Orçamento Participativo: um mito democrático

June 4, 2017 | Autor: Nilvya Cidade | Categoria: Orçamento Participativo
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Orçamento Participativo: um mito democrático    Fernanda da Fonseca Paes  Juliana Fortes Gouveia  Nílvya Cidade de Souza1   

O  orçamento  é  um  documento  de  controle  e  planejamento  cujo  objetivo  é  atingir  o  equilíbrio  entre  despesas  e  receitas  públicas  para  para  que  se  atenda  as  necessidades  públicas.  Portanto  “deixou  de  ser  um  mero  documento  de  caráter  contábil  e  administrativo,  para  espelhar  toda  a  vida  econômica  da  Nação”  (HARADA,  2014,  .P.  66).  Dessa  forma,  a  importância  do  orçamento  não  está  necessariamente  no  equilíbrio  entre  gastos  e  receitas,  mas  sim  nos  resultados  que  essa  relação  implica  para  com  a  sociedade.  Nesse  sentido  se  torna  importante  a  fiscalização  desse  documento,  que  segundo  a  Constituição  de  1988  se  dá  de  três  formas: controle interno, externo e privado.  Contudo,  uma  forma  de  controle  que  tem  chamado  atenção  é  o  Orçamento  Participativo  (OP)  que  é  um  importante  instrumento  de  complementação  da  democracia  representativa.  Nele  a  sociedade  civil  organizada  em  distritos  administrativos  (zonas  abrangendo  bairros  contínuos)  pode  debater  e  definir  prioridades  para  serem  inclusas  no  orçamento  municipal.  Uma  vez  definidos  os  investimentos  preferenciais  estes  serão  dispostos  em  uma  peça  legal encaminhada  à  Câmara  Municipal.  Os  projetos,  por  serem  de  iniciativa  popular  são  votados  pelo  Legislativo.  Este  tipo  de  orçamento  caracteriza,  portanto,  um  mecanismo  excepcional  de  controle exercido pela sociedade, privado, dos gastos do dinheiro público.   A implementação em Belém do Pará  Em  Belém,  o  Orçamento  Participativo  surgiu  nas  eleições  de  1988  como  instrumento  político  do  Partido  dos  Trabalhadores  ­  PT  que  pregava  a  participação  direta  do  povo  nas  ações  do  governo  “a  participação  popular,  a  transformação  da  cultura  política  local,  a  democratização  do  estado  e  a  inversão  de  prioridades,  1

  Trabalho  apresentado  como  parte  da  2ª  avaliação  da  Disciplina:  Direito  Tributário  I,  do  Curso  de  Direito da Universidade da Amazônia ­ UNAMA. Sob orientação da Professora: Graça Penelva. 

visando  contemplar  os  segmentos  mais  vulneráveis  da  população.”  (RODRIGUES  2011,  p.451).  Nesse  aspecto  o  Orçamento  Participativo  surgira  como  mediador  das  relações  sociedade­governo  aproveitando­se  os  oito  distritos  administrativos2  da  região metropolitana de Belém para realizar a descentralização administrativa.  A  divisão  por  distritos  administrativos  causou,  inicialmente,  dificuldades  para  reunir  grande  quantidade  de  pessoas  em  um  só  evento.  Assim,  atendendo  a  sugestão  de  lideranças  de  bairros,  fez­se  uma  subdivisão  em  microrregiões  perfazendo  um  total  de  28  microrregiões no município, englobando todos os bairros  de  Belém,  o  que  vigorou  até  o  término  do  segundo  mandato  do  governo  do  PT,  em  2004.  (RODRIGUES,  2011, p.455) 

Aparentemente  esse  modelo  se  mostra  como  uma  importante  ferramenta  de  participação  popular  principalmente  nos  moldes  estabelecidos  na  campanha  do  PT.  Contudo, existem certos problemas que não podemos ocultar.   

Aspectos Negativos do Orçamento Participativo: uma reflexão necessária    Para  legitimar  as  críticas  feitas  ao  OP  e  entendermos  quais  os  principais  problemas  relacionados  à  essa  ferramenta  de  participação  popular  procuramos  moradores  do  Distrito  Administrativo  ­  DASAC.  Em conversa com a moradora A.D3.,  41  anos,  servidora  pública,  chegamos  a  algumas  conclusões  que  para  fins  propedêuticos enumeramos da seguinte forma:  ● Desinteresse  dos  moradores :  segundo a moradora, muitos moradores não se  interessam  pelas  reuniões  pois  muitas  vezes  buscam  resultados  práticos  para  si  próprios  em  detrimento  do  pensamento  coletivo.  Nesse  sentido,  a  maioria  dos  participantes  eram  de  conselhos  e  organizações,  logo  tomavam  decisões  que  lhes  pareciam  melhores  e  que  nem  sempre  era  a  vontade  real  2

 São eles: Distrito Administrativo de Belém ­DABEL; Distrito Administrativo da Sacramenta ­ DASAC;  Distrito Administrativo do Guamá ­ DAGUA; Distrito Administrativo do Entroncamento ­ DAENT;  Distrito Administrativo do Benguí ­ DABEN; Distrito Administrativo de Icoaraci ­ DAICO; Distrito  Administrativo de Outeiro ­ DAOUT e Distrito Administrativo de Mosqueiro ­ DAMOS.  3   Entrevista  concedida  por  DIAS,  A  M.  B.  S.  em 22 de maio de 2015. Entrevistador: Nílvya Cidade de  Souza.  A  moradora  pediu  para  que  sua  identidade  não  fosse  divulgada.  Direito  que  lhe  é  garantido  constitucionalmente.  Art  5º,  X  ­  são  invioláveis  a  intimidade,  a  vida  privada,  a  honra  e  a  imagem  das  pessoas,  assegurado  o  direito  a  indenização  pelo  dano  material  ou  moral  decorrente  de  sua  violação.  CF/88. 

da  comunidade.  Esse  problema  também  foi  identificado  nas comunidades de  Porto Alegre ­ SC:  Como  exemplo  comum  desse  problema  tem­se  o  “inchamento”  de  participantes  de  uma  dada  associação  de  bairro,  ou  seja,  muitas  pessoas  são  trazidas  às  reuniões  para  que  essas  associações  tenham  um  número  maior  de  representantes,  tendo  seu  interesse  centrado  exclusivamente  numa  demanda.  Portanto,  ocorre  uma  representatividade  artificial  das  comunidades.  O  que  se  caracteriza  como  um  aspecto  negativo  para a construção da cidade.   ( TARTARUGA,  2003, p.7); 

● Reuniões  sem  aviso  prévio :  as  reuniões  eram  anunciadas  apenas  algumas  horas  antes  de  acontecerem  através  de  um  carro  som  que  passava  pelas  ruas,  o  que  por  vezes  desmotivava  o  morador  ou  o  impedia  de  planejar  seu  dia a fim de destinar tempo para a reunião. “Eles convidavam assim,meio sem  querer convidar” disse A.D.;  ● Limitação  dos  recursos  financeiros :  o  limite  de  gasto  era  estabelecido  antes  mesmo  de  definidas  as  prioridades  para  o  bairro.  Desse  modo  era  preciso  adequar  as  necessidades  a  um  plano  orçamentário  que  muitas  vezes  se  mostrava insuficiente;  ● Prioridades  pré  estabelecidas :  os  organizadores  das  reuniões  de  bairro  traziam  consigo  apenas  opções  para  a  comunidade  optar  entre  elas  diziam:  “temos  verba  para  asfaltar  uma  rua,  vocês  escolhem  rua  A  ou  rua  B”  comenta.  Portanto,  não  havia  um  diálogo  no  qual  os  moradores  podem  debater e definir os interesses e prioridades da comunidade;  ● Vinculação  partidária :  O  Orçamento  iniciou­se  como  plano  político  de  campanha  eleitoral,  sendo  assim  ao  encerrar o mandato do governador eleito  encerrou­se  a  participação  popular.  O  que  mostra  que  ao  invés  de  ser  um  programa  que  visa  realmente  aproximar  a  população  do  governo  estatal  tornou­se um bônus governamental do partido.   

     

Considerações Finais

 

 

O  orçamento  é  um  importante  instrumento  para  a  realização  do  bem  comum  de  forma  a  se  alcançar  princípios  constitucionais,  contudo,  o  OP  como  instrumento  de  controle  do  orçamento  se  mostra  ineficaz,  posto  estar  eivado  de  vícios  que  vão  de  encontro  aos  princípios  constitucionais  e  administrativos  como  os  elencados  no  art.  37  da  Carta  de  1988.  Percebemos,  portanto,  a  ineficiência  do  Orçamento  Participativo  desde  a  fase  de  discussão comunitária, na medida em que os gestores  que  atribuem  poder  de  decisão  e  participação  à  comunidade  o  limitam  a  seus  próprios  interesses.  Também  torna­se  um  óbice  à  eficácia  do  OP  a  visão  individualista  dos  moradores  que  por  vezes,  seguindo  o  mesmo  exemplo  recriminado  dos  governantes,  voltam  suas  ações em benefício próprio e por fim, por  não  ter  se  colocado  o  Orçamento  Participativo  como  plano  de  governo  a  ser  executado pelos governadores supervenientes, o que resultou em sua extinção.  

  Referências    

BRASIL,  Constituição da República Federativa . Brasília. Senado Federal. 1988;    Pesquisa  de  Campo.  Entrevista  concedida  por  DIAS,  A  M.  B.  S.  em  22  de  maio  de  2015. Entrevistador: Nílvya Cidade de Souza. Belém, 2015.    RODRIGUES,  Kioshi.   Direito  Financeiro  e  Tributário .  23  ed.  São  Paulo:  Atlas,  2014.    RODRIGUES,  Olinda.   O  orçamento  participativo:  inovações  no  modelo  de  gestão  das  cidades.   IN:  O  Social  em  Questão  ­  Ano  XIV  ­  nº25/26  ­  2011.  Pg.  445­472.     Disponível  em:  .  Acesso em: 20\05\2015;   

TARTARUGA,  Iván  G.  Peyré.   Entre  o  positivo  e  o  negativo  da  participação:  Análise  da  experiência  do  orçamento  participativo  de  Porto  Alegre  ­  Brasil .  POSGEA/UFRGS.  2003.  Disponível  em:   . Acesso em: 20/052015.   

Anexos  Anexo 01  Piracicaba  deixa  de  executar  84%  das  sugestões  do  Orçamento  Participativo  Estudo  aponta  que  das  58  propostas  da  população,  49  não  foram  feitas.  Prefeitura  diz que sugestões passam por estudo de viabilidade e recurso.   

O  Orçamento  Participativo  de  Piracicaba  (SP)  registrou  um  baixo  índice  de  execução  nos  últimos  dois  anos.  De  acordo  com  um  estudo  feito  pelo  Observatório  Cidadão,  84%  das  propostas  feitas  pela  população  para  a  cidade  não  foram  executadas  em  2013  e  2014.  O  balanço  apontou  que  das  58  demandas  apresentadas  no  período,  49  não  foram  realizadas  e  duas  não  chegaram  a  ser  finalizadas.  Segundo  o  estudo,  o  resultado  é  preocupante.  "O  baixo  grau  de  implementação  implica  no  desestimulo  e  descrença  da  população nesse importante  instrumento  de  participação",  diz  o  texto  do  relatório.  A  administração  municipal  afirmou  que  as  indicações  ao  orçamento  priorizam  sempre  alguma  região  do  município  e  que  o  Executivo,  ao  elaborar  o  plano  anual,  tem  uma  visão  globalizada  dos investimentos.  Das  sete  propostas  executadas,  apenas  a  revitalização  da  área  de  lazer  do  bairro  Santa  Olímpia,  na  zona  rural,  foi  realizada  em  2014.  As  outras  seis  foram  executadas  em  2013,  com  a  implantação  do  sistema  de  câmera  interna  em  um  museu  da  região central, a construção de Unidade Básica de Saúde (UBS) no bairro  Javari  III,  a  reforma  da  escola  municipal  do  Algodoal,  a construção da área de lazer  do Jardim Gilda e a obra de uma academia de ginástica no distrito de Tupi.  O  dados  da  pesquisa  apontaram  também  que,  só  no  ano  passado,  a  população  sugeriu  mais  de  500  propostas  em  12  reuniões.  Já  em  2013,  foram  504  em 11 encontros. 

 

No congresso municipal do Orçamento Participativo de 2014, foram selecionadas 30  demandas, cinco para cada uma das seis regiões da cidade: Leste, Oeste, Norte,  Sul, Centro e Rural.  A  pesquisa  realizada  pelo  Observatório  Cidadão  analisou  60  propostas,  30  para  o  ano  de  2013  e  outras  30  para  2014.  Um  fator  levado  em  conta  no  estudo  é  que  a  população apresentou vez, reduzindo a contagem para 58 na avaliação geral. 

  Entre  as  indicações  repetidas  estavam  o  projeto  de  recuperação  ambiental  do  Ribeirão  do  Enxofre,  com  limpeza,  desassoreamento  e  recomposição  de mata ciliar  nativa  em  toda  sua  extensão.  Outra  sugestão  não  realizada  e  que  foi  sugerida  nos  dois  anos  foi  o  pedido  de  pavimentação  da  Estrada  Santa  Izabel  (PIR  013L),  no  distrito de Tupi.  Modelo  O  modelo  de  Orçamento  Participativo  atual  de  Piracicaba  tem  caráter  consultivo,  o  que  permite  que  as  propostas  elaboradas  pela  população  possam  ser  executadas  ou não pela administração municipal.  As  sugestões  são  coletadas  durante reuniões abertas no primeiro semestre de cada  ano  e  devem  ser  realizadas  no  ano  seguinte.  As  propostas  são  enviadas  como  um  anexo  da  Lei  Orçamentária  Anual  (LOA)  para  a  Câmara  de  Vereadores.duas  demandas  iguais  em  anos  diferentes.  A  proposta  repetida  foi  contabilizada  uma  única   Prefeitura  A  Prefeitura  de  Piracicaba  informou,  em  nota  oficial,  que  o  Orçamento  Participativo  passa  por  estudos  de  viabilidade  e  recurso.  "As  demandas  são  sugestões  ou  indicações  de  investimento  feitas  pela  população  pensadas  localmente.  Elas  são  avaliadas  por  área  competente  e  passa  por  estudo  de  viabilidade  técnica  e  de  recurso", diz a nota.  A  administração  ainda  afirmou  que  o  Orçamento  Anual  tem  uma  visão  globalizada  dos investimentos. "As áreas de saúde e educação são prioridade nos investimentos  municipais,  sem  no  entanto,  deixar  de lado outras áreas como infraestrutura, lazer e  mobilidade". 

Além  do  Orçamento  Participativo,  a  Prefeitura  ressaltou  que  também  realiza  reuniões  com  associações  de  bairro,  indicações  de  vereadores  e  possui  canais  de  sugestões e reclamações como  a central 156.4   

Anexo 02  Rua  mais  votada  no  orçamento  participativo  está  abandonada  desde 2008  A  rua  era  para  ser  pavimentada  em  2008  quando  foi  a  mais  votada  no  orçamento  participativo 

Moradores  da  Rua  da  Batalha,  no  bairro  do  Jordão  Alto,  Zona  Sul do Recife,  estão  sofrendo  com  a  falta  de  capinação,  com  o  esgoto  a céu aberto e com as ruas  esburacadas.  De  acordo  com  eles,  a  rua  deveria  ter  sido  pavimentada  em  2008  quando foi a mais votada no orçamento participativo, com 4 mil votos.  A  última  capinação  foi  feita  em  dezembro  do  ano  passado.  O  mato prejudica  a  acessibilidade  da  rua  e  deixa os moradores vulneráveis a ação de criminosos. Em  outra  parte  da  rua,  o  esgoto  escorre  e  inunda  as  casas  que  ficam  na  parte  mais  baixa,  em  dias  de  chuva.  Os  próprios  moradores  construíram  uma  canaleta  para  amenizar a situação.  Através  de  nota,  a  Prefeitura  do  Recife  informou  que  já  tem  um  projeto  para  pavimentação  e  drenagem  da  Rua  da  Batalha,  mas  que  está  buscando  recursos  para  executar  a  obra.  Em  relação  ao  esgoto,  a  Empresa  de  Urbanização  do  Recife  informou  que  a  responsabilidade  não  é  dela.  A  Secretaria  de  Saneamento  do  município  também  afirmou  que  não  cabe  a  eles.  Já  a  Compesa  disse,  através  de  nota, que não opera a rede coletora de esgoto do  l ocal .5   

Anexo 03     4

 Disponível em . Acessado em .  5  Disponível em  . Acessado em 24 de maio de 2015. 

Obras do Orçamento Participativo estão atrasadas em até 15 anos  São  pelo  menos  52  obras  já  aprovadas  por meio do Orçamento Participativo e  que  estão  atrasadas,  algumas,  tendo  sido  aprovadas  em  1999;  moradores  reclamam  e  não  sabem  quando  as  obras  aprovadas  na  edição  2013/2014  sairão do papel.  A  abertura  da  licitação  que  irá  selecionar  a  empresa  de  consultoria  responsável  pela  elaboração  do  projeto  das  obras  aprovada  pelo  Orçamento  Participativo  2013/2014  foi  publicada  no  "Diário  Oficial  do  Município"  nesta  quarta­feira (26). De acordo com a publicação, a empresa escolhida será definida no  dia  19  de  maio  deste  ano.  Já  a  previsão  de  conclusão  das  obras  de  revitalização  e  urbanização  em  18  espaços  públicos  da  cidade  está  longe  de  ser  definida.  A  população  questiona  o  programa,  que  apresenta  um  histórico  negativo  do  andamento  de  obras.  É  possível  encontrar  intervenções  aprovadas  pela  população  em 1999 que ainda não foram concluídas.  De  acordo  com  a  Prefeitura de Belo Horizonte, de 1.518 obras aprovadas por  meio  do  Orçamento  Participativo  ­  no  qual  a  população  pode  votar  nas  obras  que  serão  feitas  em  sua  regional  ou  em  toda  a  cidade  por  meio  da  internet  ­, 76,22% já  foram  concluídas  e  23,78%  estão  em  andamento.  No  entanto,  o  acúmulo  de  obras  não finalizadas que datam desde 1999 geram um contraste com este número.  Entre  1999  e  2000,  a  construção  do  Centro  de  Saúde  Nossa  Senhora  Aparecida,  localizado  na  rua  Paulino  Marques,  no  bairro  São  Lucas,  região  Centro­Sul  da  capital,  só  foi  sair  do  papel  há  pouco  mais  de  um  ano,  segundo uma  moradora  da  mesma  rua,  que  pediu  para  não  ter  o nome divulgado. Segundo ela, a  obra  já  está   quase  pronta.  De  acordo  com  a  prefeitura,  a  previsão  é  que  a  intervenção  no  centro  de  saúde  seja  concluída  ainda  no  primeiro  semestre  deste  ano,  após  um  prazo  de  quase  15  anos  para  a  sua  conclusão.  O  investimento neste  empreendimento foi de R$ 2.695.938,57.  Já  no  bairro  Vista  Alegre,  na  região  Oeste  da  capital,  a  população  espera  pela  construção  do  Espaço  BH  Cidadania  Vista  Alegre  desde  2007.  Segundo  a 

Associação  dos  Moradores  da  Vila Vista Alegre, após sete meses de obras no local,  a  população  recebeu  a  informação  de  que  ela  teria  que  ser  interrompida  porque  uma  enorme  rocha  foi  encontrada  na  estrutura  e  estava  difícil  retirá­la.  “E  aí  deixaram  a  gente  com  esse  elefante  branco aqui. De vez em quando aparecem uns  pedreiros  que  fazem  uma  coisa  ou outra e depois somem para voltar meses depois,  e  assim  por  diante.  Nunca  termina”,  disse  um  membro  da  associação  que  pediu  para não ser identificado.  O  local  serviria,  dentre  outras  coisas,  para  sediar  o  Centro  de  Referência  da  Assistência  Social  Nova  Cintra  (Cras).  “Enquanto  não  tem  lugar  para  o  Cras,  a  prefeitura  aluga  uma  garagem  antiga  de  uma  empresa  de  ônibus  para  sediá­lo.  Quer  dizer,  está  gastando  dinheiro  todo  mês  quando  poderia aplicá­lo na conclusão  do  Espaço  BH  Cidadania  Vista  Alegre,  que  foi  a  obra  que  escolhemos  em  2007”,  disse ainda o membro da associação.  O  que  ele  não  sabe  é  que  a prefeitura já conta com o investimento de R$ 1,8  milhão  para  essa  obra.  A  previsão  de  sua conclusão, de acordo com a listagem das  obras  atualizada  em  fevereiro  deste  ano,  é  também  para  o  primeiro semestre deste  ano.  No  entanto,  segundo  os  moradores  e  a  própria  foto  da  obra  datada  de  março  deste ano no site da prefeitura, o espaço ainda está longe de ser concluído.   O  atraso também ocorre em relação a implantação da área de esporte e lazer  São  Salvador,  aprovada  por  meio  do  Orçamento  Participativo  2007/2008  e  que  até  hoje,  segundo  um  morador  da  região,  não  mostrou  sinais  de  estar  em  andamento.  “Na  época  da  votação  houve  uma  mobilização  geral  aqui  na  região  para  que  essa  área  de  lazer  fosse feita. Bom, a obra está parada há muito tempo e a gente nem se  lembra  da  última  vez  que  viu  um  homem  trabalhando  ali”,  disse  Klinger  Souza,  26,  morador  do  bairro  São Salvador. Segundo a prefeitura, o investimento desta obra foi  de cerca de R$ 2 milhões.   Denúncia  Um  antigo  funcionário  da  regional  Norte  da  prefeitura  entrou em contato com  a  reportagem  e  contou  que  as  obras  sempre  atrasavam  poque  eram  barradas  pela 

burocracia  da  própria  prefeitura.  “Além  disso,  muitas  desses  empreendimentos  tinham  que  atender  interesses  políticos,  de  vereadores,  por  exemplo.  Hoje,  eu  não  sei  como  estão  as  entregas,  mas  quando  trabalhava lá, antes da implementação do  Portal  da  Transparência, fazíamos as matérias sobre as obras sem mencionar o ano  em  que  elas  foram  aprovadas.  Daí  o  motivo  de  você  ver  ainda  nos  dias  de  hoje  tantas  obras  atrasadas,  algumas  de  2000  ainda,  em  andamento.  Ela  foram  se  acumulando por anos”, contou o ex­funcionário que não será identificado.  De  acordo  com  a  listagem  divulgada  pela  própria  prefeitura,  são  pelo  menos  52  obras  em  atraso,  que  foram  aprovadas  por  meio  do  Orçamento  Participativo  entre 1999 e 2010.   A  reportagem  de  O  TEMPO  entrou  em  contato  com a prefeitura para saber o  motivo  de  tantas  obras  atrasadas.  A  resposta  foi  que  para  cada  obra,  há  uma  justificativa,  e  portanto,  o  atraso  delas  deveria  ser  tratado  especificamente.  A  reportagem  enviou  então  as  três  obras  citadas nesta matéria que estão em atraso e  aguarda a resposta.6   

Anexo 04   

Estudo 

sobre 



orçamento 

participativo 

mostra 

baixa 

implementação das demandas da população.  O  Observatório  Cidadão  de  Piracicaba  realizou,  em  parceria  com  a  Associação  dos  Moradores  dos  Bairros  do  Distrito  de  Tupi,  um  estudo  piloto  para  avaliar o funcionamento do Orçamento Participativo na cidade.    Piracicaba  foi  um  dos  primeiros  municípios  brasileiros  a  adotar  esse  instrumento  de  participação,  em  1989.  No  entanto,  não  existe  o  compromisso,  por  parte do poder público, de executar as sugestões recebidas da população.     

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 Disponível em  . Acessado em . 

Foram  analisadas  53  demandas  dos  moradores  de  Tupi,  nos  anos  de  2011,  2012  e 2013, sendo que quando a mesma reivindicação foi apresentada em mais de  um  ano, foi considerada apenas uma vez, para efeitos de cômputo. Foram excluídas  demandas  de  responsabilidade  do  governo  estadual  ou  aquelas  que  não  poderiam  ser avaliadas objetivamente.      Deste  total,  13%  dos  pedidos  dos  moradores  foram  atendidos,  11%  parcialmente  atendidos  e  75%  não  foram atendidos. O percentual de realização das  propostas  dos  moradores  é  considerado  baixo  e,  no  entender  da  equipe  do  Observatório  e  da  Associação,  pode  desacreditar  esse  importante  canal  entre  o  executivo e o cidadão.    “Entendemos  que  não  é  possível  atender tudo, mas acreditamos que o poder  público  deve  uma  resposta  aos  moradores  quanto  ao  atendimento  ou  não  do  que  pedem.  Mas,  a  população  fica  sem  resposta  e  diminui  a  sua  participação”,  lamenta  Carlos  José  Marco  da  Silva, presidente da Associação de Moradores dos Bairros do  Distrito de Tupi e coordenador do Conselho do Orçamento Participativo.    Renato  Morgado,  coordenador  de  projetos  e  políticas  públicas  do  IMAFLORA,  ONG  que  integra  o  Observatório,  diz  que  o  Observatório  Cidadão  de  Piracicaba  estudou  algumas  recomendações  para  valorizar  o  Orçamento  Participativo  e  considera  importante,  entre  outros  pontos,  que  a  Prefeitura  aumente  o  atendimento  às  demandas  dos  moradores,  faça  relatórios  periódicos,  prestando  contas  do  andamento  de  cada  uma  das  propostas  atendidas,  que  convide  representantes  dos moradores para parceiras na elaboração desses relatórios e que  inclua  no  orçamento  enviado  à  Câmara  dos  Vereadores  a  relação  das  propostas  que serão executadas, não apenas a lista com todas as sugestões.7          7

 Disponível em:  . Acesso em: 25/05/2015. 

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