Os Ceramistas Tupi Volume I - Sínteses regionais

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Os Ceramistas Tupiguarani - 

OS CERAMISTAS TUPIGUARANI

Volume I Sinteses Regionais André Prous & Tania Andrade Lima (editores)

 - Os Ceramistas Tupiguarani

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OS CERAMISTAS TUPIGUARANI André Prous & Tania Andrade Lima (editores) Volume 1 Apresentação André Prous

José Proença Brochado, vida e obra Francisco da Silva Noelli Os ceramistas tupiguarani: sínteses regionais · A tradição tupiguarani na Amazônia Edithe Pereira, Maura Imazio da Silveira, Maria Christina Leal F. Rodrigues, Cintia Jalles de C. de Araújo Costa, Christiane Lopes Machado · Recipientes cerâmicos de grupos tupi, no nordeste brasileiro Marcos Albuquerque · Características da tradição tupiguarani no sudeste do Brasil Ondemar Dias e Lílian Panachuk · Considerações sobre a distribuição das sociedades tribais de filiação lingüística tupi-guarani no Estado de São Paulo Maria Cristina Mineiro Scatamacchia · A problemática arqueológica da tradição cerâmica tupiguarani em Mato Grosso do Sul Emília Mariko Kashimoto & Gilson Rodolfo Martins · A tradição ceramista tupiguarani no sul do Brasil Pedro Augusto Mentz Ribeiro · Estado actual y perspectivas de la arqueologia de la “Tradición Tupiguarani” em Argentina Daniel Laponte & Alejandro Acosta

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APRESENTAÇÃO Esta obra coletiva nasceu quase de um acaso. Em 1998, estava terminando um longo ciclo de pesquisas de campo no Vale do Rio Peruaçu. Depois de trabalhar muitos anos preferencialmente sítios em abrigos, mergulhado nos vestígios deixados pelas populações mais antigas do Brasil central, analisando tecnologia lítica e arte rupestre, senti o desejo de iniciar o estudo de novos grupos, abordar um passado menos remoto, enfim, descobrir outros horizontes. Estava na hora de apresentar novos projetos de pesquisa a agências de fomento, quer ao CNPq, no Brasil, quer ao Ministère des Affaires Etrangères, na França e, desta forma, abrir uma nova frente em minha vida profissional. Foi neste momento que Alenice Baeta, minha colaboradora de longa data, encarregou-se do salvamento da área a ser inundada pela usina hidroelétrica de Aimorés, no baixo Vale do Rio Doce. As primeiras prospecções localizaram quase exclusivamente sítios tupiguarani. A. Baeta propôs então uma parceria entre sua equipe e o Setor de Arqueologia da UFMG. Desta forma, enquanto ela se responsabilizaria particularmente pelas áreas que seriam inundadas, os pesquisadores da UFMG poderiam estudar os sítios da mesma região que não se encontravam diretamente ameaçados. Um intercâmbio permanente de informações, de pessoas nas escavações e de pesquisadores em laboratório tornaria possível um estudo regional integrado, cujos resultados poderiam ser mais abrangentes que os de um “salvamento” da zona ameaçada. Desta proposta nasceu a idéia de elaborar um projeto (submetido ao CNPq e ao Ministério des Affaires Etrangères) para estudar os Tupiguarani no estado de Minas Gerais, onde esta cultura pré-histórica tinha sido quase que completamente deixada de lado nas pesquisas depois das pesquisas pioneiras do IAB no início dos anos 1970 (a parte alguns trabalhos rápidos, como os de L. Kneip, interrompidos pelo falecimentos desta pesquisadora). Ao mesmo tempo, a equipe de arqueologia da UFJF iniciava pesquisas em sítios desta tradição na região de Juiz de Fora, o que nos levou a prever uma colaboração entre nossas duas Instituições. O primeiro trabalho de campo da equipe da UFMG foi realizado no município de Conceição dos Ouros, em dezembro de 2001, a convite da Prefeitura Municipal, através de Paulo Araújo de Almeida. Ao analisar o material de um enterramento já escavado anteriormente nesta cidade por F. Lopes de Paula (IEPHA – MG), tivemos a surpresa de observar desenhos - de uma complexidade e de uma qualidade absolutamente inesperadas - que decoravam uma das vasilha da estrutura funerária. Passamos muito tempo tentando copiar os grafismos e fiquei persuadido de que, encontrando-se, entre os habitantes desta região isolada do epicentro tupiguarani, uma pintora de tamanha capacidade, deveria haver muitas outras no resto do país. Voltaram à minha memória as palavras de Jean de Léry, louvando no século XVI as desenhistas tupinambá e decidi empenhar-me em resgatar este tesouro de cuja existência não podia duvidar. Pouco depois, tendo sido convidado por Tania Andrade Lima para compor uma banca no Museu Nacional, conversei com esta pesquisadora a respeito do meu projeto. Com sua generosa colaboração, pude aproveitar os intervalos entre as sessões da banca para analisar algumas das vasilhas então em exposição. Minhas suposições revelaram-se certas: ao se dedicar preferencialmente a estudar os fragmentos provenientes de escavações, os arqueólogos tinham deixado em segundo plano a riqueza de composição dos desenhos tupiguarani. Não que os pesquisadores gaúchos (particularmente P. I. Schmitz, F. La Salvia e J. J. Brochado) não tivessem já observado os desenhos presentes nos numerosos cambuchi do Brasil meridional, mas aqueles do litoral carioca que eu estava decifrando apresentavam uma complexidade e uma qualidade bem superior. Mais tarde, soube que M. C. Scamattachia também tinha-se interessado em analisar estes grafismos, mas sua tentativa não tinha ido adiante. Os Ceramistas Tupiguarani - 

Não me parecia haver sentido em estudar a pintura independentemente dos outros vestígios; eu não tinha, porém, competência e muito menos recursos para estudar a cultura tupiguarani em todos seus aspectos e em toda sua extensão geográfica. Desta forma, um projeto começou a tomar forma durante minhas conversas com a Dra. Andrade Lima: porque não tentar congregar todos os estudiosos da cultura tupiguarani e elaborar conjuntamente uma obra que permitisse a um mesmo tempo fazer um balanço dos conhecimentos atuais e abrir novas perspectivas? No mês de junho seguinte, aproveitando o convite feito pelo Prof. Alexandre Felizola Diniz para ministrar um curso em Aracaju, estudei as cerâmicas e os fragmentos pintados de várias coleções nordestinas de Sergipe, do Rio Grande do Norte e da Bahia. O interesse e a boa vontade dos responsáveis pelos acervos, assim como a certeza de que eu não conseguiria levantar todas as coleções do país levaram-me a pensar na elaboração de um catálogo coletivo das vasilhas pintadas – e, na medida do possível, dos fragmentos mais característicos – com a participação dos curadores das coleções ou de pessoas designadas por eles. As minhas viagens (ao MARSUL – RS, em dezembro de 2002 e ao Rio de Janeiro, onde pude ter acesso irrestrito às coleções do IAB, do Museu Nacional – inclusive ao material inédito escavado por A. Buarque - e da minha colaboradora L. Panachuk (que visitou várias coleções do estado de Santa Catarina) permitiram amadurecer os procedimentos e elaborar um roteiro descritivo. T. Andrade Lima proporcionou o levantamento da coleção tupiguarani e a realização por F. e W. Crancio de decalques das peças pintadas do Museu Nacional. A colaboração decisiva de todos os que contatamos evidenciou a possibilidade de se levar adiante um projeto coletivo, através do qual pensamos homenagear o grande especialista da cultura tupiguarani: José Proenza Brochado. Tendo aceito T. Andrade Lima meu convite para uma colaboração que levaria à co-edição de um livro sobre os ceramistas Tupiguarani, formalizamos a proposta de uma publicação conjunta, convidando um grande número de pesquisadores – inicialmente brasileiros e, mais tarde, uruguaios e argentinos. Uns foram encarregados de apresentar uma síntese regional da cerâmica tupiguarani; outros, de tratar tão somente aspectos específicos desta cultura, enquanto outros, ainda, foram encarregados de preparar um catálogo do material sob sua guarda ou facilmente acessível. No XII Congresso da Sociedade de Arqueologia Brasileira, realizado em São Paulo em setembro de 2003, coordenamos ambos um simpósio, durante o qual um grande número de comunicações sobre a cerâmica tupiguarani foi apresentado pelos nossos primeiros colaboradores; outros colegas ofereceram sua própria participação, reforçando o grupo original. Desta forma, apesar de alguns sub-projetos iniciais não terem sido realizados, outros foram acrescentados, levando ao resultado que ora apresentamos ao público. Além da satisfação de ter contribuído para expandir os conhecimentos sobre os possíveis ancestrais diretos dos indígenas que receberam os europeus na orla da Terra Brasilis e de ter aberto novas sendas de investigação, temos a felicidade de ter reencontrado nossos colegas de longa data, desfrutado da sua confiança e da sua generosidade; de ter encontrado, também, arqueólogos mais jovens que, esperamos, levarão adiante o trabalho que iniciamos. Espero que estes três volumes cuja abertura é feita por mim e o fechamento T. Andrade Lima, possam mostrar à nova leva de pesquisadores que é possível e frutífero trabalhar em conjunto, apesar das distâncias – sejam elas geográficas, de orientação teórica ou de geração. A todas e a todos, meus mais sinceros agradecimentos. André Prous.

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Homenagem a um mestre , vida e obra Os editores dedicam esta obra a José Proença Justiniano Brochado, pela sua inestimável contribuição ao estudo dos ceramistas tupiguarani

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José Proenza Brochado: vida acadêmica a Arquelogia Tupi Francisco Silva Noelli Universidade Estadual de Maringá Laboratório de Arqueologia, Etnologia e Etno-História As disciplinas científicas são construídas graças às idéias e ao trabalho de muitos indivíduos. Alguns, por suas peculiaridades e feitos, têm sua biografia acadêmica investigada e divulgada, como aqui é o caso do arqueólogo brasileiro José Joaquim Justiniano Proenza Brochado, autor de uma obra relevante e de uma excelente síntese, recentemente considerada como a “mais genial” sobre a Arqueologia Brasileira, “capaz de prover quadros orgânicos, mesmo que provisórios, da história pré-colonial” (Funari, Neves e Podgorny, 1999:1). Apesar de inúmeras razões para falar da pessoa antes do cientista, de quem sou amigo e colaborador há mais de quinze anos, farei dessa curta biografia um resumo da sua vida profissional, visando, como sugere Eric Hobsbawn (1991:41), um “meio de esclarecer alguma questão mais abrangente, que vai muito além da estória particular”. A questão escolhida para esclarecer aqui é a diferença fundamental da abordagem que Brochado desenvolveu para pesquisar o passado da cultura material dos povos Tupi, incluindo seus processos de dispersão geográfica, distinta da abordagem empregada na famosa Tradição Tupiguarani, tema central deste livro. Iniciarei com uma síntese dos 40 anos da vida acadêmica de Brochado. Depois comentarei suas principais idéias dedicadas à dispersão geográfica e à cultura material dos povos Tupi. A fonte da biografia é essencialmente a obra do homenageado, mas também aproveitei inúmeras informações e declarações ouvidas diretamente dele. Síntese da trajetória acadêmica: 40 anos de trabalho Brochado nasceu na cidade de Rio Grande, estado do Rio Grande do Sul, em 7 de março de 1936. Iniciou na Arqueologia por acaso, em 1958, como amador, integrando o Centro Excursionista Rondon, fundado em 1942 por jovens estudantes do Colégio Estadual Lemos Jr. para explorar a bela e arenosa região de Rio Grande (Brochado, 1962, 1969c; Almeida, 1993). Além de ter companheiros interessados no passado indígena e de viver num município com rico patrimônio arqueológico (atualmente com 105 sítios registrados), Brochado frequentava assiduamente a Biblioteca Riograndense, instituição com grande acervo de livros e periódicos sobre Arqueologia e Etnologia publicados do final do século 19 aos meados do século 20 (onde também leu Literatura e História Grega e Romana em inglês, francês, espanhol e italiano desde jovem). Ao ingressar na universidade, Brochado já era servidor público federal, datilógrafo do Departamento Nacional de Portos e Vias Navegáveis (DNPV), onde trabalhou dos 20 aos 29 anos. Nesse período, como autodidata em busca de subsídios científicos para suas atividades amadoras, leu na Biblioteca Riograndense obras de Arqueologia e Etnologia sobre o Brasil, Argentina e Uruguai e outros lugares, com foco direcionado para a Região Sul do Brasil. O resultado das leituras apareceu na monografia Arqueologia descritiva das jazidas páleo-etnográficas da Região Sul do Brasil, concluída em 1961 e impressa no ano seguinte, em edição limitada, pela Faculdade Católica Sul-Riograndense de Pelotas, atual PUC de Pelotas (Brochado, 1962). Em 1960, ingressou no curso de História da Faculdade Católica de Pelotas, mantendo seu trabalho no DNPV e Os Ceramistas Tupiguarani - 

viajando 100 km diariamente para estudar. No início de 1962 foi para Porto Alegre, ingressando na Universidade do Rio Grande do Sul, atual Universidade Federal do Rio Grande do Sul, para continuar a graduação, e transferindo-se para o escritório do DNPV na capital gaúcha, onde trabalhou até 1967. A experiência de campo e o conhecimento da bibliografia, aliadas a uma eloquência erudita e descontraída, atraíram a atenção do jovem catedrático, então um arqueólogo amador em via de profissionalização, Pedro Inácio Schmitz, que promoveu Brochado, ainda graduando, a instrutor de ensino da cátedra de Etnologia. Após a formatura em 1963, foi contratado como auxiliar de ensino da cátedra de Etnologia, com dedicação parcial (12 horas/semanais) para lecionar Etnologia Indígena e Antropologia Cultural, incluindo temas de Arqueologia (Brochado, com. pessoal; Lewgoy, 1997:247; Teixeira, 1997:281). Em paralelo às aulas na URGS, devido ao baixo salário do cargo, Brochado acumulou outros empregos como docente e no DNPV. Entre 1966 e 1967 esteve vinculado ao Museu Estadual de Ciências Naturais do Rio Grande do Sul, para desenvolver pesquisas. Entre 1964 e 1968, lecionou no ensino secundário, no Colégio Estadual Júlio de Castilhos, a melhor escola pública de Porto Alegre na época. De 1965 a 1971 lecionou em faculdades privadas. Com a reforma do ensino em 1971 e com a expansão das vagas docentes, Brochado passou ter apenas um emprego, como professor assistente no regime de dedicação exclusiva no Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, para lecionar no curso de Ciências Sociais e, após 1985, no Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social, até aposentar-se em 1991 como professor adjunto. Em 1992, ingressou no corpo docente do Departamento de História da Pontíficia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), para lecionar Arqueologia, Pré-História Geral, da América e do Brasil na graduação e na pós-graduação em História, até retirar-se do magistério em 1999, após 36 anos de dedicação. Sua relação com a PUCRS começou antes de 1992, particularmente com o Centro de Estudos e Pesquisas Arqueológicas (CEPA), então coordenado pelo arqueólogo e irmão marista, prof. Guilherme Naue. Ali, sem vínculo empregatício, foi consultor e reponsável pelo trabalho de laboratório de projetos isolados de arqueologia por contrato de 1985 a 1991. Seu treinamento formal ocorreu nas décadas de 1960 e 1970, em diversos cursos, sob a orientação pesquisadores renomados e, na maioria das vezes, foi colega de vários personagens que se destacaram na Arqueologia Brasileira e Sul Americana. Em 1962 foi convidado por José Loureiro Fernandes, da Universidade do Paraná (atual UFPR), para o curso de extensão “Arqueologia Pré-Histórica”, ministrado por Annette Laming-Emperaire, seu primeiro treinamento científico em técnicas de campo e escavação, no sambaqui do Toral e no abrigo sob rocha Wobeto no Estado do Paraná (Meneses, 1970; Chmyz, 2000). A partir de 1965 (até 1970), recebeu outro treinamento de técnicas de campo e laboratório no Programa Nacional de Pesquisas Arqueológicas – PRONAPA, coordenado por Clifford Evans e Betty Meggers. Entre 1966 e 1969 participou de dois cursos de especialização, para formação complementar em Arqueologia e Antropologia, ministrados por Pedro I. Schmitz, na Faculdade de Filosofia de São Leopoldo, Rio Grande do Sul (atual UNISINOS), complementados por pesquisas de campo. Entre 1972 e 1973, cursou outra especialização, orientado por Eduardo Mário Cigliano, na Universidad Nacional de La Plata, na Argentina. Finalmente, entre 1977 e 1981, sob orientação de Donald W. Lathrap, fez o doutorado na University of Illinois at Urbana-Champaign, Estados Unidos, estando entre os primeiros brasileiros com o título de doutor em Arqueologia (Ph.D. in Anthropology). Sua carreira de pesquisador universitário teve progressão acelerada. Seus primeiros passos foram em 1962, sob a orientação de Schmitz, embora também um arqueólogo amador em busca de formação profissional, então autor de três artigos (Schmitz, 1957, 1958, 1959), que aquele momento tinha sua educação formal em Arqueologia restrita a um curso de curta duração na Universidad de Córdoba, Argentina. Juntos, entre 1964 e 1975, realizaram pesquisas

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em sítios isolados e projetos de maior envergadura em diversas áreas do Rio Grande do Sul e Goiás: 1) litoral norte do Rio Grande do Sul (1965-1967); 2) Rio Grande e Pelotas (1966); 3) médio rio Jacuí (1973); 4) sudoeste de Goiás (1974). Da colaboração resultaram apresentações em congressos e publicações (Brochado e Schmitz, 1976; Schmitz e Brochado 1971-1972, [1972] 1981a, 1981b, 1982; Schmitz, Brochado e Barth, 1973; Schmitz et al, 1967, 1970a, 1970b). Brochado recorda que em 1962-63, acompanhou Schmitz em atividades de campo no município de Novo Hamburgo. Brochado integrou, entre o final de 1965 e 1970 o PRONAPA, onde avançou como pesquisador, recebendo bolsa do CNPq, equipamentos, veículo e custeios anuais para executar projetos exploratórios no Rio Grande do Sul: 1) vale do rio Ijuí; 2) vale do médio Jacuí; 3) vale do rio Ibicuí Mirim; 4) banhado do Colégio, rio Camaquã. Entre 1973 e 1974, após retornar da Argentina, voltou ao médio rio Jacuí junto com Schmitz, parcialmente financiados pelo CNPq e IPHAN. Os resultados destas atividades também foram levados a congressos e publicados (Brochado, 1969a, 1969b, 1969c, 1971, 1972, 1973, 1974, 1975; Brochado et al, 1969; PRONAPA, 1970; Brochado, Lazzaroto e Steinmetz, 1969; Schmitz, Rogge e Arnt, 2000). A elaboração das publicações também resultou dos seus estudos complementares de formação acadêmica e dos contatos nos congressos, nos quais teve a oportunidade de trocar informações e debater diversos temas. Durante o PRONAPA participou de seminários nacionais e internacionais, com destaque para os ocorridos em Buenos Aires (1966), Belém (1968), Lima (1970) e Washington (1973), onde aprofundou a troca de informações e realizou estudos comparados dos materiais arqueológicos de diversas regiões do Brasil, da Argentina e do Uruguai, principalmente sobre cerâmica. Também colaborou na elaboração da “Terminologia arqueológica brasileira para a cerâmica” (Chmyz, 1976:120), que estabeleceu linguagem e conceitos padronizados para descrever cerâmicas arqueológicas no Brasil, sobretudo as indígenas, que são usados até hoje. Sua trajetória científica mudou a partir de 1973, após a conclusão da especialização na Argentina e o contato com as idéias de Donald Lathrap (figura 1), distanciando-se momentaneamente da prática de campo e voltando-se para a busca de uma nova interpretação para as questões que mais lhe interessavam, pois Brochado entendia que era preciso levantar novos problemas. Seu projeto seguinte foi bibliográfico e iniciou em 1974, com o objetivo de investigar a adaptação ecológica dos Guarani no Rio Grande do Sul e o consumo da mandioca na américa do Sul (Brochado, 1977, [1975] 1981c). Merece destaque seu livro Alimentação na floresta tropical, cuja análise sistemática sobre a agricultura, os equipamentos e os modos de consumir a mandioca no continente influenciou diversas interpretações sobre a subsistência dos povos agricultores estudados pelos arqueólogos brasileiros na década de 1980. Também interessava-se pela busca de novas explicações sobre a distribuição dos povos ceramistas no leste da América do Sul, sobretudo os Tupi (Brochado, 1975, 1980a). Em 1975, Brochado começou a elaborar o projeto de doutorado, iniciado em 1977, com uma bolsa da Organização dos Estados Americanos (OEA) e, posteriormente, da CAPES. Como veremos adiante, essa nova fase desencadeou mudanças importantes em Brochado, ampliando seus conhecimentos e renovando suas interpretações sobre os processos de criação cultural relacionados com a cerâmica e, secundariamente, com a agricultura no leste da América do Sul. Das novas pesquisas resultaram vários estudos relevantes de impacto teórico e empírico em nível internacional (Brochado, 1980b, 1984, 1989, 1991a, 1991b; Brochado e Lathrap, 1980). Seu mestrado foi concluíndo em 1980, com a dissertação Social ecology of the Marajoara Culture; e o doutorado foi concluído em 1984, com a tese An Ecological Model of the Spread of Pottery and Agriculture into Eastern South America.

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José Brochado (esquerda) e Donald Lathrap (c. 1980)

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De volta ao Brasil, Brochado iniciou uma pesquisa para ampliar o conhecimento sobre a cerâmica Guarani, que se estende até o presente. A primeira etapa dos estudos (1985-1989) foi desenvolvida em parceria com Fernando La Salvia, então vinculado à PUCRS, e incluiu alunos de graduação. Este trabalho resultou do projeto de arqueologia por contrato no alto rio Uruguai, coordenado por La Salvia e Guilherme Naue, onde Brochado atuou no Rio Grande do Sul e Santa Catarina (sob a coordenação de Marilandi Goulart, da UFSC). Encarregado do laboratório, Brochado procurava novos critérios para a análise morfológica das vasilhas, a partir de medidas encontradas em coleções de vasilhas inteiras (La Salvia e Brochado, 1986). O objetivo era verificar se havia padrões nas formas das vasilhas, abandonar o método Ford e a análise centrada apenas na descrição de antiplástico, de tratamento de superfície e outros aspectos mensuráveis no fragmento cerâmico. O principal resultado foi o livro Cerâmica Guarani (La Salvia e Brochado, 1989), com uma abordagem voltada para a compreensão da forma e dos aspectos funcionais das vasilhas dentro de uma perspectiva histórica e etnográfica, que trouxe avanços relevantes à compreensão dos contextos arqueológicos e culturais Guarani. Com a descoberta das informações taxonômicas e funcionais sobre as vasilhas Guarani no dicionário seiscentista de Antonio Ruiz de Montoya (1639), Brochado encontrou a chave para a compreensão definitiva da morfologia e dos padrões construtivos das vasilhas. Foi o passo decisivo para iniciar o estudo dos aspectos funcionais (até então ignorados) e de categorias êmicas (até então desconhecidas), dando continuidade às suas pesquisas sobre a alimentação e uso das vasilhas. O trabalho incluiu levantamento nas fontes históricas para buscar dados sobre os contextos em que as vasilhas eram produzidas e usadas, e deu espaço para o treinamento de estudantes que somaram aos projetos em desenvolvimento, com destaque para Gislene Monticelli, a aluna (depois colega e colaboradora) mais importante nessa etapa da vida acadêmica de Brochado. Esta pesquisa levou Brochado a identificar: 1) tipologia de formas; 2) classes funcionais de vasilhas; 3) padrões nas regras de construção; 4) proporções de tamanho em cada classe; 5) relações entre classes e tratamentos de superfície (Brochado, Monticelli e Neumann, 1990; Brochado e Monticelli, 1994; Monticelli, 1996). Em que pese o avanço desta abordagem, a maioria dos trabalhos publicados no Brasil após 1989, relacionados com a cerâmica Guarani, prosseguiram com o método Ford. Em 1986 Brochado continuou a orientar alunos de iniciação científica e especialização com bolsas do CNPq e FAPERGS, tanto para integrar partes de suas pesquisas com La Salvia, quanto para acolher interesses diversos dos alunos que lhe procuravam como orientador. Antes de 1986, especialmente entre 1967 e 1976, também orientou iniciação científica, mas apenas um tornou-se arqueólogo, Sérgio Leite, técnico e pesquisador do Museu Antropológico do Rio Grande do Sul. Dentre os que tiveram seus interesses pessoais contemplados, posso citar eu mesmo e vários outros, com destaque para aqueles que acabaram produzindo publicações em parceria com Brochado (Brochado e Noelli, 1992, 2002; Noelli e Brochado, 1998; Brochado e Lima, 1994). No meu caso, entre 1987-1990 (estágio voluntário e iniciação científica) e 1993-1994 (bolsa recém-mestre), sempre como bolsa da FAPERGS, fui orientado por Brochado em pesquisas sobre o contexto das atividades cotidianas dos Guarani, com objetivo de estudar a função das vasilhas cerâmicas e outros artefatos, a produção de alimentos, especialmente os agrícolas, aprofundando as temáticas pesquisadas por Brochado após 1975 (Noelli, 1992a, 1992b, 1993, 1994, 1995, 1996a, 1996b, 1997, 1998a, 1998b, 1998c, 1999a, 1999b, 2000a, 2000b, 2000c, 2001; Noelli e Landa, 1991, 1993, Noelli e Dias, 1995; Noelli e Soares, 1997a, 1997b, Montardo e Noelli, 1995; Landa e Noelli, 1997; Noelli e Silva, 1997; Noelli e Brochado, 1998; Noelli, Trindade e Simão, 2001; Noelli et al, 2002; Noelli et al, 2003).  De acordo com Brochado, foi Maria Cristina Mineiro Scatamacchia, do MAE-USP, quem gentilmente lhe apresentou aquelas informações históricas. Contudo, Brochado teve o mérito e a percepção ímpar de reconhecer naquela fonte os elementos etnográficos que levariam ao contexto cultural da elaboração e do uso das vasilhas, que passaram despercebidos por gerações de pesquisadores que leram Montoya. Os Ceramistas Tupiguarani - 13

Após ingressar no Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da UFRGS (1985) e no Curso de Mestrado e Doutorado em História Ibero-Americana da PUCRS (1992), Brochado orientou diversas dissertações (Côrrea, 1989; Monticelli, 1995; Montardo, 1995; Peixoto, 1995; Landa, 1995; Jacobus, 1996; Schaan, 1996; Assis, 1996; Soares, 1996; Reis, 1996; Barbosa, 1999). Não fui orientado por Brochado, porque ingressei no curso antes da PUCRS contratálo, mas discuti intensamente o trabalho com ele (Noelli, 1993). Vários alunos de mestrado e doutorado que não eram seus orientandos também recorreram intensamente aos seus conselhos. Com a sua aposentadoria involuntária, várias orientações de mestrado e doutorado em andamento foram transferidas para outros professores no final de 1999. Entre 1997 e 2001, principalmente em parceria com Gislene Monticelli, Brochado foi consultor de projetos de arqueologia por contrato no Rio Grande do Sul, produzindo relatórios e abrindo espaço para a iniciação científica. Em todos os projetos foi consultor ou responsável pelo laboratório, especialmente pela análise da cerâmica, onde desenvolveu, testou e aperfeiçou o seu método de análise (ver relatórios nas referências bibliográficas). Sua publicação mais recente foi um longo verbete sobre os povos Tupi, no volume 7 da Encyclopedia of Prehistory (Brochado e Noelli, 2002). Atualmente há dois trabalhos em fase de elaboração, um livro sobre a alimentação Guarani (Noelli e Brochado, m.s.) e uma atualização da metodologia de análise da cerâmica Guarani (Brochado, Monticelli e Noelli, m.s.). A pesquisa sobre os povos Tupi Conhecer a origem, os processos históricos e culturais do Homo sapiens e das suas populações específicas é objetivo comum da Arqueologia em todo o mundo. No Brasil a primeira pesquisa relevante desta temática foi na década de 1830, quando Karl von Martius formulou sua hipótese sobre a origem e a dispersão geográfica dos Tupi, atraindo gerações de estudiosos que ampliaram e revisaram a temática, com destaque para Karl von den Steinen, Ladislau Neto, Hermann von Ihering, Erland Nordenskjöld, Alfred Métraux, Aryon Rodrigues, Clifford Evans, Betty Meggers e Donald Lathrap. Brochado encerra a eminente lista, impondo-se como o divisor de águas para a compreensão da expansão Tupi (cf. história das pesquisas em Noelli, 1996a, 1998a). O resultado destes estudos mostra que a gênese cultural Tupi constitui-se de elementos Amazônicos, conservados na dispersão pelo leste da América do Sul. Considero que a história da pesquisa sobre a origem e a expansão Tupi divide-se em cinco partes até 1984. A primeira foi a percepção da unidade lingüística dos povos Tupi, descoberta por Martius ([1839] 1867), delineada por von den Steinen (1886) e sistematizada por Rivet ([1924] 1952) e Loukotka (1935, 1939, 1950). A segunda foi a abordagem etnológica da cultura material de Erland Nordenskjöld (1924, 1930) e, principalmente, Alfred Métraux (1928), que deram massa à estrutura reconhecida na 1ª etapa e introduziram a teoria do difusionismo e do históricoculturalismo para explicar as semelhanças entre os povos Tupi. A terceira foi a revisão lingüística de Aryon Rodrigues (1958, 1964, 1984-85), que demonstrou as relações genéticas entre as línguas da família Tupi-guarani e das demais famílias Tupi, que são aperfeiçoadas até o presente (Moore e Storto, 2002). A quarta, iniciada no final do século 19, é a incorporação das informações arqueológicas por Ladislau Neto e Herman von Ihering. Mais tarde foi introduzida a abordagem difusionista, como objetivo de marcar e datar os pontos geográficos das “rotas de migração”, estabelecer  Fui orientado (agosto de 1990 a fevereiro de 1993), como bolsista do CNPq, pela Profa. Dra. Paula Caleffi Giorgis, que me deu inteira liberdade para desenvolver a pesquisa de mestrado.  Brochado não incluiu estudos de organização social, embora tenha usado como inspiração as idéias de Branislava Susnik (1975) sobre os processos sociais e políticos na expansão dos Tupi-guarani. A inclusão destes estudos serão necessários em futuro próximo, pois a renovação de grande impacto liderada por Eduardo Viveiros de Castro e colegas (1986, 2002; Viveiros de Castro e Cunha, 1993; Fausto, 2001) é indispensável para introduzir a questão das diferenças entre os Tupi. Recentemente a obra de Susnik foi analisada em detalhe por Oliveira (2002). 14 - Os Ceramistas Tupiguarani

conjuntos regionais e horizontes arqueológicos, inicialmente liderada por Clifford Evans e Betty Meggers, extendendose até o presente sob a perspectiva da Tradição Tupiguarani (inclui dados anteriores a 1965). A quinta é a hipótese de Lathrap (1970a, 1970b) sobre a pressão demográfica como razão da saída da Amazônia, principal ponto de partida de Brochado. A tese de doutorado de Brochado é marcada por uma preocupação distinta daquela que moveu Meggers, Evans e seus discípulos brasileiros, sendo o trabalho em que reuniu/repensou/recolocou as explicações das cinco partes enumeradas acima, e criou uma proposição e uma abordagem distinta do modelo da Tradição Tupiguarani. Explicar esta distinção é fundamental neste livro, aproveitando a oportunidade para demarcar claramente as diferenças científicas. A Tradição Tupiguarani O princípio norteador da Tradição Tupiguarani não tem por objetivo estabelecer a continuidade entre contextos arqueológicos e culturais, seguindo o pressuposto “tratar a cultura de uma maneira artificialmente separada dos seres humanos”, enunciado por Meggers (1955:129). Com outra perspectiva e na direção oposta, Brochado (1984:1) começa sua tese de doutorado com a antítese de Meggers, escrevendo que “se não forem estabelecidas relações entre as manifestações arqueológicas e as populações que as produziram, o mais importante terá se perdido”. Brochado propôs seu modelo a partir da: 1) distribuição geográfica histórica dos falantes Tupi; 2) relação genética entre as línguas do tronco Tupi; 3) distribuição geográfica das cerâmicas arqueológicas da Tradição Policroma Amazônica (TPA); 4) distribuição geográfica e temporal das datações das cerâmicas da TPA. Distanciou-se da postura adotada pelos idealizadores do PRONAPA na medida em que não restringiu seus horizontes a uma análise dos dados arqueológicos propositalmente dissociados dos contextos culturais. Agindo ao contrário, em busca da associação, o foco de Brochado era procurar estabelecer a continuidade entre o contexto arqueológico e o contexto cultural. Seguindo a proposta histórico-cultural de Willey e Phillips (1958), a estratégia operacional do PRONAPA foi pragmática em 1965, para contornar a insipiência dos pesquisadores brasileiros e o escasso conhecimento arqueológico do Brasil. O PRONAPA formou um campo científico (Funari, 1994; Roosevelt, 1995) e implantou novas categorias explicativas, livres da arraigada tradição de partir de aspectos etnográficos para abordar os registros arqueológicos. Reduzir o escopo da metodologia e adotar uma abordagem exploratória sumária, foi a alternativa de Evans e Meggers para evitar complicações e cumprir o objetivo de revelar rotas de difusão da cerâmica em 5 anos (1965-1970). O pragmatismo mostrou-se acertado, permitindo rápida cobertura de vasta região, localizando e pesquisando mais de 1.500 sítios sob único critério. O resultado da exploração foi positivo, com o reconhecimento de conjuntos de registros arqueológicos chamados de tradição e das articulações espaço-temporais que revelaram a existência de distintos horizontes arqueológicos. Simpatizantes prontamente adotaram o método e ampliaram a área explorada, numa prática empregada até hoje no Brasil e países sul-americanos. O uso do conceito de tradição foi estratégico e trazia a metodologia da vanguarda da Arqueologia norte-americana, pouco antes de ser suplantada pela Nova Arqueologia (que levou cerca de 15 anos para chegar ao Brasil). A meta era revelar a extensão geográfica, a profundidade temporal e o desenvolvimento cultural das tradições, configurando um período que na história da Arqueologia Americana ficou conhecido como “histórico-classificatório” (Willey e Sabloff, 1980). O embasamento teórico do PRONAPA foi o difusionism o europeu, com maior visibilidade que o neoevolucionismo norte-americano, do qual apropriou-se apenas de conceitos chaves (horizonte, tradição e fase) para orientar as pesquisas, deixando de lado a ênfase na classificação evolutiva das sociedades. Para o PRONAPA, tradição era um “grupo de elementos ou técnicas, com persistências temporal” (Terminologia, 1966, 1976:145), uma adaptação simplificada do conceito original de Willey e Phillips (1958:37): “tradição arqueológica Os Ceramistas Tupiguarani - 15

é uma continuidade temporal, representada por configurações continuadas de tecnologias individuais ou outros sistemas de formas relacionadas”. Tradição reúne unidades menores, locais ou regionais, chamadas de fase. Para o PRONAPA, fase é “qualquer complexo de cerâmica, lítico, padrões de habitação, etc., relacionado no tempo e no espaço, num ou mais sítios” (Terminologia, 1966, 1976:131). Também foi uma simplificação de Willey e Phillips (1958:22), para quem fase configurava como: “uma unidade arqueológica, que possui traços suficientemente característicos para distinguí-la de todas as outras unidades concebidas do mesmo modo, quer da mesma, quer de outras culturas ou civilização (ou tradições), limitada espacialmente à ordem de grandeza de uma localidade ou região cronologicamente limitada a um espaço de tempo relativamente breve”. Para rotular os registros arqueológicos dos Tupi, mas evitando qualquer relação com a etnologia e a lingüística (Brochado et al, 1969e:10), o Programa criou em 1969 o conceito “tradição Tupiguarani”, sem o hífen que caracteriza o conceito etnológico Tupi-guarani tradicionalmente usado no meio americanista desde sua proposição em 1886 por Karl von den Steinen (Noelli, 1996a:12). “Tradição Tupiguarani” foi uma ferramenta de fácil aplicação, especialmente projetada para classificar fragmentos cerâmicos, sendo um ícone do PRONAPA: “Tradição Tupiguarani. Uma tradição cultural caracterizada principalmente por cerâmica policrômica (vermelho e ou preto sobre engobo branco e ou vermelho), corrugada e escovada, por enterramentos secundários em urnas, machados de pedra polida, e, pelo uso de tembetás”. (Terminologia, 1969:8, 1976:146) Considerando a variação na freqüência dos registros arqueológicos das fases, “baseada primariamente sobre evidência cerâmica” (Brochado et al, 1969e:20), em 1969 a tradição Tupiguarani foi dividida em 3 subtradições: pintada, corrugada e escovada. Por exemplo: “Subtradição Pintada. Uma variedade da Tradição Tupiguarani, caracterizada, no seu conjunto cerâmico, pela predominância da decoração pintada sobre as decorações corrugada e escovada. (Terminologia, 1969:7)”. As demais subtradições tiveram definição idêntica, considerando o predomínio do corrugado ou do escovado. Estas classificações e a descrição da cerâmica ainda são praticadas sob a forma original da Terminologia arqueológica brasileira para a cerâmica, mas, eventualmente, como se pode ver em alguns capítulos deste livro, são acrescentadas novas definições e propostas de análise. Está claro que a função da tradição Tupiguarani é descrever, datar, posicionar no espaço e classificar certos registros arqueológicos, caracterizando-se como uma clássica abordagem exploratória (Neves, 1988). Seu maior mérito, no espírito histórico-cultural, foi contribuir na definição das rotas de difusão da cerâmica e identificar os tipos de ambientes ocupados (Evans, 1967; Evans e Meggers, 1965; Meggers e Evans, 1973, 1978), sem o propósito de resgatar os processos históricos e sociológicos das sociedades. A importância desta abordagem foi demonstrar que no imenso território, “apesar das fases componentes desta tradição [Tupiguarani] divergirem na presença, freqüência relativa e combinação de traços [da cerâmica], todas mostram a mesma cultura geral” (Brochado et al, 1969e:18). Tão importante quanto a unificação metodológica, foi a comparação sistemática dos registros arqueológicos de regiões diferentes, incluindo outros países da América do Sul onde Evans, Meggers e colaboradores trabalhavam (Meggers, 1985, 1992). A larga escala da área estudada e a comparação revelaram que a extensão geográfica da Tradição Tupiguarani era maior que a imaginada antes de 1965 (Outes, 1917; Lothrop, 1932; Howard, 1947, 1948; Watson, 1947; Willey, 1949; Menghín, 1957; Silva e Meggers, 1963; Meggers, 1963; Evans e Meggers, 1965). 16 - Os Ceramistas Tupiguarani

Os dados rotulados como Tradição Tupiguarani, embora necessitem de relativização e calibrações diversas, sempre servirão como ponto de partida para pesquisas com outras abordagens. Mesmo que a abordagem do PRONAPA não possibilite com toda a plenitude uma interpretação processual, pós-processual ou de outra vertente mais recente, constitui um legado que não pode ser ignorado e que serve como referência empírica sobre os conjuntos de registros arqueológicos de ampla distribuição geográfica. Creio que é antropologicamente correto ter à disposição mapas de sítios Tupiguarani, ao invés de apenas registros sem rótulo que não se pode analisar e interpretar, a exemplo dos chamados sítios cerâmicos ou lito-cerâmicos, como se constata atualmente em muitas publicações, dissertações, teses, relatórios e no banco de dados do IPHAN, a maioria da década de 1990, que impedem de se estabelecer a relação, mesmo que provisória, de continuidade entre contexto arqueológico e cultural. Em que pese o fato de Brochado (1984:29) ter passado a opor-se a metologia do PRONAPA, ele sempre defendeu a necessidade de aproveitar os dados gerados sob a interpretação pronapiana. É preciso lembrar que antes de rever seus conceitos e posições em meados da década de 1970, Brochado seguiu o Programa de modo diligente e exemplar entre 1966 e 1973, sendo um dos membros mais destacados cientificamente. Tanto, que há pouco tempo foi considerado por Pedro I. Schmitz, como o autor da “melhor síntese dos resultados” do PRONAPA (Silva et al., 2002:293). Esta síntese foi publicada em duas partes, originalmente integrantes do trabalho de conclusão da especialização de La Plata. Uma parte é o artigo Migraciones que difundieron la Tradición Tupiguarani (Brochado, 1973b), a primeira publicação do Programa a cumprir a meta de definir as rotas de difusão da cerâmica Tupiguarani. Ela mostra a distribuição geográfica da Tradição Tupiguarani e demarca rotas da difusão cerâmica (figura 2), numa versão utilizada até hoje por alguns arqueólogos que trabalham com os conceitos de subtradição pintada, corrugada e escovada. A outra parte está no artigo Desarrollo de la tradición cerámica Tupiguarani (A.D. 500-1800) (Brochado 1973c, 1981a), que cumpriu com diligência o outro objetivo pronapiano, de compreender a escolha dos ambientes pela Tradição Tupiguarani. Apesar de ter feito a melhor síntese do PRONAPA e ter dedicado sua tese a Clifford Evans, a quem devota grande admiração, os novos rumos intelectuais de Brochado depois de 1973 resultaram em diferenças que afastaram os pronapianos. O fato dele ter ido para o doutorado com Donald Lathrap acrescentou ingredientes políticos às diferenças científicas, pois Lathrap era o grande rival de Meggers e Evans, cujos duelos acadêmicos foram notórios na década de 1970 e contribuíram para polarizar grupos na comunidade americanista. A mudança de Brochado surgiu da necessidade de alcançar uma teoria mais ampla, que considerasse elementos antropológicos, históricos, sociológicos e biológicos, indo além da abordagem exploratória limitada à localização, descrição, classificação de fragmentos e da reprodução das teorias do determinismo ecológico. Na direção dos avanços da Arqueologia Internacional, Brochado queria conhecer os processos históricos e culturais das sociedades e suas estratégias econômicas e ecológicas, de uma forma que o projeto de Meggers e Evans não pretendeu alcançar. Mudança de rumo: a influência de Donald Lathrap Brochado teve em Donald Lathrap o incentivo para investigar e desenvolver modelos de continuidade entre os contextos arqueológicos e culturais dos Tupi, depois extendidos para outras culturas. Ele conheceu as idéias de Lathrap em 1973, no livro The Upper Amazon, achando exemplo e inspiração para mergulhar definitivamente no rico e controverso ambiente americanista. Distanciando-se da bonomia e da empiria pronapiana, Brochado foi às fontes primárias da arqueologia, da etnologia, da história e da lingüística histórica comparada, crendo que o debate sobre as diferenças fariam a Arqueologia brasileira avançar (com. pes. Brochado). A partir daqui, em razão do espaço, centrarei a narrativa em duas das linhas de pesquisa de Brochado, sobre Os Ceramistas Tupiguarani - 17

a origem e os processos de dispersão geográfica dos Tupi e a relação entre a forma e a funcionalidade da cerâmica Guarani e Tupinambá. A origem dos Tupi Foram as teorias de Lathrap sobre a origem da cerâmica Tupi que atraíram Brochado, por representarem uma perspectiva oposta em vários aspectos às teorias de Meggers (cf. relato de Carneiro, 1995, sobre as críticas à Meggers nas décadas de 1960 e 1970). Lathrap propunha a Amazônia central como “berço de socidades complexas e foco da difusão cultural” (Viveiros de Castro, 2002:329). O pilar da teoria de Lathrap é a hipótese de que o aumento contínuo da pressão demográfica no centro da Amazônia resultou num permanente e centrífugo exôdo populacional em várias direções, atingindo áreas distantes e dispersando artefatos e práticas agrícolas criados no interior da Amazônia (figura 3). A inspiração difusionista é notória nesta teoria, especialmente por considerar o uso do rio Amazonas e dos seus afluentes e várzeas como caminho principal da difusão da cerâmica e como fornecedor do suporte alimentício que possibilitou o crescimento demográfico.

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Modelo das expansões, conforme Lathrap (1970)

Lathrap buscava uma alternativa humanista ao modelo padrão do determinismo ecológico de Julian Steward, que na versão de Meggers (1954, 1971) propunha as limitações ambientais como motor das migrações (posteriormente ela agregou os efeitos climáticos [seca] sobre a vegetação como motor da dispersão Tupi-guarani: Meggers, 1975, 1977, 1979, 1994; Meggers e Evans, 1973, 1978). Enquanto Lathrap acreditava que as relações sociais e a criatividade humana para adaptar-se ao ambiente geraram a diferenciação cultural, Meggers apostava que a diferenciação resultou do empobrecimento cultural imposto pela floresta tropical. Meggers desenvolveu o modelo padrão e ainda defende a origem extra-continental e andina da cultura e da complexidade social (Meggers, 2000), considerando que o ingresso na floresta tropical simplificou gradativamente as características andinas até atingir níveis mais baixos, tal como a hipótese degeneracionista de Martius em meados do século 19 (Noelli, 1996a, 1998a). A interpretação de Lathrap sobre as seqüências de desenvolvimento da cerâmica sul americana e a sua busca por modelos de continuidade entre contexto arqueológico e cultural, foram motivos adicionais que atraíram Brochado, que se tornou um parceiro importante de Lathrap na pesquisa sobre a criação e difusão da cerâmica na América do Sul. Em última instância, ambos procuravam a trajetória do desenvolvimento tecnólogico e artístico, da “sucessiva criação, separação, evolução e ramificação de estilos e tradições cerâmicas” (Brochado, 1989:69). Este objetivo foi cumprido Os Ceramistas Tupiguarani - 19

em parceira na síntese Amazonia (Brochado e Lathrap, 1980), monografia ainda inédita de 131 laudas datilografadas, onde apresentam uma interpretação da referida trajetória. Por outro lado, na tese, Brochado desenvolveu o modelo de continuidade entre o contexto arqueológico e cultural Tupi sugerido por Lathrap (1968, 1970a, 1970b), demonstrando os elementos necessários para relacionar a Tradição Tupiguarani com as populações Guarani e Tupinambá, e consolidar novas rotas de expansão. A colaboração entre Brochado e Lathrap também privilegiou dois aspectos que não integravam a perspectiva do PRONAPA. Primeiro, a verificação da continuidade entre o contexto arqueológico e o cultural, especialmente fora da Amazônia. Segundo, a criação de uma explicação arqueológica mais completa para a origem e a expansão Tupi, orientada por modelos lingüísticos, considerados a melhor alternativa face às lacunas da Arqueologia brasileira. Ao contrário da maioria dos arqueólogos brasileiros, que raramente utilizaram dados lingüísticos em suas pesquisas, Brochado atribui grande peso a estas informações, sempre que possível considerando-os simétricos aos registros arqueológicos, fortemente inspirado por Lathrap. É importante comentar as idéias de Lathrap que influenciaram Brochado, que não foi um simples reprodutor, mas um parceiro que contribuiu de modo relevante para desenvolvê-las. A análise comparada das evidências cerâmicas arqueológicas da América do Sul conhecidas até 1969, especialmente na região amazônica, e das informações botânicas relativas à agricultura, levou Lathrap à especulação de que a Tradição Policroma Amazônica (TPA) foi criada pelos proto-Tupi, também responsáveis pela sua difusão a partir do médio Amazonas (que então chamou de Tupi-guarani, baseado em Aryon Rodrigues, 1958). Considerando a Amazônia Central a “terra natal” da TPA, Lathrap sugeriu a hipótese de que ali as datações eram mais antigas que outras regiões da América do Sul (Lathrap, 1970a). Por outro lado, procurando as relações entre as tradições e estilos cerâmicos, Lathrap sugeriu que a TPA seria uma derivação/transformação recente de um ramo da Tradição Barrancóide (TB ou Tradição Incisa e Modelada), representada pela subtradição Guarita, com a substituição gradual dos modelados e das incisões em linha larga por pintura policroma, mantendo inicialmente os motivos decorativos típicos da TB tardia e as suas formas mais simples. Depois a pintura aparece progressivamente diferenciada nos campos decorativos, retendo a característica dos motivos em voluta (Lathrap, 1970a:156; Brochado, 1984:319-320; Brochado e Lathrap, 1980). Posteriormente, desenvolvendo estas hipóteses, Brochado sugeriu que as variações da TPA ocorreram junto com as derivações genéticas que resultaram nas diferentes línguas do tronco Tupi. O modelo comparativo de Lathrap estabeleceu parâmetros para a referida seqüência “criação, separação, evolução e ramificação de estilos e tradições cerâmicas”, partindo do pressuposto da origem unilinear da cerâmica sul americana. Lathrap baseou-se em exemplos de outros continentes, considerando necessário equalizar o modelo arqueológico com o lingüístico para ampliar a compreensão das seqüências que corresponderiam às mudanças culturais. Com esta solução Lathrap explicou a seqüência que resultou na diferenciação da TB para a TPA e, posteriormente, da TPA para a subtradição Guarita, sugerindo que as mudanças arqueológicas teriam paralelo com a deriva genética da língua ancestral que teria gerado o proto-Aruák e o proto-Tupi (Lathrap supôs que os proto-Aruák criaram a TB). Amparouse em Noble (1965), sobre a origem comum proto-Aruák e proto-Tupi, e em Rodrigues (1958), sobre as derivações genéticas da família Tupi-guarani, concluindo ser “provável que o proto-aruák-tupi-guarani sejam aparentados, e é certo que eram pelo menos muito afins, em época imediatamente anterior à sua dispersão” (Lathrap, 1970a:76).  Apesar de ainda não ter sido publicada, a versão datilografada de Amazonia sempre circulou e foi muito citada pelos especialistas daquela região.  Quinze anos após a publicação de The Upper Amazon e um ano após Brochado defender sua tese, Rodrigues (1985) invalidou a hipótese de Noble e demonstrou que o proto-Karib seria a proto-língua geneticamente mais próximo do proto-Tupi. De acordo com Rodrigues, o proto-Aruak não apresenta parentesco genético com o proto-Tupi. 20 - Os Ceramistas Tupiguarani

A influência dos lingüístas é notória, mas existe um gap entre os centros de origem Tupi de Lathrap e de Rodrigues. O último sugeriu o sudoeste da Amazônia, atual Estado de Rondônia, baseado no princípio da lingüística histórica de que a área de concentração do maior número de famílias lingüísticas filiadas a um tronco lingüístico tem mais chance de ser a região de origem. Lathrap, imaginando que o centro da Amazônia reunia as condições mais favoráveis para a criação tecnológica, para as descobertas botânicas e que seria um caminho natural de difusão, levantou a hipótese de que a região da foz do rio Madeira seria a “terra natal dos Tupi”. Todavia, a hipótese de Rodrigues continua atual e, talvez, a mais correta, pois agora entende-se como mais provável que as famílias lingüísticas de fora de Rondônia saíram, ao invés das situadas dentro serem de outra região (Moore e Storto, 2002:80). Em que pese a necessidade de testes, ajustes e pesquisas, esta hipótese possui mais consistência que a hipótese original de Martius ([1839] 1867) sobre a origem Tupi no Paraguai, também pensado como a região por onde os ancestrais dos Tupi vieram dos Andes. Contudo, o Paraguai e a Bolívia não apresentam as seqüências arqueológicas com os atributos que compõem a cerâmica Tupi, nem as línguas da família Tupi-guarani de origem às demais línguas Tupi (Rodrigues, 1964, 1984-85, 2000). É importante ressaltar que o recurso à lingüística histórica para pensar a origem Tupi foi a alternativa encontrada por Lathrap para superar as lacunas arqueológicas na Amazônia central (que ainda persistem, apesar dos lentos avanços naquela imensidão geográfica). Independentemente da margem de erro, o papel da hipótese lingüística é apontar balizas consistentes na ausência dos dados arqueológicos, necessárias para calibrar uma aproximação “mais correta” da área de origem. A hipótese que estas evidências sugerem, indica como muito provável que a origem foi em algum lugar do quadrante sudoeste da Amazônia meridional. Ao sugerir o médio Amazonas e a foz do Madeira, Lathrap tinha consciência do caráter provisório da sua hipótese, passível de teste e correção (Brochado, com. pessoal, 1987). As primeiras pesquisas de alto nível no médio Amazonas (Hackenberger, Neves e Petersen, 1998), mostram que a seqüência pensada por Lathrap e Brochado é mais recente (ca. 900 D.C.) e possui cortes abruptos ao invés do desenvolvimento gradual TB → TPA → Guarita → Miracangüera. É provável que a seqüência cerâmica seja diferente da originalmente proposta, estando em aberto a relação proto-Tupi → TPA e a seqüência que resultou nas variações da TPA, cujos elos remotos de ligação com as seqüências que lhe deram origem ainda são precariamente conhecidos. É provável que a origem seja em outra parte da Amazônia, mas onde? A hipótese de que a TPA foi concebida pelos protoTupi ainda não foi testada/comprovada e carece de base empírica, em que pese as cerâmicas Guarani e Tupinambá terem elementos decorativos que são evidência concreta da sua ligação com a TPA. Contudo, resta esperar por uma pesquisa de comparação estatística dos atributos das cerâmicas policromas do leste da América do Sul, para verificar a(s) seqüência(s) de desenvolvimento e dispersão geográfica e aperfeiçoar o modelo proposto por Brochado e Lathrap na monografia Amazonia. A questão da antigüidade da origem do proto-Tupi não foi resolvida arqueologicamente por Lathrap e Brochado, mas eles apontaram um caminho consistente para refletir sobre o tema. A falta de informações da Amazônia central reduziu a precisão deste aspecto da pesquisa deles, levando-os a usar as sugestões dos lingüístas como uma alternativa às tradicionais especulações deterministas despidas de dados. Eles passaram a usar como referência a seqüência cronológica, os processos de formação das línguas como indicador do surgimentos das populações e as reconstruções de vocabulários das proto-línguas que eram índice positivo da presença de traços culturais, co mo a cerâmica, as plantas e outros itens da cultura material. Rodrigues (1964) sugeriu que a origem do proto-Tupi foi 5.000 A.P. e que, um dos seus desdobramentos originou o proto-Tupi-Guarani ao redor de 2.500 A.P. Estas datas sugeriram a Lathrap e Brochado que as seqüências de desenvolvimento da cerâmica seriam mais antigas que as poucas datações conhecidas para a TPA no médio Amazonas no final da década de 1970. Em todo caso, eles restringiram-se a sugerir que a origem ocorreu a partir de 500 A.C. Os Ceramistas Tupiguarani - 21

(Lathrap, 1970a:156; Brochado, 1984:319-320, 1989:73), correspondendo aos 2.500 A.P. estabelecidos por Rodrigues. Contudo, as datações obtidas fora da Amazônia, mais os avanços da lingüística e da etnobiologia mostram que a origem dos Tupi é tão antiga como sugeriu Rodrigues, bem como a cerâmica e a agricultura os acompanhou desde o princípio. Por outro lado, Meggers e Evans (1973:57) e aqueles que lhes seguiram, defenderam a posição de que os falantes do proto-Tupi não eram agricultores, sugerindo que a antigüidade da separação proposta por Rodrigues começou “quando os falantes eram ainda pré-agricultores e ainda não fabricavam cerâmica”. Contudo, a manutenção desta posição é uma generalização que não considera o contexto de todos os dados e hipóteses conhecidos sobre os Tupi até o presente. As descobertas posteriores a 1973 confirmaram a teoria de Lathrap e Brochado e debelaram a teoria de Meggers e Evans. As datações recuaram para origem da cerâmica na Amazônia para 8.000 A.P. (Roosevelt et al, 1992). Para a agricultura existem datações próximas de 10.000 A.P. (Piperno e Pearshall, 1998; Stothert et al., 2003), a exemplo do caeté, das abóboras, da cabaça, da araruta e da batata-doce. A mandioca e o amendoim já alcançam 8.400 A.P.; as favas chegam a 5.000 A.P. e o milho deverá alcançar 5.300 A.P. na Amazônia (com várias datas a partir de 7.000 A.P. na costa do Equador). Estas decobertas tornam acertadas as reconstruções de Rodrigues (1988), tanto para as plantas de agricultura quanto para a cerâmica (o vocábulo panela atesta que a cerâmica integra a tralha doméstica desde o protoTupi). Uma amostragem parcial demonstra que a taxonomia e a função das vasilhas são constantes em várias línguas Tupi (Tabela 1): Língua

Região

Panela

Talha

Prato

Copo

Guarani antigo Chiriguano Tupi antigo (Tupinambá) Língua geral amazônica Tembé Kayabí Asuriní, Xingu Parintintin Apiaká Ka’apor Wirafed

Brasil Meridional Bolívia Litoral brasileiro, Maranhão até São Paulo Médio-baixo Amazonas

Yapepó Yapepó Nhaêpepô

Cambuchi Cambuchi Kamuci

Ñaé, ñaembé Ñae Nhaen

Cambuchi caguabã Cagua Caguaba

Yapepu

Camusî

Nhaen, nhaembé

Maranhão Xingu Xingu Tapajós Tapajós Maranhão Madeira

Zapêpo Iapepó Japepaí Nhapepo Nhepepo

Kamuti

Kamambuí

Nhaetingy’a

Y’gwav

Kamuxi Yapepoí

Tabela 1: Taxonomia/função da cerâmica Tupi histórica (séculos XVI a XX)  O conjunto de todos os dados conhecidos pela Arqueologia e por outras disciplinas sugerem que a origem dos Tupi e dos Tupi-Guarani pode ser ainda mais antiga que a hipótese de Aryon Rodrigues. 22 - Os Ceramistas Tupiguarani

Os dados desta tabela, por mais incompleta que se encontre, mostram padrões inquívocos de semelhança que reforçam reconstruções como a de Aryon Rodrigues e os princípios da lingüística histórica, indicando que este fenômeno explica-se pela antigüidade da presença da cerâmica no proto-Tupi, ao invés da difusão tardia. E se as vasilhas já existiam com estas funções, como é provável, a agricultura já estava presente, uma vez que as vasilhas foram projetadas para cumprir funções específicas, especialmente a talha e o copo usados para o consumo do cauim. A desconfiança comumente demonstrada pelos arqueólogos diante destes dados deveria ser arrrefecida, pois eles são um ponto de partida muito mais consistente que as tradicionais concepções brasileira arraigadas apenas em idéias despidas de fundamentação empírica. Outra frente de trabalho reforça a teoria de Rodrigues e abre um novo leque de possibilidades. A ecologia histórica dos povos Tupi-guarani, na linha de pesquisa dos “aspectos culturalmente construídos da ecologia” realizada por William Balée (1995, 2000; Balée e Moore, 1991, 1999), com densos estudos comparados, revela a persistência e a manutenção do conhecimento etnobotânico tradicional desde, pelo menos, o proto-Tupi-guarani. As datações arqueológicas de fora da Amazônia contribuem para reforçar as teorias de Lathrap e Rodrigues, indicando que dentro da Amazônia serão encontradas datas mais antigas. Deve-se pensar que “dentro da Amazônia” não significa somente o centro e, deixando de lado os determinismos, tampouco apenas junto às várzeas e grandes rios. Outras áreas e ambientes precisam ser analisados no futuro. Em todo caso, a posição das evidências arqueológicas, lingüísticas e históricas, predominantemente encontradas ao sul do rio Amazonas, tornam esta imensa área a principal candidata onde se localizará um dia a “terra natal” dos proto-Tupi. O PRONAPA e outros projetos revelaram um denso mapa arqueológico Tupi fora da Amazônia, nas Regiões Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste e Sul do Brasil, incluindo o nordeste da Argentina, Paraguai Oriental, partes do Uruguai e Peru Oriental. Estas regiões incluem os extremos da expansão Tupi e diversas datações confirmam que antigüidade do proto-Tupi e do proto Tupi-guarani é um fato, não apenas uma hipótese. O conjunto de datas (Brochado, 1984; Buarque, 1995; Martín, 1997; Etchevarne, 2000; Oliveira e Viana, 2000; Morais, 2000; Noelli, 2000; Pärssinen, 2003), mostra que áreas próximas dos extremos da expansão estavam ocupadas por falantes das línguas Tupi-guarani (Guarani e Tupinambá) há pelo menos 1.000 A.P. (p. ex.: Piauí, Rio de Janeiro, médio rio Uruguai, médio rio Paraná) e, em alguns pontos, há mais de 1.500 A.P. (Rio de Janeiro, Paraná, Rio Grande do Sul, Departamento de Chuquisaca, Bolívia). Este horizonte mostra que a hipótese dos 2.500 anos de antigüidade do proto-Tupi-guarani são corretos, mas indica que podem ser mais antigos. O mesmo princípio serve à antigüidade do proto-Tupi, estimada em 5.000 anos. Se os Tupi levaram a cerâmica policroma aos extremos da sua expansão há 1.500 anos, também é muito provável que ela possui datas mais antigas quando se aproxima da possível zona de origem, não sendo descabidos os 4 ou 5.000 anos. Então, além da necessidade de se obter mais datações, outro problema está completamente em aberto, que é a velocidade da expansão dos Tupi. A expansão dos Tupi A explicação da distribução geográfica dos povos Tupi é baseada, a partir de Martius, no princípio de que eles se irradiaram a partir de uma região de origem comum. Desde então, o grande desafio foi descobrir as rotas dessa irradição, explicadas como fenômenos de migração, difusão e expansão (Cf história das pesquisas In: Noelli, 1996a, 1998a, 1999b). A primeira contribuição de Brochado nesta temática foi a síntese Migraciones que difundieron la Tradición Tupiguarani (Brochado, 1973b), uma complexa análise descritiva que cumpriu com excelência o objetivo do PRONAPA de conhecer as “rotas migratórias” da cerâmica dos Tupi. A importância deste trabalho e dos resultados do PRONAPA Os Ceramistas Tupiguarani - 23

para história da pesquisa sobre os Tupi, reside no fato de que pela primeira vez se apresentou uma base arqueológica, incluindo a cronologia com 14C, para um campo onde havia predominado a informação histórica e etnológica. A base do trabalho foi a elaboração do mapa da distribuição dos sítios com as fases Tupiguarani, interpretado a partir do método de seriação (Ford, 1962; Meggers e Evans, 1970). Com a análise da distribuição de 52 datas por 14C e outras por termoluminescência, foi possível estabelecer o sentido das “rotas migratórias”. Além disso, Brochado incluiu uma análise comparada do tratamento da superfície das cerâmicas, para descrever com maior precisão a “evolução da tradição ceramista Tupiguarani”. Brochado (1973b:10) seguiu Métraux (1927, 1928), considerando que ele “descreveu rotas muito semelhantes às que propomos aqui partindo dos dados arqueológicos” (figura 3). Em parte, isto explica o uso do Paraguai como a região onde partiram as migrações: “Uma das migrações dirigiu-se primeiramente ao leste, até a costa atlântica, de onde uma parte subiu para o norte até a desembocadura do Amazonas, remontando este rio e seus tributários, e outra desceu até o sul pela costa. Outra rota havia descido pelo Paraná até o rio da Prata. (Brochado, 1973b:10)” Embora não cite no artigo, Brochado também seguiu o modelo de Meggers (1963), em que a rota de difusão da cerâmica policroma tinha quase o mesmo sentido sugerido por Métraux, saindo do Paraguai em direção ao litoral sulbrasileiro, de onde ia para o norte. A figura 4 ilustra o sentido da rota de difusão proposto por Meggers, e representa o modelo clássico da difusão das cerâmicas a partir dos Andes. Vale a pena destacar dois aspectos do modelo. Primeiro, que ele foi concebido sem considerar relações com outras tradições ceramistas e que sua interpretação estava de acordo com a concepção arraigada da origem andina e paraguaia dos Tupi. Segundo, que a sua interpretação estava implicitamente alinhada com as idéias degeneracionistas de que a cultura entrava em decadência e ficava gradativamente mais simples dentro da floresta tropical. A interpretação de uma contínua transição dos tratamentos Pintado → Corrugado → Escovado, de acordo com a clássica teoria de Julian Steward (via Betty Meggers), imaginava que ocorreu um processo de simplificação de cerâmicas originalmente sofisticadas (pintadas) que foram introduzidas no Paraguai através dos Andes bolivianos. Considerando a cronologia das fases que constituíam as subtradições Pintada, Corrugada e Escovada, Brochado sugeriu que houve uma involução dentro da Tradição Tupiguarani (de fato, uso o conceito “evolução”). A subtradição Pintada seria a mais antiga, seguida da Corrugada e da Escovada, que se propagariam por “ondas migratórias”. As datações mais antigas estavam no sul, e as mais recentes ao norte, concordando com o modelo original de Meggers e Métraux. Além disso, o resultado da seriação também concordava com as datas (Brochado, 1973b:14-15). As datas levaram Brochado a interpretar que houveram “distintas velocidades de dispersão e distintos momentos de partida” desde “um centro comum”. As datas lhe permitiram interpretar que o intervalo entre as partidas não foi muito grande e, para explicar a dispersão por uma área tão vasta, propor que a “velocidade de propagação teve de ser muito alta”. Na subtradição Pintada o intervalo seria “mais lento”, de 300 e 400 anos, enquanto que nas demais subtradições o intervalo seria menor, com cerca de 200 anos, “sugerindo uma migração explosiva”. É interessante mostrar que Brochado (1973b:15) procurou, ao contrário dos demais pronapianos, explicar que; “a transmissão de uma tradição ceramista através deste espaço imenso, sem a intervenção de portadores humanos, isto é, sem a hipótese de uma migração, implicaria forçozamente na existência, ao longo de todo o percorrido, de povos ainda sem cerâmica ou, com uma cerâmica rudimentar, mas num nível tecnológico suficente para recebê-la e que estivessem dispostos a aceitá-la imediatamente e a transmití-la sem demora ao grupos seguintes, sempre copiando-a o mais fielmente possível. Não há nenhum fundamento para sustentar esta hipótese, posto que o ímpeto migratório dos grupos de fala Tupi-Guarani [...]” é bastante conhecido”. 24 - Os Ceramistas Tupiguarani

Figura 3: Mapa das “migrações Tupiguarani” Os Ceramistas Tupiguarani - 25

Esta citação resume uma idéia que seria desenvolvida mais tarde por Brochado, quando repensou os modelos difusionistas tradicionais e distanciou-se do ideário do PRONAPA. Com base nas fontes históricas e na densidade regional de sítios arqueológicos, Brochado (1989:80) sugeriu que o processo de colonização dos Tupi seria como um “enxameamento”, onde os movimentos “não eram exatamente migrações, no sentido de que as regiões de onde saíram não ficaram vazias, pelo contrário, as populações continuavam crescendo até o ponto de obrigar a saída de novas vagas humanas”. Estava se baseando no princípio de que o sistema social dos Tupi, especialmente dos povos Tupiguarani, “só eram efetivos para manter a coesão até um certo tamanho da população, o que facilitava a saída de famílias extensas, as quais se afastavam para formar novos grupos locais”. O conhecimento sistemático e aprofundado das fontes coloniais abriu um novo horizonte para Brochado, que percebeu a extensão geográfica e demográfica dos Guarani e Tupinambá ao tempo da chegada dos europeus. De forma que pôde superar o modelo padrão do determinismo ecológico, que considerava apenas a existência de populações isoladas e pequenas vivendo nos ambientes ecologicamente limitados da floresta tropical. Com a percepção do padrão Tupi-guarani de colonização e de grande densidades espalhadas Figura 4: Rotas de difusão da cerâmica policroma, segundo em redes regionais, distingüindo-se da hipótese da Meggers (1963) migração, Brochado foi um dos pioneiros da revisão da História Indígena que floresceu na década de 1990 e que hoje está em franco desenvolvimento em todo o continente. Estas idéias propostas na tese de doutorado contribuíram decisivamente para a revisão do modelo de 1973. A redefinição da região de origem foi fundamental para o estabelecimento das rotas de expansão. Vimos que a proposição da Amazônia como “terra natal” foi baseada em elementos arqueológicos e lingüísticos consistentes, ao passo que a proposição do Paraguai não possuía nenhum dado empiricamente demonstrável, salvo a opinião de Martius e daqueles que lhe seguiram. As subtradições também foram descartadas por Brochado, que demonstrou que os tratamentos de superfície da cerâmica Guarani são, de fato, relativos a funcionalidade ou, eventualmente, devidos a ausência de matériasprimas (La Salvia e Brochado, 1989; Brochado, Monticelli e Neuman, 1990; Brochado e Monticelli, 1996; Brochado, comunicação pessoal, 1990). A principal justificativa que motivou Brochado a desenvolver uma nova abordagem, deve-se ao fato de que o método Ford está restrito apenas a uma avaliação serializada da ausência ou da presença dos tratamentos de superfície e do antiplástico, sem ter interesse pela relação que estes tratamentos tem com a forma e com a função das vasilhas e sem ter o objetivo de investigar o contexto arqueológico. 26 - Os Ceramistas Tupiguarani

A consideração da funcionalidade e do contexto cultural, como veremos adiante, levaram Brochado à percepção de que diferentes tratamentos de superfície da cerâmica eram variantes do estilo tecnológico e de funcionalidades diferenciadas, longe de resultarem de processos de evolução [ou involução] no âmbito da cultura Tupi como sugeriam os modelos gerais de seriação de Ford (1962) e Meggers e Evans (1970). As conclusões de Brochado resultaram de 20 anos de estudos sobre a função das vasilhas cerâmicas, associados ao uso das plantas de agricultura e aos seus contextos culturais, enquanto que a maioria dos que trabalhavam com a Tradição Tupiguarani passaram este mesmo tempo apenas reproduzindo o método Ford. Tal como demonstram os lingüístas e os estudiosos da ecologia histórica no âmbito da família Tupi-guarani, Brochado sugere que se deve testar a hipótese de que as vasilhas possuem o mesmo estilo tecnológico e servem às mesmas funções desde pelo menos o proto-Tupi-guarani. Também sugere, detalhando e aperfeiçoando as idéias de Lathrap, que o desenvolvimento tecnológico da TPA teria ocorrido no proto-Tupi ou, mesmo antes, em razão da necessidade de criar os artefatos necessários para processar alimentos oriundos da agricultura e de definir o cardápio padrão dos Tupi (Brochado, comunicação pessoal, 1990). A proposição do novo modelo das rotas de expansão do Tupi tem como ponto de partida o sudoeste da Amazônia (Brochado, 1984). O mapa de distribuição dos sítios arqueológicos estava montado desde 1973, mas foi revisto e atualizado pelas novas perspectivas e com os dados disponíveis até 1983. O estabelecimento da continuidade entre os contextos arqueológicos e culturais, relacionando e sobrepondo criteriosamente mapas arqueológicos e históricos, resultou em duas direções principais a partir da região de origem amazônica (figura 5). Uma foi relativa aos falantes da língua Guarani, situados no Brasil meridional, Estados de Mato Grosso do Sul, oeste de São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul; no Paraguai oriental, no nordeste da Argentina e em partes do Uruguai. A falta de pesquisas impôs uma lacuna considerável, relativa ao Mato Grosso, Goiás e Rondônia. O caminho principal da rota de expansão em direção ao sul teria começo na bacia do rio Madeira, descendo pela bacia do rio Paraguai, passando para a bacia do Paraná no Mato Grosso do Sul, de onde iria para a Região do Sul do Brasil, Argentina e Uruguai. A outra foi relativa ao falantes da língua Tupinambá, situados ao longo da costa atlântica e das bacias dos rios que desaguam no oceano, sobretudo nas regiões Nordeste e Sudeste do Brasil. A grande lacuna situa-se na região do baixo Amazonas, e da sua foz até o litoral piauiense. Em todo caso, Brochado considerou as evidências registradas na bacia do Xingu, no interior do Piauí, de outros estados nordestinos e de Minas Gerais. Brochado não realizou, por falta de dados, a análise das rotas de expansão dos povos falantes das demais línguas do tronco Tupi, num total de 58, deixando para o futuro a integralização e revisão do modelo da expansão dos Tupi. Finalmente, uma outra contribuição relevante de Brochado (1984, 1989) e que precisa ser testada, é a noção de redes regionais. Tanto os Guarani quanto os Tupinambá, como se constata nas fontes coloniais, formavam redes regionais interligando os assentamentos em larga escala geográfica. A vizinhança destas redes ligava, nos casos Guarani e Tupinambá, lugares tão longínquos quanto a foz do Rio da Prata, o litoral do Rio Grande do Sul, o litoral do Rio Grande do Sul, o interior de Minas Gerais, de Goiás e São Paulo (Noelli, 2004). É muito provável que o fluxo de pessoas, coisas e idéias no interior das redes foi a justificativa principal das semelhanças dos registros arqueológicos, do sistema tecnológico da cerâmica e, conforme os cronistas e burocratas coloniais, das sociedades, da língua e da cultura. As cerâmicas Guarani e Tupinambá A contribuição de Brochado neste tema é relevante. Ele abandonou o método Ford e os pressupostos de Meggers e Evans, valorizando a forma, os tratamentos de superfície, a funcionalidade, os contextos arqueológico e cultural, as informações históricas, etnográficas e lingüísticas disponíveis. Inicialmente pesquisou as técnicas e utensílios usados Os Ceramistas Tupiguarani - 27

Figura 5: Rotas de expansão dos povos Tupi, conforme Brochado (1984)

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no processamento da mandioca, em termos continentais (Brochado, 1977). Depois pesquisou nas fontes históricas a função das vasilhas entre os Tupinambá (Brochado, [1980] 1991). Por fim, realizou uma série de estudos nas fontes históricas sobre os Guarani, percebendo com mais clareza e detalhe, em razão das semelhanças com os Tupinambá, um padrão cultural comum. A similaridade levou-o à pesquisa sobre as vasilhas inteiras e à constatação da existência de um sistema tecnológico que ditava o padrão das formas (La Salvia e Brochado, 1986, 1989; Brochado, Monticelli e Neuman, 1990; Brochado e Monticelli, 1996; Brochado e Noelli, 1998). A metodologia criada por Brochado apareceu no livro Cerâmica Guarani, escrito em parceria com Fernando La Salvia em 1989. O PRONAPA, como vimos acima, havia concluído que a cerâmica Tupi demonstrava ser confeccionada sob “uma cultura geral”. Mas limitou-se à descrição do tratamento de superfície e à seriação das porcentagens encontradas nas amostras sem ter interesse no contexto cultural e nas vasilhas inteiras, salvo alguns pesquisadores que fizeram uma classificação prévia de tipos de formas inteiras, como Chmyz (1977) e Schmitz (p. ex.: Schmitz et al., 1990). No caso Guarani, Brochado conseguiu revelar um complexo conjunto de normas que orientavam a elaboração das vasilhas e demonstrar que havia classes específicas para funções determinadas. Tive a oportunidade de mostrar (Noelli, 2000a) que estas classes, ao menos em termos taxonômicos-funcionais, estão ordenadas sob um padrão comum para as línguas da família Tupi-guarani (cf. acima a tabela 1). Brochado abriu uma nova perspectiva para compreender e explicar o fato de a cerâmica Guarani possuir um estilo tecnológico padronizado sob regras rigorosas, reproduzidas ao longo de quase 2 mil anos em uma área tão vasta. Sua perspectiva é similar àquela que encontramos em Dobres y Hoffman (1994:211), que entendem que tecnologia significa não “apenas o meio material de fazer artefatos, mas é um fenômeno cultural dinâmico devido à ação social, à visão de mundo e à reprodução social”. Brochado e La Salvia (1989:165), sugeriram que o estudo da cerâmica “deve preocupar-se com o contexto cultural. Embora partindo de fragmentos, não devemos encará-los somente como tal, mas como documentos explícitos de um tipo de comportamento em função de diversas variáveis”. Além disso, outra mensagem de “Cerâmica Guarani” é pioneira na arqueologia brasileira. É a idéia da contínua transmissão de informações e comunicação entre as pessoas como fator que explica a semelhança e a padronização da cerâmica, tal como sugeriram Schiffer e Skibo (1987:595), como “um corpus de artefatos, comportamentos e conhecimentos transmitidos de geração a geração, e utilizados nos processos de transformação e utilização do mundo material”. Esta noção é de fundamental importância para a compreensão do estilo tecnológico da cerâmica e para abrir o caminho para o emprego de dados lingüísticos e históricos nas analogias em relação ao contexto arqueológico. Neste aspecto, Brochado pensava como Reedy e Reedy (1994:304), que o estilo tecnológico é “a maneira pelo qual os indivíduos fazem o seu trabalho, incluindo as escolhas feitas por eles no que refere aos materiais e técnicas de produção”. Também seria bom recordar, com Hegmon (1992), que estilo refere-se a um determinado modo de fazer algo ou alguma coisa, e que este modo de fazer encerra escolhas determinadas entre várias alternativas. A compreensão dos padrões que dão forma às vasilhas Guarani foi percebida através da forma dos segmentos, observando-se da base para a borda, que compõem suas paredes. Segundo Brochado e La Salvia (1989:116), “Tem-se a impressão que as ceramistas Guarani concebiam as vasilhas como um empilhamento de zonas ou segmentos horizontais bem demarcados. A partir dessa identificação é que desenvolvemos um sistema para a descrição das vasilhas, baseados na divisão de segmentos ideais” Dessa forma eles estabeleceram um critério mensurável, baseado na geometria, afastando-se das simplificações usuais (e ainda vigentes) que levam a reducionismo e erro significativo na reconstrução das formas a partir de fragmentos de borda. Foram medidas cerca de 150 vasilhas inteiras e milhares de fragmentos, permitindo a conclusão de que as tentativas tradicionais de descrever a cerâmica comparando-a diretamente com sólidos geométricos não era a mais apropriada, exceto as tigelas em forma de calota de esfera. Brochado e La Salvia (1989:166), concluíram que “não Os Ceramistas Tupiguarani - 29

existem vasilhas cuja forma se aproxime sequer suficientemente de esferas, cones, elipsóides, etc., para justificar a comparação”. Para superar esta deficiência propuseram um método para a descrição e análise dos “segmentos de formas das vasilhas Guarani” (Brochado e La Salvia, 1989:117-119), devendo-se: “considerar que a produção Guarani está dentro de uma possibilidade de arranjos de segmentos conhecidos e, uma vez identificados e isolados, poderemos, talvez, estabelecer a ‘a lei da produção das vasilhas’ : o que era possível e o que não era permitido (grifo meu)” Considerando as formas das vasilhas e a taxonomia Guarani, Brochado reconheceu 6 classes principais: 1) yapepó (panela); 2) cambuchi (cántaro ou talha); 3) ñaetá (caçarola); 4) ñaé (prato); 5) cambuchí caguabã (copo ou taça); 6) ñamopyú (torrador). A forma destas classes possui variações segundo uma ordem de combinações de segmentos (“unidades padrão de formas definidas que sobrepostas, darão o contorno da vasilha”, Cf. La Salvia e Brochado, 1989:116). Para a nomenclatura, Brochado e La Salvia seguiram Sheppard (1956), definindo três classes estruturais com onze divisões de formas: 1. não restringidas, as quais podem apresentar contornos: 1) simples; 2) compostos; 3) infletidos; 4) complexos; 2. restringidas: 5) simples; e dependentes, com contorno: 6) infletido; 7) composto; 8) complexo; 3. restringidas independentes com contorno: 9) infletido; 10) composto; 11) complexo. Os pratos, copos/taças, caçarolas e torradores são mais freqüentes na classe 1 e as panelas e talhas pertencem as classes 2 e 3. A base das vasilhas é principalmente cônica, arredondada ou plana, ocorrendo em todas as classes. O tratamento da superfície é dividido em cinco técnicas principais, que às vezes estão combinadas: 1) alisado; 2) corrugado; 3) ungulado; 4) pintado; 5) escovado. O alisado é mais comum nas vasilhas que não vão diretamente ao fogo, como os pratos, copos e talhas. O corrugado é mais comum nas vasilhas que vão ao fogo, como as panelas, caçarolas e torradores, mas também ocorrem nas talhas e pratos. O ungulado é mais comum nas vasilhas de tamanho menor, especialmente nos pratos (eventualmente estão misturadas aos outros tipos de tratamentos). O pintado (preto ou marrom e vermelho sobre engobo branco) é comum nas vasilhas que não vão ao fogo, como as talhas e os copos, usadas para servir e tomar as bebidas fermentadas alcoólicas. O escovado é usado como o corrugado. Ainda se conhece a incisão, os estampados, os acanalados, os nodulados e os roletados. É provável que, algumas vezes, a falta de matérias corantes para o pintado obrigou à opção por outros tratamentos de superfície, como em certas amostras de talhas corrugadas, alisadas ou escovadas. As classes possuem tamanhos distintos, preliminarmente divididos em grandes, médios e pequenos, mas feitos sempre com uma regra de proporção para a forma do corpo. As panelas e talhas podem ter até um metro de altura e conter até cerca de 100 litros, sendo as maiores vasilhas Guarani. As caçarolas também chegam a diâmetros de 60/70 cm por 25 cm de altura, e contêm até 10/12 litros. Uma panela pode conter 10 ou 100 litros, mas a sua forma alterase apenas na proporção maior ou menor (Brochado, Neumann e Monticelli, 1990). Parece que o tamanho da vasilha varia com o contexto e com seu dono: 1) a panela maior se usava para fazer o cozido da família extensa; a menor para a família nuclear; 2) o prato pequeno seria individual e o grande, coletivo; 3) o copo pequeno seria individual e

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o grande, um aparato de prestígio pessoal (os Guarani valorizavam o grande bebedor, que às vezes poderia ser chefe, líder religioso, conselheiro, guerreiro, etc). Ainda não são conhecidas todas as funções das vasilhas e nem se completou o sistema de classificação, que necesita de novos estudos estatísticos e complemento da análise química dos restos orgánicos encontrados nos fragmentos e nas vasilhas inteiras. Os tamanhos médios, as miniaturas, as formas intermediárias e os tipos fora do comum ainda não possuem classificações e funções seguramente definidas, que aguardam a continuidade das pesquisas. Considerações finais A vida acadêmica de Brochado teve três fases importantes. Primeiro temos a transição da prática amadora para a formação acadêmica. O amador autodidata que elaborou uma monografia supreendente, se comparada aos textos brasileiros publicados no começo da década de 1960, que mudou de cidade em busca de uma formação melhor e acaba aceito pelo jovem catedrático e passa a lecionar na melhor instituição da sua região. A seguir a possibilidade de ir mais adiante, com a oferta de uma posição como pesquisador de um grande projeto liderado por dois eminentes arqueólogos, na melhor oportunidade de pesquisa da época. Depois, mudando novamente o rumo, passando a pesquisar e militar no campo do “adversário”, em um momento em que a polarização marcava a vida acadêmica e política no Brasil. As mudanças intelectuais, totalmente gravadas nas suas publicações, são a demonstração da mais genuína vocação científica, da contínua busca pelo aperfeiçoamento, da marca indelével de um pesquisador de ponta. O seu maior feito foi transcender o contexto paroquial que dominava o meio acadêmico brasileiro nas décadas de 70 e 80, deixando fluir para o texto uma série de hipóteses e teorias à frente do seu tempo, à margem das perspectivas dominantes. Brochado teve o mérito de rever e reordenar o que já existia, de propor um novo quadro orgânico para os processos que resultaram nas sociedades ceramistas do leste da América do Sul, e de introduzir uma perspectiva que procurava os meios para estabelecer a continuidade entre os contextos arqueológicos e culturais. Mesmo que novas pesquisas modifiquem profundamente suas proposições, com requer o avanço da Ciência, Brochado entra para a História da Arqueologia como uma personagem que elaborou uma sólida teoria do processo de ocupação do leste da América do Sul pelas sociedades ceramistas, e que contribuiu decisivamente para o desenvolvimento de métodos para a compreensão dos estilos tecnológicos e da funcionalidade das cerâmicas Guarani e Tupinambá. Estes dois feitos, dentre os vários temas que ele pesquisou e obteve resultados em sua longa carreira, deixariam qualquer arqueólogo profissional com o sentimento do dever cumprido. Agradecimentos: A André Prous e Tania Andrade Lima pelo convite para redigir a biografia, pela leitura atenta e sugestões. Gislene Monticelli, Fabíola Andréa Silva, Jorge Eremites Oliveira, Lúcio Menezes Ferreira, Pedro Paulo Funari, José Henrique Rollo Gonçalves, Ana Paula Simão, Amílcar D’ávila de Mello, Eurides Roque de Oliveira e Jane Aparecida Trindade, contribuíram generosamente para o aperfeiçoamento do texto. O conteúdo, evidentemente, é de inteira responsabilidade do autor.

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A TRADIÇÃO TUPIGUARANI NA AMAZÔNIA Edithe Pereira Maura Imazio da Silveira Maria Christina Leal F. Rodrigues Cíntia Jalles de C. de Araújo Costa Christiane Lopes Machado A presença da Tradição Tupiguarani na Amazônia foi identificada inicialmente a partir do estudo de coleções arqueológicas provenientes de algumas regiões no sul e sudeste do Pará e confirmada, posteriormente, através de pesquisas sistemáticas na região de Carajás. As coleções que possibilitaram a identificação da Tradição Tupiguarani na Amazônia foram formadas por pesquisadores durante viagens cujos objetivos não estavam relacionados diretamente com a investigação arqueológica. Naturalmente, esta forma de coleta implicou em algumas restrições no plano interpretativo, mas permitiu, por outro lado, a primeira identificação desta tradição ceramista na Amazônia. A coleção formada por Protásio Frikel em 1963 corresponde a 3.749 fragmentos cerâmicos e alguns artefatos líticos coletados em diversos locais com terra preta na região do alto Itacaiúnas, na região sudeste do Pará. Esse material foi analisado por Figueiredo (1965) que identificou três tipos cerâmicos - Itacaiúnas Simples, Caiteté Simples e Itacaiúnas Corrugado. Estes tipos compartilhavam o mesmo tempero - areia fina misturada com fragmentos de rocha (quartzo e feldespato) - e a mesma técnica de manufatura, o enroscamento (acordelamento). A variação dos tipos simples estava relacionada com a espessura da cerâmica. Entre os artefatos líticos que compõe esta coleção destaca-se lâmina de machado, raspador e quebra-coco. Figueiredo (id.ibid.) apoiado nos relatos de cronistas, em informações históricas e do próprio Protásio Frikel sobre os ocupantes da região, considerou que os fabricantes da cerâmica analisada eram possivelmente de origem Tupi e que ocuparam a região do alto Itacaiúnas após 1500 em conseqüência da expansão portuguesa. Ele considerou ainda que os locais onde a cerâmica foi coletada deveriam ser áreas de moradia cuja ocupação se deu, possivelmente, uma única vez. Simões (1972), baseado no estudo de Figueiredo (1965) inclui no seu Índice das Fases Arqueológicas Brasileiras a Fase Itacaiúnas como pertencente a Tradição ceramista Tupiguarani. Em 1969, uma outra coleção de artefatos arqueológicos foi formada por uma equipe de geólogos do Instituto de Desenvolvimento Econômico e Social do Pará (IDESP) durante uma viagem para pesquisar carvão mineral na área do rio Fresco, no sul do Pará. Esta coleção, proveniente do sítio PA-RF-1: Mangueiras é composta por 250 fragmentos cerâmicos, um pequeno vaso, doze artefatos líticos e algumas lascas em rocha e foi analisada por Simões, Corrêa e Machado (1973) que classificaram o material como pertencente a fase Carapanã. Segundo estes autores, esta fase possui uma série de semelhanças técnicas e decorativas com a fase Itacaiúnas pertencente à tradição ceramista Tupiguarani. No entanto, essa fase apresenta também, embora em menor quantidade, algumas características da tradição Incisa Ponteada.  Museu Paraense Emílio Goeldi (MCT-MPEG) e Bolsista do CNPq.  Museu Paraense Emílio Goeldi (MCT-MPEG)  Arqueóloga  Museu de Astronomia e Ciências Afins (MCT-MAST)  Rhea Estudos e Projetos Os Ceramistas Tupiguarani - 39

Simões et al. (id. ibid) mencionam ainda três coleções arqueológicas cujas características apresentam afinidades com a tradição Tupiguarani. Duas foram formadas em 1959 por Moreira Netto e são provenientes da região de São Félix do Xingu e do rio Fresco, enquanto a terceira é resultado de uma coleta de superfície no Castanhal do Cumaru, no rio Pau d’Arco (afluente do rio Araguaia pela margem esquerda). Esta última, segundo Simões et al. (id. Ibid), apresenta características que lhe permitem vinculá-la sem dúvida à tradição Tupiguarani. O mesmo não ocorrendo com as fases Itacaiúnas e Carapanã que apresentam características da tradição Tupiguarani, mas também algumas características da tradição Incisa Ponteada. As primeiras pesquisas sistemáticas na região sudeste do Pará – onde a presença da tradição Tupiguarani já era conhecida – foram realizadas inicialmente entre os anos de 1976-1978 no âmbito do Programa Nacional de Pesquisas Arqueológicas na Bacia Amazônica (PRONAPABA) e a partir de 1977 o apoio veio por parte das Centrais Elétricas do Norte (ELETRONORTE) visto que os trabalhos foram direcionados para o salvamento de sítios arqueológicos localizados na área de inundação da UHE-Tucuruí (Araújo Costa, 1983; Simões e Araújo Costa, 1987). Os resultados desta pesquisa foram divulgados inicialmente através da dissertação de mestrado de Araújo Costa (1983) sobre o salvamento arqueológico na área da UHE-Tucuruí, no baixo rio Tocantins. Em 1986, Simões publicou os primeiros resultados da pesquisa realizada na bacia do rio Itacaiúnas (afluente do rio Tocantins pela margem esquerda) no âmbito do projeto de salvamento de sítios arqueológicos ameaçados de destruição pelas atividades de mineração da Companhia Vale do Rio Doce na região de Carajás, no sudeste do Pará. De acordo com Araújo Costa (id. ibid), a cerâmica da região do baixo Tocantins apresenta certas características que são típicas tanto da tradição Tupiguarani como das tradições amazônicas, particularmente, a Incisa Ponteada e a Policroma. No entanto, a autora salienta que o pequeno número de atributos amazônicos reconhecidos no material analisado dificultou identificar a qual dessas tradições o material do baixo Tocantins estaria filiado. A identificação do material relacionado à tradição Tupiguarani parece ser mais clara e seu enquadramento na subtradição Pintada decorre, segundo a autora, pelo predomínio, entre os fragmentos decorados, da pintura (vermelha e pintura policroma), da datação em torno de 1.000 A.D. e da baixa freqüência de decoração corrugada. Em 1987, Simões e Araújo Costa publicam novos resultados da pesquisa no baixo rio Tocantins desta vez para o trecho entre as cidades de Marabá e Nazaré dos Patos. Foram trinta e sete sítios pesquisados que evidenciaram um material cerâmico cujas características permitiram agrupá-lo em três fases, Tauari, Tucuruí e Tauá. Desta feita, o material aparece relacionado as tradições Incisa Ponteada e Tupiguarani. Nesta área, os sítios localizados mais ao sul apresentam cerâmica com alguns traços da tradição Tupiguarani enquanto aqueles, situados mais ao norte, a cerâmica apresenta alguns traços típicos da tradição Incisa Ponteada (ibid.). Segundo os autores, esta situação poderia refletir “a possibilidade de ter servido esta área geográfica como um centro aculturativo ou de miscigenação de influências e/ou técnicas ceramistas oriundas de leste, sul e oeste do Brasil”. A pesquisa realizada por Mário Simões e Fernanda Araújo Costa região de Tucuruí, foi sintetizada e apresentada com muitas ilustrações em 1992 por Eurico Miller (Eletronorte, 1992). Na bacia do rio Itacaiúnas as primeiras pesquisas arqueológicas sistemáticas tiveram início em 1983 através do Projeto Carajás/Arqueologia. Entre os anos de 1983 e 1986 foram cadastrados 38 sítios cerâmicos no baixo curso dos rios Parauapebas e Itacaiúnas que, de acordo com Simões (1986), correspondem a locais de moradia. Estes sítios estão situados próximos aos rios em áreas cuja terra preta apresentava espessura média 30 cm o que sugeria uma certa permanência no local. As características consideradas para a cerâmica desses sítios – notadamente o antiplástico e a decoração – apresentam traços comuns à fase Itacaiúnas que, por sua vez, apresenta uma série de características comuns com a Tradição Tupiguarani. De acordo com Simões (id. Ibid.) as datações obtidas para os sítios do rio Itacaiúnas podem

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ser agrupadas em 3 períodos: o mais antigo corresponde as datações de A.D. 280±80 e A.D. 390±85, o intermediário apresenta 4 datações que vão de A D. 1025±55 a A.D. 1170±60; o mais recente com datações de A.D. 1420±55 e A.D. 1510±60. No final da década de 1980 a pesquisa arqueológica na região de Carajás se estende para além da área ribeirinha, onde a tradição Tupiguarani está presente - e alcança as encostas das Serras de Carajás em cujas grutas se preservaram vestígios da presença humana de mais de 8.000 B.P. (Lopes, 1988; Silveira, 1994; Magalhães, 1994, 1998). A região de Carajás passa a ser conhecida então por apresentar dois períodos culturais distintos da ocupação humana pré-histórica, um pré-cerâmico e outro cerâmico. Estudos preliminares realizados em quatro sítios arqueológicos na região da Serra das Andorinhas no baixo rio Araguaia permitiram caracterizar a cerâmica encontrada como pertencente à tradição Tupiguarani (Kern et al., 1992). Foram analisados 169 fragmentos cerâmicos dos quais a maioria – 128 – não apresenta decoração, esta só foi identificada em 41 fragmentos onde se observa o corrugado, o vermelho, o digitado, o entalhado e o pintado (preto, branco e vermelho). O antiplástico utilizado foi fundamentalmente a areia (com grãos de quartzo leitoso e hialino) apresentando também lamínulas de mica (muscovita). Em 2000, Pereira (2001) realiza prospecção arqueológica na região de Conceição do Araguaia no sul do Pará e identifica oito sítios cerâmicos. Foi coletada uma pequena amostra do material arqueológico encontrado na superfície de cada sítio e totalizando 65 fragmentos cerâmicos. A maioria do material corresponde à cerâmica simples e os poucos fragmentos decorados apresentam corrugado, ponteado, escovado e inciso ponteado. Apesar da pequena amostra coletada foi possível identificar a presença de traços típicos da cerâmica Tupiguarani nesta região. A partir de 2000, uma série de empreendimentos minerários começa a ser desenvolvido na região sudeste do Pará e, em conseqüência, levantamentos e salvamentos de sítios arqueológicos são realizados para fins de licenciamento ambiental conforme estabelecido por lei. Estes estudos têm permitido ampliar o número de sítios arqueológicos conhecidos na região bem como trazer a luz novas informações sobre a ocupação pré-histórica desta parte da Amazônia marcada, como visto nos parágrafos anteriores, pela presença da Tradição ceramista Tupiguarani (Figura 1). Neste contexto, o Museu Paraense Emílio Goeldi é responsável atualmente pelas pesquisas arqueológicas desenvolvidas em duas áreas localizadas no sudeste do Pará – a Serra do Sossego e a Floresta Nacional Tapirapé-Aquiri, que integram a região de Carajás (Figura 2). Estas pesquisas ainda estão em andamento, mas seus primeiros resultados oferecem novas informações sobre a presença da Tradição Tupiguarani na Amazônia. A presença da Tradição Tupiguarani na região da Serra do Sossego, Canaã dos Carajás (PA) Os estudos arqueológicos na região da Serra do Sossego tiveram início em 2000 através do levantamento do potencial arqueológico da região que seria afetada pela exploração de minério de cobre (Magalhães, 2001). O Projeto Sossego – nome pelo qual este empreendimento ficou conhecido – está localizado no município de Canaã dos Carajás, no sudeste do Pará. As jazidas minerais do Projeto Sossego estão inseridas no contexto da Província Mineral de Carajás que compõe, de acordo com a classificação dos Grandes Domínios Paisagísticos Brasileiros proposta por Ab’Saber (1977), o Domínio das Terras Baixas Florestadas da Amazônia, nas proximidades da faixa de transição para o Domínio dos Cerrados (Brandt, 2000). Na área de influência do empreendimento, os principais cursos d’água são os rio Parauapebas (afluente pela margem direita do rio Itacaiúnas) e seus afluentes Sossego e Sequeirinho. Os Ceramistas Tupiguarani - 41

Na área de influência direta do Projeto Sossego foram identificados seis sítios arqueológicos e sete ocorrências. A maioria dos sítios documentados revelou um alto grau de interferência humana recente (cultivo, gado, garimpo) o que acabou por limitar a obtenção de determinadas informações, como por exemplo, a estratigrafia dos sítios. Nestes sítios, cuja conservação estava comprometida, o material arqueológico coletado – notadamente fragmentos cerâmicos, totalizou uma amostra de mais de seis mil fragmentos cuja análise permitiu identificar as características da cerâmica arqueológica daquela área. A maioria dos fragmentos cerâmicos coletados nestes sítios não possui decoração (92,3%). Os fragmentos decorados correspondem a 7,6% do total (513 fragmentos) e neles as decorações predominantes são o vermelho (48%), o corrugado (32%) e o inciso (8.2%). Outras decorações como aplicado, raspado, acanalado, ungulado e associação destas decorações com vermelho ocorrem em quantidade pouco expressiva. Os antiplásticos predominantes são a areia e a rocha triturada, outros antiplásticos foram registrados, mas em quantidade pouco significativa (Pereira, 2003). A partir da reconstituição das bordas foi possível identificar nos sítios da região a presença de tigelas, pratos, vasos, panelas e alguidares. No sítio PA-AT-274: Estrada foram identificados diversos vasilhames conforme se observa na figura 3. Deste sítio também são provenientes uma lâmina de machado polida e um vasilhame cujos fragmentos permitiram a sua restauração (figura 4). Dentre os sítios identificados na área de influência direta do Projeto Sossego apenas um se destaca por estar parcialmente em ótimo estado de conservação. Trata-se do sítio PA-AT-247: Domingos, cuja extremidade sul foi atingida pela construção de uma estrada destinada a ligar a área do empreendimento à sede do município de Canaã dos Carajás. A pesquisa de salvamento teve início em 2003 e ainda está em andamento sendo, portanto preliminares os resultados aqui apresentados. O sítio PA-AT-247: Domingos está localizado margem direita do rio Parauapebas em área plana e suavemente elevada em relação ao rio, com terra preta abrangendo uma extensão de cerca de 400 x 300 metros. A área conservada em boas condições e na qual a pesquisa vem sendo desenvolvida corresponde a parte centro-norte do sítio e que ocupa cerca de 50% da área total. Nesta área observou-se a existência de várias manchas de terra escura sem que fosse possível delimitá-las com precisão. Nestas manchas a camada de terra preta não ultrapassa 35 cm de espessura e o material arqueológico (cerâmico e lítico) encontra-se normalmente associado a ela. A exceção fica por conta dos vasilhames cerâmicos inteiros que se encontram, via de regra, enterrados sempre abaixo da camada de terra preta. O solo misturado, claramente observado no perfil das escavações (figura 5) evidencia a remoção intencional de terra para que o objeto pudesse ser enterrado abaixo da área de ocupação do sítio. Até o momento foram encontrados treze vasilhames inteiros ou semi-inteiros. Dentre eles apenas um, até o momento, corresponde comprovadamente a urna funerária. Nela foram encontrados restos esqueletais de um indivíduo com idade aproximada de três anos. A peça apresentava uma tampa com diâmetro menor que a urna parecendo ter sido reaproveitada para este fim. Uma pequena lâmina de machado polida foi encontrada ao lado da ossada configurando acompanhamento funerário (Pereira, 2003a). Até o momento já foram encontradas in situ quatro lâminas de machado inteiras e duas fragmentadas. Dois almofarizes foram encontrados, um estava na superfície quebrado ao meio enquanto o outro foi evidenciado durantes as escavações. Associado a esse último estava uma mão-de-pilão e uma grande quantidade de sementes.  Considera-se Ocorrência os locais onde o material arqueológico ocorre em pouca quantidade e sem evidência clara de contexto arqueológico.  Parte destes vasilhames foi encontrada a partir do levantamento geofísico com magnetômetro realizado na área do sítio sob a responsabilidade do Dr. José Gouvêa Luiz do Departamento de Geofísica da Universidade Federal do Pará.  A análise dos restos esqueletais foi feita pela Dra. Sheila Maria Ferraz Mendonça de Souza da FIOCRUZ/Escola nacional de Saúde Pública. 42 - Os Ceramistas Tupiguarani

A identificação de algumas características recorrentes no sítio PA-AT-247: Domingos configuram-se como bastante significativas para o entendimento da ocupação do espaço intra-sítio. Destacam-se entre elas as marcas de esteio, as concentrações de fragmentos cerâmicos situadas normalmente próximas aos limites do sítio (possíveis lixeiras) e as áreas onde, apesar da ausência de terra preta e de fragmentos cerâmicos, encontram-se concentrações de vasilhames inteiros enterrados (Figura 6). Até o momento, as datações obtidas através de termoluminescência para o sítio Domingos permitem situá-lo entre 1.300±130 e 530± 55 A.P. As características da cerâmica arqueológica da região da Serra do Sossego, particularmente nos aspectos relacionadas à sua manufatura (acordelamento), antiplástico (areia e rocha triturada), decoração (corrugado, ungulado, vermelho, inciso) e forma dos vasilhames (Figuras 4 e 7) permitem considerá-la como pertencente à Tradição ceramista Tupiguarani. Corroboram para esta relação às datações obtidas até o momento através de termoluminescência tanto para o sítio Domingos como para outros sítios da região como por exemplo o PA-AT-244: Pista de Pouso (710+- 70 e 590 +- 60 A.P), PA-AT-274: Estrada (540 +- 55 e 260 +- 25 A.P.) e PA-AT-252: Sequeirinho (670 +- 70 e 520 +- 55 A.P) que permitem encaixá-los na mesma faixa temporal dos sítios do período cerâmico da região de Carajás (Lopes et al. 1988) e que estão associados a Tradição Tupiguarani através da fase Itacaiúnas. As pesquisas arqueológicas na Serra do Sossego estão concentradas atualmente no salvamento do sítio PAAT-247: Domingos e contam com a colaboração de especialistas em palinologia, botânica, geofísica, pedologia e antropologia física. Situado em uma região que, nos últimos vinte anos, foi intensamente ocupada e onde atividades agrícolas, pecuárias e de garimpo provocaram a destruição de uma parte importante do patrimônio arqueológico, o sítio Domingos surge como um lugar privilegiado para o estudo intra-sítio de uma aldeia pré-histórica relacionada com a Tradição Tupiguarani no sul do Pará. A pesquisa neste sítio ainda está em andamento. A presença da Tradição Tupiguarani na região da Floresta Nacional Tapirapé-Aquiri, Parauapebas (PA) Em 2003 tiveram início as pesquisas arqueológicas na região da Floresta Nacional Tapirapé-Aquieri, situada no município de Marabá, no sudeste do Pará. Além do objetivo de gerar conhecimentos estas pesquisas estão sendo desenvolvidas em virtude da necessidade de obtenção das licenças ambientais para a exploração de minério de cobre realizada através do Projeto Salobo. Apresentaremos a seguir os resultados preliminares das pesquisas realizadas nessa área. A área do Projeto Salobo está inserida na Floresta Nacional Tapirapé-Aquiri (FLONATA) distante aproximadamente 600 km ao sul de Belém (capital do Estado do Pará) e integra, por extensão, a chamada “região de Carajás” (figura 2). A maior parte dessa região é drenada pela rede hidrográfica do rio Itacaiúnas, que desemboca na margem esquerda do rio Tocantins, em Marabá, e que tem no rio Parauapebas um dos seus principais afluentes. Na área do projeto Salobo destacam-se os igarapés Salobo, Mirim e Cinzento (Silveira et al., 2003). São marcantes duas estações distintas: uma chuvosa e outra seca. Os meses mais secos são de julho a setembro, e os de maior pluviosidade de dezembro a março. Entre os meses de novembro e julho o nível das águas dos rios eleva-se, permitindo a navegação de pequenas embarcações, entre agosto e outubro os rios baixam, expondo extensas várzeas utilizadas para cultivo pela população ribeirinha que habita a região. A principal cobertura da região é do tipo floresta tropical pluvial, com variações locais, a maioria obedecendo ao relevo acidentado (Silveira et al., 2003). As áreas investigadas até o momento resultaram na descoberta de quatorze locais com vestígios arqueológicos,  Pesquisa realizada pelos Projetos de Levantamento e Salvamento Arqueológico na área do Projeto Salobo, iniciados em 2003 e 2004 respectivamente – através de convênios entre o Museu Paraense EmílioGoeldi, a Salobo Metais e a Fundação para o Desenvolvimento da Amazônia. Os Ceramistas Tupiguarani - 43

sendo nove sítios e cinco ocorrências, estando todos relacionados ao período cerâmico. As ocorrências, após investigações adicionais, poderão ser definidas como sítios arqueológicos. Os sítios arqueológicos estão situados ao longo dos igarapés Salobo e Mirim, preferencialmente nos meandros dos igarapés e/ou entre grotas. Observou-se ainda, a ocorrência de sítios próximos uns aos outros, localizados em margens opostas dos cursos d´água constituindose, possivelmente, em um padrão de ocupação. Até o momento foram identificados dois tipos de sítios arqueológicos: a) sítios cerâmicos de pequenas dimensões, pouca profundidade e baixa densidade de material arqueológico, podendo ser considerados como sítios acampamento ou de habitação temporária; b) sítios cerâmicos com grande quantidade de material cerâmico, sendo também encontrados material lítico lascado e polido, e verificada a ocorrência de diversos polidores às margens dos igarapés. Foram identificados como sítios de habitação, com terra preta e/ou solo marrom escuro com até 60cm de profundidade. Alguns deles apresentam manchas de terra preta arqueológica (TPA) que correspondem, provavelmente, às áreas de cabanas. No material cerâmico analisado identificou-se o acordelamento como principal método de manufatura. A pasta utilizada para sua confecção apresenta, predominantemente, a rocha triturada como antiplástico. A decoração, muito mais plástica do que pintada, apresenta características tipicamente Tupiguarani tais como: corrugado, espatulado, inciso, escovado, raspado, ungulado ponteado, roletado e impresso (Silveira e Jalles, 2004). Foram encontrados, ainda, durante as escavações dois apliques cerâmicos zoomorfos (figuras 8 e 9), um em sítio habitação e outro em sítio acampamento. Nos dois tipos de sítios foi registrada a presença de estruturas, tais como buracos de esteio e estaca e fogueiras. O material lítico lascado é constituído de modo geral, por lascas e raspadores de quartzo, quartzito e silexito. O material lítico polido está representado por diversas lâminas de machados (formas e tamanhos variados) e cavadores. Foram coletados ainda adornos líticos inteiros (figura 10) e em fase de produção (figura 11). O material coletado até o momento, pelas características apresentadas, está relacionado à tradição cultural arqueológica Tupiguarani. As pesquisas nesta área foram iniciadas há pouco tempo e certamente trarão novas informações que contribuirão para ampliar o conhecimento sobre a presença da Tradição Tupiguarani na Amazônia.

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Figura 1 – Área de ocorrência da Tradição Tupiguarani na Amazônia. 46 - Os Ceramistas Tupiguarani

Figura 2 – Localização da área dos projetos Serra do Sossego e Salobo. Os Ceramistas Tupiguarani - 47

Figura 3 – Tipos de vasilhames identificados no sítio PA-AT-274: Estrada a partir do estudo de fragmentos de bordas.

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Figura 4 – Peça restaurada proveniente do sítio PA-AT-274: Estrada.

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Foto: Edithe Pereira

Figura 5 – Os vasilhames cerâmicos inteiros são encontrados abaixo da camada de ocupação (terra preta) no sítio PA-AT-247: Domingos.

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Foto: Edithe Pereira

Figura 6 – Conjunto de vasilhames cerâmicos detectados através de prospecção geofísica em área de solo claro no sítio PA-AT-247: Domingos.

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Foto: Edithe Pereira

Figura 7 – Vasilhame cerâmico com decoração corrugada encontrado no sítio PA-AT-247: Domingos.

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fotos: João Aires

Figura 8 – Aplique zoomorfo encontrado em um sítio habitação

Figura 9 – Aplique zoomorfo encontrado em um sítio acampamento

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Figura 10 - Pingente lítico

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Figura 11 - Contas líticas

Recipientes cerâmicos de grupos Tupi, no Nordeste Brasileiro. Marcos Albuquerque Coord. do Lab. de Arqueologia da UFPE Pesquisador do CNPq Depois de atravessarem dois terços da cidade e seguir por uma estrada que subia e descia o terreno ondulado que outrora fora coberto de mata, o professor de Arqueologia acompanhado de três estagiários finalmente chega a um pequeno sítio na periferia da cidade. O que os trouxera ali foi a curiosidade do proprietário do sítio que soubera que ao se cavar o solo para implantar as estacas de uma cerca os trabalhadores haviam se deparado com o inusitado; o instrumento batera em um material mais sólido, mas que cedera às investidas da enxada. Haviam encontrado um grande pote de barro, que se espatifara. No primeiro momento, a grande esperança, seria uma botija? Desânimo! Apenas terra escura e um outro potezinho, também sem ‘nada’, e que fora jogado longe, quebrando-se. “ Parece que havia também alguns fragmentos de ossos, mas nada importante, nada que valesse a pena.” Travava-se de mais uma ‘urna’ tupiguarani, encontrada e destituída de seu contexto. Temos aí uma situação por demais repetida em todo o Brasil, e possivelmente mais além. Serve como exemplo para se assinalar que esta tem sido o modo mais comum como foram conhecidas as formas inteiras ou reconstituíveis dos recipientes cerâmicos: achados fortuitos. Como caracterizar, como apresentar uma síntese dos recipientes desta cerâmica, que aos olhos treinados pode ser reconhecida à distância? Pela decoração, embora muitos recipientes não mostrem decoração? Pela forma? Pela tecnologia usada no fabrico? Muito provavelmente seja a forma o primeiro elemento que chama a atenção, seguindo-se de imediato a decoração, a técnica que se espelha através da textura, da coloração. Seria o conjunto de tais características que levariam a se identificar aquela cerâmica. Mas o fundamental seria caracterizar-se quem as fabricou, quem as usou, como as usou. Qualquer que seja a tendência teórica ou metodológica do pesquisador em arqueologia, a identificação dos artefatos tem sido o ponto de partida buscado. Identificação que passa, da função, ao uso à da distribuição. Muitos dos aspectos teóricos que tratam de uma correlação entre a forma e a função nesta cerâmica, foram tratados por diferentes autores e sistematizados por Brochado, Scatamachia e outros.  O presente estudo foi possível graças a colaboração de colegas que selecionaram e fotografaram o material em suas regiões de atuação: Luiz Dutra Souza Neto, que selecionou e fotografou peças do Museu Câmara Cascudo, no Rio Grande do Norte; Deusdédit Leite Filho, que selecionou, descreveu e fotografou peças do Maranhão; Francisco Veloso, arquiteto da 4ª SR IPHAN, que selecionou e fotografou peças do Ceará; e Cláudia Alves que selecionou peças do NEA. O Prof.Vicente Alves, conhecedor da História do Araripe, foi o responsável pelo apoio logístico de nossa equipe e colaborador incansável na localização dos sítios na Região. A todos agradeço pela inestimável colaboração.

 BROCHADO, Jose Proenza. Alimentação na Floresta Tropical.

Porto Alegre, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas,Universidade Federal do Rio Grande do Sul,197, 103p.,il.  SCATAMACCHIA, Maria Cristina Mineiro.Tentativa de caracterização da Tradição Tupiguarani. São Paulo, Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado Antropologia Social da Faculdade de Filosofia, Letra e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, 1981, 301 p, il. Os Ceramistas Tupiguarani - 55

Do mesmo modo que a avaliação inicial de sua distribuição, da ocorrência até então conhecida daquela cerâmica levou a correlacioná-la inicialmente com o que Steward caracterizou como ‘cultivadores de floresta tropical’. Amplamente dispersa no Sul, Sudeste e Nordeste do Brasil, foi ainda identificada no Norte e mais recentemente no Centro-Oeste do País. No Nordeste, onde ecossistemas extremos (sob o controle da umidade) coexistem com fronteiras muito próximas, a dispersão Tupiguarani, com complexas aldeias localizadas em meio ao semi-árido, levou Albuquerque e Lucena a questionarem a estrita associação com o modelo dos ‘cultivadores de floresta tropical’. A convergência de algumas características mais freqüentes em determinadas regiões conduziu Scatamacchia a propor uma subdivisão daquela tradição cultural Tupiguarani, em Guarani, mais ao sul, e Tupinambá, mais a norte. Embora os sítios arqueológicos com presença de cerâmica conhecida inicialmente como Tupiguarani sejam referidos há mais de 40 anos, em vários pontos o Nordeste, certamente ainda não foi possível construir-se uma síntese regional relacionada àquelas ocupações. Algumas tentativas têm abordado a questão por vieses que privilegiam enfoques ou aspectos específicos, constituindo-se nos alicerces da construção do conhecimento acerca daqueles grupos que certamente chegaram a contactar com os colonizadores europeus. Por outro lado, a tarefa de elaborar uma síntese abrangendo o conjunto das formas dos recipientes Tupiguarani que ocorrem no Nordeste, a nosso ver, vai bem mais além do que um trabalho de compilação, de mapear a distribuição geográfica da ocorrência de formas ou comentar cada uma delas e suas variações. O estado atual dos estudos já desenvolvidos acerca da cerâmica tupiguarani exige uma abordagem mais detalhada, que leve em consideração não apenas questões de distribuição geográfica mas sobretudo de distribuição espaço/temporal. Esta observação, que a primeira vista pode parecer desprovida de maior importância, até porque é uma abordagem inerente à Arqueologia, no caso específico dos sítios da tradição Tupiguarani se reveste de uma certa peculiaridade. O posicionamento proto-histórico da tradição, e certamente histórico de alguns de seus sítios, impõe a necessidade de um refinamento cronológico que permita discernir entre a tradição nativa em si e as resultantes da aculturação decorrente do contato. Por outro lado, a própria distribuição espacial dos sítios pode, nos casos dos assentamentos do período histórico, ser fruto do contato intercultural com os colonizadores. Os padres missionários não apenas interferiam no que concerne à escolha do local para as aldeias, como freqüentemente promoviam a junção de mais de um grupo em um mesmo local. Tais ‘aldeias’, constituídas por diferentes grupos tribais, sob a orientação de padres, nem sempre apresentavam uma organização espacial fundamentalmente distinta de aldeias nativas. Mantinham-se os materiais e as técnicas de construção, assim, no contexto arqueológico bem poderiam ser identificadas como aldeias nativas. A identificação arqueológica, seja de um grupo, seja de uma tradição cultural se faz, em primeira instância, através da identificação de seus sítios, dos elementos materiais produzidos ou utilizados. No Nordeste do Brasil a presença de cerâmica tupiguarani tem sido identificada em assentamentos localizados em distintos ecossistemas. Embora se tenha insistentemente buscado, não foi possível, até o momento, reunir características peculiares que possam ser associadas a um determinado ecossistema definido. Características comuns que se restrinjam a uma determinada região fisiográfica. Na região, os sítios arqueológicos que apresentam este tipo de cerâmica se  LOWlE, Robert H.. The Tropical Forest; An introduction. Handbooks of South American Indians, Julian H. Steward, ed., v. 3, p. 1-56. Smithsonian Institution, Bul. 143. Washington: Bureau of American Ethnology, 1948.  ALBUQUERQUE, Marcos; LUCENA, Veleda. Agricultura Tropical Pré-histórica (um sistema de floresta úmida ou que integra o semi-árido?). Revista Ciência e Trópico. Recife, 19 (1): 7-33, 1990.  SCATAMACCHIA, Maria Cristina Mineiro. A tradição policrômica no leste da América do Sul evidenciada pela ocupação Guarani e Tupinambá: fontes arqueológicas e etno-históricas Tese de Doutoramento em Antropologia Social (arqueologia) apresentado ao Departamento de Antropologia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, USP, SP, 310p,1990. 56 - Os Ceramistas Tupiguarani

distribuem em áreas que refletem distintos ecossistemas. São conhecidos sítios arqueológicos relacionados a: a) Comunidades que viveram em regiões alagadiças bem próximas ao mar, cercadas pelos manguezais, próximo às restingas; b) Comunidades que se assentaram (ainda que temporariamente) entre as dunas litorâneas, móveis, desprovidas de vegetação arbórea, ainda que pontilhadas a distâncias por pequenas lagoas de água doce; c) Grupos que habitavam as matas litorâneas, muito próximas ao mar; d) Grupos sediados nas matas úmidas interioranas, distantes centenas de quilômetros do mar; e) Grupos que habitavam as matas secas; f) Grupos que habitavam terras semi-áridas do sertão; g) Grupos que habitavam as ilhas do São Francisco; h) Grupos que habitavam a vertente mais seca da Chapada do Araripe; i) E ainda os que habitavam as altas serras que se destacam da paisagem plana e rebaixada, onde domina o semi-árido. Ali, a brusca mudança de altitude traz consigo (ou preserva consigo) as densas matas. São os brejos de altitude, que na realidade representam ‘ilhas’ de vegetação florestal em meio à caatinga. Tal diversidade de ambientes levou, como foi mencionado anteriormente, a questionamentos relacionados à associação inicial da tradição cultural Tupiguarani aos ‘cultivadores de floresta tropical’ descritos por Stweard. Um outro aspecto também considerado para entender-se tal amplitude de ambientes, foi a possível relação com a pressão exercida pelos colonizadores (guerras, apresamentos) sobre os grupos que os teria compelido a deixar as matas litorâneas, fugindo para o sertão. É bem verdade que tais fatos estão relatados na documentação histórica. Mas, a complexidade dos sítios arqueológicos identificados em áreas que não são de ‘floresta tropical’ parece não refletir uma sociedade sob impacto, dizimada pelas guerras ou de uma população ‘corrida’ para fugir ao apresamento. Ao contrário, os sítios localizados no semi-árido refletem uma sociedade numerosa, complexa, com uma tralha abundante. Um outro aspecto que tem sido considerado quanto à distribuição, no Nordeste, dos sítios arqueológicos em que se apresenta a cerâmica Tupiguarani, é a amplitude temporal daquelas ocorrências. A extensão territorial daquelas ocupações, a complexidade e elaboração de sua cerâmica, a pelo menos aparente uniformidade de muitas de suas características, não parecem poder se associar a um curto espaço de tempo. O tamanho das aldeias, refletindo a densidade demográfica, também sinaliza no sentido de uma sociedade estabilizada em termos de sua economia. Mas, uma séria questão se põe, em termos do resgate arqueológico: a par de casos punctuais, em que foram localizados recipientes em profundidade, via de regra decorrentes de achados fortuitos, a grande maioria dos sítios arqueológicos com cerâmica tupiguarani é superficial. Tal situação traz repercussões no se refere à estratigrafia, à identificação da cronologia do material intra-sítio. Ainda, grande parte dos sítios está localizada em um posicionamento topográfico favorável à erosão, o que contribui para expor à superfície os fragmentos cerâmicos, para colocá-los em um contexto onde as chances de mascaramento das datações são evidentes, tanto para as datações com base no C14, quanto naquelas fundamentadas pela fotoluminescência. Esta exposição prejudica ainda mesmo as datações por termoluminescência, uma vez que a região, devido ao sistema global de circulação atmosférica tende, na atualidade, a receber cargas radioativas provenientes de eventos distantes. Eventuais sepultamentos em ‘urnas funerárias’, que poderiam permitir datações mais confiáveis, como foi referido, em sua maioria, decorre de achados fortuitos, quase sempre não relacionados com sítios de habitação do grupo (ou cujo relacionamento com sítios-habitação não é conhecido).  Op. Cit. Os Ceramistas Tupiguarani - 57

Assim, um grande problema que se tem enfrentado no estudo, na sistematização do tupiguarani é a questão da datação dos sítios. Problemas que decorrem de: a) A falta de estratigrafia para uma datação relativa das formas. b) A intensa oxidação da matéria orgânica (para o C14.) associada à superficialidade de grande parte dos sítios relatados. c) A prática cultural (até os dias atuais) das queimadas para o cultivo que mascaram datações por termoluminescência e por C14. d) Ausência de restos humanos em muitas das ‘urnas’ relatadas, ou mesmo a perda de tais vestígios face o caráter fortuito de grande parte dos achados. A maior parte das datações obtidas (um número reduzido, considerando-se a quantidade de ocorrências registradas) situam-se entre 700 e 300 anos antes do presente, uma faixa em torno da proto-história. A mais antiga datação obtida, muito distanciada da média das datações da área, foi temporariamente desconsiderada, até que outros dados venham a confirmá-la ou negá-la definitivamente. Do mesmo modo que as características do assentamento não permitem estabelecer-se padrões de aldeias associados a ecossistemas, tampouco as datações informam quanto a uma possível associação entre tempo e espaço ocupado. O quadro abaixo exemplifica a questão. Ambiente

Datação Variação

Min

Média Max.

 

Mata úmida (
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