Observações sobre a estrutura da significação em Metafísica Γ 4

July 14, 2017 | Autor: Vivianne Moreira | Categoria: Aristotle, Ancient Greek Philosophy, Aristotle's Metaphysics, Ancient Greek logic
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Journal of Ancient Philosophy ISSN 1981-9471 - FFLCH/USP www.revistas.usp.br/filosofiaantiga

J. anc. philos. (Engl. ed.), São Paulo, v.9, n.1. p. 22-40, 2015. DOI: http://dx.doi.org/10.11606/issn.1981-9471.v9i1p22-40

Observações sobre a estrutura da significação em Metafísica Γ 4

Vivianne de Castilho Moreira

This article is intended to examine the structure and scope of the argumentation drawn in Metaphysics Γ 4, 1006a18-b34. As we shall see, though this passage does not bring a complete proof of the Principle of Non-Contradiction (PNC), it corresponds to its first step, which consists in determining the conditions of meaning necessary for discourse. That passage encloses in nuce the reasons which underlie Aristotelian conviction concerning the conventional nature of names and also brings to light the way this conventional nature of names must be understood according to Aristotle.

O presente trabalho é dedicado ao exame do trecho de Metafísica Γ 4 compreendido entre 1006a18-b34, onde Aristóteles dedica-se ao estabelecimento das condições da significação necessária ao discurso1. Como se pretende mostrar, esse trecho, que se encontra no bojo da prova do Princípio de Não-Contradição (PNC), encerra em germe as razões que subjazem à convicção quanto ao caráter convencional da significação dos nomes, que Aristóteles assume no tratado De Interpretatione2. Não apenas isso, mas ilumina também a acepção sob a qual se deve compreender a natureza convencional dos nomes segundo Aristóteles. Antes, porém, de dar início a esse exame, é importante sumarizar alguns resultados obtidos precedentemente na mesma obra que servirão de pressuposto e fio condutor da presente investigação. Conforme concluído em Metafísica Γ 3, o PNC é um princípio absolutamente primeiro, visto ser pré-requisito para se compreender o que quer que se-

1

Este trabalho contou com o apoio da Fundação Araucária. Agradeço a Anderson Borges, Edgar Marques, Guilherme Guizoni, Marco Zingano, Marcos Gleizer, Marcos Rosa, Maria das Graças Augusto, Raphael Zillig e Ulysses Pinheiro pelas valiosas discussões e observações às versões prévias deste trabalho. Agradeço também aos estudantes de graduação e pós-graduação que acompanharam a pesquisa da qual este é um resultado parcial, especialmente a José Costa Neto, por suas observações tão argutas quanto fulcrais. Agradeço, por fim, a Sálvio Nienkötter, pela leitura atenta e as sugestões à versão prévia deste texto. 2

“Nome é um som que significa consoante uma convenção” (1949, De Interpretatione 2, 16a19).

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ja3. Segue-se daí que ele não pode supor nada anterior do qual pudesse ser inferido. Essa exigência implica outra: que a prova do PNC não encerre nenhuma crença que, aí se miscuindo, seja explícita, seja tacitamente, pudesse ser denunciada como premissa4. Eis a razão pela qual o início da prova deve contemplar dois requisitos. Em primeiro lugar, deve ficar a cargo daquele para quem ela é tecida. Afinal, o ponto de partida escolhido por quem tece a prova, qualquer que fosse, poderia soar um pressuposto que, como tal, ameaçaria a primazia do princípio5. Em segundo lugar, não deve expressar uma crença – não deve, por conseguinte, possuir uma estrutura proposicional, dado que, evidentemente, uma pretensa proposição, na medida em que ergue uma pretensão à verdade, veicularia uma indesejável premissa da prova6. O ponto de partida da prova, por outro lado, deve satisfazer a condição elementar do discurso, porquanto, conforme sublinha Aristóteles, seria risível buscar discurso no que nada diz7. Claro que, inversamente, a condição elementar do discurso se satisfaz com a mera consumação do ato de dizer algo, o que quer que seja. Visto que, como será detalhado adiante, dizer ou enunciar algo envolve significar algo para si próprio e também para outro, o ponto de partida da prova repousa no duplo compromisso, firmado por aquele para quem a prova é tecida, de significar algo para si próprio e para outrem. Diz Aristóteles: E o ponto de partida para todos os argumentos desse tipo não é dizer que algo é ou que não é (pois alguém imediatamente poderia pensar que isso seria uma petição de princípio), mas significar algo para si mesmo e para outro. Pois isso é necessário se disser algo. Senão não haveria discurso de alguém assim, nem de si consigo mesmo nem com outro8.

3

1005b11-23.

4

Para uma interpretação divergente, ver A. Code, “Aristotle’s Investigation of a Basic Logical Principle: Which Science Investigates the Principle of Non-Contradiction?” in: Canadian Journal of Philosophy, Vol. 16, Nº 3 (1986), p. 346.

5

1006a11-18 e 25-26.

6

1006a18-21.

7

Cf. 1006a12-15. Como observa Kirwan (Aristotle, Metaphysics Γ, Δ and Ε, Oxford 2003, p. 92), Aristóteles opõe aqui “dizer algo” a “dizer nada”, o que permite concluir que, nesta circunstância, basta ao adversário satisfazer uma condição discursiva mínima, suficiente para assegurar que ele diga algo, antes que nada. Aristóteles serve-se aqui do verbo “λέγειν” e do substantivo cognato “λόγος”, o que nos poderia conduzir a presumir que o que é solicitado ao adversário tenha uma estrutura proposicional. Ele dissolve essa suspeita imediatamente a seguir, sublinhando que, para satisfazer a condição discursiva mínima, basta ao adversário significar algo, para si e para outro. Ora, para que algo seja significativo, não é necessário que seja uma proposição; itens discursivos mais simples, como os nomes, também são significativos, como Aristóteles afirma no seu opúsculo De Interpretione (2, 16a19).

8

ἀρχὴ δὲ πρὸς ἅπαντα τὰ τοιαῦτα οὐ τὸ ἀξιοῦν ἢ εἶναί τι λέγειν ἢ μὴ εἶναι (τοῦτο μὲν γὰρ τάχ᾽ ἄν τις ὑπολάβοι τὸ ἐξ ἀρχῆς αἰτεῖν) ἀλλὰ σημαίνειν γέ τι καὶ αὑτῷ καὶ ἄλλῳ· τοῦτο γὰρ ἀνάγκη, εἴπερ λέγοι τι.

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Isso estando estabelecido, o próximo passo consistirá em averiguar o que está envolvido no ato de significar algo para si próprio e para outro. Aristóteles concluirá, como veremos na sequência, que esse ato requer a satisfação de duas condições que se recobrem. A primeira consiste na circunscrição de um item delimitado, correspondente à dimensão psíquica do significado estabelecido para o nome. A segunda consiste no estabelecimento de um enunciado veiculando aquele significado, enunciado por meio do qual ao mesmo tempo se circunscreve o item psíquico constitutivo da significação e se instaura o campo intersubjetivo que torna possível o diálogo. Na sequência do texto, Aristóteles sintetiza essa conclusão com as seguintes palavras: E se concordar com isso terá concordado que algo é verdadeiro independentemente de demonstração, de modo que nem tudo será assim e não assim. Primeiramente, portanto, é claro que isto é verdadeiro: que o nome significa ser ou não ser isto, de modo que nem tudo será assim e não assim9.

O trecho que continua essa passagem e se estende até 1006b34 é um detalhamento do argumento que justifica a conclusão supramencionada. É visível que aqui a noção de significação desempenha papel central, dado que, como lemos, significar algo é uma condição do dizer e uma condição que se desdobra na dupla condição anteriormente assinalada, a saber, significar algo para si mesmo e significá-lo também para outrem. A análise do trecho em tela, nesta medida, deve iniciar pela elucidação da noção de significação que Aristóteles tem em vista. O texto, no entanto, não traz qualquer elucidação dessa noção. A omissão de Aristóteles é compreensível se considerarmos que qualquer caracterização que se assuma de antemão para o termo “significar” poderia se configurar em uma preεἰ γὰρ μή, οὐκ ἂν εἴη τῷ τοιούτῳ λόγος, οὔτ᾽ αὐτῷ πρὸς αὑτὸν οὔτε πρὸς ἄλλον. (Metafísica Γ 4, 1006a18-24). 9

ἔτι δὲ ὁ τοῦτο συγχωρήσας συγκεχώρηκέ τι ἀληθὲς εἶναι χωρὶς ἀποδείξεως, ὥστε οὐκ ἂν πᾶν οὕτως καὶ οὐχ οὕτως ἔχοι. πρῶτον μὲν οὖν δῆλον ὡς τοῦτό γ᾽ αὐτὸ ἀληθές, ὅτι σημαίνει τὸ ὄνομα τὸ εἶναι ἢ μὴ εἶναι τοδί, ὥστ᾽ οὐκ ἂν πᾶν οὕτως καὶ οὐχ οὕτως ἔχοι· (Metafísica Γ 4, 1006a26-31). Acompanho aqui as observações feitas por Cassin e Narcy (Aristote, La décision du Sens: Le livre Gamma de la Métaphysique d’Aristote - Introduction, texte, traduction et comentaria, 1989, pp. 187-189) a respeito das traduções que, na esteira de Bonitz (ARISTOTELIS, Metaphysik - trad., Rowohlt, 1966), foram propostas para o trecho “σημαίνει τὸ ὄνομα τὸ εἶναι ἢ μὴ εἶναι τοδί”. Tal é o caso, por exemplo, da tradução de J. Tricot (1991, p. 200), em que lemos o seguinte: “les mots être et n’être pas signifient quelque chose de déterminé”. Ver também Ross. D. (Metaphysics. Vols. I e II. - ed. and comment, Clarendon Press, 1997, p. 265, §28) e Aubenque, P. (Le problème de l’être chez Aristote, Puf: 2002, p. 172 - n. 2). A tradução de Bonitz (op. cit., pp. 74-75) traz: “Zuerst nun also ist eben dies selbst wahr, daß das Wort (ónoma) und das Word etwas Bestimmtes (todi) bezeichnet”. Bonitz, por seu turno, ampara-se no comentário de Alexandre de Afrodísias em 231, 30-31, onde lemos: “ὀνόματα δὲ εἶπε τὸ τε εἶναι καὶ τὸ μὴ εἶναι”). Para esse trecho, Bonitz propõe a seguinte versão: “τὰ ὀνόματα, τὸ τε εἶναι καὶ τὸ μὴ εἶναι σημαίνει ὡρισμένον τι” (BONITZ, Aristotelis Metaphysica recognovit et enarravit - Pars Posterior. Bonn, 1849, pp. 189-190).

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missa ou pressuposição prévia à prova, o que não condiz com o primado do PNC. Uma pretensa delimitação prévia da noção de significação poderia ser rejeitada pelo interlocutor para quem a prova é tecida, visto que, embora ele já tenha se comprometido em satisfazer a dupla condição de significar algo para si próprio e para outrem, nada concedeu ainda a respeito da natureza da significação, nem, correlativamente, das condições a serem satisfeitas para que seja possível satisfazer aquela dupla condição. Assim sendo, o que se reconhecerá como condição necessária para satisfazer a dupla condição supramencionada, não podendo ser um pressuposto da prova, deve emergir da própria argumentação, que, como já anunciado, será exposta na sequência, onde lemos o seguinte: Então, se homem significa um, seja isto animal bípede. E chamo significar um isto: se isto é homem, caso algo seja homem, isto será o ser para homem – não faz diferença se alguém disser que significa muitos, desde que estes sejam determinados, pois então se poderia estabelecer um nome diferente para cada enunciado . Digo, por exemplo, se não disser que homem significa um, mas muitos, de um dos quais animal bípede seria um único enunciado; e que haveria também vários outros, mas em número determinado, pois se poderia estabelecer um nome específico para cada enunciado. E se não se estabelecer, mas disser que significa ilimitados, é evidente que não haverá discurso. Pois não significar um é significar nada e, se os nomes não significarem, se suprimirá o dialogar uns com os outros e, na verdade, também consigo mesmo. Pois não é possível compreender nada a não ser que se compreenda um e, se é possível [compreender], pode-se estabelecer um único nome para esse fato10.

O trecho inicia com o exemplo de um caso particular de significação, a saber, a relação de um nome – no exemplo, “homem” – com um enunciado – no exemplo, o enunciado “animal bípede”. Aristóteles se deterá no exame desse caso até a conclusão da primeira parte da prova, em 1006b34. Assim introduzida a discussão, pareceria que, ao contrário do que foi dito, ele já suporia operante uma determinada acepção de significação, acepção que envolveria assumir que os significados dos nomes consistem em enunciados. A sequência do texto dissolve essa suspeita, já que nela se trata precisamente de evidenciar a necessidade de se assumir que os significados dos nomes encerrem enunciados: trata-se de mostrar que, salvo sob a suposição de um enunciado delimitado que instaure a significação de um nome, “se suprimirá o dialogar” (1006b8) – ali-

10

ἔτι εἰ τὸ ἄνθρωπος σημαίνει ἕν, ἔστω τοῦτο τὸ ζῷον δίπουν. λέγω δὲ τὸ ἓν σημαίνειν τοῦτο· εἰ τοῦτ᾽ἔστιν ἄνθρωπος, ἂν ᾖ τι ἄνθρωπος, τοῦτ᾽ ἔσται τὸ ἀνθρώπῳ εἶναι - διαφέρει δ᾽οὐθὲν οὐδ᾽ εἰ πλείω τις φαίη σημαίνειν μόνον δὲ ὡρισμένα, τεθείη γὰρ ἂν ἐφ᾽ἑκάστῳ λόγῳ ἕτερον ὄνομα· λέγω δ᾽ οἷον, εἰ μὴ φαίη τὸ ἄνθρωπος ἓν σημαίνειν, πολλὰ δέ, ὧν ἑνὸς μὲν εἷς λόγος τὸ ζῷον δίπουν, εἶεν δὲ καὶ ἕτεροι πλείους, ὡρισμένοι δὲ τὸν ἀριθμόν· τεθείη γὰρ ἂν ἴδιον ὄνομα καθ᾽ἕκαστον τὸν λόγον· εἰ δὲ μή τεθείη, ἀλλ᾽ ἄπειρα σημαίνειν φαίη, φανερὸν ὅτι οὐκ ἂν εἴη λόγος· τὸ γὰρ μὴ ἓν σημαίνειν οὐθὲν σημαίνειν ἐστίν, μὴ σημαινόντων δὲ τῶν ὀνομάτων ἀνῄρηται τὸ διαλέγεσθαι πρὸς ἀλλήλους, κατὰ δὲ τὴν ἀλήθειαν καὶ πρὸς αὑτόν· οὐθὲν γὰρ ἐνδέχεται νοεῖν μὴ νοοῦντα ἕν, εἰ δ᾽ ἐνδέχεται, τεθείη ἂν ὄνομα τούτῳ τῷ πράγματι ἕν) (Metafísica Γ 4, 1006a31-b11).

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ás, até mesmo o próprio pensar, se este for entendido, na esteira de Platão11, como um diálogo consigo mesmo (1006b9). No trecho em tela, portanto, Aristóteles antecipa a conclusão de um argumento a ser desenvolvido na sequência. Ele inicia a argumentação com a suposição de que o interlocutor não reconheça que a significação de um nome envolva um enunciado determinado e passa a extrair consequências dessa suposição. Consoante a suposição, o interlocutor objetaria que a significação do nome “homem” não estaria circunscrita a algo delimitado, mas significaria “muitos”. Resta-nos averiguar a que tipo de item Aristóteles pretenderia referir-se pela expressão “muitos”. Duas alternativas se mostram possíveis. A primeira seria presumir que “muitos” quantificaria o que corresponderia ao significado do nome, isto é, quantificaria o “τι” figurando na expressão “σημαίνειν τι καὶ αὑτῷ καὶ ἄλλῳ” em 1006a21. Nesse caso, o “τι” remeteria a itens delimitados e apartados um do outro, pouco importando aqui qual seria sua natureza, se seriam enunciados, objetos existentes no mundo, pretensas quididades ou ainda algum outro candidato. Entendida desse modo, a multiplicidade em pauta poderia ser assimilada a um caso de homonímia: o interlocutor retrucaria que, tal como acontece com palavras como “sobretudo” ou “lapidar” em língua portuguesa, o termo “homem” por ele escolhido teria a peculiaridade de significar mais do que um único item delimitado12. Sem levar a sério a solicitação para que signifique algo , o interlocutor objetaria que o nome por ele escolhido significaria não tanto “algo”, mas, por assim dizer, “algos”: “τινά”, ao invés de estritamente “τι”. A segunda maneira de compreender sob que acepção Aristóteles empregaria “muitos” nessa passagem seria considerar que esse termo expressaria não propriamente a afirmação de uma multiplicidade dos “algos” significados pelos nomes polissêmicos, mas, antes, a recusa de que uma unidade pudesse ser demarcada de sorte a constituir aquele “algo” passível de corresponder ao significado de um nome13. O interlocutor objetaria, então, que, tal como as compreende, as significações dos nomes No diálogo Theaetetus, Platão caracteriza o pensamento como um “discurso que alma discorre consigo mesma a respeito do que examina (...) . Pois, ao pensar, ela não (…) parece senão dialogar, perguntando e respondendo de si para si própria e dizendo sim ou não” (Theaetetus, 189e2-190a2). 11

12

É este o viés interpretativo adotado por Cassin e Narcy (op.cit.). Cf., p. 191, sobre 1006b2-4.

13

Claro que esta alternativa não exclui a dificuldade erguida na outra. No caso peculiar dos nomes polissêmicos, a objeção corresponderia à negação de que uma unidade pudesse ser demarcada de sorte a constituir cada um dos diferentes “algos” homônimos.

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seriam intrinsecamente complexas. O nome “homem”, para retomar o exemplo, evocaria uma complexidade de características amalgamadas uma à outra, dentre as quais a que se deixa apanhar pela descrição “animal bípede”. Duas dificuldades enfraquecem a primeira alternativa. Uma delas é que ela presume de antemão acatada a unidade do “algo” significado – ou, alternativamente, de cada um dos “algos” partilhando um nome polissêmico. Mesmo que permaneça indeterminado o tipo preciso de item que constituiria esse “algo” significado, é certo que ele é presumido exibir uma unidade intrínseca, de tal maneira que, para solucionar a dificuldade, bastaria multiplicar os nomes de sorte a estabelecer uma correspondência biunívoca de cada nome com cada um dos “algos” já pressupostos cada qual intrinsecamente uno. Ora, como já salientado, uma pressuposição dessa natureza não pode ser assumida, visto violar a orientação inicial de que a prova do PNC não pode demandar qualquer pressuposto. Esse mesmo inconveniente é também a raiz da outra dificuldade, que reside na suposição tácita de que os significados dos nomes consistam em enunciados. Com efeito, em se assumindo a primeira interpretação para o termo “muitos”, resulta difícil explicar a solução proposta por Aristóteles para eliminar a polissemia – solução que repousa em reservar um nome específico para cada enunciado – a não ser arcando o ônus de se atribuir a Aristóteles a pressuposição subreptícia de que seriam enunciados aqueles itens presumidos unos aos quais cada nome deve ser associado. Essas dificuldades são evitadas se adotarmos a outra maneira de se interpretar o termo “muitos” a que se refere Aristóteles. Consoante essa perspectiva, como já antecipado, seria a unidade do que o interlocutor significa para si e para outro que seria colocada sub judice. Atento à solicitação para que signifique algo , o interlocutor ponderaria que esse algo que entende corresponder ao significado de um nome exibiria uma natureza não una, mas múltipla. Para nos valermos do exemplo mobilizado por Aristóteles, e como este retomará logo adiante no texto, o interlocutor objetaria, por exemplo, que, tal como o entende, o significado do nome “homem” consistiria em um complexo reunindo uma diversidade de características, dentre as quais aquela que se deixa descrever pelo enunciado “animal bípede”, sem que, contudo, houvesse qualquer relação exclusiva ou privilegiada entre aquele nome e essa característica específica. O interlocutor pareceria assim levar em conta que não se pode admitir um homem que não tenha uma

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cor, uma extensão, uma compleição qualquer14, assim como não se pode conceber um círculo sem ipso facto considerar seus segmentos, como, aliás, Aristóteles retomará ulteriormente15. Assim exposto, o assunto não é novidade na obra de Aristóteles. Alhures na Metafísica, mais precisamente em Α 5, o autor considera a perspectiva a partir da qual emerge a objeção tal como entendida logo acima e, atribuindo-a a alguns de seus interlocutores, critica-os considerando que eles …definiam de maneira superficial e julgavam que àquilo a que primeiramente inerisse o termo dito seria a essência do fato, como se alguém julgasse serem o mesmo dobro e dupla porque dobro inere primeiramente às duplas. Contudo, certamente ser para o dobro e ser para a dupla não são o mesmo. Caso contrário o uno será múltiplo, o que para eles também se seguia16. 14

Esta segunda maneira de entender a natureza da objeção não apenas está livre das dificuldades que comprometem a outra maneira, mas também traz dois benefícios suplementares à interpretação da prova. O primeiro diz respeito à unidade da prova, pois, como ficará claro adiante, não será preciso presumir que a seguir, ao distinguir “significar um” de “significar de um”, Aristóteles esteja introduzindo um assunto novo. Ao contrário, será necessário ver na argumentação que então se tecerá uma continuação da discussão aqui travada. O segundo benefício consiste em conferir alguma pertinência à objeção. Esta não poderá mais ser sumariamente desconsiderada como uma “interpretação grosseira de ‘ter um significado’, que tornaria possível ao adversário de má fé contornar o argumento com facilidade”, como sugere R. Zillig (Significação e Não Contradição: o papel da noção de significação na defesa do princípio de não contradição em Metafísica Γ 4. Em: Revista Analytica, Vol. 11, nº 1, 2007, p. 116). Nessa mesma medida, tampouco haverá maneira de buscar na saída de Aristóteles uma solução trivial, que, por isto mesmo, deixaria sem resposta o adversário sinceramente engajado com o problema. R. Dancy (Sense and Contradiction - A Study in Aristotle, Reidel, 1975, II, iv, B - p. 45 e seg.) propõe para a objeção uma interpretação que partilha o primeiro benefício, de resguardar a unidade da argumentação, mas difere da interpretação proposta aqui em um aspecto decisivo, na medida em que remete a multiplicidade alegada pelo contendor a uma confusão entre “significar um” e “ser verdadeiro de um”. A fragilidade dessa sugestão repousa em que ela culmina por conferir à objeção uma natureza ainda mais grosseira do que aquela temida por Zillig. De fato, a hipótese de que a multiplicidade da significação seja fruto de homonímia ainda preserva a discussão em torno da noção de significação, que, como Aristóteles já havia assinalado, constitui o cerne desta primeira parte do argumento (1006a18-21). Já a hipótese de que a multiplicidade seja fruto de uma confusão entre a significação e algo de natureza diversa torna a objeção a tal ponto despicienda que resultaria surpreendente que Aristóteles a tomasse em consideração. Dancy não deixa de reconhecer a dificuldade ao considerar que sua interpretação ampara-se na suposição de que o interlocutor delineado por Aristóteles sequer teria compreendido o teor do que lhe fora demandado (id., p. 49).

15

Cf. Metafísica Z 9, 1034b20-30.

16

ὡρíζοντó τε γάρ ἐπιπολαíως, καì ᾧ πρώτῳ ὑπáρξειεν ὁ λεχθεìς ὅρος, τοῦτ' εἶναι τὴν οὐσíαν τοῦ πρáγματος ἐνóμιζον, ὤσπερ εἴ τις οἴοιτο ταὐτòν εἶναι διπλáσιον καì τὴν δυáδα διóτι πρῶτον ὑπáρχει τοῖς δυσì τò διπλáσιον. ἀλλ' οὐ ταὐτòν ἴσως ἐστì τò εἶναι διπλασíῳ καì δυáδι· εἰ δη μή, πολλὰ τò ἓν ἔσται, ὃ κἀκεíνοις συνέβαινεν. (Metafísica Α 5, 987a22-27). É oportuno observar a afinidade entre a objeção discutida por Aristóteles aqui e a dificuldade examinada por Platão no diálogo Theaetetus, concernente à possibilidade da opinião falsa que decorreria, aparentemente, de uma confusão ocorrendo no âmbito puramente psíquico entre os registros que constituem nossos conhecimentos. Platão ilustra esse tipo de confusão por meio de uma conta simples, na qual opinaríamos uma equivalência, por exemplo, entre as expressões “a soma de sete e cinco” e “onze”, quando é sabido que sete e cinco somam doze, não onze (Theaetetus, 195e9-196b7). Tal como apresentada por Platão, e para ficarmos no exemplo de que ele se serve, a dificuldade emerge quando se considera que aquilo se designa por “doze, em que nada mais se faz senão pensar” (195e1-2), deixa-se apanhar igualmente por uma miríade de outras expressões, tais como “sete mais cinco”, “oito mais quatro” ou “não equivalente a onze”, não sendo, nesta medida, mais doze do que é sete mais cinco, oito mais quatro ou não equivalente a onze. A dificuldade erguida por Platão aparentemente não surgiria se os conteúdos psíquicos a que

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Por fim, é oportuno ressaltar que essa segunda maneira de entender o termo “muitos” na passagem realça aquela dupla condição demandada ao interlocutor, a saber, de que o “τι” que se pretenda significar, pouco importa sua natureza17, o interlocutor o signifique para si próprio e para outro . Afinal, o compromisso firmado em dizer ou significar algo para si e para outro já afasta a hipótese de que aquele que pronuncia um nome com a intenção de significar algo para outro nada tenha em mente a respeito do que intenta significar. E afasta igualmente a hipótese de que significar algo para outro não requeira suscitar nele a concepção daquilo que se intentou significar. De resto, expostas dessa maneira, as condições a serem contempladas para se sigassociamos os nomes como o que concebemos serem suas significações não fossem presumidos nessa altura do diálogo intrinsecamente complexos, de tal sorte que, sob qualquer que fosse o nome, se concebesse um conteúdo que, sob a roupagem de uma unidade, se desdobraria em uma multiplicidade de aspectos amalgamados, também concebidos indissociáveis entre si. 17

Por razões diferentes, essas considerações permitem evitar as restrições que M. Zingano (Notas sobre o Princípio de não Contradição em Aristóteles. Em: Cadernos de História e Filosofia da Ciência, Série 3, Vol. 13, nº 1, 2003), por um lado, e Cassin e Narcy (ARISTÓTELES, 1988) por outro, estimaram ser necessário impor à liberdade do interlocutor em escolher o que dirá. Segundo Zingano (Id., p. 19), deve haver “uma limitação: o que ele diz, ὁ τι λέγει, deve significar algo do mundo (falsa ou verdadeiramente), isto é, deve σημαίνειν τι; tal resultado não é obtido se gritar ai ou disser oxalá, pois saímos então do discurso apofântico, que pretende dizer algo do mundo”. Cassin e Narcy, por seu turno, evocam um “limite inferior”, assinalado por Aristóteles em sua Poética, por meio do qual se excluiriam as alternativas facultadas pelas conjunções e pelas partículas, tais como as preposições, declaradas nessa obra como “vozes não significantes” (Poética, 1456b39; 1457a6). Cassin e Narcy daí inferem que “o adversário que dissesse ‘então’ não seria refutado” (ARISTÓTELES, 1998, p. 25). A restrição proposta por Zingano talvez enfrentasse dificuldade para ser acolhida por um interlocutor tal como o Crátilo apresentado por Aristóteles adiante no texto, em Metafísica Γ 5. Aí Aristóteles se detém naqueles que, restringindo sua consideração aos seres sensíveis, por concluir que nada pode ser dito verdadeiramente a respeito do que está em movimento, culminaram por sustentar opiniões pouco defensáveis, como aquela defendida por Crátilo, já mencionado, que, julgando que nada poderia ser dito com respeito a esses seres, acreditava que nada mais restava senão acenar com o dedo (Cf. 1010a1-15). Convém sublinhar que, em outro trabalho, Zingano (Sêmainein hen, sêmainein kath’ henos et la preuve de 1006b28-34, em: ARISTOTE. Métaphysique Gamma − Édition, Traduction, Études. Hecquet-Devienne., M. (ed. et trad.) et Stevens, A. (org.), Peeters, 2008, pp. 406-407) reconsidera sua restrição. Aí, de acordo com ele, “o ponto importante é que se trata de termos que permitam falar de algo, não no sentido de apanhar um objeto do mundo, mas no sentido de estabelecer uma peça coerente de conversação (…). A prova, com efeito, funciona tanto se o oponente disser quimera quanto se disser homem, mesmo que não exista quimera, como todos sabem (…). Aristóteles escreve σημαίνειν γέ τι καὶ αὑτῷ καὶ ἄλλῳ, e isso tampouco é gratuito. O argumento tem lugar desde que o oponente ao menos signifique algo para si e para outrem, quer dizer, desde que ele aceite entrar em uma conversação”. Quanto à restrição sugerida por Cassin e Narcy, não é necessário assumi-la aqui, em primeiro lugar, porque não se demanda do interlocutor mais do que a competência em recortar um conteúdo psíquico específico por meio do enunciado correspondente ao que entende ser a significação do termo respectivo. Assim, na medida em que o interlocutor revela conceber algo enquanto aquilo que o termo significa para ele, nessa mesma medida ele revela ter satisfeito a condição mínima suficiente para que a prova tenha início. Além disso, na medida em que emprega no diálogo expressões como “então” ou “sim”, concebendo que, no diálogo, elas desempenham um papel qualquer, nessa mesma medida está autorizado a selecionar qualquer dessas expressões como o que constituirá o ponto de partida da prova. Por fim, convém ressaltar que a restrição sugerida não se coaduna com a orientação de que nenhum princípio ou pressuposto deve ser assumido nem demandado ao interlocutor previamente à prova. Desse ponto de vista, nada autoriza a incorporar, como requisito para a prova do PNC, teses ou conclusões a que Aristóteles chega alhures por raciocínios que talvez já suponham o PNC, ou partindo de premissas cujas justificativas talvez o requeiram.

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nificar algo para si próprio e para outro satisfazem a exigência inicial, pois o que nelas se requer ou presume assumido pelo interlocutor não vai além do que já foi demandado como condição do diálogo. Essas considerações pesam decisivamente em favor da segunda maneira de se entender o termo “muitos” na passagem, favorecendo em igual medida a conclusão de que a objeção conjeturada por Aristóteles consista em realçar a multiplicidade intrínseca ao que se concebe corresponder ao significado de um nome. À objeção assim entendida, a resposta de Aristóteles repousaria na ponderação de que, a fim de assegurar a dupla condição do dizer, seria necessário que o falante dissecasse, por assim dizer, aquela multiplicidade – o que seria possível desde que dita multiplicidade pudesse ser exaustivamente desmembrada18. Ora, isso não pode ser efetuado dissolvendo o “algo” significado enquanto tal, porquanto este já foi reconhecido intrinsecamente múltiplo. Para retomar os exemplos de Aristóteles, já se reconheceu inadmissível – ou, se se preferir, inconcebível – um animal bípede que não possua qualquer cor ou extensão, dentre outras características, ou uma dupla que não seja dobro. Assim, não podendo ser efetuado nesse polo da significação, resta que o desmembramento seja efetuado no outro, a saber, no âmbito do expediente pelo qual o falante significa aquele múltiplo para si e para outro, isto é, no âmbito discursivo. Reiterando as palavras de Aristóteles, se o interlocutor insistir que “homem” significa não “um, mas muitos, de um dos quais19 ‘animal bípede’ seria um só enunciado, havendo, contudo, também vários outros, mas em número determinado”, neste caso “se poderia estabelecer um nome específico para cada enunciado” (1006b2-5)20. Vemos que, entendida desse modo a resposta de Aristóteles, a introdução dos enunciados enquanto aquilo a que se deve associar a significação de um nome, assim assegurando a unidade da significação dirigida ao diálogo, não se afigura um pressuposto sub-reptício da prova, mas emerge como a saída para a dificuldade de se garantir aquela unidade da significação.

18

O que se assegura se os itens em que se decompõe forem enumeráveis .

19

Grifo a expressão para frisar o genitivo ὧν ἑνὸς na expressão “ὧν ἑνὸς μὲν εἷς λόγος τὸ ζῷον δίπουν”, que não deixa dúvida quanto à convicção de que o que a esta altura se afirma corresponder ao significado do nome não seria tanto o enunciado, mas aquilo a que corresponde o enunciado. A multiplicação dos nomes a fim de assegurar que a cada enunciado corresponda um nome específico responderia, portanto, à necessidade de assegurar diferentes nomes para diferentes enunciados, todos, contudo, reconhecidos concernentes a um mesmo múltiplo que unifica os diferentes aspectos recortados nos enunciados respectivos.

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Grifo meu.

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A explicação para a necessidade de assegurar uma unidade à relação de significação será oferecida em um momento subsequente da prova e imporá, como veremos adiante, a distinção entre dois aspectos da significação: o que Aristóteles designa por significar um e o que designa por significar de um , já mencionada precedentemente. A importância dessa distinção é avançada antes mesmo que seu teor seja explicitado e consiste na ponderação de que, caso não se distinga significar um de significar de um, todos os nomes por meio dos quais se remete a um mesmo conteúdo psíquico múltiplo resultariam sinônimos. Aristóteles afirma: …pois não consideramos significar um o significar de um, visto que assim culto, branco e homem significariam um, de modo que todos seriam um, pois todos seriam sinônimos27.

O texto não oferece uma explicação para a expressão significar de um, mas os desdobramentos da argumentação deixam pouca margem a dúvida: por significar de um Aristóteles designaria aquela dimensão psíquica múltipla da significação, que fornece o terreno sobre o qual se instauram as relações de significar um. Trata-se da relação do nome com o múltiplo psíquico que, por sua multiplicidade, mantém relações de significar de um também com outros nomes e os respectivos enunciados, todos esses presumidos diferentes e irredutíveis entre si. Para ilustrá-lo retomando o exemplo de que Aristóteles se serve no trecho de Metafísica A 5 já citado precedentemente, pode-se afirmar que os nomes dobro e dupla possuem relações de significar um distintas e irredutíveis, visto serem distintos e irredutíveis os enunciados que explicam cada qual, não obstante coincidam em suas respectivas relações de significar de um, visto ser um mesmo conteúdo que é conjuntamente dobro e dupla.

26

É plausível sugerir que o contraste entre o conteúdo pré-discursivo e o que nele resulta da operação por meio da qual se instituem as relações de significar um espelhe, em alguma medida, o contraste tecido por Aristóteles entre o tipo de comportamento significativo que comungamos com os animais por meio das vozes e o que constitui o modo de significar propriamente humano, restrito aos nomes, cuja natureza é convencional. Segundo Aristóteles, “um nome é uma voz significativa [estabelecida] por convenção (…). E por convenção porque nenhum dos nomes o é por natureza, mas ao se tornar símbolo. Já os sons não gramaticais, como aqueles dos animais, também evidenciam algo, mas nenhum deles é um nome” (De Interpretatione 2, 16a19-29. Ver também Politica I, 2, 1253a10-14).

27

οὐ γὰρ τοῦτο ἀξιοῦμεν τὸ ἓν σημαίνειν, τὸ καθ᾽ ἑνός, ἐπεὶ οὕτω γε κἂν τὸ μουσικὸν καὶ τὸ λευκὸν καὶ τὸ ἄνθρωπος ἓν ἐσήμαινεν, ὥστε ἓν ἅπαντα ἔσται· συνώνυμα γάρ (Metafísica Γ 4, 1006b15-18).

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Assim caracterizada a relação de significar de um, não é difícil, tomando-a em consideração, compreender a ponderação de que a assimilação da relação de significar um à de significar de um conduz à conclusão de que todos os nomes culminariam por significar um mesmo enunciado explicativo, o que Aristóteles designa por ser um . Ele afirma: Pois ser um significa isto: como roupa e traje, se o enunciado é um só28.

Se todos os nomes designando cada um dos diferentes aspectos do múltiplo psíquico mantivessem com esse múltiplo uma relação de significação de mesma natureza que aquela que mantêm com os enunciados que, recortando aqueles aspectos, instauram e constituem suas significações, a própria diferença dos nomes entre si – e, correlativamente, dos enunciados respectivos entre si – se dissolveria. Pois aqueles nomes – e, na esteira deles, os respectivos enunciados – passariam a expressar o ser para os demais, visto que tal é a natureza da relação de significar um instituída entre eles, os enunciados correlativos e os respectivos recortes. Daí se seguiria que aqueles nomes não corresponderiam cada qual a modos específicos de apanhar um mesmo múltiplo psíquico, mas se amalgamariam todas em um só modo de apanhá-lo, culminando no colapso entre a unidade e a multiplicidade censurado por Aristóteles no trecho de Metafísica A 5 citado precedentemente. Conforme já examinado, tal colapso é incompatível com o discurso e, na esteira dele, com o pensamento. Aristóteles está justificado, em vista disso, a sustentar a conclusão já avançada de que, retomando o exemplo do nome “homem”: Efetivamente, não é possível o ser para homem significar precisamente o não ser para homem, se homem significa não apenas de um, mas também um29.

Dito de outro modo, uma vez reconhecido que o nome “homem” mantém não apenas uma relação de significar de um com um mesmo múltiplo psíquico, mas mantém também, sobreposta a ela, a relação estrita de significar um convencionada com base no enunciado “animal bípede”, segue-se que o ser para o nome “homem” se restringe ao que é expresso por esse enunciado, por exclusão de qualquer outro enunciado por meio do qual o mesmo múltiplo no qual se recorta o aspecto descrito por “animal bípede” se deixa também apanhar. 28

τοῦτο γὰρ σημαίνει τὸ εἶναι ἕν, τὸ ὡς λώπιον καὶ ἱμάτιον, εἰ ὁ λόγος εἷς· (Metafísica Γ 4, 1006b2527).

29

οὐ δὴ ἐνδέχεται τὸ ἀνθρώπῳ εἶναι σημαίνειν ὅπερ ἀνθρώπῳ μὴ εἶναι, εἰ τὸ ἄνθρωπος σημαίνει μὴ μόνον καθ᾽ ἑνὸς ἀλλὰ καὶ ἕν. (Metafísica Γ 4, 1006b13-15).

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Uma vez circunscrito o ser para “homem” ao que é expresso no enunciado “animal bípede”, parece legítimo pretender verdadeiro o enunciado veiculando que “homem” é “animal bípede”. Claro que tal verdade se funda em uma convenção, antes que na noção de correspondência pela qual Aristóteles é conhecido30. Tendo em vista, porém, que a correspondência que caracteriza a verdade concerne à relação dos nomes articulados com o que essa articulação pretende descrever, ela já supõe os nomes instituídos. Supõe, por conseguinte, aquela verdade fundada na convenção, concernente aos enunciados que veiculam as relações instituídas de significação. Eis talvez o que explica que Aristóteles tenha se servido do termo “primeiro” ao se reportar a essa verdade fundada na convenção, na controversa passagem em 1006a28-31 citada anteriormente31. Agora, no que parece ser uma confirmação da tese lá antecipada, ele sustenta que: É, pois necessário, se é verdadeiro dizer algo, e que é homem, que seja animal bípede (pois era isto o que ‘homem’ significava). E se isto é necessário, então não é possível que ele não seja animal bípede. Pois ‘ser necessário’ significa ‘ser impossível não ser homem’32.

O trecho “εἴ τί ἐστιν ἀληθὲς εἰπεῖν ὅτι ἄνθρωπος” é comumente traduzido por períodos similares a “se é verdadeiro dizer que algo é homem”33. Em que pese sua correção, essa opção vela a relação direta da expressão “ἀληθὲς ἐστιν εἰπεῖν” com o pronome “τί”, que, na formulação condensada em grego, parece posta em relevo. De fato, no trecho não apenas é afirmado, na hipótese introduzida pelo “se” , ser verdadeiro dizer que algo é homem, mas também se afirma ser verdadeiro dizer algo, o que evidentemente inscreve este último no domínio do discurso34. A frase condensaria, então, a hipótese 30

Cf. Metafísica Γ 7, 1011b26-27.

31

Ver acima n. 9.

32

ἀνάγκη τοίνυν, εἴ τί ἐστιν ἀληθὲς εἰπεῖν ὅτι ἄνθρωπος, ζῷον εἶναι δίπουν (τοῦτο γὰρ ἦν ὃ ἐσήμαινε τὸ ἄνθρωπος)· εἰ δ' ἀνάγκη τότε, οὐκ ἐνδέχεται μὴ εἶναι τότε αὐτὸ ζῷον δίπουν· τοῦτο γὰρ σημαίνει τὸ ἀνάγκη εἶναι, τὸ ἀδύνατον εἶναι μὴ εἶναι ἄνθρωπον· (1006b28-33).

33

Ver, por exemplo, Metafísica - Livros IV e VI. Textos Didáticos. ANGIONI, L. (trad.), UNICAMP, 2003; Metafísica - Livros IV e VI. Cadernos de Tradução. ANGIONI, L. (trad.), UNICAMP, 2007; CASSIN et NARCY, op. cit.; KIRWAN, op. cit. e HECQUET-DEVIENNE in Métaphysique Gamma − Édition, Traduction, Études. HECQUET-DEVIENNE, M, Peeters, 2008.

34

Essa estrutura não é excepcional em Aristóteles. Uma formulação semelhante encontra-se nos Analíticos Posteriores I, na apresentação de conhecimento científico que abre o capítulo 2, onde lemos: Ἐπίστασθαι δὲ οἰόμεθ’ ἕκαστον (...) ὅταν τήν τ'αἰτίαν οἰώμεθα γινώσκειν δι ' ἣν τὸ πρᾶγμά ἐστιν, ὅτι ἐκείνου αἰτία ἐστί … (71b9-12). Aqui, a sintaxe grega permite condensar a dupla afirmação de que julgamos conhecer cientificamente cada item quando julgamos conhecer não apenas que a causa pela qual o fato é é sua causa, mas também quando julgamos conhecer essa própria causa. Uma tradução fiel a essa dupla asserção condensada é a proposta por P. Pellerin, onde lemos “Nous pensons connaître scientifiquemen chaque chose (..) lorsque nous pensons connaître la cause du fait de laquelle la chose est, savoir que c’est bien la cause de la chose…” (Seconds Analytiques. PELLEGRIN, P. (trad.). Paris: Flammarion, 2005, p. 67).

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introduzida de que aquele “algo” corresponderia a um dos termos em um enunciado que veicularia uma relação atributiva em que o outro dos termos é “homem”. Ora, visto que estamos às voltas aqui com discursos que veiculam o ser para algo, e já antecipado que se trata de um discurso atributivo verdadeiro em que um dos termos é “homem”, resulta necessário que o outro termo dito seja “animal bípede”. Afinal, ressalta Aristóteles, “era isso que ‘homem’ significava” (1006b30). É importante assinalar que essas conclusões não acarretam a rejeição da relação de significar de um mantida por um nome. Ao contrário, fazê-lo conduziria igualmente ao erro, visto ser intrinsecamente múltipla a natureza do que é significado de um por um nome. Ditas conclusões, contudo, requerem que se distinga as duas relações de significação, ou, se se preferir, as duas dimensões da relação de significação, sob pena de se tornar o diálogo e, com ele, o pensamento inexplicáveis. Diz Aristóteles: pois nada impede um mesmo de ser homem e branco e uma miríade de outros. No entanto, se lhe for perguntado se é verdadeiro dizer que isto é homem ou não, deve responder o que significa um, e não acrescentar que é branco e grande35.

Em síntese, visto que um mesmo conteúdo se deixa apanhar pelos nomes “homem” e “culto”, por exemplo, de sorte a justificar que “homem” significa também de um mesmo que “culto” também significa, daí não se pode inferir – com base na consideração de que “culto” significa um recorte diferente de “animal bípede” – que “homem” é e não é “animal bípede”. Aristóteles encerra então essa primeira parte da prova concluindo que: portanto, não é possível ser conjuntamente verdadeiro dizer que um mesmo é e não é homem36.

O trecho que segue, entre 1006b34 e 1007a8, traz um adendo a esse resultado. Aí Aristóteles dedica-se a mostrar que a mesma consequência vale também para a negação de um nome ou para as condições de significação de nomes negativos como “nãohomem”37. A relevância da argumentação repousa no flanco aberto à eventual objeção

35

οὐθὲν γὰρ κωλύει εἶναι τὸ αὐτὸ καὶ ἄνθρωπον καὶ λευκὸν καὶ ἄλλα μυρία τὸ πλῆθος· ἀλλ᾽ ὅμως ἐρομένου εἰ ἀληθὲς εἰπεῖν ἄνθρωπον τοῦτο εἶναι ἢ οὔ, ἀποκριτέον τὸ ἓν σημαῖνον καὶ οὐ προσθετέον ὅτι καὶ λευκὸν καὶ μέγα. (Metafísica Γ 4, 1007a10-14). 36

οὐκ ἄρα ἐνδέχεται ἅμα ἀληθὲς εἶναι εἰπεῖν τὸ αὐτὸ ἄνθρωπον εἶναι καὶ μὴ εἶναι ἄνθρωπον. (Metafísica Γ 4, 1006b33-34). 37

Em geral, compreende-se que esse adendo se estende até 1007a20 (Ver por exemplo ZINGANO, 2003, pp. 8-9 e 2008, pp.403-404; e Kirwan em ARISTÓTELES, 2003b, pp. 99-100). Contudo, conforme observa R. Dancy, a partir de 1007a8, a argumentação parece retomar questões já discutidas em 1006a28b34 (1975, p. 28). De resto, pouco adiante, em 1007a15, a distinção entre essência ou substância e acidente, que desempenhará papel central na segunda parte da prova, é introduzida. Esses detalhes são indícios

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de que, ainda que para os nomes positivos a prova concluída em 1006b33-34 devesse ser acatada, o problema se recolocaria para o caso dos nomes negativos ou das negações dos nomes. Afinal, diferentemente da relação delimitada estabelecida pela condição de significar um no caso dos nomes positivos, o que aparentemente um nome negativo ou a negação de um nome evocariam na alma, na relação de significar um, seria toda a multiplicidade restante, uma vez eliminada a relação de significar um do nome positivo respectivo. Assim, no caso do exemplo do nome “homem”, precisamente porque esse nome mantém uma relação restrita com o enunciado “animal bípede”, sua negação ou o nome negativo “não-homem” deveriam, na relação de significar um, reportar-se a todos os demais enunciados diferentes de “animal bípede”. O argumento de Aristóteles contra essa sugestão, para sintetizá-lo, consiste em observar que a relação de significar um do nome negativo ou da negação de um nome não é diversa daquela do nome positivo correlativo, isto é, a unidade constitutiva da relação de significar um não se altera no caso dos nomes negativos. A peculiaridade destes últimos repousa em que, em sua relação de significar um, o nome negativo dirige-se à anulação daquele conteúdo preciso significado pelo nome positivo respectivo ou, correlativamente, à contraposição ao que esse nome positivo significa, antes que à coleção das demais relações de significar um mantidas pelos outros nomes. Se assim não fosse, a dificuldade inicial que ameaçava a possibilidade do diálogo ressurgiria para o caso dos nomes negativos e das negações dos nomes38. Diz Aristóteles: O mesmo discurso aplica-se também ao não ser homem, pois o ser para ‘homem’ significa algo diferente do não ser para ‘homem’, se ser branco significa algo diferente de ser homem. Pois aqueles são muito mais opostos, de modo que significam algo diferente [um do outro]. E se disser que ‘branco’ significa um e o mesmo, novamente diremos o que já foi dito anteriormente, a saber, que todos serão um, e não apenas os opostos39.

Pode-se considerar assim concluído o primeiro passo da prova, avançado por Aristóteles, como já dito, em 1006a26-31. Por meio do exemplo da relação de significação do nome “homem” se evidenciou a necessidade de se generalizar, para todo e qual-

de que a segunda parte da prova tem início já em 1007a8, com uma retomada dos resultados previamente obtidos. 38

Esta interpretação afasta-se da tomista, que situa no trecho entre 1007a20-b18 uma segunda prova para o PNC, que teria então uma primeira prova completa no trecho entre 1006b26-1007a20 (Id., ibid., § 624).

39

ὁ δ' αὐτὸς λόγος καὶ ἐπὶ τοῦ μὴ εἶναι ἄνθρωπον· τὸ γὰρ ἀνθρώπῳ εἶναι καὶ τὸ μὴ ἀνθρώπῳ εἶναι ἕτερον σημαίνει, εἴπερ καὶ τὸ λευκὸν εἶναι καὶ τὸ ἀνθρώπῳ εἶναι ἕτερον· πολὺ γρ ἀντικείται ἐκεῖνο μᾶλλον, ὥστ σημαίνει ἕτερον. εἰ δὲ καὶ τὸ λευκὸν φήσει τὸ αὐτὸ καὶ ἓν σημαίνειν, πάλιν τὸ αὐτὸ ἐροῦμεν ὅπερ καὶ πρότερον ἐλέχθη, ὅτι ἓν πάντα ἔσται καὶ οὐ μόνον τὰ ἀντικείμενα. (Metafísica Γ 4, 1006b34-1007a7).

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quer nome, como uma verdade primeira, ou como um enunciado que de antemão se deve assumir como verdadeiro, que o nome significa ser algo ou, alternativamente, não ser algo, conforme Aristóteles antecipa em 1006a28-30. Essa exigência quanto ao significado estrito e delimitado do nome assegura que “nem tudo será assim e não assim” (1006a30-31). Resulta eo ipso evidenciado que certos enunciados devem ser assumidos como verdadeiros sem demonstração (1006a27-28). Como visto, tais enunciados são aqueles por meio dos quais se instituem as significações dos nomes, enunciados cuja verdade se funda na convenção.

Vivianne de Castilho Moreira Universidade Federal do Paraná

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