Obras Contestadas de Tom Jobim - Influência ou Plágio?

May 31, 2017 | Autor: Paulo Santos | Categoria: Tom Jobim, Música Brasileira, Influências Musicais, Plágio
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UNIVERSIDADE DO SAGRADO CORAÇÃO

OBRAS CONTESTADAS DE TOM JOBIM: INFUÊNCIA OU PLÁGIO?

BAURU 2005

UNIVERSIDADE DO SAGRADO CORAÇÃO

Paulo Francisco Santos

OBRAS CONTESTADAS DE TOM JOBIM: INFUÊNCIA OU PLÁGIO?

Trabalho

apresentado

à

Docência

da

Universidade do Sagrado Coração, como parte integrante dos requisitos para a conclusão da disciplina: Métodos e técnicas da pesquisa em música II. Área de Concentração: Música, Análise e pesquisa. Orientador: Prof.º Jailton Teixeira de Oliveira.

BAURU 2005

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Santos, Paulo Francisco.

OBRAS CONTESTADAS DE TOM JOBIM: INFLUÊNCIA OU PLÁGIO? Pesquisa em Música – Área de concentração: Análise e pesquisa, apresentada à Universidade do Sagrado Coração e aprovada pela seguinte banca examinadora:

Orientador:

Bauru, 14 de novembro de 2005

Prof.º Jailton Teixeira de Oliveira.

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RESUMO Este trabalho é o resultado de uma pesquisa cujo principal objetivo foi elencar citações bibliográficas sobre as obras contestadas de Tom Jobim, onde encontram-se motivos associados à obras de compositores de sua preferência. Foram reunidas as músicas em questão na pretensão de demonstrar tais influências em sua composição. Os esforços aqui tem em vista explicar tais semelhanças entre as obras, pois pretende-se mostrar que é possível se inspirar, talvez até inconscientemente em motivos melódicos, harmônicos e rítmicos, ocasionados em obras de outros compositores, sem que isso seja caracterizado como plágio. Palavras-chave: Música Brasileira, Tom Jobim, Influências Musicais, Plágio.

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ABSTRACT This work is the result of a research whose main objective was to list citations about the contested works of Tom Jobim, where are found motifs associated with the works of composers of your own. The songs in question were gathered on the pretense of demonstrating such influences in their composition. The efforts here has in view explain the similarities between the works, because it is intended to show that it is possible to inspire, maybe even unconsciously in melodic motifs, harmonic and rhythmic, occasioned in works by other composers, without this being characterized as plagiarism. Keywords: Brazilian Music, Tom Jobim Musical Influences, Plagiarism.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .................................................................................................................07 CAPÍTULO 1

Crítica sobre o mito..............................................................................07 1.1 Apresentação do local.......................................................................07 1.2 Originalidade de Jobim.....................................................................08

CAPÍTULO 2

A bossa e Tom Jobim............................................................................09 2.1 Formação musical de Jobim..............................................................09 2.2 Jobim e suas obras contestadas.........................................................10

CONCLUSÃO

................................................................................................................12

REFERÊNCIAS ................................................................................................................13

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INTRODUÇÃO

As ambições desta pesquisa estão focadas no Levantando do que há de fato por trás da polêmica das obras contestadas de Tom Jobim. Devido à curiosidade e necessidade de entender porque peças como, Prelúdio em mi menor nº5 de Chopin, lembrava tanto a música Insensatez de Tom Jobim, surgiu o interesse pela pesquisa. Partindo daí aparece a seguinte questão: ocorrerá a mesma semelhança em outras composições de Tom Jobim? Para responder essa pergunta foi feita uma investigação bibliográfica para identificar em quais outras obras ocorre tal semelhança e as mais diversas citações que envolve essa polémica. Esse trabalho tem em vista explicar tais semelhanças entre as obras. E com isso, pretende –se como essa pesquisa desmistificar as especulações de plágio que perseguem a obra de Tom Jobim, embasando tais semelhanças em motivos melódicos inspirados em outros compositores; o que é compreensivo.

CAPÍTULO 1 Crítica sobre o mito 1.1 A polêmica sobre plágio

É inegável que Tom Jobim seja uma das figuras mais importantes da música brasileira e por isso é natural que seja alvo de críticas. Uma grande polêmica se formou sobre um dos principais focos dessas críticas; as acusações de plágio, podendo ser declaradas ou não. Pode vir desde uma simples comparação melódica das músicas de Tom com clássicos de Chopin e Debussy, ou publicações declaradas de plágio em livros ou jornais Silva (2001). José Ramos Tinhorão, o mais ilustre crítico de Jobim chega a acusa-lo de plagiador barato de Cole Porter, dos compositores hollywoodianos e do folclore. E exagera TINHORÃO (1975, p.07):

Tom Jobim chegou à música popular pela frustração das ambições no campo da música erudita. Era um pobre coitado sem inspiração.

Os jornalistas da Folha de São Paulo Pedro Alexandre Sanches e Lúcio Ribeiro acusam Jobim ironicamente de parceria em compassos de Irving Berlim e Mariano Pinto. E dizem SANCHES; RIBEIRO (2001, p.E8):

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Acho que ele nem fazia isso de má-fé ou de forma consciente. Tom Jobim era uma barriga de aluguel, como uma mulher que empresta o útero e tem um bebê lindo.

1.2 Originalidade de Jobim

Com a análise de tais obras pretende-se mostrar que é possível se inspirar, talvez até inconscientemente em motivos melódicos, harmônicos e rítmicos, ocasionando em obras de outros compositores, sem que isso seja caracterizado plágio. Segundo Rodrigues (2002), Obra musical é a síntese da melodia, da harmonia e do ritmo. Para José Carlos Costa Neto, ao citar Henry Desbois:

Melodia seria a emissão de um número indeterminado de sons sucessivos. Já a harmonia forneceria a roupagem da melodia, como resultado da emissão simultânea de vários sons – acordes, por fim, o ritmo seria uma sensação determinada por diferentes sons consecutivos ou diversas repetições periódicas de um mesmo som, marcando o andamento da melodia.

Para Rodrigues (2002), o elemento fundamental de uma obra musical, a originalidade, segundo o citado autor, reproduzindo Henry Desbois, estaria na melodia e explica com detalhes:

Assim, inegável que, dos três elementos constitutivos da obra musical, a melodia é a essencial. É essa, justamente, a característica mais peculiar em relação ao processo de criação da obra musical em relação às demais obras intelectuais: mais acentuadamente na criação melódica incide a sensibilidade, a inspiração, e não a reflexão ou comparação. Assim, não estaria afeta à melodia à inteligência e sim à sensibilidade.

A título de exemplificação poderíamos citar duas composições da música popular brasileira: Esse teu olhar, de Tom Jobim e Promessas do mesmo compositor. Apesar de idênticas em sua harmonia ocorre um distinção a nível melódico, o que as caracteriza como obras originais autônomas, cada qual absolutamente original RODRIGUES (2002).

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CAPÍTULO 2 A bossa e Tom Jobim 2.1 Formação musical de Jobim

Antônio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim, conhecido como Tom Jobim, nasceu no Rio de Janeiro, em 1927, dia 25 de Janeiro, e faleceu em Nova York, no dia 8 de Dezembro de 1994. Tom começou a estudar piano com o maestro alemão Joachim Koellreutter. Sua ideia era estudar arquitetura, gostava muito de tocar e ouvir, mas nunca tinha se imaginado como músico de verdade. Após seu primeiro professor, estudou com Lúcia Branco e Tomás Teran. Foi quando passou a se interessar cada vez mais por música, partindo para sua primeira tentativa de composição, que teve como maior influência Villa-Lobos, também Chopin e Debussy. Ao lado de João Gilberto e Vinícius de Moraes, Tom Jobim é uma das principais figuras do movimento que deu origem ao gênero bossa nova. Esse gênero trazia muitas inovações, mas que não se limitavam apenas a acompanhamento, linguagem, instrumentação, harmonização e ritmo. Na base dessas inovações estava um novo estilo de composição que era resultado de recursos musicais alcançados por muitos músicos, que além do jazz, estudavam a chamada música erudita. Executada por pequenos conjuntos instrumentais ou de violões e normalmente cantada por uma única pessoa, a bossa nova originou uma nova técnica de composição. Rica em detalhes e um expressivo vocabulário, criou uma intimidade com o ouvinte. Porém, inadequada para ser cantada pela grande massa, priorizando assim a figura de um cantor para interpretar todos seus detalhes. Oficialmente, a bossa nova aparece com o Lp chega de saudade (Odeon, 1959). Logo foi aceito pelo público da época que já não aceitava o samba-canção (o bolero). Abrindo espaço para o surgimento de um novo tipo de música, com raízes no samba tradicional, porém mais elaborado (LONG PLAYING, 1971).

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2.2 Jobim e suas obras contestadas

Desde que começou a fazer sucesso depois da eclosão da bossa nova em 1959, a música de Tom Jobim se tornou arena de insinuações e até acusações de plágio. Sua produção é, talvez, a que conta na MPB com mais títulos apontados como plágio ou pelo menos, inspirações, citações. Tom Jobim priorizava a harmonia, e a melodia que dela pode ser deduzida; o processo tradicional, enfim, no qual recorrer às fontes do passado é um impulso legítimo. A música de Jobim sempre revolveu à tradição e muitas vezes de maneira explicita. Alguns consideram tal expediente nada mais que plágio. A questão da clonagem melódico-harmônico que o compositor operou na tradição é um exercício especulativo difícil. Na razão técnica, plágio não passa de uma cópia de oito compassos idênticos aos de uma composição alheia GIRON (2000). Segundo Giron (2000, p.03), citando Cardoso Jr. (2000), estudioso do assunto, o fenômeno sempre se deu na música popular brasileira. E diz:

Com até oito compassos, dá para fazer muita coisa, mas é preciso encarar o fato com naturalidade. Às vezes se deve à pressa. No teatro de revista, os compositores copiavam músicas deles próprios, ou recorriam à música erudita. Ary Barroso plagiava, Nássara achava que citar alguns motivos de um tema folclórico ajudava na divulgação da música. Em 1937, a Sociedade Brasileira dos Autores teatrais divulgou uma lista de centenas de plágios de marchas de Carnaval. Ninguém escapou disso.

Tampouco Jobim, o mais citado nesse tipo de aproximação. Cardoso Jr. Lembra a canção Àgua do Céu, gravada pela cantora Leny Eversong no LP Cinco Estrelas Apresentam Inara (Copacabana, 1956). O motivo folclórico, recolhido pela compositora Inara Simões de Irajá, possui ritmo cadenciado e um sequência melódica modal, além da temática ecológica. Tais elementos comparecem transfigurados no clássico Àguas de Março (1971), de Tom Jobim. Não há dúvida de que o autor se baseou no motivo para criar sua canção. Ele se inspirou na letra e no motivo melódico, mudando os traços harmônicos, e o fez evoluir para uma lógica sonora mais ampla GIRON (2000). Antônio Maria (1963) publicou em O Jornal, um artigo que apontava as fontes de seis canções assinadas por Tom. Arrola Antônio Maria que Esse teu Olhar “foi copiado do fundo musical da canção The Moon is Blue. Letra e música da canção Demais estão em The End of a Love Affair. Insensatez tem a mesma harmonia do Prelúdio nº5, de Fréderic Chopin. Love for Sale, para ele, faz a base para Dindi. Night and Day tem sua primeira parte plagiada em Samba de Uma Nota Só. Eu Sei Que Vou te Amar foi inspirado no Dancing in the Dark. Com isso

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Antônio Maria não queria desmerecer o trabalho de seu amigo, a quem considerava tanto e escreveu:

Ótimas pessoas também se influenciam na música dos outros. E, em certos casos, como dá menos trabalho, copiam direto.

Especificamente sobre a mencionada canção Insensatez, Tiné (2001, p.134), lembra a associação que se fez desta canção com o Prelúdio Nº 4, opus 28 de Frederic Chopin e cita Cabral (1997, p.167): ...seria motivo de algumas brincadeiras de músicos norte-americanos, nos primeiros tempos de Tom Jobim nos Estados Unidos. O motivo era a grande semelhança harmônica e melódica de Insensatez com o Prelúdio 4 (...) de Chopin.

Segundo as análises desse mesmo autor, não há semelhança literal na estrutura tampouco na harmonia do prelúdio em relação à obra de Jobim. Portanto, a palavra plágio não se aplica aqui, talvez inspiração e/ou citação como se observa em outras obras, como é o caso, na canção Passarim, onde seu início lembra a segunda parte das Bachianas Brasileiras Nº 5 de Heitor Villa-Lobos, e os seguintes exemplos:

Não se pode deixar de notar a semelhança desta música com a estrutura de algumas obras escritas por Fréderic Chopin (1810/1849) e pelos compositores franceses chamados impressionistas, dos quais Jobim sempre demonstrou ter recebido forte influência. Observando a construção da Primeira Gymnopédie, escrita pelo compositor francês Erik Satie (1866/1925) os pontos em comum com o arranjo de Jobim para Estrada do Sol são evidentes (...). Pode-se perceber também em Claude Debussy (1826/1918) especialmente no Passapied de sua Suíte Bergamasque, desenhos muito semelhantes aos praticados por Jobim nas seqüências de terças ligadas da mão direita (...) do arranjo de Imagina, bem como nos arpejos e tercinas presentes no contorno melódico de Estrada do Sol (...). E as progressões em quintas descendentes de Chovendo na Roseira, que lembram muito um trecho do Estudo opus 25 número 6 escrito por Chopin (CARAMURU apud TINÉ, 2001, p.135).

O compositor João Donato, que apontou um plágio de Tom na canção Anos Dourados diz GIRON (2000, p.03):

Ele teria se baseado num LP de Bossa Nova evangélica dos anos 70, costuma dizer que o compositor bom é o que comete o crime sem deixar vestígios. Ou seja: pode se buscar numa certa marcha harmônica ou em um motivo modal folclórico, mas logra apagar os traços de semelhança. É uma clonagem por despiste. E nisto Tom Jobim foi magistral.

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CONCLUSÃO O levantamento bibliográfico revelou um grande número de obras de Tom Jobim que foram lembradas pelos respectivos autores por se assemelharem com obras de outros compositores de sua preferência. Vale ressaltar que se trata de um elenco constatado em registro, ou seja, sem contar associações de ordem informal. A pesquisa também revelou que muitos autores defendem a hipótese de que tais citações sejam inspirações, conscientes ou não, baseadas em motivos melódicos, harmônicos e rítmicos ocasionados em obras de outros compositores que influenciaram Jobim, sem que isso seja caracterizado como plágio. O compositor não existe somente em si, ele é fruto de uma coletividade; sua linguagem é formada da assimilação e mescla de muitas outras linguagens que de forma inconsciente vêm à tona no momento de sua criação. A forma consciente pode ser caracterizada pela técnica que o músico utiliza de, em determinada progressão harmônica, no lugar de um motivo original, citar um motivo relevante existente, devidamente ajustado à tonalidade e especificações da música produzida; prática muito comum entre os improvisadores. Ou ainda de forma consciente, usar a fôrma de uma progressão harmônica característica de determinado gênero para elaboração de motivos originais. Essa prática também pode ser utilizada com ritmos ensejando novas criações. Todos esses artifícios podem ter sido utilizados por Tom Jobim, e provavelmente o foram, pois como ele mesmo se definia como um operário da música, fica aparente a sagacidade em detrimento à inspiração que, aliás, para ele, vinha com prazos. Não cabe aqui marcar posição sobre o assunto, tampouco colocar um ponto final no tema, pelo contrário, o trabalho instiga pesquisas futuras que venham, possivelmente, analisar obra por obra das chamadas obras contestadas de Tom Jobim, evidenciando possíveis citações e sua engenhosidade em exprimi-las sem deturbar a essência de uma obra original.

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REFERÊNCIAS

GIRON, L. A. Plagiotrópico Jobim. Caderno da Gazeta Mercantil, 09 à 11 de junho 2000. p.03.

LONG PLAYING. Música Popular Brasileira Antônio Carlos Jobim.16º volume. São Paulo: Abril Cultura, 1971.

MARIA, Antônio. Artigo. O Jornal, 1963.

RODRIGUES, C. M. L. Lei de Direitos Autorais nas obras musicais. Salvador, BA: Monografia UNIFACS, 2002. p.14

SILVA, Deonísio. Pauladas no glorioso maestro. Net, São Paulo, 20 de junho 2001. Observatório último segundo. Disponível em: Acesso em: 10 jun. 2005.

TINÉ, P. J. S. Três compositores da música popular do brasil: Pixinguinha, Garoto e Tom Jobim. Uma análise comparativa que abrange o período do Choro a Bossa Nova. Dissertação de Mestrado. ECA-USP, São Paulo, 2001.

TINHORÃO, R. J. Pequena História da Música Popular Brasileira: da Modinha à Canção de Protesto. 2. Ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 1975. p.237.

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