Os Aventais e a Tanga [Da Maçonaria]

June 16, 2017 | Autor: E. Ferraz da Rosa | Categoria: Maçonaria, História da Maçonaria
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6

22 de Novembro 2015

OPINIÃO

www.diariodosacores.pt

Diário Açores Ano

146º

dos

A Lógica dos Factos Eduardo Ferraz da Rosa [email protected]

Os Aventais e a Tanga

A recente realização de um grande evento da Maçonaria portuguesa, promovido e organizado pelo Centro de Estudos Maçónicos, com o suporte da Câmara Municipal e da Cooperativa Cultural da Praia da Vitória, constitui feito digno de registo por tudo o que significou, revela e esconde, para mais tendo-se em conta a atenção e cobertura que granjeou (ou não...) nas Redes e OCS, as reacções que provocou nos cidadãos e nas instituições, e as análises que (des)motivou do ponto de vista político-cultural, filosófico, ético, ideológico, cívico e socio-histórico na colectividade local (de resto mais fadada e aparelhável para a tanga do que para o avental)! – Ora tal certame, variante de cimeira interpares, tendências e lojas (ainda para doutrinação, aliança e propaganda), como fora habilmente pretendido e ficou à vista de quantos não andam por cá de olhos vendados, apesar de a muitos dos organizadores, patrocinadores e simulados “compagnons de route”, provavelmente ornados de meias viseiras ou antolhos para vesgos aprendizes de rito e ideários da dita “sociedade secreta”, talvez lhes terem, em dia solar, ilusoriamente soado badaladas de distante consciência em afinados sinos e tinos de intenção programática, se é que não foram, em noite de quarto escuro, sem lua na faixa ou na martelada do almofariz limpo, sujeitos a investiduras de luva, com toda a dimensão “iniciática” que cartilhas, juras e compassos debitam, e a “irmandade” depois se encarregará de cobrar para “o bem e o progresso da humanidade”, sob o olho vigilante do supremo arquitecto... Porém, por entre tanta hipócrita e cínica maçãzinha escondida nesse cesto e toca de secretismo e poder de seita – vantagens à parte nos comércios e tráficos de almas, corpos e influências... –, o mais espantoso e repugnante é o podre silêncio, mais ou menos pacóvio, comodista, cobarde, levianamente cúmplice ou apenas acéfalo de toda uma outra comunidade e suas instituições e organismos historicamente relevantes e responsáveis – incluindo a Igreja com os seus clérigos tão catequizantes e zelosos, pastores e pastoralistas, “teólogos” e leigos “empenhados”, ou (des)comprometidos nos bons combates ideológicos, morais e práticos (e certamente não por falta de doutrinas claras), conquanto às vezes aparentemente ignorados ou esquecidos... –, hoje cada vez mais reduzidos e decadentes em expressão fútil, indefinida, nula ou oca (estulta e até amiúde paganizada nalguns casos), para além da objectiva traição de uns banais “académicos”, inocentes úteis ou débeis “intelectuais” (que os há por aí, mesmo que semicultos e encanastrados), e de certos líderes, agentes e actores políticos (que nadam, pululam e nidificam rotineira e instaladamente como parasitas e camaleões em pântano, com as suas moscas partidárias à ilharga do umbigo ou das orelhas...). – De resto, como já tive ocasião de referir aqui

mesmo em 2011 e 2012, num cenário não muito diferente (e de certa maneira antecipatório do actual...), com notoriedade mediática mereceram assim, agora novamente nos últimos dias, a Maçonaria portuguesa e a Política lusa, conjugadamente, uma significativa, ampla e desusada abordagem, à qual não faltaram muitos dos atraentes motivos e ingredientes que sempre estiveram, e ainda estão, associados àquela aureolada instituição e àquele decisivo (e decisório…) domínio da vida do País. E depois não deixa – talvez, mas apenas à primeira vista… – de causar alguma estranheza o facto de ser precisamente nesta época de crises generalizadas que entre nós esse tema tenha sido trazido, da forma como o foi, ao espaço, à divulgação e ao conhecimento da opinião pública, curiosa e até potencialmente cativante, tanto mais quanto isso mesmo foi efectivado com a precisa, minuciosa e planeada revelação doseada (parcial!) de alguns documentados e ilustrados pormenores (afinal, nem sequer tão secretos ou reservados como se poderá ter querido fazer parecer) da história, génese, características, ritualidades, simbologias e práticas daquela instituição e dita “sociedade secreta”, que assim e por este meio viu provavelmente mais polidas e potencialmente levantadas algumas das suas novas e pretendidas colunas unidas... No entretanto, e para além daqueles sucintos

dados, o que mais acentuadamente terá motivado muita da referida e conseguida oferta e procura de tão rentável produto foi certamente o rol de meia dúzia de nomes dos ditos “irmãos” bem (des) aparecidos (alguns porém fugindo àquela praiana mesa e plateia da família...) como pertencentes à relembrada Maçonaria (nas suas diversas obediências, tendências, Lojas e preponderantes filiações ideológicas e político-partidárias, com destaque aqui, como é sabido, para ilustres dirigentes históricos do PS e do PSD), a par, naturalmente, do facto de tal tema ser apaixonante, revestindo-se de inusitados alcances, directos e indirectos, para o estudo da História e das Mentalidades. – Todavia e em todo o caso não poderá deixar de tornar a constatar-se que na Maçonaria, como em todas as instituições, haverá realmente gente de bem, mérito e genuína valia (a quem Portugal e os Açores muito deveram e devem), a par de outros – como hoje é mais do que evidente continuar a poder ser constatado! –, cuja errática e oportunista carreira, mediocridade intolerante e pérfidas jogatinas de poder e fortuna interligados são o próprio contra-testemunho contínuo de quaisquer apregoados ideais fraternos e humanistas (ou assim pretensamente assumidos como tal), nas cabeças trianguladas e nas pedreiras brutas daquelas lojas e lojecas estratégicas, por entre muita tanga a servir de avental...

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