Os 500 anos da Reforma e os 10.000 dias de uma \"Reforma digital\"

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OS 500 ANOS DA REFORMA E OS 10.000 DIAS DE UMA “REFORMA DIGITAL”

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om o desenvolvimento da internet e do ambiente digital, as pessoas, hoje, encontram novas formas de relação e de interação, sem fronteiras de espaço nem limites de tempo. Não é novidade afirmar que as últimas décadas foram marcadas por uma reviravolta comunicacional, uma verdadeira revolução. Foram 10.000 dias que estremeceram o mundo, como afirma o pesquisador argentino Carlos Scolari. Segundo ele, desde o surgimento das interfaces gráficas dos computadores (com o Macintosh, da Apple®, em 1984) e da Web (a World Wide Web®, WWW, em 1992), o mundo passou por uma explosão sociotécnica, cujos desdobramentos ainda são experimentados por cada um de nós em vários sentidos. Para as Igrejas em geral, especialmente para o catolicismo, em sua tradição bimilenar, esse é um grande desafio pastoral. São João Paulo II (1920-2005), cujo pontificado

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se estendeu de 1978 a 2005, foi o pontífice que introduziu a Igreja no processo de digitalização. Já os pontificados dos papas Bento XVI (1927-), de 2005 a 2013, e Francisco (1936-), iniciado em 2013, vêm acompanhando os desdobramentos históricos e cada vez mais velozes desse processo. Especialmente em suas mensagens anuais para o Dia Mundial das Comunicações Sociais (DMCS), eles buscam despertar a Igreja para aquilo que está acontecendo no âmbito da comunicação. Vejamos a seguir alguns exemplos. Desde o início, o papa emérito Bento XVI reconheceu que “as novas tecnologias digitais estão provocando mudanças fundamentais nos modelos de comunicação e nas relações humanas” (DMCS 2009). Ele destacou que a facilidade de acesso a celulares

e a computadores, com o alcance global e a onipresença da internet, criaram outras modalidades comunicacionais. As pessoas, agora, graças às redes digitais, podem se encontrar “para além dos confins do espaço e das próprias culturas” (DMCS 2011). Não muda apenas o modo de se comunicar, mas também “a própria comunicação em si mesma, podendo-se afirmar que estamos perante uma ampla transformação cultural”, uma “nova cultura da comunicação” (DMCS 2009). Já segundo o papa Francisco, “hoje vivemos num mundo que está se tornando cada vez menor”, pois “os progressos dos transportes e das tecnologias de comunicação deixam-nos mais próximos, interligando-nos sempre mais, e a globalização faz-nos mais interdependentes” (DMCS 2014). O problema desse processo é que “a variedade das opiniões expressas [na internet] pode ser sentida como riqueza, mas é possível também fechar-se numa esfera de informações que correspondem apenas às nossas expectativas e às nossas ideias”. Ou seja, a Igreja correria o risco de ser excluída de determinadas “esferas” que não se sentem correspondidas por ela, ou então de ser considerada como uma “opinião a mais” em um contexto “variado”. A partir desse contexto eclesial e sociocomunicacional, observamos que a Igreja se defronta, hoje, com um fenômeno histórico de grande relevância, denominado pela teóloga estadunidense Elizabeth Drescher

de “Reforma Digital”. Aqui, a autora faz referência à Reforma Protestante, uma das inúmeras reformas religiosas ocorridas após a Idade Média (do século XV em diante). Não por acaso, em 2017, serão comemorados os 500 anos do gesto considerado como o estopim da Reforma, a afixação de 95 teses escritas pelo então monge agostiniano alemão Martinho Lutero (1483-1546) na porta da igreja do Castelo de Wittenberg, na Alemanha, em 1517. Nelas, o religioso manifestava sua insatisfação com as atitudes da Igreja Católica, especialmente em torno do comércio de indulgências, bem como do distanciamento dessa instituição em relação aos princípios do Evangelho. Contudo, hoje, trata-se de um novo tipo de “reforma”. Segundo Elizabeth, “ao contrário das reformas eclesiais anteriores, a Reforma Digital é movida não tanto por teologias, dogmas e política – embora estes certamente estejam sujeitos a um questionamento renovado –, mas sim pelas práticas espirituais digitalmente intensificadas de crentes comuns com acesso global entre si e a todas as formas de conhecimento religioso previamente disponíveis apenas ao clero, aos estudiosos e a outros especialistas religiosos. Isso coloca praticamente tudo em jogo – nossas tradições, nossas histórias, nossa compreensão do sagrado, até mesmo a estrutura e o significado dos textos sagrados que nós pensávamos que haviam sido assegurados em um cânone duradouro há muito tempo, no quarto século”.1 Ou seja, trata-se de práticas de acesso, criação, armazenamento, gestão, distribuição

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Mãos formando moldura de tela, Flickr

IGREJA & COMUNICAÇÃO

e circulação de elementos religiosos, por parte de pessoas comuns, encorajadas pelas potencialidades das mídias digitais em todos os aspectos da vida, incluindo o âmbito da fé. Em um encontro com os participantes do Congresso Internacional da Pastoral das Grandes Cidades, em 2014, o papa Francisco comentou a repercussão dessa evolução histórica em relação à vida da Igreja: “Viemos de uma prática pastoral secular, em que a Igreja era o único ponto de referência da cultura. [...] Como autêntica Mestra, ela sentiu a responsabilidade de delinear e de impor não só as formas culturais, mas também os valores e, mais profundamente, de traçar o imaginário pessoal e coletivo, isto é, as histórias, os eixos aos quais as pessoas se apoiam para encontrar os significados últimos e as respostas às suas perguntas vitais. Mas não estamos mais nessa época. Ela passou. Não estamos na cristandade, não mais. Hoje, não somos mais os únicos que produzem cultura, nem os primeiros, nem os mais ouvidos. Precisamos, portanto, de uma mudança de mentalidade pastoral”. Para a Igreja Católica, esse crescimento exponencial de “produtores da cultura” é o principal desafio eclesial contemporâneo, no qual também se insere “a nova arena digital [que] permite encontrar-se e conhecer os valores e as tradições alheios”, como afirma o papa emérito Bento XVI (DMCS

2010). Trata-se de uma “nova ágora, de uma praça pública e aberta onde as pessoas partilham ideias, informações, opiniões e podem ainda ganhar vida novas relações” (DMCS 2013). Reconhece-se, assim, que as novas modalidades comunicacionais trazem consigo outras possibilidades de construção social de sentido, mais abrangentes, incisivas e influentes do que as anteriores. Isto é, a Igreja não seria mais o eixo central das interações sociais, nem mesmo em âmbito religioso, e passaria a disputar a atenção de diversas alteridades (religiosas ou não) presentes na rede. Se “a web está contribuindo para o desenvolvimento de formas novas e mais complexas de consciência intelectual e espiritual, de certeza compartilhada”, como defende o papa Bento XVI, o risco principal, na perspectiva eclesiástica, é que o “envolvimento cada vez maior no areópago digital público [...] influi sobre a percepção de si próprio e, por conseguinte, inevitavelmente, coloca a questão não só da justeza do próprio agir, mas também da autenticidade do próprio ser” (DMCS 2011). Lidas do ponto de vista eclesiástico, tais frases apontam para o grande desafio percebido pela Igreja Católica nas relações on-line, pois as pessoas passam a construir “certezas compartilhadas” por conta própria. Isso pode modificar a “percepção” que elas têm da própria Igreja, de suas

Empanado de carne

lideranças e de sua autoridade, colocando em xeque sua “autenticidade”. Portanto, se a Reforma Protestante foi uma revolução religiosa que desencadeou uma revolução sociocultural, como indica o teólogo Leonardo Boff (1938-), podemos dizer que a “Reforma Digital”, hoje, se manifesta como uma revolução sociocultural que pode desencadear uma revolução religiosa, ainda em seus primórdios. Diante da “Reforma Digital”, reconhecida até mesmo pelos pontífices, a Igreja também é chamada a se reformar. E, como afirma o papa Francisco na Exortação Apostólica Evangelii Gaudium: o anúncio do Evangelho no mundo atual2, de 2013, a reforma das estruturas – incluindo comunicacionais e pastorais – “só se pode entender neste sentido: fazer com que todas elas se tornem mais missionárias, que a pastoral ordinária em todas as suas instâncias seja mais comunicativa e aberta, que coloque os agentes pastorais em atitude constante de ‘saída’ [...]” (EG n. 27). Ou, como afirmou em recente entrevista à revista La Civiltà Cattolica, falando justamente sobre a Reforma Luterana: “Não ficar fechados em perspectivas rígidas, porque, nessas, não há possibilidade de reforma”.3 Um feliz Natal e um abençoado 2017 a todos e a todas!

INGREDIENTES – MASSA • 500 g de farinha de trigo • 150 g de gordura vegetal • 1 xicara de água morna • 1 colher (sopa) rasa de sal INGREDIENTES – RECHEIO • 1 kg de alcatra moída • 2 dentes de alho amassados

NOTAS DRESCHER, Elizabeth. Tweet If You Heart Jesus: Practicing Church in the Digital Reformation. Harrisburg: Morehouse Publishing, 2011. p. 2. (Tradução nossa). 2 Disponível em: . Acesso em: nov. 2016. 3 Disponível em: . Acesso em: nov. 2016. 1

Moisés Sbardelotto Jornalista, leigo casado, doutor em Ciências da Comunicação e autor do livro E o Verbo se fez bit: a comunicação e a experiência religiosas na internet (Santuário, 2012)

• 2 cebolas picadas • 1 pimentão-vermelho • 150 ml de óleo • 2 ovos cozidos • 2 folhas de louro • 1 colher (café) de cominho • 1 colher (chá) de orégano • Azeitona a gosto • Sal a gosto

altura. Corte em formato de círculos de 10 a 12 centímetros de diâmetro. Espalhe farinha sobre a superfície da massa, para que esta não grude. Recheie de modo que consiga dobrar a massa ao meio com facilidade (cerca de 70 gramas). Torça as bordas com os dedos. Pincele com a gema de ovo e leve ao forno preaquecido a 180 graus Celsius por aproximadamente 20 minutos ou até que fiquem bem douradas.

MODO DE PREPARO – MASSA Coloque a farinha na gordura e misture com as mãos, até conseguir formar uma bola de massa arenosa. Adicione o sal à água morna (salmoura) e junte à bola de farinha. Mexa muito bem, até a massa ficar homogênea. Estique-a e sove por cerca de 5 minutos, até ficar elástica. Cubra com filme plástico e deixe descansar por 2 horas. Abra a massa com um rolo, deixando-a com 3 milímetros de

MODO DE PREPARO – RECHEIO Em uma panela, refogue a cebola picada e o pimentão em óleo por aproximadamente 20 minutos, em fogo baixo. Acrescente a carne moída e cozinhe por 15 minutos. Adicione sal, louro, orégano e cominho e mexa bem. Cozinhe por mais 10 minutos, mexendo de vez em quando para não queimar o fundo. Espere esfriar e recheie as empanadas.

Bolo invertido de banana e chocolate

Arquivo pessoal

[...] PODEMOS DIZER QUE A “REFORMA DIGITAL”, HOJE, SE MANIFESTA COMO UMA REVOLUÇÃO SOCIOCULTURAL QUE PODE DESENCADEAR UMA REVOLUÇÃO RELIGIOSA, AINDA EM SEUS PRIMÓRDIOS

Colaboração: Cleonice Maria, Guaíra (PR)

FOGÃO DE SANTO ANTÔNIO Lâmpada desenhada na parede e silhueta de um homem, [s.d.], ThinkStock

IGREJA & COMUNICAÇÃO

INGREDIENTES • 4 colheres (sopa) de manteiga em temperatura ambiente • 3/4 xícara de açúcar mascavo • 3 bananas médias maduras cortadas em rodelas finas • 1 ½ xícara de farinha de trigo • 3/4 colher (sopa) de fermento em pó • 1 pitada de sal • 1/2 colher (chá) de canela em pó • 1/2 xícara e 2 colheres (sopa) de cacau em pó • 1/2 xícara de água quente • 1/3 xícara de creme de leite fresco • 1 ½ colher (chá) de extrato de baunilha • 1/4 de xícara e 2 colheres (sopa) de óleo (preferencialmente de canola)

• 3/4 xícara de açúcar • 2 ovos MODO DE PREPARO Preaqueça o forno a 350 graus Celsius. Unte levemente as laterais de uma fôrma retangular média. Para a cobertura, derreta duas colheres de manteiga em uma panela. Adicione o açúcar mascavo e cozinhe por um minuto, até misturar bem. Raspe a mistura e distribua uniformemente pelo fundo da fôrma. Corte as bananas e ponha-as por cima. Reserve. Junte a farinha, o fermento, o sal e a canela. Em outra vasilha, com uma batedeira, misture o cacau em pó, a água quente e a baunilha, até tudo ficar cremoso. Adicione a manteiga e a baunilha e bata mais um pouco. Em uma tigela grande, misture

o óleo, o açúcar branco e o açúcar mascavo (a mistura parecerá areia molhada). Adicione os ovos individualmente e bata bem. Verta na mistura de cacau. Ponha aos poucos os ingredientes secos, alternando-os com o creme de leite. Despeje na fôrma preparada, com cuidado para não tirar as bananas do lugar. Asse por cerca de 35 minutos em forno médio. Deixe esfriar. Passe uma faca de lâmina fina nas bordas. Coloque um prato sobre o bolo e inverta. Sirva.

Colaboração: Cleonice Maria, Guaíra (PR) O MENSAGEIRO DE SANTO ANTÔNIO

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