Os (des) caminhos da Macroeconomia Ambiental

June 30, 2017 | Autor: Claudiano Neto | Categoria: Macroeconomía, Economia Ecológica, Economía Ambiental
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OS (DES) CAMINHOS DA MACROECONOMIA AMBIENTAL


Claudiano C. da Cruz Neto, Jorge M. Nogueira,
Lucas V. C. Sousa, Carlos E. M. Silva.

Resumo

Parece novidade para os interessados na interface Economia e Meio Ambiente que alguns questionamentos e incertezas ainda persistem quanto ao caminho mais ajustado a se tomar nesta área. Este breve ensaio intenta trazer à luz alguns dos elementos e conceitos que foram recentemente explorados pela Macroeconomia ambiental tradicional, mas que ainda podem ser profundamente estudados e que permitam apresentar novas contribuições, tanto da Economia Ecológica, como da própria teoria da Economia Ambiental.

Palavras-chave: Macroeconomia Ambiental; Produto Interno Bruto; Crescimento Econômico; Economia Ecológica; Economia Ambiental

JEL: F18; Q28; Q50; Q56.


Crescimento Econômico e Poluição Ambiental: uma equação possível?

O interessante artigo publicado em 2005, "Economic growth and the environment" - por Anastasio Xepapadeas - busca analisar se é possível ter um crescimento sustentado no longo prazo sem a presença de acúmulo de poluição, e protanto qual seria o impacto das preocupações ambientais sobre esse crescimento. Considera que nas últimas décadas a tradicional Teoria do Crescimento não despendou muita atenção para sua relação junto ao meio ambiente. Xepapadeas argumenta que havia até ali uma negligencia nas considerações acerca do importante aspecto dos custos de poluição do crescimento econômico. Sua base teórica é descrita a partir dos modelos de Ramsey (1928) e Solow - Swan (1956), e seu modelo tem como base a união dos processos econômicos com o meio ambiente, apresentando a idéia de que a poluição é um subproduto dos processos de produção e do consumo.
Há o entendimento de que as emissões geradas no modelo econômico afetam o meio ambiente através dos poluentes geradores de efeitos prejudiciais sobre a utilidade dos indivíduos. A premissa maior da abstração do autor se resume a seguinte conclusão: uma vez que os niveis de poluição sejam elevados, a produtividade marginal dos indívíduos será negativamente afetada, ou seja, aumento de poluição gera redução de produtividade. Além disso, afeta os custos de produção das firmas afetadas pela poluição, causando a não convexidade – violação do pressuposto de convexidade do conjunto de possibilidades de produção, postulado pelo ótimo social. De modo que em vez de um único ótimo, a sociedade pode ter a difícil tarefa de escolher entre um conjunto, e, às vezes, um substancial conjunto de máximos locais, produzindo alguns problemas muito reais e difíceis na escolha da política pública (BAUMOL e OATES, 1988).
Deixa-se claro através da opinião de Xepapadeas (2005) que a teoria do crescimento precisa aprofundar-se na análise das inter-relações entre a poluição ambiental e os resultados econômicos. Mais que isso, essa preocupação deve estender-se ao acúmulo de capital e ao comportamento das variáveis que são de importância central na teoria do crescimento. A inclinação do autor é que as variáveis capital, renda e o consumo devem ser analisadas à luz dos questionamentos acerca da poluição ambiental e das possíveis restrições impostas por elas.
Um dos méritos desse trabalho está no fato de inserir a dimensão ambiental na função utilidade e iniciar nela um interessante tratamento. A partir deste ponto observa-se o consumo e a qualidade ambiental como elementos determinantes para a máxima satisfação dos indivíduos, mostrando como o estoque de poluição pode afetar seu nível de utilidade.
Especificamente na opção pelo modelo de Solow (1956), o nível de emissão (que é considerado constante) e a poluição são acumulados no ambiente, de modo que sua medida é realizada em unidade física. Chama atenção o fato de que nesse modelo não se admite o custo da poluição. Isso não significa que o seu efeito negativo seja desconsiderado no modelo, ao contrário, significa tão somente que seus efeitos são modelados por meio da redução da produtividade do trabalho. Ou seja, uma vez que a poluição reduz os niveís de produtividade, a forma mais contunde de evitar o acúmulo de poluição é usar tecnologia mais limpa.
Deve-se a partir da utilização do modelo de Solow, inferir uma relação direta entre a execução de uma política ambiental e o estoque de poluição. Isso significa que, uma vez que se aplique uma politica mais restritiva (rigorosa) será possível reduzir os níveis de poluição. Como que Xepapadeas (2005) infere essa afirmação? Simples, o nobre economista admite o fluxo de emissões como um input na função produção e a entrada do progresso técnico como exógeno. Atente-se também para a decisão de manter o fluxo das emissões em constante.
Há ainda a análise a partir do modelo de Ramsey-Cass-Koopmans (1928) na qual adota-se que as preferências levam em conta o fluxo de consumo e o volume de poluição total. Interessantemente admite-se que não há crescimento exógeno da população ou mudanças técnicas na produção. Quanto ao nível de poluição, este é dado como fixo e a taxa de desconto de utilidade (desutilidade) está sujeita a uma restrição orçamentária intertemporal. Parece simples enxergar que o sistema econômico ajusta-se ao equilíbrio de estado estacionário mais rápido do que o sistema ambiental. Por essa forma, o modelo econômico é afetado em diferentes níveis pelo dano ambiental.
O ótimo social é ressaltado como factível somente numa economia descentralizada, desde que a taxa de emissão dos poluentes consiga refletir os danos sociais da poluição. Nestas circunstâncias seria possivel alcançar níveis ótimos para produção e poluição. Se o cenário for uma economia competitiva e sem regulamentos, haverá saída de capitais, só que menos acentuada. A isto denominamos custos de internalizar externalidades, que afeta as taxas de crescimento.
O aspecto temporal ganha contornos mais claros ao colocarmos em evidência uma taxa de desconto. Ramsey (1928) assinala que esta não deve penalizar as gerações futuras, e semelhantemente, e mais detalhadamente, Kawaguchi (2003) assume uma taxa nula de desconto. Para isso usa como critério o método de bem estar de longo prazo para controlar de forma estável os níveis de poluição. Outra constatação de Xepapadeas (2005) é que os países com baixo capital agregado, e que apresentam preocupações ambientais, podem apresentar baixo crescimento econômico, mas caso haja aumento da poluição isto pode ser corrigido com subsídios para investimento na produção mais limpa e impostos sobre as emissões.
Bovenberg e Smulders (1995) desenve um modelo de dois setores (setor de produção de um bem final e um setor de conhecimento) desenvolvido por Bovenberg (1995) e aprimorado por outros, consideram que o desenvolvimento do conhecimento técnico permite aumentar a produção com menos poluente e utilizar os recursos renováveis de forma mais eficiente. Aparece aqui o entendimento de que o conhecimento é um bem público, no qual governo deve destinar parte de sua renda para investimento, de modo que o tamanho do orçamento esteja relacionado à preocupação ambiental.
Conclusivamente, a partir dessas inferências Xepapadeas afirma (2005) que o crescimento sustentado e a proteção ambiental podem ser compatíveis. No entanto para isso ocorrer é necessário que sejam usados eficientes métodos para a reduzir a carga de poluição, sendo um deles a intensificação do uso de capital relacionado ao conhecimento, além de ser necessário a regulação ativa dos mercados privados.

O Capital Natural na Produção: limites biofísicos?

A noção de limites biofísicos ao crescimento não se enraizou na macroeconomia moderna, encontrando espaço apenas na corrente da "Economia Ecológica" representada por Daly (1996), que argumenta que fatores biofísicos e éticos irão exigir uma ''economia estacionária" com população constante de seres humanos e seus utensílios, e uma restrição nos rendimentos dos materiais e da energia para reproduzir essas populações. Essa corrente dá especial destaque nos questionamentos relacionados a escala, do tamanho fisico da economia frente ao ecossistema. Ou seja, a economia não cresce num universo ilimitado, como em um vácuo espacial (Cechin e Veiga, 2010).
Contudo, a principal corrente de economistas resiste a essa ideia, em parte porque a sua tese de um estado estável não tenha sido derivada de um modelo de crescimento convencional. A defesa do "capital natural" no processo de produção deve ocorrer antes que se possa avaliar as perspectivas para o crescimento econômico. O argumento é defendido nas análises de England (2000), e para tal coisa, o autor explicita a necessidade de formulação de um conceito que é mais amplo e mais rico do que a conotação clássica do fator "terra". Novamente os economistas ecológicos são citados por propuserem reconhecer explicitamente o papel essencial do "capital natural" na produção de mercadorias (Daly, 1994; Ayres, 1996), nos quais cita-se também a necessidade de uma definição formal ao que se deseja dizer como "capital natural" trazido por England (1998), a partir dos trabalhos de (Boulding,1978; Georgescu-Roegen, 1972).
Em sua teoria Georgescu-Roegen distinguiu a composição do processo de produção, em: "elementos de fundo", que representam os agentes do processo, bem como os elementos de fluxo, que são usados ou assumidos pelos agentes. Estes elementos de fundos incluem: as populações de organismos não produzidos, cada população representa uma espécie biológica específica; as populações produzidas por meios de produção, quer biológicos ou mecânicos, comumente descrito como bens de capital; a população de produtores humanos e seus dependentes: e, a área da superfície da Terra.
A atividade de transformação desses recursos exige fluxos de entrada de energia e materiais em quantidades adequadas e em momentos apropriados de tempo. Como Georgescu-Roegen (1972) insistiu, existem apenas duas fontes desses fluxos de entrada: (i) um fluxo anual constante de radiação solar fora do nosso controle, (ii) e um finito estoque terrestre de minerais que pode não estar associado aos fluxos de entrada, com taxas altamente variáveis.
Quais são os componentes do capital natural? Superfície não depreciada da terra; o fluxo solar, ou talvez o seu valor capitalizado; o conjunto de populações não produzidos, organizados em diferentes ecossistemas; e o conjunto de estoques de matérias na crosta terrestre e atmosfera, que produz matérias-primas e recebe os resíduos. Sem este conjunto natural de ativos, os seres humanos e os seus agentes produzidos seriam incapazes de funcionar, desenvolver e se reproduzir. Assim, o capital natural produz uma variedade de serviços e materiais essenciais para a economia humana.
Duas hipóteses sobre o estoque de capital natural são centrais para a literatura da Economia Ecológica, a saber, (i) Exaustão e (ii) as Hipóteses de complementaridade. O primeiro diz que o valor do capital natural tem diminuído por causa de práticas econômicas. Porque não temos séries temporais estimatidas para N (Capital Natural), esta hipótese ainda não pode ser empiricamente confirmada ou negada, pelo menos não de uma forma rigorosa. A segunda hipótese, e talvez a mais polêmica, sobre o capital natural é que ele complementa, e não pode facilmente substituir os seres humanos e os seus bens de capital produzidos como as mercadorias são produzidas. Esta abordagem defende que recursos naturais e capital manufaturado são essencialmente complementares e não substitutos entre si, e é conhecida como sustentabilidade forte (Neumayer, 2003).
Mais uma vez, a evidência empírica disponível não pode confirmar nem descartar essa hipótese, de modo geral não há um consenso nem empírico e nem teórico, mas sim abordagens diferentes. Em suma, as medidas existentes do estoque de capital agregado negligenciam a contribuição produtiva de ativos não produzidos que são fornecidos pela natureza. A concepção e a medição do capital deveriam ser ampliadas para incluir estes recursos naturais.

O Layout do Capital Natural e o Crescimento

Seria possível inserir o capital natural dentro do modelo de crescimento elementar, supondo que os seres humanos e seus bens de capital produzidos são substitutos entre si? A esse questionamento foi apresentado uma resposta afirmativa. Sim, é possível! England (2000) discorre acerca da possibilidade de agregar a população humana (L) e o valor dos artefatos humanos (K) para obter o estoque criado pelo homem (H):

H = K + σL , σ > 0. (1)

Pode-se interpretar (vagamente) o H como o valor das máquinas e equipamentos humanos disponíveis para a economia. Se for admitido a hipótese de que produzido pelo capital natural e o capital criado pelo homem são complementares na produção, então, em geral,

Y= min [AH, CN] (2)

No qual Y é a produção agregada das commodities, N é o valor do capital natural disponível para apreciação e uso humano, C é a produtividade natural do capital e ambos os coeficientes são positivos. Os desenvolvimentos ligados a agricultura e a indústria são vinculados historicamente ao crescimento da população humana, a acumulação de bens de capital produzidos, e a inovação para economizar trabalho (σ > 0), tendências que contribuíram para o crescimento do estoque de capital de origem humana. O grau de ocupação humana e desenvolvimento econômico foi modesto em comparação a todo o planeta, de modo que o H - capital foi relativamente escasso em relação ao N - capital.
Também é suposto que a sociedade acumula uma proporção constante (s) de sua renda agregada como meios de produção adicionais. É preciso supor que a população humana cresce a uma taxa constante (n) e que o trabalho de inovação da economia procede a uma taxa constante (σ/σ > 0). A produção agregada e do H-Estoque vai crescer a uma taxa percentual comum. Se o crescimento da população e inovação técnica proceder com rapidez suficiente então existe um caminho de crescimento de estado estacionário ao longo do qual a proporção entre o capital de origem humana e crescimento da população humana seja positivo.
Se H < 0 e N < 0, então chega-se um momento em que o capital natural não é mais relativamente abundante e o capital feito pelo homem não é mais relativamente escasso. Naquele momento, o produto agregado não é mais restringido pelas populações de seres humanos, seus artefatos e pela produtividade do esforço humano. A atividade econômica será limitada pelo estoque remanescente de capital natural e por sua produtividade.
Dessa forma, o crescimento econômico continua se as instituições econômicas e práticas forem reformadas. Essa desigualdade pode ser satisfeita somente se a inovação tecnológica passar para uma direção N-poupança e se a preservação do estoque remanescente do capital natural torna-se uma prioridade social. O contínuo crescimento da renda per capita também pode ocorrer se o capital natural é preservado e se a mudança tecnológica favorece o crescimento de sua produtividade. Deve-se reduzir a taxa de crescimento da população humana, em parte para proteger os ecossistemas dos assentamentos humanos.
No trabalho de Sollow (1992), a substitutibilidade pode acontecer em termos mais razoáveis. É necessario lembrar que ela se torna de maior custo à medida que o processo avança. Aparece a essencialidade no argumento de que a produção não pode ocorrer sem o uso dos recursos naturais, porém mostra-se possível substituir grandes quantidades de trabalho, capital reprodutível e recursos renováveis por quantidades menores (e diretas) dos recursos fixos.
Nesse ponto se insere o elemento futuro, especificamente falando das gerações futuras. Como parte da produção anual é consumida – isso trás satisfação para os consumidores correntes – e o restante é investido em capital reprodutível, que será usado para a produção de capital futuro. Percebe que a cada ano duas decisões precisam ser tomadas? Quais decisões você pode estar se perguntando. As decisões a serem tomadas se ocupam em aventar o quanto deve ser investido e o quanto de estoque restante de recursos não renováveis deve ser usado.
A partir daqui, Sollow (1956) expõe que há um trade-off entre gerações que, quando bem administrado, possibilita desperdicio zero e a produção eficiente, de modo que cada geração pode descontar o bem-estar da geração seguinte. Mais detalhadamente para realizar a conservação, sendo ela uma proposta interessante, a taxa de desconto não deveria ser grande. Sollow apregoou que a taxa de desconto (manifesta pelos preços) não deveria ser entendida literalmente em qualquer caso, mas como indicadores de todo o tipo de mensuração intencionada.

Medindo o bem-estar com a (des)indicada régua do PIB.

Defender a importância dos recursos naturais serem adequadamente reconhecidos no processo produtivo econômico também é abordado por Harris e Codur (2004) no trabalho Macroeconomics and the Environment. Em sua discussão, os autores demonstram como o modelo padrão da teoria econômica vigente acontece através do fluxo circular. Nesse há troca de bens, serviços e fatores de produção entre dois atores econômicos - consumidores (famílias) e produtores (empresas) e ocorrem também os pagamentos monetários (fluxo inverso), da família para empresa, quando algo é comprado, ou da empresa para a família quando a mão de obra é contratada.
O questionamento dos autores surge a partir desse modelo, e tenta verificar como os recursos naturais são inseridos no modelo, já que estes são essenciais para o sistema produtivo. As conclusão de Harris e Codur (2004) são de que os recursos naturais não são admitidos nesse primeiro fluxo como insumos de produção. Julga-se mais adequado considerar a Biósfera como provedor oculto de recursos naturais e energia ao sistema. O detalhe interessante fica por conta da premissa de que parte dos dejetos e rejeitos do processo produtivo podem ser reassimilados no processo. Os processos naturais assume relevante papel no bem-estar das populações e na manutenção da vida na Terra.
E como esse bem-estar vem sendo medido? Usualmente o Produto Interno Bruto é o meio mais difundido de se mensurar a qualidade de vida das populações. Contudo, há um amplo consenso de que este não atende adequadamente a mensuração do bem-estar humano, uma vez que não depreende uma gama de aspectos, especificamente as fatores que vão além do consumo de bens e serviços. Dito de outra forma, a teoria macroeconômica convencional parece não ser adequada para questões de preservação das condições mínimas de vida.
As características do PIB levam em consideração apenas os fluxos monetários, inclusive os que reduzem o nível de bem-estar. Vejamos o exemplo de uma batida de carro, apesar do fluxo monetário envolvido neste evento (contas médicas, seguro, serviços mecânicos) ser positivo no cálculo do PIB, não é invisível o fato de que a batida gera danos para o ser humano. Alguns desses danos podem ser permanentes, e alguns deles não são contabilizados.
Sabe-se ainda que o PIB desconsidera a depreciação do capital natural. Como alternativa a essa medida algumas opções puderam ser avaliadas. O Produto Interno Líquido poderia ser uma alternativa, pois este avaliaria os efeitos negativos da perda do capital "manufaturado". O valor do capital "manufaturado" é o resultado da perda dos equipamentos usados no sistema produtivo, entretanto essa medida ainda não levaria em consideração a depreciação do capital natural, por exemplo o uso dos recursos naturais e emissão de resíduos produzidos no processo produtivo.
Aventa-se ainda outras alternativas ao PIB, entre elas as Contas Satélites, o Índice de Bem-estar Econômico Sustentável e o Índice de Progresso Genuíno. As Contas Satélites seriam alternativas que não eliminaria o PIB como indicador. Seu intuito seria adicionar um valor satélite ao valor final do PIB como medida de impacto da atividade econômica sobre os recursos naturais e o meio ambiente. O esforço seria direcionado a medir todos os ativos naturais (usados e não usados, degradados e não degradados), em termos quantitativos (toneladas, hectares, cúbicos) que poderiam ser transformados em valores monetários. A conveniência desta opção é que cada recurso teria seu valor detalhado, ficando por sua vez mais fácil identificar e rastrear os múltiplos usos e se esses vão além do limite aceitável do recurso natural.
No caso do Índice de Bem-estar Econômico Sustentável se levaria em consideração a construção de um indicador que agregaria o bem-estar como um fluxo de serviços de todas as fontes para a sociedade. Gastos que não produzem bem-estar entrariam negativamente, e para solucionar as perdas de todas as formas de capital, adicionariam capitais artificiais, o que reduziria o esgotamento do capital natural.
O Índice de Progresso Genuíno teria um aspecto mais moderno se comparado ao PIB, pois em seu interior são incluídos valores e fatores que normalmente não são quantificados nas atividades de mercado. A exemplo cita-se o custo do desemprego, a perda de florestas antigas e a perda de tempo com lazer. O Índice de Progresso Genuíno sugere que o crescimento econômico estaria vindo à custa de outras contribuições do bem-estar, como a qualidade ambiental e o bem-estar humano.
Colocadas as alternativas ao advento do Produto Interno Bruto como medida de bem-estar, Haris e Codur (2004) finalizam sua reflexão acerca de qual dessas medidas deveriam nortear a aplicação da política. As conclusões enfatizam no que está sendo perdido ao se analisar somente a produtividade econômica como medidora de bem-estar humano (método tradicional – PIB), e que o dinheiro é somente um meio para um fim (atendimento das necessidades humanas e alcance do seu bem-estar). Por que não se pensar em desenvolvimento sustentável via políticas que não estejam focadas exclusivamente em aumentar o bem-estar humano e somente privilegiar o aspecto do crescimento econômico via aumento dos fluxos monetários? Será que não é possível repensar os conceitos e elementos da macroeconomia tradicional a fim de subsidiar propostas mais condizentes com a falida proposta corrente de um PIB exclusivamente pautado nos fluxos monetários?

População - pobreza - meio ambiente: o nexo que afeta o bem-estar.

Outro importante aspecto da Macroeconomia ambiental reside na preocupação com problemas relacionados ao crescimento populacional, a pobreza e potencial pressão exercidas por essas sobre a base de recursos naturais. Trata-se de se analisar o nexo entre esses elementos, sobretudo nas regiões mais pobres do mundo contemporâneo, usando para isso a teoria econômica e a recente história dessas regiões. Essa tentativa foi recentemente desenvolvida por Parha Dasgupta em seu escrito intitulado Population, Poverty and the Natural Environment.
Dasgupta (2010) sugere que a forma de pensar nesse nexo apresenta diferenças persistentes porque a interface população, recursos e o bem-estar a um nível local tem sido um assunto relativamente negligenciado nos estudos atuais. Seu trabalho aponta que os demógrafos modernos e os economistas desenvolvimentistas e do meio ambiente têm negligenciado aspectos cruciais do nexo população-pobreza-ambiente.
Esta defesa sinaliza que a economia ambiental e de recursos que foram desenvolvidas nos Estados Unidos não tem mostrado muito interesse em estresse econômico e crescimento populacional nos países pobres. Em sua pesquisa sobre a economia de recursos ambientais, Kneese e Sweeney (1985, 1993), Cropper e Oates (1992), e Oates (1992) ignoraram completamente o objeto em questão. Esses pontos de vista são citados para mostrar que o ambiente natural é amplamente visto como um luxo, o contrário do que é defendido por Dasgupta (2010), que o meio ambiente abriga uma gigantesca riqueza de processos e fenômenos naturais essenciais para a vida humana. Portanto, a base de recursos naturais é, em grande parte, uma necessidade. Ele sinaliza que majoritariamente as opiniões são amplamente favoráveis ao crescimento econômico, sobretudo os economistas do Norte.
As modernas teorias de crescimento econômico, em sua maior parte, assumem que mudança populacional é um fator determinante do bem-estar humano (Dasgupta, 2010). O princípio central dominante na teoria é que embora o crescimento populacional não afete a taxa de longo prazo da mudança nos padrões de vida, ela afeta negativamente o padrão de longo prazo de vida (Solow, 1956). É observado que os modelos atuais estão mais assertivos, pois passaram a assumir que novas ideias são fonte de progresso, admitindo que o crescimento intelectual é capaz de contornar qualquer restrição imposta pelo ambiente natural sobre a capacidade das economias de crescer indefinidamente.
Esses modelos também assumem que o crescimento da população leva a um aumento da demanda por bens e serviços. A expansão da demanda e da oferta de idéias implica que, no longo prazo, a produção de equilíbrio per capita pode crescer a uma velocidade que é ela própria uma função crescente da taxa de crescimento da população. Ou seja, a produção de equilíbrio (per capita) é uma função crescente da taxa de crescimento da população (isto é, apenas quando o crescimento da população for nulo, que a taxa de longo prazo de crescimento do produto per capita será nula).
Em sua forma pura, os modelos de crescimento contemporâneos incorporam um vínculo positivo entre a criação de idéias (technological progress) e o crescimento da população no mundo onde a base de recursos naturais compreende um fator de produção fixo e indestrutível. Há um problema com a segunda hipótese, está errada: o ambiente natural consiste de recursos degradáveis. Se o crescimento econômico deve ser sustentável, ele deve ser capaz de acumular capital e apresentar progresso tecnológico mesmo contrariando uma base de recursos em declínio.
Ao final, não é irrelevante notar que a pobreza, o comportamento demográfico e o caráter e desempenho de ambas as instituições humanas e da base de recursos naturais ainda não está na agenda de pesquisa dos modernos teóricos do crescimento. De fato, não é foco entre os economistas do desenvolvimento o nexo população – pobreza – recursos. Mesmo em estudos sobre as regiões semi-áridas da África sub-saariana e do sub-continente indiano, o nexo é praticamente inexistente. Nem a literatura dominante sobre a pobreza [(Dreze e Sen, 1990; Bardhan, 1996) levam o crescimento da população e as restrições ecológicas para serem fatores importantes nas possibilidades de desenvolvimento. Negligenciar esse nexo tem sido um grave erro por parte dos especialistas.

Considerações Finais

No tocante a discussão teórica acerca do crescimento econômico e da Poluição Ambiental, chega-se a conclusão que por muito tempo a discussão foi negligênciada pelas escola tradicional, de modo que sua atenção maior foi dada para a relação junto ao meio ambiente e seus aspectos de substituição. Não se discutiu a mudança de paradigma por parte da Economia Ambiental, mas sim as possibilidades de arranjos no capital que solucionassem a notória existência de limites para o crescimento do produto via input dos recursos naturais.
Pensar nas considerações acerca do aspecto dos custos de poluição do crescimento econômico são detalhes cruciais na explicação da dinâmica macroecômica. É claro que a teoria do crescimento precisa aprofundar-se na análise das inter-relações entre a poluição ambiental e os resultados econômicos. As emissões geradas no modelo econômico afetam o meio ambiente, e a existência de escalas ainda não conhecidas pode facilmente indicar a necessidade de precaução quanto a utilização demasiada desses recursos naturais.
Outra reflexão oportuna está na indissociável existência dos resíduos poluentes em meio a atividade econômica produtiva. Estes resíduos, que não podem ser completamente reciclados, continuarão a exercer desgaste sobre a utilidade dos indivíduos, e provocar redução nas taxas marginais de produtividade, e consequente perda da utilidade total.
Talvez, pensar numa alternativa de crescimento sustentado, via proteção ambiental pode ser compatível com os múltiplos anseios de uma sociedade que não confere a atual proposta de crescimento econômico. Legitimidade, no entanto, para isso ocorrer é necessário que sejam usados métodos eficientes para a redução da carga de poluição, sendo um deles a intensificação do uso de capital relacionado ao conhecimento, além de ser necessário a regulação ativa dos mercados privados.
Por fim, deve-se pensar em desenvolvimento sustentável via políticas que estejam focadas exclusivamente em aumentar o bem-estar humano e não somente em privilegiar o aspecto do crescimento econômico via aumento dos fluxos monetários. Mensurar o bem estar-humano apenas pela ótica tradicional do PIB não é a melhor alternativa e precisa ser urgentemente alterada.

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Doutorando do Departamento de Economia – UnB. CEEMA/UnB. E-mail: [email protected].
Professor titular do Departamento de Economia – UNB. CEEMA/UNB
Doutorando do Departamento de Economia – UNB. CEEMA/UNB.
Doutorando do Departamento de Economia – UNB. CEEMA/UNB.

Nesse instante Xepapadeas admite a qualidade ambiental comocon fixa.
Indicador teorizado em 1989 por Herman Daly e Jonh B. Coob. Em inglês, seu nome é Index of Sustainable Economic Welfare.
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