Olha o passarinho!

August 6, 2017 | Autor: A. Batel Anjo | Categoria: Science Education, Mathematics Education, Physics Education
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Olha o passarinho! Procurem na rua um artesão que vende os famosos pássaros equilibristas. Não lhe perguntem o princípio físico que suporta este precioso equilíbrio, perguntem-lhe como é que, através da sua arte, ele consegue obter esse mesmo equilíbrio.

Observar este princípio físico do pássaro equilibrista é bastante simples. Colocando as penas da cauda no suporte, ou na ponta do dedo, a que se chama ponto de apoio, ele oscila em torno desse ponto de equilíbrio sem cair. Ou simplesmente podemos fazê-lo girar na horizontal em torno do ponto de apoio. Por que é que o pássaro não cai? O princípio físico é bastante simples: quando apoiamos o pássaro no ponto de apoio ele fica em equilíbrio devido ao contrapeso que existe nas extremidades das asas, que têm a função de deslocar o centro de massa do pássaro. No fundo, a posição média de toda a massa que constitui o corpo fica sobre o ponto de apoio e, desta forma, temos um equilíbrio estável do pássaro. É só por isto que ele na cai. Muitas destes encontros com a Ciência acontecem quase sempre fora da Escola. Num dos últimos artigos de Paulus Gerdes, “Reflexões sobre o ensino da matemática e diversidade cultural”, publicado na Revista Latino-americana de Etnomatemática (vol. 7, núm. 2, junho – setembro de 2014), ele explora alguns exemplos, que surgem em contexto de aprendizagem não-formal, para potenciar a sua utilização na formação de professores e com os alunos do ensino secundário. Quantos segundos viveu um homem de 70 anos, 17 dias e 12 horas? Esta pergunta foi colocadas a Thomas Fuller, um escravo negro na Virgínia na América do Norte em 1778, que rapidamente respondeu 2.210.500.800 segundos. Este homem era já em África um prodígio em cálculo mental e assim continuou depois da sua ida forçada para a América. Observam-se estas tradições da utilização do cálculo mental em vários países de África, desde o Senegal a Moçambique. Foram efetuados diversos estudos pela Universidade Pedagógica de Moçambique sobre a utilização de algoritmos de cálculo muito engenhosos – por exemplo, a multiplicação de números baseada na duplicação repetida usado por mulheres comerciantes.

Voltemos ao trabalho de Paulus Gerdes e, desta feita, ao livro “Sipatsi: cestaria e geometria na cultura Tonga de Inhambane”, publicado pela Moçambique Editora, em 2003. Nele podem ficar a saber a forma de trabalhar das mulheres que produzem os belos cestos de Inhambane. As figuras geométricas e os padrões obtidas através do simples entrelaçar de várias palhas coloridas originam padrões e formas matemáticas como se tivessem toda a Geometria nas mãos. É certo que estará algures no cérebro, sendo este um conhecimento inato que passa de geração em geração, mas que surpreendentemente foi evoluindo na complexidade das formas obtidas. Em ambos os casos, tanto das comerciantes como das cesteiras, estas mulheres nunca foram à Escola aprender a sua arte. É este trabalho que pode ser essencial para estabelecer uma ligação cultural que valorize o seu saber e que pode ser aproveitado para a formação de professores e alunos com uma forte componente étnica ou local. Agora observem um cesto, um simples cesto, e vejam a Arte e a Matemática que ele contém. Com os muitos exemplos que conhecemos do “saber empírico” que nos rodeia e o saber fazer inato que passa de geração em geração, devemos todos refletir sobre a sua importância e qual o processo necessário para fazer germinar nos nossos jovens o interesse e a criação de gosto pela Ciência e pela Arte. A Etnomatemática é uma excelente didática e é, sobretudo, um excelente caminho para levar os jovens a gostar da Matemática, percebendo-a! Nota Final O desenvolvimento da Etnomatemática está intimamente ligado ao trabalho de Paulus Gerdes, diria mesmo que se confundem. Este reputado Professor Moçambicano, fundador da Universidade Pedagógica e uma referência mundial na Matemática, faleceu na semana passada em Joanesburgo vítima de uma doença causada por uma bactéria. A família, Moçambique e o Mundo ficam mais pobres! Vamos ouvir falar muito dele.

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