O violão popular na universidade: perfil histórico, principais interesses e expectativas profissionais dos estudantes

June 1, 2017 | Autor: R. | Vortex Music... | Categoria: Música Popular, Violão, Programa de Curso
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THOMAZ, Rafael; SCARDUELLI, Fabio. O Violão Popular na Universidade: perfil histórico, principais interesses e expectativas profissionais dos estudantes. Revista Vórtex, Curitiba, v.4, n.1, 2016, p.1-12

O violão popular na universidade Perfil histórico, principais interesses e expectativas profissionais dos estudantes1 Rafael Thomaz2 | Fabio Scarduelli3 Universidade Estadual de Campinas (Brasil) | Universidade Estadual do Paraná (Brasil) Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES)

Resumo: Este artigo faz parte de uma pesquisa de doutorado, cujo objetivo é desenvolver uma proposta de curso para o Bacharelado em Violão Popular que se aproxime à realidade dos alunos, das situações profissionais e das formas de aprendizagem não-formais. Apresentaremos aqui um breve recorte de resultados parciais no que se refere ao perfil dos estudantes, desenvolvido através de questionários aplicados a alunos, ex-alunos e vestibulandos do curso de Música Popular com habilitação em violão da Universidade Estadual de Campinas, UNICAMP. Os resultados mostram que



The popular guitar inside the brazilian universities: historical profile, main interests and professional expections of students. Data de submissão: 10/03/2016. Data de aprovação: 02/04/2016. 2 Rafael Thomaz (www.rafaelthomaz.com) é doutorando e mestre em música pela UNICAMP, onde cursou o Bacharelado em Música Popular. Atua como violonista, tanto no âmbito da música de concerto quanto na música popular. Foi premiado em concursos nacionais de violão, apresentou-se como concertista em importantes séries de concerto e como solista a frente de orquestras e grupos de câmara. É integrante do grupo Algaravia (www.algaravia.mus.br), com o qual realizou turnês pelo estado de São Paulo e prepara agora o segundo CD. Em duo com Guilherme Lamas tem apresentado desde 2014 o show “Sinal dos Tempos”, uma homenagem ao compositor e violonista Garoto. Lançou em 2015 seu primeiro CD solo, “Paisagens Interiores”. Para 2016 prepara o lançamento de dois trabalhos autorais, Sinal dos Tempos, com Guilherme Lamas, e Invenções para Violão e Percussão. Atua também ativamente como professor e produtor musical. Email: [email protected] 3 Violonista, professor e pesquisador; Mestre e Doutor em Música pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), instituição na qual foi ainda professor substituto e realizou seu pós-doutorado com bolsa FAPESP. Mantém intensa carreira como pesquisador concertista, com abordagens que envolve repertório solo e de música de câmera. Lidera o Grupo de Pesquisa em Violão: estudos da performance, pedagogia e repertório, do qual participam estudantes e pesquisadores de diferentes instituições. Atualmente é professor Adjunto da Escola de Música e Belas Artes do Paraná / UNESPAR, em Curitiba, e professor colaborador no Programa de Pós-graduação e Música da UNICAMP, orientando trabalhos de Mestrado e Doutorado. Email: [email protected] 1

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os entrevistados, vindos de um histórico de aprendizagem similar, demonstram interesses múltiplos



dentro do curso e planejam sua atividade profissional de maneira múltipla também. Palavras-chave: Música Popular, Violão, Programa de Curso.

Abstract: This article is part of a PhD research, which goal is to develop a course proposal for the Bachelor of Popular Guitar, which is close to the reality of students, professional situations and forms of non-formal learning. We present here a brief cropping of partial results with regard to the profile of students, developed through questionnaires given to students, alumni and candidates of the course of Popular Music major in guitar at the State University of Campinas, Campinas. The results show that the interviewees, coming from a similar learning history, demonstrate multiple interests within the course and plan their professional activity in multiple ways as well. Keywords: Popular Music, Guitar, Course Program.

O

ensino da música popular em âmbito universitário ainda não alcançou (e não se sabe se um dia alcançará) uma condição padronizada, como aponta Bollos (2008): [...] com raríssimas exceções, não há, até agora, um programa de curso que lhe sirva de base, um sistema que englobe uma escolha de repertório, ou pelo menos que tenha alguns métodos que possam ser considerados obrigatórios, uma vez que a confecção de material pedagógico, em franca produção, ainda sendo elaborada, dado o período relativamente curto que a música popular faz parte dos programas de ensino em geral. Não se pode negar que as raízes da música popular e seu desenvolvimento são relativamente novos, uma vez que os primórdios da música popular datam do final do século XIX e a implantação do primeiro curso acadêmico de música popular no Brasil se deu em 1989, na UNICAMP. (BOLLOS, 2008: 2)

Hamamoto (2012: 30-32) faz um breve histórico de como a música popular atingiu prestígio suficiente para ser considerada passível de estudo formal. A autora destaca o crescimento da produção, nos Estados Unidos, de métodos direcionados ao ensino de jazz e da consolidação das primeiras escolas do gênero. É, portanto, a partir da música popular brasileira de maior refinamento técnico, herdeira da bossa-nova e do jazz, que se formam as primeiras turmas de ensino formal de música popular no Brasil. Bollos (2008) afirma que duas das principais escolas livres de música popular no Brasil na década de 1970 também tinham como principal referência o ensino do jazz: 2

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A escola americana Berklee College of Music recruta desde há décadas estudantes por todo mundo e é considerada uma das pioneiras na sistematização de métodos em música popular. Algumas escolas brasileiras como o CLAM (Centro Livre de Aprendizagem Musical), o Conservatório Souza Lima em São Paulo e Centro Musical Antonio Adolfo no Rio de Janeiro adotaram seu método de ensino. (BOLLOS, 2008: 3-4 )

Porém, apenas em 1989 surge o primeiro curso universitário de bacharelado em música popular no Brasil, na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Segundo Hamamoto (2012) “seus objetivos residiam não apenas na formação de profissionais especializados, mas também na produção científica, ou seja, na fomentação crítica acerca da problemática música-linguagem-produção”. O ensino do violão popular inicia-se dentro desse âmbito através do violonista Ulisses Rocha, professor desde a abertura do curso na UNICAMP em 1989. Atualmente, o Violão Popular é uma das opções dentro do curso de Música Popular desta instituição. Todos os alunos desta modalidade devem cursar oito semestres da disciplina de Instrumento. Historicamente, o curso é formado por um núcleo de conteúdos comuns a todos os estudantes, mas tenta se ajustar aos seus interesses e necessidades. Em entrevista a essa pesquisa4, o professor Ulisses Rocha afirmou que esse núcleo comum seria constituído dos seguintes tópicos: Técnica, repertório (tanto da MPB quanto para violão solo), leitura musical, improvisação, harmonia e arranjo. O ingresso do aluno se dá através do vestibular, que inclui a prova de habilidades específicas em música, na qual são avaliados conhecimentos teóricos e práticos. O candidato deve executar uma peça obrigatória5, uma outra de livre escolha, e passar por testes de leitura a primeira vista e improvisação. Em geral, são aceitos alunos de diferentes perfis, sem que haja assim restrições quanto a gêneros musicais, estilos de execução ou escolas de técnica. Quando formado, o Bacharel em Música Popular tem um vasto campo de atuação profissional, no qual incluem-se as inúmeras vertentes dentro do Violão Popular Brasileiro e as diferentes funções que este pode assumir no âmbito da música popular, além de atividades de arranjo, composição e produção musical6. A seguir apresentaremos o resultado de um survey, realizado com o intuito de traçar um breve perfil dos estudantes de violão, mais especificamente dos vestibulandos, alunos e ex-alunos de violão do curso de Música Popular do Instituto de Artes da UNICAMP. Os objetivos principais foram: traçar um perfil destes estudantes, seu histórico e seus principais interesses; entender como os estudantes



Entrevista realizada em 05/08/2014, na UNICAMP Nos vestibulares de 2013, 2014 e 2015 a peça de confronto foi Jorge do Fusa, de Aníbal Augusto Sardinha “Garoto”. 6“Poderá atuar como instrumentista, arranjador, em atividades de vídeo, trilhas sonoras, produção e gravação de discos e pesquisa. Estará capacitado a avaliar tanto aspectos práticos como teóricos da atividade musical, com amplas possibilidades de criação no terreno da música popular. Poderá atuar como professor universitário.” - Catálogo de graduação 2014 UNICAMP, disponível em: http://www.dac.unicamp.br/sistemas/catalogos/grad/catalogo2014/curriculoPleno/cp22.html 4 5

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enxergam o curso e o que dele esperam; e mais amplamente, compreender o significado atribuído ao termo violão popular pelos estudantes de violão e quais as habilidades necessárias para sua execução. Trata-se de um resultado parcial de nossa investigação que visa, ao final, oferecer uma proposta de programa de curso para tal modalidade, levando em conta questões da pedagogia do instrumento, os perfis de interesses e a maneira como o violão se apresenta no panorama atual da música popular. 1. Metodologia Para este levantamento foram pesquisados 14 alunos atuais, 15 ex-alunos e 27 candidatos ao vestibular 2015, todos relacionados ao curso de Música Popular – modalidade violão da UNICAMP. As perguntas do questionário envolvem três eixos básicos: principais interesses do estudante ao procurar o curso (e para os alunos e ex-alunos, como o curso atende ou atendeu as suas expectativas), perfil histórico (como e onde estudou, principais referências musicais) e expectativas profissionais ao término do curso (para os ex-alunos, como elas se concretizaram na prática). Para a análise dos dados foi utilizada a metodologia de análise de conteúdo de L. Bardin (2002: 38), definida como: “[...] um conjunto de técnicas de análise das comunicações que utiliza procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens”. Para isso foram seguidas as fases apresentadas pela autora: Pré-análise, Exploração do Material e Tratamento dos Resultados (inferência e interpretação). Otutumi (2008: 64) complementa a definição, afirmando que “nesse contexto, é possível entender por comunicação todo meio de significações entre emissor e receptor, seja escrito, falado ou mesmo não linguísticos, e dentre os possíveis domínios de sua aplicação estão as entrevistas com objetivo de estudo”. Na fase inicial, chamada de Pré-análise, sugere-se uma leitura “flutuante” dos dados transcritos que tem como objetivos a escolha dos documentos ou do corpus de informações a serem analisadas, a formulação das hipóteses e a referenciação dos índices. Otutumi (2008: 65) explica esta referenciação da seguinte maneira: “se forem considerados os textos como manifestações de índices, o trabalho agora será a escolha desses; por exemplo, caso se observe que um tema é importante para o indivíduo tanto quanto ele é repetido, a frequência pode ser o índice”. A próxima fase da análise é a Exploração do Material, na qual haverá a administração sistemática das decisões tomadas na fase anterior. Para isso, as informações são codificadas em unidades de registo, que é a unidade de significação a ser codificada, podendo ser o tema, palavra ou frase. Recorta-se o texto em função da unidade de registo. Nesta fase ainda há o processo de categorização, no qual as unidades são agrupadas seguindo critérios pertinentes à análise.

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Por fim, é feito o Tratamento dos Resultados (inferências e interpretações), que dão sentido à



análise. Os resultados são tratados a fim de que se tornem válidos e significativos para a pesquisa. Neste contexto, Bardin (2002: 39) aponta a inferência como “operação lógica pela qual se admite uma proposição em virtude da sua ligação com outras proposições já aceitas como verdadeiras”. Otutumi (2008) adverte para as diferentes possibilidades dentro da análise de conteúdo: Enfim, é preciso observar que uma análise de conteúdo tem como polos de ação ou de inferência: o emissor, o canal (suporte) da mensagem, o receptor e a própria mensagem. A mensagem é o ponto de partida, o material base da análise, que tem duas dimensões de observação, o código e a significação. O código é capaz de revelar realidades subjacentes, por exemplo, figuras de retórica, comprimento de frases, vocabulário, etc. Já a significação revela os temas e assuntos abordados nos discursos, seus conteúdos presentes. (OTUTUMI, 2008: 67)

Para nossa análise tomaremos como polos de inferência o emissor (entrevistados) e a mensagem, com foco no conteúdo, principais assuntos e temas. 2. Análise dos resultados A análise seguirá os três eixos básicos supracitados: Principais Interesses, Perfil Histórico e Expectativas Profissionais dos estudantes. 2.1. Principais Interesses Inicialmente os entrevistados foram questionados sobre quais os principais interesses que os levaram a procurar o curso de Música Popular com Habilitação em Violão. Foram oferecidas três opções fechadas – violão popular solista, acompanhamento e improvisação – e um campo aberto denominado “Outro”. Essa questão é ainda caracterizada pela múltipla escolha, ou seja, foi permitida a marcação de mais de uma opção. Complementarmente, na questão seguinte foi solicitado que cada estudante descrevesse seus principais interesses dentro do curso. Seguem abaixo os dados primários das escolhas apontadas pelos entrevistados na primeira questão:

Principais Interesses Violão Popular Solista Acompanhamento Improvisação Outro*

Número de interessados Alunos e ex-alunos Vestibulandos 18 19 19 9 13 7 13 0

% em relação ao total de entrevistados (por grupo) Alunos e ex-alunos Vestibulandos 62 % 70,3 % 65,5 % 33 % 44,8 % 25,9 % 44,8 % 0%

Quadro 1. Principais interesses 5

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A opção outros, entre alunos e ex-alunos, apontou os seguintes interesses: *Outros: Composição Arranjo para violão Música de uma maneira mais ampla, além do instrumento Violão erudito Canção

Número de interessados 5 4 3 1 1

Quadro 2 . Principais interesses (outros)

O quadro a seguir mostra a multiplicidade de interesses, ou seja, quantos entrevistados que citaram mais de um interesse:

Número de interesses Apenas um interesse Dois interesses Três interesses ou mais

Número de entrevistados Alunos e exalunos 9 9 11

Vestibulandos 21 4 2

% em relação ao total de entrevistados (por grupo) Alunos e exVestibulandos alunos 31 % 77,7 % 31 % 14,8 % 38 % 7,4 %

Quadro 3. Multiplicidade de interesses

Do total de alunos e ex-alunos entrevistados, mais de 2/3 demonstraram interesse em mais de um assunto. Dos 31% que demonstraram interesse inicial em apenas um assunto, a proporção é de 25% para violão solista, 25% para acompanhamento e os 50% restantes para outros assuntos. Os vestibulandos apontaram em sua maioria apenas um interesse, sendo que 76% apontaram o violão popular solista como principal interesse que conduziu a procura do curso. Na segunda questão (onde cada entrevistado poderia descrever seus interesses dentro do curso de maneira mais completa), cada participante descreveu suas inclinações e expectativas em relação ao curso. Os alunos e ex-alunos, além de reforçar as respostas dadas (na opção “Outro”) na pergunta anterior, levantaram mais alguns assuntos: repertório; interpretação; harmonia e condução de vozes aplicada ao violão; leitura; ritmos populares; técnica; aspectos polifônicos do instrumento; transcrição e percepção; mercado de trabalho e gerenciamento de carreira. Entre os vestibulandos os assuntos mais citados nesta questão foram: aquisição de um conhecimento musical mais amplo; aperfeiçoamento instrumental; improvisação; harmonia; produção musical; composição/criação e prática coletiva. Aos alunos e ex-alunos foi perguntado sobre a maneira como deveriam ser abordados os conteúdos. As sugestões obtidas foram:

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Abordagens citadas a. Abordagem prática e/ou baseada no repertório b. De forma sistemática c. Ênfase na percepção (“tirar de ouvido”) d. Estudo da técnica pura e. Técnica como meio para executar f. Criação g. Atualidades



Número de vezes 9 3 3 2 1 1 1

Quadro 4. Formas de abordagem

Esses resultados, até o momento, demonstram que os alunos que procuraram pelo curso de Música Popular com Habilitação em Violão possuem interesses variados. Por consequência, suas expectativas quanto aos conteúdos e suas abordagens também são múltiplas. 2.2. Perfil histórico A fim de traçar um perfil mais claro de como os alunos chegam até o vestibular e consequentemente ao ensino superior em Música Popular, os entrevistados foram questionados sobre como foram seus estudos prévios e seu processo de formação musical. Para esta questão foram dadas 4 opções de resposta (Sozinho, Aulas Particulares, Escolas Particulares, Instituições públicas de ensino), também em forma de múltipla escolha, além da opção Outro. As respostas foram as seguintes: % em relação ao total de entrevistados (por grupo)

Número de vezes Forma de estudo Aulas Particulares Sozinho Instituições públicas de ensino Escolas Particulares Outro – familiares e amigos Outro – curso comunitário

Alunos e exalunos 24 12

Vestibulandos

Alunos e ex-alunos

Vestibulandos

13 9

82,76 % 41,38 %

48,14 % 33,3 %

6

3

20,69 %

11,1 %

4 1 0

3 0 1

13,79 % 3,44 % 0%

11,1 % 0% 3,7 %

Quadro 5. Formas de estudo até o vestibular

Aparentemente duas das opções chamam a atenção devido ao grande número de vezes que foram indicados: estudar sozinho e através de aulas particulares. Porém, entre os alunos e ex-alunos, todos os entrevistados que declararam ter estudado sozinho também assinalaram pelo menos uma das outras opções. Este dado descarta, portanto, a existência de alunos que foram completamente autodidatas até o ingresso no curso neste grupo. Entre os vestibulandos o processo é similar, porém apesar de assinalarem apenas a opção “Sozinho”, grande parte dos entrevistados citou, na questão seguinte, que em algum momento de sua formação teve aulas particulares ou em grupo. 7

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A forma como esses estudantes se prepararam para o vestibular em Música Popular demonstra que a maioria deles teve contato individual e personalizado com um professor particular. Essa relação provavelmente é esperada durante o curso. Na questão seguinte, os entrevistados relataram brevemente seu processo de aprendizagem precedente ao ingresso na universidade, onde foi possível destacar alguns pontos que marcam diferenças entre estes diferentes processos. Apontamos abaixo alguns perfis diferentes demonstrados nas respostas a essa questão: a. Estudou inicialmente de maneira informal e sem acesso a teoria musical. b. Influência de pais, familiares e amigos no processo de aprendizagem c. Apresentou curiosidade em relação ao aprendizado formal, buscando esse tipo de aprendizado posteriormente. d. Relatou importância de aprendizado no contato com outros músicos e na troca de experiências. e. Mudou de instrumentos e interesses musicais durante o trajeto de seu aprendizado. f. Aprendeu sozinho, por observação e/ou pela internet. Alguns também citaram a atividade “tirar de ouvido”. g. Entre os vestibulandos, alguns entrevistados citaram o desenvolvimento da apreciação musical como um “refinamento do gosto”. Para detalharmos esse perfil, foi perguntado quais músicos representam para os entrevistados suas maiores influências ou referências, pedindo que citassem quais os principais violonistas os influenciaram. Seguem abaixo os principais nomes citados:

Nomes 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Baden Powell Raphael Rabello Marco Pereira Ulisses Rocha Paulo Bellinati Yamandu Costa Dino 7 cordas Guinga Lula Galvão Garoto

Número de vezes que foi citado Alunos e ex-alunos Vestibulandos 20 8 17 5 16 2 9 1 9 0 8 9 7 0 6 1 6 0 5 3 Quadro 6 – Principais influências/referencias

No quadro acima estão listados apenas os dez nomes mais citados. Como correção é importante observar que os nomes de Heitor Villa Lobos e Tom Jobim foram bastante citados (seis e cinco vezes 8



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cada um, respectivamente) entre os vestibulandos. É possível atribuir esse número grande de citações



ao grande alcance da obra de ambos, que apesar de tocarem violão destacaram-se muito mais como compositores. Ademais, os mais citados entre vestibulandos, alunos e ex-alunos coincide, como mostrado no quadro. Entre os alunos e ex-alunos é possível notar que os três primeiros nomes do quadro acima (Baden Powell, Raphael Rabello e Marco Pereira) possuem grande vantagem em número de citações em relação aos outros. Outro fator relevante é o grande número de nomes citados como influência/referência musical apenas uma ou duas vezes (que não constam no quadro), fato que corrobora a afirmação anterior relacionada à multiplicidade de interesses do alunos. Esta multiplicidade também se demonstra nos artistas tidos como referência. A fim de entender melhor como os estudantes são influenciados separamos os nomes citados como influências/referências em 6 diferentes grupos de acordo com as principais atividades exercidas por estes. Trata-se de uma classificação complexa, pois muitos dos artistas citados têm constante atividade em mais de uma das categorias. Porém, para esta classificação foi levada em consideração a atividade mais relevante e representativa na obra e carreira de cada artista. Podemos citar alguns exemplos: Raphael Rabello foi classificado como solista-popular por sua contribuição intérprete e arranjador no âmbito do violão solo popular, apesar de o mesmo ter atuado com grande destaque em grupos de choro e acompanhando cantores da MPB; Ulisses Rocha atuou como acompanhador de cantores e tem a improvisação como uma de suas principais atividades, porém é sobre suas peças e arranjos para violão solo que o tornaram conhecido internacionalmente; Toquinho possui peças para violão solo, porém são mais estudadas e tocadas as suas canções e é no âmbito da canção que o artista recebeu maior reconhecimento.

Atividade / perfil

Número de nomes citados

Número de vezes que foram citados

Solista-popular

15

106

Violonistas Eruditos

15

32

Improvisadores / Guitarristas

13

24

Compositorescantores

10

20

Nomes citados Baden Powell, Raphael Rabello, Marco Pereira, Ulisses Rocha, Paulo Bellinati, Yamandú Costa, Garoto, Dilermando Reis, Marcus Tardelli, Alessandro Penezzi, Zé Paulo Becker, Laurindo Almeida, Paulinho Nogueira, Guinga, Egberto Gismonti. Julian Bream, Fabio Zanon, Duo Assad, Paulo Martelli, Andrés Segóvia, John Williams, Manuel Barrueco, Duo Siqueira Lima, Duo Abreu, Douglas Lora, David Russel, Daniel Wolff, Brasil Guitar Duo, Ana Vidovic, Agustin Barrios. Pat Metheny, Wolfgang Muthspiel, John Scofield, Bill Frisel, Joe Pass, Robert Fripp, Charles Lloyd, Lula Galvão, Chico Pinheiro, Alegre Correa, Romero Lubambo, Hélio Delmiro, Nelson Veras. Djavan, Caetano Veloso, João Gilberto, Dorival Caymmi, Gilberto Gil, Dori Caymmi, Joyce, Toquinho, João Bosco, Toninho Horta.

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Acompanhadores Samba-Choro Violonistas Flamencos

8

Dino 7 cordas, Maurício Carrilho, Marcelo Gonçalves, Luizinho 7 cordas, Zé Barbeiro, Rogério Caetano, Meira, Carlinhos 7 cordas.

17



Paco de Lucia, Vicente Amigo 2

3 Quadro 7. Relação das principais referencias por atividade/perfil.

Se combinarmos as informações dos dois quadros 6 e 7 é possível notar que dos dez nomes citados no quadro 6 oito podem ser classificados como solistas-populares e no quadro 7 este grupo acumula sozinho mais de 50% das citações totais. 2.3. Expectativas profissionais Para auxiliar no entendimento das demandas do curso de violão popular, buscamos entender como os interessados neste curso planejam suas atividades profissionais, ou no caso dos ex-alunos como elas se concretizaram. As respostas a essa pergunta mostraram compatibilidade entre as expectativas de alunos, exalunos e vestibulandos. As principais atividades citadas foram a performance, educação musical, carreira acadêmica e produção musical. Abaixo segue o quadro das atividades profissionais:

Atividades Profissionais Performance Educação Musical Produção Musical / Músico de estúdio Área Acadêmica Não sabem ou não responderam

Números de vezes que foi citada ExAlunos Vestibulandos alunos 14 12 14 10 6 11

% do total de citações ExAlunos Vestibulandos alunos 93,3 % 85,7 % 51,8 % 66,3 % 42,8 % 40,7 %

5

5

6

33,3 %

35,7 %

22,2 %

1 0

7 0

2 2

6,6 % 0%

50 % 0%

7,4 % 7,4 %

Quadro 8. Atividades profissionais

O quadro a seguir mostra a multiplicidade de atividades profissionais, ou seja, quantos entrevistados citaram exercer (ou planejar atuar em) mais de uma atividade:

Número de atividades profissionais Apenas uma atividade Duas atividades Três atividades ou mais

Número de entrevistados Alunos e ex-alunos Vestibulandos 9 11 8 10 12 4

% do total de citações Alunos e ex-alunos Vestibulandos 31 % 40,7 % 27,5 % 37 % 41,5 % 14, 8 %

Quadro 9. Multiplicidade de atividades profissionais

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Do total de alunos e ex-alunos entrevistados, mais de 2/3 (69%) demonstraram atuar (ou planejar sua atuação) em pelo menos duas atividades profissionais diferentes. Entre os vestibulandos mais da metade apontou para duas ou mais atividades. 3. Considerações finais Através da análise do conteúdo das respostas e baseado nas principais inferências notadas acima podemos traçar um perfil médio dos alunos, ex-alunos e candidatos ao curso de violão popular. Em linhas gerais, estes entrevistados vêm de um histórico de aprendizado inicialmente informal e voltado à prática, seguido de aulas individuais com professores especializados, tanto em aulas particulares quanto em escolas. Também faz parte deste período que antecede a universidade o caráter autodidata relatado especialmente através da leitura de livros e métodos e do ato de reproduzir músicas tocadas nos discos (e na internet) – “tirar de ouvido”. As principais referências musicais destes entrevistados são os solistas-populares, em especial Baden Powell, Raphael Rabello, Yamandú Costa e Marco Pereira, porém foram citados ainda outros 60 violonistas. Apesar deste perfil aparentemente unificador, os interesses destes alunos são bastante variados. Os interesses são distribuídos de maneira uniforme entre os três tópicos sugeridos como base no início da pesquisa (Violão Popular Solista, Improvisação e Acompanhamento). Além desses interesses foram sugeridos outros, distribuídos também uniformemente. Soma-se a estes dados o fato de que a maior parte dos entrevistados demonstrou interesse em mais de um tópico e mesmo entre os que apontaram apenas um interesse não foi possível notar nenhum consenso. Portanto, apesar de um histórico similar, os interesses apresentam-se de forma múltipla e dispersa entre os alunos, gerando consequentemente expectativas também múltiplas em relação ao conteúdo das aulas. Em relação à atividade profissional, a maioria dos entrevistados afirmou atuar (ou planejar sua atuação) em pelo menos duas atividades diferentes. As principais atividades citadas foram Performance, Educação Musical, Produção Musical e a Pesquisa Acadêmica. A principal atividade foi a performance, porém é possível observar que dentre as outras atividades há um crescente interesse na área acadêmica. Pode-se concluir que a atividade profissional do violonista popular também é múltipla, com ênfase na performance, mas com outras atividades complementares. Em resumo, podemos concluir que o perfil dos estudantes de violão popular é de um histórico de aprendizado inicialmente informal e voltado à prática, seguido de aulas individuais, mas alternado ou concomitante a períodos de caráter autodidata. As principais referências musicais destes entrevistados são os solistas-populares. Em relação ao curso, os interesses destes alunos são bastante variados e múltiplos. Em relação à atividade profissional a maioria dos entrevistados afirmou atuar (ou planejar 11



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sua atuação) em pelo menos duas atividades diferentes, mas é possível notar um crescente interesse na pesquisa acadêmica. REFERÊNCIAS BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. Tradução Luís Antero Reto e Augusto Pinheiro. Lisboa: edições 70, 2002. BOLLOS, Liliana Harb. Considerações sobre a música popular no ensino superior. Anais do XVII Encontro Nacional da ABEM. São Paulo: 2008. HAMAMOTO, Priscila Akemi de Azevedo. Os procedimentos didáticos de Hilton Jorge “Gogô” Valente: o ensino de piano no campo da música popular brasileira. Dissertação de Mestrado: UNICAMP, Campinas/SP, 2012. OTUTUMI, Cristiane Hatsue Vital. Percepção Musical: situação atual da disciplina nos cursos superiores de música. Dissertação de Mestrado: UNICAMP, Campinas/SP, 2008. UNICAMP. Catálogo de graduação. Campinas/SP, 2014. Disponível http://www.dac.unicamp.br/sistemas/catalogos/grad/catalogo2014/curriculoPleno/cp22.html

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