Os desafios de Evo Morales com a mineração

June 14, 2017 | Autor: L. Moreira de Alc... | Categoria: Bolivia, Mineração
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20/12/2015

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Internacional

Os desafios de Evo Morales com a mineração Elder Barbosa e Lívia Alcântara ­ Especial para Carta Maior

postado em: 22/02/2010

"... Á tarde chegaram os mineiros com as suas faces de pedra e os seus capacetes de plástico colorido que os assemelham a guerreiros de outras terras. As faces impassíveis, com a moldura invariável do eco da montanha devolvendo as descargas enquanto o vale apequenava o caminhão que os trazia, eram um espetáculo interessante...".  Ernesto Che Guevara A imagem do espetáculo que Che Guevara nos deixou em seu diário, escrito enquanto visitava as minas de tungstênio da Bolívia nos anos 50, pode ser presenciada ainda hoje nas minas de Potosí. Na mina morena, um dos locais que mais recebe turistas, mineiros com equipamentos e condições de trabalho precárias são vistos aos montes dentro dos labirintos de pedra, que chegam a 240 metros de profundidade e quase 50 graus Celsius de temperatura nos níveis mais profundos. Perto da entrada do local são encontradas tendas que vendem os mais variados produtos para os trabalhadores, que vão desde folhas de coca para atenuar a fome durante o trabalho, até dinamites por 20 bolivianos (aproximadamente 6 reais). O que impressiona é o alto consumo de álcool, a guia turística local, Gilka Alacón, conta que cada mineiro costuma consumir duas garrafas de água ardente (com 97% de álcool) em dias de oferenda à Tío, deus dos mineiros. Os acidentes são corriqueiros devido à deteriorização das bases de sustentação das rochas, depois de mais de 500 anos de exploração inconseqüente da montanha.  A Mina Morena é uma das 362 minas que se encontram na montanha Cerro Rico a quase 4800 metros de altitude acima do nível do mar. Cerro Rico foi uma das mais importantes fontes de minério desde a colonização espanhola no século XVI. Conta­se que a prata da montanha foi descoberta por acaso, quando um pastor de lhamas, procurando por seu animal perdido, encontrou prata à flor da terra. Em 1545 os espanhóis tomam conhecimento da riqueza encontrada, e começam a explorar os minérios da montanha utilizando a mão­de­ obra escrava dos indígenas da região, que chegavam a passar toda sua vida dentro dos escuros túneis da mina. Segundo relatos históricos, mais de 8 milhões de pessoas morreram nos primeiros anos de exploração da montanha, resultando em um montante de minérios que daria para construir uma ponte de prata ligando Potosi à Espanha. Para o historiador uruguaio Eduardo Galeano, a cidade mineira "é aquela que mais deu ao mundo, e a que menos tem". http://www.cartamaior.com.br/detalheImprimir.cfm?conteudo_id=15552&flag_destaque_longo_curto=L

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Em 1952, as minas de Cerro Rico foram nacionalizadas em concomitância com o processo de reforma agrária conduzido no país, o que gerou uma acomodação dos movimentos sociais campesinos, e alçou o setor mineiro à condição de maior força social da Bolívia e parceiro estratégico dos setores da esquerda no país. Em 1967, na ocasião da guerrilha do lendário Che Guevara no sul do território boliviano, foi organizado o Ampliado Nacional dos Mineiros com o itento de se discutir a inserção da classe no movimento insurrecional armado. O governo, ciente da força mineira, tratou de massacrar os participantes do evento ocasionando a morte de mais de 87 pessoas, na chamada "La noche de San Juan", e terminando por enfraquecer a guerrilha de Guevara. Após a privatização das minas estatais nas reformas neoliberais de 1985, houve um grande número de demissões, levando o surgimento das cooperativas.   

A divisão entre os mineiros da Bolívia ficou explícita após a chegada de Evo Morales à presidência com a proposta de nacionalizar os recursos naturais da Bolívia, inclusive as minas. O ápice das divergências de interesses aconteceu em outubro de 2006, em um conflito entre cooperativados e mineiros empregados pelo Estado na cidade de Huanuni (depatamento de Oruro), pelo direito de exploração e possessão do monte Pokoni, o mais rico em estanho da América do Sul. O enfrentamento terminou com 16 mortos, a transferência da administração da mina para a estatal Comibol (Cooporação Mineira da Bolivia) e ainda postergou o processo de nacionalização das minas.   

Mais de 4000 trabalhadores na montanha Cerro Rico se organizam em cooperativas, que são filiadas à Federación Departamental de Cooperativas Mineiras (Fedecomim). Fidel Ruiz, secretário social da federação em Potosí, diz que trabalhou 29 anos nas minas e hoje se dedica à atividades administrativas no escritório da Fedecomim, localizado no centro de Potosí. Segundo ele, o apoio dado pela cooperativa aos trabalhadores é quase nulo, já que o custeio dos equipamentos de exploração e segurança saem do bolso dos próprios mineiros cooperativados. Em contrapartida, os associados devem prover 5% de todo o montante de minérios extraídos às cooperativas, afim de que paguem os gastos da mesma, que vai desde serviços da limpeza e contratação de secretários que atuam nas sedes até a conta de telefone. Quanto ao governo Evo Morales, Ruiz afirma que a classe vem reinvidicando mais equipamentos além dos três engenhos de separação de minérios doados pelo governo federal no começo do ano, a despeito das críticas de Evo, que considera as cooperativas como pequenas empresas privadas.   

A doação do governo não caiu bem aos olhos da Federación Sindical de Trabajadores Mineiros de Bolivia (F.S.T.M.B). Francisco Portillo Quispe, secretário de regimento interno da Federação de Sindicatos, reclama que o governo dá mais apoio às cooperativas do que aos sindicatos, por estes estarem relacionados ao setor privado. Apesar disto, Francisco, que enxerga a manutenção das fontes de trabalho como a principal função dos sindicatos, se mostra satisfeito com o incremento salarial de 12% alcançado no ano passado e está otimista para um novo aumento em maio deste ano. A grande reinvidicação sindical ao governo Evo Morales é o fortalecimento das indústrias de matéria­prima que hoje se encontram inoperantes nos arredores das minas do país. Para Francisco, a medida resultaria no aumento do número de empregos e na circulação do comércio interno, barateando os produtos que hoje só são encontrados através da importação.  

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Apesar de serem duas organizações de trabalhadores mineiros, os sindicatos e as cooperativas não têm muita coisa em comum para Francisco Portillo Quispe: "Não temos nenhum tipo de relação com as cooperativas. Estamos em lados opostos". Para ele, enquanto os sindicalistas buscam por melhores condições de trabalho, as cooperativas buscam sua autonomia em relação ao Estado e às leis trabalhistas, estendendo suas jornadas de trabalho em até 12h por dia, em busca da extração de mais minérios. Essa discrepância no número de horas de trabalho é vista também na renda mensal, enquanto os cooperativados, em épocas de alta cotação dos minérios, chegam a arrecadar 5000 bolivianos por mês, os assalariados recebem salários fixos de aproximadamente 3000 bolivianos, segundo Fidel Ruiz e Francisco Portillo Quispe.  

Diante deste contexto, o governo Evo Morales teve que adiar a nacionalização das minas e investir na revitalização da mineração no primeiro mandato. Os anseios dos sindicatos parecem ser a prioridade para o novo Ministro de Minería y Metalurgia José Pimente, que assegurou que a industrialização dos minerais, em especial do lítio e do ferro, e o investimento na indústria pesada são prioridades na segunda gestão que se inicia agora.  (*) Elder Barbosa e Lívia Alcântara são estudantes de comunicação e blogueiros do Bangalo de flores  

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