OS DESDOBRAMENTOS DA FALTA DE CONTROLE DAS PAIXÕES E A PROBLEMÁTICA DO AMOR SENIL NA PEÇA O MERCADOR DE PLAUTO

May 22, 2017 | Autor: Stefanie Silva | Categoria: Latin Literature, Ancient Greek and Roman Theatre
Share Embed


Descrição do Produto



OS DESDOBRAMENTOS DA FALTA DE CONTROLE DAS PAIXÕES E A PROBLEMÁTICA DO AMOR SENIL NA PEÇA O MERCADOR DE PLAUTO.

Stefanie Cavalcanti de Lima Silva 1




Na Roma Antiga, havia elementos que norteavam a sociedade e pautavam o comportamento dos cidadãos romanos, principalmente os livres; tais elementos são elencados no texto Moralidade Sexual na Roma Antiga, de Rebecca Langlands, e são eles: o olhar moralizante da comunidade, a experiência reguladora do pudor, as leis, os deuses onipresentes e a tradição exemplar. A sociedade tinha o direito de julgar atitudes erradas e até punir os culpados, se a família não o fizesse em um prazo pré determinado.
Mesmo que na prática isso não acontecesse corriqueiramente, havia muito rigor nas leis em relação à moralidade sexual e ao comportamento dos cidadãos livres romanos, principalmente os mais experientes/mais velhos. A palavra de ordem era o comedimento, o cidadão romano deveria controlar suas paixões; o sexo era comparado ao vinho e à comida, "[…] coisas que em si mesmas não são más, de fato são tidas como necessidades, mas devem ser apreciadas com moderação." (Sexual Morality in Ancient Rome, página 134). O cidadão romano que conseguia controlar seus desejos era considerado uma pessoa verdadeiramente nobre, principalmente os mais velhos; esses deveriam, como sábios, servir de exemplo e modelo para os mais jovens.
Sabemos que as peças de Plauto eram adaptações de peças gregas para o contexto social romano, logo encontraremos tais valores morais explicitados em suas peças. O Mercador traz à tona algumas questões relativas ao amor e ao se deixar levar pelas paixões tanto na juventude como na velhice. O amor (carnal) não é bem visto na velhice e é esse ponto que irei explorar no texto de Plauto. Usarei como centro de minha análise o personagem Demifão, seus atos e consequências e também irei destacar como os demais personagens julgam seus atos.

1 Stefanie Cavalcanti de Lima Silva é aluna da disciplina Literatura Latina I – 2015.2, ministrada pelo Prof. Francisco Edi Sousa, na Universidade Federal do Ceará – UFC.
Na cena II, ato II, temos um diálogo entre Demifão e Lisímaco, seu vizinho e amigo, no qual o primeiro conta que está apaixonado; a reação de espanto e as críticas do amigo mostram como tal prática era inaceitável naquela época e como aquele homem, por estar velho, deveria se resguardar de tais sentimentos. Demifão diz a Lisímaco: "Hoje comecei a ir à escola primária. Já aprendi três letras, Lisímaco. […] A-M-O". (Plauto, O Mercador 300-305). Ao afirmar que começou a ir à escola primária, Demifão se coloca na posição de um menino, pois é assim que ele se sente por estar apaixonado por uma mulher mais jovem. Podemos interpretar também que ele se sente um menino por causa de sua atitude, já que não se espera que um homem velho se entregue às paixões. A resposta de Lisímaco é uma crítica à atitude do amigo: "Você ama com a cabeça branca, velho imprestável?" (Plauto, O Mercador, p.305). O pensamento do amigo era o mesmo da sociedade, a situação de Demifão era vergonhosa e inaceitável: um homem da idade dele deveria controlar suas paixões. Tentando se justicar para o vizinho, Demifão usa os exemplos de pessoas de alto nível social e até a figura dos deuses:

"Não há nada que você possa censurar em mim;
antes outros homens ilustres fizeram a mesma coisa.
Amar é humano e isso acontece por vontade dos deuses.
Não me censure, não foi a minha vontade que me levou a isso."
(Plauto, O Mercador 315 – 320)

Na segunda cena do terceiro ato, Demifão tenta convencer a si mesmo e mostrar ao público que, apesar da idade, ele tem direito de amar e aproveitar o que lhe resta da vida (versos 545 – 555). "[…] Já é breve o tempo restante de vida: pois, eu me deleitarei com prazer, vinho e amor. Na verdade é bastante justo alguém ter o bem nessa idade."
Apesar de terem a mesma idade, na situação vivida na peça, Demifão e Lisímaco são bem diferentes e o segundo tenta trazer o amigo de volta ao juízo mostrando como suas atitudes são ridículas. De uma maneira cômica, Lisímaco repreende Demifão a respeito de seus planos para com a jovem: "Você é todo magrelo, com mau hálito, um velho com cheiro de bode, vai beijar uma mulher? Para provocar vômito a uma mulher, quando chegar?" (Plauto, O Mercador, p.575).
Percebemos claramente no texto que o velho apaixonado perde seu juízo e a consciência sobre seus atos, fazendo com que suas atitudes sejam questionadas e criticadas o tempo todo. "Que Demifão ame é pouca desgraça, mas que além disso seja também demasiadamente gastador?" (Plato, O Mercador, p. 691 e 692). Um homem da idade de Demifão deveria ter um comportamento exemplar diante da sociedade, deveria controlar suas paixões e agir de acordo com a moral da sociedade romana da época.
A questão moral da peça, que trará Demifão de volta à razão, é trazida pelo jovem Eutico. "Mais verdadeiro é isso. Pois, não é certo que em sua idade você roube a amiga de seu filho, jovem apaixonado, comprada com o dinheiro dele." (Plauto, O Mercador 973). A partir desse momento, Demifão começa a cair em si e percebe a gravidade da situação, demonstrando arrependimento: "Por Hércules, se eu tivesse sabido ou se ele ao menos me tivesse dito, que a amava, nunca teria a roubado para ser minha amante".
A peça termina com um solilóquio de Eutico falando sobre como as leis deveriam ser mais rígidas com os velhos e mais flexível com os jovens. Para ele um homem com mais de 60 anos, casado ou solteiro, não deve se envolver com uma meretriz; mas um jovem, que nessa idade pode correr riscos, pode amar quem quiser e até mesmo ter uma amante. Apesar do personagem Carino, filho de Demifão, também perder a razão e não controlar suas paixões, suas atitudes são "aceitáveis" por ele ser jovem e estar na idade de cometer tais erros; um homem velho deveria ter uma attitude diferente.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
LANGLANDS, Rebecca. Moralidade Sexual na Roma Antiga. Cambridge University Press, 2006.

PLAUTO, O Mercador, in BARBOSA, Damares. O mercador de Plauto: estudo e tradução. São Paulo, Banco de dissertações da USP, 2008.

SANFELICE, P. P. Sexualidade, amor e erotismo na Roma Antiga: as representações de Vênus nas paredes de Pompeia. OPSIS (UFG).





1
1

Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.