Oficina | Pesquisa-ação e extensão universitária

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CARIRI VI ENCONTRO DE EXTENSÃO

Pesquisa-ação e extensão universitária Maria Laís dos Santos Leite

CARIRI-CE 2015

Para começo de conversa...

 Quando a gente faz extensão universitária...

1. Quem se transforma, a comunidade (escola/PSF/assentamento...) ou a gente? 2. A nossa presença interfere na vida da comunidade? 3. A ida até a comunidade interfere na vida da gente?

Para começo de conversa...

4. Como e/ou com quem nós aprendemos a fazer extensão? 5. Extensão, pesquisa, ensino e cultura podem estar interligados? Como?

Porquê pesquisa-AÇÃO na EXTENSÃO...

 Na extensão universitária a referência à metodologia participativa e à pesquisa-ação se tornou frequente. No entanto, esse visível ganho de espaço dos métodos participativos na extensão não significa que sua aplicação sempre esteja correta e amparada em reais contribuições metodológicas.

Porquê pesquisa-AÇÃO na EXTENSÃO...

 Tal método enfatiza a ação como condição favorável à geração de um conhecimento dinâmico, apropriado, entrelaçado com as práticas legítimas dos atores envolvidos numa transformação social.

Pesquisa-ação em expansão

 É necessário sublinhar a diferença que existe entre as condições atuais e as condições das décadas passadas. Quem falava em pesquisa-ação e em transformação social na década de 1970 na América Latina afirmava um posicionamento ou um compromisso então visto como radical e, por isso, se expunha à censura ou à repressão.

Pesquisa-ação em expansão

 Na época anterior, o conhecimento acadêmico valorizado era, em geral, muito abstrato e distante da prática, mesmo quando favorável ao socialismo. Insistir nos objetivos práticos do conhecimento, como no caso da pesquisa-ação, era uma atitude significativa, engajada, por vezes mal compreendida.

Pesquisa-ação em expansão  Hoje, é diferente, a referência à ação está mais bem aceita, muitas vezes, explicitamente exigida pelas cláusulas de editais de projetos de pesquisa institucionalizada. Em vez de requerer engajamento, a ação de hoje está inserida numa perspectiva empírica, pragmática, de busca de eficácia e eficiência na obtenção de resultados. Nas áreas sociais, a pesquisa fundamental, a reflexão sobre as bases do conhecimento se tornou secundária diante dos interesses operando na pesquisa aplicada, destinada a resolver problemas concretos.

Pesquisa-ação em expansão

cultura

extensão

ensino

pesquisa

 Mundialmente, na perspectiva sóciocrítica de pesquisa, desde a década de 1940, a pesquisa-ação teve e tem papel decisivo no reposicionamento da ação social nas universidades (extensão universitária), já que lhe deu novo status e tornou metodologicamente possível a indissociabilidade entre pesquisa e extensão.

Para ajudar a entender...

Um pouco mais de história...  Por muitas décadas, pesquisa histórica e pesquisa teórica predominaram nas ciências humanas, na vertente dialética. Embora engajada, esta postura encontrou respeito por parte dos pesquisadores objetivistas, das diferentes áreas do conhecimento, por demandar um comportamento dos colegas que se aproxima do seu (produção do conhecimento sem se dedicar ao convívio com grupos sociais e visão de que é o pesquisador que produz conhecimento esclarecido e de forma rigorosa).

Um pouco mais de história...  Pelo mesmo motivo, tal postura enfrenta a crítica constante da perspectiva construtivista, por reproduzir o mesmo tipo de relação com o processo de produção de conhecimento e com os sujeitos pesquisados, defendida pela perspectiva objetivista.

Um pouco mais de história...  Assim, pode-se entender que, com esta postura, também se pode ver a pesquisa como atividade superior, de domínio apenas de pesquisadores(as), enquanto o ensino e a extensão poderiam ser desenvolvidos por outros(as) profissionais, para os(as) quais bastaria saber reproduzir e transmitir os conhecimentos acadêmicos.

Os percursores da Pesquisa-Ação  Nesta direção, pode-se dizer que a mudança real de postura, na perspectiva sócio-crítica, ocorreu a partir do surgimento da pesquisa-ação, termo criado por Kurt Lewin, em 1944, na Psicologia Social, ao se dedicar ao estudo de minorias.

Os percursores da Pesquisa-Ação  Segundo Salazar (1992), Lewin, ao criar o termo: Descrevia uma forma de pesquisa que podia ligar o enfoque experimental da Ciência Social com programas de ação social que respondessem aos problemas sociais principais de então. Mediante a pesquisa-ação, Lewin argumentava que se poderiam alcançar, de maneira simultânea, avanços teóricos e mudanças sociais.

Processo de Pesquisa-AÇÃO

 A pesquisa-ação, para Lewin, consistia na análise da situação, na coleta de dados, na conceitualização, no planejamento, na execução e na avaliação, passos que logo se repetiriam.

solução de problemas + aquisição do conhecimento

 O antropólogo Sol Tax (1946) enfatiza a união dos papéis do pesquisador na obtenção de conhecimento sobre o geral e sobre o particular. Segundo ele, a “antropologia-ação” deveria unir os processos de solução de um problema com os referentes à aquisição do conhecimento nos mesmos processos. Não se trataria, portanto, de uma simples aplicação de conhecimentos, mas do esclarecimento dos objetivos de pesquisa e da conciliação dos valores em conflito.

solução de problemas + aquisição do conhecimento

Produção de ciência e prática social

 Em resumo, a antropologia-ação não seria nem ciência pura, nem simples aplicação de conhecimentos. Para se conseguir uma prática social adequada, o antropólogo deveria participar igualmente na produção de ciência e na prática social.” (p. 29).

América Latina

 Rodolfo Stavenhagen, sociólogo mexicano (1971);  Orlando Fals Borda, sociólogo colombiano (1960);  A partir desses dois pesquisadores, e em ambos, Paulo Freire passa a ser aporte constante na pesquisaação e na pesquisa participante, com tônica de engajamento político.

Conhecimento >> Transformação Social

 Rodolfo Stavenhagen destaca que o conhecimento pode e deve tornar-se um instrumento para a transformação que, mediante o despertar e o desenvolvimento da consciência crítica criativa, capacite aos que não têm poder, aos oprimidos e colonizados, a questionar primeiro, depois a subverter e modificar o sistema existente. Para tanto, o antropólogo deve passar de ser observador participante para ser ‘observador militante’ .

Conhecimento >> Transformação Social

 Fals Borda se refere ao compromisso do pesquisador, o antidogmatismo, a devolução sistemática do conhecimento em distintos níveis dirigidos aos setores populares, a articulação do conhecimento específico ou local com o conhecimento geral mediante o processo de ação-reflexão-ação, no qual participam pesquisador e pesquisados.

Processo de ação-reflexão-ação com a participação de todos(as)

AÇÃO

REFLEXÃO

Conhecimento >> Transformação Social

 A incorporação dos “beneficiários” como sujeitos ativos e pensantes na produção do conhecimento e na ação para a transformação se constitui em elemento central para romper a verticalidade entre pesquisadores e pesquisados, própria das ciências sociais tradicionais.

Conhecimento >> Transformação Social

 PESQUISA-AÇÃO! Esta modalidade de pesquisa abriu possibilidade de junção das atividades de produção e de difusão do conhecimento científico de maneira crítica. Assim, pesquisa e extensão se fazem indissociáveis.

Vertentes teórico-metodológicas de pesquisa e sua relação com a extensão universitária

 Perspectiva objetivista é a única que entende a pesquisa e a extensão como atividades distintas entre si: atribuindo à primeira a responsabilidade exclusiva pela produção do conhecimento; e à segunda um status menos especializado que implica apenas difusão de conhecimento já constituído– tarefa que pode ser assumida por profissionais que não pesquisam, mas que sabem transmitir os resultados das pesquisas.

Vertentes teórico-metodológicas de pesquisa e sua relação com a extensão universitária

 A vertente construtivista, por sua vez, ao entender o conhecimento científico como mais umas das modalidades de conhecimento, e a função da pesquisa como a de descrever a compreensão do mundo que têm os outros sujeitos, põe em pé de igualdade as diferentes fontes, processos e produtos de conhecimento.  Estabelece, assim, igual valor à pesquisa e à extensão, não apenas como atividades, mas como fontes, processos e produtos de conhecimento. Pesquisa e extensão, nesta perspectiva, são indissociáveis, assim como o ensino.

Vertentes teórico-metodológicas de pesquisa e sua relação com a extensão universitária

 A vertente construtivista

Estabelece, assim, igual valor à pesquisa e à extensão, não apenas como atividades, mas como fontes, processos e produtos de conhecimento. Pesquisa e extensão, nesta perspectiva, são indissociáveis, assim como o ensino.

Vertentes teórico-metodológicas de pesquisa e sua relação com a extensão universitária

 Perspectiva sócio-crítica Influência da pesquisa-ação, constituição do discurso e da prática da indissociabilidade entre ensino-pesquisa-extensão.

Vertentes teórico-metodológicas de pesquisa e sua relação com a extensão universitária Perspectiva sócio-crítica  Diferente da perspectiva construtivista por assumir a necessidade instrumental da produção de conhecimento de maneira controlada, como necessidade para a transformação social; a autorreflexão sobre processo e produto distingue a validade do conhecimento acadêmico e científico dos conhecimentos produzidos nas ações cotidianas.

Vertentes teórico-metodológicas de pesquisa e sua relação com a extensão universitária

 Assim, na perspectiva sócio-crítica, o conhecimento acadêmico tem, funcionalmente, maior impacto na transformação da realidade social desigual.

Voltemos ao processo de Pesquisa-AÇÃO...

avaliação

análise da situação

conceitualização

execução

planejamento

Você acredita que a ação que extensão que integra seja uma pesquisa-AÇÃO?

Alguns questionamentos...

 Quais são os participantes da ação?  Em qual comunidade/ grupo seu Projeto/Programa atua?  Quais são os temas frequentes na ação?  Foi realizado um mapeamento da comunidade? (instituições que atuam, economia local, oportunidades educativas...)

Você acredita que a ação que extensão que integra seja uma pesquisa-AÇÃO?  Quais estratégias/ instrumentos utilizaram ou pretendem utilizar para fazer a análise da situação? (demandas do local)  De que maneira ocorre o planejamento? O público envolvido (comunidade, parceiros) participa do planejamento?  Há uma coerência entre o referencial teórico-metodológico utilizado no processo e o modus operandi da Extensão?

Vídeo sobre Metodologias de Pesquisa Qualitativa

Referências

 ARAÚJO FILHO, T.; THIOLLENT, M.J. Metodologia para projeto de extensão: apresentação e discussão. São Carlos: Cubo Multimídia, 2008. Disponível em: http://www.cnpsa.embrapa.br/filo/adm/anx/anx6Livro Thiollent.pdf

Maria Laís S. Leite

[email protected]

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