Os estudos antropológicos acerca dos rituais de comensalidade de Michael Dietler como modelo interpretativo para os banquetes homéricos

August 17, 2017 | Autor: Félix Jácome | Categoria: Homer, History Of Food Consumption, Ancient Greek History, Ancient Greek Literature, Iliad
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I Fórum-Estudante de História e Culturas da Alimentação Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra 30 de maio de 2014

Os estudos antropológicos acerca dos rituais de comensalidade de Michael Dietler como modelo interpretativo para os banquetes homéricos. Félix Jácome Neto [email protected]

1. definições básicas: “Feasts”: uma rubrica analítica usada para descrever formas de atividade ritual que envolve o consumo comum de comida e bebida (Dietler 2001: 65). “Alimentação de luxo”: não são necessariamente ítens específicos de comida e bebida, mas uma alimentação que oferece um refinamento, quantitativo ou qualitativo, de uma comida básica que é muita desejada pela comunidade em questão. Além disso, esta alimentação precisa servir como um meio que expressa distinção social para quem a consome (Van der Veen 2003: 413). 2. Modalidades de rituais de comensalidade (adaptado de Dietler 2001; Hayden 1996)

Formas de ação política através dos rituais de comensalidade

celebratory feasts

empowering feasts

patron-role feasts

diacritical feasts

Reforça laços sociais já existentes entre os comensais

Banquetes resultam na criação de poder social e/ou vantagens econômicas para o (s) anfitrião (ões), criando relações de desigualdade entre os comensais e possibilitando o prestígio necessário para tornar o anfitrião um líder

Uso formalizado da hospitalidade junto aos comensais a fim de reiterar e legitimar, de forma simbólica, relações assimétricas de poder social

Uso de cozinha e estilo de consumo diferenciados do resto da população como forma de naturalizar conceitos de diferenças hierárquicas de status ou classe. Trata-se de garantir desigualdades sociais pré-existentes ao banquete, tem como efeito a exclusão dos “outros” que não são comensais. É uma espécie de comensalidade segregativa

Estatuto social dos participantes

Indivíduos de status social próximo, sem intensa competição de status

A assimetria entre comensais e anfitrião é forjada através do mecanismo do ritual de comensalidade. Em troca do festim, os convidados aceitam a obrigação de dar algo, seja outra festa, seja deferência ou mesmo mão-deobra para serviços de interesse do anfitrião, inclusive militares. Pode haver intensa competição por status social.

Relação assimétrica entre os comensais e o(s) anfitrião (ões), numa espécie de patrão-cliente. Os comensais podem fornecem trabalho para o anfitrião.

Círculo exclusivo de comensais distinguidos do resto da comunidade

Critério de sofisticação da alimentação

Alimentação similar às refeições cotidianas

A força simbólica encontra-se na quantidade de alimento presente nos banquetes

A força simbólica encontra-se na quantidade de alimento presente nos banquetes

A força simbólica reside na qualidade e no estilo da produção e consumo dos alimentos (comidas raras, exóticas, caras); recipientes elaborados; padrão complexo de prepação e consumo. Pode acontecer o inverso, a restrição de certos alimentos (“impuros”) como marca de status do banquete das elites.

Nível de complexidade sócio-política da comunidade

Sociedades com pouca ênfase sobre desigualdade

Sociedades sem papeis políticos formais institucionalizados; hierarquia social não é herdada, mas conquistada

Sociedades com autoridade institucionalizada. Chefe pode possuir força coercitiva para coletar alimentos da população (tributos) de modo a sustentar seus imponentes banquetes.

Sociedades com classes sociais e Estado. A elite de comensais tem acesso privilegiado aos meios de subsistência da comunidade. Pode haver propriedade privada de bens e o poder da elite pode ser herdado, antes que conquistado.

3. Rituais de comensalidade em Homero: o líder tem sua posição dominante primariamente devido ao seu generoso banquete pelo qual angaria seguidores? Ou o banquete é uma troca de gentilezas entre aristocratas que baseiam seus poderes em outro fatores que não a generosidade dos banquetes?

Agamemnon a Menesteu e Odisseu (IL 4. 340-346) tradução: dr. Frederico Lourenço. Por que razão ficas assim para trás, à espera dos outros? Ficava-vos melhor se vos colocásseis entre os primeiros E assim enfrentásseis as labaredas da guerra. Pois sois os primeiros a ouvir meu chamamento Quando nós Aqueus preparamos um banquete para os anciãos (daita gerousin). Aí vos comprazeis a comer carne assada e beber Taças de vinho doce como mel (kupella oinou pinemenai meliedeos), tanto quanto quereis.

Agamemnon a Odisseu : “Não te repreendo em demasia, nem te dou ordens” (IL 4. 359). Bibliografia Dietler, M. and Hayden, B. (eds) (2001). Feasts: Archaeological and Ethnographic Perspectives on Food, Politics, and Power. Smithsonian Institution Press. Hayden, B. (1996). Feasting in prehistoric and traditional societies. In W. Schiefenhövel; P.W. Wiessner. Food and the Status Quest: An Interdisciplinary Perspective. Berghahn Books Van der Veen, M. (2003). When Is Food a Luxury? World Archaeology 34.3, pp. 405-427 Van Wees, H. (1995). Princes at dinner: social event and social structure in Homer. In: J. P. Crielaard. (ed), Homeric Questions. Amsterdam Wecowski, M. (2014). The Rise of the Greek Aristocratic Banquet. Oxford University Press

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