OS DESAFIOS E PERSPECTIVAS NO PROCESSO DE INCUBAÇÃO PELAS UNIVERSIDADES DE EMPREENDIMENTOS ECONÔMICOS SOLIDÁRIOS DE TRABALHADORES COM MATERIAIS RECICLÁVEIS DA REGIÃO DE PRESIDENTE PRUDENTE, SÃO PAULO.

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XVII Encontro Nacional de Geógrafos - XVII ENG Belo Horizonte – 22 a 28 de julho de 2012 UFMG – Campus Pampulha

OS DESAFIOS E PERSPECTIVAS NO PROCESSO DE INCUBAÇÃO PELAS UNIVERSIDADES DE EMPREENDIMENTOS ECONÔMICOS SOLIDÁRIOS DE TRABALHADORES COM MATERIAIS RECICLÁVEIS DA REGIÃO DE PRESIDENTE PRUDENTE, SÃO PAULO. Letícia Roberta Trombeta [email protected] UNESP – Campus de Presidente Prudente Bolsista de Extensão no País – CNPq Bruna Dienifer Souza Sampaio [email protected] UNESP – Campus de Presidente Prudente Bolsista de Iniciação Tecnológica – CNPq Juliana Santos de Oliveira [email protected] UNESP – Campus de Presidente Prudente Bolsista de Iniciação Tecnológica – CNPq Lucas Bonato Rós [email protected] UNESP – Campus de Presidente Prudente Bolsista de Iniciação Tecnológica – CNPq Antonio Cezar Leal [email protected] UNESP – Campus de Presidente Prudente Professor do Depto de Geografia/FCT-UNESP e Pesquisador PQ/CNPq

INTRODUÇÃO Os debates ambientais e geográficos com relação à gestão dos resíduos sólidos urbanos tem se tornado cada vez mais relevante na sociedade contemporânea. O modelo de produção capitalista vigente no Brasil, que está disseminado na maioria dos países do mundo, é norteado por uma ideologia produtivista e de consumo exacerbado. Esse fator tem acarretado sérios problemas ambientais, podendo ser pontuado entre deles a questão do gerenciamento dos resíduos sólidos urbanos. Com o aumento do consumo e, consequentemente, da geração de resíduos, os lixões e aterros tem sua vida útil reduzida, demandando novas áreas para disposição

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final dos resíduos gerados nas cidades. Com isso, há uma segregação espacial das áreas ao entorno dos lixões, já que estas áreas podem propiciar uma redução da qualidade de vida por conta da má disposição final dos resíduos e de seus efluentes (FUJIMOTO, 2000). Há alguns anos que o enfoque ambientalista traz para as discussões a necessidade de conscientização para a importância da redução, reutilização e reciclagem dos resíduos sólidos, conhecido como os 3Rs, que são alguns dos princípios básicos para o gerenciamento dos resíduos sólidos urbanos. Surge, assim, o interesse na comercialização desses materiais recicláveis, que seguirão para indústrias e serão transformados em matéria-prima para outros produtos. Porém, este é um ciclo que tem um processo complexo, pois envolve o trabalho de muitas pessoas, como é o caso dos catadores de materiais recicláveis. De acordo com Pinhel et al (2011), Nos dias de hoje é muito difícil não perceber a importância desses trabalhadores. Esses homens e mulheres, jovens e idosos, intervêm de maneira fundamental no ciclo de limpeza e de vida dos produtos. Todos os dias os catadores impedem que toneladas de resíduos recicláveis sigam para os aterros ou sejam jogados nos lixões. Atuando paralelamente aos serviços municipais estima-se que esse exército de trabalhadores informais desvie, hoje, entre 10% e 20% dos resíduos urbanos para um circuito econômico complexo, que passa por intermediários e empresas de reciclagem de plástico, vidro, papel, alumínio e ferro.

Nesse cenário, uma das vertentes desta discussão é a constituição de associações ou de cooperativas de catadores de materiais recicláveis, para que estes trabalhadores tenham, através dessas alternativas, melhores formas de organização social e condições de trabalho, além da melhoria de sua renda e qualidade de vida. Diante desses fatores, esses empreendimentos precisam se adequar à legislação vigente para ter espaço na economia formal. Estes trabalhadores estão sujeitos a condições de vulnerabilidade social, originários de um sistema de trabalho precarizado e, na grande maioria, estavam excluídos do mercado de trabalho ou incluídos de forma indigna e degradante, trabalhando nas ruas e lixões.

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Assim, os projetos de incubação desses empreendimentos pelas universidades podem auxiliar na organização, autogestão e autonomia desses grupos, proporcionando trocas de conhecimentos entre universidade e sociedade. Esses debates teóricos têm tomado dimensões que sinalizam, cada vez mais, a urgência de ações práticas junto a esses empreendimentos para que participem ativamente da gestão dos resíduos sólidos nos municípios, sendo peças fundamentais na cadeia produtiva dos materiais recicláveis. Nesse sentido, apresenta-se a experiência do Núcleo de Presidente Prudente da Incubadora de Cooperativas Populares da UNESP, resultante da incubação de Empreendimentos Econômicos Solidários de trabalhadores com materiais recicláveis da região de Presidente Prudente, estado de São Paulo. O núcleo é composto por estudantes e professores da Universidade Estadual Paulista – Campus de Presidente Prudente, notadamente do curso de Geografia, e tem atuado junto aos seguintes empreendimentos da região de Presidente Prudente: Cooperativa de Trabalhadores de Produtos Recicláveis de Presidente Prudente (COOPERLIX), Associação Reciclando pela Vida de Álvares Machado (ARPV), Associação Rocha de Regente Feijó e Associação dos Catadores com Materiais Recicláveis de Martinópolis (ACAMART). Com isso, para a reflexão junto aos participantes do XVII ENG, apresenta-se este trabalho para a discussão do processo de incubação desses Empreendimentos Econômicos Solidários. A partir da experiência dos formadores, analisaremos quais são os maiores impasses que se colocam aos universitários iniciantes no processo de incubação nos empreendimentos solidários em questão. Quais as descontinuidades e os estranhamentos na realização das atividades e discussões dos problemas cotidianos dos grupos incubados.

OBJETIVOS Objetivo Geral

Este trabalho tem como objetivo geral evidenciar as dificuldades e os desafios frente ao processo de incubação de organizações de catadores de materiais recicláveis, no sentido de propiciar a interlocução com outros pesquisadores do tema, visando

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melhorar a percepção dos formadores iniciantes que atuam na incubação destes empreendimentos.

Objetivos Específicos 

Contribuir com a organização e capacitação dos catadores de materiais recicláveis dos empreendimentos incubados;



Fomentar um processo de capacitação que vise à autonomia da gestão dos empreendimentos pelos cooperados ou associados;



Identificar as primeiras dificuldades e barreiras postas dentro da realidade do empreendimento solidário;



Buscar apoio da comunidade, poder público municipal, entre outros parceiros, para fortalecimento dos grupos.

METODOLOGIA O presente trabalho concentra inúmeros desafios metodológicos, uma vez que ainda encontra-se em construção as ferramentas que podem ser utilizadas para uma melhor percepção da realidade dos incubados e para uma melhor ação de apoio e incentivo para melhoria desses grupos. Por último, estão as dificuldades em identificar as problemáticas que se colocam no processo de produção e manutenção desses empreendimentos (organizações dos catadores). Por enquanto, as metodologias que estão sendo empregadas para superar as dificuldades operacionais são: a ampla pesquisa e revisão bibliográfica sobre os temas que norteiam o presente estudo, o diálogo entre os pesquisadores que participam dos projetos de incubação, realizando trocas de experiências, além de levar em consideração todas as ferramentas utilizadas por estes, como questionários, oficinas, reuniões, eventos, dentre outras atividades práticas. Além disso, são utilizadas imagens que retratam os eventos e atividades realizadas nos empreendimentos para vencer cada etapa dos desafios que a incubação nos impõe, formando um histórico dessas ações que permitirá efetuar comparações e resultados das ações de incubação.

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RESULTADOS PRELIMINARES O processo de incubação desses grupos possibilita aos formadores – estudantes, professores e comunidade- engajados nesse processo, aliar o ensino, a pesquisa e a extensão. Nesse ambiente de empreendimentos de economia Solidária é produzida uma quantidade de conhecimentos diferentes dos conhecimentos acadêmicos que nos leva a uma transformação social. Dubeux (2011) afirma que A incubadora tem uma perspectiva pedagógica em relação aos grupos que incuba, no apoio ao processo de aprendizagem em torno da autogestão que impacta na dimensão coletiva dos empreendimentos econômicos solidários e da transformação de certos aspetos da subjetividade de seus membros.

Outros recursos utilizados pela metodologia da Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares (ITCP) da UNICAMP, que desenvolve inúmeros trabalhos de incubação com diferentes grupos. Os trabalhos desenvolvidos pela ITCP/UNICAMP se inspiram na prática educativa e cotidiana junto aos empreendimentos, mas traz à tona também outra “perna” do tripé da universidade: a pesquisa. Assim, reflete sobre a prática, a experiência, a investigação e a ação na relação entre universidade e sociedade que pensadas, analisadas e recriadas, tornam-se uma forma de conhecimento (ITCP/UNICAMP, 2009).

As atividades proposta pela ITCP/UNICAMP são classificadas em categorias: Diagnóstico, Planejamento, Avaliação, Autogestão, Produção, Coesão e Conflito, Organização Política, Comunicação, Criação e Arte, Corpo e Saúde, Identidade e Gênero. Muitas dessas categorias são utilizadas no processo de incubação que nosso núcleo da UNESP Campus de Presidente Prudente adotou para realizar algumas atividades, principalmente, através de oficinas educativas. Assim, para se adequar a esta realidade, foi necessário um aprofundamento teórico em dois conceitos essências para o desenvolvimento das atividades de incubação, Economia Solidária e Educação Popular.

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Segundo Singer (2000), a Economia Solidária é compreendida em todo o processo de acompanhamento como sendo Um conjunto de atividades de produção, comercialização ou reciclagem, onde a principal característica é a pluralidade de princípios econômicos, que se apóia sobre as dimensões do Estado, do mercado e da sociedade civil. Uma economia dos trabalhadores e para os trabalhadores, notadamente marcada pela democracia na gestão dos grupos, permite não somente inserção socioeconômica das pessoas pelo trabalho, mas também a transformação social em direção de ideias de igualdade e justiça.

Outro conceito fundamental é o de Educação Popular, que compreende a Uma concepção de educação que se dá por meio de processos contínuos, permanentes de formação, e que possui a intencionalidade de transformar a realidade a partir do protagonismo dos sujeitos. Nos processos de educação popular tal concepção é vivenciada a partir da realização de ações conjuntas com educadores populares, redes e organizações sociais populares, como também equipes responsáveis pela implantação e controle social das políticas públicas. As atividades formativas acontecem por meio da vivência teórico-metodológica, em círculos de culturas que permitem a leitura do mundo, o aprofundamento teórico e a elaboração de estratégias de ação: a prática reflexiva (FREIRE, 2003).

Assim a organização de instrumentos que auxiliem no processo de educação popular é de fundamental importância. A educação é diálogo, comunicação, troca de saberes, sensibilização, fazer uma abstração por meio do concreto, entre outros (ITCP/UNICAMP, 2009). São realizados encontros semanais com nos empreendimentos solidários. O núcleo atualmente dispõe de quatro formadores, onde cada um desenvolve atividade com um grupo: COOPERLIX, ARPV, Associação Rocha de Regente Feijó e ACAMART. Nesses encontros são realizadas oficinas, reuniões para discussão de decisões coletivas, além de cursos de capacitação de prevenção de acidentes no trabalho, melhor triagem dos materiais recicláveis, assuntos jurídicos e contábeis, informática, entre outros (FIGURA 1).

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Figura 1. Realização de atividade de formação no Empreendimento Econômico Solidário.

O que se busca é manutenção das relações das associações e cooperativas com o poder público municipais, adequações no processo produtivo e na organização do trabalho. Tanto os empreendimentos quanto o grupo de formadores tem grande rotatividade dos integrantes. Esse fato desestabiliza a continuidade de alguns trabalhos em desenvolvimento, fazendo que os formadores iniciantes tenham dificuldades na percepção das necessidades do empreendimento solidário e, principalmente, na retomada dos trabalhos que estavam se desenvolvendo por outros formadores. As problemáticas suscitadas no decorrer deste trabalho já são capazes de nos dar pistas dos caminhos a serem seguidos para obtenção dos resultados desejados. Portanto, nossa busca por resultados que melhorem a qualidade e o quadro de continuidade dos trabalhos de incubação parte de uma perspectiva analítica dos problemas pontuais que envolvem a temática. Quanto aos desafios de comunicação e construção de identidade entre incubador e grupo incubado, o que pudemos perceber é que o fortalecimento da continuidade dos trabalhos de incubação já será de grande ajuda para que não haja um estranhamento tão intenso frente aos empreendimentos pelos pesquisadores iniciantes na temática. Além disso, o acompanhamento inicial de um pesquisador do grupo, mais experiente, já é

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capaz de amenizar alguns dos primeiros impasses com relação à comunicação com os grupos. Já com relação às dificuldades em sistematizar os métodos a serem aplicados nos empreendimentos incubados, será intensificada a procura por diversas metodologias de incubação e o desafio de concentrar esforços para desenvolver nossa própria metodologia de atuação para maior compreensão da realidade e do cotidiano desses grupos de trabalhadores. Porém, o processo de incubação é um dos fatores que fortalece os empreendimentos Econômicos Solidários, mas se não houver investimentos, infraestrutura, políticas públicas que visem esses grupos solidários, a incubação poderá tornar-se pouco eficiente para a melhora da qualidade do trabalho e da renda dessas pessoas. Com esta reflexão o presente trabalho busca possibilitar uma melhora na percepção das dificuldades destes formadores iniciantes no processo de incubação e a partir dessa análise propiciar o diálogo sobre as possíveis e mais viáveis soluções e caminhos para esses impasses que se colocam frente à esta realidade. Além de se propor a lançar um debate sobre as experiências e diversidade de ações dentro do processo de incubação, que contribuem cada vez mais para a melhoria da identidade deste trabalho nos Empreendimentos Econômicos Solidários, que necessitam de auxílio para o seu desenvolvimento e construção de sua autonomia. As expectativas são que esses grupos se fortaleçam e se insiram nas discussões sobre os resíduos sólidos urbanos enquanto classe trabalhadora deste segmento, que tenham voz ativa nas tomadas de decisões no que dizer respeito ao seu “objeto” de trabalho e de garantia de sobrevivência. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS DUBEUX, Ana. Incubação de grupos de catadores de resíduos sólidos, compartilhando conhecimentos e construindo inovação social. In: ZANIN, Maria; GUTIERREZ, Rafaela Franscisconi (Org.). Cooperativas de catadores: reflexões sobre práticas. São Carlos: Claraluz, 2011. FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. Rio de janeiro: Paz e Terra, 2003.

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FUGIMOTO, Nina Simon Vilaverde Moura. A urbanização brasileira e a qualidade ambiental. In: SUERTEGARAY, D. M. A.; BASSO, L. A.; VERDUM, R. (Org.). Ambiente e Lugar no Urbano: A Grande Porto Alegre. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2000. ITCP UNICAMP. Empírica. Campinas, SP: Instituto de Economia, 2009. PINHEL, Julio Ruffin; ZANIN, Maria; DEL MÔNACO, Graziela. Catador de resíduos recicláveis: um perfil profissional em construção. In: ZANIN, Maria; GUTIERREZ, Rafaela Franscisconi (Org.). Cooperativas de catadores: reflexões sobre práticas. São Carlos: Claraluz, 2011. SINGER, Paul. Economia solidária: um modo de produção e distribuição. In: SINGER, Paul; SOUZA, André Ricardo de (Org.). A economia solidária no Brasil. São Paulo: Cortez, 1997.

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