Os dias de Brasil

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Os dias de Brasil David José Gonçalves Tierro Ramos

Janeiro-fevereiro-março 2004

Um sumário Capítulo primeiro - As semanas e as poesias................................................................. Capítulo segundo - Nada pode nos unir mais................................................................. Capítulo três - Os dias de Brasil....................................................................................... Capítulo quatro - As considerações sobre a harmonia, a paz e a felicidade.............. Capítulo quinto: - As considerações sobre o amor......................................................... Capítulo sexto - A faculdade de falar sobre a causa do movimento............................

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A imprensa policial do Brasil não auxilia em nada a resolução dos índices de violência que ela mesma noticia. Muitos são os motivos e os interesses. Programas que se dizem aliados da polícia no combate ao crime, mostrando criminosos, mostrando a ação dos militares, e contando aquelas histórias sangrentas que podem sem encontradas em cada canto do Brasil. São repórteres ferozes, aparentemente dispostos a tudo para mostrar a verdade. Mas o que fazem é insistir na moral fraudulenta e baixa da falta de diálogo, da falta de perspectiva pedagógica, da falta de argumento. Eles não ajudam ninguém nesse país. Ninguém que precisa de ajuda. Eles tratam toda a palavra para que entorpecidos esqueçamos, na generalidade de quem está interessado em manter o povo na ignorância sobre o que lhe ocorre. Nem todas as drogas são iguais. E não existem as tais verdades que eles juram defender. Não é possível ser feliz e ser como aqueles repórteres dizem que devemos ser incompatibilidade, meu amor, grandes incompatibilidades. Também são tristes os advogados. Também é triste a lei, e também são tristes as prisões, também é triste o carcereiro. E tudo que se relaciona ao sistema penitenciário brasileiro é triste. Alguns universos não resistem ao próprio peso, meu amor. Mas tudo isso é só o começo. Estive reparando as crianças. Elas são as novas linhagens. E estão por toda parte. Temos uma responsabilidade com elas. Temos um compromisso com o mundo que elas irão construir. Algumas coisas podemos tirar definitivamente desses novos mundos. Algumas coisas não precisam existir definitivamente. Elas contrariam o

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princípio da possibilidade. Consiste nisso a causa, meu amor. A causa é a luta imperativamente categórica. É o acordar. As crianças acordam lingüisticamente. E as palavras são ferramentas. Lembro-me do impacto que tive ao ler Wittgenstein. Lembro-me do impacto que tive quando ouvi Nirvana, e me lembro da grandiosidade que foi conhecer você. Daqui a alguns anos poderemos passar os finais de semana em marte, ou inventaremos a cura para todos os males. E o tamanho de deus ficará reduzido. Os fieis abandonam sempre as proposições mais difíceis em primeiro lugar, quando começam a afundar em um mar de arrogância e ódio. O amor é muito difícil para eles. Eles possuem o nome de deus em suas moedas, mas não sabem amar nem mesmo sua família. As palavras são ferramentas, meu bem. As crianças vão utilizá-las para fazer o novo mundo. E podemos viver sem muitas coisas. Sem o ódio ou o assassínio. A tragédia se reduziria então, se fizéssemos isso. Se parassem de fabricar toneladas de armas de fogo a cada minuto em todas as partes da terra. Armas foram feitas apenas para a morte. Mas você me faz falar apenas de amor.

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Capítulo primeiro1:

As semanas e as poesias De como somos incapazes de amar um pequeno ensinamento popular Fenício fala sobre a relação entre a poesia e a vida mesma Há algumas pessoas que estão no mundo E eu nunca vou conhecê-las Por que estão distantes de mim E mesmo de meus pensamentos Há algumas pessoas que eu gostaria de ter conhecido Algumas pessoas eu deveria ter conhecido Antes que elas deixassem de existir Por que talvez elas tivessem algo tão importante para me dizer Sobre os mistérios da existência das coisas Que ninguém jamais dirá um dia E isso não é tão importante quanto as possibilidades Que ainda são possíveis Que ainda nos são possíveis Como as que podem me levar a conhecer outros homens e mulheres No mundo Sem a pretensão de devorar todos os momentos Ou comprá-los, e mesmo roubá-los Para que eu ainda possa fazer poesia Como não pode fazer quem mata O emblema que sustenta A materialidade do mundo de objetos 1

Esse capítulo é formado das poesias que foram divulgadas com o título de Semana da Poesia, no período de 2002-2004.

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Nos faz imaginar que reais são nossas pretensões E o judiciário é algo assim E a política é algo assim A religião é algo assim E isso pode ser tão importante quanto as possibilidades De liberdade De justiça De deus Isso ocorrendo no mundo Para que eu ainda possa fazer uma poesia Ainda que de protesto Como não pode fazer quem mente E a impossibilidade de amor, que você anuncia Isso ai que você anuncia Nesse maldito comercial de banco Nesse impossível, sistema social filho da puta Nessas teorias ordinárias que a gente compra nas palestras Das faculdades medíocres de comunicação social Ou mesmo de pedagogia Ou, de teorias sobre o lúdico e a gestão democrática E isso deveria ser tão importante para nós Tudo isso, as teorias, as faculdades, a pedagogia Que nossas manifestações artísticas tinham que falar o tempo todo Que nós deveríamos ter percebido antes Antes mesmo de Itamar Assumpção E antes mesmo do Nirvana Isso ocorrendo o tempo todo agora Para que eu pelo menos possa tentar fazer um poema Coisa que quem representa o tempo todo não pode fazer

Suas lentes e antes delas Você com seus olhos de mel Como os olhos das grandes fêmeas Seus cabelos como as cachoeiras

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E longas cachoeiras Todas as selvas que eu deveria trilhar Para conhecer Para encontrar as grandes decisões da vida E poder dizer, organizando os papeis, Dizer que sim a você E ver todos os jardins Todos eles Alegres, cheios de pequenos e coloridos animais E borboletas E sobre as coisas que se escondem de nossa explicação E de nossas ideias brilhantes Você, com seu olhar de mel Com sua pele de palavras E traduções que eu não conhecia E possibilidade de outras coisas Todas as selvas que eu devia temer Mas viver, todas elas Dizer sim com você Entre outras pequenas promessas Só promessas Pois o hoje, não mudaria Isso é possível, minha flor Tudo isso Alegres e pequeninos mamíferos É o que somos Infinito e semanalmente, em comparação com o tamanho de tudo No universo Dentro de todo o tempo Que todas as coisas que existem Possuem

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Viagem a Bósforos em 230 a.C. Todas as cores e todas as coisas Todas as coisas do universo que explodem Eis o que pretendemos, E se for a harmonia eterna, o universo não nos obedecerá, Nós que somos humanos Diremos à todas as coisas o que realmente somos, Mas elas estão surdas para nossa fisiologia Isso que chamamos de amor, Mas que também pode ser um tanto de outras coisas Não basta ter a consciência, Ter a substância e pensar As maquinas que inventamos são nossos espelhos E levamos para onde isso que somos hoje? Para o frio espetáculo da angustia Que acontece sem o fundo musical de lágrimas, pois já estamos bem no segundo seguinte , ou mesmo que não, Para apodrecermos a juventude que ainda temos Um pouco mais devagar, meu rapaz! Isso é apenas uma dissertação de mestrado! Isso é apenas um simples curso, Isso apenas são alguns dias que se seguem Ora, você não viu ainda? Isso é apenas o calendário que fica antigo a cada dia, Afinal, onde vamos parar! Mas olha! Eu também sei que o Moderno está acabando A vida está acabando A justiça está acabando A solidariedade está acabada Os apelos para a velhice parecem mais convincentes Ficam lógicos a cada momento Em nossa época, especula-se o contrário O início do século é sempre assim Como foi para outros em Viena É aqui em Minas também

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Eu sempre andava só Eis! A inutilidade perfeita! Que faz o mundo inteiro ter o mesmo sentido O que ensinamos e o que aprendemos Isso é para que fiquemos no mesmo lugar E aplaudamos o mesmo espetáculo Inúmeras vezes Eis! O que nos redime é a esperança Todas as cores e todas as coisas Todas as coisas do universo que explodem E todas as coisas do universo explodem

A Propriedade da Palavra Dizem que o melhor pedaço da vida, É de quem pegar primeiro Dizem muitas coisas, E quando se tem poder, outras tantas se podem dizer O apresentador do jornal não pode arregalar os olhos e nos assustar Foram apenas doze assassinatos, ele disse! Em todo final de semana! E logo depois, como se isso não fosse nada, Passaram a conversar com uma psicóloga de cachorro Que explicava entusiasticamente a importância, A importância dos animais Mas o que você conhece da vida? O não saber? Isso faz com que a fé se torne uma piada O que de fato devemos amar? Uma propaganda norte-americana? Nosso solipsismo burocrático? Dentro dos olhos da burguesia Dentro dos olhos adolescentes dos filhos da burguesia Não há nada!

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Nenhuma imagem solidária Nenhuma esperança Apenas sonhos de prazer pessoal e realização econômica! Como um programa de computador funcionando, operando Selecionando as pessoas Selecionando as palavras, fugindo As vítimas aumentam O capitalismo triunfa E todos passamos a precisar de um PROCON Pois as relações são comerciais, formais, normatizadas Estamos educando gerações de consumidores Ávidos pela próxima novidade Assistindo propagandas de Bancos tentando ser gentis E o povo? Televisão, pinga, e desemprego? Brasil, samba, resistência? Maconha, sonhos, filhos, favelas? Minas, socialismo, literatura, Guimarães? Alegria, saudade, poesia? Analfabetismo funcional, escolas que requalificação? Silêncio ou monossílabos? O que você conhece de fato da vida? Os olhos dos advogados da burguesia Devoram a necessidade da ética E a sociedade brasileira mergulha Não em si mesma, como uma civilização deve fazer, Mas no ocaso, Na coincidência, Na sorte, Na novela, No descaso.

Naquela manhã de 1650, Em que o Cógito se reconciliou consigo!

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(ou como é ridículo o slogan da rede mundial de sanduíches sobre a possibilidade de se amar um lixo cultural tão torpe) Entre as perspectivas inférteis Que insistimos em cultivar para que possamos saber o que somos, Está aquela que afirma ser a estética da harmonia, o referencial. E isso nós colocamos em nossos altares, Como religiosos E procuramos a pessoa amada, os amigos, os normais, os sonhos... Tendo em vista nossa fidelidade a nossos padrões Mas o mundo é um borbulhar, meu caro, Existem os que não se interessam por nada, É uma efusão de coisas Inúteis ou importantes Malditas ou sagradas De acordo com o que desejamos que seja Entre nós e as coisas está o tempo que temos para perder com elas Pouco é certo, pouco tempo, é certo, Pois somos dinâmicos demais Espertos demais Inteligentes demais Cidadãos demais Somos aquilo que nossos pais sempre sonharam Somos mais do que nossos pais Somos o slogan cretino de uma rede de sanduíches Somos a propaganda política dos anos sessenta Somos menos do que as novas gerações Pois não compreendemos porra nenhuma, Com nossas perspectivas inférteis Nossa religião da estética Nossos argumentos infalíveis Nossos pedidos de desculpas Nossa incrível capacidade de ser o mínimo esforço De ser a impaciência! Pois olhais, Vede? Morro, morro agora, morro o silêncio

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Morro por que o amor parece ser a morte O amor de fato O que descobri da vida? Viva para saber, se puder, Mas não queremos constrangimentos, não é? Queremos um poeminha que termine em “feliz” Ou que seja no mínimo pedagógico Não queremos aquelas situações em que não sabemos o que está de fato acontecendo Preferimos a representação amigável Ainda acreditamos que a vida que vivemos É apenas um ensaio para o que virá! Essa é a mais incompleta perspectiva, Entre as perspectivas que podemos ter, Esperanças? Alimente-se antes.

AQUILO QUE SE VÊ – p. I Aonde meus olhos foram? Eis o mundo! Trouxeram as coisas que estavam lá Deixadas não por acaso Pequeninas armadilhas Pequeninas emoções supervalorizadas Tentativas e erros Esteriótipos, Ética Burguesa, Televisão Caricatura do Povo Brasileiro, Bigs Macs e Brothers Datenas e antenas, sirenes, domingões... Isso chegou ao coração Estômago E cérebro Gritei: não me traga mais essas porcarias! O que fazer... Meus olhos nasceram antes de mim

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NATSU NO OWARI Contratado fora para fazer um anuncio Praia e grandes sorrisos para vender algo Pasta de dente Mas fodido estava em todas as coisas Exibiria a felicidade para o comercial pelo dinheiro Nem a tinha em sobra para os dias de sua vida Na verdade dentro dele não havia sequer combustível para tanto Mas estava lá, na foto, seus dentes abertos e enfeitados pelos lábios contentes Aquele sorriso indicativo Ao passar na calçada e ver o enorme outdoor Com sua cara estampada Com sua felicidade e a propaganda da felicidade Ele teve um pequeno embrulho no esôfago provavemente As máscaras e as fachadas, ele pensou Eu sou parte disso Ajudo a colocar um singelo véu de possibilidades impossíveis Promessas irrealizáveis Tempo e espaço perdidos Vendo tudo isso, fiquei doente Encontrado dentro de um porta malas Um corpo carbonizado Incendiado juntamente com o carro Abandonado em uma dessas periferias de desova Que se ampliam em BH Não era possível dizer se homem ou se mulher O que chamava atenção era a crueldade dos algozes Tudo indicava que a vítima fora queimada ainda viva Talvez suplicando uma segunda chance Para se arrepender de ter nascido no meio da guerra civil urbana de BH Em que escola tinham aprendido tamanha brutalidade? Não bastava o assalto, pois o mundo é mais do que isso Vendo isso, fiquei doente

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E os juizes federais presos pela corrupção Exibiam tamanha tranqüilidade quando encaminhados foram para a delegacia especial Para uma cela especial com advogados especiais Com proteção especial Que fiquei doente Percebi que o outdoor da felicidade do consumo O assassinato brutal E os juizes federais Eram absolutamente a mesma coisa Eram juntos a minha morte

PARA O TERCEIRO DE MEUS TRÊS AMORES INFINITOS Eu quero ainda amar a mulher que usa vestidos floridos E que acredita, como eu, que a fisiologia da violência pode ser banida de nossas linhagens ontogênicas O amor é o silêncio do conceito Pelo excesso do entendimento Eu penso nessa mulher Que mesmo não sendo punk como eu Compreenda as negações necessárias ao sistema E vá até a linha do trem medir o tamanho de seus sonhos E saiba que o desejo e o amor têm conflitos Mas se procuram como as mãos dos enamorados O amor é o excesso do concreto Pelo silêncio do silêncio E no fim de tarde Eu quero viver minutos com a mulher compreensiva Que surja da piscina como quem ainda quer viver todas as horas E caminhe como os loucos De braços abertos e riso incontido No deboche que o amor promove Contra todo e qualquer senso de negação e assassínio

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O amor é o conceito do silêncio Pelo entendimento do concreto Como um incompleto soneto de intenções concretas Quero um amor intermitente e sônico com essa mulher dos dias Semelhante à explosão de you know you right do Nirvana Estabelecido em caldas de alegretes de linha do equador de Djavan E então apagar as luzes para fazer amor E faz amor para finalmente fazer amor Na circularidade que repete o que me inicia Até que o fim não seja mais a finalidade O amor é o silêncio do entendimento Pelo concreto do conceito

DAQUI A ALGUNS DIAS Daqui a pouco vamos colocar velas nas janelas Vestir de branco Caminhar pela Afonso Pena com lencinhos brancos pedindo paz Daqui a pouco vamos ficar feito idiotas fazendo campanhas contra o desarmamento Contra a violência, solicitando das autoridades mais energia Não era isso que eu imaginava para uma sociedade democrática Imaginei que numa democracia todos os problemas de uma comunidade seriam resolvidos pela participação desta comunidade Mas nós belorizontinos nem mesmo sabemos o que significa comunidade Acreditamos piamente que no Brasil nada dá certo, nada prossegue e se desdobra É só olhar nossa prefeitura popular que construímos a décadas atrás E que hoje é cabide de empregos para bem intencionados sociólogos, advogados e assistentes sociais de esquerda berebas Saímos da maldita ditadura para isso? Para ficar feito covardes diante de toda destruição, corrupção e assassinatos hediondos? Os corruptos e assassinos têm a idade da democracia Nasceram no fim da ditadura

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Hoje são os monstros que não conseguimos combater Foram crianças como nós, e talvez também tenham brincado no parque municipal Mas não havia possibilidade de família, não é mesmo? A família burguesa da novela não é possível Seus filhos crescem no mesmo caminho E a morte de outro ser humano nas ruas e bairros, e ônibus de BH continua Indefinidamente A prefeitura não é mais popular E parece que estamos derrotados!!! Mas e a ternura, meu amor? Não podemos fazer como os suicidas, ou os céticos, ou os rancorosos Deles nada pode se esperar em termos da novidade das coisas novas Daqui a pouco vamos ter que pagar pedágio À polícia ineficiente e aos traficantes de crack e cocaína Daqui a pouco vamos ter que nos contentar com um dia de cada vez para viver E rezar para que a morte não chegue breve e inconseqüentemente em um assalto estúpido para alimentar o sonho de consumo de algum idiota armado e selvagem Daqui a pouco vamos nos acostumar com os desaparecimentos de pessoas, como fizemos muito bem na ditadura, feito covardes Sociedade de covarde! Mas e a esperança, meu bem? Não podemos fazer como os irônicos, ou os pessimistas, ou os alienados Destes nada se pode colher em termos de possibilidades das novidades novas Daqui a pouco vamos envelhecer para apanhar nos pontos de ônibus Para freqüentar as filas indigentes dos postos de saúde do Brasil Vamos nos tornar experientes lamentadores do mundo que ajudamos a criar com nossa omissão Daqui a bem pouco vamos ser os fugitivos da selva Escondidos em nossos lares, temendo a próxima bala perdida Copiamos muito bem os modelos de Rio e São Paulo Fizemos bem o dever de casa que as elites culturais e econômicas nos impuseram com sua música ridícula, com suas receitas ridículas de felicidade e justiça de novela de Tv

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Não seremos inconfidentes de nossa própria liberdade por que temos uma casta no poder que não consegue abrir as mãos para abraçar um sonho maior do que seu próprio prazer de consumo de coisas e pessoas, e aqui entre nós, em nossas vidas cotidianas, acabamos preferindo o anonimato silencioso, que permite que o crime e a destruição se espalhe Mas não nos desesperemos, meu amigo Não façamos como os grandes homens e mulheres, os sábios, intelectuais e conscientes Eles pensam que o mundo é como uma musiquinha de auto-ajuda

NINGUÉM QUER O FIM DA VIOLÊNCIA EM BELORIZONTE O padeiro não quer o fim da violência em Bh O motorista de ônibus também não A dona de casa não quer o fim da violência em Bh E as crianças também não A polícia não quer o fim da violência em BH E os traficantes também não Os usuários de cocaína e crack não querem o fim da violência E os padres e pastores também não Os pedagogos, psicólogos, todos os universitários não desejam o fim da violência em BH E os pedestres também não Os empresários nunca quiseram o fim da violência em BH E ultimamente os serventes de pedreiro decidiram que também não querem Os cadáveres começam a se amontoar nas ruas dos bairros de periferia E os garis não querem o fim da violência Eu também não, e nem você A televisão não quer o fim da violência em BH E os jornais também não querem Os assassinos ficam felizes, os prostituídos e os prostituidores também Os garotos e garotas de programa não querem o fim da violência E os seminaristas também não

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Os vereadores nem pensaram sobre isso E o prefeito não quer o fim da violência Os administradores, os gerentes, os juízes Ninguém em BH quer o fim da violência E os empreiteiros continuam a alargar os loteamentos Desmatam tudo ao redor da região metropolitana E as famílias se amontoam E as famílias humanas não querem o fim da violência em BH E a consciência não quer o fim da violência Ela quer o espetáculo A fratura múltipla e exposta E nós queremos beber a cerveja e o futebol E sambar, e sambar, e rezar e orar, e julgar E estudar e fugir, e se esconder É tudo que queremos Pois os professores não querem o fim da violência em BH Os políticos também não Os sindicalistas e os militantes, de direita e esquerda, não querem o fim da violência E os taxistas também não Os bancários e os oficiais, os justos e os injustos Quase três milhões de pessoas que vivem em BH Todos nós Mineiros E todo o povo brasileiro Assiste sua cidade, seu estado e seu país Se esfaquear e se metralhar, matar sem sentir nada E todas as mulheres bonitas ou feias E todos os homens, altos e baixos E nós os pessimistas E os ordinários otimistas Todos, enfim, tudo que acontece é para que a violência persevere Sempre e sem fim A cada instante, em cada centímetro Copiando o que já acontece em São Paulo, e no Iraque Na Colômbia e nos E.U.A Na Turquia e na Tanzânia Debaixo de nossos cobertores Lá inclusive, agora neste momento E nós não queremos

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Não aceitamos e nem admitimos que a violência acabe! Nunca! A violência continua Sempre É uma característica, é um culto E nossos altares estão repletos E os violentos são admirados E o povo se contorce, e a música hipnotiza E os programas são efusivos: Sim à violência generalizada Sim às soluções moralistas e impraticáveis Sim aos condomínios onde a burguesia vai se refugiar Sim aos muros altos e cercas eletrificadas Sim aos grupos de extermínio Sim às delegacias lotadas e aos espancamentos Sim às execuções de devedores de drogas Sim à juventude irresponsável das jovens tardes Sim à violência A cidade parece satisfeita As pessoas parecem satisfeitas com isso Eu pareço satisfeito A violência é moda! A violência é Cult A violência é o que há, agora e em todas as partes Nas garupas de motos, nos assaltos, na intolerância No silêncio, na negação, no afastamento, na repulsa No patrulhamento estético da nobreza de Belorizonte Na seleção racial das colunas sociais de nossos jornais principais Na ignorância de nossos críticos de cinema, nos normais e nos anormais Em todos os cantos, os sorrisos de tédio denuncia Que estamos bem alimentados pela violência Ela coloca em nossas bocas suas tetas cheias de possibilidades E nós a agraciamos com nossas explicações acadêmicas de sua origem: São os negros! São os brancos! São os drogados! São os soldados! São os idiotas! É o contexto sócio-econômico! É a ipseidade disnjunta da subjetividade infratristica de nossa solidão de bosta!

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Deixamos que as velhas bruxas nos expliquem como surgiu e o que devemos fazer, escutamos os que os derrotados querem que saibamos sobre a maravilhosa arte do fracassar insistentemente quanto ao nada! Deixamos que o apresentador de telejornal nos ensine como resolver Deixamos que as pessoas que mais lucram com a violência nos mostrem a solução! Ouvimos e obedeçemos Sim! Evitar de olhar nos olhos! Sim, evitar de pensar no outro! Sim, fugir!, obdecer! Fazer filhos feito coelhos Tirar as trompas feito nazistas! Todas as soluções estão em nossas mesas todos os dias Mas não podemos nos enganar! Adoramos a violência! Adoramos o vermelho das vidas que saem para nunca mais Dos pais de família que saem para não voltar Dos mestres e poetas que saem para não voltar Das mulheres amadas que saem para não voltar Dos que vão para o trabalho e não voltam Dos que viajam para descansar e não voltam Reverenciamos o jeito macho de ser daqueles de massacram os outros É o nosso ideal de consumo Comemoramos os 450 anos de São Paulo com votos de que BH siga o mesmo caminho E seguirá, não tenhamos dúvidas Teremos muitas chacinas para comemorar!, ora se teremos! Muitas mulheres ainda desaparecerão! Muitos estudantes serão interrompidos! Muitos paraplégicos ficarão pela metade após acidentes de trânsito cometidos pelos filhos dos deuses em seus mitsubishes Muita corrupção ainda será levada adiante sem que tomemos consciência! Muito dinheiro público servirá para que madames, senhores, filhas e filhos mimados de nossa classe parasita desfilem em salões de festas! Mas nós adoramos isso! Adoramos a violência Somos como o povo alemão... que suplicou ao líder que marchasse sobre o mundo, que colocasse em câmaras de gás os maus, os sujos e os monstruosos outros, diferentes, os nadas! E nossos jornais, se amassados, vão respingar

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E teremos ainda fatos curiosos para contar Em nossos churrascos vamos querer saber quem foi por último assaltado E contaremos isso como quem conta uma grande e boa notícia! Não satisfeitos com as dezenas de mortes a cada final de semana dem BH Vamos exportar a violência para as oitocentas cidade de Minas Sim! Será nossa riqueza cultural Os fatos hediondos As crianças atropeladas As crianças peladas As crianças armadas Crianças mães e pais Crianças no poder Crianças feridas para sempre As crianças desalmadas! Já achamos o culpado: é os direitos humanos Eles são os culpados! Sim! É o que ouvimos em cada ponto de ônibus! Onde está a pena de morte? A gente se pergunta Queremos mais espetáculos, se possível execuções em praça pública Diante dos palácios que as igrejas evangélicas constroem Diante dos milionários colégios católicos Diante dos riquíssimos sistemas de ensino particulares Comprem seus ingressos! Seria assim? Não importa, não importa Os médicos querem a violência Os enfermeiros também Os surdos também, os cegos, os mudos, as amebas, os pássaros Todos parecem se satisfazer, parecem se contentar Todos aguardam ansiosamente sua vez de serem violentados, ou de violentar Que interessante! Nesse final de semana foram apenas quarenta homicídios em BH E mais algumas dezenas de feridos e mutilados no João XXIII Maridos, mulheres, filhos, avós, irmãos, desconhecidos, anônimos, indigentes, descuidados, sósias, culpados, inocentes, não importa

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A violência é de todos e para todos Vamos abrir mais uma cerveja! Vamos rir um pouco mais! Adiar as soluções, pois para a violência não há solução, não é mesmo? Temos que nos acostumar! É o novo milênio! O milênio da violência O milênio das chacinas Até mesmo lamentar se torna violento! Vamos até a esquina, ainda é cedo, são apenas dez horas da noite, não há mais pessoas nas ruas, não há mais esperança em lugar algum, não há mais gente humana. Vamos até o mercado, ver como nossos filhos e filhas estão sendo tratados pelo capital. Vamos até uma daquelas redes de restaurantes norte americanos que infestam nossas cidades. Vamos ver como todos estão felizes alí! Vejam como sorriem! Vejam! Vejam como nas novelas, nas revistas, os artistas, as atrizes, todos estão sorrindo! No mundo deles não há a violência, e nem devia. Nosso único abrigo é a fantasia. Todos nós gostaríamos de entrar no big brother e ficar protegidos do mundo aqui de fora. Todos queremos fugir. E dessa forma queremos a maior de todas as violências: a omissão. não querer a violência se converte em nada fazer para que ela pare. essa é a maior de todas as violências. E todos nós queremos que ela continue. Sem excessão. O que pedimos a Deus todas as noites?

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Capítulo segundo:

Nada pode nos unir mais (Belo Horizonte – Novembro e dezembro de 2003)

NADA PODE NOS UNIR MAIS Todas as coisas que eu disser são pra você Servem também as piadas e as coisas sérias Como as que devemos dizer sobre a violência do mundo, os muros altos das casas. E de todos os caminhos que estamos construindo E que não nos levam a nenhuma felicidade As portas e os umbrais, são avisos De que passar por nós não vai deixar do mesmo Não vamos voltar mesmo Não vou deixar de pensar mesmo Nunca nos separaremos mesmo Eu de meu pensamento Eu de você em meus pensamentos Eu e a fraternidade do universo de pessoas, em meus pensamentos Nem quando eu morrer vou deixar de pensar estas coisas Pelo menos é o que desejo mais entre todas as coisas Tudo que estiver no lugar Já está um pouco mais para a esquerda E isso pode ser muito bom, ou muito ruim Mas nossas vidas não vão ficar naquele quase A adolescência me deixou algumas frases Que eu repito sempre que sei que estou certo Não vou deixar de ser humano mesmo E nem desejo ver os testes das lesões mesmo Nem quero saber do fim da esperança mesmo

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Eu quero saber sim de todos os acidentes E de tudo que acontece no Brasil Mas tudo que eu disser será para evitar dizer teu nome Não vou deixar de pensar nisso mesmo Em você e em todos os jardins que teus sorrisos abrem E todas as selvas e segredos que a noite tem Que aquilo que achamos ser honesto tem E o que achamos que é demais, ou o que falta Enfim, todas as coisas

NIRVANA Radicais demais Nada do que eu quero ser Tudo que caiu Foi empurrado Uma vida péssima Com dinheiro emprestado Tentei dizer Coisas que não a solidão Eu espero diante do edifício Escondido pois há uma guerra acontecendo E outras mortes Iguais Nada que eu queria ser Tudo que caiu Foi empurrado Numa vida idiota com dinheiro emprestado O que eu tenho que dizer Eu tenho que dizer em onelaine, onelaine O que eu tenho que pensar Eu tenho que pensar em futebol O que eu tenho que dizer Eu tenho que dizer em onelaine, onelaine

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Eu tenho que fazer Eu tenho que voltar pra casa Já é cedo, algumas pessoas vão se esconder O que eu tenho que dizer Eu tenho que dizer em onelaine, onelaine O que eu tenho que pensar Eu tenho que pensar que é cedo Eu ainda posso melhorar Demais Ridiculamente ainda posso melhorar Ridiculamente o que eu ainda quero ser

A SELVA E O JARDIM É a tradição que eu me lembre mais Do que o outro possa imaginar Eu não pude mais te falar de mim Pois eu te amaria só pelo som de tua voz A via Láctea fica desse jeito Sem sentido, só estrelas, E outras fantasias Que eu não tenho mais A tradição Eu te vi por muitos anos Talvez não queira mais Fazer desse amor algo sério A tradição que eu não tenho mais O que eu teria ganho com você? Não posso estar assim pensando tanto nisso Na tradição Que eu nem tenho mais O que seria bom Você é o que quero

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SLAVE DURING THE EATNESS´s KURT Take your head, Talk about tha you wish to have Cause I don´t wanna skip alone Talk about where be your head Talk about where be your head Tha mind be above, my chines´s confidations Go on to take and take your head My jungle is my garden Talk about is my resistence test Talk about where be your head Talk about where be your head Ours problems ware Tha skip oceans shine Now go on to save your life In to desires for a perfect day Throbles for any future Talk about where be your head Talk about where be your head

LECA Mágicas É o que eu quero ter para desfazer Leca, olha meu amor tudo que eu fiz Como fábricas de sentidos Tudo que eu busquei em você achei E eu não sei por que isso me silencia Eu me deixo pensar Me permito em pensar você

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A consciência está longe de casa Há semanas E as semanas vão me esconder você Como fábricas de sentidos Tudo que eu busquei, em você achei Tudo isso

A SELVA E O JARDIM p.II Quando te vi Quando te vi Meu coração brasileiro Pode dizer Em desespero Alguma coisa aconteceu! Quando a enorme contradição Tiver enfim se desfeito Permanecerá no universo O que nós fizemos Apenas mudando as coisas de lugar Eu me pergunto por você Eu mesmo me ouço Os grandes amores Quando importam, São as pessoais Quando te vi Quando te vi Meu salário brasileiro Pode comprar pra você Algumas coisas que eu leio Quero falar Você me diz Da arte e da solidão Eu vou dizer O que realmente importa: A vida importa

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Quando te vi Quando te vi Meu coração brasileiro Pode dizer Em desespero Alguma coisa aconteceu!

SEM RESPOSTAS, SEM O SOL E SEM A SORTE Tenho saudades do momento E das montanhas Por isso fico sobre esses caminhos Não tenho todas as respostas E nem o sol ou a sorte Eu sou o primeiro a ver daqui de cima O farol dos dias O que direi pra falar de você Você não acredita As ruas de Belorizonte Pretendo me misturar às massas A violência não vem do sul Mas das próprias casas Deve Parar Aqui pelo menos sobre esses caminhos Não tenho todas as respostas E nem o sol ou a sorte

PRIMAVERA Todas as coisas que eu disser são pra você O que eu não agüento eu reestruturo

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Como um dia de manhã que não fazia sol E depois de alguns minutos fez Todas as coisas que eu disser são pra você Da primeira letra ao último sentido Nunca esquecerei o primeiro instante Em que a vida ficou ruim Todas as coisas que eu disser, São pra você No passado ou sempre O que ficar é o que importa O que passar por nós não vai ser o mesmo O que acontecer não vai ser diferente O que importa é que o quintal tenha sombra

A selva e o jardim p.III Eu posso te compor, meu amor, Uma canção como esta, uma merda, mas é o que eu sinto agora, Quando somos advertidos e não temos o desejo de ceder Eu preciso de um jardim, para explodir E depois existir de novo Mas não quero tornar tudo tarde demais! Eu não saio do degrau debaixo Entretanto é como ser livre e zeloso de você Eu posso te dizer que eu não vou E depois repetir a selva Eu contorno o centro da cidade Pois eu quero te encontrar em tudo Tua densidade, teu perfume e tua cicatriz Que fizemos quando fomos de nós dois Eu desisto, quero que saibas Mas não deixo de gostar de você E neste instante estou amando você

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VOCÊ, EU E AS GERAIS Eu te vi, e te amei, olha falta de sorte... E as Gerais me colhem Pois desci, ali, naquela rua onde tentamos nos entender E zero é o grau de conhecimento Sobre o que você faz com as estrelas E com a primavera As coisas que eu li nos jornais As esquinas, os irmãos, as pessoas perguntam Onde está a nossa esperança? Quem está nos matando tanto? Tua virtude é ser tudo mais que falta Eu reivindico que vocês me olhem nunca mais Não é preciso que o dinheiro compre A justiça e tudo que encomendamos Ao desejo de viver

O SEGUNDO E O TERCEIRO AMORES se não há imagem, eu calo se sinto fome, eu calo se me desespero eu calo se não aconteço, eu calo se não mereço eu calo e se me despeço eu calo eu já sou de luz e sol e terreiros cheios de fantasias aquilo que quer convencer e não precisa se não há perdão eu calo se há cobiça eu saio se não me compreendo falo se não há entusiasmo eu calo,

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e se há eu calo se mentires eu calo

Pequeñas cosas sobre HELQUEMARA Todas as coisas se tornam centenárias O espaço entre o que antes era uma intenção, e a possibilidade, Se torna maior depois de um verão Nos preparamos para os dias Nas aventuras de antes, de sempre Não se renovam mais, pois temos ainda as tristezas roseanas Você me fez um dia uma poesia tão linda que eu li tantas vezes Até a pouco tempo ainda a tinha Minha incapacidade em saber dizer o que comove Teu coração era tão lindo para meus dias, naqueles dias E caminhávamos voltando da escola, ou de outros lugares

HIPOPÓTAMOS COM GASES Your be here, is lose that i do The time is out for to belive in hope Or take the true A via Láctea fica desse jeito Sem sentido, só estrelas, E outras fantasias Que eu não tenho mais (Onde eu sei que vai haver Os jardins daquelas tardes E as antigas flores, aquelas que simplesmente secaram São outras, e minha pressa é por que espero

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E não acredito no que vejo. Você tão jovem E intransigente, receoso e inútil Mas eu sou assim, e isso não é tanto Tenho muitas outras coisas, inúmeras Como procurar te ver E descobrir do que é feito todo conhecimento que temos E todas as histórias da ciência E esse comportamento que não nos leva a nada Ser democrático não me ajudou em nada pois é só votar E esquecer depois todas as promessas Aceitar uma sociedade que é violenta demais Aceitar ser igual aos outros, e aceitar o fascismo Isso é uma coisa impensável Tudo isso Mas eu deixei todas as angustias para não entristecer O meu universo de coisas e pessoas Que acreditam em mim de alguma forma)

ACESITA, LU, IPATINGA, RAPEL, AMIGOS, INTENSIDADES LUMINOSAS2 Quando der, eu vou Pois se o vento vier e eu não sentir Será pelo destino não por distração Minto menos pra mim Quando o inverno e o humor Mudaram de um jeito sem direção Eu andei palas ruas E tive a impressão de que nunca fora justo Mas eu nunca ganhei nada com isso E falávamos daquele personagem O quase nada, o quase nada, o quase nada Meu espírito se liga a luminosidade de suas tardes 2

Dedicada à Dani, Alexei, Lú, César, Taize, Alessandro e Juninho Rapel.

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e de seus bares, de suas tardes e de seus bares a circularidade do mínimo prazer quando buscamos dominar aquele instinto de crueldade e de dor de crueldade e de dor mas aquelas tarde, meu amor e os seus amigos, meu amor, aquelas águas, meu amor, e aquelas noites, meu amor

ENTRE TODAS AS COISAS3 E se naquele dia eu estiver completamente perdido E todas as saídas e percepções estiverem fechadas E tudo que eu puder compreender cair do terceiro andar Como as milhares de vezes em que as coisas se repetem O universo entende o problema O sucesso tem sempre algo com isso Os caminhos que nos levam ao outro lado Ficam sempre escondidos É como se o desejo pela paz nunca valesse nada O mundo organizado em paredes e estofados de carros Podíamos ser tudo isso mas somos como no início A revolução que não cessa e desola nossas casas Mas não são os dias de hoje Uma vida é pouco para o que queremos A despedida, o encontro com o tempo É o mais eterno dos fenômenos

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O Jão disse pro Dé. O Dé disse pro Leon. O Leon disse pro David. O David disse pro Elias. O Elias disse pro Theophilo. O Theophilo disse pra Gorete. A Gorete disse pro Juliano. O Juliano disse não disse pra ninguém.

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Capítulo três:

Os dias de Brasil

Em primeiro lugar Sábado, 06 de março Sábado pela manhã. Uma madrugada sem dormir estudando sobre a consciência humana. Depois, deixar o corpo descansar no chuveiro por alguns vinte minutos, rezando para que o dia amanheça calmo, e que os grandes combates possam esperar mais um pouco. Esses adiamentos são característicos de minha personalidade. Ainda bem que não somos apenas nossas personalidades, somos o Tremeluzir. Sair para a faculdade, o dia amanhecendo, pássaros ainda saem das árvores, pessoas brasileiras vão para o trabalho, cabelos molhados das mulheres e sua vaidade simples, de mulheres simples e belas. Uma aula sobre o panorama da cultura brasileira desde a colonização é o que faço, olhando aquelas pessoas que me perguntam e que me olham. Aulas de História no curso de pedagogia.

Fratria Como sempre se começa uma história Quem primeiro disse que era bom saber alguma coisa E quem primeiro registra o acontecimento Devem estar presentes E deve haver aqueles que nunca vão acreditar em nada E os que vão acreditar em absolutamente tudo

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A sociedade de homens e mulheres humanos que organizamos pela incrível capacidade de linguagem e de autoconsciência que temos, esconde sua animalidade de si mesma para que pensar e acreditar pareçam ser adjetivos em um mundo de sentidos e representações E quem primeiro encontrar a solução do problema E também quem primeiro disser que saber é boa coisa Devem estar presentes E provavelmente ainda existirão aqueles que nunca se darão por satisfeitos com nada E aqueles que se contentam simplesmente em contentar Mas então acontece a morte dos ancestrais E nossa relação linear com o mundo de coisas ao nosso redor Acaba se apresentando como um equívoco qualquer Mas quem primeiro inventar a auto-ajuda E quem primeiro disse que saber era bom E quem primeiro disse que ia registrar o ocorrido Devem estar presentes Pois terão que criar justificativas para que não extravase a ira popular A grande máquina deve seguir seu curso A Matrix precisa gerar seus panos de fundo Para que viver possa ser confundido com uma dezena de outras coisas Para que consigamos acordar todas as manhãs e não desconfiar Para que existam poetas e psicólogos ávidos para ajudar o mundo a ser feliz Para que uma linhagem seja preservada da miscigenação da horda Que começou a entrar pelos quintais E propor o sexo aberto a luz do dia E todas as outras possibilidades e fantasias existenciais Que me deixam preocupado e livre, e com pouca vontade de falar Com quem primeiro encontrou a solução do problema Com quem disse que era maravilhoso saber alguma coisa Com quem disse que ia correndo registrar tudo Com aqueles que se contentam em contentar Com aqueles que inventaram a auto-ajuda Com aqueles que não acreditam em nada Com aqueles que acreditam em tudo Com aqueles que justificam ou não a ira popular

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Mas todos eles devem estar presentes Pois virão os primeiros Os que movem a roda e ainda são jovens demais

Em segundo lugar, algumas coisas Sobre o Pertencimento, sobre o amor e sobre os sonhos Não há lugar algum do mundo a que eu pertença Não há uma forma de existir que me agrade entre todas, senão a que vivo Não há coincidências entre o que você pensa ser a vida e a minha vida Não posso ser compreendido por caracterizações da metafísicas E como Brasileiro não tenho direito, por ser brasileiro, de sonhar com dias melhores para meu país, pois não faço parte da corja de otimistas que ainda estão felizes Que comemoram o natal, que fazem almoços festivos para a família E que votam regularmente nas eleições, e ensinam seus filhos a serem tão egoístas como os americanos, tão falsos e mentirosos como todos os sempre foram, desonestos com a sinceridade, que não é mais, se é que foi um dia, um espaço da metalinguagem. Não há de fato lugar no mundo para minha vida, por isso nem mesmo a morte pode ser descanso, o mundo está inacabado, está todo em pedaços, buracos e fiações desencapadas Não há para não haver Não acontece nada para que nada aconteça Não existe ainda para que nunca mais exista Não aparece por que não é importante que apareça Não começa por que não é bom que comece Não resiste pois é mais fácil e cômodo não resistir Não é aprendizado por que não há a pretensão de aprender essas coisas

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Sábado, Brasil, sol da manhã, Belo Horizonte, poucos minutos antes de um encontro marcado há sete anos por agentes de corporações subversivas comprometidas com a derrocada do universo de coisas como as conhecemos agora nesse exato momento Vou abandonar as coisas, como um louco E vou ficar em silêncio um pouco, como um louco Vou tentar esquecer, como um louco E viver meus dias resistindo à ausência da mulher amada, como um louco Não, ... Não, ... Vou rezar a deus, como um louco Vou buscar meu amor, como um louco Vou esquecer de todo o resto, como um louco E vou amá-la, como um louco Ou talvez não, ... O amor que tenho não é perdido! Ele me coloca no exato momento! Em que o conceito de tempo perde o conteúdo! Sem a pretensão da liberdade, desaparece a culpa! Só perdemos o que queremos perder! Pois o amor é semear Não, ... isso faz parecer simples demais, poético demais, assombroso demais, girondino demais E principalmente, principalmente, pouco Roseano! No exato instante do teu não Tornarei-me teu amigo para sempre

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E amigos são presenças e distâncias Dias inesquecíveis e fé Vou querer envelhecer perto de você, Em pensamentos distantes e distante presença, apenas referências, Não tão perto Viver, como louco Compreendendo todas as coisas em meu movimento, como louco Não tenho tempo a perder, como louco Na expressiva vida que constitui o fundamento da causa, como louco Pois o amor que lhe tenho me faz compreender melhor o que sou, como louco

Os dias de Brasil Sábado, sete de março: 14:30hs, tarde, sombreada, vento lírico e calor breve, pássaros, e os prédios. Como numa decisão do campeonato mineiro, meu coração está na risca do pênalti A antropologia de um lado, a filosofia do outro, e eu vou como cavalheiro andando com essas velhas senhoras, eu e um amigo. Tratamos essas damas bem, damos o respeito que merecem. E elas sempre aparecem, para conversar, para dizer que nada podemos saber, ou que o mundo é uma surpresa. Deus é um bem conceitual das nossas teologias, difícil de ser mensurado empiricamente, mas que importa? O coração tem outras portas para que o conceito entre. O caminho do convencimento nestas coisas é sempre o mais difícil, mesmo Mas se a emoção é uma forma de conhecimento, quantas coisas podemos saber da vida quando a experimentamos? Milhares de coisas. E o que mais? Isso tudo se torna uma hierarquia de benesses, se não estamos atentos, se não acordamos com o som dos deuses em suas mansões celestiais. Deus e o amor são duas coisas, dois conceitos, vagos e inúteis, a 3

depender do que pretendemos falar e fazer enquanto falamos. A essa hora da tarde milhares de sambistas estão dançando ao redor de uma mulher maravilhosa, uma mulher daquelas como são as mulheres brasileiras, em seus dias de verão, quando ficam mais belas, e mais poéticas, traduzíveis musicalmente. Nesse exato momento meus amigos e amigas estão cantando ou tocando, ou estudando, existindo, dos mais importantes me manteve a vida a próximos, e os distantes como contemporâneos meus. E vivemos até que um dia tudo acabe. Mas isso está acontecendo no mundo inteiro. E nem por isso sabemos o que é de fato deus e o que é de fato o amor! As maravilhosas tardes de Belo Horizonte, iluminada por esse sol ajoelhado e pensativo, pintor de telas vangoguianas, e outras coisas, pássaros, vento lírico e calor breve, pássaros e fim de tarde sombreada. Voltar para casa, era sempre assim. Hoje mesmo com estrangeiros, e com todas as coisas desses universos que a cada dia se abrem e são completamente desconhecidos, sendo a razão uma pequena aposta de que possamos traduzir coisas simples, como os conceitos de Deus, ou do amor. Mas os árabes acham que deus é uma coisa bem diferente dos cristãos. E os orientais pensam outra coisa completamente diferente, e os turcos outra, e os europeus outras, e os norte americanos outra, e os brasileiros também. Voltar para casa é sempre assim, nos dias maravilhosos como este. Maravilhosos em coisas diferentes para cada pessoa. Os mundos são diferentes. Mas é preciso voltar da metalinguagem. Esse movimento é importante para que as coisas tenham sentido, e cada um de nós tenha sua individualidade. E o não entender hoje é uma resposta tão simples como o saber. Antes era mais difícil. Tenho grandes expectativas em meu coração diante de todas as coisas. É estranho, mas sempre foi assim quando estou perto de Ana. Impressionante. De fato, passo a ser um laboratório para mim 3

mesmo de encantamentos difíceis de serem experimentados de outra maneira, Com Ana a alguns metros de mim, acho todas as coisas muito engraçadas e boas. Isso não é nem uma intuição, ou certeza prévia, pois sei que não a conheço, e não tenho mais metafísicas que possam ser enunciadas em termos de verdades absolutas, Então, não há mesmo razão para ficar falando de deus e de amor, entretanto

Enquanto foi possível falar Universo existe, Em nossos conhecimentos e representações, O ser, ou outra coisa, o pensamento Não há pensamento sem cérebro, Não há cérebro ou pensamento, O real apreensível no sistema conceitual Inesgotável debate, interlocutores e mesmas coisas, Metáforas fisiológicas para eventos psíquicos, E Notícias sobre amores e mortes, Semelhança deveria haver com o mundo exterior, Como resultado vivemos como internos do caos de coisas, Resgatandos os náufragos ocasionalmente, Para formar as palavras contra nossa omissão social Colocamos esses náufragos na televisão como representantes da etnia, Mas não há mais etnia quando se chega na televisão, Ela fica alguns episódios atrás Com Notícias sobre amores e mortes, Resgatar quaisquer expressões não formuladas na sintaxe de uma linguagem, Um caráter específico de questões internas sobre Cuba, Áustria ou sobre o Brasil, Questões internas têm caráter específico, questões externas tem caráter universal...,

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Os estados do cérebro e os estados do eu são o mesmo, E de tudo que eu amei foi amando Ana que conheci, Na interpretação comum da questão enquanto questão cognitiva, De todas notícias sobre amores e mortes, Notícias em vão São amores e mortes, só amores e só mortes Usar métodos semânticos como uma questão decisiva!; Não era essa a suposta questão ontológica da existência? Quais são os outros objetos a que se pode reduzir a cognição de todas as coisas que existem? E sobre o que dizem as notícias sobre amores e sobre as mortes O conteúdo da experiência é o critério teórico da experiência, Em notícias sobre mortes e sobre amores Vivemos mais coisas do que precisamos para lembrar do que somos, E de todas as coisas que eu vivi, Lembrar ou ser; ter conhecido Ana foi mais importante Constituinte suficiente e constituinte dispensável! A relação epistêmica entre o centro e o resto, O reconhecimento das ocorrências policiais E das ocorrências metafísicas em estágio primário da consciência, Retrocede até o reconhecimento de um evento físico; O significado surge no reconhecimento dos conceitos de um enunciado E se há um enunciado com um conceito, ele deve ser como um espelho, e indicar suas condições experimentais: As pessoas separam o verdadeiro do falso, Do episódio, qualquer que seja ele, Seja um poema ou uma janela que se quebra, Deve derivar toda alegria e saudade de um samba, Pelo menos isso, para o brasileiro, é o contentamento A ciência não pode tomar uma posição apelativa A vida empírica conduz a resultado definitivo, a termo A grande discordância universal sobre como deveriam ser as coisas, A interpretação filosófica dos resultados,

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Não ocorre a todas as pessoas ao mesmo tempo, Se ocorresse deus existiria sem a fé ou qualquer outra incerteza; A religião é o fim de deus, A religião é um fenômeno recente na história da humanidade, Ela precisa evoluir revolucionariamente Essa é sua única necessidade teológica O mundo exterior tem possibilidade de ser real, Mas para isso somente usando o conteúdo factual como critério para a significação de todas as palavras, e também de qualquer enunciado, ou, pelo contrário, dizendo coisas que precisam ser verificadas com maior sensibilidade, Por isso o que sinto por você, Aquelas coisas que parecem ser possíveis de serem palavras, Não em termos de intensidade, Visto que isso de intensidade é uma bobagem de Paris, A percepção de você me muda a fisiologia, De tal forma que tenho zelo de não verificar, Para poder fazer pelo menos um poema por dia, Para você, Isso explica por que não li até o final o jornal de ontem, E por que abri apenas a página policia, E por que saí na chuva para andar pelo quarteirão,l Domínio de mudança, domínio de estados, domínio de perturbação Interações instrutivas em domínios fenomenológicos! Todas as conseqüências destrutivas das fragrâncias de rosas, E das canções de beira-mar, em meus neurônios Comparada a fúria de Hermann Hesse, Parece surgir virulentamente, deixando a pele vermelha em poucos instantes, Na multiplicação de entidades inobserváveis Existentes apenas na semântica, Como a sorte, ou o azar, ou deus, ou ressurreição, ou dicionário, ou chuva, Tudo pode ser esse conjunto de estar no mesmo espaço um dia após o outro, Isso explica por que quando vi você, esqueci imediatamente todas as minhas dezenas de paixões contemporâneas,

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Todas as minhas conquistas românticas, e algumas grandes memórias, Só o que é denso e maravilhoso em meus dias, Resiste à tua presença, Eu conseguiria não ficar calmo na tua presença, E não conseguiria ficar triste na tua presença, E não conseguiria ser sábio na ta presença, E não saberia ser tolo na sua presença A estabilidade dos domínios de comportamento dos membros individuais, Apenas um modo de falar, como observador de parapeitos, Sem independência do que me acontece A distância entre a percepção e a ilusão não existe, Quando se vive, se vive, Não existe um lugar fora da linguagem, O objeto é construído na ação de distinção, Afirmações cognitivas, acesso privilegiado, realidade independente, petições de obediência! Cegueiras profissionais para fatos constrangedores da vida! E para todas as demais obviedades explicativas do que é o amor e a causa! As mudanças em nossas corporalidades causam as mudanças em nossas conversações, As mudanças em nossas conversações causam as mudanças em nossas corporalidades, Objetividade sem parênteses, caminho explicativo e a originalidade do Grunge norte-americano da década de noventa do século passado Tantas outras questões apenas sociológicas! Você, meu amor talvez não queria falar sobre o amor Existem uma infinidade de sobreposições teóricas Todas inclusive sobrepostas As teses empíricas do comportamento! Mas estamos em controvérsias intermináveis, Inclusive sobre a entificação do tempo, Sobre as poucas conseqüências que isso tem para nossa vida real A lógica da ciência, a análise lógica das proposições da ciência! Os descuidos quando vamos falar algo para quem está longe demais

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São os cacos de toda genialidade, que se possível era agora nunca houve Nem para perceber que resistir é tudo Acreditar é absolutamente tudo, Num redemoinho de experiÊncias que inventamos para explicar a razão de viver Ou explicar Deus, ou explicar por que sofremos tanto e não conseguimos dar o nome de tragédia a isso, As regras precisas! Isso estava no fundo do poço, foi a alavanca A filosofia não pode alcançar o consenso nas suas questões mais essenciais, A pedagogia não pode deixar de se culpar por oferecer o pragmatismo onde lhe pedem fundamentação Os problemas filosóficos são na realidade palavras Os métodos objetivos da economia dependem do temperamento do empresário E de seu desejo de compreender mais rápido do que todos os outros, como funciona de verdade o mundo, para que ele possa interferir Estamos produzindo mais empresários do que gente humana em nossas fábricas escolares, Se não os próprios empresários, seus escravos em constante semianalfabetismo tecnológico e afetivo Todos são feitos no mesmo lugar, todos são feitos das mesmas coisas! Idealistas! Só lêem as próprias impressões sobre o mundo, pela manhã Só escutam as impressões do estado de São Paulo sobre como deve ser sua higiene intelectual E escutam os repórteres sobre como deve admitir o humor da bolsa de valores Ou quem morreu dessa vez Ou quantos de uma vez só, E escutam as percepções dos famosos e das celebridades E do medo dos animais fuziladores e dos fuzilados, dos homens orgânicos reais Nós, os seres vivos somos unidades autônomas, e inseparáveis das coisas ao nosso redor

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Não há a existência independente da atividade da percepção Entretanto não devemos por isso temer a morte Temos compromissos ontológicos, mesmo com o futuro, que é onde nenhuma coisa ainda existe. Ou será que não? Ou será que uma nova teoria da física vai nos abrir uma porta para que nos comuniquemos diretamente com deus? E se conseguirem? Vão envergonhar todos os punks? Que durante anos ridicularizaram essa possibilidades? Eu continuarei sendo punk! Pois todas as coisas são maneiras de pensar e engajamentos no mundo com êxito, E todas as teorias sobre as condições experimentais As teorias da destinação de sentido, As teorias sobre a existência, Só são possíveis por causa do mundo intersubjetivo que criamos para nós Tudo é idêntico para todos E a luta deve ser contra as mortes humanas Homens e mulheres chacinados em todas as partes do mundo, o tempo todo, a todo instante, em várias partes da cidade e do campo Se a estatística tivesse algum compromisso Desenvolveria a lógica sistêmica dos movimentos simultâneos do assassinato de seres humanos Para ver a amplitude de nossas máquinas de guerra, nossas armas brancas, nossos motivos passionais, nossos códigos de justiça! Graças ao caráter estrutural essa subjetividade nasceu como uma mão que aponta as coisas no mundo As orientações práticas divergentes convergem todas para centros de irradiação de condutas, Que são nossos chefes, nossos deputados, os grande traficantes, e todos os outros que não podem ficar fora do poema, pois todas as coisas e todos, tudo que existe e todas as verdades são coisas muito iguais, são encadeamento de representações!!! Não deve ter permissão de interferir em uma teoria que flui naturalmente

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Se eu pudesse semear em você, meu amor, todas essas palavras, e se pudesse gritar todas essas coisas em um lugar de grande espaço vazio, apenas para perceber que existimos, E se fosse possível que eu parasse de falar todas essas coisas, Se a culpa me contivesse, se todas as prudências que invadem que acredita na esperança de que podemos mudar E talvez não possamos todos ao mesmo tempo, Mas talvez possamos, Então vamos entender que todos podem entender, Que todos os desacordos causados pela tomada da verdade, Seja em que situação for , e um poema não é situação, mas sim comunicado, apenas assim, na independência do objeto e do ato, ainda que de forma densa, o objeto do conhecimento, que não é parte do sujeito, surge com menos vontade de desaparecer surge e para de solicitar conceitos sobre si mesmo sem se preocupar com a experiÊncia aprofundada, ou com a validade de leis objetivas ou a negação de direito à vida comunitária que é imposto a todo ser humano que nasce Abordagem filosófica Apresenta um caminho argumentativo que passa pelo frescor Da despreocupação emotiva por não ter que esconder alguma coisa que possa ser uma surpresa, Mostra que todos, e os outros todos, todos estes estão tratando das mesmas coisas Dos mesmos problemas relacionados com a comida, a bebida, o lazer, o sexo, e os sonhos E depois disso estarão preocupados com a filosofia, com a estética, com a informática E apenas bem depois disso estarão preocupados com o amor, ou com o silêncio, ou com a arte Adianta pouco mas é preciso procurar identificar um terreno comum de debate Algumas vezes a evidência disponível é erroneamente aplicada para justificar nossas decisões para os outros

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Por isso precisamos de coisas sobre auto-ajuda Saber, ou não, todas aquelas coisas, A questão As entidades de um certo tipo, e outras tantas entidades abstratas O próprio sistema de referência, Mesmo que aceitemos que não temos saída, mesmo que novas formas de linguagem possam ser inseridas para que as condutas se modifiquem, Para que se consuma mais alguma marca de biscoito Argentino Mesmo que se tornar real seja se tornar um elemento da mistura No sistema de coisas e nas regras do sistema de referência Mesmo que meu amor por você jamais possa ser compreendido, ou vivido, ou mesmo lembrado, Uma realidade não empírica, A existência do próprio sistema, A existência das entidades no interior do sistema de referências

A ESTRUTURA DA FRATURA O que mantém as pessoas na vida, Quando descobrem que a última ferida Surgiu com a certeza do tarde demais? O que mantém suspensa no ar, Aquela grande verdade que tomamos por motivo Para vestir uma roupa com bombas E contar pela última vez até dez? O que é que mantém a impossibilidade? O que devemos chamar de vida, Quando formos solicitar que o estado nos dê a nossa com dignidade? O que queremos no fim de cada pensamento É que na verdade não seja necessária a pergunta Sobre os componentes fibriomusculares do tendão, A estrutura desoladora da fratura Mas o pensamento que não sabia antes, Sabe que não sabia agora!

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E de alguma forma isso gera as flores do sofrimento Que se abrem deixando aquele pecado no estado de coisas Na natureza das coisas E tememos que sem verdades, Sem justiça ficaremos, ou sem saudade, ou sem amor Não há tantas possibilidades assim Mas elas aparecem na Tv, ou no discurso, ou no sermão, ou no culto, ou no sofisma Apresentamos as nossas representações! Você se espanta e perde o que estava lendo Olha buscando a direção oposta... ...O que eu creio que muitas pessoas fazem também No fim de cada dia é o não perguntar coisas demais Sobre as microarteríolas do tendão A inconcabilidade macunaímica da fratura Sem o conhecimento pela dor algum tipo de coisas deixa de ser conhecimento Sem a verticabilidade do rapel o corpo não concorda Quando eu decido falar sobre algo que eu não fiz A memória do que é apenas desejo pode ser fértil Mais o que podemos chamar de real? Ou de afetivo? Ou de humano? Por isso o conhecimento da alegria é de um modo diferente! Ele se gera novamente depois de vivido o acontecimento E alegria não vem apenas da fé, ou da obrigação cumprida Ou da venda do dia, da posse do dinheiro Alegria vem da satisfação de encontrar Na trama de sinais e códigos culturais, A opção pela causa, e a causa! O tipo de ser que não se importa em observar ou viver No fim de cada dia, a resistência em não esquecer A dimensão de responsabilidade em pensar periodicamente Sobre as infinitesimais partículas Da estrutura fenomênica da fratura

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Capítulo quatro:

As considerações sobre a harmonia, a paz e a felicidade

Jin - SOBRE

A HARMONIA 1

todas as realizações que um ser humano puder projetar para si mesmo, não poderão existir sem a presença do outro. Ainda que a fonte de prazer mais ansiada seja o deleite próprio da experiência de consciência que temos sobre nosso próprio eu. Ainda nesse jorro ipseítico, o outro exerce significação. O próprio eu não conseguiria viver num mundo onde todas as coisas e objetos tivessem sido feitas por suas próprias mãos. Tudo que vimos sobre o mundo, outra pessoa nos mostrou. E não há mundo sem outros. Saber conviver com o outro é importante para que nossos dias sejam preenchidos de pessoas e de boas coisas. Também, com a mesma importância, as coisas difíceis, ocasionadas pela presença do outro, vão surgir. E isso pode ser bom para viver, ou morrer. Sempre existem as pessoas 4

que podem ser para nós sábios mestres para as experiências necessárias. Por isso a harmonia é o estabelecimento do entendimento simpático entre as pessoas. 2 o ser humano depende apenas de si mesmo. Isso acontece com qualquer tipo de indivíduo biológico. Ao mesmo tempo acontece esse isolamento com sua comunidade de indivíduos. Há o indivíduo, e há o grupo. Um grupo é qualquer associação de dois indivíduos, ou mais indivíduos. Indivíduos só existem como produto de uma operação de um grupo. Os organismos vivos necessitam de associações onde essa dualidade seja preservada. O grupo e o indivíduo são entidades antagônicas. Estão em contradição inconciliável. Entretanto a tensão é necessária. Para a própria adaptação da espécie. A convivência entre os indivíduos da espécie humana fez surgir tipos de interações antes desconhecidos pelos seres vivos de uma forma geral. A harmonia é o estabelecimento do entendimento simpático entre as pessoas. 3 cada indivíduo possui uma vida. Uma única vida, para viver. Essa condição faz com que a consciência humana sofra a impossibilidade de sua extensão ao infinito. O outro indivíduo que vive em convivência conosco, nossos amigos, inimigos, pessoas, também é detentor do mesmo destino que nós. A vida não existiria sob a condição da eternidade. A eternidade do indivíduo significa a impossibilidade do grupo. A impossibilidade do grupo impede a variedade de indivíduos, e conseqüentemente impede a adaptação. Apenas aceitamos em nosso espaço de convivência as pessoas por dois motivos; ou aceitamos livremente a pessoa, ou somos obrigados a aceitar a pessoa. No primeiro caso, escolhemos as pessoas com as quais vamos estabelecer a recorrência da relação. No segundo caso, 4

por obrigação de trabalho, somos forçados a uma interação artificial, que pode se revelar proveitosa a depender de seus caminhos. Mas se esta imposição puder ser burlada, naturalmente passaremos a novamente selecionar os que irão conviver conosco. A possibilidade de convivência dos homens e mulheres em sociedades não é natural como a convivência entre os insetos também não é. Não há natureza. Há a vida. Por esse motivo, a harmonia entre as pessoas só é possível quando estabelecemos o entendimento simpático com elas. 4 a não aceitação do fato de nossa morte nos leva a sofrer. Por outro lado, aceitar a morte nos leva a viver menos. A harmonia não é o fim do conflito. Harmonia é a manutenção da convivência. Quando entramos e saímos com freqüência das vidas das pessoas, ou quando ocorre o contrário, não estamos buscando a harmonia. O lutador perde a guerra quando não observa e interage com seu oponente. O amante também sabe que a contemplação de sua amada é condição de seu romance. Em todas as coisas que fazemos, temos na outra extremidade o outro. Estamos doentes se estamos irremediavelmente a sós. A solidão é um caminho desejável. Mas sua busca não deve ser a negação da convivência, isso seria a falta de harmonia. Antes de qualquer acordo, temos que entrar em entendimento. O entendimento surge antes do diálogo e é o início da comunicação. O entendimento entre duas pessoas pode se ampliar e ser resolvido com simpatia. Mesmo nos mais terríveis combates. Principalmente nas relações mais sagradas e importantes para cada um de nós. Por isso a harmonia deve ser o estabelecimento do entendimento simpático entre as pessoas. 5

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é papel do guerreiro, nisi ancila quod nisi intellectus ipse4, manter a harmonia. Não manter a harmonia destitui essa denominação. Sem essa regra nos tornamos parva naturalia5.

- gi - SOBRE

A PAZ 1

a paz é a preservação da ética certa e da honra. Sem a honra não há paz. Sem a preservação da honra não há o guerreiro 6. A paz não é uma conseqüência, mas uma decisão. A paz não é resultado de um acordo, mas a afirmação de um princípio. 2 a paz não é o fim do combate. A paz é o fim da violência. O combate é a vida do guerreiro. O combate é a necessidade da própria vida continuar constituindo as condições de sua possibilidade. Sem o combate a vida seria impossível. A violência é herança dos terríveis animais que povoaram a terra, e povoam o imaginário de pessoas doentes. As pessoas violentas precisam ser combatidas. A paz é esse combate. A paz não é o fim da luta, mas é o início do fim da violência, qualquer que seja ela. A forma mais grave de violência é a coação sem defesa. Contra a coação sem defesa devemos nos inspirar no bushido. Pela paz como combate contra a violência há textos cristãos. 4

Inteligência que se salva pela dedicação à si mesma. “O que é composto de fragmentos que não interagem”. RACCIO, Farrisse. As comunidades acadêmicas da Antiguidade. Tese Doutorado. Cuiabá: Ed. URMS, 1999. (Glossário, pág 216) 6 “homens existem que são escravos em toda parte, e outros que não o são em parte alguma”. ATISTÓTELES. A política. Rio de Janeiro: Ed. Edições de Ouro, 1965. (pág. 26) 5

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Podemos nos inspirar também na literatura, na filosofia. Mas a paz é em geral conquistada não pelo convencimento racional. Assim como não há motivos para fazer a guerra, não temos também motivos para fazer a paz. Não há justificativas nem para uma e nem para outra postura. A paz é uma decisão coletiva. Os seres humanos não nasceram sabendo fazer paz. Nossa fisiologia está da mesma forma para o amor ou para a morte. A paz é a preservação da ética certa e da honra. 3 a paz é o desafio diário, escolhido como melhor companheiro para o caminho. A paz não é o fim da agressividade. A paz é o fim da violência. A agressividade é a disposição de viver. A violência é a disposição de destruir. A paz é o domínio da agressividade, sua canalização para combates mais importantes. O guerreiro deve ser agressivo. O guerreiro não precisa entretanto destruir o outro. A destruição do outro reduz o oponente a condições inferiores que as do guerreiro, e isso se constitui em combate desonroso. Não tem honra o combate que vise a destruição da vida como objetivo central. A paz é uma decisão que deve ser refletida por todos. Não bastam campanhas e passeatas pequeno burguesas. A paz é uma escolha longa, que deve ser reforçada com intervenções pedagógicas. Aprender a paz é fazer a paz. Phrônesis. O esforço diário de preservação da ética da vida e da honra constitui a paz. 4 o compromisso que possuímos para com nossas convicções fornecerá o grau de dificuldade que encontraremos para a preservação do que achamos certo. E mesmo também do que achamos errado. A paz é a forma como recebemos o outro. E também a forma como recebemos os dias. Nossa ética para com as coisas do mundo, nosso ethos, deve ser a mesma. Todas as coisas devem ser o mesmo. Devemos amar mais aquilo pelo que 5

somos mais responsáveis. E devemos amar mais aquilo que respeitamos mais, e ao mesmo tempo aquilo que possibilitamos mais. A paz são as possibilidades. A paz é a preservação da ética da convivência e da honra que essa opção dá ao guerreiro, pois seus combates são por motivos que transcendem a necessidade de destruição do adversário. Sua causa. 5 uma sociedade de paz, não é uma sociedade sem conflitos. Uma sociedade de paz é uma sociedade onde os conflitos são resolvidos o máximo possível sem violência. A arte da luta deve ser criada para que seja utilizada o mínimo possível. Uma sociedade de paz é uma sociedade onde as redes de interação de convivência são grandes, numerosas. Uma sociedade de guerra é uma sociedade de solidão crônica, sem poesia. Solidão sem poesia. Após aprender que a paz é um caminho diário em direção a um desejo, o desejo da vida, devemos aprender que não teremos frutos necessariamente com isso. Preservar a ética certa, no caso do guerreiro a ética do combate, faz com que o caráter esteja associado à determinação. As demais emoções e desesperos humanos devem estar submetidos ao princípio de um conjunto de opções, que por não serem naturais, pois não há natureza, são refeitas sempre, e assim deve ser. A cada ver que pensarmos sobre a vida, devemos refletir sobre a paz, que é a preservação da ética do combate, que estabelece o respeito a todas as coisas e a vida. A preservação da paz é também a preservação da honra, que faz com que todas as relações travadas e interações cotidianas estejam rodeadas e preenchidas de paz. Pessoas honradas são pessoas de paz. 6 é papel do guerreiro, nisi ancila quod nisi intellectus ipse, preservar a paz. Não manter a ética escolhida e a honra oriunda 5

dessa escolha destitui essa denominação. Sem essa regra nos tornamos parva naturalia.

- chu - SOBRE

A FELICIDADE

1 a felicidade é a demonstração de lealdade a um único senhor. É feliz o homem e a mulher que estão ligados por amizade a um princípio leve e pertinente. Esse princípio é na verdade o deus de cada um. Por isso temos deuses tão diferentes, e nossas concepções monoteístas são tão opostas. O princípio liga uma experiência a outra e faz com que tenhamos uma história. Os verdadeiros senhores são os verdadeiros amigos. Não é senhor de ninguém aquele que sem afeto precisa dominar pela violência. A violência é a destruição. A destruição é a fragmentação e redução do uno ao incompreensível. Apenas as moscas não possuem princípios? Indaguemos sobre a possibilidade de haver algo como sendo um Senhor das moscas. Não podemos dizer muitas coisas sobre a felicidade das moscas. Podemos entretanto fazer um discurso sobre a felicidade das pessoas. E a felicidade é a demonstração de lealdade a um único senhor. 2 A felicidade não é um estado de espírito. A felicidade é a expressão de um desejo. A felicidade é o desejo de ser feliz. A felicidade não se realiza. Em tudo que o homem conclui está a falta. Os projetos que uma pessoa faz tem a idade de suas fibras, suas células e seus neurônios. Mas também tem uma relação com os amigos, com as coisas que fizemos, co nossos feitos. Quando estamos felizes, estamos nos realizando no princípio de nossos desejos de sermos felizes, e do que nossa felicidade pode 5

significar para as pessoas que amamos. Ser feliz é se manter leal a um princípio. 3 para eleger um princípio como sendo o de maior importância para o significado do que fazemos, temos liberdade. Podemos não ter condições de discernir o que deveria ser bom ou mal. O que é bom e o que é mal também acontece para nós a partir de nossas opções. Podemos aprender a eleger os princípios norteadores de nossas ações. A ética não pode ser imposta. Ela é eleita. A felicidade surge na eleição de um princípio para nossas vidas, e da lealdade que pudermos demonstrar a esse princípio. 4 se resolvermos chamar de felicidade as coisas que acontecem prazerosamente em nossas vidas, coisas que podem acontecer por meros momentos sem história, e sem poesia, nos tornamos infelizes. Por isso sofrem tantos os amantes. A felicidade não será algo que demonstre seus princípios. Logo não será possível ser leal ao que não é conhecido e amado. Ser feliz surge quando experimentamos em toda a seqüência do desejo de ser, a experiência antecipada 5 o guerreiro deve repousar sempre que se sentir infeliz, sempre que seu princípio lhe parecer inatingível. Esse é um momento onde seu humor não é bom. Deve buscar a solidão. E fazer seu retiro. Deve se confiar seus zelos, pois a felicidade é a lealdade. O mundo é irregular. A razão opera em outros níveis de distinção. Por isso não entendemos nossas dores. E buscamos a solução onde ela não está. Quando um homem não vê diante de si, como resultado de suas ações, o projeto de vida que lhe causa maior amizade, ele se torna infeliz. O homem infeliz é o homem 5

desgovernado. Ele se torna violento e triste. A felicidade é a demonstração de lealdade ao princípio mais importantes de nossas vidas, aos objetos de nossos desejos de felicidade. 6 a obediência ao código de condutas eleito livremente como sendo aquele que nos é mais importante, é necessária. A falta de felicidade não é necessariamente a tristeza. A falta de felicidade é o vazio de ser. Não saber que caminho se está tomando é a infelicidade. permanecer no mesmo lugar é o vazio. Escolher e ser responsável pela história que construímos é um princípio. estabelecer a harmonia e preservar a paz são princípios também. Amar esses princípios gera a felicidade. 7 deve ser desejo do guerreiro a felicidade. O guerreiro infeliz, ou iludido, não promove um sentido aproveitável de suas ações. O fracasso gera o mau humor. A infelicidade leva ao mau humor. O mau humor é um sintoma da morte. Devemos saber sempre a hora de morrer. Não compreender isso, e se tornar infeliz por ignorância faz com que o guerreiro esteja desonrado, e dessa forma não se torna digno de tentar educar os outros. Para educar, devemos admitir que nós também poderemos aprender com o que estamos dizendo para o outro. Não ser leal ao seu senhor, mesmo em caso da impossibilidade dele, como para os anarquistas, como para os ronins, é ser infeliz. Ser infeliz é não ter um princípio que lhe gere afeto e amor pela vida, e por sua própria vida. Os suicidas são sempre infelizes. O guerreiro não pode ser um suicida. A destruição de sua própria vida não pode causar a destruição da vida de outras pessoas. Por outro lado, o aniquilamento de si mesmo, pelo suicídio ou pela culpa, devem ser evitados. Os culpados e os suicidas são infelizes. É dever do guerreiro cultivar o desejo da felicidade. Não buscar esse princípio de lealdade à uma causa desonra o guerreiro. Sem um 5

princípio para ser fiel, não há a possibilidade de poesia. Sem poesia e sem um princípio de lealdade uma pessoa não é confiável, e é por isso fonte de enganos. Não ter em mente o princípio de lealdade desqualifica um guerreiro. Não é bom lutar contra guerreiros infelizes. São ferozes e violentos. Não se pode ensinar nada a eles e deles só podemos aprender a cautela e a resposta rápida. Por isso deve ser desejo do guerreiro a felicidade. A felicidade pessoal é uma conseqüência da felicidade das pessoas que estão em nosso redor. Entretanto nossa felicidade é independente da vontade e dos desejos das outras pessoas.

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Capítulo quinto7:

As considerações sobre o amor Oração ao Cristo Laranja Senhor, Isso é simples, É simples por que não quero o mal de ninguém, Não quero que ninguém fique morrendo por ai, Fique querendo controlar as pessoas, Fique surrando as pessoas até a morte, com crueldade, Fique proibindo coisas que nem mesmo sabe o que é, Fique se explodindo em nome de deus, Ou fazendo filmes sensacionalistas, Ou fazendo filmes sérios, Ou fazendo filmes, Ou, Mas isso não tem nada a ver com uma oração, 7

O presente capítulo é formado das poesias que foram afixadas nas paredes do Curso de pedagogia da Faculdade de Educação da Universidade de Belo Horizonte por ocasião de uma das manifestações do movimento Tabuleiro. Do movimento surgiu o grupo antropomusical e poético Tabulerio formado por Evangely, Laurici, Alex, Clarisse, Cláudia , e outros poetas e poetisas, atrizes, pensadores e músicos, ligados à pedagogia, filosofia, antropologia, samba e história. As poesias foram colocadas com o pseudônimo de Farrisse Cristina junto com a possibilidade de que os integrantes do movimento também colocassem as suas, com pseudônimo ou não. Cristina é por causa da Cristina mesmo! A poluição de poesia tem um nome baseado em uma metáfora usada por Nigel Warburton no texto Elementos básicos de filosofia. A palavra é Tremeluzir, e esse foi o nome que demos às poesias na faculdade. Quando conversamos e idéia que me ocorreu foi a de que um tempo houvesse a febre de escrever poemas coletivamente. Para alguma coisa pelo menos.

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Isso é simples É simples por que quero apenas falar de amor, Isso é simples, Mas não quero falar de desespero, Ou de fé, Ou de religião, ou de literatura, Ou que eu gosto de filmes japoneses, Ou de porra nenhuma! Isso é simples, É só ficar calada. Mas eu não consigo, senhor, Eu não consigo!

Na noite em que te amei mais Nessa noite já mencionada Com um tema para si mesma Como as palavras, que eu não disse para você Eu não disse, Não foi possível Entretanto o amor é a própria metalinguagem Assim como é falar sobre si mesmo, E isso não foi possível também, Essa certeza, Esta certeza de que eu estava, depois que nos falamos por telefone, Quando você veio ao Brasil, De que eu estava te amando mais que da última vez, Essa estranha certeza, Começa a ficar desconfigurada... ..., como um poema, ;;; que vai... ;; se,,, ??? a ,,, ^^^~~~ fun... “”” !!! dan’’’
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