Observação de Aves como Ferramenta da Educação Ambiental

June 2, 2017 | Autor: Giancarlo Moser | Categoria: Birdwatching
Share Embed


Descrição do Produto

Observação de Aves como Ferramenta da Educação Ambiental Maicon Mohr1 Giancarlo Moser2 Resumo A atividade de observação de aves pode ser praticada por qualquer pessoa que não possua uma deficiência visual significativa, e mesmo essas, podem “escutar” as aves. Este trabalho tem o objetivo de apresentar uma ferramenta para a educação ambiental, a atividade de observação de aves. Ele foi desenvolvido através de um estudo de caso e pesquisa bibliográfica. Poucos são os registros de utilização desta atividade na prática da educação ambiental, embora esta apresente um excelente potencial, conforme descrito neste, e a comunidade ornitológica brasileira já venha discutindo o assunto há alguns anos. Ter conhecimento da realidade brasileira da educação ambiental e da atividade de observação de aves foi um processo importante para compreender o potencial da atividade para a educação ambiental. Palavras-chave: Educação Ambiental. Observação de Aves. Educação. Aves. 1 INTRODUÇÃO É cada vez mais comum ler e ouvir as pessoas falando sobre assuntos relacionados ao meio ambiente, da mesma forma como tem sido crescente a discussão relacionada à educação ambiental. A importância desta discussão é constatada quando se compreende qual a função da educação ambiental. De acordo com Dias (2004 apud Dalmora, 2007, p. 3), “[...] cabe à educação ambiental ajudar a sociedade a superar o analfabetismo ambiental, que consiste no desconhecimento ou ignorância dos problemas ambientais, das ameaças da (in) sustentabilidade dos ecossistemas e da própria condição de vida da humanidade.” Conforme Dalmora (2007, p. 86) No cotidiano, as pessoas tendem a não visualizar certos aspectos da realidade em que vivem. Isto porque os sentidos de observação tendem a ficar menos atentos às situações conhecidas, por não apresentarem riscos à condução “normal” dos acontecimentos diários. De um modo geral, os sentidos como o tato, audição e olfato são pouco utilizados no nosso cotidiano, o que faz com que deixemos de perceber muitos dos sinais da natureza. Na educação ambiental, o resgate dos sentidos é importante para modificarmos o olhar que temos sobre a realidade, bem como a própria percepção dos sinais no meio que nos inserimos.

Existem diversas formas de promoção da educação ambiental, e infelizmente ainda é grande o número de pessoas que pensam que uma simples caminhada em meio à mata

1 2

Especialista em Educação Ambiental. E-mail: [email protected] Professor de Graduação e Pós-Graduação. E-mail: [email protected]

2

promove a educação ambiental. De fato pode até promover, mas para tanto são necessários cuidados e atenção especial. É comum, quando se realiza atividades em ambientes naturais, que o grupo visite o local, deixando de aproveitar o ecossistema e as suas características. A trilha conduzida inadequadamente pode perder o seu objetivo e tornar-se apenas um exercício físico. Também é habitual, a atividade deixar de explorar todos os sentidos, e transformar-se em mera competição. O resultado destes erros é que os envolvidos agregam pouco, ou nenhum conhecimento ambiental, e fica desencorajado a uma nova prática. Para evitar estes erros, este trabalho objetiva apresentar a atividade de observação de aves, como uma ferramenta da educação ambiental. Segundo Argel-de-Oliveira (1996, p. 266) A observação de aves é uma atividade cultural e lúdica que, apesar de não ser, em nosso país, tão tradicional como é, por exemplo, no Reino Unido ou na Alemanha, já tem aqui um histórico de atividades e está bem organizada, existindo o intercâmbio de informações e experiências entre muitos praticantes.

A atividade é considerada ecologicamente correta, já que não agride o meio ambiente, e promove a educação ambiental tanto dos praticantes, quanto da comunidade local. Tal prática coloca o observador em sintonia com ambiente no qual ele se relaciona, já que ele precisa conhecer ambientes naturais, e isso desenvolve a sua capacidade de observação e percepção, ampliando ainda seus conhecimentos sobre a natureza, e finalmente promovendo a compreensão da necessidade de conservação do meio ambiente. Outra característica da atividade segundo Almeida (2008), “[...] é a compreensão da natureza como um todo, favorecendo o desabrochar do desejo de preservação ambiental nos participantes. Dessa maneira, eles se tornam elementos indispensáveis na luta pela nossa própria sobrevivência como espécie.” Todo este conhecimento surge através da sensibilização, e na opinião de Dalmora (2007, p. 75), “[...] a sensibilização é o ponto de partida do trabalho em EA.” Com a atividade podemos entender que a essência da educação ambiental é trabalhada, já que inclusive a legislação brasileira aponta no artigo primeiro da lei que dispõe sobre a educação ambiental, que Entendem-se por educação ambiental os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade. (BRASIL, 1999)

Mas, infelizmente a realidade brasileira ainda é muito voltada à sala de aula, ao livro didático. Ocorre uma “tradicional valorização das atividades de leitura, exercícios teóricos e aulas expositivas. (MOLIN e VIEIRA-DA-ROCHA, 2008, p. 33)”, mantendo as mesmas abordagens e enfoques. Objetiva-se colaborar com a compreensão da educação ambiental, e do grande potencial que a atividade de observação de aves tem para o entendimento do meio ambiente e seus ciclos.

3

2 ÉTICA AMBIENTAL A primeira preocupação, ao se falar de ética ambiental, é inserir esta nova modalidade de ciência comportamental dentro do cronograma de evolução dos direitos e interesses da humanidade. A questão coloca-se, fundamentalmente, em razão da necessidade de preservação das espécies e da biodiversidade. Nesse sentido, as regras éticas são necessárias para coibir o comportamento humano no gerenciamento dos recursos naturais. Por isso, devem ser adotados mecanismos que permitam um equilíbrio entre exploração e a capacidade de regeneração natural dos ativos ambientais. A ética, segundo Mata (2002, p. 170) É o estudo dos juízos de apreciação referentes à conduta humana. Implica no entendimento do que deve ser socialmente correto e justo para a geração presente e sustentável, no longo prazo. No plano ambiental, a ética deve ser entendida como um pressuposto fundamental do comportamento humano, sob o qual as decisões de gestão dos recursos naturais devem visar ao consumo presente, sem prejuízo para as gerações futuras.

Assim sendo, podemos dizer que neste contexto, o modelo de desenvolvimento sustentável ético deve ser capaz não só de contribuir para a superação dos atuais problemas, mas também de garantir a própria vida, por meio da proteção e manutenção dos sistemas naturais que a tornam possível. A realização desses objetivos implica em uma mudança profunda nos atuais sistemas de organização da sociedade humana, produção e utilização dos recursos naturais essenciais a vida no planeta. Baseando-se no conceito de ética ambiental, e procurando compreender melhor o surgimento deste tema, vamos analisar alguns fatos históricos, e para isto, Santos (2008) explica que [...] os filósofos dos primeiros séculos, Sócrates e Platão e, mais tarde os seus discípulos, refletiram sobre a ética e concluíram que ela é ligada a política, é racionalista e se explica pela virtude, cujo objetivo é o bem – o homem é um animal político e social, usa a Ética, refletida na razão e na virtude, para alcançar a felicidade. Percorrendo esta linha do tempo, na Era do cristianismo vamos encontrar a Ética definida como um conjunto de verdades, mandamentos e condutas revelados de Deus e seguido pelos homens – era o comportamento moral tomando rumos teológicos, subordinando a filosofia. Vamos agora dar um salto no tempo, notar um crescimento espantoso da humanidade e com ela nasce e evolui rapidamente a tecnologia e todas as suas implicações positivas e negativas [...].

Ética antropocêntrica é definida principalmente pelo filósofo alemão do século XIX Emmanuel Kant, considerava o comportamento do homem em si, levando-o à condição de espécie superior pela razão. Ética ecocêntrica considera o homem em sua casa oikos, em grego fundamentando o seu comportamento em relação a não apenas a si próprio, como em relação à natureza global de que faz parte. Inseridos neste cenário ecocêntrico, surge a Ética Ambiental como uma nova relação homem natureza, agora o ser humano é parte integrante do meio natural, não é apenas o seu dono, nem a usa simplesmente para satisfazer suas necessidades, mas para que ele sobreviva

4

em harmonia com os demais seres. Nesta nova concepção o homem passa a se preocupar mais com suas ações e conseqüentemente passa a praticar ações coerentes com a natureza. Entretanto, para Silva et al (2007 apud Chaves e Farias 2007) A solução da problemática ambiental não encontra seu entendimento, simplesmente, a partir e uma perspectiva ética. Para equacionar esses problemas socioambientais há de se considerar todos os determinantes aspectos deste processo. Isto inclui a evidente importância da tecnologia, da geopolítica, das ciências em geral, pois o conforto e bem estar fazem parte da própria sobrevivência da humanidade. A capacidade de gerar tecnologias e manipular o ambiente conferiu ao homem a sensação de superioridade em relação à natureza, sendo esta verdadeira, mas uma realidade a curto prazo. Qual seria então o mecanismo articulado o bastante entre as ciências capaz de reorientar o desenvolvimento e torná-lo efetivamente sustentável? Como desenvolver sem degradar? Quando temas de suma relevância ao bem estar do indivíduo no planeta como a ética, o desenvolvimento sustentável e a Educação Ambiental, forem assimilados, entendidos e aplicados teremos a real possibilidade de fomentar a compatibilização do desenvolvimento tecnológico ao equilíbrio ambiental.

A Ética Ambiental está baseada na conscientização ambiental e no compromisso com a preservação, aonde o principal objetivo sem dúvida é a conservação da vida em todas as suas formas. O desafio desta nova ética está no aparecimento de um compromisso pessoal que se desenvolve a partir do próprio indivíduo. Não se trata de uma obrigação legal, mas moral e ética, que posiciona o homem em frente à natureza e se reflete em ações éticas, que sem dúvida trarão resultados positivos para a preservação ambiental e conseqüentemente para uma melhor qualidade de vida. Assim, podemos destacar que a Ética Ambiental cria uma nova ordem mundial, composta de indivíduos conscientes e preparados para aceitar que são parte integrante do meio em que vivem e que como tal tem o dever de desenvolver uma nova conduta comportamental, em todos os segmentos da sociedade, notadamente o setor empresarial e industrial, como peças fundamentais neste novo paradigma do século XXI que é a Ética Ambiental. 3 EDUCAÇÃO AMBIENTAL Conforme as recomendações da Conferência de Tblisi (1977, apud Dalmora 2004, p. 23), “A educação ambiental busca desenvolver novas formas de conduta a respeito do meio ambiente. Desde a sua proposição, um conjunto de objetivos foi estruturado, com a finalidade de constituir-se uma nova consciência planetária” De acordo com Dalmora (2007, p. 3) O objetivo maior da Educação Ambiental é ousado, por pressupor um novo olhar do mundo e em pensar diferente, constituinte de uma grande solidariedade planetária. Em síntese, a Educação Ambiental se integra à proposta do desenvolvimento sustentável visando a promoção da vida, o equilíbrio dinâmico, a sensibilidade social e a consciência planetária.

5

A educação ambiental é um tema que deve ser tratado tanto na educação formal, quanto na não formal, e de forma transversal, ou seja, ultrapassando as barreiras das disciplinas. Os Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1998), estabelece que Trabalhar de forma transversal significa buscar a transformação dos conceitos, a explicitação de valores e a inclusão de procedimentos, sempre vinculados à realidade cotidiana da sociedade, de modo que obtenha cidadãos mais participativos. Cada professor, dentro da especificidade de sua área, deve adequar o tratamento dos conteúdos para contemplar o tema Meio Ambiente, assim como os demais Temas Transversais.

Mas, é importante salientar que o processo de educação ambiental deve promover a busca pelo conhecimento. Conforme Gutiérrez e Prado (1999 apud Dalmora 2007, p. 76) “[...] aprendizagem é resultado da busca que parte do ser humano, por sua própria iniciativa em desenvolver-se, de conhecer, de observar, compreendendo e aprendendo nas coisas e nos acontecimentos.” Desta forma a busca pelo conhecimento passa a ser de responsabilidade do educando, e não apenas do educador, que passa a fornecer apenas o meio, e garantindo assim a continuidade do aprendizado. Segundo Mullis & Jenkins (1988 apud Molin e Vieira-da-Rocha 2008, p. 36) [...] os alunos preferem e têm as mais altas notas nas classes em que há inovação. Considerando que professores inovadores são aqueles que fazem algo diferente e muitas vezes inusitado, propostas que sustentem a interdisciplinaridade de forma criativa são uma alternativa enormemente visível, em contrapartida à já desgastada prática pedagógica tradicional.

Sabe-se que existe uma tendência dos educadores introduzirem os conteúdos os temas ambientais como um problema e não como uma condição de sobrevivência humana. Assim, o aspecto mais lúdico e subjetivo das interações e convivência das pessoas com a natureza é excluído, não permitindo o despertar do sentido de respeito ambiental. Dalmora (2007, p. 84) afirma que “Cabe ao educador proporcionar à criança outras experiências e a descoberta de que nem todos os rios são poluídos e, portanto, desagradáveis.” Desta forma o educando adquire interesse no preservado e é levado a preservar e até mesmo recuperar o já degradado. 3.1 EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO BRASIL É possível observar que, em geral, as escolas brasileiras, especialmente as da região do Vale do Itajaí, afirmam que trabalham a educação ambiental com seus alunos, como tema transversal. Dias (2004, p. 201) constata que “O Brasil é o único país da América Latina que tem uma política nacional específica para a Educação Ambiental.” Esta política é apresentada através da lei número 9.795, de 27 de abril de 1999, que dispõe sobre a educação ambiental, institui a Política Nacional de Educação Ambiental e dá outras providências. A lei afirma que “o desenvolvimento de uma compreensão integrada do meio ambiente em suas múltiplas e complexas relações, envolvendo aspectos ecológicos, psicológicos, legais, políticos, sociais, econômicos, científicos, culturais e éticos;” é um dos objetivos fundamentais da educação ambiental.

6

A mesma lei ressalta no seu art. 03 que “Como parte do processo educativo mais amplo, todos têm direito à educação ambiental [...].” E, determina, no seu décimo terceiro artigo, que “Entendem-se por educação ambiental não-formal as ações e práticas educativas voltadas à sensibilização da coletividade sobre as questões ambientais e à sua organização e participação na defesa da qualidade do meio ambiente.” Dalmora (2007, p. 55) lembra que [...] a legislação ambiental prevê estratégias para garantir a continuidade da Educação Ambiental ao cidadão que não freqüenta a escola. Primeiramente, os meios de comunicação, o poder público, os grupos, as associações, as cooperativas e ONGs são incumbidos de promover a participação do cidadão nos programas de gestão ambiental. Visando ampliar a participação da sociedade nas decisões quanto ao uso dos recursos naturais, foram criados espaços, de debate, tais como o orçamento participativo, a Agenda 21 e o Estatuto das Cidades.

Mas, conforme apontado anteriormente, estas estratégias ainda não atingiram muitos estabelecimentos escolares, que tratam a educação ambiental em suas aulas de ciências. 4 OBSERVAÇÃO DE AVES A atividade de observação de aves vem crescendo significativamente no Brasil, nos últimos anos. A prática consiste em observar, em seu ambiente natural, as características, atitudes e curiosidades das aves, buscando a sua identificação. A atividade pode acontecer em trilhas em meio à mata fechada, ou em áreas abertas, tendo maior incidência de espécies na borda de mata.” Em uma esclarecedora reportagem, Caldas (2007, p. 63) defende que Ao contrário do que pode se imaginar, o birdwatching (como também é conhecida a atividade) não é um fenômeno recente. Conta a história que essa forma de lazer teve início com aristocracia inglesa, no século XVIII, que costumava sair a passeio para admirar as aves de suas propriedades. No final daquele século o hábito ganhou mais força com a publicação de um livro sobre o comportamento de aves locais. No final dos anos 1800, os norte-americanos já se reuniam em clubes especializados na observação de aves. No Brasil, o naturalista alemão Helmut Sick, que passou a viver no país nos anos 1930, foi um importante incentivador do birdwatching por aqui. Falecido em 1991, deixou muitos seguidores e o livro Ornitologia Brasileira (editora Nova Fronteira), referência obrigatória entre os apaixonados e estudiosos de aves.

Estima-se, entre os observadores de aves, que existam aproximadamente 80 milhões de observadores de aves no mundo. Estes estão, de acordo com Farias (2007, p. 474), “[...] concentrados principalmente nos Estados Unidos, com quase 70 milhões [...]”. Muitos dos praticantes desta atividade estão em busca de um passatempo, motivadas pela aventura de se estarem próximas da natureza. Desta forma exercitam seu intelecto. Tratase de um hobby muito saudável, que influência no condicionamento físico, emocional e intelectual. Segundo Caldas (2007, p.58), “O que vale é avistar o maior número possível de espécies e anotá-las uma a uma em cadernetas, descrevendo a cor das plumagens, as formas físicas e o comportamento.”

7

Observar aves é uma atividade contemplativa saudável, não somente pelo contato íntimo com a natureza, mas também por ser considerada uma agradável terapia de relaxamento, aliviando o estresse do dia a dia e, permitindo ainda, que o praticante obtenha interessantes informações, da fauna e da flora local. Quando se inicia a prática da atividade é comum a pessoa não perceber cores e formas das aves, da mesma maneira que é comum não conseguir descrever as atividades das aves. Porém, com o passar do tempo, o praticante adquire grande capacidade de percepção. Na opinião de Almeida (2008) “O estudo e o tempo de dedicação levam, naturalmente, ao progresso do nível de detalhamento e à maturidade do conhecimento.” Esta é uma prática considerada ecologicamente correta, uma vez que além de não agredir o meio ambiente, promove a educação ambiental tanto dos praticantes, quanto da comunidade local. Observar aves é uma atividade saudável que desperta o interesse pela avifauna e pela preservação ambiental. Esta atividade tem despertado um número crescente de praticantes, e possibilita o estudo da fauna e da flora de uma forma diferente, até mesmo inusitada. 4.1 OBSERVAÇÃO DE AVES NO BRASIL A atividade é muito organizada e difundida em países como Estados Unidos, Inglaterra, Canadá e Austrália, reunindo milhões de pessoas que viajam o mundo inteiro, inclusive para o Brasil, à procura de novas espécies e novos desafios. Segundo Lobo (2008 apud Molin e Vieira-da-Rocha 2008, p. 34), “O Brasil apresenta a segunda maior biodiversidade de aves do mundo, sendo possuidor de 1822 espécies, das quais 232 exclusivas (endêmicas) dos limites territoriais do País.” Este número (1822) faz do Brasil o país com a segunda maior variedade de aves do planeta e demonstra o grande potencial que a atividade possui no país. Contudo, esta abundância ainda é pouco aproveitada, muito provavelmente devido à grande carência de informações, não apenas da nossa avifauna, mas também de outras espécies da nossa fauna e flora. Caldas (2007, p. 58), acredita que “Só estão faltando os brasileiros descobrirem os prazeres do birdwatching”. As melhores condições para disseminar a cultura da observação de aves no Brasil ocorrem, através de Clubes de observadores, associados a entidades governamentais, e ornitólogos profissionais. Planejamento e organização, é o que a atividade necessita para atingir níveis de satisfação internacional, visto que a avifauna de interesse dos observadores, o Brasil já possui. Em uma pesquisa sobre o potencial econômico da atividade de observação de aves, na região do Vale do Itajaí, Lucas & Mohr (2008), constatam que Quanto à questão “Gostaria de praticar observação de aves?”10,07% dos entrevistados responderam que sim, independentemente das opções; 13,67% sim, dependendo do pacote; 0,72% sim, como atividade principal; 46,77% sim, juntamente com outra atividade; 8,63% sim, enquanto aguardo um amigo ou parente que esteja praticando uma atividade que não seja do meu interesse; e 20,14% responderam que não, independentemente das opções.

8

O estado de Santa Catarina, apesar de não possuir as espécies conhecidas e atrativas das regiões amazônicas e pantaneiras, possui segundo Rosário (1996, p. 14), “[...] 596 espécies de aves [...]” 5 EDUCAÇÃO AMBIENTAL ATRAVÉS DA OBSERVAÇÃO DE AVES A prática da atividade pode ser desenvolvida em qualquer época do ano, algumas com maior outras com menor ocorrência de espécies. Mas, mesmo quando se observa poucas espécies de aves, é possível trabalhar o ciclo da natureza. Entre agosto e novembro as aves são mais fáceis de serem observadas, já que neste período, segundo Caldas (2007, p. 62), “[...] a temperatura é mais generosa, há grande oferta de alimentos, maior produção de flores e frutas, e muita ocorrência de insetos [...]” Em uma pesquisa desenvolvida no Instituto de Educação do Paraná, Molin e Vieirada-Rocha (2008, p. 33), aponta que Embora regional e de pequeno universo amostral, a pesquisa indicou que grande parte dos alunos demonstram grande aceitação da observação de aves como recurso interdisciplinar. Os resultados, desta forma, reforçam opiniões anteriormente divulgadas na literatura que consideraram a atividade no desenvolvimento da educação, por meio de técnicas didáticas alternativas de fácil aceitação.

A atividade de observação de aves surge como uma prática pedagógica alternativa ao ensino dos conteúdos formais, normalmente empregados como educação ambiental. A atividade possibilita compreensão do ambiente sob um enfoque diferente do convencional. Costa, (2007 apud Molin e Vieira-da-Rocha 2008, p. 34) defende que “Um dos objetivos principais da utilização do tema “aves” como multiplicador e integrador no ensino [...] é a sua fácil aplicação e aceitação por parte de todos os públicos.” Para Straube & Vieira-da-Rocha (2006 apud Molin e Vieira-da-Rocha 2008, p. 34) As aves são os organismos mais bem conhecidos e, portanto, mais populares por parte da população brasileira, sendo simpáticas e facilmente observáveis por apresentarem grande diversidade de cores e cantos estabelecendo, assim, uma importante conexão com as práticas de educação ambiental.

Conforme já constatado anteriormente, o Brasil possui uma grande variedade de aves, e segundo Argel-de-Oliveira (1996, p. 263), “As aves urbanas representam um tema muito adequado para o trabalho em Educação Ambiental, principalmente por estarem presentes no próprio ambiente em que os alunos vivem.” Na opinião de Espínola (2007 apud Molin e Vieira-da-Rocha 2008, p. 34) A utilização da observação de aves como instrumento didático é fortalecido pela importância ecológica deste grupo zoológico que, além de compor um grupo amplo, atuam significativamente no controle populacional e em inúmeras relações ecológicas de interesse mútuo com vertebrados, invertebrados e plantas.

No ambiente escolar não é raro encontrar alunos com repulsa de alguns exemplares da fauna, especialmente sapos, morcegos e serpentes. Conforme sugere Argel-de-Oliveira (1996 apud Molin e Vieira-da-Rocha 2008, p. 34), “ao utilizar as aves em educação é possível

9

desenvolver nos alunos a percepção da existência de animais no entorno do ser humano, desmistificando qualquer aversão causada por outros animais [...], reduzindo os riscos de repulsa por parte dos alunos.” Existe uma discussão acerca da formação do professor que utiliza aves em seu trabalho com alunos, existe a necessidade de ser um ornitólogo – especialista em aves. Na opinião de Argel-de-Oliveira (1996, p. 264), “[...] isso não é imprescindível, embora um especialista tenha condições de explorar muito melhor o assunto.” Ocorre também que são poucos os especialistas em aves no Brasil. Além do fato de que, em geral, os especialistas não têm a prática e eficiência no processo educativo de crianças e adolescentes. Evidentemente, a atividade torna-se mais aprofundada com um professor com prática na observação de aves. A diversidade e a facilidade da observação de aves são declaradas por Beckhauser (2004, p. 23) As aves são o grupo de animais que vivem em ambientes urbanos certamente mais familiares ao homem. Podemos confirmar isto analisando que mesmo nos grandes centros é muito comum observarmos, nos quintais de casa, nas praças ou mesmos na rua em trajetos que fazemos no nosso diaa-dia, aves como pardais, rolinhas entre outras.

Um educador pode trabalhar com as aves para promover a educação ambiental, mesmo que ele não tenha muita prática com estas espécies aladas. Esta ferramenta pode ser utilizada com educandos dos mais variados níveis de conhecimento. Conforme propõe Argelde-Oliveira (1996, p. 264), “A simples observação da presença e da atividade das aves, por exemplo no pátio ou nos jardins da escola, em um comedouro, em uma área verde, não requer mais do que ver o animal e acompanhar suas ações durante alguns minutos.” O interessante a se observar e trabalhar com seus alunos são as suas características, alimentação, acasalamento, agrupamento, entre outros. Argel-de-Oliveira (1996, p. 264), lembra ainda que “Mais do que o conhecimento ornitológico, o educador deve perceber o quê há de interessante na situação, como utilizá-la para despertar o interesse do aluno e sua capacidade de observação.” Com o tempo, através das atividades desenvolvidas, Almeida (2008), acredita que [...] o principiante já terá uma grande lista de aves «capturadas», além da relativa familiaridade com insetos, vegetais, relevo, etc. O envolvimento é natural, conforme se aprende a inter-relação dos elementos do meio com o significado da ave no conjunto. Dessa maneira observar ave deixa de ser apenas a confecção de listas e decoração de nomes científicos [...]

A pessoa que tem o intuito de utilizar as aves na prática da educação ambiental, mas que não teve formação acadêmica na área deve procurar informações em livros, sites, revistas, e ainda procurando instituições de pesquisa ou Clubes de Observadores. Utilizar a fauna como ferramenta da educação ambiental pode apresentar bons resultados, pois aborda as inter-relações entre eles, e também com a flora. Dias (2004, p. 261), recomenda [...] que se tentasse preparar um estudo de campo – em uma praça, por exemplo – para determinar o número e a variedade de pássaros que vivem na área [...], os insetos e pequenos animais (sem precisar contá-los), as plantas encontradas, lagos, etc., e com isso buscar a montagem de uma teia alimentar para a comunidade.

10

Ao falar de pombos e pardais, Dias (2004, p. 263), recomenda ainda [...] estudos sobre animais superabundantes em qualquer meio, uma vez que, ao se investigar os motivos desse sucesso reprodutivo, estaremos lidando com fatores limitantes, pressupostos indispensáveis para a compreensão dos mecanismos de regulação encontrados no ambiente, aos quais estamos expostos, de uma forma ou de outra, em maior ou menor intensidade.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS A atividade de observação de aves se demonstra um tema adequado para o trabalho em Educação Ambiental, principalmente por ter seu objeto principal, as aves, convivendo com os alunos, seja na escola, em casa, ou em praças e outros locais onde estes interajam. Trata-se de uma ferramenta para a educação ambiental que permite ao educando um contato mais próximo com a natureza, sem que este esteja invadindo um espaço que não lhe pertence, e, sem colocar em risco a vida dos animais, ou a sua própria. As aves despertam o interesse e a empatia dos alunos, de forma que outros grupos de animais urbanos não despertam. A prática desta atividade pode resultar em atividades para docentes das mais variadas disciplinas. Por exemplo, em ciências se pode trabalhar a morfologia das aves observadas e /ou a manutenção da floresta realizada pelas aves responsáveis pela dispersão de sementes; em matemática se podem desenvolver trabalhos com o número de aves observadas e /ou as famílias a qual elas pertencem; em português se pode trabalhar uma redação e /ou seus nomes populares; em história é possível trabalhar as aves que são citadas na História, a exemplo dos urubus, que no período do Brasil Colônia era o grande responsável pela limpeza das cidades; em geografia se pode tratar com os alunos o motivo da ocorrência dos urubus em locais próximo a aeroportos, e o porquê dos acidentes aéreos com estas aves; e em educação física, é possível organizar a prática da atividade. 7 REFERÊNCIAS ALMEIDA, S. de, 2009. A Observação de Aves. Atualidades Ornitológicas. Disponível em: . Acesso em: 6 fevereiro 2009. ARGEL-DE-OLIVEIRA, M. M., 1996. Subsídios para a atuação de biólogos em Educação Ambiental. O uso de aves urbanas em educação ambiental. Mundo da Saúde, 20(8): 263270. BECKHAUSER, L. & MOHR, M. & TAFNER, M. J. 2004. Guia de Observação de Aves do Vale Europeu. Indaial – SC: Ed. ASSELVI. BRASIL. Lei 9.795, de 27 de abril de 1999. Dispõe sobre a educação ambiental, institui a Política Nacional de Educação Ambiental e dá outras providências. Diário Oficial da União, 28. abr. 1999. Disponível em: < http://www.soleis.com.br/L9795.htm> Acesso em: 15 fevereiro 2009. BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: terceiro e quarto ciclos: apresentação dos temas transversais / Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1998. Disponível em:

11

. Acesso em: 25 fevereiro 2009. DALMORA, E., 2007. Educação Ambiental. Indaial: Editora ASSELVI, 2007. DIAS, G. F., 2004. Educação ambiental: princípios e práticas. 9ª edição. São Paulo: Editora Gaia, 2004. FARIAS, G. B., 2007. A observação de aves como possibilidade ecoturística. Revista Brasileira de Ornitologia, 15(3): 474-477. CALDAS, Sérgio Túlio. Olha o passarinho. Globo Rural, São Paulo, n. 262, p. 56-65, ago. 2007. LUCAS, P. L. & MOHR, M. 2008. Potencial Econômico da Atividade de Observação de Aves. Disponível em: . Acesso em: 20 dezembro 2008. MATA, H.; CAVALCANTI, J. A. 2008. A Ética Ambiental e o Desenvolvimento Sustentável. Revista de Economia Política, vol. 22, nº 1 (85), janeiro-março/2002. Disponível em . Acesso em: 28 outubro 2008. MOLIN, T. & VIEIRA-DA-ROCHA, M. C., 2008. A aceitação da observação de aves como ferramenta didática no ensino formal. Atualidades Ornitológicas On-line Nº 146 Novembro/Dezembro 2008: 33-37. ROSÁRIO, L. A. do. 1996. As aves em Santa Catarina: distribuição geográfica e meio ambiente. Florianópolis: FATMA, 1996. SANTOS Jr., H. N. 2008. Ética Ambiental - Paradigma ou Conduta Profissional. Disponível em < http://www.saude.inf.br/etica.htm>. Acesso em: 29 outubro 2008. SILVA, G. A. da; CARVALHO, C. M. de; SILVA, O. B. da; SATTLE, M. A. 2007. Subsídios ao Debate Científico: Ética, Educação Ambiental e Desenvolvimento Sustentável. Revista Eletrônica Mestrado em Educação Ambiental, v.18, janeiro a junho de 2007. Disponível em . Acesso em: 28 outubro 2008.

Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.