Onde está o coveiro? Reflexões sobre o futuro do capitalismo

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Onde   está   o  coveiro?   Reflexões   sobre   o  futuro   do   capitalismo   

Ao  final  do  primeiro  capítulo  do  Manifesto,  Marx  e  Engels  são  contundentes  ao  afirmarem que “a burguesia produz, sobretudo, seus próprios coveiros. Sua queda e a vitória do  proletariado  são  igualmente  inevitáveis”.  Desde  1848,  data  de  publicação  da  obra  acima  mencionada,  o  capitalismo  já  foi  colocado  em  xeque  em  diversas  ocasiões  e  saiu,  se  é  que  pode­se  utilizar  este  diagnóstico  em  um mundo cheio de contradições, “vitorioso”. Desta forma,  ao  retornarmos  ao  esperançoso  contexto  do  século  XIX  no  qual  Marx tantas vezes prenunciou  a  ruína  deste  perverso  sistema,  e  analisarmos  as  palavras proféticas dos dois autores, surge a  pergunta:   onde   estão   esses   coveiros?    No  cerne  da  teoria de Marx está a luta de classes, “tão central que ele [Marx] a vê como  nada  menos  do  que  a  força  que  move  a  história  humana”  (EAGLETON,  2012),  a  única  capaz  de  pôr  um  fim  na  hegemonia  do  capital,  e  a  burguesia,  voraz  por  aumentar  seus  lucros,  acentuaria  este  embate  de  tal  maneira  que  proporcionaria  aos  trabalhadores  a  oportunidade  de,  munidos  de  uma  consciência  de  classe,  causar  a  revolução  que  nos  levaria  ao  tão  aguardado   comunismo.   Nos   valendo   aqui   da   passagem   de   Stalin,   lemos   que:    "...as  relações  de  produção  capitalistas  deixaram  de  corresponder  ao  estado  das  forças  produtivas  da  sociedade  e  entraram  em  irreconciliável  contradição  com  elas.  Isto  quer  dizer  que  o  capitalismo  traz  consigo  a  revolução,  uma  revolução  que  está  destinada  a  substituir  a  atual  propriedade  capitalista  dos  meios  de  produção  pela  propriedade  socialista.  Isto  quer  dizer  que  a  característica  fundamental  do  regime  capitalista  é  a  mais aguda luta de classes  entre   exploradores   e  explorados.”   (STALIN,   1947  a   pud   KALOCHIN,   1955) 

  Qualquer  leitor  mais  habituado  às  ideias  de  Marx,  consegue  abstrair  desta  passagem  uma  interpretação,  quase  “médica”,  onde  a  relação  entre  um  diagnóstico  e  um  prognóstico  se  dá  de  maneira  tão  automática  e  clara,  quanto  uma  concatenação  advinda  de  uma  árvore  porfírica  (ou  de  Porfírio).  Porém,  neste  automatismo  reside  uma problemática noção estrutural,  em  seu  cerne,  impera  algo  para  além  de  uma  mera  aposta  ingênua  da  supremacia  da  razão  ­  há  elementos  ou  traços  de  uma  crença.  Trata­se de um salto dado de um movimento que hoje,  notadamente,   não   é  tão   simples   ou   automático,   quando   antes   parecia   ser.      Se  para  marxistas  em  geral,  esta  certeza  do  fim  que  ronda  a  teoria  de  Marx  é patente,  para  os  ortodoxos,  é  cabal  ­  o  antagonismo  entre  os  que  têm  interesse  em  baixar  os  salários  contra  aqueles  que  querem subí­lo, por exemplo, será o responsável por destruir o sistema que  o  sustenta.  Todavia,  esta  ortodoxia  por  vezes  desemboca  em  um dogmatismo incapaz de ler a  realidade  na  qual  seus  adeptos  se  inserem,  de  perceber  as  diferentes  nuances  na  qual  o  capitalismo  se  desenvolve  de  forma  que  consiga  coibir  sua  própria  derrocada.  Popularmente,  diz­se  que  “os  capitalistas  leram  Marx”,  e  sempre  que  uma  “suposta”  crise  como  a  de 2008 se 

manifesta  e  coloca­se  todo  o  sistema  sob  escrutínio,  ele  mesmo  gera  maneiras  de  impedir  tal  destino  fatal.  E  a  luta  de  classes  mais  uma  vez perde a oportunidade de provocar a tomada de  poder  por  parte  dos  trabalhadores  e  a  consequente  revolução  que  poria  fim  a  todo  este  perverso   cenário.    Remetendo­nos  ao  tema  da  mesa,  “Comunismo  e  catastrofismo”,  é  interessante ver no  que  fora  dito  até  agora,  ressonâncias da corrente popularizada pelo naturalista Georges Cuvier  (1830)  ainda  antes  da  publicação  do  Manifesto.  Cuvier  dizia que as eras geológicas acabavam  de  forma abrupta, com uma catástrofe ­ daí o termo que dá nome a corrente ­, uma “revolução”.  Revoluções  estas  que  não  faziam  parte  de  algum  plano  “divino”,  diferente  de  um  desenvolvimento  gradual  que já previa desde o início dos tempos um fim último, uma crença no  fim  capaz  de  deixar­nos  inerte  em  relação  àquilo  que  ocorrerá  de  qualquer  forma.  Esse  movimento  naturalizado  da  catástrofe  que  esperava  pela  “revolução”,  pareceu  engessar  e  cristalizar  numa  aposta  ideológica o fim obrigatório ou uma espécie de “logo menos” da marcha  da  história,  marcando  a  esperança  de  gerações  e  mais  gerações  de  pessoas.  Porém,  nesta  aposta,  a  maior  marca  da  catástrofe  mostrou­se  na  capacidade  criativa  do  prolongamento  dos  meios  de  exploração  dentro  da  realidade  capitalista,  em  nome  de  sua  perpetuação  ­  logo,  vivemos   distopicamente   essa   pós­catástrofe.     Essa  discussão  é  complexa,  faremos  aqui  um  breve  desvio  e  nos  valeremos de alguns  filmes  para  ilustrar  e  auxiliar  na  apresentação  do  que  está  em  jogo  nessa  discussão.  Talvez  seja  mais  claro  se  dissermos  que,  não  estamos  lidando  com  a  metáfora  óbvia  e  incisiva  de  catástrofe  que  o remake de George Miller,  Mad Max: Fury Road (2015) sugere; mas sim, de um  aspecto  um  tanto  mais  ambíguo  da  catástrofe,  trata­se  da  compreensão  do  curioso  traço  litorâneo  que  denotamos  desta  distopia  ­  pois,  essas delimitações não são marcas claras ­ não  se  sabe  tão  bem  onde  finda  a  terra  e  inicia  o  mar,  embora  saibamos  que  ali  há um encontro e  uma  separação  amalgamadas.  O  filme  que  nos  auxilia  melhor  para  ilustrar  este  ponto  de  catástrofe,  é  o  brilhante  filme  de  Edgar  Wright  de  2004,  o  “ Shaun  of  the  Dead ”  escrito  por  Simon  Pegg,  a  “paródia”  do  clássico  do  horror de George Romero de 1978 “ Dawn of the Dead ”  ou   Madrugada  dos  Mortos .  Se  no  filme  original,  vemos  o  elemento  distópico  das  funções  sociais  do  Estado  reduzidas  ao  seu  mínimo  ou  ínfimo,  completamente  incapazes  de  darem  conta  desta  nova  realidade  que  se  configura,  obrigando  os  personagens  sobreviventes  a  buscarem  por  si  próprios  novas  formas  de  existir;  na  paródia,  encontramos  uma  cena  memorável  em  que  Shaun,  o  personagem  principal,  acorda  e  segue  realizando  suas  tarefas  rotineiras,  segue  seu  ritual  matinal  em  direção  ao  trabalho,  passa  para  buscar  um  sorvete  na  “loja  de  conveniências”  como  o  faz  em  todas  as  manhãs  ­  sem,  em  momento  algum,  se  dar  conta de que a hecatombe já ocorrera. Aqui, nesta cena, enxergamos a construção de um traço  anamórfico  desta  catástrofe,  temos  o  segundo  plano,  borrado  e  já  completamente  reconfigurado  pela  devastação  dos  mortos­vivos,  enquanto  o  personagem  de  Shaun  segue,  quase como se já agisse sabendo exatamente que a catástrofe já havia ocorrido, como se nada  houvesse mudado, até mesmo em momentos satiricamente curiosos, onde a nova configuração  social  invade  sua  realidade  e  os  zumbis  se  apresentam  diante  de  seus  olhos,  o  herói  apenas 

segue  sua  rotina  rumo  ao  trabalho.  Esta  é  a  sutileza  que  possivelmente  melhor  traduz  a  complexa   composição   da   realidade   catastrófica   da   atualidade.      Um  pensador  que  pode nos auxiliar a localizar alguns pontos­de­fuga nesta discussão é  o  filósofo  esloveno  Slavoj  Žižek  que,  em  sua  prescrição  do  viver  no  final  dos  tempos  passa  a  discutir a queda da estrutura Pai­orientada da sociedade sob uma leitura filosófica­psicanalítica.  Nesta  discussão,  há  uma  lição  que  o  muitos  intelectuais  esquerdistas  da  cultura,  segundo  o  mesmo,  ainda  não  pareceram  captar  do insight de Marx e Engels presente no primeiro capítulo  do  Manifesto  Comunista.  Tantos  ainda  focam  sua  crítica  na  prática  e  na  ideologia  patriarcal,  e  parece  que  ainda  não  se  darem  conta  de  que o caráter hegemônico patriarcal já caiu por terra.  Žižek  numa  nota  de  rodapé,  aponta  para  um  pivô  teórico  da  alteração  paradigmática  da  tessitura   social,   ou   então,   a  noção   de   Nome­do­Pai,   e  seu   papel   de:      ...estruturar  o  espaço  simbólico,  sustentando  proibições  que  constituem  e estabilizam desejos ­  o  que  acontece  com esse papel com a ascensão da autoridade materna? [pergunta o autor ­ e, seguindo  a  citação]  Também,  para  Lacan,  o  Nome­do­Pai  apenas  funciona  quando  reconhecido  ­  referido  ­  pela  mãe,  sendo  assim,  para  ele,  o  Nome­do­Pai  é  um  princípio estruturante para todo o campo da diferença  sexual.  Consequentemente,  pode­se  imaginar  um  casal  lésbico  criando  uma  criança  onde,  mesmo  não  havendo  pai,  o  Nome­do­Pai  está  completamente  operativo.  Então,  o  que  acontece  com  a  diferença  sexual,  assim  como,  com  a  função  simbólica  do  pai,  com  a  ascensão  da  autoridade  materna?  (Žižek,  p.50,   2002)  

  São perguntas feitas pelo mesmo. Logo, uma coisa é admitir diante da desintegração da  autoridade  paterna,  a tese da sociedade globalmente perversa no capitalismo tardio, onde seus  membros,  “narcisistas  patológicos”  se  vêem superegoicamente convidados à gozar e outra, é a  aposta  convicta  na  figura  da  nova  mãe  com  novas  configurações  e  diferentes  coordenadas  ideológicas  para  dar  conta  desse  vazio ­ basicamente, por tratar­se apenas de uma alternância  e  nem  de  perto,  da  manifestação  de  um  Novo.  Longe  disto,  Žižek  grifa  nessa situação ainda o  aspecto  sentimental­católico,  que  por  vezes  surge,  na  narrativa  heróica  dos  pais  solteiros  que  fazem  a  família  se  segurar  diante  do  abandono  ou  ausência  da  outra  metade  ­  uma  narrativa,  clássico   trágica   que   não   lê   tão   bem   essas   nuances   do  h   orror   e  da  c  atástrofe .     Este  termo  é  chave  e  corrobora  para  compreendermos  a  postulação  de  Žižek de que a  “formulação  crítica  que  a  ideologia  patriarcal  continua  sendo a ideologia hegemônica é a forma  da  ideologia  hegemônica  dos  nossos tempos ­ sua função, é nos permitir escapar dos entraves  da  permissividade  hedonista  que  é atualmente hegemônica” (Žižek, p.50, 2002). E aqui, recai o  risco  do  apaixonamento  pela  narrativa  Mad  Max:  Fury  Road.  Essa  linha  de  pensamento  recai  no  que  pareceria  uma  solução  em  duas  frentes,  seguindo  Žižek:  a)  pelo  “verdadeiro”  multiculturalismo  ou  b)  abandono  da  possibilidade  universal  enquanto  tal.  Sendo  que  ambas  soluções  são  problemáticas,  uma  vez  que  o  “verdadeiro”  (entre  aspas)  multiculturalismo  se  coincide  com  a  neutralidade  legal  universal,  e  sendo  assim, impede que cada cultura particular  possa  afirmar  sua  identidade  (Žižek,  2002)  ­  temos  consequentemente,  problemas  por  ambas  as  vias.  Cito  a  sugestão  de  Žižek  à  uma   questão  candente :  “A  coisa  a  se  fazer  é  mudar  completamente  o  campo,  introduzindo  um  Universal  totalmente  diferente,  esse  de  uma  luta 

antagonista  da  qual,  mais  do  que  substituir  ou  tomar  lugar  entre  comunidades  particulares,  racha  cada  comunidade  por  dentro,  fazendo  que  o  link  “trans­cultural”  entre  comunidades seja  o  da  luta  compartilhada”  (Žižek,  p.  53,  2002).  E  é,  justamente  neste  movimento  que, a paródia  “ Shaun  of  the  Dead ”  parece  ser,  curiosamente,  mais  cuidadosa  diante  de  sua proposta do que  fazer,   frente   à  catástrofe.      Atualmente,  problematizar  a  catástrofe  e  pensar  o  futuro  não  se  trata  de  alarmismo  ­  mas  sim,  de  um  imperativo  crítico.  Especialmente,  quando  não  fazê­lo,  cada  vez  mais,  parece  um  gesto  de  mau­caratismo  e/ou  de  uma  má­fé  sartriana.  Claramente,  há  um  posicionamento  que  divide  e  que  marca,  este  parece  ser  cada  vez mais vital para esta discussão e trata­se, da  indagação  fundamental  ­ de que, se vivemos a catástrofe, como operar? Segue a passagem de  Žižek:   “capitalismo  liberal­democrático  é  tido  enquanto melhor cenário social possível;  tudo  que  se  pode  fazer  é  torná­lo  mais  justo,  tolerante  e  daí  por  diante.  Uma  simples  porém  pertinente  questão  surge  aqui:  se  o  capitalismo  liberal­democrático  é, se não a melhor, então a forma de sociedade menos pior,  por  que  não  deveríamos  simplesmente  nos  resignar  a  ele  de  uma  forma  madura,  e  até  aceitá­lo  ardentemente?  Por  que  insistir  na  hipótese  comunista,  contra   todas   as   possibilidades?”   (Žižek,  t rad.   livre   ­  2009) 

  Tomar  uma  atitude  verdadeiramente  crítica  diante  das  questões colocadas e agir diante  da inércia da luta e das constantes “vitórias” do capitalismo é o dever de todo aquele que, longe  do  conformismo  de  aceitar,  acredita  na  hipótese  comunista,  no  fato  de  que  o  capitalismo  caminha  para  seu  próprio  fim  com  as  contradições  que  cria  e  para  além  disto,  enxerga  neste  movimento  que  nós  somos  aqueles  que  esperávamos  (outra  prescrição  zizekiana).  E  ao  contrário  de,  como  aponta  Zygmunt  Bauman,  sermos  otimistas  e  acreditarmos  que  este  é  o  melhor  mundo  possível  ­  ou  mesmo  pessimistas  e  acharmos  que  os  otimistas  podem  estar  certos  ­,  devemos  nos  posicionarmos  como  esperançosos.  Todavia,  não  no  sentido de alguém  que  espera  pacientemente  e  inerte  que  a  derrocada  do  sistema  aconteça,  como  veemente  criticamos  no  começo  desta  fala,  e  sim  buscando  a  coerência  e  capacidade  de  liderar  os  movimentos   de   transformação   do   mundo   em   prol   deste   novo.    As  crises  recentes  pelas  quais o sistema capitalista passou só servem para nos mostrar  que  quem  se  enredou,  que  quem  fora  a  principal  vítima,  foi  a  esquerda.  A  esquerda,  representada  em  um  partido  vanguardista,  que  teria  o  papel  atribuído  por  Lênin  para  liderar  a  massa  trabalhadora  vítima  deste  sistema,  é  aquela  que  acabou  por  fazer  concessões.  Por  vezes,  inclusive,  covardemente  dizer  que  o  marxismo era datado. E este é seu maior erro, pois  já  assinalava  o  mesmo  Lênin  em  1910  que   “o  marxismo  não  é  um  dogma  morto,  não  é  uma  qualquer  doutrina  acabada,  pronta,  imutável,  mas  um  guia  vivo  para  ação,  precisamente  por  isso  não  pode deixar de refletir em si a mudança surpreendentemente brusca das condições da  vida  social” .  Agora,  o  grande  ponto  que  devemos  colocar  em  questão  depois  desta  breve  articulação,  vem  justamente  na  insistência da hipótese comunista, insistir neste Novo Universal  e  finalmente,  entendermos  que  nós  somos  os  coveiros  que  esperávamos,  cabe  agora,  diante 

do  cenário  atual  e  apenas  uma  final  ressalva:  “Como  não  nos  apaixonarmos  por  nós  mesmos  ao   longo   deste   processo?”        Bibliografia:    BAUMAN,  Z.   Zygmunt  Bauman:  “Vivemos  o  fim  do  futuro” .  Disponível  em:  http://epoca.globo.com/ideias/noticia/2014/02/bzygmunt­baumanb­vivemos­o­fim­do­futuro.html ,  acesso  em   20/09/2016.  EAGLETON,   T.  M   arx   Estava   Certo .  Rio   de   Janeiro:   Nova   Fronteira,   2012.  KALOCHIN,   F.  O     Desenvolvimento   Como   Luta   Entre   os   Contrários .  Disponível   em:  https://www.marxists.org/portugues/tematica/livros/materialismo/05.htm#c5tr20 ,  acesso   em   20/09/2016.  LENIN,  V.   Acerca  de  algumas  particularidades  do  desenvolvimento  histórico  do  marxismo .  Disponível:  h   ttps://www.marxists.org/portugues/lenin/1910/12/23.htm ,  acesso   em   20/09/2016.  MARX,   K.;   Engels,   ENGELS,   F.  M   anifesto   Comunista .  São   Paulo:   CHED,   1980.  ŽIŽEK,  S.   Como  começar  do  início   in  New  Left  Review  57.  Disponível  em:  https://newleftreview.org/II/57/slavoj­zizek­how­to­begin­from­the­beginning ,  acesso   em  2   0/09/2016.  ŽIŽEK,   S.  E   m   defesa   das   causas   perdidas .   São   Paulo,   Ed.   Boitempo:   2002. 

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