Objetividade das ciências sociais

June 7, 2017 | Autor: Gisiela Klein | Categoria: Max Weber, Ciências Sociais, Objetividade
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UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA – UDESC CENTRO DE CIÊNCIAS DA ADMINISTRAÇÃO E SOCIOECÔNOMICAS – ESAG PROGRAMA ACADÊMICO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO

Disciplina: Epistemologia da Ciência em Administração Turma: Mestrado Acadêmico 2015 Professor: Mauricio C. Serafim Discente: Gisiela Hasse Klein Aula: Epistemologia e dialética Obra estudada: WEBER, Max. A “objetividade do conhecimento na ciência social e na ciência política”. In: _____. Metodologia das Ciências Sociais (Parte 1). São Paulo: Cortez Editora, 2001. pp. 107-154.

1. Sobre o que é o livro? Publicado em 1904, o texto traz orientações gerais sobre a revista Archiv für Sozialwissenschaft und Sozialpolitik (Arquivo para a Ciência Social e Política Social). Na época, Max Weber, juntamente com Werner Sombart e Edgar Jaffé, assumiu a direção da revista. Weber escreveu, então, o ensaio “A objetividade” do conhecimento na ciência social e na ciência política no intuito de definir as diretrizes editoriais da revista. O texto, no entanto, traz questões fundamentais para a prática científica na área social e, mais de cem anos depois, se mostra extremamente atual. 2. O que está sendo dito, de modo detalhado, e como está sendo dito? Weber aponta quatro condições básicas para uma ciência social objetiva, universalmente válida e prática: 1) ela deveria ser axiologicamente neutra; 2) abandonar a ideia de totalidade; 3) considerar a subjetividade dos fenômenos sociais; e 4) usar uma metodologia própria: os chamados tipos ideais. Ao apresentar essa proposta, Weber rompe com a ciência positivista, que buscava uma ordem social inabalável e leis que pudessem prever e controlar as relações entre os homens. “Nada prejudicou mais o interesse da ciência do que não querer ver os fatos incômodos e as realidades da vida na sua natureza. Grave ilusão acreditar ser possível, por meio da síntese entre opiniões partidárias, ou seguindo uma linha diagonal entre elas, obter efetivamente normas práticas de validade cientifica” (p. 113). “Para as

ciências exatas da natureza, as leis são tanto mais importantes e valiosas quanto mais gerais é sua validade. Para o conhecimento das condições concretas dos fenômenos históricos, as leis mais gerais são frequentemente as menos valiosas, por serem as mais vazias de conteúdo. No campo das ciências da cultura, o conhecimento do geral nunca tem valor por si próprio” (p. 130). Sobre a ciência social ser axiologicamente neutra, Weber nos ensina que é preciso separar o “ser” do “dever ser”. Essa confusão deve ser revolvida para se atingir um conhecimento científico verdadeiramente objetivo. Para Weber, a sociologia deveria se pronunciar sobre fatos concretos e a pesquisa deveria ser objetiva. “As ciências sociais atuam no nível da existência objetiva e não cabe a elas definir os fins últimos. Elas definem o que é não como será” (p. 22). A segunda condição apontada por Weber para uma ciência social é abandonar a ideia de totalidade. “Jamais pode ser tarefa de uma ciência empírica proporcionar normas e ideais obrigatórios, dos quais se possa derivar ‘receitas’ para a prática” (p. 109). A terceira condição é a capacidade do pesquisador em diferenciar o juízo de valor e valores. O primeiro consiste numa afirmação moral, opinião pessoal que pode ser refutada, ao passo que o segundo é um procedimento de seleção e organização da ciência objetiva. “Juízos de valor não deveriam ser extraídos de maneira nenhuma da análise científica, devido ao fato de derivarem, em última instância, de determinados ideais, e por isso terem origens subjetivas” (p. 109). Apesar de refutar os juízos de valor na ciência, Weber assume que a objetividade está nos resultados do conhecimento científico e não na gênese, já que a força motriz da pesquisa seria dada por valores de quem se propõe a fazer a pesquisa. “O fenômeno socioeconômico está condicionado pela orientação do nosso interesse de conhecimento e essa orientação define-se em conformidade com o significado cultural que atribuímos ao evento em questão, em cada caso particular” (p. 118). Mesmo assim, considera possível o cientista “indicar em que momento cessa a fala do pesquisador e começa a fala do homem que está sujeito a intenções e a vontades, em que momento os argumentos se dirigem ao intelecto e em qual se dirigem ao sentimento” (p. 115).

Por fim, a quarta condição para a ciência social é a metodologia, que Weber descreve como os tipos ideais. “Criam-se quadros ideias representativos da realidade – são quadros estereotipados que desconsideram vários elementos da realidade para dar conta de um conceito. É preciso ter claro que são tipos ideais e não tipos que ‘devem ser’ „(p. 138)“. Weber defende que a realidade é complexa demais para ser apreendida e ordenada em uma pesquisa. O possível é fazer recortes conceituais ideais que servem para representarmos a realidade. “O domínio do trabalho científico não tem por base as conexões objetivas entre as coisas, mas as conexões conceituais entre os problemas” (p. 121). Para Weber são coisas diferentes: “a ideia historicamente comprovável que domina os homens e os elementos da realidade histórica dos quais se pode fazer a abstração do tipo ideal correspondente” (p. 141). 3. O livro é verdadeiro? Todo ele ou somente parte dele? Sim, o livro é todo verdadeiro. Em 50 páginas, Weber dá conta de explicar o grande impasse das ciências sociais – a objetividade – e também consegue propor uma metodologia capaz de solucionar tal problema. Os tipos ideais expostos por Weber me parecem uma saída científica para as ciências sociais. 4. E então? Qual a importância do livro para mim? Há dois conteúdos do texto que foram de grande valia para meu trabalho como pesquisadora e jornalista. Primeiro a desmistificação de que a síntese entre opiniões partidárias leva à objetividade. A imparcialidade jornalística está calcada justamente nessa premissa: a síntese de opiniões ou a linha diagonal entre elas. Weber demonstra a fragilidade dessa metodologia. Para solucionar o problema da objetividade nas ciências sociais, Weber propõe, antes de tudo, assumir as limitações da subjetividade e tratá-la com honestidade. Depois, descreve primorosamente a metodologia dos tipos ideais. “A validade objetiva de todo saber empírico baseia-se única e exclusivamente na ordenação da realidade dada segundo categorias que são subjetivas, no sentido específico de representarem o pressuposto do nosso conhecimento e de associarem, ao pressuposto de que é valiosa aquela verdade que só o conhecimento empírico nos pode proporcionar. Somente a ciência pode fornecer conceitos e juízos que não constituem a realidade empírica, nem a

podem reproduzir, mas permitem ordená-la de modo válido por meio do pensamento” (p. 152). O autor nos alerta, no entanto, para uma possível confusão entre a realidade e os tipos ideais. “A ideia prática, em cuja validade se crê, bem como o tipo ideal teórico construído para as necessidades da investigação, correm paralelos e mostram uma tendência constante de mutuamente se confundirem” (p. 144).

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