Os desafios da coordenação de projetos em BIM

June 23, 2017 | Autor: Anna Paula | Categoria: Building Information Modeling (BIM) (Architecture), Gerenciamento de projetos
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OS DESAFIOS DA COORDENAÇÃO DE PROJETOS EM BIM ARAUJO, Anna Paula de (1) Instituto IDD - Pós Graduação em Gestão Colaborativa de Projetos – Ênfase BIM, contato: (41) 99359560, e-mail: [email protected]; CUNHA, Fernanda Ferreira da (2) Instituto IDD - Pós Graduação em Gestão Colaborativa de Projetos – Ênfase BIM, contato: (41) 88200541, e-mail: [email protected]

RESUMO A utilização do BIM por construtoras brasileiras ainda é um processo incipiente, que vem avançando lentamente, mas certamente é um processo sem volta. Com o surgimento do BIM no processo de desenvolvimento de projetos imobiliários de incorporadoras e construtoras, o processo de coordenação destes projetos também precisa passar por adaptações para promover e usufruir de todos os benefícios que o BIM tem a oferecer. Este trabalho é o primeiro passo para um trabalho de conclusão de curso no qual o objetivo é demonstrar como o BIM pode ser implantado no processo de coordenação de projetos de uma incorporadora e construtora com a finalidade de obter melhorias no processo. Este artigo tem por objetivo específico realizar uma revisão bibliográfica sobre o tema “Coordenação de projetos em BIM” para embasar os futuros trabalhos. Palavras-chave: Gerenciamento de projetos. BIM. Modelagem da Informação da Construção.

ABSTRACT The implementing of BIM in Brazilian construction is still an incipient process that is moving forward slowly, but that is certainly a process one-way ticket. With the BIM introduction in development of developers and builders real estate projects, the coordination process of these projects must be adapted to be able to promote and take advantage of all the benefits BIM offer. This work is the first step towards a course competition assignment in which the objective is to demonstrate implementing BIM in process of coordinating projects of a developer and builder in order to achieve improvements in the process. This article intend to conduct a literature review on the topic "Project coordination BIM" to support future research. Keywords: Project Management. BIM. Building Information Modeling.

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INTRODUÇÃO

A construção civil no Brasil ainda é vista como um processo muito artesanal e de pouca precisão. SOUZA et al. (1994) já registravam, com base em pesquisa realizada com empresários, diretores, gerentes técnicos e engenheiros de empresas de construção civil, que os produtos e serviços oferecidos por estas empresas apresentavam dificuldades em relação à qualidade. SOUZA et al. (1994) afirmavam que as dificuldades mais citadas estavam ligadas ao projeto em que a apresentação formal fora considerada superior ao conteúdo, como o detalhamento das especificações técnicas e controle da qualidade do projeto. Considerando que a baixa produtividade e qualidade do processo de projetos é resultado de desordem e falta de adotar métodos adequados de gestão (MANZIONE, 2013), essa pesquisa foca no processo de coordenação de projetos. De acordo com MELHADO et al. (2005), com o aumento da complexidade e das disciplinas dos projetos em função de novos projetos de produto e para produção, o coordenador de projetos tem o desafio de manter a unidade e a reciprocidade do processo para garantir o repasse das informações em todas as etapas de processo. O BIM pode vir a ajudar neste desafio, mas também traz necessidades de adaptação neste processo.

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MANZIONE (2013) observa que, com a crescente complexidade dos edifícios aliada ao surgimento do BIM, podemos considerar dois grandes domínios envolvidos em um todo: a gestão do processo de projetos e a gestão da modelagem da informação. A interação entre estes dois domínios é o modelo BIM. O mesmo autor ilustra a interdependência destes domínios como se fossem duas engrenagens acopladas, de forma a nos fazer enxergar que é um domínio que movimenta o outro e que a colaboração entre eles é o que fará o sucesso do processo do desenvolvimento de um bom modelo BIM. Como a colaboração ideal para o processo em BIM tende a ser muito difícil de ser conseguida com o emprego de metodologias de trabalho comumente utilizadas, MANZIONE (2013) afirma que muitas empresas falharão em alcançar a eficiência e os benefícios que o BIM promete trazer para o trabalho entre empresas e seus clientes. Sendo assim, o entendimento do método adequado de gestão colaborativa de projetos é necessário para aumentar as chances de sucesso da implantação do BIM nas empresas de construção civil (escritórios de projetos, de arquitetura e, principalmente, nas construtoras). A realização desta revisão bibliográfica sobre o tema “processo de coordenação de projetos em BIM” visa contribuir com este objetivo.

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COORDENAÇÃO DE PROJETOS Escopo de Coordenação de Projetos

FABRÍCIO e MELHADO (2002) relatam que a coordenação de projetos deve trabalhar com as diversas frentes de projeto paralelamente, criando meios de comunicação efetivos entre estes, garantindo que as soluções técnicas desenvolvidas pelos projetistas de diferentes especialidades sejam adequadas e compatíveis entre si, visando obter como resultado final um produto mais racionalizado e completo, com menor ou nenhuma necessidade de correções e modificações durante a execução. EASTMAN et al. (2011) define o escopo dos serviços tradicionais dos projetos de acordo com as seguintes etapas: “Estudo preliminar – Quantitativos não espaciais e especificação textual do empreendimento, lidando principalmente com fluxos de caixa, função ou geração de renda; associa áreas e equipamentos necessários; inclui estimativa inicial de custos; pode sobrepor ou interagir com a fase de anteprojeto; pode sobrepor e interagir com a fase de produção ou planejamento financeiro. Anteprojeto – Fixa requisitos de espaço e funcionalidade, fases e possíveis necessidades de expansão; questões relativas ao terreno e contexto; restrições do código de obras e zoneamento; também pode incluir atualização da estimativa de custos baseada nas informações adicionadas. Projeto básico (SD – Schematic Design) – Projeto preliminar do empreendimento com plantas da edificação, mostrando como o programa do anteprojeto é materializado; modelo de massas da forma do edifício e renderizações iniciais do conceito; determina alternativas de materiais e acabamentos; identifica todos os subsistemas do edifício por tipo de sistema.

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Projeto Executivo (DD – Design Development) – Plantas baixas detalhadas incluindo todos os principais sistemas de construção (paredes, fachadas, pavimentos e todos os sistemas: estrutural, fundação, iluminação, mecânico, elétrico, comunicação, segurança, acústica, etc.) com detalhes gerais; materiais e seus acabamentos; drenagem do terreno, sistemas relativos ao terreno e paisagismo. Projeto para produção (CD – Construction Detailing) – Planos detalhados para demolição, preparação de canteiro de obras, terraplenagem, especificação de sistemas e materiais; dimensionamento de membros e componentes e especificações para conexões de vários sistemas; testes e critérios de aceite para os sistemas principais; todos os componentes e conexões requeridos para integração entre sistemas. Revisão da construção – Coordenação de detalhes, revisão de leiautes, seleção e revisão de materiais; alterações requeridas quando as condições na construção não são como esperadas ou devido a erros de execução.” Maior parte da informação de um empreendimento é definida durante a elaboração do projeto. Nas fases iniciais de projetos, mais especificamente nas fases de anteprojeto (PD), projeto básico (SD) e projeto executivo (DD) está concentrada a maior habilidade de causar impacto nos custos e nas características funcionais do empreendimento. Porém, como ilustra o gráfico abaixo, os esforços de tempo e análise crítica comumente estão concentrados em maior peso na fase de projeto para produção (CD), onde já não é possível causar tanto impacto nos custos e funcionalidade do projeto (EASTMAN et al., 2011). Figura 1 – Valor agregado e custo de mudanças e distribuição de compensação atual em serviços de projeto (Eastman et al., 2011)

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O BIM reduz significativamente a quantidade de tempo e esforço de projeto aplicados na produção de documentos para construção, devido à automatização de formas padronizadas de detalhamento (EASTMAN et al., 2011). O gráfico acima ilustra (linha 4) como o esforço de projeto e tempo podem ser melhores distribuídos como resultado da aplicação do BIM. Esta alteração no modo de projetar que o BIM propõe e direciona, faz com que o esforço de projeto seja mais concentrado nas fases em que as tomadas de decisões agregam maior valor durante o processo. Desta forma, fica claro em quais etapas a coordenação de projetos deve concentrar maior parte de seus esforços, evitando que haja necessidade de alteração no projeto na fase de construção, onde os custos para estas alterações serão maiores e com menor resultado. De acordo com o Manual de escopo de coordenação de projetos pela Associação dos Gestores e Coordenadores de Projeto (AGESC), em parceria com outras associações como AsBEA, Abece, Abrasip, Abrava, SindInstalações, SindusCon-SP e Secovi-SP (AGESC, 2006), a coordenação de projetos está presente nas seguintes fases: “FASE A – CONCEPÇÃO DO PRODUTO: Esta fase compreende as atividades relativas ao levantamento e definição do produto imobiliário e as restrições que o regem, definindo as características demandadas para os profissionais de projeto a contratar. FASE B – DEFINIÇÃO DO PRODUTO: Coordenar as atividades necessárias à consolidação do partido do produto imobiliário e dos demais elementos do empreendimento, definindo todas as informações necessárias à verificação da sua viabilidade técnica, física e econômico-financeira, assim como à elaboração dos projetos legais. FASE C – IDENTIFICAÇÃO E SOLUÇÃO DE INTERFACES DE PROJETO: Coordenar a conceituação e caracterização claras de todos os elementos do projeto do empreendimento, com as definições de projeto necessárias a todos os agentes nele envolvidos, resultando em um projeto com soluções para as interferências entre sistemas e todas as suas interfaces resolvidas, de modo a subsidiar a análise de métodos construtivos e a estimativa de custos e prazos de execução. FASE D – DETALHAMENTO DE PROJETOS: Coordenar o desenvolvimento do detalhamento de todos os elementos de projeto do empreendimento, de modo a gerar um conjunto de documentos suficientes para perfeita caracterização das obras e serviços a serem executados, possibilitando a avaliação dos custos, métodos construtivos e prazos de execução. FASE E – PÓS-ENTREGA DE PROJETOS: Garantir a plena compreensão e utilização das informações de projeto e a sua correta aplicação e avaliar o desempenho do projeto em execução. FASE F – PÓS-ENTREGA DA OBRA: Coordenar o processo de avaliação e retroalimentação do processo de projeto, envolvendo os diversos agentes do empreendimento e gerando ações para melhoria em todos os níveis e atividades envolvidos. ” Segundo FABRÍCIO (2008), a figura do coordenador de projetos surgiu para garantir e fomentar a coordenação, com a responsabilidade de ser o gestor do fluxo de informação

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e de fomentar a interatividade entre os diversos projetistas envolvidos. Também destaca a predominância de dois modelos organizacionais de equipes que diferem segundo o papel e a posição do coordenador: no modelo mais tradicional, a coordenação é uma atividade de responsabilidade do autor do projeto de arquitetura (definidor das diretrizes a serem seguidas pelos demais) e um modelo mais colaborativo, no qual a concepção inicial do edifício é realizada pelo arquiteto, porém, contando com a participação e colaboração efetiva das demais especialidades de projeto.

3 3.1

O QUE MUDA NA COORDENAÇÃO DE PROJETOS COM BIM O que é o BIM afinal

Com frequência nos deparamos com a visão equivocada de que meros projetos tridimensionais são projetos desenvolvidos com a tecnologia BIM. Para facilitar o entendimento, EASTMAN et al. (2011) define o que não é BIM: modelos que só contêm dados 3D, porém sem atributos de objetos; modelos sem suporte para comportamento; modelos compostos de múltiplas referências a arquivos CAD 2D que devem ser combinados para definir a construção e modelos que permitem modificações de dimensões em uma vista que não são automaticamente refletidas em outras vistas. O BIM, muito mais do que a representação virtual dos objetos em três dimensões, é um processo desenvolvido com apoio de modelos paramétricos com a capacidade de suportar a análise estrutural, compatibilização de disciplinas diversas relacionadas ao projeto, planejamento do processo construtivo, análise de custos, análise de cronogramas, entre outros. “O BIM é uma nova maneira de se conceber um empreendimento e projetar integralmente um objeto do início ao fim – com controle sobre todos os processos, análise de informações, simulação de desempenho, correção e revisão de dados e informações, criação de parâmetros mais precisos para execução e operação do edifício – e revoluciona o futuro da construção, estabelecendo novos paradigmas para o mercado e para os profissionais. A mudança nas relações entre os agentes do setor da construção são significativas, principalmente quanto à concepção do empreendimento e sua arquitetura, aos custos, à viabilidade da construção e maneira de se projetar e trabalhar, já que há uma única plataforma de informações para as várias ramificações de decisões (CTE, 2012a).” O National Intituite of Building Sciences define a tecnologia BIM como um processo melhorado de planejar, projetar, construir, usar e manter uma instalação, usando um modelo de informação normalizado que contém toda a informação apropriada num formato que possa ser usado durante todo o seu ciclo de vida (NIBS, 2008).

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3.2

Vantagens do BIM na coordenação de projetos

A base de um sistema BIM é um banco de dados que, além de exibir a geometria dos elementos construtivos em três dimensões, armazena seus atributos e, portanto, transmite mais informação do que modelos CAD tradicionais (COELHO, 2008). Segundo EASTMAN et al. (2011), são muitas as vantagens do BIM para a fase de projeto e coordenação. Entre elas, as correções automáticas de baixo nível quando mudanças são feitas no projeto; colaboração antecipada entre múltiplas disciplinas de projeto, facilitando o trabalho simultâneo de diferentes projetistas especialistas que podem trabalhar em um único modelo, abreviando o tempo de projeto e reduzindo consideravelmente os erros e omissões, aumentando as oportunidades de melhoria contínua de forma mais rápida e em etapas em que a alteração é mais fácil e permite agregar maior valor ao projeto. Além disso, o BIM permite verificação facilitada das intenções através das visualizações 3D e quantificação de áreas e materiais, permitindo estimativas de custos antecipadas e mais precisas. Sem falar na possibilidade de vinculação do modelo a ferramentas de análise energética, proporcionando diversas oportunidades para aperfeiçoar a qualidade da construção em relação à eficiência energética e sustentabilidade. O uso do BIM está relacionado com a redução de retrabalho e de intervenções não planejadas na fase de construção – muitas vezes consequentes de falhas de projeto ou planejamento - com a qualidade e melhoria contínua dos projetos, orçamentos e cronogramas, entre outros. O BIM estimula a experimentação, diminui conflitos entre elementos construtivos, facilita revisões e aumenta a produtividade (FLORIO, 2007).

3.3

Dificuldades da coordenação de projetos em BIM

Está claro que o BIM pode trazer muitas vantagens para o processo de coordenação de projetos, mas é preciso que sejam abordados também os impactos, dificuldades e mudanças significativas que a implantação do BIM causará na coordenação de projetos. Segundo EASTMAN et al. (2011), os desafios começam pelas mudanças no relacionamento dos envolvidos no empreendimento e na forma de contratação dos profissionais e especialistas envolvidos no projeto BIM. Será necessário envolvimento precoce entre arquiteto, construtora e projetistas de outras disciplinas, pois o conhecimento dos especialistas será de suma necessidade durante a fase de projeto, o que não é comum no método tradicional de coordenação de projetos, que pouco envolvimento gera entre os envolvidos em momentos muito raros durante o desenvolvimento do projeto. A determinação de métodos para permitir compartilhamento adequado do modelo também é um desafio a ser enfrentado, uma vez que isso vai depender do aceite e colaboração de todos os envolvidos. Como é algo em desenvolvimento no mercado brasileiro da construção civil, ainda têmse dificuldade para encontrar projetistas de outras disciplinas que já estejam aptos a desenvolver projetos em BIM, por hora vemos que quase que exclusivamente os escritórios de arquitetura estão preparados para o BIM. Essa discrepância torna o processo de coordenação de projetos mais complexo e de menor produtividade.

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JUSTI (2008) apud SOUZA et al. (2009) concordam que implantação de novas tecnologias baseadas em BIM pressupõe a reestruturação das empresas, através da reorganização de processos e da implementação de uma nova forma de organização do trabalho e de pensar o processo de projeto (de forma totalmente integrada). Além disso, o uso do BIM requer novas qualificações dos profissionais, aquisição de novos equipamentos, e uma nova forma de lidar com os demais agentes no processo. Além de todas as mudanças e dificuldades citadas acima, o BIM requer mudanças em vários outros aspectos nas empresas, é necessário que as empresas interessadas em implantar o BIM tenham um plano de implantação que contemple todos os aspectos e impactos nos departamentos internos, nos parceiros (projetistas envolvidos, fornecedores) e clientes. Este plano deve definir gerências responsáveis pela implementação, orçamentos de custos, tempo e rendimento que possam direcionar o desempenho da implantação (EASTMAN et al., 2011).

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OBJETIVO DO PROCESSO DE COORDENAÇÃO DE PROJETOS

Se a palavra chave do BIM é “informação” e entendemos que o volume de informações é muito grande em um projeto neste conceito, é fato que a administração de todas essas informações é ponto principal no bom desenvolvimento de um projeto através do BIM. Essa administração pressupõe um bom gerenciamento da comunicação entre as equipes envolvidas, pois a comunicação inadequada leva ao desenvolvimento de soluções desvinculadas dos requisitos do empreendimento, gerando retrabalho ou deslocando o empreendimento de seus objetivos iniciais ou do nicho de mercado almejado (LYRIO FILHO, 2006; NASCIMENTO, 2004). O PMBOK (2004) define o gerenciamento das comunicações do projeto como a área de conhecimento que emprega os processos necessários para garantir a geração, coleta, distribuição, armazenamento, recuperação e destinação final das informações sobre o projeto de forma oportuna e adequada. Todos os envolvidos devem entender como as comunicações afetam o projeto como um todo. (Guia PMBOK, 2004, p.221) Segundo DURANTE (2013), a modelagem de um projeto em um software que comporte a tecnologia BIM é ineficaz se utilizado isoladamente. “Já bem desenvolvido e utilizado em vários países, e agora chegando ao Brasil, o BIM não é um produto e sim um processo de captação de informação, função e comportamento dos elementos da edificação, com uma base comum e integrável de informações e dados organizados em três ou mais dimensões, que envolve múltiplos stakeholders nas diferentes fases no ciclo de vida do projeto, pressupõe interoperabilidade (sistemas conversam entre si) e simulação (avaliação do impacto das decisões para todas as interfaces do edifício, inclusive operação e manutenção). (DURANTE, 2013 apud CTE, 2012a)”. A modelagem BIM não substitui reuniões entre projetistas e, sobretudo, não eliminam as tomadas de decisões, algo que não será realizado pela máquina ou pelo software. FABRÍCIO (2008) destaca a importância de valer-se da experiência acumulada em projetos passados e da utilização de ferramentas de acompanhamento, avaliação de

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desempenho e avaliações pós-ocupacionais para aprimorar os projetos para as necessidades contemporâneas. Para FRANCO (1992), a coordenação de projetos deve garantir a definição clara e precisa dos objetivos e parâmetros a serem seguidos na elaboração dos projetos; deve promover a comunicação entre os participantes e coordenar as soluções das várias especialidades; deve gerenciar e compatibilizar as interferências entre diferentes projetos; deve ser o elemento integrador entre as soluções de projeto com o processo produtivo da empresa; possui a missão de controlar e garantir a qualidade do processo como um todo, bem como considerar a qualidade do ambiente construído e o estágio tecnológico da indústria de construção. O papel do coordenador de projetos deve, portanto, ir além da verificação de interferências. É necessário analisar globalmente a eficiência e relações como a de custo-benefício das soluções. Se, por exemplo, a distância entre banheiros definida no projeto arquitetônico prejudica o projeto de instalações hidráulicas, deve-se avaliar a viabilidade de se alterar a arquitetura (DURANTE, 2013).

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CONCLUSÕES OU CONSIDERAÇÕES FINAIS

Para que a coordenação de projetos com utilização da tecnologia BIM tenha sucesso, é necessária uma mudança cultural a respeito do processo de projetos como um todo, estabelecendo novos paradigmas. No sistema atual, o coordenador de projetos frequentemente é contratado apenas para as fases de Identificação e Solução de Interfaces de Projeto e de Detalhamento de Projetos, não participando da fase inicial do projeto (Concepção e Definição do Produto) e nem da etapa pós-entrega. A não participação do coordenador de projetos nessas etapas impossibilita a melhoria contínua do processo, visto que os problemas decorrentes dos projetos constatados na fase pós-obra não são reportados ao coordenador, impedindo que suas causas sejam tratadas e permitindo que se tornem recorrentes em projetos posteriores. Também se observa que os projetos são desenvolvidos de forma bidimensional e isolada por diferentes equipes em sua especialidade (elétrica, hidráulica, estrutural, entre outros). Esse formato de gerenciamento consiste em sobreposição de projetos a fim de detectar possíveis interferências entre as diversas disciplinas. Porém, esse método é falho, uma vez que grande parte das inconsistências de projetos não é detectada na fase de projeto e sim na fase da construção, forçando uma tomada de decisão – que deveria ser realizada na fase de projeto – durante a execução do projeto, gerando custos, retrabalhos e interferências estéticas. Ou seja, este método de coordenação limita as soluções e subestima o potencial dos sistemas e suas interfaces. FABRÍCIO (2008) também enfatiza que no modelo tradicional da coordenação de projetos a interação entre os profissionais envolvidos ocorre de forma cartesiana, onde cada profissional se sucede no processo de projeto, acrescentando sua contribuição particular ao todo.

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Embora o BIM seja uma importante ferramenta para garantir a qualidade dos projetos desenvolvidos, percebe-se através desse estudo que a tecnologia sozinha não trará resultados. O software em si detecta interferências de forma automática, mas não propõe a melhor solução para as mesmas, desta forma continuam se fazendo necessárias as análises profissionais baseadas em conhecimento, experiências e normas técnicas. Mais que isso, para que o BIM possa nos proporcionar benefícios reais e para que tenhamos projetos melhores, precisamos mudar o foco da coordenação de projetos, assimilando a importância de criar envolvimento de todos os agentes envolvidos no projeto desde o início do mesmo, coordenando a conceituação e caracterização clara de todos os elementos resultando em um projeto otimizado, com soluções melhores em vários aspectos, livre de interferências prejudiciais entre sistemas e com todas as interfaces resolvidas, de modo a facilitar a construção, evitando a necessidade de criar soluções emergenciais durante a execução, aumentando a credibilidade dos projetos e garantindo a documentação de informações corretas para uso em toda a vida útil do empreendimento. Para isso, as evoluções tecnológicas devem ser aliadas ao conhecimento de um bom profissional para coordenar todas as informações e promover melhorias ao produto durante o desenvolvimento do projeto. Ocorre, no mercado brasileiro, um movimento de jovens profissionais que estão buscando novos conhecimentos e apostando nessa mudança no estilo de projetar em BIM. Porém, muitas vezes esses profissionais recém-formados não possuem expertise técnica em projetos e tampouco na construção dos mesmos. Esse fator contribui para a perpetuação dos problemas em qualidade na entrega de projetos, visto que os profissionais experientes frequentemente não estão familiarizados ou atualizados com novas tecnologias. O ideal seria unir os esforços destes profissionais jovens e atualizados com novas tecnologias com a expertise dos profissionais experientes e seu amplo conhecimento em falhas de projeto, problemas executivos dos projetos e patologias construtivas decorrentes das etapas citadas nesse estudo. É imprescindível que a gestão da Coordenação de Projetos ocorra de forma colaborativa, ou seja, com a participação de todos os profissionais multidisciplinares que compõem o processo de projeto desde sua concepção até sua ocupação/pós-execução. Não é possível implantar apenas um software compatível com BIM e permanecer com o método convencional de projetar. São vitais a padronização e a organização dos dados, com apoio de um líder comprometido com a comunicação e planejamento do processo desde sua etapa inicial até o fechamento do projeto, retroalimentando o ciclo e buscando a melhoria contínua do processo de projeto. Essa reformulação do processo de projeto vem ocorrendo de forma tímida, porém, acredita-se que de forma definitiva e irreversível.

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REFERÊNCIAS AGESC – Associação dos Gestores e Coordenadores de Projeto. Manual de escopo de coordenação de projetos. São Paulo, 2007. Disponível em: . Acesso em: 24/04/2015. COELHO, S. S. Modelagem de Informações para Construção (BIM) e ambientes colaborativos para gestão de projetos na construção civil DURANTE, F. K. O uso da metodologia BIM (Building Information Modeling) para gerenciamento de projetos: Gerente BIM. 2013. 118 p. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Engenharia Civil) – Universidade Estadual de Londrina. Londrina. 2013. EASTMAN, C. et al. BIM Handbook: a guide to building information modeling for owners, managers, designers, engineers and contractors. United States of America, 2011. FABRÍCIO, Márcio M. O Arquiteto e o Coordenador de Projetos. São Paulo, 2008. Pg 26 a 50. Artigo publicado na Revista USP. Disponível em: - Acesso em 31/05/2015 FLORIO, W. Contribuições do building information modeling no processo de projeto em arquitetura, In: SEMINÁRIO TIC 2007 – TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO NA CONSTRUÇÃO CIVIL, 2007, Porto Alegre. Anais... Porto Alegre: TIC 2007, 2007. CD‐ROM. FRANCO, L. S. Aplicação de diretrizes de racionalização construtiva para a evolução tecnológica dos processos construtivos em alvenaria estrutural não armada. 1992. Tese (Doutorado) – Escola Politécnica, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1992. LYRIO FILHO, A. M. Contribuição à modelagem de empreendimentos imobiliários: Um enfoque operacional da fase de incepção. 2006. Dissertação (Mestrado) – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade Federal Fluminense, Niterói-RJ, 2006. MANZIONE, L. Proposição de uma Estrutura Conceitual de Gestão do Processo de Projeto Colaborativo com o uso do BIM. 2013. Tese de Doutorado – Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2013. MELHADO, S. B. Gestão, coordenação e integração para um novo modelo voltado a qualidade do processo de projeto na construção de edifícios. 2001. Tese (Livre docência) ‐ Escola Politécnica, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2001. MELHADO, S. B. Coordenação de Projetos de Edificações. 2005. Editora Nome da Rosa, São Paulo, 2005. NASCIMENTO, L. A. Proposta de um sistema de recuperação de informação para extranet de projeto. 2004. Dissertação (Mestrado) – Escola Politécnica, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2004. NIBS (2008) - United States National Building Information Modeling Standard, version 1 - Part 1: Overview, principles, and methodologies. SILVA, J. M. S. Princípios para o desenvolvimento de projetos com recurso as ferramentas bim. 2013. 125p. Dissertação de Mestrado – Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, Portugal. SOUZA, L. L. A.; AMORIM, S.R.L.; LYRIO, A. M. Impactos do uso do BIM em escritórios de arquitetura: oportunidades no mercado imobiliário. São Paulo, 2009. Pg 26 a 53. Artigo publicado na revista Gestão & Tecnologia de Projetos – Vol.4 – USP. Disponível em < http://www.revistas.usp.br/gestaodeprojetos/article/view/50958>. Acesso em 29/05/2015

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