O Heartbleed explicado para bons leitores não técnicos.

September 5, 2017 | Autor: Jose Damico | Categoria: Information Security, Hacking
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O Heartbleed explicado para bons leitores não técnicos. José Ricardo de Oliveira Damico [email protected] Filipe Balestra [email protected] 21 de Abril de 2014

Introdução Este   artigo   tem   por   objetivo   explicar   o   que   é   o Heartbleed  e responder as perguntas mais comuns que   decorrem   de   tal   explicação.   Este   texto   foi escrito para leitores não técnicos, mas deve ser útil também a técnicos que desejam obter rapidamente informações concisas sobre o assunto em questão. Uma premissa para a confecção desse documento é evitar o uso de jargões técnicos. Outra premissa é não assumir que o leitor entende de criptografia e protocolos   de   comunicação   entre   computadores. Contudo,   mesmo   com   tais   premissas,   torna­se extremamente   difícil   evitar   a   citação   de   certas palavras e conceitos. Nestes casos, a premissa final é   detalhar   com   exemplos  e   metáforas   aquilo   que exigiu o uso de conhecimento mais avançado. O que é o Heartbleed? Um erro de programação (uma falha de segurança), encontrado   em   um   programa   de   criptografia (OpenSSL  em determinadas versões1) utilizado em aproximadamente   2/32  de   todos   os   servidores   de internet do mundo. Este erro permite a um atacante roubar dados confidenciais transacionados em tais servidores.   O  Heartbleed  foi   registrado internacionalmente como uma falha de segurança 1 2

Versões do OpenSSL afetadas pelo Heartbleed: 1.0.1 até  1.0.1f  e 1.0.2­beta. http://lifehacker.com/what­the­heartbleed­security­bug­ means­for­you­1560801201 

grave, no dia 7 de Abril de 2014 3. Os servidores afetados   pelo  Heartbleed  são   em   sua   absoluta maioria derivados do sistema operacional UNIX, como o Linux, MacOS, FreeBSD. O que o Heartbleed não é? • • •

O  Heartbleed  não   é   um   vírus   de computador. O Heartbleed não é um malware. O  Heartbleed  não   é   uma   falha   de segurança   comumente   presente   em computadores pessoais, telefones móveis ou tablets.

Qual a relevância do Heartbleed? O  Heartbleed  é de extrema relevância pois ele está   localizado   em   um   programa   que   é   um padrão de mercado na criptografia e proteção de dados,   utilizado   em   massa   em   servidores   que hospedam   sites   de   internet,   mas   também encontrado   em   servidores   de   e­mail   e   acesso remoto à redes privadas. Basicamente, toda vez que uma página de internet é acessada através de um endereço https há uma enorme chance de que está página esteja em um servidor com essa falha ativa (se a correção do problema não tiver sido executada).  Não  confunda  com  endereços  com http, o problema ocorre em sua grande parte em 3

http://www.openssl.org/news/vulnerabilities.html O Heartbleed explicado para bons leitores não técnicos. [1/4]

servidores que utilizam o programa  OpenSSL  para fornecer páginas  seguras  através  de https  (note a última letra  '‘s’'  de seguro). O  https  é largamente utilizado em sites que precisam oferecer transações seguras,   como   sites   de   bancos,  webmail,   e  e­ commerce. O  Heartbleed,   por   estar   localizado   no   programa fundamental   que  serve   para   embaralhar   os   dados transferidos   entre   um   usuário   e   o   site,   em decorrência disso o Heartbleed permite a exposição de tais dados para um atacante. Esses dados podem ser tudo que um usuário digitou em um site com endereço  https,   como   dados   de  login,   senha, números   de  token,   e   demais   informações confidenciais. A   possível   exposição   de   dados   confidenciais   de usuário,   já   seria   alarmante   por   si   só,   contudo   os danos potenciais do Heartbleed vão além. Entre os dados que podem ser expostos, está um conjunto de dados do servidor, que o identifica entre os demais. Trata­se   de   um   conjunto   confidencial   de   dados (conhecido   como   certificado   digital)   que   tem   o objetivo de garantir que tal site é realmente o site da   instituição  que   ele  diz  ser.  Por  exemplo,   esse dado   confidencial   serve   como   prova   de   que   ao acessar   o   site   de   um   banco   ou   loja  on­line,   o usuário   não   está   acessando   um  site  falso.   Esse conjunto   confidencial   de   dados   é   de   propriedade única   e   exclusiva   da   instituição   que   o   requereu. Esse conjunto confidencial de dados não pode ser emitido   pela   própria   instituição   que   o   detém,   ao contrário,   uma   outra   instituição   analisa   o requerimento de tal conjunto confidencial de dados e se tudo estiver correto, esta outra instituição tem a autoridade internacional de fornecer este conjunto confidencial de dados que atesta a autenticidade do endereço de internet para a instituição requerente. Portanto,   se   esse   dado   confidencial   for   roubado, criminosos   podem   fazer   outros  sites  falsos,   mas atestá­los como pertencentes a instituições idôneas. Assim, o usuário poderá tanto fornecer dados seus, inadvertidamente,   ou   baixar   dados   destes   falsos

endereços,   dados   que   podem   ser   programas maliciosos   disfarçados   de   programas verdadeiros.  Já   seria   demais   se   os   estragos   do  Heartbleed parassem por aqui, mas não param. Quando um atacante se beneficia da falha de segurança que representa   o  Heartbleed,   a   atuação   deste atacante não deixa rastros. De modo que, não há como saber se um servidor com tal falha já teve dados roubados e quais  dados foram copiados. Esta   carência   de   rastreamento   encadeia   dois problemas:   Primeiro,   os   responsáveis   por servidores   com   o  Heartbleed  ativo,   não   tem como oferecer garantia alguma a seus usuários de   que   eles   não   foram   vítimas   de   roubo   de informação.   Segundo,   os   responsáveis   por servidores   com   o  Heartbleed  ativo,   tem   a obrigação   de   revogar   àquele   conjunto confidencial de dados que atesta a identidade de seus   sites,   essa   revogação   deve   ser   feita diretamente   com   as   instituições   que   uma   vez alegaram a identidade verdadeira dos servidores falhos.   Só   depois   da   revogação   que   um   novo requerimento   de   autenticidade   pode   ser   feito. Atualmente, dado a extensão e profundidade do impacto   do  Heartbleed,   está   acontecendo   uma corrida   de   revogação   e   novas   requisições,   que afetam   diretamente   a   confiabilidade   do oferecimento de serviços e produtos via internet. Estima­se   que   aproximadamente   500.000  sites atestados  como confiáveis foram afetados  pelo Heartbleed4. Porquê o nome Heartbleed? O nome Heartbleed foi dado a tal falha em razão dela   acontecer   em   uma   funcionalidade conhecida   por  Heartbeat,   cuja   o   objetivo   é checar   se   um   determinado   servidor   está   ativo. Essa   funcionalidade   mantém   uma   conversação simples com os servidores envolvidos em uma 4

http://news.netcraft.com/archives/2014/04/08/half­a­ million­widely­trusted­websites­vulnerable­to­ heartbleed­bug.html  O Heartbleed explicado para bons leitores não técnicos. [2/4]

determinada   transação,   essa   conversação   ocorre como   se   fossem   perguntas.   Por   exemplo,   é   feita uma pergunta ao servidor: – Ei, você está ativo? E o servidor deveria responder: – Sim, estou ativo, obrigado! Porém, com a falha ativa, a resposta do servidor é enviada   com   fragmentos   de   dados   confidenciais pertencentes   a   terceiros,   mas   ainda   presentes   na memória do servidor consultado.  Há   quanto   tempo   o  Heartbleed  está   ativo   na “natureza”? Há mais de 2 anos. Como alguém pode se aproveitar do Heartbleed? Para se aproveitar do Heartbleed, uma pessoa deve ter um determinado nível de conhecimento técnico, ou se servir de quem o tenha. Para um entendimento objetivo de como alguém se beneficia do Heartbleed, é preciso entender que um site  transaciona informações para diversas pessoas ao   mesmo   tempo.   Essas   informações   são transacionadas por requisições, que são comumente disparadas a todo o momento quando alguém clica um   botão   em   um   site,   aperta   a   tecla   enter   para entrar   em   um   endereço   ou   simplesmente   navega com   o   mouse.   Assim,   a   interface   do   navegador, somada   ao   teclado,  mouse  ou   tela   do  tablet  e telefone móvel formam o ferramental básico para se   fazer   requisições   em   sites   e   transacionar informações.   Mas,   quem   se   aproveita   do Heartbleed faz uso de outro ferramental, programas que   também   fazem   requisições,   mas   estas, maliciosas.   Tais   requisições   maliciosas   solicitam um tipo de dado ao servidor através do site, mas quando essa solicitação atinge a falha de segurança (que   é  o  Heartbleed), a  resposta  do servidor  são dados   de   transações   que   estão   sendo   feitas   por

outros   usuários.   Quando   essas   informações chegam   à   pessoa   que   está   se   aproveitando   do Heartbleed, esta tenta peneirar o que recebeu em busca de  algo valioso. O  processo de  peneirar depende da influência direta de uma pessoa, mas o   processo   de   fazer   requisições   malignas   é normalmente robotizado, o que significa que em pouco tempo inúmeros dados de outros usuários podem ser coletados. Em uma analogia simples, o Heartbleed poderia ser também explicado da seguinte forma: Uma pessoa   se   aproxima   de   uma   casa,   aperta   a campainha   uma   porção  exata  de  vezes,  depois bate na porta de uma determinada forma, num determinado   intervalo   de   tempo,   mas   como resposta, em vez de alguém de dentro da casa atender   à   porta,   um   envelope   com   diversos fragmentos   de   cartas   confidenciais   de   pessoas que estão dentro da casa é enviado por debaixo da  porta,  de  dentro  para  fora.  Então,  a  pessoa que tocou a campainha e bateu à porta, foge com o   envelope   e   depois   tenta   descobrir   senhas, nomes   e   dados   valiosos   na   carta.   Porém   o envelope não é muito grande, o processo então deve ser repetido diversas vezes, se o atacante quer   informações   ou   documentos   mais completos   e   longos,   como   por   exemplo   a escritura da casa. Apenas   servidores   que   oferecem   endereços com https são afetados? Não. Virtualmente todo servidor que faz uso do OpenSSL  em   uma   determinada   versão,   pode estar exposto à falha. Sabe­se que servidores que oferecem   serviços   de   um   determinado   tipo   de rede privada também estão expostos à ataques. O que importa é como alguém pode se beneficiar do Heartbleed. Quando um servidor fornece um endereço  https  na   internet   e   utiliza   uma determinada versão do  OpenSSL, basta possuir um  computador  e conexão  a  web  para  ser um atacante. Por outro lado, se um servidor oferece O Heartbleed explicado para bons leitores não técnicos. [3/4]

um serviço baseado em OpenSSL mas esse serviço não   é   aberto   ao   público,   mesmo   com   a   falha presente, a chance de ataque torna­se menor.  O que eu devo fazer?

consigo   um   fator   positivo   para   segurança,   se comparado   com   programas   proprietários. Todavia, esse fator de segurança tem sido posto em  discussão  dado a  existência  do  Heartbleed por   tanto   tempo,   sem   a   percepção   da comunidade responsável pelo OpenSSL;

Um usuário  comum, que  faz ampla utilização  da internet   para   compras,   pagamentos   e   troca   de informações por sites, deve checar suas contas de acesso,   alterar   suas   senhas   e   no   caso   de   uso   de formas   de   pagamento   online,   especialmente   com cartões de crédito, deve checar possíveis cobranças indevidas. 

Terceiro:  Sites  e   informações   confidenciais disponibilizados em redes privadas de empresas sem  a  possibilidade  de  acesso  direto  por  https pela internet, poderiam estar mais protegidos de tal falha, quando comparados ao mesmo tipo de sites e informações disponibilizados em cloud?

Quem descobriu essa falha?

Conclusão

Pesquisadores da empresa americana  Google  e da empresa finlandesa Codenomicon.

As   instituições   que   tiveram   seus   servidores afetados   pelo  Heartbleed  devem   entendê­lo como   um   grave   incidente   de   segurança   e portanto   precisam   se   apressar   em   corrigir   o problema,   revogar   seus   certificados   digitais, solicitar novos e orientar seus usuários a trocar suas   senhas,   bem   como   explicar   como   uma pessoa possivelmente lesada por este incidente deve   proceder.   Todo   o   processo   de   correção deve  ocorrer  de  forma  transparente  a  todos  os envolvidos direta ou indiretamente com a falha.

Questionamentos   trazidos   à   tona   pelo Heartbleed: O Heartbleed chamou à atenção para ao menos três importantes questionamentos:  Primeiro:   O  Heartbleed  poderia   ser   uma   falha proposital com fins de espionagem? Segundo: O Heartbleed está presente no programa OpenSSL,   este   programa   é   gratuito,   feito   por pessoas   que   contribuem   abertamente   para   o   seu desenvolvimento. Este tipo de iniciativa é comum e atualmente   é  a  base dos  programas  fundamentais para   o   funcionamento   da   internet,   este   tipo   de iniciativa   e   as   pessoas   que   contribuem   para   ela, formam   o   que   é   conhecido   como  Open   Source, Código   Aberto   ou  Software  Livre.   Uma   das premissas   desse   tipo   de   iniciativa   é   que   um programa   feito   abertamente   por   todo   e   qualquer tipo   de   colaborador,   pode   ser   auditado,   revisto   e testado   por   qualquer   um   em   quaisquer   situações sem o risco de infrações referentes à propriedade intelectual.   Essa   premissa   intrinsecamente   traz

A extensão dos danos causados pelo Heartbleed e   o   tempo   pelo   qual   tantos   sistemas   ficaram expostos   a   esta   falha,   demostraram   a   tamanha fragilidade  dos   métodos   de   certificação   da identidade de sites de internet e colocaram em cheque   os   limites   da   responsabilidade   das instituições   detentoras   de  sites  e   portais,  pelos dados   de   usuários   que   estão   armazenados   em seus servidores.  As   discussões   em   torno   dos   questionamentos levantados pelo  Heartbleed, serão fundamentais para   um   entendimento   mais   amplo   e   acessível aos usuários de internet, sobre a efetividade da proteção de dados na web.

O Heartbleed explicado para bons leitores não técnicos. [4/4]

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