OS GRAUS DE VINCULATIVIDADE DOS PRECEDENTES NO DIREITO BRASILEIRO.pdf

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OS  GRAUS  DE  VINCULATIVIDADE  DOS  PRECEDENTES  NO   DIREITO  BRASILEIRO     (ensaio  esboçado  para  discussão)       CLAYTON  MARANHÃO         A   Emenda   Constitucional   n.   45/2004   incluiu   relevante   mecanismo   no   ordenamento  jurídico  brasileiro.  Trata-­‐se  do  efeito  vinculante,  previsto  (i)  para   as  decisões  definitivas  de  mérito,  proferidas  pelo  Supremo  Tribunal  Federal  nas   ações   diretas   de   inconstitucionalidade   (inclusive   por   omissão)   e   nas   ações   declaratórias  de  constitucionalidade  (art.  103,  §1º),  assim  como  (ii)  por  ocasião   da   aprovação   de   súmula   vinculante,   de   ofício   ou   a   requerimento,   mediante   decisão  de  dois  terços  dos  seus  membros,  após  reiteradas  decisões  sobre  matéria   constitucional  (art.  103-­‐A,  caput).  Tais  decisões  proferidas  em  sede  de  controle   abstrado  de  constitucionalidade  e  súmulas  vinculantes  tem  a  funcionalidade  de   vincular   não   só   as   Turmas   e   Ministros   do   próprio   Supremo   Tribunal   Federal   (ao   que   se   denomina   eficácia   horizontal   dos   precedentes),   como   também   todos   os   Tribunais   e   juízes   componentes   das   chamadas   instâncias   ordinárias   (ao   que   se   denomina  eficácia  vertical  dos  precedentes).     Desde   logo   é   fácil   intuir   a   relevância   jurídica   da   atribuição   de   efeitos   vinculantes   para   tais   deliberações   do   Supremo   Tribunal   Federal.   Sem   a   pretensão   de   exaurir   toda   a   abrangência   que   o   assunto   comporta,   arrisca-­‐se   elencar   alguns   dos   reflexos   do   efeito   vinculante   no   regime   dos   seguintes   institutos   jurídicos:   (i)   delimita   a   função   dos   Tribunais   Superiores   em   si   considerados   e   na   perspectiva   da   repartição   constitucional   de   suas   competências;   (ii)   institucionaliza   um   sistema   de   precedentes   com   estatura   constitucional,   ressignificando   o   papel   da   jurisprudência   e   das   súmulas   persuasivas,  delas  destacando  um  conjunto  diferenciado  de  decisões,  emanadas   sobretudo  das  Cortes  Supremas  (ressalvados  os  precedentes  relativos  ao  direito   estadual   e   municipal),   cujos   motivos   determinantes   é   que   devem   ser   considerados   e   não   propriamente   o   capítulo   do   julgado;   (iii)   por   decorrência,   conduz  a  novas  dimensões  teóricas  das  fontes  do  direito,  da  norma  jurídica,  da   interpretação   judicial,   do   direito   constitucional   positivo,   dos   direitos   fundamentais,   e,   por   conseguinte,   do   direito   processual   civil;   (iv)   tudo   isso   é   conducente   à   ideia   de   uniformização,   estabilidade,   coerência   e   consistência   (integridade)  da  jurisprudência.     Como  se  sabe,  o  cidadão  têm  um  rol  de  direitos  e  garantias  catalogados  na   Constituição   Federal.   Dentre   tais   direitos,   destacamos   a   importância   dos   direitos   fundamentais   processuais,   e   notadamente   aqueles   decorrentes   do   devido   processo   constitucional,   como   por   exemplo   o   direito   à   ampla   defesa,   ao  

contraditório,   à   prova,   à   efetividade   da   tutela   jurisdicional,   à   igualdade   e   paridade  processual,  dentre  outros.     Não   obstante   isso,   o   CPC/73   estava   defasado   em   relação   ao   texto   constitucional  vigente.  Não  por  outra  razão,  o  texto  do  novo  CPC/15  conecta  os   direitos  processuais  do  cidadão  com  os  direitos  fundametais  processuais  que  lhe   são  garantidos  no  texto  constitucional.     Uma   das   principais   novidades   do   texto   do   CPC/15   resulta   na   densificação   do   sistema   de   precedentes   inaugurado   no   texto   constitucional,   a   partir   da   Emenda  45/2004.     Para  tanto,  definiu  um  rol  não  exaustivo  de  precedentes  judiciais  (art.  927   e   art.   332),   considerando-­‐os   de   observância   obrigatória   por   todos   os   juízes   e   tribunais,   ou   seja,   desnsificando   no   texto   infra-­‐constitucional   os   efeitos   vinculantes   atribuídos   aos   motivos   determinantes   das   decisões   emanadas   das   Cortes   Supremas,   notadamente   do   Supremo   Tribunal   Federal   e   do   Superior   Tribunal  de  Justiça.       Importa  aqui  considerar  que,  a  partir  da  leitura  do  art.  988,  III  e  IV,  §§  4º  e   5º,  II,  o  CPC/15  definiu  graus  de  vinculatividade  de  tais  precedentes  ao  estatuir   que  a  aplicação  indevida  ou  a  não  aplicação  de  precedente  por  parte  de  juízes  ou   tribunais   das   instâncias   ordinárias,   a   depender   do   caso,   permite   o   imediato   e   direto   manejo   da   Reclamação   Constitucional   junto   à   Corte   Suprema   de   onde   emanou   o   precedente   desaplicado,   ou,   então,   condicionando   o   prévio   exaurimento   dos   recursos   nas   instâncias   ordinárias,   para   somente   após   manejar   a   Reclamação   Constitucional   e,   por   fim,   negando   o   cabimento   desta   ação   constitucional  (da  Reclamação)  em  algumas  hipóteses.     Como   se   percebe,   tem-­‐se   no   ordenamento   jurídico-­‐processual   brasileiro   vigente   três   graus   de   vinculatividade   dos   precedentes   judiciais,   resultante   da   conjugação  do  art.  927  com  o  art.  988,  III  e  IV,  §§  4º  e  5º,  II,  o  CPC/15:  (i)  forte,   quando   couber   reclamação   simultânea   ao   recurso   processual   cabível   (exemplo:   apelação   ao   Tribunal   de   Justiça   e   Reclamação   ao   STJ   ou   ao   STF,   diante   de   não   aplicação   de   Súmula   Vinculante   ou   de   tese   firmada   em   ação   direta   de   inconstitucionalidade);   (ii)   média,   quando   o   cabimento   de   reclamação   é   condicionado   ao   exaurimento   dos   recursos   nas   instâncias   ordinárias,   quando   então  deve  ser  manejado  a  partir  da  abertura  do  prazo  para  recurso  especial  ou   extraordinário  (mas  de  todo  modo,  antes  do  trânsito  em  julgado  da  decisão  que,   em  tese,  não  aplica  o  precedente  da  Corte  Suprema),  quando,  por  exemplo,  não   for   aplicada   tese   jurídica   firmada   em   recursos   repetitivos   ou   em   repercussão   geral;   (iii)   fraca,   quando   não   cabe   o   ajuizamento   de   reclamação   constitucional,   mas  apenas  os  recursos  processuais  cabíveis,  até  que  se  leve  a  questão,  tempos   depois,   às   Cortes   Supremas,   via   recurso   especial   ou   extraordinário   (ex.:   não   aplicação  de  Súmulas  persuasivas  do  STF  ou  STJ).     Note-­‐se  que  os  graus  de  vinculatividade  dos  precedentes,  que  têm  função   prospectiva,  em  nada  se  confundem  com  as  técnicas  de  aceleração  de  julgamento   (de  resto  cabíveis  também  nos  outros  casos  onde  o  grau  é  forte  ou  médio),  tais   como   improcedência   liminar   do   pedido,   deferimento   liminar   de   tutela   de  

evidência,  descabimento  de  reexame  necessário  ou  julgamento  monocrático  pelo   relator  do  recurso.     (Clayton  Maranhão  é  Desembargador  do  Tribunal  de  Justiça  do  Estado  do  Paraná  e   Professor  Adjunto  de  Direito  Processual  Civil  na  Universidade  Federal  do  Paraná).  

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