Obama e as mudanças étnicas e religiosas

July 15, 2017 | Autor: Glaucio Soares | Categoria: Survey Research, Elections, Barack Obama
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CORREIO BRAZILIENSE • Brasília, domingo, 25 de novembrode 2012 • Opinião • 23

Vinhos novos nas velhas garrafas? » JOSÉ FLÁVIO SOMBRA SARAIVA Ph. D. pela Universidade de Birmingham, Inglaterra, é professor titular de relações internacionais da UnB

mpressiona o humor do prefeito de Londres. O performático Boris Johnson desfilou animação e sedução na conferência dos industriais britânicos na semana que passou. Atualizou o jovem líder, em sua animada alocução, a tendência da tradição discursiva inglesa, ao aliar o talento performático ao argumento já testado nos desafios históricos pelos habitantes da ilha. Há uma fila dessas personagens políticas na história recente da Inglaterra, de Churchill a Tony Blair, de conservadores a trabalhistas. O prefeito de Londres fala como se houvesse descoberto uma nova cepa, a da renovação da educação de jovens, ao sugerir o apreço pelo o olor dos novos vinhos postos nas velhas garrafas. A ilha possui histórico de forte educação integral dos jovens, em geral associando a formação clássica com a linha pragmática e profissional. Boris Johnson fala de uma nova Inglaterra, ainda mais pragmática em novos termos, mas com a paixão do amante latino, como comenta, em número recente, a prestigiada revista britânica The Economist. O fato é que o prefeito gosta de visitar e falar nas escolas integrais de Londres e seus subúrbios. Considera a velha industrialização uma fase histórica superada pelas inovações inteligentes que se desenham na capital londrina. Esse seria o destino da nova educação de adolescentes e jovens acadêmicos britânicos. Para tal se faz necessário inédito currículo, mais criativo e assertivo para o mundo que temos, ao lado da matemática e do inglês. Repete-se na fala de Boris Johnson, como em outros tempos, a boa prática de não delegar a discussão dos processos educacionais apenas aos seus aplicadores e técnicos em educação. Ao contrário, como fazia a primeira-ministra Margareth Thatcher nos seus duros debates no Parlamento inglês nos fins dos anos 1980 e início dos 1990, o prefeito de Londres quer melhorar a qualidade da educação por meio da integração da nova geração ao mercado e à sociedade atual. Acompanhei os debates da década de 1980 e 1990, então habitante da ilha. Assistia ao vivo a preocupação da primeira-ministra com a velha historiografia britânica cheia de estruturalismo histórico, sem cor nem força da saga dos homens e mulheres que fizeram da ilha um império e posterior país razoável e integrado ao mundo. Hoje, o prefeito de

Londres retoma essa ideia, em outros moldes, ao pensar a educação de quem já é educado, mas já em sua fase posterior: a da inserção criativaea da integração às atuais formas de cadeias de produção, consumo e transformação on-line do conhecimento. Para ele, o que importa é criar objetos de uso global, como aqueles que todos os jovens brasileiros usam, mas não sabem quase nada de como aquilo é feito. Boris Johnson quer que seus jovens não sejam apenas consumidores, mas produtores de ideias. O gosto pela palavra pensada e sintética, tendência na fala dos habitantes mais educados e socialmente bem situados na ilha, não é uma qualidade do prefeito. Boquirroto e talentoso, mas irônico e brilhante, asseverou que Londres é um país à parte, uma vez que já atrai o maior conteúdo de talento humano do planeta, particularmente no campo dos negócios de capital, investimento tecnológico nas novas mídias e comunicação, além da área das negociações judiciais privadas internacionais. Daí a melhoria relativa que os números de recuperação da crise se anunciam naquela parte da Inglaterra. Talvez por isso tenha recebido muito bem o londrino a notícia da pesquisa Global Soft Power, organizada pelo magazine anual Monocle, que acaba de sair. A Grã-Bretanha foi listada no topo como a nação com maior capacidade de influência internacional como poder elevado de soft power, ou seja, de influir pelos valores, atitudes, capacidade de governança, infraestrutura diplomática, capacidade educacional e aptidão para os negócios. As nações que se seguem são os Estados Unidos, a Alemanha, a França e a Suíça. O Brasil fica no 17º lugar, melhorando sua posição de 21º do ano anterior. A city financeira do amante latino Boris Johnson segue firme, a libra parece segura, enquanto a moeda da União Europeia sofre baque. E que as casas advocatícias de Londres, quase a metade de todo o mundo nos grandes processos e litígios no campo das concorrências econômicas, auferem fortunas. Essas ideias, nem sempre novas, mas que interessam ao debate em torno das saídas para as crises europeias e ao novo lugar da Inglaterra no mundo, movem a discussão das taxas de emprego para outro plano. Afinal, chegam os novos vinhos para as velhas garrafas.

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Obama e as mudanças étnicas e religiosas » GLÁUCIOSOARES Sociólogo, é pesquisador do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Iesp-UERJ)

reeleição de Barack Obama está saindo da mídia e entrando no esquecimento. Não obstante, a análise dos resultados permite ver algo talvez mais importante: os Estados Unidos estão mudando muito. Por trás da mesmice eleitoral há profundas mudanças sociodemográficas e nos valores da sociedade americana. Pesquisas de survey demonstram que Barack Obama se reelegeu graças às preferências de dois grupos religiosos: os que, sendo religiosos ou não, não estão afiliados a nenhuma denominação religiosa e os cristãos que, etnicamente, pertencem a minorias: negros e hispânicos. Um de cada quatro elei- tores de Obama não tinha uma denomina- ção religiosa à qual estivesse filiado. Essa foi a segunda maior fonte de votos de Obama. E qual foi a primeira? Os cristãos que eram negros, hispânicos ou americanos de origem racial e étnica mista. Esse conjunto representou 31% dos votos que o presidente recebeu, segundo o Public Religion Research Institute, instituição com ampla credibilidade, dedicada ao estudo científico das religiões. Obama teve muita dificuldade em obter votos dos católicos brancos, dos evangélicos e dos protestantes “de missão”. Ser cristão e branco foi uma combinação que não favoreceu Obama. Somados, os três grupos acima representaram, apenas, 35% dos votos de Obama. Repito: somados. Com Romney, claro, foi o contrário. Esses mesmos três grupos representaram 79% dos votos que ele recebeu. Olhando os dados de outra maneira, os

A

sem filiação religiosa definida deram 70% dos seus votos a Obama e 26% a Romney. Entre os protestantes, a cor foi decisiva: 95% dos protestantes negros votaram em Obama, uma lavagem. Entre os católicos, ser hispânico também foi fator decisivo: 75% dos católicos hispânicos votaram em Obama. Porém, entre os católicos brancos, Romney ganhou, com 59% dos votos. Um terceiro olhar permite ver que a composição dos eleitores de Obama foi muito diversificada, ao passo que a de Romney foi concentrada. Porém, até essa eleição, ter maioria folgada entre os cristãos brancos garantia o resultado, não importa o partido (na maioria dos casos foi o candidato republicano). Nessa eleição não foi assim e talvez não volte a ser assim. A composição étnica e racial da população americana mudou e continua mudando. Os negros, atualmente, são perto de 42 milhões. Até 2006 não tiveram a oportunidade de votar num candidato com reais chances de vitória. Votaram, em algumas ocasiões, em candidatos a candidato. Os hispânicos também vêm crescendo e já são perto de 51 milhões. Juntos, negros e hispânicos representam 40% dos brancos. Os brancos com uma única raça (muitos americanos declaram origem mista), são aproximadamente 230 milhões. Esse grupo étnico costumava decidir as eleições. Os demais grupos só contavam, estrategicamente, quando os brancos estavam rachados. Nas últimas décadas, negros e hispânicos

A eleição de Obama foi o aconteci mento midiático do curto período eleitoral. As mudanças sociais e demográficas vieram para ficar. Outra área que está passando por fortes mudanças é valorativa: as crenças e valores dos americanos também estão mudando. Dou exemplos. A legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo aprovada pelo voto em mais três estados americanos parece indicar que o país está mudando os seus valores. Há outras indicações de que os valores americanos estão mudando numa direção contrária à desejada pelos conservadores. Talvez mais do que a vitória de Obama, alguns estados aprovaram legislação impensável há três ou quatro décadas. O reverendo Albert Mohler Jr., presidente do Seminário Batista do Sul, afirmou que o país está passando por um realinhamento moral. Já o evangelista Franklin Graham, filho do conhecidíssimo evangelista Billy Graham, um dos primeiros a usar a televisão como instrumento religioso, discorda. Ele acredita que o movimento conservador religioso não está morrendo, mas que muitos de seus membros não cumpriram com o dever de votar. Teriam ficado em casa, facilitando a vitória dos progressistas, lá chamados de liberais. Há outras indicações de que os valores americanos estão mudando numa direção contrária à desejada pelos conservadores. Uma delas é a legalização do uso médico da maconha em alguns estados. O crescimento

cresceram absolutamente e relativamente aos brancos, sobretudo os hispânicos que já são o segundo grupo étnico do país.

dos sem religiãodefinida ea secularizaçãotalvez sejam as duas mudanças analiticamente mais importantes. O país está mudando.

ARI CUNHA DESDE 1960 VISTO, LIDO E OUVIDO [email protected] com Circe Cunha // [email protected]

Novo destino » O Brasil muda de vida aos poucos. Destino é caminho livre, lugar para todos. Há o racismo favorecendo os de tez escura. Falsidade. Sangue e cor de pele são coisa da cabeça de Hitler. Vê-se que até hoje branco legítimo é ilusão. A pele branca também é carregada de miscigenação, desde tempos idos. Classificação no Brasil é “mulato” ou cor variável. Não se entende porque há cota de alunos sob alegação de cor. Ideal seriam aulas de graça aos que não podem pagar, com colégios decentes e professores bem remunerados, para dar base e educação à conquista de uma vaga na universidade pública.

A frase que não foi pronunciada

“Você viu aquela camisinha no parquinho? O que é um parquinho?” Conversa entre duas crianças de hoje.

Hein? » Com aquele jeito peculiar, o senador Mário Couto explicou que seus bens foram desbloqueados pelo Ministério Público do Pará, depois de pesquisa sobre a vida dele como presidente da Assembleia Legislativa nada encontrar. Explica o senador em terceira pessoa: “O senador Mário Couto devia ter visto a falsificação na folha de pagamentos. Não viu. Sarney não viu também o que aconteceu na época do seu diretor administrativo; o Lula também não viu; a Dilma também não viu; o ex-presidente da Assembleia também não viu; o presidente do Tribunal de Justiça da minha terra, Milton Nobre, também não viu, mas tudo bem!”.

De olho » Com o senador Vital do Rêgo na presidência e Cícero Lucena na vice, uma Comissão Especial Externa vai acompanhar os projetos de transposição do Rio São Francisco. Cronograma, obras paradas, aditamentos, gastos, sanções, revisões de contrato, auditorias, todos esses assuntos serão tratados. A discussão da questão regulatória é fundamental para o futuro.

OAB » Para combater facções criminosas é preciso planejamento, capacidade de atuação e inteligência. Uma pena a OAB permanecer omissa nesse assunto. Advogados que levam celulares a cadeias são sócios do crime.

Em nada » Só há uma possibilidade

para a encenação da oposição sobre a CPI do Cachoeira. Medo. Lula, quando era oposição, tinha muito mais coragem que quem está fora da base do governo. A verba pública com suspeita de desvio ultrapassa o bilhão. Muito mais que os milhõezinhos do mensalão.

Denúncia » O senador Aécio Neves chama a atenção para o uso do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) e do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). O que pertence aos trabalhadores, em momento algum teve solicitado o uso. O alheio chora seu dono, diria o filósofo de Mondubim.

Participar » O senador Pedro Taques tem propostas bastante interessantes sobre a participação popular no governo. Em Brasília, o orçamento participativo ainda é tímido, mas também muito importante. Vale a troca de experiência.

Atitude » Por falar nisso, o senador Taques destacou que trabalha para os eleitores. Que o voto que o levou à Câmara Alta significa que ali ele representa a vontade dos eleitores que esperam boas leis, fiscalização nos atos do governo e freio aos desmandos e corrupção.

Lei » Embora muita gente não saiba, é possível faltar ao trabalho para acompanhar reunião de pais nas escolas. É mais que possível. É lei. Basta levar uma declaração e a falta no período é abonada.

História de Brasília Conversa em Brasília: “O meu HP-3 está um estouro!” “Pois eu estou num SCR, mas estou dependendo do DTUI e do DFL”. (Publicado em 3/6/1961)

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