Os defensores das missões evangélicas e sua incapacidade crítica

July 3, 2017 | Autor: Silas Fiorotti | Categoria: Christianity, Anthropology, Theology, Missiology and Mission Theology, Christian Missions
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8/9/2015 08:37:16 | Já leram (22) Por Silas Fiorotti

Eu cresci no meio evangélico brasileiro, que sempre incentivou as “missões transculturais” entre os chamados “povos não alcançados”, principalmente indígenas e islâmicos que não têm acesso a nenhuma tradução da Bíblia. Cresci ouvindo o nome de J. Hudson Taylor (1832-1905), um missionário inglês que atuou na China por muitos anos, além dos nomes de diversos missionários brasileiros que diziam seguir o seu legado e que as nossas igrejas sustentavam. Não se divulgava as críticas em relação às atuações de J. Hudson Taylor e de outros missionários, como William Carey (1761-1834) ou Robert Morrison (1782-1834), que se tornaram heróis míticos de muitos evangélicos. Estes pais das missões protestantes modernas traduziram a Bíblia para diversas línguas, mas o legado deixado não foi propriamente o de igrejas nativas que se “autogovernaram, autoexpandiram e autossustentaram”, inclusive por conta do altamente criticável “paternalismo benevolente” que se difundiu na esteira do paradigma missionário colonizador. O teólogo sul-africano David J. Bosch (1929-1992) foi um daqueles evangélicos, talvez um dos poucos, que produziu uma obra crítica em relação às missões modernas. No clássico Missão transformadora [Transforming Mission], de 1991, Bosch apontou que além do alarde desmedido e do orgulho na exaltação das grandes realizações dos missionários evangélicos, o aspecto ainda mais negativo de muitos defensores das missões diz respeito à total incapacidade crítica frente à própria cultura ou incapacidade de apreciar outras culturas. Nos dias atuais, se por um lado, podemos especular que predomina a falta de incentivo para o desenvolvimento de uma autocrítica efetiva; por outro lado, os missionários brasileiros e as agências missionárias de “matriz evangélico-fundamentalista” estão sendo obrigados a responderem às críticas, principalmente em relação às suas atuações entre indígenas, advindas de órgãos do governo federal, de diversas organizações e de antropólogos. A edição de número 347 da revista Ultimato, de março-abril de 2014, talvez seja um exemplo contemporâneo paradigmático para avaliarmos as reações destes missionários brasileiros diante de diversas críticas. Uma das reações dos missionários vem através de notas públicas em que acusam órgãos governamentais de perseguição religiosa contra missionários que atuam entre indígenas. A revista Ultimato apresenta uma entrevista com Cassiano Luz, presidente da Associação de Missões Transculturais Brasileiras (AMTB) que, por sua vez, emitiu uma dessas notas. Cassiano Luz afirma que a suposta perseguição religiosa é fruto de uma “ideologia antievangélica e antimissionária” que encontra forte guarida na academia. Ele defende as agências missionárias evangélicas de “modelo transcultural”, afirmando que a evangelização adotada por elas é “dialogal e http://www.novosdialogos.com/artigo.asp?id=1398

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respeitosa” e não se assemelha à “catequese impositiva e unilateral”. Parece-me que ainda falta diálogo destes missionários e defensores das missões com a academia e com os antropólogos. Não entendo como “antievangélica ou antimissionária”, nem como calúnia ou difamação, a análise de algum antropólogo que, ao comparar esse “modelo transcultural” com o “modelo inculturado”, adotado atualmente por católicos e protestantes ecumênicos, afirma que o primeiro se aproxima mais do “modelo jesuíta” do período colonial. Em suas análises, os antropólogos invariavelmente fazem algumas comparações com base em critérios objetivos.

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A mesma edição da revista Ultimato apresenta também dois artigos de duas teólogas e missionárias brasileiras. Tanto Bráulia Ribeiro, no artigo “A cultura, esta nossa inimiga”, como Antonia Leonora van der Meer, no artigo “Uma descoberta surpreendente sobre a influência real dos missionários”, parecem alardear uma suposta recém-descoberta e grande realização dos missionários evangélicos. Elas se referem às pesquisas do sociólogo Robert D. Woodberry. Li o artigo de Woodberry, de 2012, intitulado “The Missionary Roots of Liberal Democracy”. A partir da leitura, levantei diversas questões que estão no meu artigo intitulado “Onde está a herança missionária de resistência anticolonial? – um diálogo entre Woodberry e Rieger”, publicado no último número da revista Práxis Evangélica (n. 25, jul. 2015, pp. 45-60). Minha crítica não recai sobre a proposta de Woodberry no sentido de reavaliar as raízes da democracia em diferentes contextos, mas sim sobre a suposta proposta implícita que tenta provar que a presença dos missionários evangélicos trouxe mais benefícios do que prejuízos e sobre a utilização do artigo no mesmo sentido.

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Finalizo este texto com um apelo aos missionários e defensores das missões evangélicas para que estabeleçam com empenho novos diálogos com a academia e com os antropólogos para o desenvolvimento de uma autocrítica efetiva. Toda a sanha por enfatizar apenas as realizações dos missionários evangélicos tem alimentado antigos estereótipos, principalmente em relação aos indígenas e aos islâmicos, e prejudicado as tentativas de apreciação e valorização das culturas locais.

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Silas Fiorotti Silas Fiorotti é de São Paulo e considera-se um cristão libertário. É bacharel em Ciências Sociais, mestre em Ciências da Religião e doutorando em Antropologia Social. Participa do Coletivo por uma Espiritualidade Libertária e da comissão editorial da revista eletrônica Espiritualidade Libertária. Também é pesquisador colaborador no Centro de Estudos Rurais e Urbanos (CERU/USP). (Você pode enviar cópias dos lançamentos, sem nenhuma garantia prévia para publicação das resenhas, para a Caixa Postal #1771, São Paulo, SP, 01032-970).

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Tags: missões transculturais missão teologia evangelicalismo indígenas povos não alcançados

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