ONDE ESTÁ O TURISMO NO BRASIL? UMA EXPLORAÇÃO DA DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DAS ACTs A PARTIR DA RAIS.

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A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO

ONDE ESTÁ O TURISMO NO BRASIL? UMA EXPLORAÇÃO DA DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DAS ACTs A PARTIR DA RAIS. MAURÍCIO RAGAGNIN PIMENTEL1 Resumo: Este é um estudo exploratório da distribuição espacial das Atividades Características do Turismo (ACTs) no Brasil tendo como fonte a RAIS, do Ministério do Trabalho e Emprego, desagregada em nível municipal. Além dos números absolutos, buscou-se caracterizar a especialização dos territórios municipais em ACTs através da medida de seus Quocientes Locacionais (QLs). A apresentação dos resultados é composta por três momentos: 1) números absolutos de vínculos em ACTs; 2) ponderação dessa repartição com os índices de especialização dos municípios nessas atividades, medidos por seus QLs; 3) produto entre QLs e vínculos empregatícios apenas das atividades de alojamento. A distribuição apresenta-se desigual e concentrada do turismo no país, com destaque para as áreas urbanas e para o litoral. Palavras-chave: Distribuição espacial; ACTs; Turismo no Brasil.

Abstract: This is an exploratory study about the spatial distribution of Tourism Characteristic Activities (TCA) in Brazil at a municipal level using RAIS, a Ministry of Labor dataset. Other than the absolute figures, the municipal territories specialization in TCAs was calculated through its Location Quotients (LQs). The results presentation is in a three-fold way: 1) TCAs absolute figures; 2) balance between TCAs absolute figures and LQs; 3) the product of LQs and occupational links only to the accommodation activities. The spatial distribution of tourism in Brazil is uneven and concentrated, with a highlight to urban areas and to the coastline.

Key-words: Spatial distribution; TCAs; Tourism in Brazil.

1 –Introdução A Geografia é caracterizada por sua preocupação com o espaço e com a dimensão espacial dos fenômenos (CLAVAL, 2011). Neste sentido, uma contribuição básica concerne à distribuição espacial de determinado objeto de estudo como passo para a compreensão teórica de sua lógica espacial. Pearce (1987, p.02) apontou como objetivo dos estudos sobre turismo e espaço “contribuir para o planejamento, desenvolvimento e gerenciamento do turismo desde uma perspectiva geográfica”. Já Lozato-Giotart (2002) indica os efeitos espaciais provocados pela expansão do turismo como objeto de interesse da Geografia, que deveria se debruçar sobre os problemas geográficos que o turismo como produto da relação entre sociedade e natureza engendra. Independente do

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Acadêmico no Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Email de contato: [email protected]

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sentido dado à abordagem geográfica do turismo, a produção de uma cartografia temática com indicadores que lhes são proxys2 é uma constante metodológica. Dados como os indicadores de fluxo obtidos através do controle de fronteiras, a capacidade de oferta de equipamentos turísticos, a receita tributária de empresas turísticas, ou estoque de empregados em atividades características do turismo (ACTs) são alguns dos subsídios utilizados na busca por compreender o comportamento espacial deste fenômeno. No entanto, cada um traz restrições e implicações para o que é definido como turismo. Duas dificuldades principais são: distinguir o turismo de outras formas de mobilidade e diferenciar o consumo de visitantes daquele de moradores. Neste trabalho a proposta é realizar um estudo exploratório da distribuição espacial das ACTs no Brasil, a partir da base de dados da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). Assim, procura-se caracterizar em que medida os territórios municipais têm sua população engajada na produção no setor de turismo, sendo esse um indicador de sua “turisticidade”. As ACTs incluem bens e serviços que são Produtos Característicos do Turismo, definidos como “aqueles que deixariam de existir em quantidade significativa ou para os quais o nível de consumo seria sensivelmente diminuído em caso de ausência de visitantes” (IBGE, 2010, p.9). De modo geral, as ACTs envolvem: alojamento, alimentação, transportes, serviços de agências e operadoras de turismo, e atividades vinculadas ao entretenimento e à produção cultural. Particularmente neste estudo optamos por também incluir atividades imobiliárias, como uma forma de melhor contemplar destinos que têm nas residências secundárias a principal oferta de alojamento para seus visitantes. A Organização Mundial do Turismo (OMT) tem feito recomendações sobre o agrupamento das ACTs para a produção de estatísticas internacionais. No Brasil, o Ministério do Turismo (2011) compatibilizou essa seleção à Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE 2.0) do IBGE.

2

Proxy: termo de língua inglesa que pode ser traduzido como procurador, ou seja, um termo que atua no lugar de outro. Por exemplo, as medidas de PIB seriam um proxy da riqueza produzida em determinado território.

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2 – Metodologia Nesta seção apresentamos as principais escolhas e os procedimentos que realizamos para obter os resultados que estão expostos no próximo subtítulo. A opção pela RAIS deveu-se à sua cobertura nacional em escala municipal e à sua disponibilidade de acesso online. Outra motivação foi o fato de não termos encontrado trabalhos que utilizassem a mesma fonte com o mesmo propósito. É interessante ressaltar algumas limitações dos dados da RAIS. A primeira é que a fonte diz respeito apenas aos vínculos em emprego formal, não incluindo os proprietários, familiares não remunerados, bem como trabalhadores autônomos ou que não têm carteira assinada. Outros trabalhos utilizam os microdados do Censo e da PNAD como meio de também captar o mercado informal (COELHO, 2011; RIBEIRO el al, 2014). A taxa de formalidade do emprego varia tanto entre as ACTs, quanto entre as macrorregiões brasileiras. Outra possível insuficiência para o propósito de uma análise de distribuição espacial é a probabilidade de alguns estabelecimentos com sedes em distintos municípios registrarem seus vínculos apenas na matriz. Por fim, há de se considerar que não é possível avaliar em que medida a existência de postos de trabalho se deve à demanda turística, ou à demanda de residentes3. Isso é particularmente crítico nas atividades vinculadas à alimentação, que também agrupam o maior número de vínculos dentre as ACTs. Neste sentido, além do conjunto das ACTs, analisamos individualmente as atividades de alojamento, por ser um serviço altamente demandado por visitantes e pouco requisitado por residentes. Pearce (1987) aponta a oferta de alojamento como um proxy adequado para estudar a distribuição do turismo doméstico. Além disso, o setor de hospedagem é o que apresenta maior proporção de vínculos formais (COELHO, 2011) em nível nacional, com 72% no ano de 2008. Entre as diversas variáveis disponíveis da RAIS, utilizamos: o estoque de vínculos de emprego formal e número de estabelecimentos declarantes. Os dados foram estratificados por município e realizamos consultas sobre o conjunto 3

O IPEA, com apoio do Ministério do Turismo, desenvolveu no âmbito do Sistema de Informações sobre o Mercado de Trabalho no Setor de Turismo metodologias para lidar com essa questão. No entanto, ainda não abrangem a escala municipal que é o foco deste estudo.

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selecionado como ACTs (tabela 01), bem como sobre o conjunto de todas as atividades existentes. O recorte temporal utilizado foi o agregado de 2002 a 2013, período em que a consulta pela CNAE 2.0 está disponível. Optamos pela forma agregada por objetivar a análise de uma tendência geral e não sua dinâmica de variação ano a ano. Ao trabalhar com conjunto também visamos minimizar as possíveis distorções de registros que, por ventura, possam estar equivocados para algum munícipio em determinado ano. Outra variável utilizada de forma complementar foram os dados populacionais dos municípios do Censo de 2010 (IBGE, 2015), bem como a classificação que este Instituto faz dos municípios baseada em seu número de habitantes. Tabela 1 Grupo das atividades consultadas como ACTs Classe CNAE 2.0 49124 49221

Descrição da atividade Transporte metroferroviário de passageiros

49507

Transporte rodoviário coletivo de passageiros, com itinerário fixo, intermunicipal, interestadual e internacional Transporte rodoviário coletivo de passageiros, sob regime de fretamento, e outros transportes rodoviários não especificados anteriormente Trens turísticos, teleféricos e similares

50220

Transporte por navegação interior de passageiros em linhas regulares

50912

Transporte por navegação de travessia

50998

Transportes aquaviários não especificados anteriormente

51111

Transporte aéreo de passageiros regular

51129

Transporte aéreo de passageiros não-regular

55108

Hotéis e similares

55906

Outros tipos de alojamento não especificados anteriormente

56112

Restaurantes e outros estabelecimentos de serviços de alimentação e bebidas

56121

Serviços ambulantes de alimentação

56201

Serviços de catering, bufê e outros serviços de comida preparada

68102

Atividades imobiliárias de imóveis próprios

68218

Intermediação na compra, venda e aluguel de imóveis

68226

Gestão e administração da propriedade imobiliária

77110

Locação de automóveis sem condutor

77217

Aluguel de equipamentos recreativos e esportivos

79112

Agências de viagens

79121

Operadores turísticos

79902 90019

Serviços de reservas e outros serviços de turismo não especificados anteriormente Artes cênicas, espetáculos e atividades complementares

90027

Criação artística

90035

Gestão de espaços para artes cênicas, espetáculos e outras atividades

49299

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A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO artísticas 91023

92003

Atividades de museus e de exploração, restauração artística e conservação de lugares e prédios históricos e atrações similares Atividades de jardins botânicos, zoológicos, parques nacionais, reservas ecológicas e áreas de proteção ambiental Atividades de exploração de jogos de azar e apostas

93115

Gestão de instalações de esportes

93191

Atividades esportivas não especificadas anteriormente

93212

Parques de diversão e parques temáticos

93298

Atividades de recreação e lazer não especificadas anteriormente

91031

Fonte: elaboração dos autores.

Como parâmetro para escolha das ACTs utilizamos o trabalho do DEPES do Ministério do Turismo (2011). Cabe pontuar que, além desse conjunto, agregamos as atividades imobiliárias, embora essas não tenham demonstrado influência significativa no quadro geral de distribuição espacial do conjunto das ACTs. Além de tratar dos registros de emprego nas ACTs em termos absolutos, buscamos considerar o peso relativo desse conjunto para a economia de cada município. Ou seja, em que medida os territórios são especializados na produção de bens e serviços para demanda turística? Em que medida tal produção é considerada uma atividade propulsiva e diferenciadora daquele subespaço em relação a outros arranjos territoriais? A noção de especialização indica que determinada produção é exportada, atingindo um mercado que transborda os limites do público composto pelos consumidores que residem em determinado território (PAIVA, 2013). Um indicador para considerar o grau de especialização produtiva de determinada área é o Quociente Locacional (QL). Como podemos ler em Paiva (2013, p.77), North (1955, p.300) aponta que o QL “compara a concentração de emprego de uma determinada indústria em uma área (a economia objeto) com outra área (a economia referência)”. Assim, o QL resulta do quociente entre: A – emprego em determinado setor da área objeto dividido pelo emprego total naquela área, e B – emprego em determinado setor da área referência dividido pelo emprego total da área de referência. Considerando que os padrões de consumo são semelhantes entre as áreas pesquisadas, a área objeto e a área referência, um QL elevado significa que a área objeto possui proporcionalmente mais mão de obra empregada para produção naquela determinada atividade, e provavelmente sendo ela mais

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especializada que a área referência sob esse aspecto. Neste caso a área objeto eram os municípios individualmente e área referência o conjunto desses, o Brasil. Uma consideração a ser feita em relação à especialização territorial no setor de serviços, é que grande parte dessas atividades solicita o deslocamento da demanda para seu consumo, e não o trânsito dos produtos, como no setor primário e secundário. Geram-se, portanto, mobilidades, que são tomadas indistintamente como sinônimo de turismo em definições deste fenômeno centradas no prisma econômico. Cabe ainda registrar que para a produção dos mapas temáticos utilizamos a base cartográfica da divisão administrativa municipal brasileira disponibilizada pelo Ministério das Cidades (CIDADES, 2015). Testamos diferentes procedimentos para realizar o agrupamento e categorização dos municípios, tendo em vista os resultados obtidos. Ao fim o método hierárquico Ward, da soma dos quadrados (HAIR, 2010), nos pareceu o mais apropriado para a definição dos clusters nos níveis superiores. Para a elaboração dos mapas os valores inferiores à soma entre média e desvio padrão foram agrupados como um conjunto único, pois sua consideração não era pertinente ao objetivo proposto.

3 – Resultados Dividimos a apresentação dos resultados em três partes: números absolutos de vínculos em ACTs; a ponderação dessa repartição com a especialização territorial dos municípios nessas atividades, medida por seus QLs; e o produto entre as variáveis padronizadas QLs e Vínculos apenas das atividades de alojamento. Em termos absolutos, a consulta realizada apontou a existência de 23.542.344 de vínculos em ACTs no período de 2002 a 2013. Isso representa 3,42% do conjunto total de 687.864.814 de vínculos no período. A distribuição do número de vínculos e de estabelecimentos por setores (agrupamento de atividades) pode ser conferida na tabela 02.

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A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO Tabela 2 - Distribuição do número de vínculos e de estabelecimentos por setores das ACTs

Agências de viagem Entretenimento e cultura Imobiliária Transportes Hospedagem Alimentação

Vínculos

%

Estabelecimentos

%

757.189 1.023.451 1.192.903 3.482.058 3.663.169 13.423.574

3,22% 4,35% 5,07% 14,79% 15,56% 57,02%

208.165 468.023 508.230 351.315 330.554 3.075.783

4,21% 9,47% 10,28% 7,11% 6,69% 62,24%

Fonte: elaboração dos autores com base na RAIS.

Outra análise realizada foi o cruzamento do número de vínculos, e de estabelecimentos, em ACTs com a população dos municípios, segundo o censo de 2010 (IBGE, 2015). Tabela 3 - Número de vínculos e de estabelecimento por classe de município. População do município Até 5 mil

Vínculos ACTs

%

Estabelecimentos ACTs

%

112.770

0%

88.357

2%

De 5 a 10 mil

251.335

1%

152.769

3%

De 10 a 20 mil

629.218

3%

338.503

7%

De 20 a 50 mil

1.796.509

8%

658.219

13%

De 50 a 100 mil

1.746.040

7%

509.896

10%

De 100 a 500 mil

6.414.954

27%

1.342.255

27%

Mais de 500 mil

12.591.518

53%

1.852.071

37%

23.542.344

100%

4.942.070

100%

Total

Fonte: elaboração dos autores com base na RAIS e no Censo 2010.

Constata-se a correlação entre turismo, medido através dos vínculos em ACTs, e urbanização, identificada pela concentração do número de habitantes. Os municípios com população superior a 100 mil habitantes concentram 80% dos vínculos em ACTs. O que recorda que “o turismo não constitui uma simples atividade funcional assentada em uma organização de suporte urbano, mas sim um elemento e um vetor de afirmação da urbanidade contemporânea” (LUSSAULT & STOCK, 2012). Da mesma forma, se observa uma concentração das ACTs nas regiões mais populosas e urbanizadas do país (tabela 04 e mapa 01). O destaque é a região sudeste, em que o Estado de São Paulo concentra 30,4% dos vínculos formais em ACTs no Brasil, seguido de Rio de Janeiro (13%), Minas Gerais (10,2%). Cabe ressalvar a limitação da RAIS em considerar apenas os vínculos formais. Em

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estudos que buscam incluir vínculos informais (COELHO, 2011), a região nordeste tem maior participação que a região sul. Tabela 4 - Número de vínculos e de estabelecimentos por macrorregião. Macrorregião

Vínculos ACTs

%

Estabelecimentos ACTs

%

872.927

4%

133.655

3%

Centro-oeste

1.900.141

8%

325.420

7%

Nordeste

3.592.947

15%

621.079

13%

Sul

4.064.454

17%

1.167.840

24%

Sudeste

13.111.875

56%

2.694.076

55%

23.542.344

100%

4.942.070

100%

Norte

Total

Fonte: elaboração dos autores com base na RAIS. Mapa 1 - Distribuição espacial dos vínculos em ACTs

Fonte: elaboração dos autores.

Além da distribuição absoluta dos vínculos em ACTs, nelas consideramos ainda a especialização dos territórios através do cálculo dos QLs. Do total de 5.564 registros municipais verificou-se que 3.840 tinham um QL inferior à média. Por outro lado, 591 municípios apresentam QL acima de 1, indicando certa especialização, e desses 373 com ao menos um desvio padrão superior à média (acima de 1,25). Esse resultado aponta o desenvolvimento desigual e concentrado do turismo, pois para a grande maioria dos municípios as ACTs não empregam significativamente a

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sua população. A tabela 05 apresenta as estatísticas principais dos QLs tendo em vista a classe populacional dos municípios. Tabela 5 Estatísticas dos QLs das ACTs por classe de municípios Média de QL ACTs 0,28

Mín.

Máx.

0,00

14,74

σ QL ACTs 0,76

De 5 a 10 mil

0,35

0,00

9,19

0,71

De 10 a 20 mil

0,40

0,00

11,04

0,81

De 20 a 50 mil

0,59

0,00

10,72

0,89

De 50 a 100 mil

0,75

0,00

5,10

0,66

De 100 a 500 mil

0,98

0,07

7,42

0,67

Mais de 500 mil

1,09

0,70

1,55

0,23

População do município Até 5 mil

Fonte: elaboração dos autores com base na RAIS e IBGE.

Os municípios com maior população apresentam uma média de seus QLs mais alta, no entanto o menor desvio padrão e os valores máximos pouco elevados indicam sua pouca especialização em ACTs, justificada por sua economia diversificada.

Em contrapartida, dos municípios menores alguns têm um QL

elevado, indício de especialização em ACTs, embora em termos absolutos o número de vínculos seja, muitas vezes, pouco expressivo. Para balancear essas situações utilizamos como indicador o produto dos escores padrão das varáveis QLs e número de vínculos em ACTs. Os resultados foram classificados em seis agrupamentos pelo método Ward (tabela 6). Os valores negativos a para maioria dos municípios reforçam a noção de que as ACTs são espacialmente concentradas. A tabela ainda apresenta o número de municípios em cada classe por macrorregião. Tabela 6 - Distribuição por classes dos produtos entre QLs e Vínculos (valores padronizados) Nº. municípios

%

Classe F de -0,21 a -0,02

4058

72,93%

Classe E de -0,02 a 0,29

1051

18,89%

Classe D de 0,29 a 1,15

354

6,36%

Classe C de 1,18 a 3,36

77

1,38%

Classe B de 3,86 a 8,49

22

0,40%

Classe A acima de 8,49

2

0,04%

346 319 1521 841 1031 80 109 182 256 424 18 28 64 71 173 5 8 17 13 34 2 9 7 4 2

5564

100%

449 466 1793 1188 1668

Classes

Total Fonte: elaboração dos autores.

N

CO

NE

S

SE

No mapa com a distribuição espacial das classes de valores mais elevados (mapa 02) nota-se que além da concentração em áreas urbanizadas há

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uma presença importante das ACTs no litoral, embora não de modo homogêneo. Afora os balneários marítimos, ainda se distingue a presença de estações termais, estâncias climáticas e destinos ecoturísticos. Mapa 2 - Produto entre variáveis padronizadas QLs e vínculos em ACTs

Fonte: elaboração dos autores

A aglomeração urbana figura-se como um fator significativo na distribuição do conjunto das ACTs, visto que além de concentrarem os importantes equipamentos de transportes, constituem a principal localização tanto da oferta quanto da demanda por serviços caracterizados como turísticos. Todavia, essa aglomeração é própria de uma sociedade pautada pela mobilidade, cujo motivo nem sempre é recreativo, podendo ser de propósito corporativo, em busca de serviços de saúde, ou para visitar familiares, por exemplo. Para alguns autores (ÉQUIPE MIT, 2002; VIOLIER, 2008) essas mobilidades não se caracterizam como turísticas, dada a limitação de escolha da destinação e a ausência de propósitos de lazer. Por isso, em um terceiro momento, consideramos utilizar apenas as atividades de alojamento como proxy do turismo. Tais atividades têm baixo consumo por locais, não são solicitadas por excursionistas e são requisitadas pelos turistas em seu projeto

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habitar temporariamente outro lugar com propósito recreativo (VIOLIER, 2008). Para Pearce (1987, p.114): Estatísticas de alojamento tendem a ser usadas principalmente para indicar variações espaciais da importância do turismo [...]. Como medida da importância do setor turístico, é lógico o uso do alojamento, visto que a estada fora de casa é uma das características definidoras do turismo.

Conforme o mapa 03, percebe-se a emergência de um outro quadro: Mapa 3 - Produto entre as variáveis padronizadas QLs e vínculos de alojamento.

Fonte: elaboração dos autores.

Ganham destaque os municípios cujo grau de influência do turismo na produção de sua espacialidade parece ser maior, e cuja imagem coincide com a percepção de espaços turísticos devotados à recreação. Outra proeminência é maior diversidade de classes, reflexo da acentuada dispersão dos indicadores, embora para maioria dos municípios os valores continuem não sendo expressivos.

4 – Encaminhamentos Desde este estudo exploratório percebemos que o turismo se apresenta espacialmente concentrado e distribuído de forma desigual no território brasileiro. Esse resultado é um convite para aplicarmos futuros esforços em estudar os locais em que se concentram as ACTs e, assim, buscar a compreensão das implicações do turismo na formação desses territórios, bem como o entendimento da lógica da

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configuração espacial do turismo no Brasil. Por outro lado, também questionamos as produções calcadas nas noções de “potencial” ou “vocação” turística. Elas parecem não explicar, por exemplo, o que os balneários presentes em nossos mapas têm de distinto do restante do litoral. Isso porque escondem a dimensão situada e processual de um sistema que interliga atores, lugares e práticas, e cujos componentes isolados não são suficientes para a emergência do turismo. Ressalta-se, por fim, as limitações das fontes utilizadas e a necessidade de realizar-se estudos complementares para dotar de maior consistência os resultados obtidos quanto à distribuição espacial do turismo no Brasil.

5 – Referências bibliográficas BRASIL. Ministério das Cidades. Shape Brasil Municípios. Disponível http://www.brasilemcidades.gov.br/src/html/downloads.html. Acesso em: 24 jun 2015.

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