Operacionalizando a análise de domínio por meio do conceito de comunidade de prática

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X EDICIC - 2016 Nome da Área Temática: (Organização da Informação e do Conhecimento)

Operacionalizando a análise de domínio da produção científica da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro por meio do conceito de comunidade de prática La aplicación del enfoque de análisis de domínio a la investigación científica da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro a través del concepto de comunidad de prática Resumo: O artigo tem o objetivo de relatar a operacionalização do conceito de Comunidade de Prática no contexto de uma abordagem social da produção do conhecimento visando compor a metodologia de análise de domínio para a Organização e Representação do Conhecimento. Traz elementos para a reflexão sobre formas de operacionalização da análise de domínio, buscando um referencial no estudo sobre o Atlas de La Ciencia da Universidad de Granada e no debate apontado por Barité e Fernández-Molina na defesa da estratégia bottom- up de construção de uma estrutura conceitual, que opta pela análise indutiva dos termos usados na comunicação e prática cotidiana de uma comunidade, evitando o enfoque top down que privilegia a disciplinaridade e a nacionalidade como fatores limitadores na representação do conhecimento interdisciplinar. Apresenta o perfil descritivo das comunidades de prática da Rede de Laboratórios da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, com a identificação de 123 unidades e a representação do repertório da produção de 17% destas, que forneceram características para uma análise qualitativa. Aponta os principais desdobramentos da primeira etapa da pesquisa e os desafios de organização da produção científica da instituição com a predominância da natureza interdisciplinar da pesquisa que encontra acolhida na abordagem da análise de domínio.

Palavras-chave: Análise de Domínio, Comunidades de Prática, Organização do Conhecimento. Abstract: The article aims to report the operationalization of the Community of Practice concept in the context of a social approach to knowledge production aiming at building the domain analysis methodology for the Organization and Knowledge Representation. Brings elements for reflection on ways of operationalizing the domain analysis, looking for a reference in the study of the Atlas of La Ciencia of Granada University and the debate pointed out by Barité and Fernández-Molina in the defense of bottom-up strategy of building a conceptual framework, which chooses the inductive analysis of the terms used in communication and everyday practice of a community, avoiding top-down approach that focuses on disciplinary and nationality as limiting factors in the representation of interdisciplinary knowledge. Displays the descriptive profile of the communities of practice of State of Rio de Janeiro Federal University Laboratory Network, with the identification of 123 units and representing the 17% production of these repertoire that provided features for a qualitative analysis points out the main developments of the first stage of the research and organizational challenges of scientific production of the institution with the predominance of the interdisciplinary nature of the research that is accepted in the domain analysis approach.

Keywords: Domain Analysis, Communities of Practice, Knowledge Organization

1 INTRODUÇÃO O presente artigo tem o objetivo de relatar a operacionalização do conceito de Comunidade de Prática no contexto de uma abordagem social da produção do conhecimento visando compor a metodologia de análise de domínio para a Organização e Representação do Conhecimento. No debate sobre o processo de organização do conhecimento, o desafio que se coloca aos profissionais da informação consiste em organizar e representar o conhecimento registrado e divulgado, objeto da área de estudos denominada Organização do Conhecimento, em contextos inter, multi e transdisciplinar. No campo da Ciência da Informação, a perspectiva da Análise de Domínio de Hörland e Albrechtsen (1995) identifica o conhecimento como algo construído socialmente, por meio da interação do usuário com o seu específico contexto de informação, em um espaço discursivo formado pelas principais temáticas de assunto, em seus menores ou mais detalhados ambientes de uso, e que se encontra registrado e passível de divulgação. Também a abordagem sociológica do fenômeno do conhecimento possibilitou a delimitação do campo da teoria social da construção do conhecimento e da aprendizagem, que toma a participação social como o locus de emergência do aprendizado. A abordagem participativa na organização do conhecimento por meio de comunidades de prática, discursivas ou virtuais, é uma tendência em sociedades que se caracterizam pela complexidade e fragmentação decorrentes, conforme aponta Wersig (1993), do uso diferenciado das Novas Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs). Segundo este autor, apesar de ter possibilitado a produção de um conhecimento cada vez mais complexo e sofisticado, paradoxalmente o uso das TICs implicou no avanço da fragmentação do conhecimento. Fazendo parte de um quadro conceitual mais amplo para se pensar a aprendizagem (produção do conhecimento), inclusive em ambiente digital, o conceito de Comunidades de Prática, como foi inicialmente formulado por Wenger (1998), é um construto utilizado nas análises, sendo que uma comunidade de prática pode ser vista como um sistema social de

produção de conhecimento, com características dos sistemas de forma mais geral: estrutura emergente, relacionamentos complexos, auto-organização, limites dinâmicos, negociação de identidade e cultural, vocabulário próprio, para mencionar alguns. Num sentido, é a mais simples unidade social que tem as características de um sistema de aprendizagem social. Estudos direcionados ao entendimento sobre o desenvolvimento e partilha de conhecimento entre grupos (BECHER; TROWLER, 1989; FERLIE et al., 2005) se utilizam da categoria de análise Comunidades de Prática - CoPs para conceituar disciplinas acadêmicas e grupos profissionais dentro de instituições e organizações. A categoria de análise Comunidades de Prática - CoPs foi usada para conceituar e identificar grupos profissionais no âmbito da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro-Unirio, tendo como referência estudos sobre o desenvolvimento e partilha de conhecimento. A identificação de uma comunidade de prática pelo seu repertório é o primeiro passo na proposta de uma metodologia cuja abordagem é a análise de domínio. No que tange ao repertório de uma comunidade de prática, segundo Guimarães (2014, p.18) “os estudos terminológicos e de discurso de um domínio prestam-se para a análise de como, nesse domínio, se nomeiam conceitos, e se organizam palavras, textos e enunciados, segundo critérios semânticos e pragmáticos.” Além da construção de microtesauros e dos estudos terminológicos, apontados por Hjørland (2002) como abordagens que caracterizariam a análise de domínio, fazem parte desta caracterização a produção de obras de referência; indexação e recuperação da informação; estudo de usuários; estudos bibliométricos; estudos históricos; estudos de gêneros/tipologias documentais; estudos epistemológicos e críticos; comunicação científica; cognição científica; conhecimento especializado e inteligência artificial, o que ele chamou de 11 competências específicas do profissional da informação e bibliotecários para fins de análise de domínio. Para fins de nossa proposta, como bem enfatiza Guimarães (2014, p.17), “a elaboração de classificações e tesauros possibilita a organização das estruturas lógicas e dos conceitos de um domínio, assim como as relações semânticas entre os conceitos”. O universo da rede de laboratórios da Unirio é um dos muitos espaços que não é caracterizado como unidade de informação, mas a perspectiva de um sistema de comunidades de prática revela a produção de uma riqueza de documentos e conhecimentos

constituindo ainda um espaço de memória, saberes e cultura que necessita de ações de identificação, organização e divulgação. A fim de promover as práticas de organização do conhecimento, preservação e educação patrimonial em uma estratégia botton-up, levou-se em conta o pressuposto de que a representação de uma comunidade de prática pelo seu repertório, presente no vocabulário especializado, é um ponto de partida. Buscamos os modos da representação documentária para um repertório especializado carente de organização. Até o presente momento foram identificadas 126 comunidades de práticas e representados por meio de microtesauros os repertórios de 28 destas. Em acordo à estratégia bottom-up, para a composição de um corpus textual das comunidades de prática, são selecionados artigos científicos publicados em bases de dados virtuais, incluindo, para maior garantia literária, os trabalhos produzidos pelos próprios pesquisadores de cada comunidade. Este artigo se apresenta em quatro seções, sendo que o capítulo 2 traz elementos para se pensar as formas de operacionalização da análise de domínio, buscando um referencial no estudo sobre o Atlas de La Ciencia da Universidad de Granada apresentado pelo coordenador do projeto, o prof. Moya-Anegón, no qual privilegiou a análise institucional de domínio como um campo de aplicação, e no debate levantado por Barité e FernándezMolina (2012) na defesa da estratégia bottom- up de construção de uma estrutura conceitual, uma vez que opta pela análise indutiva dos termos usados na comunicação e prática cotidiana de uma comunidade para a representação de um determinado domínio, evitando-se assim enfoques top-down que privilegiam a disciplinaridade e a nacionalidade como fatores limitadores, tendo em vista o panorama cada vez mais interdisciplinar da produção científica. No capitulo 3 é apresentado o perfil descritivo das comunidades de prática da Rede de Laboratórios da Unirio, com a identificação de 123 comunidades de práticas e a representação do repertório da produção de 17% destas, nos forneceu as características para a análise qualitativa apresentada.

As comunidades foram distribuídas por temáticas

referentes aos Centros Acadêmicos da instituição e em relação à participação de cada unidade acadêmica no universo das comunidades de prática da Unirio, o Centro de Ciências Biológicas e da Saúde (CCBS) está representado com 68% dos 123 laboratórios mapeados

na 1ª etapa do projeto, cabendo às outras unidades, respectivamente as seguintes participações: Centro de Ciências Humana e Sociais (CCH) e Centro de Letras e Artes (CLA) com 15,08% cada; Centro de Ciências Exatas e Tecnologia (CCET) com 1,59% e o Centro de Ciência Jurídicas e Políticas (CCJP) com os 0,79% restantes. Na conclusão são apontados os principais desdobramentos da primeira etapa da pesquisa e os desafios de organização da produção científica da instituição com a predominância da natureza interdisciplinar da pesquisa ali desenvolvida, mas que encontra acolhida na abordagem da análise de domínio.

2 DISCUSSÕES METODÓGICAS ACERCA DA ANÁLISE DE DOMÍNIO E SUAS APLICAÇÕES Segundo Guimarães (2014), a organização do conhecimento, numa perspectiva teórica, foca o conhecimento registrado e divulgado, e, enquanto área de estudos, pode encontrar, na análise de domínio, destacado aporte metodológico. Para nossa perspectiva, o que mais nos interessa aqui é o fato de que esta abordagem possibilita a identificação das condições de construção e socialização do conhecimento. Ademais, a análise de domínio permite identificar as categorias fundamentais do domínio a ser representado, levando-se em consideração o enfoque considerado relevante pelos pesquisadores de uma área, seja ela disciplinar, multi, inter e transdisciplinar, constituindo as bases da garantia literária como aponta Beghtol (1995). No entanto, a operacionalização da Análise de Domínio ainda se encontra em construção e como destaca Smiraglia (2011 apud Guimarães 2014), a análise de domínio caracteriza-se pelo estudo dos aspectos teóricos de dado entorno, geralmente representado por uma literatura ou comunidade de pesquisadores, constituindo um meio para a geração de novo conhecimento acerca da interação de dada comunidade científica. A recente discussão metodológica para a construção de Sistemas de Organização e Representação do Conhecimento (SOCs) se aprofunda quanto às estratégias para a delimitação de um domínio. Barité e Fernández-Molina (2012) destacam a análise de domínio como o conjunto de aproximações teórico-metodológicas que vão dar conta da representação do campo temático compartilhado por uma comunidade de discurso. Neste conjunto, eles relacionam a estratégia top down ao método dedutivo na construção da

estrutura conceitual de um SOC e identificam os autores que pontuam o fato de que os SOCs desenvolvidos a partir de uma estratégia top down são predominantemente hierárquicos e disciplinares, e defendem a estratégia bottom- up de construção de uma estrutura conceitual, uma vez que opta pela análise indutiva dos termos usados na comunicação e prática cotidiana de uma comunidade para a representação de um determinado domínio. Uma importante e reconhecida aplicação da análise de domínio é o projeto Atlas de la Ciencia da Universidad de Granada, coordenado pelo Prof. Dr. Felix de MoyaAnegón. Segundo Moya-Anegón et al (2004), foi o criador do Science Citation Index (SCI) e fundador do Institute for Scientific Information, Eugene Garfield, quem apontou a possibilidade de contar com um Atlas da Ciência, já na década de 50 do século 20. No princípio dos anos 80, conforme relata Moya-Anegón, Garfield retoma a ideia e anuncia a criação de um protótipo de atlas correspondente ao campo temático composto pela Bioquímica e a Biología Molecular, por meio da identificação dos trabalhos mais citados de cada um dos 102 subcampos que evidenciavam uma rede de relações entre eles. Ainda conforme o relato de Moya-Anegón (2014), a técnica de representação proposta era o «mapa de clusters» (cluster mapping). Cada um dos 102 subcampos ou frentes de investigação constitui um capítulo do atlas, o qual é composto pelos seguintes metadatos: um mini-review, um cluster-map que mostra a conectividade dos documentos principais, uma bibliografia completa dos trabalhos que constituem cada núcleo e uma lista dos trabalhos mais importantes citados pelo núcleo. Na avaliação de Garfield (1980), os mini-reviews podiam ser comparados às pequenas entradas, ao estilo de uma enciclopédia, descrevendo resumidamente as características de cada subcampo. Para Garfield, conforme relata Moya-Anegón (2014), a principal característica deste tipo de enciclopédia estaria no fato de ser construída a partir de uma estrutura baseada tematicamente em função da livre interelação dos trabalhos científicos, e, não a exemplo das sistemáticas classificatórias e taxonomias a priori, ou seja, o mapeamento se pautou pela abordagem bottom-up de construção de uma estrutura representativa da área temática, que também foi a nossa opção de abordagem. Foram utilizadas técnicas estatísticas multivariantes, análises de cluster e Escalamento Multidimensional (MDS) na construção dos mapas visando um Atlas do

conhecimento. Mapas específicos resolvem, na avaliação de Garfield (1980), de maneira aceitável a representação de relações entre elementos de um campo temático específico (perspectiva micro da abordagem bottom-up). Desta forma se renuncia às representações globais e se potenciam as parciais ou específicas. No entanto, entre as críticas apontadas por Moya-Anegón (2014) a esta iniciativa, na perspectiva da análise de domínio, estão o fato de que o projeto de Garfield (1980) não priorizou a representação de domínios institucionais, em favor de domínios do conhecimento, como também não se preocupou com os aspectos dinâmicos da investigação nem a evolução das frentes de investigação, aspectos estes que, mais recentemente, encontraram melhorias mediante a possibilidade de integrar mapas de co-citação de autores, baseados na técnica de análise de redes, ou análise de redes neurais. Ao focar a análise de domínio institucional, Moya-Anegón (2014) pontua que este tipo de análise é uma espécie de estudo bibliométrico para representar de forma mais precisa o perfil do investigador de uma determinada instituição acadêmica, por meio da análise da produção científica, identificando indicadores de produção, visibilidade, produtividade, entre outros, sendo que a série de indicadores é apresentada de forma global ou por faculdade, escolas, institutos e departamentos. O seu projeto do Atlas da Ciência da Universidade de Granada teve como fonte de dados a base Science Citation Index (SCI), publicada pelo Institute for Scientific Information (ISI). No entanto, como o próprio autor pontua, a utilização de base de dados como única fonte encontra suas limitações, uma vez que entre as críticas que se fazem a esta abordagem estão o fato de que a cobertura das bases tende a refletir a disciplinariedade e a nacionalidade como fatores limitadores, tendo em vista o panorama cada vez mais interdisciplinar da produção científica. Como um dos resultados já apresentado pelo projeto do Atlas da Ciência da Universidade de Granada, que se mostra útil aos nossos propósitos iniciais, identificamos a construção de um sistema no qual o acesso à informação é apresentado mediante uma estrutura temática. As 25 áreas temáticas da ANEP (Agencia Española de Evaluación y Prospectiva) foram agrupadas, conforme relata Moya-Anegón (2014), em esferas cujo tamanho é proporcional ao volume de artigos incluídos em cada área da ANEP. Os enlaces entre as esferas mostram as relações de co-citação entre cada área. Neste mapeamento, a

representação permite reconhecer pelo menos quatro grandes zonas temáticas, a saber: 1) correspondente às Ciências da Vida, na qual a Medicina é a mais produtiva, e que aparece contígua à Biologia Celular e Molecular, às Ciências Agrícolas e à Psicologia 2) a Física e a Química; 3) as engenharias; 4) as Ciências Sociais e Humanidades (ver figura1).

FIGURA 1 – Representação por Zona Temática

Fonte: Moya-Anegón, 2014, p.23

Como forma de “driblar” as limitações acima citadas, a análise de domínio, operacionalizada por meio de comunidades de práticas como unidade de análise, numa

perspectiva de abordagem bottom-up, fundamentou nossa proposta de identificar comunidades de prática no âmbito da Unirio, a partir das quais buscamos os parâmetros de representação da produção científica de uma instituição acadêmica. Optamos por utilizar a representação documentária dos repertórios produzidos por estas comunidades por meio da construção de microtesauros configurando-se este instrumento de representação do conhecimento como “uma grade interpretativa” do repertório produzido no âmbito das práticas de pesquisa, concretizadas nas publicações de seus pesquisadores. Por meio da identificação terminológica e dos discursos das comunidades de prática no âmbito da Rede de Laboratórios da Unirio, entendemos estar em sintonia com o que Hjorland e Albrechtsen (1995) destacam, que é a necessidade de, ao operacionalizar uma análise de domínio, combinar entre si ao menos duas das abordagens que compõem o espectro das 11 enunciadas como componentes da análise de Domínio.

3 PERFIL DAS COMUNIDADES DE PRÁTICA DA REDE DE LABORATÓRIOS DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO Para fins deste trabalho, observa-se como evidência empírica a condição da produção científica de uma universidade federal como é o caso da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro- Unirio.

A Unirio passou por uma avaliação institucional

realizada em 2010, e conforme o resultado da avaliação, nas diretrizes do PDI 2012-2016 (2011), a sua política para garantir a produção, difusão e preservação do saber em todos os campos do conhecimento prevê o aumento em 10% ao ano na Taxa de crescimento da produção científica, enfatizando que a tendência multi e interdisciplinar devem ser preponderantes para, desse modo, favorecer a aproximação produtiva entre docentes de diferentes disciplinas, departamentos e grupos de pesquisa assim como entre alunos de graduação e de pós-graduação; estimular a circulação de ideias e permitir, em suma, a utilização compartilhada e otimizada de recursos físicos (espaços e equipamentos) e intelectuais durante a execução de projetos. (PDI 2012-216, 2011). O recorte do universo para representação da rede de laboratórios da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro operacionalizado foram as 123 comunidades de prática identificadas no período de 2014 até o presente momento, e as suas características serão

descritas a seguir. Estudos direcionados ao entendimento sobre o desenvolvimento e partilha de conhecimento entre grupos (BECHER; TROWLER, 1989; FERLIE et al., 2005) se utilizam da categoria de análise Comunidades de Prática - CoPs para conceituar disciplinas acadêmicas e grupos profissionais dentro de instituições e organizações. Uma primeira noção sobre Comunidade de Prática designa um grupo de pessoas que se unem em torno de um mesmo tópico ou interesse. Essas pessoas trabalham juntas para achar meios de melhorar o que fazem, ou seja, na resolução de um problema na comunidade ou no aprendizado diário, através da interação regular. O conceito de comunidades de prática também é utilizado no estudo do capital social nas empresas conforme destaca Moraes (2014). Segundo Wenger (1998), o conceito de comunidade de prática tem as suas raízes em tentativas de desenvolver uma explicação sobre a natureza social da aprendizagem humana inspirada pela antropologia e teoria social (BOURDIEU, 1977; VYGOTSKY, 1978; GIDDENS, 1984; FOUCAULT, 1980; LAVE, 1988). A identificação de comunidades de prática no universo da Rede de Laboratórios da Unirio, cuja produção se encontra dispersa e muitas vezes inacessível, quando se faz uma busca superficial, é um dos objetivos específicos do projeto. O Mapeamento adotou 05 Unidades Acadêmicas como esferas temáticas: O Centro de Ciências Exatas e Tecnologia (CCET); O Centro de Ciências Humanas e Sociais (CCH) O Centro de Ciências Jurídicas e Políticas (CCJP); O Centro de Letras e Artes (CLA), e o Centro de Ciências Biológicas e da Saúde (CCBS). A criação e monitoramento de comunidades de prática na forma de Laboratórios e Núcleos de Ensino, Pesquisa e Extensão no âmbito da Unirio, define que Laboratórios são espaços, físicos ou virtuais, destinados ao desenvolvimento de projetos e os Núcleos são compostos por um ou mais gabinetes, laboratórios, bem como por outros espaços, físicos ou virtuais, que visam à produção do conhecimento por meio de programas. Quanto aos Grupos, esta denominação está relacionada ao diretório de Grupos de Pesquisa, do CNPq, que define a existência destes grupos no âmbito dos programas de pós-graduação. Até o presente momento foram identificadas, no âmbito da Unirio, 123 comunidades de práticas das quais tiveram a produção mapeada e representada por meio de

microtesauros, os repertórios de 28 destes laboratórios. Em relação à participação de cada unidade acadêmica no universo das comunidades de prática da Unirio, o CCBS estaria representado por 68% dos 123 laboratórios mapeados na 1ª etapa do projeto, cabendo às outras unidades, respectivamente as seguintes participações: CCH e CLA com 15,08% cada; CCET com 1,59% e o CCJP com os 0,79% restantes. Para efeito de organização do conhecimento produzido na Unirio, também categorizamos cada uma das comunidades de prática conforme o Status de Laboratórios, Núcleos e Grupos e foram definidas 15 variáveis para descrever a natureza da pesquisa de cada comunidade. Conforme o Gráfico abaixo podemos visualizar a distribuição das comunidades de prática por centro acadêmico, com a predominância das unidades no Centro de Ciências Biológicas e da Saúde (CCBS).

GRÁFICO1 – Representação por Centro Acadêmico

Fonte: a autora

Já a distribuição das Comunidades de Prática por Escola e Institutos apresenta a seguinte configuração representada no Gráfico 2, com destaque para as comunidades do Instituto de Ciências Biológicas em maior número.

GRÁFICO 2 – Representação por Escola ou Instituto

Fonte: a autora

Quanto à natureza da pesquisa de cada uma das comunidades, as 15 características identificadas para a análise foram se a pesquisa estava relacionada a aspectos pedagógicos, à educação no Brasil, interdisciplinar, linguagem e mídia, metodologia, P&D, pesquisa histórica, pesquisa música, pesquisa saúde, pesquisa social, pesquisa taxonômicoclassificatória, pesquisa teatro, popularização da ciência, praticas, preservação e patrimônio. Nesta representação observa-se a preponderância da natureza interdisciplinar da pesquisa no âmbito da Unirio, correspondendo às linhas do PDI da instituição que enfatizou a tendência multi e interdisciplinar na produção científica da instituição visando a aproximação produtiva entre docentes de diferentes disciplinas.

GRÁFICO 3 – Representação pela Natureza da Pesquisa

Fonte: a autora No entanto, apesar do estímulo à pesquisa interdisciplinar como forma de aproximação produtiva em toda a universidade entre docentes de diferentes disciplinas, departamentos e grupos de pesquisa assim como entre alunos de graduação e de pósgraduação, esta tendência foi observada com maior ênfase nas pesquisas das comunidades de prática do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde (CCBS), cujo perfil mostra o predomínio da natureza interdisciplinar, seguida da Taxonômica. Em relação ao Centro de Ciências Humanas e Sociais (CCH), observa-se uma variedade maior na natureza das pesquisas por comunidade, com predominância dos aspectos pedagógicos, seguidos de pesquisas de natureza interdisciplinar, como pode ser observado nos Gráficos 4 e 5 a seguir:

GRÁFICO 4 – Representação pela Natureza da Pesquisa no CCBS

Fonte: a autora GRÁFICO 5– Representação pela Natureza da Pesquisa no CCH

Fonte: a autora Outra variável descritiva observada aponta que as comunidades de prática da Unirio se distribuem conforme o Status de unidade de pesquisa, com maior ênfase no alcance do trabalho de projetos (Laboratório), seguidas daquelas cujo alcance do trabalho está no nível mais abrangente de um programa (Núcleo). Também algumas comunidades

são identificadas pela inscrição no Diretório de Grupos de Pesquisa do CNPq (Grupo). O Gráfico 6 representa esta distribuição: GRÁFICO 6 – Representação por Status

Fonte: a autora

3 CONCLUSÕES A categoria de análise CoPs se mostrou, até o momento, eficiente para atingir os objetivos iniciais de levar à comunidade em geral os esclarecimentos sobre as formas de acesso ao patrimônio documental científico produzido por pesquisadores da Unirio. Por meio da identificação e do mapeamento das comunidades de prática envolvidas nas atividades de pesquisa da Unirio operacionalizamos a construção de uma abordagem de organização e representação do conhecimento produzido que apontam para importantes desdobramentos. O primeiro vislumbrado é a contribuição para favorecer a aproximação produtiva entre docentes de diferentes disciplinas, departamentos e grupos de pesquisa assim como entre alunos de graduação e de pós-graduação, estimular a circulação de ideias e permitir um ambiente mais colaborativo e uma cultura interdisciplinar, como prevê o PDI (20122016) da instituição. Outro é relacionar a organização do conhecimento produzido em CoPs e ambiente inovador. Em investigação realizada junto a uma universidade do Reino Unido,

escolhida pela busca em promover e estimular colaborações de investigação interdisciplinar através de uma série de iniciativas, Siedloka et al (2015) contribuíram para o debate sobre a dinâmica do desenvolvimento de práticas e sua relação para o surgimento de comunidades colaborativas de praticantes a partir da caracterização das práticas que tornam este tipo de colaboração possível, e com o surgimento de uma comunidade que cria e apoia tais práticas colaborativas, baseadas principalmente no incentivo a uma cultura interdisciplinar. No caso da Unirio, as etapas iniciais se limitaram a uma análise exploratória do universo da Rede de Laboratórios de Pesquisa, e a necessidade de se aprofundar o mapeamento de forma a identificar variáveis. A possibilidade de aprofundar do ponto de vista linguístico tendo como referência uma comunidade de prática é uma perspectiva que se coloca para o aprofundamento no campo da representação documentária. Nesta perspectiva, outro desdobramento já evidenciado é a representação de lugares de memória a partir da elaboração do microtesauros. Ao operacionalizarmos a representação informacional de um lugar de memória por meio de uma grade interpretativa, entendemos estar construindo a representação de um lugar de memória, constituindo-se também um discurso. O principal desdobramento do projeto é a construção de um vocabulário controlado a partir dos repertórios identificados e representados das comunidades de práticas mapeadas que irá se pautar por um arranjo que reflita a interdisciplinaridade da atual produção científica da instituição, cujo desafio encontra na abordagem de análise de domínio o seu caminho mais apropriado. Outro desdobramento é a construção de um Atlas da Produção Científica da Unirio nos moldes referenciados acima, e que vai envolver a análise de agrupamentos dos termos identificados, extraindo importantes conclusões para a área de Organização e Representação do Conhecimento. REFERÊNCIAS

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