta palawa tem por oposição ao arranjo artifrcial dos que, não podendo "criar", fabricam arte, como quem palhaços. Invençã,o d,o Día Aoro ê urna fabrica t@os?1 síntese peninsular do Porfuguesismo que nós conquistámos pârâ a nossa arte actual, que desejamos reflorir e fecundar no mais íntimo amor rácico da Pátria a que pertencemos.

perante tudo

e

primeira publi-

lem r9r71, em que se rompia

.r

JorÊ Pacxrc§, arquitecto, revelou_se nos Bailados o grande decorador compondo o mágico cenário da prínceza d,os sapatos d,e Ferro , o que estabeieceu defrnitivamente a época moderna na cenografia teatral. As decorações modernas daZítd,a e de outras obras teatrais são devidas àquele impulso de José pacheco, que revolucionou toda a decoração teatral portuguesa, até então * exe

cutada sem gosto algum, parâ quem, como nós, conhecia as últi_ mas recherches de Diaghitef

A

.

*r strrn =re

â iniciativa das publicaçôes do grupo, como o )rpheu, o maior escândalo literário dos últimos ,rror, o portugal Futuristd e agora neste momento aContemporâ,nea, quenas suâs páginas impôe os nomes semprevitoriosos deNmaáa, Mário de Sá-Carneiro e Fernando pessoa, que sempre foi grupo, desde

a

primeira hora, apesar

de

considerado do viver afastado por vezes.

losÉ Pncuxeo foi ainda há pouco

o chefe das lutas entre novos eve_ thos, por causa da entrada dos novos na sociedade Naciona_l de Beras ates lem r9zrJ, tendo ocasião de ver em sua volta todos os ârtistas novos de Portripl, ainda que das mais variadas origens e direcçôes.

IttrC

T*vaer*

É

rlt,

do grupo, o único que, desde ,9r4, ia vai todas as noites. E é ele, entre todos, o que melhor rabe .e.o._ dar as já célebres blagues de Santa_Rita, blagues que encerram sempre uma subtil crÍtica de arte. permiti que eu recorde aqui José Pacheco contando uma das famosas blagues de Santa_Rita, numa das noites do Tavares. Vlruoei §nxra-Rlr* de paris, encontrou-se um dia na Brazileira do Chiado, quando um seu antigo condiscípulo da Escola se foi sentar muito respeitosamente na sua mesa, falando_ihe com as rnil cautelas que um aluno mlgar de pintura académica poderia falar a Santa-Rita. que numa simples observação desacreditava quem quer que fosse, tal o ar mordaz dos seus comentários. O plÊlrog:tltHG, entusiasmado pela conflança de Santa_Rlta, que o admitia à sua mesa com tantâ consideraçâo (sofismava, é claro), foi-lhe dizendo, ao fim de duas horas, que seria para ele uma definitiva consagraçào no meio artístico do país f^)e, o re_ :rato d'um pintor tão discutido e avançado. Santa_Rita, é c1aro, disse-lhe que sim, e continuou, durante grande espaço de tem_ ro. conversando com o antigo colega, no tal tom sério sofrsma_ Co. Algum tempo depois levantâram_se, e depois de combinado I encontro sairam. À porta, já separados um do outro, Santa-Rita. estendendo o longo braço, chamou_o: ,'Eh lá, oiça, oiça; liga-me uma coisa; A Máquina é boa?,'

Coma V. §x.ÀÍ vÊrm establague é a mais errgraça*a cómica crí_ :rcâ aos infrnitos pinturecos, que. julgando usar pincel, são_sobF

-u*o -a r-ai

usam máquinas fotográficas. E José pachÀco todos os dias recordando Santa-Rita, para que as iiçÕes do Mestre frutí_

_rTuem. entre todos os artistas novos que Iá passam para ouvi_lo.

JoÀe po Am*nel trazia em

;, or.,

vida mentai dos rapa_.s do Tavares, aquele poder forte de disciplina, de raciocínio . ie profundidade rácica, que a todos faltava, e que a todos era ::cessário para um perfeito conhecimento da verdadeira sen_ .-;ilidade nacional, sensibilidade em que se pretendia basear a

.. mais ousadas concepçôes da arte moderna. Artista de raça, .:.,rela época não a podia dar toda à realizaçào de qualquer obra r-: arte porque tinha responsabilidades activas ridà politica r rais. No entanto era certo no Tavares todas as "a noites, criando - rrr todos os do Grupo o ambiente forte de que saíram todas as :-, ssas obras. De facto, o Grupo que em r913 defendia um cos_ _-:politismo artistico, pouco depois defendia toda a renovaçào -: eiicâ. baseada no mais intrínseco amor da Raça, _ univerÁa, -.ndo a sensação própria, que tanto mais profunda será quan-

É

to mais longínquas raizes tiver, * tanto mais se elevará e ! =l. r rará peios tempos fora quanto mais se possuir da nossa pr.,,: :-. :

Vida, que começa não no dia em que nascemos mas nos iel_. . : remotíssimos em que nasceram todos aqueles que nos cr.i":,

O nosso sangue, a nossa

história. a nos;a r mica, o nosso gosto, as nossâs virtudes, tudo nos r.em de rr_ ,, 1onge. Por isso nós tanto maiores seremos quanto de mais i r , .. tivermos começado. Existimos há oito seculos, Continuerr Isto nos dizia o portuguesismo tradicional de João do -\r,a.-.. de tal sorte que nós - continuavamosnuamos. § srra *, roll3 o verdadeiro sentido daArte Moderna em por-,..:,.Continuarlinguagem.

a nossa

_

0 vâo ponrucU§s

do

Atlântico, começado na Idade \Íéd-.

continua, continua sempre.

Vlsron FauÂo também .rro ool.

dei-xar de ser apresentado .. -,

Ex.as como frgura do Tavares. Ele é entre nós o jornalista.

Sanra I " dava-lhe um papel imporlantissimo, porque ele era o rer.eladc,:- :. obra do grupo ao público, missão dificÍlima que só uma alra c,:r, preensão de arte poderá desempenhar. Aliás, Fa_lcão fez drrer. . aftigos sobre Amadeo de Souza-Cardoso, sobre José pacheco. =r: que erplicava d'uma forma superior de clareza as figuras arri.ir r.: desses dois nomes, e esperâmos todos o seu próximo lilro sobi. Grupo em que todos serâo estudados com mãá de mestre.

Aqul rÊm poisV.

Ex.as

porhrgai artist,.o, .

1

q,",':::;:*Xt*ffiil H:[Jr-;;,-=

Etrnr*r:mr§?t qus depois começaram

aparecendo de todr,s .

cantos do país artistas novos que vinham por assim dizer dar a s-., adesão ao Grupo. Lá veio do Algarve o pintor porfírio8. corlr or.ierr.

Santa-Rita muito simpatizou, e depois dele muitos oütros rapar:: gue estão hoje fazendo o seu nome nâ literafura. no desenho. co=: o+{arqrresl. etc... Dois râpazes que desde guasi a primeira h,,:.

âpareceram. e logo frcaram a nosso lado, são Altónio Soares,: Jorge Barradas,,, dois notabilíssimos afiistâs que eu admrrc valer. Do Porto pôs-se

. =

nosso lado Diogo de Macedorz, Affonso -r. Bragança,3, Mário Pachecol4. o escultorAltónio deAzevedo,.. [a

pintor Joaquim Lopes,6. De Coimbra apareceram Lulz \.ieira cl. Castrol?, artista curiosíssimo, Acácio Leitão,8, que teve uma acc_à, fortíssima. promovendo concertos no porto, fazendo conlerêr. cias e publicando manifestos. Com ele houve uma época intensrs

sima. Mais tarde, de Coimlra, apareceu também João Ameal,l. De Lisboa^ uma das figuras que mais se aproximou [sic] do Gr-upo cl,, Tavares foiAntónio Ferro. que mais mode rnamente entrou na liqa,

e@forteevalorosa.



uma figura combativa

§uraosetx*S

RuyVaz2o, Leal da Câmara2r, Esaguyr:. José Dias Sanchor3. António de lffiorte Monsantoz4, Ruy d. !-eraszS. 1ffv,6 Rodrigues Pereira2T" o forte e original Santa jRitar8" poeta. autor de coisas lindas. Américo Durãoa9. poeta a valer, Miguéis3o.

os Francos da lUadeira3', Victoriano Braga3r, dramaturgo

de

envergadura. Cor1ez33, outro dramâturgo poderoso, autor d.aZíIda, Carlos Selvagem34, autor formidável da peça Entre gtestas, para não citar muitos outros. são tudo nomes que têm acompanhado â acçào do Grupo do Tavares nas mú1tip1as campanhas pró_Arte Moderna. É claro que emvida de Santa-Rita pinior. nas reuniôes

do Tavares, raros erâm aqueles que frequentassem o grupo. porque Santa-Rita os expuisava contando_lhes a já célebre história dos sobrinhos do Conde de Monsaraz. Bastava que glow I rrÍvrm

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Programa rle sala do concefio em que se ploferiu a conferênciâ âqui transcritâ. Espólio Rur Coelho. Biblioteca NacionaL rle Portrgal

indesejável se sentasse à nossa mesa para que Santa-Rita the perguntasse se conhecia a história dos sobrinhos do Conde de Monsaraz, começando na suavoz doce e maliciosa, "Otrxr! O Conde de Monsaraz tinha diversos sobrinhos que foram todos muito infelizes. O primeiro . . . . ." e contâva com as minúcias mais detalhadas todo o nascimento do primeiro sobrinho, no que gastava uma boa hora. Depois descreúa noutra boa longa hora a entrada do menino para o colégio e sobrava-Ihe assunto para mais meia hora. Entretanto o Restauront fechava e ele pela rua fora lá ia contando a vida de colégio do primeiro sobrinho do Conde de Monsaraz, com âs suas diabruras, etc., etc., vida de férias em câsâ do tio, os episódios do Verâo nas praias, os exames, avida de soldado, aproteção do tio, etc., etc., o câsâmento, a história do primeiro filho com minúcias ainda mais detalhadas, etc., até o rapaz fugir, quasi louco. É tmno que se o artistavoltasse, mesmo gue fosse d'aí aum ano, ele começava logo a história do segundo sobrinho. Eúdentemente nenhum resistia, e todos acúavam por desaparecer do Tavares. O mais resistente foi um que ouviu até à história do terceiro sobrinho. Era aluno distinto das Belas-Artes. Foi por este processo de isolamento çre o Grupo resistiu sempre às visitas importunas. Qunnro â, iilIff, a acção que tenho desempenhado na Música do meu pais é a seguinte: À ;alxna volT* aE BERLiltt, onde sempre conservei puro e forte o amor da Pátria, alimentado e esclarecido na leitura da poesia e da literafura nacionais, encontrei a música em Porfugal 7O 1 $osm niiurnor+

I

maio I zo16

não só sem qualguer noção de modernismo como tâo-pouco sob qualquerinfluência nacional, ainda que por mais leve. Anão ser povo que consewava pura e original a sua música, autores eflrditos não existiam. Esuatl ;lllÀRfios Pgnruclr e ü que ele nada mais ocupava que um lugar "italiano" na música italiana da sua época. Bomtempo, o

outro grande nome, era um pouco da mesma escola incaracteristica. Damiao de Goes, que na Basileia, hóspede de Erasmo, compusem diversos contrapontos, era um contrapoúista sem personalidade. ítlâo xavll positivamente qualquer âutor português na música de Portugal, país que possuia tão invulgar tradição artistica, criando uma poesia própria, uma literatura, uma arquitectura, e até uma magrrífica escola pictural, cor:rtiffiornçatres.

(om=crt ÊilrÊÊ estudando os contemporâneos. Li todo o Neuparth, Keil, e ú com mágoa que não tinham ainda qualquer porbuguesismo na sua arte, e tão-pouco se poderiam considerar nomes dignos de atenção, pois eram fracos pela técnica e pela expressão, que se ressential?] da sua origem estrangeirajudaica. Vianna da Motta nada me adiantou, pois caia nas mesmâs faltas, não possuindo a técnica do compositor e muito menos

qualquer expressão original e interessante. Sobretudo bilidade moderna não existia no meu país.

Qus nnrrelra!À

a

sensi-

EtJ Pot§? Criar uma músicâ portusuesa, sendo simultaneamente da minha época. Eu não podia ignorar onde residia a diferença de sensibilidades, porque a minha época sente itrcon#rnante sem dúvida diferentemente das ou-

tras, por fudo, sendo o moümento o nervo de toda a moderna expressão, não porque exista somente outro movimento, mas por existir outra sensibilidade do movimento. ffi** *gão Eí?nâF§*Iãfli&§ o exagero da imagem porque todos sabemos gue não bastará a qualquer artista contemporâneo cântar o motor pâra rea\izar arte. Isso seria tão ingénuo supor da mesma formâ que não bastava a um artista da época da liteira fazer um soneto sobre a liteira para fazer um bom soneto. Sempre, âgora como antes, não basta ter o motlvo para realizar arte. O essencial é ter ser artista. O lnftsfff É eternamente o eleito. Os motivos de sugestão é que variam segundo os aspectos de cada época. [S,er.@ rrtãi@. E, como dizia, uma das maiores sínteses da época actual é o movimento mecânico. Po* :xrmple, o ritmo quadrado, já destruído no século passado, dinamizou-se, da mesma forma que qualquer aspecto de cidade observada do alto de uma torre há pouco mais de cinquenta anos, observada hoje, mudou de compasso. Os andamentos não só são outros como são diferentes. Essa cidade de hoje, na üsão de há meio século, é a agitação de uma simultaneidade rítmica desordenada. No entanto, para nós, essa confusão, essâ transcendental multiplicidade de direcções, de movimentos, de compassos, são logo assimilados pelo nosso instinto, porque a nossa sensibilidade actual se formou no contacto quotidiano desses novos aspectos. iâ isrno igem

Assim, estes aspectos novos da üda quotidiana criaram consequentemente o simultâneismo da ritmica, da cor, da linha e da ideia em sínteses rápidas de vertigem, de forma â que o lento, a expressão estática, - o silêncio - por contraste máximo, alcançam finalmente todo o

@.

seu poder

infinito

de evocação. Logo, o nosso poder de anáIise é maior, porque a distância entre o mais lento simples e o mais

acelerado composto, entre o mais estático absoluto e o mais movimentado dinamismo, é mais vasta e complexa. A xorga ilnc(çÃâ comporta infinitas direcções. &rossosis:

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cornpositor homenageado. Espó1io Rul Coelho. Biblioteca Nacional de Portuqal

pintura e música. Hoje algtrmas já sào nomes naArle Porluguesa. Ainda com Pacheco e A-lmada reahzámos os Bailados de S. Carlos.

Santa-Rita iniciou as conferências modernistas no S. Luiz. Victor Falcão escre\reu diversos arligos sobre Amadeo de Souza-

ffiern-r

Cardoso. José Pacheco, Almada. etc.. João do Amaral defendeu na imprensa as artesdedss nossas manifestaçôes de ar1e" perânte o mais tradicional público de todo o paÍs. Eu além dos concerlos

D: *ecrc

estamos no começo de uma época, no momento culminante da transiçâo. Sobretudo ainda sentimos a nosso lado

ainda montei duas óperas e escrevi diversas obras [.]

todo o impulso colossal que nos atirou do classicismo dos séculos passados. O século XIXfoi, em arte, o século da consonância, o século deuma só direcção. Ahumanidade marchava num sentido igual. Agora, {alando no caso musical, a polifonia deixou de ser

[*NcçÃ*

consonânte e harmónica. Há muitas vozes diferentes simultâneas. A Humanidade marcha em muitas direcções. Discorda-se. O coral

perfeito maior não pertence

lr:cçÂo

a esta época.

Ei,r FÀL?al

Àluffo ?gtrHo ?naBÀlHÀFo nesse sentido tendo com meus camaradas desenvolvido em Poúugal uma acçâo que merece ser lembrada. Fizemos todos os anos séries de concertos em Lisboa e Porto, de orquestra, musica de câmara, etc.; Almada

fez diversas conferências, e exposições de desenhos, não contando a colúoração diversa em publicações. Publicou ainda O Mend,es, Engomad,eíra, Quad,rad,o AzuL, Invençãn d,o Dia Aaro, etc, Vianna expôs no Porto e em Lisboa algumas dezenas de telas. lmtaMe José Pacheco publicou o )rpheu, Pornt"gal Futurista e Contemporô,nea. Comigo, fizemos o primeiro Salon Infantil em Lisboa [em r9r81, â que concorreram trezentas crianças em

E#Ê

rãLãê?]

§rusee,ts*n*rutss eu que vos falo dos Arllstas Modernos de Portugal. fazendo aqui hoj e um pouco da sua hrstória, tenho muita pena de vos nào trazer a Arte deles. Era agora mesmo o momento da visita duma Embaixada de Novos" a estaeidadr ao Brasil.

Almada Negreiros Eduardo Vianna José Pacheco João do Amaral Victor Falcão

grupo" na sua origem, decerto seriamos satisfeitos de r.os mostrar melhor a nossa arte, em que trabalhamos desde r9r3. Um *l* §§ã* se realizará. para que conheceis o verdadeiro sen tido da Arte Moderna em Por-tugai. na sua verdadeira signifrca'Crrrpo do Tavares" seria. junto de vós. çâo. na certeza de que o e eu, actuais sobrer.iventes desse

essa Embairada de Arte \Íoderna do Portugal actual. §, ee m**t €*= §&§§ conlo autêntico representânte desse grupo junto de vós. até agora nào tenha feito valer as minhas creden ciais de representante do grupo da mais moderna geraçào artis

glosas

rrlnraorr maio :ct6 7l

tica do meu pais, isso não quer dizer que no momento oportuno não saiba defender todos os meus direitos de representante da geração a que pertenço, eomdrrertos rados conquistados no campo da acção de cada dia. No entanto, em respeito para comigo próprio, e pârâ com ela, sempre, em todas as minhas manifestações de arte, quer aqui como emtoda a parte, nunca desci a pactuâr com a mediocridade, com al.ulgaridade, mesmo que ela se encontre nos meus compatriotas e me trâga resultados financeiros fáceis e imediatos. O Grupo do Tavares jamais vendeu a sua

Arte.

a_mi

issú

Pinto de Lery, no seu Paiácio, e depois por iniciativa de M.me Sofia de Mello Breyner, na Liga Naval §sxcçãe 88fi ssr?â: proras de úsoluta falta de bom gosto e até de bom senso. A arte das crianças é muito mais exigente e dificil do que a arte das pessoâs grandes. É por isso que admiro as felizes tentativas actuais do meu camarada Leal da Câmara, e as realizações do poeta

["*l

Affonso Lopes Vieira nos Animaís nossos amigos de colaboração com Raul Lino, e no Bartholomeumarínheíro. Esta arte, pequenina nas dimensões, pequenina na Forma geral,

Também 0s Iusíad,as sâo a Bíblia de Poúugal, e há decerto muitos porLugueses aqui, e emtoda â parte, que nunca leramOs Lusíad,as. O ;sfrHclg* É o artista nunca se nivelar para agradar às multidões. Elas quevenham até nós. Porisso, caminhemos sempre nesta

for-

mosa estrada de sonho, mesmo que se tenham momentos em que,

as pessoâs

sem luz do sol, seja nosso guia, somente, a nossa própria estrela.

§ sÉra

l[âo Eerrne acabar este,.r"Jrro

esboço de estudo de alguns

companheiros de arte sem pronunciar algumas palavras de agradecimento a todos aqueles camaradas que me proporcionaram este momento, para mim tão agradável, de evocar aqui, entre gente amiga, a lembrança de companheiros artistas ausentes; alguns ausentes já nas distâncias misteriosas do Infinito, e todos presentes em nossos corações irmãos.

TenHito;

{Gtr§§§§?*

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[rx§ere sffi F§*Ye] &
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