OPERACIONALIZAÇÃO DOS CIRCUITOS CURTOS DE COMERCIALIZAÇÃO: CASO DA APROTUNAS

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OPERACIONALIZAÇÃO  DOS CIRCUITOS CURTOS DE COMERCIALIZAÇÃO: CASO  DA APROTUNAS  Everton Bortolini  [email protected]  Simone Rodrigues Wiltenburg Sales  [email protected]  Denys Dozsa  [email protected]  Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares (ITCP) Universidade Federal do  Paraná (UFPR) Curitiba, Paraná, Brasil  Eje­temático: ​Consumo en clave de economía social y solidaria     1. Introdução    Nas  politicas  públicas  de   fortalecimento  da  agricultura  familiar  e  da  seguridade  alimentar  idealizadas  por  Da  Silva  (1999)  como  o  Programa  de  Aquisição  de  Alimentos   (PAA)  e  Programa  Nacional  de  Alimentação  Escolar  (PNAE)  a  gestão  da  oferta  e  da  demanda  dos  produtos  é  a  primeira  etapa  para  execução  de  maneira  satisfatória  de  tais  programas  (CONAB,  2014).  Além  disso,  em  termos  práticos,  dentro  do  trabalho  desenvolvido  pela  ITCP/UFPR  na  gestão  dos  projetos  de  compra  de  alimentos  por  meio  de  políticas  públicas  verificou­se  que  era  necessário  pensar  em   novas  estratégias  de  trabalhar  a  comercialização  de  alimentos  com  os  agricultores,  principalmente  no  que  tange  a  logística  dos  alimentos  que  liga  o  agricultor  ao  consumidor  em  busca  da  redução  dos  custos  de  transporte  ou armazenamento mantendo a preocupação com a qualidade dos produtos. Assim,  a  materialização  dos  conceitos de circuitos curtos de comercialização de alimentos (CCCA) e  de  circuitos  econômicos  solidários  (CES),  descritos  neste  artigo,  tem  o  potencial  de  tornar  a  gestão das políticas públicas mais adequada.  O  Programa  de  Aquisição  de  Alimentos   (PAA),  como  descrito no manual operativo  do  Programa  de  Aquisição  de  Alimentos  (PAA)  publicado  pela  Companhia  Nacional  de  Abastecimento  (CONAB,  2014),  é  uma  política  pública  de  seguridade  alimentar  cujo  foco  é  atender  rede  socioassistencial  e  equipamentos  públicos  de  alimentação  e  nutrição  que  suportam  prioritariamente  pessoas  em  estado  de  vulnerabilidade.  Quanto  a  origem  dos  produtos  neste  programa,  os  mesmos  devem  prover de agricultores familiares. Desta maneira 

 

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o  programa  provê  um  acréscimo  na  renda  para  as  famílias  produtoras  com  a  garantia  de  consumo  para  seus  produtos  no  período  de  um  ano.  Além  deste  ponto,  o  programa  tem  por  objetivo  o  incetivo  ao  cooperativismo,  por  meio  da associação de vários produtores em torno   de um mesmo projeto, e à comercialização local dos produtos.  Os  circuitos  curtos  de  comercialização  de  alimentos  (CCCA)  (Ploeg  et  al,  2000;  Marsden  et  al,  2000;  Renting  et  al,  2003;  Chiffoleau,  2008)  é  um  conceito  definido  em  Marsden  et  al  (2000),  que  tem  por  característica  rever  a  relação  entre  consumidores  e  produtores  de  alimentos  em  que  o  consumidor  cria  uma  ligação  direta  com  o  produtor,  e  o  espaço  no  qual  o  produto  é  produzido.  Tal  proximidade  muda  a  relação  de oferta e demanda  de  produtos  entre  produtores   e  consumidores,  pois ambas partes podem combinar tais fatores  de  maneira  a  não  existir  excedentes  ou  falta  de  produtos.  Além  disso,  as  relações  entre  produtor  e  consumidor  pode  ser   face­à­face  (quando  há  proximidade  social  e  econômica),  espacial  (quando  a  proximidade  geográfica)  ou  por  indicação  geográfica  (quando  há  o  conhecimento  do  local  de  produção)  (Marsden  et  al,  2000).  Outra  modo  de   enquadramento  dos  circuitos  é  quanto  à  origem  do  alimento  com  maior  foco  na  característica  regional ou na  característica ecológica do produto.  Os  circuitos  econômicos  solidários   (CES)   visam  o  desenvolvimento  econômico,  ecologicamente  sustentável  e  socialmente  justo,  para  o  bem­viver  de   todos  por   meio  da  integração  dos  processos  de  consumo,  comercialização,  produção,  financiamento,  desenvolvimento  tecnológico  e  humano  como  descrito  por  Mance  (2000).  A  organização  de  tais  processos  exigem  a  construção  de  redes  colaborativas  e  reorganização  dos  fluxos  econômicos  que  atravessam  um  território  ou  uma  rede  (Mance,  2000).  A  reorganização  de  fluxos  econômicos  visa  mensurar  uma  demanda  de  produtos  e  serviços  que  tem por objetivo   atender  os  critérios  para  o desenvolvimento citados anteriormente de forma que dentro de um  mesmo  circuito  econômico  haja  a  produção  do  produto  ou  serviço  demandado  evitando  excedentes  ou  escassez,  construindo  redes colaborativas visando criar um  circuito econômico  solidário.  Os  conceitos  de  circuitos  econômicos  solidários  e  os  circuitos  curtos  de  comercialização  de  alimentos  (CCCA) convergem em relações  a importância da proximidade  entre  produtores  e   consumidores.  Contudo,   os  circuitos  curtos  de  comercialização  de  alimentos  (CCCA)  enquadra  os  tipos  de   proximidades  e  as  característica  da   origem  do  alimentos,  como  abordado  anteriormente,  o  que  facilita  o  entendimento  quanto  aos  tipos 

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relações  consumidor­produtor  e  aos  tipos  de  produto  que  fazem  parte  do  circuito.  Porém,  os  circuitos  econômicos   solidários  (CES)  vão  além,  buscando  o  bem­viver  das  pessoas  envolvidas  por  meio  de  processos  produtivos  ecologicamente  sustentáveis  e  socialmente  justos,  e  promovendo a interação entre os circuitos na forma de troca de conhecimentos ou de  produtos.   Assim,  a  relação  entre  o  consumo  e  a  produção  se  apresenta  como  uma  relação  de  dependência  mútua,  na  qual  Retondar  (2007)  afirma  que é preciso ter ética no consumo, para  fazer  oposição  à ética da acumulação de capital, onde, atualmente esta relação humana tem se  transformado  em  uma  relação  entre  “coisas”  e  “objetos”.  Além  disso,  nas  relações  entre  circuitos,  mesmos  economicamente  independentes,  os  mesmos  devem  dialogar  entre  si  para  complementar   um  mercado  e não criar concorrência. A troca de experiências de boas práticas  entre  circuitos  é  outra  ação  que  está além do econômico. Em adição, utilizar práticas que não  agridam  o  meio  ambiente  como  o  uso  racional  do  transporte e pluricultura na agricultura são  ações que fortalecem os circuitos no âmbito ecológico.  Os  pontos  apresentados  dialogam  com  as   alavancas  do  desenvolvimento  local,  as  quais  são:  a  social,  a  econômica,  a  cultural  e  a  ambiental,  como  apresentadas  por  Prevóst  (2004)  o  que  fortalece  ainda  mais  os  conceitos  do  circuitos  curtos  de  comercialização  de  alimentos  (CCCA)  e  os  circuitos  econômicos  solidários   (CES)   no   objetivo  desenvolver  os  territórios ligados à um circuito ou a um conjunto dos mesmos.  Assim  exposto,  a  partir  da  experiência  da  Incubadora  Tecnológica  de  Cooperativas  Populares  da  Universidade   Federal  do  Paraná (ITCP­UFPR) com a Associação de Produtores  de  Tunas  do  Paraná  (Aprotunas) onde foi trabalhado com os princípios da economia  solidária  (Singer,  1997;  Mance,  1999;  Singer,  2002),  desenvolvimento  local  (Prevóst,  2003;  da  Silva,  1999)  e  tecnologias  sociais  (Dagnino  et  al,  2004),  pode­se  por  em  prática  os  princípios  dos  circuitos  curtos  de  comercialização  de  alimentos  (CCCA)  e  os  circuitos  econômicos  solidários  (CES)  por  meio  de  uma  política  pública,  o  Programa  de  Aquisição  de  Alimentos  (PAA).  Nos conceitos expostos por Mance (2000), as fontes de consumo de produtos incluem  as  famílias,  o  governo,  os  empreendimentos  e  os  atores  externos  as  comunidades.  Assim,  as  entidades  em  um  projeto  para  o  Programa  de  Aquisição  de  Alimentos  (PAA)  adentram  os  circuitos  econômicos   solidários como demandadoras governamentais de produtos. Na relação  entre  produtores  e   consumidores  há  um  ator  intermediário  que  são  os  responsáveis  pelas  entidades, da rede socioassistencial, que definem quais produtos serão consumidos. 

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É  dentro  desse  contexto,  que   os  circuitos  curtos  de  comercialização  de  alimentos  (CCCA)  e  os  circuitos  econômicos solidários (CES) aparecem como alternativa para a gestão  de  projetos  para  o  Programa  de  Aquisição  de  Alimentos  (PAA),  pois  promovem  a  aproximação  do  consumidor  com  o  produtor  pela  sua  proximidade  geográfica,  e  por  consequência,  pela  variedade  de  produtos  demandados,  promove  a  diversificação  da  produção  na  região,  acrescentado­se  ainda  a redução da circulação dos alimentos o que reduz  custos com transporte para os agricultores e os impactos ambientais promovidos por esse .  Assim,  este  trabalho  tem  por   objetivo  comparar  duas  propostas  para  o  Programa  de  Aquisição  de  Alimentos  (PAA)  para  uma  área  de  estudo,  na  qual  uma  não  passou  pelos   conceitos  dos  circuitos  econômicos  solidários  e  dos  circuitos  curtos  de  comercialização  e  a  outra  considerou  tais  conceitos.  Tal  comparação  possibilita  verificar  se  a  aplicação  dos  conceitos  de  Circuitos  Curtos  de  Comercialização  de  Alimentos  (CCCA)  e  Circuitos  Econômicos  Solidários  (CES)  impactam  positivamente  ou  não  numa  melhor  adequação  de  projetos  de  políticas  públicas  para  a  agricultura  familiar  e  seguridade  alimentar.  Por  fim,  a  resultante  desta  comparação  permite  nortear  a  aplicabilidade  e  a  reaplicabilidade  dos  conceitos expostos no trabalho.    2. Área de estudo    Área  de  estudo  compreendeu  a  região  de  atuação  do  projeto  para  o  Programa  de  Aquisição  de  Alimentos  (PAA)  proposto  pela  Associação  de  Produtores  de  Tunas do Paraná  (APROTUNAS) que compreende os municípios de Tunas do Paraná e Cerro Azul.  Os  municípios  de  Cerro  Azul  e  Tunas  do  Paraná  localizam­se  no  território  do  vale  do  Ribeira  no  estado  do  Paraná   (figura  1)  a  uma  distância  aproximada  de   60   quilômetros  da  capital  do  estado,   Curitiba.  O   Vale  do  Ribeira  é  constituído  por  sete  municípios:  Adrianópolis,  Bocaiúva  do  Sul,  Cerro  Azul,  Doutor  Ulysses,  Itaperuçu,  Rio  Branco  do Sul e  Tunas  do  Paraná,  todos  os  municípios  deste   integram,  oficialmente,  a  Região  Metropolitana  de  Curitiba  (IPARDES,  2007).  Segundo  o  IBGE  (2010)  Tunas  do  Paraná  e  Cerro  Azul  têm  população  residente   de  6.256  e  16.938  respectivamente.  Sendo que destes, aproximadamente  44,63%  e  49,52%  de  sua  população  vivem  na  parte  rural  de  seus  respectivos  municípios.  Sendo a agricultura familiar muito representativa em ambos os municípios.    

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FIGURA 1 ­ LOCALIZAÇÃO DOS MUNICÍPIOS DO VALE DO RIBEIRA DO PARANÁ 

  FONTE: Os autores (2016). 

  Buainaim  e  Romeiro  (2000),  afirmam  que  a  agricultura  familiar  desenvolve,  em  geral,  sistemas  complexos   de  produção,  combinando  várias  culturas,  criações   animais  e  transformações  primárias,  tanto  para  o  consumo  da  família  como  para  o  mercado.  Segundo  Schneider  (1999)  a  composição  das  estratégias  da  Agricultura  Familiar  depende  de  aspectos  importantes  que  compõem  o  meio  no  qual  os   agricultores  familiares  estão  inseridos.  Assim,  ao  se  definir  a  agricultura  familiar  contemporânea,  deve­se  levar  em  conta  todas  as  formas  que  essa  categoria  social  apresenta,  seja  ela  baseada  no  trabalho  familiar  não­agrícola  (pluriatividade)   ou   com  a  participação  do  trabalho  assalariado,  mas  que  a  essência  da  mão­de­obra familiar (agrícola ou não­agrícola) seja preservada.  A  Aprotunas  é  composta  por  69  produtores  rurais  concentrados  em  8  comunidades,  as  quais  foram  nominadas  como  centrais  no  mapa  apresentado  na  figura  2,  distribuídas  em  dois  municípios:  Tunas  do Paraná e Cerro Azul.  Além disso, nos projetos para o Programa de  Aquisição  de  Alimentos  participam  37  entidades,  as  quais  são  receptoras  dos  produtos  do  projeto,  localizadas  nos  municípios  de  Tunas  do  Paraná,  Cerro  Azul,  Bocaiuva  do  Sul  e  Curitiba como mostra a figura 2.       

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FIGURA 2 ­ LOCALIZAÇÃO DOS MUNICÍPIOS RELACIONADOS AO PROJETO DE PAA 

  FONTE: Bortolini (2015). 

  Quanto  ao  impacto  financeiro  de  um  projeto  do  Programa  de  Aquisição  de  Alimentos  (PAA)  para  a  região  do  vale  do  Ribeira  destaca­se  que   segundo  o censo do IBGE  de  2010  (IBGE,  2010)  o  rendimento  per  capita  de  domicílios  particulares  permanentes  na  zona rural de  Tunas do Paraná é de R$ 287,25 por mês ou de R$ 3.447,00 reais por ano e para  o  caso  de  Cerro  Azul  é de R$ 255,00 por mês ou de R$ 3.060,00 por ano, vale ressaltar que o  valor  representa  o  rendimento  mediano,  ou  seja,  metade  da  população  rural  ganha esse valor  ou  menos.  Assim,  o  projeto  possibilita  uma  melhoria  de  renda  para os produtores garantindo  uma  renda  anual  de  R$   8.000,00   (CONAB,  2014),  ou  seja,  garante  um  rendimento  maior  as  famílias  em  uma  região  no  qual  os  empregos  são na sua maioria na industria extrativista e  de  mineração  (IPARDES,  2007).  Além   disso,  provê  as  entidades  os  alimentos  necessários  para  as  mesmas  custeado  pelo  Ministério  da  Desenvolvimento  Social  e Agrário, garantindo assim  a  seguridade  alimentar  para  as  pessoas  atendidas  por  tais  entidades sem encargos financeiros  as mesmas.  Quanto  a  distribuição  espacial  tanto  dos  produtores  quanto  das  entidades  requerem  uma  gestão  particular  da  distribuição.  Os  produtores  estão  distribuídos  em  dois  circuitos  no  qual  um  grupo  de  39  produtores  localizados  no  município de Cerro Azul e outro grupo de 30  produtores  localizados  no  município  de  Tunas  do  Paraná.  Além  disso,  as  entidades 

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recebedoras  dos  produtos  de  Cerro  Azul  são  em  sua  maioria  escolas  rurais  de pequeno porte  localizadas  por  todo  o  município.  Em  Tunas  do  Paraná  as  entidades  são em menor número e  concentradas  nas áreas urbanas do município. Outra característica das entidades é a existência  de  três  delas  externas  a  área  de  produção  dos  produtos,  ou  seja  que  estão  localizadas  em  Curitiba  e  Bocaiuva  do  Sul.  Portanto,  para  o  projeto  foi  fundamental  definir  dois  circuitos  curtos  de comercialização de alimentos (CCCA) para a área de studo, um para o município de  Tunas  do  Paraná  e  outro   para  o  município  de  Cerro  Azul,  além  de  considerar  as  entidades  externas  aos  circuitos como apresentado na figura 3. Contudo, para o nosso estudo o focou­se  nos  dois  circuitos  definidos.  A metodologia e o protótipo da ferramenta para definição de tais  circuitos é descrito em Bortolini (2015).    FIGURA 3 ­ LOCALIZAÇÃO DOS CCCA DE CERRO AZUL E TUNAS DO PARANÁ 

  FONTE: Bortolini (2015), adaptado. 

  3. Metodologia    Para  a  construção  do  presente  artigo  a  metodologia  utilizada  consiste  no  estudo  de  caso  pautado  por  Yin  (2001),  permitindo  assim  buscar  a  compreensão  dos  fenômenos  que   envolvem  os  processos  individuais,  coletivos,  sociais  e  políticos  que  ocorrem  em  torno  da  situação presente da associação. 

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A  análise  compreendeu  os  dados  de  demanda  ou  consumo  (definido  pelos  responsáveis  pelas  entidades)  e  de  produção  (definido  pelos  produtores  ou  agricultores)  do  projeto  para  o  Programa  de  Aquisição  de  Alimentos  (PAA)  da  Associação  de  Produtores  de  Tunas  do  Paraná  (Aprotunas).  Para  a  operacionalização  dos  conceitos  de  circuitos  curtos  de  comercialização  alimentos  (CCCA)  e  de  circuitos  econômicos  solidários  (CES),  considerou­se  a  relação  de  proximidade  geográfica,  neste  sentido,  os  alimentos  demandados  pelas  entidades  de  determinado  município  devem  prioritariamente  serem  produzidos  em  regiões  próximas.  Assim,  os  produtores  de  Tunas   do   Paraná,  devem  vender  seus  produtos  prioritariamente  para  as  entidades  do  mesmo  município,  sendo  o  mesmo  válido  para   Cerro  Azul.  O  excedente  de  produção  deve  ser  trocado  entre  os  dois  municípios  que  compõe  a  Aprotunas.  No  caso, ainda havendo  excedente, o mesmo será vendido para  os municípios que  estão mais próximos, como Bocaiuva do Sul e Curitiba.    Assim, para a análise dos projetos foi necessário os seguintes dados:  1) de produção de produtos dos municípios;  2) de demanda (ou consumo) de produtos dos municípios;  3) de importação de produtos de outros municípios;  4) de variedade de tipos de produtos produzidos no município;  5) de variedade de tipos de produtos demandado no município;  6) de variedade de tipos de produtos importados de outros municípios; e  7) dos preços praticados pelos produtos no projeto de PAA.    Portanto,  no  estudo  de  caso  definiu­se   dois  circuitos  econômicos  solidários,  uma  para  o  município  de   Tunas do Paraná e outro para Cerro Azul. A análise dos dados realizadas  no presente trabalho foram:  1)  Porcentagem  da  quantidade  de  produtos  produzidos  que  são  consumidos  no  mesmo município;  2) A variedade de tipos de produtos produzidos no município;  3)  Valores  monetários  (apresentados  em  Reais  aos  preços  correntes  de  2015)  dos  produtos consumidos com origem no próprio município;  4)  Porcentagem  da  quantidade  de  produto  consumidos  que  são  produzidos  no  mesmo município; 

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5)  Porcentagem  da quantidade de produto consumidos que são produzidos em outros  municípios, ou seja, que são importados; e  6) Variedade de tipos de produtos importados.    Para  os  cálculo  das  porcentagens  foram  considerados  os  valores  de  produtos  demandados  e  produzidos  de  cada  município,  além  dos  valores  de  produtos  originados  de  outros  municípios,  ou  seja  importados.  Assim,  para a  análise 1 foi aplicado a equação 1, para  a  análise  3  foi  aplicado  a  equação 2, para a análise 4 foi aplicado a equação 3 e para a análise  5 foi aplicado a equação 4.    % = (produtos consumidos ­ produtos importados) / produtos produzidos              (1)    renda  com  produto  =  (produtos  consumidos  ­  produtos  importados)  *  preço  do  produto                                                                                                                                     (2)    % = (produtos consumidos ­ produtos importados) / produtos demandados           (3)    % = produtos importados / produtos demandados                                                    (4)    As  análises  foram  realizadas  sobre  os  dados  referentes  à  demanda  e  oferta  por  produtos para os municípios de Tunas do Paraná e Cerro Azul.  Assim,  considera­se  positivo  para  a  aplicação  dos  Circuitos  Curtos  de  Comercialização  de  Alimentos  (CCCA)  e  Circuitos  Econômicos  Solidários  (CES)  se  os  mesmos possibilitam:  1)  O  aumento  na  porcentagem  de  produtos  produzidos  que  são  consumidos  no  município;  2) O aumento na variedade dos tipos de produtos produzidos no município.  3)  O  aumento  no  rendimento  com  os  produtos  consumidos  que  são  produzidos  no  próprio município.  4)  O  aumento  na  porcentagem  de  produtos  consumidos  que  são  produzidos  no  município; 

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5)  A  redução   na  porcentagem  de  produtos  consumidos  que são originados de outros  municípios; e  6) A redução na variedade dos tipos de produtos exportados.    4. Resultados    A  construção  do  projeto  para o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), sem os  critérios  de  dos  circuitos  econômicos  solidários  foi  realizado  baseado  na   demanda  das  entidades  da  rede  socioassistencial  equipamentos  públicos  de  alimentação  e  nutrição  de  Tunas  do  Paraná.  Mas,  para  o  projeto  de 2015 o desafio foi maior porque nos anos anteriores   não  havia  sido  incluído  os  agricultores  de  Cerro  Azul  e  nem  as  entidades  desses  município.  Assim,  foi  constado  pela  equipe  da  ITCP/UFPR  que  haviam  problemas  logísticos  e  que  os  custo  de  transporte  interfeririam  de  maneira  significativa  sobre  o  ganho  monetário  dos  agricultores.  Para  tentar  minimizar  esses  problemas,  foi  pensado  em  alternativas  para  reduzir  o  custo  de  transporte  e melhorar a qualidade do alimento que chega as entidades do município,  valorizando  assim,  o  trabalho  dos  agricultores  familiares.  Pois  vendendo  mais  de  sua  produção  dentro  de   seu  município  de  origem  é  um  incentivo  a  produção  de  várias  culturas  típicas do local e minimizando, assim, a saída de excedentes para outros municípios.  Tunas  do  Paraná  tem  30  agricultores  familiares  e  2.184  pessoas  são  consumidoras  dos  alimentos  por  eles  produzidos,  e  Cerro  Azul  tem  39  agricultores  familiares  e  3.608  pessoas.  Em  Bocaiúva  do  Sul  e  em   Curitiba  aproximadamente  52.642  pessoas consomem os  produtos produzidos pela Associação dos Produtores de Tunas do Paraná (Aprotunas).  A  tabela  1  apresenta  somente  com  relação  aos  municípios  de  Tunas  do  Paraná  e  Cerro  Azul  a  quantidade  (em  quilos)  dos  produtos  consumidos  e  produzidos.  Além  disso,  outro  dado  importante  é  quantidade  (em  quilo)  dos  produtos  importados  de  outros  municípios.  Assim,  vale  destacar  a  maior  representatividade  na  produção  de  Cerro  Azul  em  comparação  com  Tunas  do  Paraná,  ou  seja,  duas  vezes  maior,   em  contraste  com  o  consumo  que é duas vezes maior em Tunas do Paraná.       

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  Tabela 1: Quantidade (em quilos) de produtos conforme a produção, demanda e importação.   

Pré ­ CCCA e CES (%) 

Município 

Produção  (Kg) 

Consumo  (Kg) 

Cerro Azul 

229.302 

14.434 

Tunas do Paraná 

101.929 

56.256 

Pós ­ CCCA e CES (%) 

Importação  (Kg) 

Produção  (Kg) 

Consumo  (Kg) 

Importação  (Kg) 

2.126 

230.579 

28.702 

1.778 

8.30 

97.816 

48.659 

6.119 

Fonte: Os autores (2016). 

  Quanto  a  relação  de  produção  (tabela  2)  é  possível  observar   que  a  maior  porcentagem  da  quantidade  dos  produtos  é  destinada  a  outros  municípios, principalmente no  caso  do  município  de  Cerro  Azul.  Assim,  com  o ajuste do projeto o impacto foi maior para o  município  de  Cerro  Azul   que  aumentou  a  sua  variedade  de  produtos  produzidos  o  que  permitiu  atender  o  consumo  interno  destes  produtos  o  que  por  consequência  aumentou  a  porcentagem  da  quantidade  de  produtos  consumidos  internamente.  No  caso  de  Tunas  do  Paraná  houve  uma  diminuição  na  porcentagem,  pois  tal  município  passou  a  atender algumas  demandas que eram atendidas por Cerro Azul com relação as entidades externas aos circuitos.  Quanto  a  renda  houve  um  aumento para Cerro Azul e uma diminuição para Tunas do Paraná,  pelo motivos elencados anteriormente.     Tabela  2: Porcentagem  (%)  da  quantidade,  N°  de  produtos  e Renda Anual  dos  produtos produzidos que são  consumidos no próprio município.   

Pré ­ CCCA e CES (%) 

Município  Cerro Azul  Tunas do Paraná 



N° de  produtos 

Renda anual  (R$) 

Pós ­ CCCA e CES (%)  % 

N° de  produtos 

Renda anual  (R$) 

5,37% 

33 

R$ 24.992,25 

11,68%   

38 

R$ 55.930,55 

46,63%   

45 

R$ 95.676,10 

43,49%   

45 

R$ 85.771,35 

Fonte: Os autores (2016). 

  O  mercado  consumidor  dentro  dos  municípios  citados  acima  não  representa  a  maioria  das  vendas  dos  produtores,  principalmente  no  caso  de  Cerro  Azul.  Contudo,  o  consumo  dos  produtos  com  origem no mesmo município é muito representativa como mostra 

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a  tabela  3.  Assim,  com  o  ajuste  a  parcela  de  produtos  consumidos  produzidos  no  próprio  aumentou,  principalmente para o caso de Cerro Azul. A dependência de produtos importados,  que vem de outros municípios, diminuíram  para os dois municípios.    Tabela  3: Porcentagem (%) da quantidade de produtos consumidos no município  oriundo do próprio  município  e   oriundo de trocas entres os municípios.    Consumo 

Pré ­ CCCA e CES (%) 

Pós ­ CCCA e CES (%) 

Tunas do  Paraná 

Cerro Azul 

Produtos  importados 

Tunas do  Paraná 

Cerro Azul 

Produtos  importados 

Tunas do  Paraná 

84,48% 

15,52% 



87,42% 

12,58% 



Cerro Azul 

14,73% 

85,27% 



6,19% 

93,81% 



Fonte: Os autores (2016).   

  Além  disso,  para  os  municípios  de  Bocaiuva  do  Sul e Curitiba os quais possuem um  mercado  consumidor  maior  do  que  os  do  municípios  de  origem,  em  número  de  pessoas,  os  agricultores  familiares  tem  custos  maiores  para  vender  para  este  município  e  uma  preocupação maior com a qualidade do alimento.    5. Conclusões    O  uso  dos  conceitos  de  circuitos  econômicos  solidários  (CES)  e  de  circuitos  curtos  de  comercialização  de  alimentos  (CCCA)  na  adequação  de  projetos  para  o  Programa  de  Aquisição  de  Alimentos  (PAA)  incentiva  a  produção  diversificada  de  produtos  (o  que  é  ecologicamente  sustentável)  e  fortalece  a  relação  entre  consumidor  e  produtor  com  proximidade  geográfica  e  na  relação  entre  circuitos  econômicos  solidários  (o  que  é  socialmente justo).  Além  disso,  a  minimização  dos  fluxos  de   produtos   entre  municípios  tem  potencial,  se  aplicado,  de  reduzir  a  quantidade  de  produto  transportado  por distâncias  maiores do que o  necessário,  e  por  consequência  reduzir  a  quantidade  de  poluição  emitida  e  os  custos  de  transporte para os produtores.  Assim,  a  aplicação  dos  conceitos  de  circuitos  econômicos  solidários  (CES)  e  circuitos  curtos  de  comercialização  de  alimentos  (CCCA)  gera,  pelo  lado  da  produção,  em 

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termos  práticos  uma  melhor  planejamento  de  projetos  para  o  Programa  de  Aquisição  de  Alimentos  (PAA).  Portanto,  é  interessante  a  extensão  da  aplicação  para  outros  programas  governamentais  como  o  Programa  Nacional  de  Alimentação  Escolar  (PNAE).  Assim,  fortalece­se  ainda  mais as ideias apresentadas em Mance (2000) para os circuitos econômicos  solidários,  no  qual  na  perspectiva  do  consumidor  a  sua  conecção  com  o  produtor  excede  a  relação  de  compra  e venda e passa para a criação de consumidores mais consciente, no qual o  mesmo conhece a origem de seus alimentos, e valoriza os produtos locais.  Além  disso,  para  a  materialização  de  tais  conceitos  é  fundamental  desenvolver uma  formação  sobre  os  mesmos  para  os  atores  envolvidos  nos  projetos,  ou  seja,  para  os  produtores,  para  os  representantes  das  entidades,  para  os  técnicos  extensionistas.  O  entendimento  destes  conceitos  e  por  consequências  das  ferramentas  que  venham  a  ser  desenvolvidas,  sobretudo  para  as  ferramentas  de  sistemas  de  informação,  como  mecanismos  de apoio é fundamental para a autogestão dos projetos pelos atores.  Contudo,  é  adicional  relatar  que  para  programas  governamentais  de  demanda  de  produtos, como o Programa de Aquisição de Alimentos  (PAA), quem define o consumo não é  necessariamente  o  mesmo  individuo  que  consume,  portanto,  existe  mais  uma  relação  onde  podemos  considerar  a   entidade  como  produtora  de  um  produto,  e  as  pessoas  beneficiadas  como  as  consumidoras,  assim,  é  de  interesse  para  trabalhos  futuros  o  estudo  deste  relação  para a adequação do consumo dentro das entidades.  Por  fim,  para  delimitação  dos  circuitos  curtos  de  comercialização  de  alimentos  (CCCA)  em  projetos  para  o  Programa  de  Aquisição  de  Alimentos  (PAA)  podem  ser  utilizados  os  dados  dos  mesmos  analisados  com  auxílio  das  geotecnologias  baseado  no  que  foi proposto e apresentado na forma de protótipo em Bortolini (2015).    Referências Bibliográficas    Bortolini,  E.  (2015).  ​Uso  de  geotecnologias  para  a  gestão  logística  de  coleta  e  distribuição  de  produtos  para  políticas  públicas  (Projeto  Final  para  o  curso  de  Engenharia  Cartográfica e de Agrimensura). UFPR, Curitiba.    Buainain,  A.  M.,  &  Romeiro,  A.  (2000).  A  agricultura  familiar  no  Brasil.  FAO­INCRA, Brasilia. 

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(2014).  Manual 

Operativo 

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Programa   de   Aquisição   de   Alimentos. Companhia Nacional de Abastecimento.    da  Silva,  J.  F.  G.  (1999).  ​O  novo  rural  brasileiro  (No. 1). Universidade  Estadual de  Campinas, Instituto de Economia.    Dagnino,  R.,  Brandao,  F.  C.,  &  Novaes,  H.  T.  (2004).  Sobre  o  marco  analítico­conceitual  da  tecnologia  social.  ​Tecnologia  social:  uma  estratégia  para  o  desenvolvimento. Rio de Janeiro: Fundação Banco do Brasil, 15­64.    Instituto  Paranaense  de  Desenvolvimento  Economico  e  Social  (2007).  ​Diagnóstico  Socioeconômico Do Território Ribeira.Curitiba​. ​Curitiba: IPARDES.    Instituto  Brasileiro  de  Geografia  e  Estatística  (2010).  Censo  demográfico,  2010.  Disponível  em:  ​http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/censo2010/  Acesso  em:  julho de 2016    Mance, E. A. (1999). O que é Economia Solidária. ​Salvador: UFBA.    Mance,  E.  A.  (2000).   ​A  revolução  das  redes:  a  colaboração  solidária  como  uma  alternativa pós­capitalista à globalização atual. Vozes.    Marsden,  T.,  Banks,  J.,  &  Bristow,  G.  (2000).  Food  supply  chain  approaches:  exploring their role in rural development. ​Sociologia ruralis, ​40(4), 424­438.   

  15 

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