Os Açores, os Reis, a História de Portugal e a Tauromaquia

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Jornal da Praia

HISTÓRIA

09 Fevereiro 2016

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Os Açores, os Reis, a História de Portugal e a Tauromaquia A ligação entre História de Portugal e Tauromaquia é esquecida, mas há estórias de touros e touradas que se refletem em pequenos momentos que levaram ao desenrolar de grandes factos. É impossível dissociar a História da Terceira dos toiros e da Batalha da Salga. Quer se diga que não era gado bravo, que o relato dos acontecimentos tem sido alterado pela tradição oral, não se pode negar que houve gado lançado sobre os espanhóis naquele 25 de julho de 1581 e que estes fugiram, atirando-se ao mar. De seguida Filipe II de Espanha começou a fazer pressão juntos dos locais para se renderem, pois data deste período a famosa carta de 13 de fevereiro de 1582 de Ciprião de Figueiredo, corregedor dos Açores, ao rei espanhol, onde afirmava: “antes morrer livres que em paz sujeitos”, hoje a divisa dos Açores. Os toiros passaram a ser parte integrante desta luta incessante contra os espanhóis e a alma de bravura dos locais. Há outros momentos ligados à tauromaquia que merecem ser recordados, que mostram a força dos portugueses. Ainda durante a 1ª dinastia (Afonsina), mesmo durante a (Re)Conquista Cristã, falava-se da capacidade do 2º Rei de Portugal, D. Sancho I, de alancear toiros e de D. Sancho II ter chegado mesmo a tourear. Já no reinado deste último, davam-se as primeiras touradas em Lisboa, que decorriam, no Terreiro do Paço e no Rossio. D. Fernando, mesmo sendo um rei adoentado, chegou a alancear toiros também. Já durante a 2ª Dinastia, o rei D. Duarte I era um bom alanceador de touros e, em 1451, nos festejos do casamento de sua filha D. Leonor com o Sacro-Imperador Frederico III, realizou uma faustosa tourada numa praça improvisada, junto ao Terreiro do Paço. Já D. João II, o Príncipe Perfeito, segundo as crónicas, gostava de touradas e certo dia, dizem as estórias, um touro apareceu-lhe na estrada durante um passeio que fazia com a Rainha, o Rei desembainhando a sua espada, matou o toiro mesmo ali. Foram aparecendo novas praças improvisadas para variados festejos, em Xabregas, Junqueira, Salitre e Alvalade D. Sebastião, que começou a tourear jovem em Sintra, aquando dos preparativos para a invasão africana, decidiu organizar uma corrida de toiros para a nobreza, em Xabregas. Depois da partida de Lisboa, a armada parou em Cádis, onde D. Sebastião participou na última tourada da sua vida, em Algeciras, organizada por Filipe II. A 4 de agosto de 1578, durante a Batalha de Alcácer Quibir, D. Sebastião e grande parte do seu exército pereceram, e com eles, desapareceu o sonho de independência de Portugal, em 1580. É impossível dissociar a História da Terceira dos toiros e da Batalha da Salga. Quer se diga que não era gado bravo, que o relato dos acontecimentos tenha sido alterado pela tradição oral, não se pode negar que houve gado lançado sobre os espanhóis naquele 25 de julho de 1581 e que estes fugiram, atirando-se ao mar. De seguida Filipe II de Espanha começou a fazer pressão juntos dos locais para se renderem, pois data deste período a famosa carta de 13 de fevereiro de 1582 de Ciprião de Figueiredo, corregedor dos Açores, ao rei espanhol, onde afirmava: “antes morrer livres que em paz sujeitos”, hoje a divisa dos Açores. Os toiros passaram a ser parte integrante desta luta incessante contra os espanhóis e a alma de bravura dos locais. No ano de 1605, aquando do nascimento de Filipe IV de Espanha, o Senado de Lisboa ordenou uma corrida de toiros em pleno Terreiro do Paço. Foi também enquanto assistia a uma tourada que Filipe IV soube da Restauração de Independência de Portugal e da aclamação do novo rei, D. João IV, que mantinha em Vila Viçosa, uma notável academia equestre. Em 1647, realizaram-se corridas na praça de toiros do Rossio. Dois anos depois, em 1649, festejou-se o nascimento do infante D. Pedro (futuro D. Pedro II) com nova corrida no Terreiro do Paço, tal como aconteceu quando a Irmandade de Santo António quis festejar as festas do seu Santo com uma corrida de toiros. D. Afonso VI, que esteve preso em Angra e em Sintra depois de deposto, tornou-se o 1º monarca toureiro da casa de Bragança, toureando nas praças de Sintra, Almada e Rossio. O seu irmão, D. Pedro II, por ter muita agilidade e força, ganhou fama nas praças, sobretudo procurando seduzir as damas da Corte. Festividades taurinas no Terreiro do Paço foram organizadas aquando do casamento de D. Catarina de Bragança com o Rei Carlos II de Inglaterra, assim como da chegada das Rainhas D. Maria Sofia de Neuburgo (2ª esposa de D. Pedro II) e de D. Maria Ana de Áustria (esposa de D. João V). Também houve várias entidades religiosas que organizaram corridas de toiros em homenagem aos seus patronos, aproximando a festa religiosa da pagã. Foi no reinado de D. João V que apareceram os arreios de cortesias bordados a prata e ouro com pedras preciosas. Além disso, o rei mandou edificar praças de toiros em muitas cidades, principalmente no norte de Portugal. O seu filho, D. José, foi um grande entusiasta das touradas, embora o seu Ministro, o Marquês de Pombal, fosse avesso a toiros. Quando D. Maria I chegou ao trono, afastou Pombal do poder, contudo, segundo as estórias, quando o Marquês morreu, o povo, sentindo-se livre do governo pombalino e, adorando touradas, organizou várias corridas em praças improvisadas na zona da Estrela e no Campo de Santana. D. Maria I realizou uma corrida, onde esteve o matador Pedro Romero, um dos mais importantes da História. Já o rei D. Miguel, o Absolutista, apelidado de “Rei-Toureiro”, criou a sua própria ganadaria, a do Infantado. A própria praça de toiros do Campo Santana foi inaugurada por esse Rei, a 3 de julho de 1831, podendo ir todas as pessoas. A corrida de toiros deixava ser da elite. Por lá passaram grandes nomes do toureio, sobretudo matadores, que deixaram de poder matar em Portugal, a partir de 1836, quando a morte do toiro em arena foi proibida por D. Maria II. Em 1882, a 15 de janeiro, os Reis D. Luís e D. Maria Pia organizaram uma tourada na Praça de Santana para os Reis de Espanha, Afonso XII e Maria Cristina de Habsburgo-Lorena. A praça de toiros do Campo Pequeno só foi inaugurada a 18 de agosto de 1892, já no reinado de D. Carlos. Quando, em inícios de julho de 1901, os reis D. Carlos e D. Amélia visitaram os arquipélagos da Madeira e dos Açores, os terceirenses prepararam uma tourada à corda, uma tradição local, até hoje bem enraizada na cultura da Ilha. Assim, São João de Deus, em Angra do Heroísmo, engalanou-se para o acontecimento, as ruas encheram-se de gentes, vestidas a rigor, com os seus trajes domingueiros, procurando mostrar a popularidade das touradas à corda na Ilha. Outras figuras marcaram também a tauromaquia nacional. A “arte de Marialva” foi criada, no séc. XVIII, pelo “Estribeiro-Mor” D. Pedro de Alcântara e Meneses, 4º marquês de Marialva, que era um grande cavaleiro e toureiro equestre. Foi “Mestre de Picaria” outro notável cavaleiro desse tempo, chamado Manuel Carlos de Andrade, que escreveu um excelente tratado de equitação, inspirado em Marialva. Nascia assim a designação de “à Marialva”. A Tauromaquia está enraizada na cultura terceirense desde há vários séculos, marcando vários momentos da nossa História. Francisco Miguel Nogueira Doutorando em História Moderna e Contemporânea, Especialidade em Defesa e Relações Internacionais Historiador/Investigador

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