Os ídolos nas revistas “teen”: Uma análise de Atrevida, Capricho e Todateen (Trabalho de Conclusão de Curso)

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Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação Departamento de Comunicação Social

Camila Fernandes de Oliveira

Os ídolos nas revistas “teen” Uma análise de Atrevida, Capricho e Todateen

Bauru 2012

Camila Fernandes de Oliveira

Os ídolos nas revistas “teen” Uma análise de Atrevida, Capricho e Todateen Trabalho de conclusão de curso apresentado como exigência para a obtenção do título de Bacharel em Comunicação Social – Habilitação em Jornalismo –, à Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”.

Orientador: Prof. Dr. Mauro de Souza Ventura

Bauru 2012

Oliveira, Camila Fernandes de. Os ídolos nas revistas “teen”: uma análise de Atrevida, Capricho e Todateen / Camila Fernandes de Oliveira, 2012

211 f. : il. Orientador: Mauro de Souza Ventura Monografia (Graduação)–Universidade Estadual Paulista. Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação, Bauru, 2012 1. Jornalismo em revista. 2. Juventude. 3. Comportamento. I. Universidade Estadual Paulista. Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação. II. Título.

Camila Fernandes de Oliveira

Os ídolos nas revistas “teen” Uma análise de Atrevida, Capricho e Todateen Trabalho de conclusão de curso apresentado como exigência para a obtenção do título de Bacharel em Comunicação Social – Habilitação em Jornalismo –, à Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”.

Aprovado em 28/11/2012

Banca Examinadora

Prof. Dr. Mauro de Souza Ventura – Orientador (Departamento de Comunicação Social – FAAC)

Profa. Dra. Daniele Fernandes da Silva (Departamento de Comunicação Social – FAAC)

Liliane de Lucena Ito (Editora da Revista Todateen, mestre em Comunicação Midiática pela Unesp)

Às minhas avós, responsáveis pelas minhas primeiras lições, que agora veem tudo lá de cima.

Agradecimentos A Deus, que tudo possibilita. À Momo e ao Celo, que me ensinaram a sonhar, a correr atrás dos sonhos, e a crer que para tudo dá-se um jeito, À Meirinha e ao Toninho, pelo investimento na minha educação sempre que necessário, Às minhas tias, mães de coração, e a toda minha família, por formarem meu porto seguro. Aos amigos que fiz em Bauru, em especial Zi, Zé, Mints, Lali, Lari, Luquinhas, Luci, Ods, que tornaram a saudade de casa menor e a faculdade mais alegre, Aos meus colegas da Biblioteca, em especial ao Ri, pelo companheirismo, apoio e incentivo. Ao Daniel, pelo amor, carinho e paciência. E pelo scanner. À Liliane de Lucena, à Lali, ao Ri e ao meu pai, pela colaboração na coleta do corpus. Ao Mauro, por aceitar a ideia e acreditar na conclusão desse trabalho quando nem eu estava acreditando. À Unesp, pela colaboração com minha formação. A todos que, direta ou indiretamente, contribuíram com este trabalho e com minha formação.

Revista é também um encontro entre um editor e um leitor, um contato que se estabelece, um fio invisível que une um grupo de pessoas e, nesse sentido, ajuda a construir identidade, ou seja, cria identificações, dá sensação de pertencer a determinado grupo. (SCALZO, 2006, p. 12)

Resumo O presente trabalho busca realizar uma análise comparativa das reportagens de capa das revistas Atrevida, da editora Escala, Capricho, da editora Abril, e Todateen, da editora AltoAstral, publicadas entre 2008 e 2012, que derem destaque aos fenômenos com presença mais recorrentes nas capas. O objetivo da pesquisa é analisar os critérios de noticiabilidade adotados pelas publicações dirigidas ao público adolescente, relacionando-os aos destaques de capa envolvendo ídolos do referido público-alvo. Como objeto, será estudada a cobertura jornalística dada pelas revistas a quatro fenômenos da indústria cultural: os atores da saga Crepúsculo, os atores dos seriados do canal Disney Channel, o cantor Justin Bieber e os atores da novela brasileira Rebelde. O trabalho inicia com um histórico do jornalismo de revista, de sua origem até o jornalismo voltado para as leitoras adolescentes, passando pela história das revistas femininas e de variedade. Em seguida, é apresentada a fundamentação teórica os conceitos oriundos da Teoria da Notícia (Traquina) em confronto com as noções de consumo (Canclini) e comportamento (Featherstone). Por último, a análise do corpus, que foi definido por um recorte temático dentro do período mencionado, dividida em dois grandes grupos de reportagens: aquelas em que o ídolo é a notícia, e aquelas em que ele serve de guia para a leitora. Palavras-chave: Jornalismo em revista; Público jovem; Ídolos; Comportamento; Critérios de noticiabilidade.

Abstract This study aims to conduct a comparative analysis of the cover stories of magazines Atrevida, published by Escala, Capricho, published by Abril, and Todateen, published by AltoAstral, published between 2008 and 2012, which give prominence to the phenomena with more recurring presence on the covers. The objective of the research is to analyze the criteria for newsworthiness adopted by publications targeting a teenage audience, relating them to cover highlights involving idols of that audience. As object, we study the press coverage given to four magazines phenomena of cultural industry: the actors in the Twilight saga, the actors of the Disney Channel series, singer Justin Bieber and actors of Brazilian soap opera Rebelde. The work begins with a history of magazine journalism, from its origin to the journalism geared toward teenage readers, through the history of women's magazines and variety. Then, we present the theoretical concepts from the Theory News (Traquina) in confrontation with the notions of consumption (Canclini) and behavior (Featherstone). Finally, analysis of the corpus, which was defined by a cutout thematic within this period, divided into two major groups of news reports: those in which the idol is the news, and those in which he serves as a guide for the reader. Keywords: Journalism in magazine; young audience; Idols; Behavior; criteria of newsworthiness.

Sumário

1 Introdução ............................................................................................................. 11 2 Histórico das revistas .......................................................................................... 14 2.1 Revistas de grande tiragem.............................................................................. 16 2.2 Revistas femininas ............................................................................................ 17 2.3 Revistas Jovens ................................................................................................ 20 2.4 As revistas selecionadas .................................................................................. 23 3 Fundamentação Teórica ...................................................................................... 24 3.1 Critérios de noticiabilidade .............................................................................. 24 3.1.1 Valores-notícia de seleção - Critérios substantivos ................................... 27 3.1.2 Valores-notícia de seleção - Critérios contextuais ...................................... 29 3.1.3 Valores-notícia de construção ...................................................................... 30 3.2 Consumo ............................................................................................................ 31 3.3 Pós-modernidade .............................................................................................. 34 4 Análise do corpus ................................................................................................ 38 4.1 O ídolo como notícia ......................................................................................... 41 4.1.1 Crepúsculo na Capricho ................................................................................ 41 4.1.2 Robsten é notícia............................................................................................ 43 4.1.3 Lua Nova: o destaque a Taylor Lautner ....................................................... 44 4.1.4 Rebelde estreia na Todateen ......................................................................... 45 4.1.5 Todo Rebelde é assunto ................................................................................ 47 4.1.6 Os irmãos Jonas ............................................................................................ 48 4.1.7 O fenômeno Justin Bieber ............................................................................. 49 4.1.8 O novo Justin ................................................................................................. 51 4.1.9 Justlena: Casais são notícia ......................................................................... 53 4.1.10 Luar: Destaque até no fim do relacionamento ........................................... 54 4.2 Ídolo como guia ................................................................................................. 56 4.2.1 Viva um romance pra valer ............................................................................ 56 4.2.2 Justlena: Namoro dos sonhos ...................................................................... 57 4.2.3 Rebelde ensina ............................................................................................... 57 4.2.4 Garota do bem: Selena Gomez como exemplo ........................................... 59 4.2.5 O drama de Demi ............................................................................................ 60 4.2.6 Miley está feliz ................................................................................................ 62 4.2.7 Kristen é diva .................................................................................................. 62 5 Considerações finais ........................................................................................... 64 Referências .............................................................................................................. 66 Anexos ..................................................................................................................... 69

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1 Introdução O mercado editorial, nas últimas décadas, assistiu o crescimento significativo do número de publicações e de exemplares vendidos para o público feminino adolescente. Os ídolos ocupam as capas no lugar dos modelos e a tecnologia favorece a cobertura jornalística de eventos internacionais. A internet permite a circulação mais rápida da informação que, em vez de prejudicar o consumo do jornalismo impresso, facilita a disseminação da indústria audiovisual e fonográfica, principal base de conteúdo dessas revistas. No momento de definir o objeto de análise deste trabalho foi determinante a carência de material produzido sobre o assunto, o que se configurou num estímulo e num obstáculo para a pesquisa. O material já produzido relacionado às revistas adolescentes costuma se restringir a monografias de trabalhos de conclusão de curso e a análises de um elemento de apenas um dos principais títulos. Estudos comparativos desses três títulos (Atrevida, Capricho e Todateen) são raros. O pouco interesse demonstrado com esse tipo de revista é reflexo de um preconceito antigo, que, apesar da diminuição da ocorrência, ainda existe. Scalzo (2006, p. 88) comenta esse preconceito em seu livro. Antes de seguir adiante, quero retroceder um pouco no tempo e comentar o preconceito que existe da parte dos jornalistas em relação a alguns títulos e, também, as lições que temos que aprender para ampliar nossos horizontes de trabalho. [...] É comum sair da universidade sem se conhecer o universo das revistas - com exceção das semanais de informação, pouca ou nenhuma atenção é dada a elas nos cursos de jornalismo, apesar de representarem uma boa fatia do mercado de trabalho e uma fonte quase inesgotável para os estudos de comunicação.

Muitos pesquisadores se limitam em aceitar a ideia de que as revistas adolescentes somente abordam futilidades ou, ainda, buscam propor produtos midiáticos alternativos para esse público sem antes admitir que os produtos já existentes e consolidados foram estruturados com base em uma pesquisa de mercado constante, além de receberem feedback quase instantâneo a cada publicação. Se as publicações para esse público adotam estratégias semelhantes de aproximação, e se essas estratégias têm funcionado, elas precisam ser aceitas

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como relevantes e analisadas, para que qualquer alternativa sugerida tenha uma aplicabilidade mais próxima da realidade. Em 2005, em entrevista a Allan Novaes, a então chefe de redação da Capricho, Brenda Fucuta falava sobre o papel da Capricho em relação às críticas às mídias voltadas para adolescentes, que precisariam oferecer uma visão sociopolítica e cultural. [...] há uma preocupação em fornecer informação e reflexão de qualidade a nossas leitoras. Se formos menos convencionais, digo que, antes de mais nada, uma revista precisa ser lida. E para ser lida ela precisa ser honesta com o desejo do seu leitor. Temos ídolos porque as meninas gostam de ídolos. Temos matéria sobre moda, porque a garota quer ser orientada e não pagar mico na hora de se vestir. Não costumamos ter (e me desculpem algumas ONGs): matérias que elas não lêem. (NOVAES, 2005)

Ao destacar da fala de Brenda (Novaes, 2005) a afirmação de que as revistas têm ídolos porque as meninas gostam de ídolos, o presente trabalho busca compreender quais critérios de noticiabilidade as revistas para o público feminino adolescente adotam nas reportagens de capa. A Capricho disponibilizou um panorama sobre o perfil da adolescente brasileira na seção voltada a publicidade do site da Abril. O intitulado “Caderno Capricho sobre a adolescente brasileira” (2012) traz informações sobre a vida da adolescente, seu dia-a-dia, o que valoriza em relação a família, amigos, hobbies, escola, consumo, entre outras coisas. Entre os âmbitos em que são apresentadas estatísticas, destaca-se que 85% das garotas admitem ter ídolos, e na identificação dos ídolos, 34% apontaram os atores de Crepúsculo e 21%, a banda Jonas Brothers. Assim, após uma verificação da recorrência dos destaques da capa, considerou-se importante estudar a presença nas reportagens de capa dos fenômenos Crepúsculo, seriados do Disney Channel, Justin Bieber e novela Rebelde em conjunto, com a finalidade de revelar os critérios que pautam a cobertura jornalística das publicações selecionadas, bem como identificar os valores notícia envolvidos nos critérios de seleção e de construção adotados pelas três revistas. A primeira parte é dedicada a estudar a história das revistas, fazendo um breve panorama desde o lançamento da alemã Erbauliche Months Unterredungen até os dias de hoje, com foco no que propiciou a consolidação das revistas voltadas para o público feminino adolescente, como o surgimento das revistas de variedade e das femininas. Para a construção desse histórico, apoiou-se em Ali (2009), Mira

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(1997) e Scalzo (2006), principalmente, além de informações encontradas em A Revista no Brasil (2000) e História Revista (2011). No fim desse capítulo, serão apresentadas informações sobre os três títulos – Atrevida, Capricho e Todateen. A segunda parte serve de fundamentação teórica dos critérios para a análise do corpus. Trabalhou-se com a definição dos valores-notícia de Traquina (2008), o conceito de consumo de Canclini (2008) e a ideia de comportamento na pósmodernidade de Featherstone (1995). Na terceira parte, encontra-se a apresentação e a análise do corpus, que foi divida em dois grupos principais: O ídolo como notícia e o O ídolo como guia que caracterizam os dois principais papéis dos artistas na construção das reportagens.

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2 Histórico das revistas Revista tem cor, cheiro, textura. Revista tem identidade, tem significado, sentido, representação. Uma passadinha em qualquer banca de jornal (talvez seja melhor dizer banca de revista) mostra a infinidade de títulos de uma imensa variedade de assuntos para os mais diversos públicos. De acordo com a ANER (Associação Nacional dos Editores de revistas), em 2010, o número de títulos de revistas no Brasil ultrapassava 4500, um aumento de mais de 100% em relação a 2001. Esse número tem pelo menos dois significados: as revistas não foram mortas pela internet (pelo menos não por enquanto) e a segmentação do mercado é responsável pela salvação e pelo aumento do número de títulos. Essa maneira peculiar de transmitir informação, que não é tão profunda como os livros, nem tão “inédita” como a internet - ou o jornal, se nos restringirmos ao meio impresso - tem sua origem em 1663, na Alemanha. Segundo Ali (2009) e Scalzo (2006), a revista, chamada Erbauliche Months Unterredungen (Edificantes Discussões Mensais), ainda tinha a aparência de um livro, mas, como as revistas, reunia artigos voltados a um público-alvo definido, no caso, teólogos. Na época, o contexto histórico do iluminismo propiciou o surgimento de outras publicações inspiradas nessa. Em 1665, na França, a Journal des Savants (Jornal dos Estudantes), em 1668, na Itália, Giornali dei Litterati (Jornal dos literatos), em 1680, na Inglaterra, a Mercurius Librarius (Livreiro Mercúrio) ou Faithfull Account of all Books and Pamphlets (Relato fiel de todos os livros e panfletos). As primeiras revistas focavam-se em apenas um tema, mas os títulos multitemáticos não demoraram a surgir. Em 1693, o livreiro John Duton lançou The Ladies’ Mercury (O Mercúrio das Senhoras – “Mercúrio” era um termo comum nos títulos da época por fazer referência ao deus que, na mitologia romana, era o mensageiro dos deuses), a primeira revista feminina – a primeira publicação que segmentava o público. Mas foi em 1731, na Inglaterra que surgiu a The Gentleman’s Magazine (A revista do Cavalheiro), a primeira revista no formato moderno, ou seja, um conjunto de matérias variadas com notícia, opinião, poesia e ciência, acessíveis para as pessoas comuns. Seu conteúdo combinava textos tirados de jornais com trechos dos últimos lançamentos de livros, além de textos originais: obituários, música, notícias internacionais, nascimentos, casamentos, comentários

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políticos e matérias ilustradas com gravuras. Com uma circulação de 10 mil exemplares, foi modelo para várias revistas na Europa e nos Estados Unidos. (ALI, 2009, p. 313)

O modelo moderno de The Gentleman’s Magazine foi “copiado” em sua versão feminina, em 1749, Lady’s Magazine (Revista da Dama), a mais popular revista feminina da época. Os temas variavam de literatura à moda, incluindo ainda moldes de bordados e partitura de músicas. A revista foi a precursora em publicar figuras coloridas. O termo magazine, adotado pela primeira vez na The Gentleman Magazine foi escolhido por seu editor, Edward Cave, pela associação das revistas às grandes magazines, estabelecimentos comerciais com tipos variados de produtos. No Brasil, o que é considerada como a primeira revista da história varia de acordo com o autor. Ali (2009) aponta como pioneiro o Correio Brasiliense publicado em Londres por José Hipólito da Costa - que circulou clandestinamente no Brasil e em Portugal entre 1808 e 1822. Como chegava ao país de navio, o título já enfrentava defasagem temporal do que era publicado. Para Scalzo (2006), a primeira revista brasileira surgiu em Salvador, Bahia, em 1812. As Variedades ou Ensaios de Literatura tinha a intenção de publicar sobre os costumes da época, história e literatura, além de trazer trechos da literatura portuguesa e resumos de viagem. Em 1813, no Rio de Janeiro, surge O Patriota, com uma abordagem mais voltada à divulgação nacional. Mas foi em 1849 que as revistas de variedade chegaram ao Brasil, quando foram lançadas revistas como A Marmota da Corte – abusando de “ilustrações, dos textos mais curtos e do humor” (SCALZO, 2006, p. 29) - e a Marmota Fluminense – “misto de literatura, crítica literária, musical e teatral; romances e novelas anônimas e figurinos coloridos litografados em Paris.” (ALI, 2009, p. 325). Outro período de destaque ocorreu no início do século XX, quando as publicações se dividiam entre cultura - um exemplo é a revista Klaxon, de 1922, que servia de instrumento de divulgação das ideias modernistas – e variedade – destacando-se a Revista da Semana, de 1900, que foi pioneira no uso intensivo de imagens, fotos e caricaturas, artifício utilizado para atrair a atenção do leitor e ainda é bastante comum. (SCALZO, 2006)

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2.1 Revistas de grande tiragem O fim da década de 20 foi marcado pelo surgimento de um grande fenômeno editorial - a revista O Cruzeiro, publicação do grupo Diários Associados, de Assis Chateaubriand, lançada em 1928. Ali (2009) comenta que com a massiva publicidade em torno de seu lançamento, a revista esgotou a tiragem de 35 mil exemplares da primeira edição em poucas horas. A revista bateu o recorde de vendas com a edição especial do suicídio de Vargas, em 1954, quando alcançou a marca de 720 mil exemplares. Scalzo (2006, p. 30) aponta que um dos diferenciais da revista que fazia com que atingisse um público tão grande era o destaque dado às grandes reportagens e ao fotojornalismo. Esse aspecto é exemplificado por Ali (2009) com a reportagem de David Nasser e o fotógrafo Jean Manzon sobre o primeiro encontro dos brancos com os índios Xavantes. O Cruzeiro foi o reduto de grandes nomes do jornalismo, da literatura, da fotografia e da arte. Entre aqueles destacados por Ali (2009) como colaboradores estão: Menotti Del Pichia, Anita Malfati, Portinari, Rachel de Queiroz, Ziraldo e Millôr Fernandes. Seguindo o sucesso do modelo de O Cruzeiro, foi criada em 1952 por Adolpho Bloch a revista Manchete. “Sua edição especial sobre inauguração de Brasília vendeu 740 mil exemplares em apenas 48 horas” (ALI, 2009, p. 367). Entre as propostas das duas revistas, a diferença pode ser encontrada numa valorização ainda maior da iconografia por Manchete. A revista da editora Bloch conquistava mercado à medida que O Cruzeiro perdia, ultrapassando sua concorrente na década de 60. Tanto O Cruzeiro como Manchete, tiveram seus fins próximos ao momento da decadência dos impérios que as criaram. A revista de Chateaubriand acaba na década de 70, por sua incapacidade de renovação, enquanto Manchete chega à década de 90, quando é afetada, não só pelo declínio do grupo Bloch, como pela ascensão das revistas semanais ilustradas e a perda de leitores. Na década de 60, o grupo Abril lança a revista Realidade, em 1966, que fez sucesso com o público - “Em menos de dois anos, alcançou a maior circulação do seu tempo - 466 mil exemplares mensais” (ALI, 2009, p. 361) - e introduziu no mercado brasileiro um modelo de reportagem que era inédito no país. Seu texto,

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quase literário, podia levar semanas ou até meses para ser produzido, e abordava assuntos polêmicos como aborto, racismo e Igreja. Ali (2009) aponta a cobertura mais ágil da televisão e das revistas semanais como uma das causas do fim de Realidade. Em História Revista (2011, p. 22), seu fim é associado ao AI-5. A revista é até hoje considerada uma das mais bem-sucedidas publicações no Brasil, e teve suas atividades encerradas pela intervenção do Ato Institucional número 5, por “atentar contra a moral e os bons costumes”. Fechou dez anos depois do lançamento, em janeiro de 1976, com venda aproximada de 120 mil exemplares.

O sucesso alcançado por Realidade foi um dos fatores que colaborou com o fim de O Cruzeiro. Dois anos após o surgimento de Realidade, o Grupo Abril lança a revista Veja, baseada nos moldes da americana Time. A circulação da revista nos cinco primeiros anos foi decadente, partindo dos 700 mil exemplares da primeira edição e chegando a 16 mil exemplares. Mas, a partir de 1981, a circulação ultrapassou os 500 mil exemplares e hoje já bateu 1 milhão de exemplares. “No ano 2000 Veja se consolidou como a quarta maior revista do mundo, e hoje desponta como a terceira mais importante revista semanal de informação.” (HISTÓRIA..., 2011, p. 23)

2.2 Revistas Femininas

No século XVIII, as publicações femininas focavam poesia, ficção, teatro, notícias internacionais, moda e música, por exemplo. As habilidades domésticas não eram valorizadas nessas revistas. O contrário do que acontecia no século XIX, quando ser uma dona de casa competente era o mais importante. “[As revistas] passaram a dar conselhos e sugestões práticas para cuidar dos filhos, da família e das tarefas domésticas”. (ALI, 2009, p. 320) Já no fim daquele século, vislumbravam-se mudanças. Temas como voto feminino, abolição dos escravos e, nos Estados Unidos, os direitos do consumidor começaram a ser abordados nas revistas. Como em outros países, a primeira revista feminina do Brasil era comandada por um homem - Pierre Plancher. O Espelho Diamantino - Periódico de Política, Literattura, Bellas Artes, Theatro e Modas Dedicado as senhoras Brasileiras foi lançado em 1827 e já tentava afetar positivamente as condições femininas.

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O editorial do primeiro número afirmava que “pretender manter as mulheres em estado doméstico de estupidez (...) pouco acima dos animais domésticos” seria “uma empresa tão injusta como prejudicial ao bem da humanidade”. (A REVISTA..., 2000, p. 157).

A partir de O Espelho Diamantino, muitas publicações se dedicaram ao incentivo à luta feminina pelo voto, pela educação e por um papel mais ativo na sociedade. A Revista no Brasil (2000) destaca Jornal das senhoras, Espelho das Brasileiras, O Sexo Feminino e A Família. Do século XIX até hoje a mulher cresceu não só como mercado consumidor editorial como também ao ser tema e público alvo de reportagens de revistas semanais de informação e de veículos audiovisuais. O início do século XX trouxe outros aspectos que fariam sucesso nas revistas: notícias de cinema, esporte, moda e eventos sociais. Essa foi a época de publicações muito populares como A Cigarra e Frou-Frou. Mas entre essas, a Revista Feminina possui a trajetória mais rica. Nascida como folheto de divulgação da Empresa Feminina Brasileira, que vendia cosméticos, romances e livros de culinária, adquiriu vida própria e passou a premiar leitoras que conseguissem angariar assinaturas. (A REVISTA..., 2000, p. 162)

A Revista reunia seções variadas, de culinária - “O Menu do meu Marido” aos movimentos de mulheres no mundo e no Brasil - chamada “Vida Feminina” além de moda, saúde e beleza. Apesar de defender o direito ao voto feminino, a Revista, assim como A cigarra e Jornal das Moças, ainda tinha uma visão preconceituosa em relação aos direitos das mulheres. A Revista Feminina criticava as ações das sufragettes inglesas, Jornal das Moças aceitava apenas que a mulher trabalhasse se precisasse, e somente como professora, enfermeira ou funcionária pública. A Cigana, em 1931, chegou a embasar seu discurso na fala de um médico, “o doutor Fernando de Magalhães, segundo o qual ‘a natureza é contrária à emancipação ativa da mulher na vida pública porque a destina para ser esposa e mãe’.” (A REVISTA..., 2000, p. 164). Apesar das revistas para mulheres surgirem pouco depois das revistas masculinas, ou de interesse geral, elas só foram conquistar um público mais consistente no Brasil na década de 50. O crescimento do público acompanhou o reposicionamento social da mulher, que passou a ser vista como mercado

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consumidor promissor motivando a diversificação das publicações. Primeiramente, as fotonovelas eram o grande sucesso entre esse público, mas, em seguida, surgiram Manequim (1959) e Cláudia (1961), do grupo Abril. Essa alteração de postura em relação a esse público foi observada algumas décadas antes no exterior. No Reino Unido, o número de títulos femininos de grande tiragem chegava perto dos 50 já na década de 60. Nesse período, revistas de moda como Vogue e Harper’s Bazzar já superavam a tiragem de 5 milhões de exemplares nos Estados Unidos. (MIRA, 2001). Em 1961, a revista Cláudia era lançada com tiragem inicial de 164 mil exemplares. O modelo inicial adotado pela revista foi alterado pouco a pouco até passar dos moldes tradicionais das revistas femininas do século XIX e início do século XX até chegar aos atuais adotados pela revista. “No início, a revista não descola do modelo tradicional: novelas, artigos sobre moda, receitas, ideias para decoração e conselhos de beleza” (SCALZO, 2006, p. 34). Entre as novidades inseridas por Cláudia nas revistas femininas brasileiras está a produção fotográfica original para as seções de moda, beleza, culinária e decoração. Antes dessa mudança em Cláudia, ela e as outras revistas desse segmento importavam esse tipo de foto. Outro diferencial no mercado de revista feminina que surgiu em Cláudia foi a coluna “A arte de ser mulher” da jornalista e psicóloga Carmem da Silva, responsável por abordar temas polêmicos, como o machismo, o trabalho feminino, a solidão e a sexualidade feminina. Uma mudança considerável para um mercado que acompanha as alterações do papel feminino na sociedade. As revistas voltadas às mulheres também tiveram papel importante na revolução sexual feminina por todo o mundo. A pílula anticoncepcional liberou as mulheres do risco de uma gravidez indesejada e o sexo antes do casamento deixava de ser um tabu, elas queriam agora ter independência financeira; reivindicar os direitos iguais aos homens. (ALI, 2009, p. 370)

O papel das revistas nesse cenário foi trazer a tona temas que antes eram ignorados ou tratados com absoluta discrição. A revista americana Cosmopolitan é o ícone dessa mudança. Resgatada de um título de 1886, da Hearst Corporation, a revista estava prestes a se extinguir, quando, em 1965

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Helen Gurley Brown, autora do best-seller Sex and The Single Girl (Sexo e a mulher solteira) tinha o projeto de uma nova revista feminina baseado na sua crença de que havia milhões de garotas procurando crescimento pessoal, autoconfiança, um emprego interessante, um bom relacionamento com um homem, e uma vida sexual melhor. (ALI, 2009, p. 370).

Em sua reestruturação editorial, Helen reuniu apenas mulheres em sua redação e enquanto as outras revistas falavam sobre o que rodeava a mulher - casa, marido, filhos - Cosmopolitan reunia mulheres falando das mulheres para as mulheres. O sucesso de Cosmopolitan foi tão grande que além da revista ter uma das maiores circulações dos Estados Unidos, como também possui “58 edições internacionais em 34 idiomas, em mais de 100 países” (ALI, 2009, p.370). No Brasil, a versão de Cosmopolitan foi lançada em 1973, com o título de Nova. Como a versão norte-americana, Nova causou polêmica e escândalo, especialmente na primeira vez que estampava “orgasmo” no título de uma matéria. Por um lado, “anunciantes se recusavam a programar seus anúncios, os maridos não permitiam que as mulheres a lessem” (ALI, 2009, p. 374), por outro - aquele que objetiva Nova - as leitoras identificaram-se com seu conteúdo, garantindo seu sucesso comercial. Outras revistas que buscaram atender esse nicho de leitoras mais independentes baseando-se na reprodução de modelos internacionais bem sucedidos foram Vogue, da Carta Editorial, explodia imagens e trazia personagens da sociedade para suas páginas; Elle, da Abril, com alta qualidade gráfica, propunha um novo estilo de vida; Marie Claire, da Globo, mostrava reportagens de grandes impactos e viagens fotográficas (não apenas com fotos belas; muitas vezes, trágicas) (A REVISTA..., 2000, p. 170).

2.3 Revistas Jovens As revistas para o público jovem surgem à medida que o adolescente passa a ser visto como mercado consumidor importante. Em meados dos anos 70, descortinou-se outra fatia de mercado – a da mulher jovem que lia Pop, da Abril, e para a qual a editora lançou uma revista específica: Carícia. O mesmo seguimento abrigaria ainda, Querida (O título fora sucesso da Rio Gráfica nos anos 1950), Atrevida e TodaTeen. (A REVISTA..., 2000, p. 172)

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Mira (1997) associa o surgimento da identidade do adolescente ao estudo do psicólogo americano Stanley Hall, On adolescence, mas avalia como mais adequado o pensamento de que essa identidade se consolida após a Segunda Guerra Mundial. Além disso, ela destaca duas manifestações artísticas com adolescentes como protagonistas. Dois clássicos ligados ao tema, escritos na década anterior, vieram a público. Em 1957, é publicado On the Road, que Jack Kerouac havia escrito em 1941. Em 1955, o romance escrito por Robert Lindner, onze anos antes, Rebel Without a cause, é lançado no cinema com grande repercussão. (MIRA, 2001, p. 237)

Assim como a mulher se torna objeto e público de títulos no século XIX, o jovem passa a ser “visto” no período pós-guerra. Mira menciona os estudos de Lesley Johnson, para quem “a ‘juventude’ emerge como categoria no pós-guerra, em pleno processo de grandes transformações sociais e culturais, tornando-se depositária das ambiguidades, incertezas e perplexidades da época”. (MIRA, 2001, p. 238). Essa visão da sociedade em relação à juventude gerava um cuidado diferenciado em relação aos adolescentes, que seriam sensíveis e suscetíveis demais às mudanças. Mira (2001) destaca que a maneira que se enxergavam os jovens mudava de acordo com o passar das décadas. No início de sua identificação, a juventude era algo a ser temido e instruído. Já na década de 60, a ideia de juventude deixa de ser algo pejorativo, para ter um viés de “mudança”. Em vez de ser pensado como um grupo negativamente suscetível às mudanças, passou a ser encarado como um grupo flexível, disposto a - e até responsável por - mudar. Mira (2001) comenta que no cenário de inovações e criações musicais, ascensão da popularidade do rock norte-americano e da onda beat britânica com Beatles e Rolling Stones, a cultura da juventude se firmava como objeto de estudo em pesquisas. “Na verdade, estes estudos, que aparecem um pouco por toda a parte, procuram entender o surgimento da “cultura pop”, uma cultura popular, midiática e internacional, que passa a atrair sobretudo as gerações mais jovens em vários países do mundo.” (MIRA, 1997, p. 239). A importância da globalização e das novas tecnologias também é destacada por Mira (1997) para a disseminação de experiências culturais semelhantes ao redor

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do mundo. Esse aspecto é bastante evidente nas capas de revistas jovens, onde é comum encontrar ídolos internacionais da música e da indústria audiovisual. Quanto ao modelo de revista para adolescente tanto Scalzo (2006) como Mira (1997) concordam que dinamismo é fundamental. No mercado editorial, como veremos, não será preciso esperar décadas ou anos para que um modelo de publicação chegue até nós. Esta defasagem de tempo diminuirá cada vez mais e as edições e suas fórmulas passarão a acontecer quase que simultaneamente. A duração de cada uma delas tende a ser mais efêmera, as modas mudam mais rapidamente, o tempo acelera. (MIRA, 1997, p. 242).

No capítulo “Revista na prática – ou como acertar o foco no leitor”, em que é comentado o reposicionamento de mercado da revista Capricho entre 1990 e 1992, Scalzo (2006, p. 89) destaca, além das mudanças de gostos e modas, a transitoriedade dos leitores desse segmento. Se você faz uma revista para meninas de 15 a 18 anos, por exemplo, as leitoras ficarão com você, em média, apenas três anos, pois logo terá um grupo entrando nessa tão estreita, mas também tão característica, faixa de idade. [...] Isso não influi apenas nas pautas e personagens que aparecerão na revista (até porque esse é um problema comum a qualquer publicação), mas vai definir as mudanças no próprio visual e no texto da revista.

As adolescentes, em comparação com mulheres de outras faixas etárias, têm uma relação diferente com as revistas que lêem e isto é evidenciado nos critérios de noticiabilidade dos títulos voltados para esse público. No livro “Jornalismo de Revista”, Scalzo (2006, p. 88-89) comenta sua experiência como redatora-chefe da Capricho no período de “reposicionamento de mercado” realizado entre 1990 e 1992, em que o tipo de público foi determinante para a definição das diretrizes:

Escolhi contar esse caso porque o público da Capricho (meninas adolescentes) é muito peculiar, ideal para entender o que chamo de “forte relação entre um leitor e sua revista”. Essa faixa de público tem algumas características que fazem com que o trabalho com ele e para ele seja muito diferenciado. As adolescentes escrevem e se comunicam muito mais com suas revistas do que as mulheres adultas. (SCALZO, 2006, p. 88-89).

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2.4 As revistas selecionadas As três revistas selecionadas para análise foram escolhidas com base no tempo em que estão em circulação, e em sua relevância em relação à preferência do público-alvo, evidenciada pela tiragem e pela audiência de seus websites. De acordo com informações obtidas nos sites dos três títulos, suas tiragens somadas se aproximam dos 600 mil exemplares. O alcance é ainda maior: por exemplo, a Capricho, com tiragem aproximada de 230 mil exemplares, estima um alcance de mais de 2 milhões de leitoras. A Atrevida foi lançada em setembro de 1994, pela editora Escala. Com tiragem atual de 231 mil exemplares, a revista é lida principalmente por leitoras (95%) das classes B e C (86%) de 10 a 19 anos (66%). A Capricho é a mais antiga das três, lançada em 1952 como revista de fotonovela, sofreu muitas transformações em seu perfil editorial, em seu conteúdo, e em seu projeto gráfico. Atualmente, tem tiragem de cerca de 230 mil exemplares, sendo quase 90% dos seus leitores das classes B e C. A Todateen foi lançada em dezembro de 1995, pela editora Alto Astral, e sua tiragem é de 135 mil exemplares. A revista é direcionada a garotas de 15 a 19 anos das classes A, B e C, no entanto garotos também fazem parte dos leitores (11%).

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3 Fundamentação Teórica Quando o lançamento de um filme, a amizade de duas atrizes, uma medalha nas Olimpíadas ou a visita de um cantor canadense ao Brasil é destaque em uma revista é bastante comum o debate sobre a importância dada a um ou a outro assunto para a realização de uma matéria. Isso não ocorre apenas no mundo acadêmico ou entre profissionais de comunicação, mas também entre o púbico em geral.

3.1 Critérios de noticiabilidade O que faz um acontecimento ser notícia enquanto o outro não recebe atenção? Traquina (2008) explica que a visão que um jornalista tem dessa questão é simplista e minimalista, porque, seguindo a lógica dominante, “o jornalista relata, cata, reproduz ou retransmite o acontecimento” (TRAQUINA, 2008, p. 62), agindo apenas como mediador, atuando com um papel reduzido. Para o autor, o jornalista tem o hábito de evitar assumir a relevância do seu trabalho. Outro aspecto importante destacado é a incapacidade dos jornalistas, de forma geral, em deixar claro o que norteia a seleção do que é noticiado, tendo dificuldade em expor justificativas mais específicas que “o que é importante” ou “o que interessa ao público”. Traquina (2008) mostra que as notícias seguem um padrão geral e previsível, guiado pelos critérios de noticiabilidade ou valores-notícia. Ao fazer a trajetória histórica dos critérios de noticiabilidade, o autor apresenta as ideias valorizadas em três momentos diferentes: os anos 70 do século XX, os anos 30-40 do século XIX e as décadas iniciais do século XVII. Segundo Stephens (1988 apud TRAQUINA, 2008, p. 63), “as ‘qualidades duradouras’ das notícias são o extraordinário, o insólito (‘o homem que morde o cão’), o atual, a figura proeminente, o ilegal, as guerras, a calamidade e a morte.” No início do século XVII, morre o dramaturgo inglês William Shakespeare. Era o momento das “folhas volantes” – apresentadas pelo autor como publicações não regulares dedicadas habitualmente a um único tema com avisos moralistas ou interpretações religiosas – e seus critérios de noticiabilidade não incluíam a morte de Shakespeare como merecedora de destaque. Entre as 25 “folhas volantes” de 1616

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– ano da morte do dramaturgo – um terço falava de assassinatos, um terço sobre celebridades – como o rei e a corte -, mas nenhuma menção a Shakespeare. Essas publicações valorizavam milagres, abominações, catástrofes, acontecimentos bizarros, condutas de heróis, batalhas navais. “Nesses dias, muito do que era ‘notícia’ era internacional: guerras e trocas comerciais eram dois dos assuntos principais. Quase completamente esquecidos eram os assuntos de interesse local.” (TRAQUINA, 2008, p. 65). O insólito era muito valorizado na época, “isto é, os acontecimentos que produziam o maior espanto, a mais profunda maravilha, a maior surpresa.” (TRAQUINA, 2008, p.65). Outro critério destacado por Traquina (2008) é a notabilidade do ator principal. “Os atos e as palavras das pessoas importantes, as crônicas e as proezas de personalidades de ‘elite’, como, por exemplo, o Rei e/ou a Rainha, eram ‘notícia’” (TRAQUINA, 2008, p. 65). Homicídios, milagres e feiticeiras também eram notícias. Os fenômenos da natureza - como a passagem de um cometa - eram considerados avisos divinos. Já ao longo do século XVIII, o principal enfoque dado pelos jornais era aos assuntos políticos “e os meios de comunicação social eram essencialmente vistos como uma arma política até o aparecimento da chamada ‘penny press’ na década de 30 do século XIX.” (TRAQUINA, 2008, p. 67) Esses jornais custavam bem menos que os jornais anteriores alcançando um público de renda mais baixa, alterando por isso a maneira de escrever e os valores-notícias. Entre os primeiros dessa fase está o New York Sun, de Benjamim H. Day, que, por exemplo, contrata um repórter para escrever sobre o que acontecia na delegacia local em textos humorísticos. Desse modo, Day consegue alterar a maneira de fazer notícia satisfazendo “os gostos, os interesses e a capacidade de compreensão das camadas menos instruídas da sociedade.” (TRAQUINA, 2008, p. 67). Antes, notícia eram os assuntos políticos e econômicos e os comentários a esse respeito. Já o New York Sun “dava ênfase às notícias locais, às histórias de interesse humano e apresentava reportagens sensacionalistas de fatos surpreendentes” (TRAQUINA, 2008, p. 67) além de dar as informações sobre política e economia de forma acessível. Quanto à década de 70, Traquina (2008) também apresenta o estudo de Hebert Guns que evidencia qualidades duradouras entre os critérios de noticiabilidade. O estudo mostrou a importância da “‘notoriedade’ do ator principal do acontecimento, isto é, a proeminência do ator” (TRAQUINA, 2008, p. 68) na seleção

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dos assuntos nacionais. “As pessoas não conhecidas só são notícias quando: a) são manifestantes, grevistas ou amotinados [...]; b) são vítimas de desastres, naturais ou sociais; [...] c) são transgressores das leis e da moral; e d) são praticantes de atividades invulgares.” (TRAQUINA, 2008, p. 68) De forma geral, o estudo de Guns destaca os seguintes critérios: o governo no que envolve conflitos e desacordos, decisões e propostas, cerimônias e mudanças de pessoas em funções governamentais; os crimes - além de escândalos e investigações; os protestos - violentos ou não; os desastres - em especial nos telejornais; e o insólito. A partir da trajetória histórica, Stephen apud Traquina (2008, p.69) conclui que a semelhança nos três períodos distintos destacados não deve surpreender: Podemos imaginar um sistema de notícias que desdenhasse o insólito em favor do típico, que ignorasse o proeminente, que desse tanta atenção ao datado como ao atual, ao legal como ao ilegal, à paz como à guerra, ao bem-estar como à calamidade e à morte?

Entre as primeiras tentativas de categorizar sistematicamente os valores notícias no meio acadêmico está o estudo de Galtung e Ruge, que identificaram 12 respostas a recorrente pergunta “O que é notícia?”: 1) a frequência, ou seja, a duração de um acontecimento; 2) a amplitude do evento; 3) a clareza ou falta de ambiguidade; 4) a significância; 5) a consonância, isto é, a facilidade de inserir o ‘novo’ numa ‘velha’ ideia que corresponda ao que se espera que aconteça; 6) o inesperado; 7) a continuidade, isto é, a continuação como notícia do que já ganhou noticiabilidade; 8) a composição, isto é a necessidade de manter um equilíbrio nas noticias com uma diversidade de assuntos abordados; 9) a referência a nações de elite; 10) a referência a pessoas de elite, isto é, o valor-notícia da proeminência do ator do acontecimento; 11) a personalização, isto é, a referência às pessoas envolvidas; e 12) a negatividade, ou seja, segundo a máxima ‘bad news is good news’. (TRAQUINA, 2008, p. 70, grifo do autor)

Outro estudo destacado por Traquina (2008, p. 73) é do grupo de canadenses formado por Ericson, Baraneck e Chan. “Segundo os autores, os valores-notícia não são imperativos, mas sim elementos que ajudam o jornalista a reconhecer a importância dos acontecimentos, a proceder a escolhas entre alternativas, e a considerar as escolhas a fazer.” Os critérios destacados por esses pesquisadores em muito se assemelham aos apontados por Galtung e Ruge (apud TRAQUINA, 2008), como a simplificação, que se aproxima da clareza citada acima, a

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continuidade e a consonância. Além desses, os autores também apontam a dramatização, a personalização, o inesperado e a infração. Ao apresentar esses critérios, Traquina (2008) faz uma crítica quanto a não distinção deles em critérios de seleção e critérios de construção. O primeiro a fazer essa diferenciação foi o acadêmico italiano Mauro Wolf. Para Wolf, os valores-notícias de seleção referem-se aos critérios que os jornalistas utilizam na seleção dos acontecimentos, isto é, na decisão de escolher um acontecimento como candidato a sua transformação em notícia e esquecer outro acontecimento. (TRAQUINA, 2008, p. 78)

A partir dos estudos realizados sobre os critérios de noticiabilidade definidos pelos teóricos mencionados anteriormente e a partir de seus estudos sobre os meios que os jornalistas utilizam para selecionar e construir suas matérias, Traquina (2008) estabeleceu seus próprios critérios utilizando essa mesma distinção. Os valores de seleção são separados em dois subgrupos: os critérios substantivos - que se relacionam à avaliação direta dos acontecimentos; e os critérios contextuais - que se relacionam ao contexto de produção da notícia. Já os critérios de construção dizem respeito à maneira com que a notícia deve ser construída, guiando, por exemplo, o que deve ser evidenciado e o que pode ser omitido na estruturação da notícia.

3.1.1 Valores-notícia de seleção - Critérios substantivos

Notoriedade: A importância, a posição hierárquica ou a fama do ator da notícia é um importante valor-notícia. “O que o Presidente da República faz é importante porque o Presidente da República é importante.” (TRAQUINA, 2008, p. 80). Nas revistas analisadas esse valor é muito presente, já que para ser notícia, a personalidade precisa estar em destaque no cenário artístico

- musical,

cinematográfico ou televisivo. Proximidade: Diz respeito à proximidade geográfica ou cultural do acontecimento, o que significa que um acidente que ocorre nas proximidades de Bauru tem maior valor notícia para o jornal local do que um acidente ocorrido no litoral do estado. As revistas voltadas ao público adolescente não utilizam esse critério no aspecto geográfico, considerando que a maioria do conteúdo diz respeito

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a fenômenos culturais internacionais, mas sim no aspecto cultural, já que são raras as aparições de personagens da cultura oriental, por exemplo. Relevância: Está relacionada ao impacto que uma notícia tem na vida do leitor. “Este valor-notícia determina que a noticiabilidade tem a ver com a capacidade de o acontecimento incidir ou ter impacto sobre as pessoas, sobre o país, sobre a nação.” (TRAQUINA, 2008, p. 80). Novidade: O que há de novo é um critério de noticiabilidade bastante valorizado pelos jornalistas. “Nos trabalhos de jornalismo de investigação uma das maiores dificuldades para o jornalista é a justificativa para voltar ao assunto sem novos elementos: geralmente tem que haver algo de novo para voltar a falar do assunto.” (TRAQUINA, 2008, p. 81) Esse critério pode ser observado nas revistas selecionadas nas matérias que utilizam lançamentos de CDs, filmes, temporadas de seriados como gancho ou assunto principal, além de visitas de celebridades internacionais ao Brasil, especialmente quando é a primeira visita ao país. Tempo: Esse critério pode estar relacionado à atualidade do acontecimento mesmo que o atual seja apenas um fenômeno que servirá de gancho a uma reportagem com acontecimentos mais antigos -, a uma efeméride - quando a data serve de gancho, como dez anos do ataque de 11 de setembro, 500 anos do Brasil, ou a cobertura que se estende por um tempo maior - Traquina exemplifica como o Timor ganhou espaço na mídia portuguesa por tempo prolongado após o massacre de no cemitério de Díli. Esse critério é bastante utilizado no corpus da pesquisa no aspecto de utilizar um fator atual - como um lançamento cultural, uma turnê musical ou a divulgação de alguma notícia por um artista famoso entre os leitores - para a realização de uma matéria ou entrevista. Notabilidade: Esse valor-notícia está relacionado à tangibilidade e à capacidade de ser visível do acontecimento. “O valor-notícia da notabilidade alertanos para a forma como o Campo jornalístico está mais virado para a cobertura de acontecimento e não problemáticas.” (TRAQUINA, 2008, p. 82). Entre os fatores que fazem uma notícia ter notabilidade estão: o número de pessoas envolvidas, o contrário do “normal”, o insólito, a falha e o excesso/ a escassez. Inesperado: Aquilo que surpreende o que os jornalistas esperam, um acontecimento que subverta a ordem natural ou a rotina, um mega-acontecimento. “Um exemplo de mega-acontecimento foram os ataques a diferentes sítios,

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sobretudo ao World Trade Center, no dia 11 de setembro de 2001.” (TRAQUINA, 2008, p. 84). Conflito: Notícia que envolva violência física ou simbólica. Traquina relaciona a presença de violência física com a evidência de que a quebra do normal é muito valorizada. Infração: A quebra das regras é um valor-notícia considerado na comunidade jornalística. Apesar do crime de forma geral já estar inserido na rotina, sempre que ele supera o normal e inclui outros critérios como ser mais violento, ter mais vítimas, envolver pessoas notórias ele ganha destaque. Relacionam-se a esse critério os casos de escândalos, como os políticos.

3.1.2 Valores-notícia de seleção - Critérios contextuais Disponibilidade: Diz respeito à facilidade com que o evento pode ser coberto, no que envolve despesas, recursos humanos, tempo, fontes disponíveis, “colocando implicitamente a pergunta se o valor-notícia desse acontecimento justifica esse dispêndio, porque as empresas jornalísticas têm recursos limitados.” (TRAQUINA, 2008, p. 88). Equilíbrio: Relaciona-se à frequência com que o assunto foi notícia. Se o evento já apareceu no produto jornalístico pouco tempo antes, ele pode deixar de ser notícia por isso. Visualidade: Esse critério de seleção é o que valoriza as imagens - fotos ou vídeos - para a decisão de veicular ou não uma notícia. Esse critério é bastante utilizado em telejornais. Concorrência: A concorrência entre os veículos de comunicação estimula o fenômeno do furo. Todos querem ser o primeiro a dar a notícia - e quando isso ocorre, gostam de deixar claro que foram o primeiro a noticiar o fato - e ninguém quer que o concorrente tenha algo que não foi noticiado também em seu veículo, o que culmina numa repetição de notícias entre os veículos concorrentes. O resultado disso são capas sobre o mesmo tema, às vezes com imagens semelhantes, e até mesmo, textos semelhantes baseados em informações de agências. Esse critério de seleção é facilmente observado entre as revistas analisadas que concorrem entre si

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e repetem no mesmo mês, ou em meses próximos, os ídolos em destaque nas capas. Dia noticioso: Outro tipo de concorrência que interfere o que será noticiado é a que ocorre entre eventos. Traquina resume: “Há dias ricos em acontecimentos com valor-notícia e outros dias pobres em acontecimentos com valor-notícia.” (TRAQUINA, 2008, p. 90) Como explica o autor, um acontecimento planejado, como a visita de um líder político ao Brasil ou uma mudança na política econômica, que receberia atenção da mídia, pode ter o foco roubado por uma catástrofe de grandes proporções, como o ataque ao World Trade Center, de 2001, o tsunami do Oceano Índico, de 2004, ou os terremotos no Japão, de 2012. O autor também destaca que esse critério também pode ser utilizado para manipulação das mídias, e exemplifica: “o partido do Governo pode criar sombra a um congresso de um partido da oposição.” (TRAQUINA, 2008, p. 91) Esse tipo de “recurso” também pode ser utilizado nas publicações focadas na indústria audiovisual. Um artista pode lançar uma informação ligada a um lançamento da carreira para tentar desviar a atenção de sua vida pessoal, ou até mesmo o contrário, revela ou deixa que se revele uma informação de sua vida privada para tirar a atenção de um fracasso profissional ou para voltar a ser destaque mesmo sem uma notícia diretamente ligada à carreira.

3.1.3 Valores-notícia de construção Simplificação: Assim como Ericson, Baraneck e Chan, Traquina relaciona a ausência de ambiguidade e complexidade com a facilidade da notícia ser compreendida e, portanto, selecionada para veiculação. Amplificação: Esse valor-notícia estabelece que quanto mais amplificado um evento, suas fontes, ou suas consequências, maiores suas chances de ser notado. Relevância: Esse critério destaca a importância da notícia dar sentido a um evento, mostrando com a relação entre os fatos e a vida do leitor ou ouvinte, explicando o contexto do acontecimento. O jornalista, ao construir a matéria, precisa buscar esse sentido na notícia para a vida do leitor. Personalização: A personalização está no destaque dados às personagens do evento. O interesse das pessoas, no caso os leitores ou ouvintes, por outras pessoas, no caso as personagens das notícias, justifica a importância desse critério de seleção.

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Dramatização: Quando a construção da noticia realça os aspectos emocionais e os conflitos. A dramatização pode ser observada com facilidade nas revistas para o público adolescente nas reportagens sobre problemas e dificuldades enfrentados por um ídolo ou por uma adolescente do perfil da leitora. Um caso específico que serve como exemplo é a abordagem adotada nas matérias sobre os transtornos psicológicos e alimentares da cantora Demi Lovato. Consonância: Assim como Galtung e Ruge, Traquina também aponta como critério de noticiabilidade a inserção da notícia em uma narrativa já criada, como novos elementos de uma história já conhecida do leitor, novos acontecimentos de um mesmo tipo seguindo uma tendência. No âmbito das revistas para adolescentes, podemos usar como exemplo, novidades relacionadas a filmagens da série de filmes Crepúsculo ou cantores que fazem sucesso a partir de um vídeo na internet, como ocorreu com o cantor Justin Bieber.

3.2 Consumo Para a construção da análise das revistas para o público adolescente, é fundamental considerar o aspecto do consumo, conforme estudado por Canclini (2008). Antes de estabelecer qualquer definição de consumo, é importante destacar que no que tange o consumo, os estudos são muito segmentados, há teorias econômicas, sociológicas, antropológicas, mas “Não existe uma teoria sociocultural do consumo” (CANCLINI, 2008, p. 60, grifo do autor). Essa carência de uma teoria multidisciplinar que motiva os estudos do autor. O consumo costuma ter seu significado vinculado a gastos supérfluos, a desigualdade social ou compras irracionais, mas Canclini (2008) oferece uma definição que serve de base para uma compreensão diferente, a de uma racionalidade econômica: “O consumo é o conjunto de processos socioculturais em que se realizam a apropriação e os usos dos produtos.” (CANCLINI, 2008, p. 60) Essa racionalidade assume que o consumo faz parte de um processo maior que envolve produção, geração de trabalho. Isso não significa ignorar o papel da publicidade ou das empresas para incentivar esse consumo, tudo é pensando e planejado considerando o público-alvo. “O modo como se planifica a distribuição de bens depende das grandes estruturas de administração do capital. [...] é inegável

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que as ofertas de bens e a indução publicitária de sua compra não são atos arbitrários.” (CANCLINI, 2008, p. 61). Apesar desse reconhecido apelo publicitário, os consumidores contam hoje com a racionalidade sociopolítica interativa, o que antes bastava para ludibriar o consumidor não causa o mesmo efeito hoje. A relação entre consumidor e produtor mudou, os consumidores passaram a exigir justificativas racionais para os produtos que consomem, não bastando apenas a sedução publicitária. Mesmo diante disso, não se pode deixar de lado a importância do consumo no âmbito sociocultural do cidadão. “Consumir é participar de um cenário de disputas por aquilo que a sociedade produz e pelos modos de usá-lo.” (CANCLINI, 2008, p. 62). Não é só nos aspectos culturais e econômicos que o consumo pode ser considerado importante. Canclini (2008) destaca seu papel na política, lembrando campanhas eleitorais que utilizavam os prazos e parcelas como barganha eleitoral “quando vemos políticos [...] centrarem sua estratégia de consumo na ameaça de que uma mudança de orientação econômica afetaria aqueles que se endividaram comprando a prazo” (CANCLINI, 2008, p. 62). Uma ideia que se deve afastar é a da concentração do conhecimento nas classes mais abastadas acerca do que consumir e de como consumir. É fundamental compreender que para o consumo cumprir uma de suas funções é necessário o conhecimento sobre o objeto adquirido mesmo daqueles que não tem condições de possuí-lo. “Se os membros de uma sociedade não compartilhassem os sentidos dos bens, se estes só fossem compreensíveis à elite ou à maioria que os utiliza, não serviriam como instrumentos de diferenciação.” (CANCLINI, 2008, p. 63). Outra função profundamente ligada ao consumo, especialmente em relação àqueles gastos das camadas populares com itens custosos ou supérfluos, está nos rituais que motivam o gasto, como celebrações, datas comemorativas religiosas, etc. É compreensível – e aceitável – o gasto com presente de aniversário dos filhos, uma grande festa em idades marcantes – como as festas de debutantes – os custos de uma viagem de peregrinação à cidade de Aparecida, uma viagem de lua de mel ou a compra dos móveis de uma casa nova. Independentemente das condições financeiras do consumidor, esses gastos desempenham papel importante na ritualização. “Os rituais eficazes são os que utilizam objetos materiais para estabelecer o sentido e as práticas que os preservam. Quanto mais custosos sejam esses bens, mais forte será o investimento afetivo e a ritualização que fixa os

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significados a eles associados.” (CANCLINI, 2008, p. 65) Atribuir significações a ações e objetos é outro papel do consumo que deve ser destacado. “Consumir é tornar mais inteligível um mundo onde o sólido evapora” (CANCLINI, 2008, p. 65). Além da publicidade como ação de estímulo ao consumo, a comunidade em que o consumidor está inserido é o principal fator de influência da decisão. “Dentro da cidade, são seus contextos familiares, de bairros e trabalho, os que controlam a homogeneidade do consumo, os desvios nos gostos e nos gastos.” (CANCLINI, 2008, p. 66) No entanto, vale ressaltar que a comunidade extrapola o conceito de proximidade geográfica e, da maneira com que as relações e a comunicação se estabelecem hoje, uma comunidade virtual de fãs de uma banda constitui, nesse aspecto de influência de consumo, o mesmo apelo – ou até mesmo um apelo maior que uma comunidade de jovens que estudam na mesma sala de aula, como explica Canclini (2008): “Ao mesmo tempo encontramos comunidades internacionais de consumidores – já mencionamos as de jovens e de telespectadores – que dão sentido de pertencimento quando se diluem as lealdades nacionais.” (CANCLINI, 2008, p. 67). Outro indicador de como as relações com o consumo são influenciadas pela compreensão global dos valores e da importância dos objetos e serviços é a capacidade que as comunidades populares têm de reconhecer referências internacionais. Sem deixar de estar inscritos na memória nacional, os consumidores populares são capazes de ler as citações de um imaginário multilocalizado que a televisão e a publicidade reúnem: os ídolos do cinema hollywoodiano e da música pop, os logotipos de jeans e cartões de crédito, os heróis do esporte de vários países e os do próprio que jogam em outro compõem um repertório de signos constantemente disponível. Marilyn Monroe e os animais jurássicos, Che Guevara e a queda do muro, o refrigerante mais bebido no mundo e Tiny Toon podem ser citados ou insinuados por qualquer desenhista de publicidade internacional confiando em que sua mensagem terá sentido ainda para aqueles que nunca saíram do seu país. (CANCLINI, 2008, p. 68)

Essa naturalidade da leitura da população é fundamental para entender a efetividade da presença de artistas internacionais nas capas das revistas para adolescentes. A mesma naturalidade com que as camadas populares compreendem a referência à Marilyn Monroe pode ser vista na inclusão de artistas como Justin Bieber ao repertório do público jovem de qualquer classe econômica.

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Quando uma revista aponta a preferência de uma atriz por um produto, ou, mais indiretamente, associa sua imagem a um estilo de vida – que incluem, em seu comportamento, a escolha pelas roupas que veste, os produtos que usa na pele e no cabelo, e até os hábitos alimentares – a reportagem atribui um significado aos produtos que se faz referência direta ou indiretamente. Como explica Canclini (2008, p. 70), o consumo é visto não como a mera possessão individual de objetos isolados, mas como a apropriação coletiva, em relações de solidariedade e distinção com outros, de bens que proporcionam satisfações biológicas e simbólicas, que servem para enviar e receber mensagens

– o que significa voltar à ideia já mencionada de necessidade de compreensão do valor daquele objeto por aqueles que observam para que haja o fator de distinção. De forma resumida, Canclini (2008, p. 71) reúne os aspectos que definem o papel do objeto consumido: Nós, seres humanos, intercambiamos objetos para satisfazer necessidades que fixamos culturalmente, para integrarmo-nos com outros e para nos distinguirmos de longe, para realizar desejos e para pensar nossa situação no mundo, para controlar o fluxo errático dos desejos e dar-lhe constância ou segurança em instituições e rituais.

Seguindo essa enumeração apresentada, as revistas analisadas contribuem para a fixação cultural das necessidades construídas, essas necessidades – e os ídolos apresentados nas revistas – são ponto em comum para integração com os outros e para se diferenciar da maioria, para basear os sonhos e para assumir um papel em uma pequena estrutura do mundo (ex.: os presidentes de fã-clube utilizados como fonte, os administradores de fansites).

3.3 Pós-modernidade Para a observação e análise do corpus, é importante conhecer as ideias de Featherstone (1995), no que concerne o consumo e a representação. O autor ressalta a necessidade de compreender que as questões estéticas migram para o centro da teoria sociológica na pós-modernidade, momento em que há o interesse,

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entre os intelectuais e os acadêmicos, por questões culturais mais amplas, quando há um modo superior de análise para mapear o universo cultural moderno. Assim, as questões que enfrentamos na tentativa de compreender sociologicamente a cultura pós-moderna giram em torno de entender como se dá o relacionamento destes dois aspectos: a produção e a circulação das teorias pós-modernas [...] e a produção e circulação mais ampla das experiências culturais pós-modernas cotidianas. (FEATHERSTONE, 1995, p. 58)

Entre as mudanças atribuídas a pós-modernidade, estão a celebração da diferença e a críticas das universalizações, valores que eram invertidos antes, quando a padronização era glorificada, as diferenças apontadas como defeitos. Além disso, houve uma alteração no que poderia ser considerado cultura, que pode ser encontrada em produções “ligadas à cultura de consumo orientada para o mercado – mídia, publicidade, design, moda – e em ocupações subsidiadas pelo Estado e pela iniciativa privada, voltadas para o aconselhamento, educação e terapia.” (FEATHERSTONE, 1995, p. 60). Nesse período, em especial na década de 60, retoma-se o gosto pelas linhas dadaístas e surrealista, com o intuito de “abolir as fronteiras entre a arte e a vida cotidiana, de resistir à transformação da arte em objeto-mercadoria de museu.” Um comportamento observado foi a legitimação e reclassificação de um campo, seguindo a tendência de todo grupo que desejava se instituir utilizava termos novos para marcar sua posição. Featherstone defende que o pós-modernismo é sintoma de uma crise do campo intelectual, gerada pela perda de confiança, da parte dos intelectuais, no potencial universal de seu projeto que, consequentemente culminou na autodesvalorização da moeda dos bens culturais. Em contrapartida, houve uma grande valorização de outro grupo, formado pelos proprietários de galerias, editores, diretores de TV, e outros agentes do mercado. Featherstone também dedica atenção ao que chama novos intermediários culturais, cuja expansão precisa ser compreendida no que concerne às “mudanças nas interdependências mais amplas entre os especialistas em negócios, economia e Estado e os especialistas em produção simbólica” (FEATHERSTONE, 1995, p. 69). Entre esses intermediários, destaca-se a figura dos intelectuais-celebridades, aqueles

com

a

função

de

mediar

a

cultura

entre

o

público

e

os

acadêmicos/intelectuais. “Eles efetivamente contribuem para derrubar algumas das

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velhas distinções e hierarquias simbólicas que giram em torno da polarização alta cultura/cultura popular.” (FEATHERSTONE, 1995, p. 71). Outras funções também ascenderam como novos intelectuais, que buscam distinção mediante o desenvolvimento de um estilo de vida, de uma vida estilizada e expressiva. (BOURDIEU apud FEATHERSTONE, 1995). Foram os profissionais que se dedicam à oferta de bens e serviços simbólicos, como publicitários, relações públicas, produtores, jornalistas, apresentadores de programas de Rádio e TV, comentaristas de moda, tornando possível a veiculação de programas intelectuais populares na mídia, e tornando mais acessível o que antes era de domínio exclusivo dos intelectuais. A estetização da vida cotidiana é outro aspecto presente na pós-modernidade e fica evidente na arte profissionalizada/democratizada, que promove um aumento do número de pessoas da classe média que trabalham como artistas ou em ocupações artísticas intermediárias. Essa mudança se deu com a aproximação da arte à vida cotidiana, e à possibilidade de “desenvolvimento de carreiras relativamente seguras nas artes [...] Essa ênfase deu origem a uma geração de profissionais, em lugar dos visionários e inovadores.” (FEATHERSTONE, 1995, p. 73). Essa ideia de estetização da vida cotidiana acaba apagando as fronteiras entre arte e vida cotidiana, gerando um colapso das distinções entre alta-cultura e cultura de massa/popular, além de um nivelamento das hierarquias simbólicas. Há uma tendência geral em transformar a realidade em imagens. (FEATHERSTONE, 1995) Destaca-se a ideia de transformação da vida em obra de arte, por sua presença constante na maneira como os artistas – profissionais da cultura de massa – aparecem na mídia, com uma espetacularização de suas vidas pessoais. Essa ideia já podia ser observada na figura do dândi, que transforma seus sentimentos, paixões e sua própria existência numa obra de arte. (BAUDELAIRE apud FEATHERSTONE, 1995) Há um fluxo de signos e imagens que provocam saturação da vida cotidiana na sociedade contemporânea, a arte deixa de ser uma esfera separada e autônoma e passa a pertencer ao fluxo de produção e reprodução. A cultura pós-moderna é uma cultura figurada, com ênfase no desejo, nas imagens – em detrimento das

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palavras – na imersão do espectador e no desejo pelo objeto em oposição à manutenção do distanciamento. Essa ideia pode ser observada no corpus da pesquisa, em reportagens que valorizam a presença de fotografia, que fazem associações diretas e indiretas entre o ator e o personagem que interpreta, discursos que constroem o artista – ou alguma característica ou conquista dele - como objeto de desejo da leitora. “A televisão produz um excesso de imagens e informação que ameaça no sentido de realidade. O triunfo da cultura de representação resulta num mundo simulacional, no qual a proliferação dos signos e imagens aboliu a distinção entre o real e o imaginário.” (FEATHERSTONE, 1995, p. 122)

Outro aspecto estudado por Featherstone no que envolve o presente trabalho é a cultura de consumo e o conceito de estilo de vida. O corpo, as roupas, as preferências de lazer, a casa e o carro passam a indicar a individualidade, o gosto e o estilo pessoal do consumidor. Também está presente a ideia de que todo mundo pode ser alguém nesse novo modo de estruturação da sociedade sem grupos com status fixos ou estilos de vida fixos. Essa tendência de liberdade e diversidade de gostos está presente em uma característica observada na pesquisa: o surgimento das capas diferentes para uma mesma revista - ao dar mais de uma opção de capa para a leitora escolher, a revista garante atender a gostos diferentes, a dar opção de escolha ao consumidor, e a assumir que nem toda leitora tem a mesma preferência. Isso esbarra em outra ideia passada pelo autor, de que os indivíduos usam os bens de consumo como signos culturais, e o fazem por livre associação, para produzir um efeito expressivo. Ao escolher uma capa em detrimento das outras, a leitora permite ser associada aquele artista específico que é destaque na capa que escolheu.

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4 Análise do corpus Para esse projeto de pesquisa foram selecionadas as matérias publicadas no destaque da capa que trouxessem um dos quatro temas mais recorrentes, e as estatísticas do Caderno Capricho sobre a adolescente brasileira reforçam a seleção: os atores da saga Crepúsculo, os atores dos seriados do canal Disney Channel, o cantor canadense Justin Bieber e os atores da novela brasileira Rebelde. A princípio, a seleção foi motivada pela presença frequente dos atores da série Crepúsculo nas capas das revistas, especialmente o trio protagonista – Kristen Stewart, Robert Pattinson e Taylor Lautner, mesmo em meses distantes dos lançamentos no cinema. A partir dessa incidência, buscaram-se outros fenômenos que apresentassem semelhante visibilidade nas revistas escolhidas. Para a definição desses outros temas, partiu-se do ano de 2008, quando foi lançado o primeiro filme da saga Crepúsculo. Nesse mesmo ano, iniciou o crescimento do destaque dado aos atores dos seriados do canal a cabo Disney Channel, a saber: Demi Lovato, Jonas Brothers, Miley Cyrus, Selena Gomez, valendo destacar que além de atores, todos são cantores. A partir de 2010, começou a ganhar destaque o cantor canadense Justin Bieber e, a partir do fim de 2011, os atores da novela brasileira Rebelde, da Rede Record, especialmente os seis atores principais, Lua Blanco, Sophia Abrahão, Mel Fronckowiak, Micael Borges, Chay Suede e Arthur Aguiar. Os estúdios Disney são conhecidos por lançar atores e cantores que fariam/fazem grande sucesso na cultura pop. As cantoras Britney Spears e Cristina Aguilera, o cantor e ator Justin Timberlake e o ator Ryan Gosling trabalharam no programa A Turma do Mickey, quando crianças. O primeiro filme protagonizado pela cantora e atriz Lindsay Lohan foi Operação cupido, da Disney, que lhe ofereceu mais três filmes em quatro anos. A atriz e cantora Hillary Duff começou a fazer sucesso com o seriado Lizzie McGuire. Em 2006, a Disney lançou outro fenômeno: High School Musical, trilogia de filmes que alavancou a carreira de pelo menos três atores: Zac Efron, Vanessa Hudgens e Ashley Tisdale. Os fenômenos mais atuais que tiveram a carreira profissional propiciada pela Disney foram a banda Jonas Brothers, as atrizes e cantoras Demi Lovato, Miley Cyrus e Selena Gomez. Os irmãos Joe, Kevin e Nick Jonas ganharam mais popularidade com a exibição de seus videoclipes, e a participação em seriados do canal a partir de 2007, estrelando uma minisérie em formato de reality em 2008, e

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um seriado ficcional em 2009. Demi Lovato ganhou destaque no filme Camp Rock, lançado no Brasil pelo Disney Chanel em 6 de julho de 2008, que protagoniza com Joe Jonas, estrelando, depois do lançamento do filme, o seriado Sunny entre estrelas. Entre os fenômenos atuais, Miley Cyrus é a atriz que atingiu o sucesso primeiro, com o seriado Hannah Montana, que foi exibido de 2006 a 2011. Selena Gomez ganhou fama com o seriado Feiticeiros de Waverly Place, que estreou em 2007 e se encerrou em 2012. A série de filmes Crepúsculo é formada por 5 filmes: Crepúsculo, que estreou no Brasil em 19 de Dezembro de 2008, Lua Nova, que estreou mundialmente em 20 de novembro de 2009, Eclipse, que estreou em 30 de junho de 2010, Amanhecer – parte 1 (estreou em 18 de novembro de 2011) e Amanhecer parte 2 (estreou em 15 de novembro de 2012 no Brasil), a história é baseada na quadrilogia de livros escrita pela estreante Stephenie Meyer com os mesmos títulos que os filmes da série. Os filmes foram responsáveis por colocar em destaque o trio de atores principais – Kristen Stewart, que interpreta a protagonista Bella, Robert Pattinson, que interpreta o vampiro Edward e Taylor Lautner, que faz o papel do lobisomem Jacob. O cantor canadense Justin Bieber ficou conhecido por ter sua carreira lançada pela publicação de vídeos no Youtube em 2007, quando tinha apenas 13 anos. Com 15 anos, Justin lança seu primeiro CD em 2009 que logo alcança a marca de 1,37 milhões de discos vendidos nos Estados Unidos1. A novela brasileira Rebelde, exibida pela Rede Record, é uma adaptação da novela mexicana de mesmo nome, que fez sucesso durante sua exibição no Brasil no canal SBT em 2005 e 2006. O primeiro capítulo da novela foi ao ar em março de 2011 – e o último em outubro de 2012. Rebelde é protagonizada pelos atores Lua Blanco, Sophia Abrahão, Mel Fronckowiak, Micael Borges, Chay Suede e Arthur Aguiar, que na história formam a banda Rebeldes, que também faz turnês fora da ficção. Antes da novela, os atores Sophia Abrahão e Micael Borges eram conhecidos pela participação em Malhação, novela da Rede Globo, e Chay Suede, ficou conhecido pela participação na quinta temporada do reality show Ídolos 2, no qual ficou em quarto lugar.

1

Disponível em: . Acesso em: 29 out. 2012. 2 Ídolos é uma versão do formato britânico Pop Idol, programa de talentos que originou adaptações em diversos países, inclusive os Estados Unidos, com a versão American Idol.

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Assim, consideramos importante estudar os fenômenos acima descritos em conjunto, com a finalidade de revelar os critérios que pautam a cobertura jornalística das publicações selecionadas, bem como identificar os valores notícia envolvidos nos critérios de seleção e de construção adotados pelas três revistas. Com a análise do corpus, observou-se um padrão no papel desempenhado pelos ídolos nas reportagens: O ídolo como notícia e O ídolo como guia (ver 4.2).

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4.1 O ídolo como notícia A primeira função dos ídolos nas matérias de capa é a de ser notícia de acordo com pelo menos um dos critérios mencionados em 3.1, isso ocorre especialmente na primeira aparição da celebridade na capa de um título.

4.1.1 Crepúsculo na Capricho A primeira vez que a saga Crepúsculo apareceu na capa da revista Capricho foi na edição 1058, em 23 de novembro de 2008, com destaque para a estreia do primeiro longa da série de cinco filmes, que aconteceria em 19 de dezembro daquele ano. A reportagem de capa ocupa 6 das 112 páginas do miolo, iniciando com uma foto em página dupla de 5 personagens do filme, incluindo o trio principal, com o título “Crepúsculo” e a linha fina “A febre literária do ano, com mais de 17 milhões de livros vendidos, virou filme. E só a CAPRICHO conversou com Robert Pattinson e Kristen Stewart, os atores sortudos que deram vida ao vampiro Edward e a sua amada, Bella.” (CAPRICHO, Ed. 1058, p. 32) . O texto de abertura, ocupando pouco mais de um terço da página, explica o sucesso que a série de livros, nos quais se baseiam os filmes, fez em todo o mundo. Em seguida, o repórter considera que o assunto não é domínio de todos os leitores e apresenta uma sinopse do filme, dados sobre a produção, incluindo custos e atores principais. Nessas duas páginas iniciais já se observa os critérios de noticiabilidade de Traquina. Ao dar destaque as 17 milhões de cópias vendidas do livro, a linha fina atende ao critério de notoriedade, a menção ao fato de que só a Capricho havia conversado com os atores evidencia o critério da concorrência. Na abertura, a estreia do filme no mês seguinte corresponde aos critérios de novidade e de tempo, a apresentação dos gastos e da repercussão que o filme pode ter, ao critério de notabilidade, e ao estabelecer uma relação com o fenômeno Harry Potter, ao critério de construção de consonância. Além disso, a foto ocupando a página dupla corresponde claramente ao critério de construção da visualidade, pela valorização de imagens. Essa valorização se repete nas páginas seguintes, que apresentam uma foto de close ocupando uma página inteira do personagem Edward, interpretado pelo

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ator Robert Pattinson, precedendo sua entrevista, e na quinta página da reportagem, a foto, também de close, da atriz Kristen Stewart no papel de Bella, também precedendo uma entrevista. As duas entrevistas mesclam perguntas relacionadas à vida profissional, com destaque às que se referem à produção do filme, e perguntas relacionadas à vida pessoal, com destaque àquelas que buscam comparar aspectos pessoais dos atores às características dos personagens que interpretam. Na entrevista de Robert, a única pergunta estritamente profissional foi “Já tem outro trabalho em vista?” (CAPRICHO, Ed. 1058, p. 35), na entrevista de Kristen, não houve perguntas estritamente ligadas à vida profissional, as que tinham uma relação maior, perguntavam impressões sobre o trabalho de atuar no filme como “Qual a parte mais difícil de ser Bella?” (CAPRICHO, Ed. 1058, p. 37) e “Qual foi a cena mais difícil?” (CAPRICHO, Ed. 1058, p. 37). Além dessas, houve perguntas ligadas a produção do filme mais direcionadas ou fechadas exigindo a opinião dos atores, como, na entrevista de Robert, “Como é ver Never Think, a música que você fez, na trilha sonora do filme?” (CAPRICHO, Ed. 1058, p. 35), e na entrevista de Kristen, “Você teve medo das cenas gravadas no alto das árvores?” (CAPRICHO, Ed. 1058, p. 37). Já em relação às perguntas pessoais, iam de estritamente pessoal, como “Como você define seu estilo?” (CAPRICHO, Ed. 1058, p. 37) e “Qual é seu tipo de garota?” (CAPRICHO, Ed. 1058, p. 35), àquelas que buscavam uma relação com o personagem, como “Você tem algo em comum com Edward?” (CAPRICHO, Ed. 1058, p. 35) e “Você já teve um amor como o de Bella?” (CAPRICHO, Ed. 1058, p. 37). Essa aproximação com os personagens também está presente no texto introdutório da entrevista de Kristen: Parecia que Bella Swan tinha acabado de entrar na sala quando Kristen Stewart apareceu. [...] Durante nossa conversa, achei mais ainda que ela tinha o jeito de Bella: uma garota legal, mas meio bravinha, sabe? [...] Os olhinhos brilharam como os de Bella ao ver Edward no refeitório. (CAPRICHO, Ed. 1058, p. 37)

Além da consonância da aproximação entre Crepúsculo e Harry Potter e da visualidade na valorização das imagens, os outros critérios de construção definidos por Traquina podem ser observados, tanto na introdução da matéria e das entrevistas, como na edição das entrevistas. A simplificação está presente na contextualização das entrevistas que situa o leitor em relação ao filme, ao livro e aos

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atores entrevistados. A amplificação está nos números apresentados relacionados à série – “17 milhões de pessoas ao redor do mundo” (CAPRICHO, Ed. 1058, p. 33), “25 milhões de dólares” (CAPRICHO, Ed. 1058, p. 33) - e no destaque dado aos atores nos textos de abertura e nas perguntas - “Kristen Stewart, séria candidata ao posto de próxima sensação do cinema” (CAPRICHO, Ed. 1058, p. 33), “Alguma fã já te perseguiu?” (CAPRICHO, Ed. 1058, p. 35). A relevância está no fato do filme estrear no Brasil no mês seguinte, a personalização e a dramatização são constantes nas duas entrevistas, a pessoa Robert Pattinson e a pessoa Kristen Stewart são constantemente evocadas nas perguntas e o “drama” se faz presente em questões como “Você já teve um grande amor como o de Edward e Bella?” (CAPRICHO, Ed. 1058, p. 35) e “Deu vergonha de fazer as cenas românticas na frente de todo mundo?” (CAPRICHO, Ed. 1058, p. 37).

4.1.2 Robsten é notícia A primeira matéria de capa que mencionou Robert Pattinson e Kristen Stewart como um casal na vida real – antes só havia perguntas sobre o relacionamento dos dois em entrevistas - foi a matéria “Perfeito” com uma entrevista com Robert Pattinson na edição 1072 de 7 de junho de 2009 da Capricho. A matéria de 6 páginas dedica a última a uma foto do casal sob o título “Robsten é realidade?” e subtítulo “Os dois podem estar escondendo o namoro do público” e um texto de menos de uma coluna da página sobre as especulações feitas pelos jornalistas de todo o mundo. A articulação é feita credenciando as fontes como jornalistas que estão próximos ao casal – “Tipo vão comprar pão e, tadam!, está o Rob lá.” (CAPRICHO, Ed. 1072, p. 53) – e relatando indícios de um envolvimento em abril, os dois cantaram o sucesso de Elton John, Your Song, uma das músicas mais românticas do universo, juntinhos no karaokê. Quem estava lá viu tudo: Kristen e Robert cantando, olhando olho no olho, como eles costumam fazer distraidamente durante as entrevistas. (CAPRICHO, Ed. 1072, p. 53)

A justificativa dada pelo texto para o namoro não ser oficializado seria um impedimento do estúdio. “A teoria é a de que o estúdio morre de medo que os dois assumam o namoro depois terminem. Isso prejudicaria toda a magia do casal Edward e Bella nos próximos filmes da saga. Será?” (CAPRICHO, Ed. 1072, p. 53).

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4.1.3 Lua Nova: o destaque a Taylor Lautner Após o sucesso da estreia de Crepúsculo em 2008, o assunto nas revistas era a repercussão do filme e a sequência, Lua Nova. Com isso, surge um novo personagem nas capas das revistas Taylor Lautner, que interpreta o lobisomem Jacob, completando o triângulo amoroso formado por Bella e o vampiro Edward. A medida que aumenta o destaque dado a seu personagem, o ator também ganha páginas, e capas nos três títulos analisados. A primeira vez que Taylor foi destaque na capa foi na edição 1067 da Capricho, publicada em 29 de março de 2009. A entrevista faz um perfil do ator com destaque a sua escolha para o papel de Jacob em Crepúsculo e a necessidade de conquistar o direito a estrelar o segundo longa da série. Os critérios de seleção da matéria passam pela notoriedade – Taylor é um dos três atores que protagoniza a série Crepúsculo -, e pela visualidade – fotos de estúdio dos atores da série eram constantemente produzidas para a divulgação. Contornando a falta do elemento novidade em grande destaque, a construção da matéria utiliza a personalização e a dramatização, que pode ser notada no empréstimo de termos comuns no âmbito da guerra, como “batalha”, “luta”, “guerra”, “conquista” e “ameaça”, presentes na abertura da matéria “A primeira batalha que Taylor Lautner teve que enfrentar em Lua Nova não foi contra os vampiros do mal nem contra Edward” e nos subtítulos “Primeira Guerra” e “Grande Conquista”. Em agosto, na edição 1077 da Capricho, Taylor é mencionado em matéria de capa com os bastidores de Lua Nova com o mesmo tom dramático na nota “Comer e malhar muito!”: Taylor Lautner sabia que continuar no papel do lobo seria difícil se ele não se esforçasse. Assim que as gravações de Crepúsculo terminaram, o ator se inscreveu numa academia e se dedicou a uma dieta especial para ganhar massa corporal. As especulações foram muitas e só em janeiro desse ano é que Taylor conseguiu ser confirmado para o papel, depois de ganhar 20 kg. (CAPRICHO, Ed.1077, p.34)

A segunda capa de Taylor é em novembro, edição 1084 da Capricho, com a reportagem “A menina e o lobo” que utiliza a vinda do ator e de Kristen Stewart para a divulgação de Lua Nova, para entrevistar os dois atores. Na abertura da matéria e nas duas entrevista realizadas, com o título “O favorito” na de Taylor e “Team

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Jacob?” na de Kristen, o foco é nos personagens e nas histórias, sendo Taylor e seu personagem,

Jacob,

mencionados

recorrentemente.

As

perguntas

são

principalmente sobre impressões dos atores sobre a fama, a história dos personagens e as perspectivas da carreira. A personalização é garantida pela descrição dos atores feita pelo repórter nas entrevistas. “Agora imagina se eu não quase morri ao encontrar Taylor Lautner num hotel em São Paulo? [...] Tay abriu o lindo e branco sorriso de alguém que parecia realmente feliz de estar no Brasil.” (CAPRICHO, Ed. 1084, p. 39) “Vestindo preto e sem o aplique que ela usa em Eclipse, a atriz parecia uma roqueira em turnê mundial. Achei fofo quando ela, ao entrar na sala de entrevistas, se apresentou ao jornalista que mediaria nosso encontro: ‘Oi, eu sou a Kristen.’ Ela é tão desencanada com a fama que se esquece de como já é conhecida.” (CAPRICHO, Ed. 1084, p. 41)

Também em novembro, Taylor é capa da edição 183 de Atrevida, com a matéria “O perfeito Jacob”. Na linha fina, está presente o enaltecimento de seu papel e a referência a “conquista” do trabalho: Antes mesmo da estreia em Lua Nova, Taylor Lautner já vem roubando a cena. De cabelos curtos, sorriso encantador, e mais sarado do que nunca, o ator deixou a dúvida na cabeça de todas as garotas: Jacob ou Edward? E pensar que achavam que ele não serviria para o papel... (ATREVIDA, Ed. 183, p. 53)

A matéria também segue o critério de visualidade na construção, das seis páginas, duas tem fotos de Taylor sozinho, em outras duas destaca-se o texto, apesar da presença de imagens, e as duas últimas apresentam a continuação da entrevista com fotos do ator sozinho, com colegas do trabalho, ou com supostas namoradas. A entrevista da Atrevida também foca nos personagens da história, em suas mudanças em relação ao primeiro filme, nas alterações na vida e na atuação dos atores.

4.1.4 Rebelde estreia na Todateen Os atores da novela Rebelde foram capa da revista Todateen pela primeira vez na edição 186, de maio de 2011, e a reportagem traz elementos semelhantes aos destacados em 4.1.1.

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A reportagem “Rebelde é nosso!” ocupa duas páginas e meia (a metade da última página é reservada à publicidade) com espaço reservado às fotos semelhante ao espaço reservado ao texto. A abertura da matéria assume que o assunto – a novela Rebelde – é dominado pelos leitores e não há explicações, ou contextualizações mais aprofundadas. A construção do fim da abertura mostra que o tema é recorrente para o público, mas que ainda não conquistou a “intimidade” demonstrada em outros assuntos e que viria a ter com aquele tema nas edições seguintes: “Enquanto isso, você descobre um pouco mais sobre Lua Blanco, Sophia Abrahão, Mel Fronckowiak, Micael Borges, Chay Suede e Arthur Aguiar, esses atores de quem a gente já virou fã ;)” (TODATEEN, Ed. 186, p. 55). A “intimidade” que viria a aparecer na revista pode ser observada na reportagem de capa com o ator Micael Borges, na edição 199 da Todateen, quando o ator é mencionado como Mica em legenda de foto. A busca por uma identificação entre atores e personagens é mais evidente na reportagem da Todateen do que na matéria da Capricho. O box “Cada um com seu Rebelde: Os atores contaram um pouquinho sobre o que têm em comum com seus personagens e as características que adorariam pegar emprestado...” (TODATEEN, Ed. 186, p. 56) traz uma fala de cada ator contando no que se parece mais com seu personagem, por exemplo: “Lua: ‘tenho um senso de justiça em comum com ela. Adoraria ter a paciência da Roberta para me arrumar e investir mais nos acessórios.’” (TODATEEN, Ed. 186, p. 56). No Box “Você sabia?”, a identificação com os personagens também é mostrada: “Assim como Alice, Sophia também tinha vários amigos na escola.” (TODATEEN, Ed. 186, p. 57). Outro aspecto utilizado para aproximar os atores dos personagens é a amizade. Como os seis atores interpretam amigos na novela, a amizade da vida real é evidenciada já na linha fina “Os atores já viraram amigos, sabia?” (TODATEEN, Ed. 186, p. 55) e continua durante o texto “Quando você assiste à Rebelde, pensa que todo mundo já se conhecia desde sempre e resolveu se juntar na novela, não é?” (TODATEEN, Ed. 186, p. 55) e nas falas dos atores: “Durante a oficina de preparação, ficamos muito próximos.” (Sophia Abrahão, Todateen, Ed. 186, p. 55) “Sempre que dá a gente reúne todo mundo e faz alguma coisa” (Arthur Aguiar, Todateen, Ed. 186, p. 55). A matéria atende ao critério notoriedade por trazer como tema uma novela que vinha fazendo sucesso entre o público alvo. A proximidade dos atores com o

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público alvo é garantida de duas formas distintas: geograficamente – a primeira versão da novela que tinha conquistado o público era mexicana, a versão mais recente é brasileira, e por isso tem uma proximidade maior com os leitores; virtualmente – um dos aspectos abordados na matéria é a acessibilidade dos atores por meio das redes sociais: “Se você é do time que adora mandar um twit3 para dizer o quanto ama a novela, saiba que eles leem tudo!” (TODATEEN, Ed. 186, p. 55). O critério novidade não foi utilizado para a seleção da notícia, no entanto, o texto traz o que vai ocorrer com os atores, mesmo sem que haja detalhes ou datas. “os atores vão lançar CD e fazer show. Mas ainda nada foi 100% definido.” (TODATEEN, Ed. 186, p. 56). O critério de disponibilidade chega a ser mencionado no texto da matéria “O elenco de Rebelde está numa correria tão grande que esta matéria que você lê agora foi escrita no dia de fechamento desta edição da tt 4.”. Em comparação com outras celebridades que são destaque nas revistas analisadas, os atores de Rebelde correspondem melhor ao critério disponibilidade, por serem artistas nacionais. O trecho citado, apesar de destacar a dificuldade de contato com os atores por causa da “correria tão grande”, mostra, na verdade, que apesar da correria houve disponibilidade para contatar os atores. Na construção, é recorrente a personalização, evidenciada pelo enfoque nos atores como pessoa – suas amizades, suas características pessoais, sua ansiedade em relação à responsabilidade em protagonizar o remake de uma novela que fez sucesso com o público, etc. A consonância está presente na relação estabelecida entre a versão brasileira da novela e sua original mexicana, que supõe-se conhecida pelo público.

4.1.5 Todo Rebelde é assunto Depois que se tornaram conhecidos do público, os seis protagonistas de Rebelde ganharam notoriedade, e tinham destaque mesmo em reportagens ou entrevistas em que eram o único foco. Todos foram, pelo menos uma vez, capa de revista sozinhos. Nessas entrevistas, o destaque é a vida pessoal do ator, as impressões com a mudança causada pela fama de Rebelde, com referências eventuais a novidades na carreira. 3 4

Twit seria tweet, uma publicação na rede social Twitter. Tt é a maneira como os textos da Todateen se referem ao nome da revista.

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A visualidade é um dos critérios mais presentes nessas matérias. Exemplo marcante é a reportagem sobre Chay Suede publicada em fevereiro de 2012 na edição 210 da Atrevida, que ocupa 8 das 112 páginas do miolo, sendo 5 delas totalmente ocupadas por fotos, com uma citação sobre a imagem, 2 com 75% da área ocupada por fotos, e a primeira com título, linha fina e a maior parte do texto. Quatro meses depois, em junho, na edição 214 de Atrevida, Chay volta a ser capa, com a entrevista “Chay, me liga?”, com mais texto e menos fotos que a matéria da edição 210, mas totalmente voltada para a vida pessoal do ator e cantor. A valorização das fotos não se restringe a Chay, Sophia Abrahão, destaque da edição 207 da Atrevida, na entrevista “Fashionista em Ação”, aparece em duas fotos ocupando duas páginas inteiras, além de fotos menores que valorizam os looks da atriz na vida real e na pele da personagem Alice, de Rebelde. No entanto, não só a Atrevida valoriza a visualidade na construção das matérias, a reportagem “Amizade Colorida” da edição 1156 da Capricho traz fotos em 4 das 6 páginas que ocupa e a Todateen, na edição 193, traz fotos dos Rebelde na metade das 4 páginas que a matéria “Rebelde em Festa” ocupa.

4.1.6 Os irmãos Jonas A primeira reportagem de capa com os Jonas Brothers foi publicada na edição 163, de março de 2008, da Atrevida, com a matéria intitulada “Novidade pop” e linha fina “Conheça antes de todo mundo a banda The Jonas Brothers – formada por três irmãos e que está bombando nos Estados Unidos!”. O motivo da notícia era o lançamento recente do CD The Jonas Brothers no Brasil. Na abertura da matéria, já aparece a relação do sucesso da banda com o Disney Channel. “Por aqui, o Disney Channel anda divulgando seus clipes e a gente descobriu que, no segundo semestre, estreia o filme que fizeram para o canal, Camp Rock.” (ATREVIDA, Ed. 163, p. 34), A entrevista feita com Kevin, um dos integrantes da banda, fala sobre uma possível vinda ao Brasil, o lançamento de Camp Rock e do seriado que protagonizariam. As perguntas também envolvem a vida pessoal, perguntando sobre o que fazem nos momentos de lazer, relacionamentos amorosos, o relacionamento dos irmãos, etc. A matéria explora a novidade do lançamento, e a visualidade na construção da matéria com duas páginas de foto e duas de texto. A simplificação está presente

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no quadro que segue a entrevista “Confira algumas curiosidades sobre a banda que promete causar por aqui!” (ATREVIDA, Ed. 163, p. 36), que comenta aspectos da vida e da carreira da banda, como a participação da banda no seriado Hannah Montana e o fato de Nick Jonas ter diabetes. Em 11 de maio de 2008, a Capricho coloca a banda na capa da edição 1044, com a matéria “Os big brothers”. A matéria trata a banda como já sendo um grande sucesso do público. “Febre. Jonasmania. Chame como quiser. Joe, Nick e Kevin reinam absolutos no coração das adolescentes de todo o mundo.” (CAPRICHO, Ed. 1044, p. 36) Na Capricho, a entrevista é mais focada nas perguntas profissionais, sobre o filme Camp Rock, sobre a história, sobre a relação deles com os personagens e sobre a experiência de atuar. No fim da matéria, um quadro traz uma foto de cada um dos irmãos acompanhada de uma ficha com uma apresentação mais pessoal deles, com dados como altura, o que os atrai numa garota e no que já gastaram muito dinheiro. Na revista Todateen de Julho de 2008, edição 152, eles são apresentados como uma banda que já faz sucesso na banda “Príncipes do pop rock”, mas a reportagem não assume que eles já sejam conhecidos da leitora, e traça um panorama da carreira dele, do papel de Nick no início da banda ao lançamento de Camp Rock e a estreia prevista de um seriado no canal da Disney, passando por aspectos pessoais como o fato dos irmãos usarem aliança de pureza – “Nick, Joe e Kevin usam até um anel que simboliza que eles acreditam no casamento e pretendem se manter puros até cada um encontrar sua alma gêmea.” (TODATEEN, Ed. 152, p. 90)

4.1.7 O fenômeno Justin Bieber A primeira reportagem de capa da Atrevida com Justin Bieber foi publicada na edição 188 de abril de 2010, com o título “O fenômeno Justin Bieber”. O termo fenômeno pode ser entendido com a linha fina “Ele só postou alguns vídeos na internet para que sua família compartilhasse de sua vitória em um show de talentos. Dez milhões de page views depois...” (ATREVIDA, Ed. 188, p. 80). O “fenômeno” é o que garante a presença de Justin nas capas, não só da Atrevida como de outras revistas, naquele momento. O motivo principal era a pouca idade (Justin tinha 15

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anos quando ficou mundialmente famoso) e o modo como teria alcançado a fama (pela divulgação de vídeos na internet). O vídeo em questão conseguiu tantas visualizações que chegou aos ouvidos do cantor Usher, que decidiu conhecer o garoto e o fez assinar contrato com sua gravadora, a Island Records. A reportagem de cinco páginas, trazendo a primeira uma contextualização de quem é Justin Bieber e de por que ele é considerado um fenômeno, seguida por uma foto do cantor ocupando toda a página, uma entrevista sobre curiosidades da vida pessoal do ator ocupa a terceira e quarta páginas, que também incluem fotos do cantor sozinho, com a atriz e cantora Selena Gomez, com a cantora Rihanna e com uma ex-namorada. O critério novidade é atendido pelo lançamento, no mês da publicação da revista, do primeiro CD do cantor no Brasil: “Por aqui, a espera das fãs foi desesperadora! Mas agora em abril (finalmente!), chega às lojas brasileiras o álbum do canadense.” (ATREVIDA, Ed. 188, p. 80). Entre os critérios observados nessa matéria, destaca-se a proximidade, no perfil de Justin como “criança normal” (ATREVIDA, Ed. 188, p. 84). – como ele disse no Twitter – observada na menção da escola na entrevista e em um tweet destacado no box na quinta e última página da matéria. As perguntas feitas a Justin nessa entrevista focam o lado recém-famoso dele, colocando-o mais no papel de fã do que no papel de ídolo, por exemplo: “Qual dos cantores que estavam lá você mais gostou

de

conhecer?

[...]

Qual

celebridade

você

gostaria

de

conhecer

pessoalmente? [...] E com quem gostaria de gravar uma música?” (ATREVIDA, Ed. 188, p. 82). Já o critério de notabilidade pode ser encontrado no destaque dado na linha fina da matéria às 10 milhões de visualizações do vídeo que o trouxe à fama e na ênfase a pouca idade do cantor e à maneira exótica que promoveu seu sucesso. A visualidade é outro critério presente, sendo mais da metade do espaço ocupado pela matéria dedicado a imagens. A concorrência é lembrada em “Nessa entrevista exclusiva à Atrê.” (ATREVIDA, Ed. 188, p. 80) Em agosto do mesmo ano, era a Todateen que dava destaque ao cantor, na matéria “Justin Bieber”, ocupando quatro páginas da edição 177 da revista. Assim como na reportagem da Atrevida, a matéria traz um perfil de Justin – quem era, o que fazia e por que era conhecido. Na linha fina da matéria, pode-se perceber que a revista não assume que Justin já está presente na vida da maioria das leitoras, considerando que ele pode não ser tão conhecido, a reportagem tem um tom de apresentação que já pode ser percebido na linha fina: “Lindo, talentoso,

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determinado... Apaixone-se você também pelo cantor mais fofo do mundo!”. (TODATEEN, Ed. 177, p. 68) Outro elemento comum na matéria da Todateen e na da Atrevida é o apelo da proximidade – Justin como um adolescente “normal” e seu hábito de utilização do twitter, que o aproxima das fãs e cria uma identificação com elas. Exemplo claro disso é o entretítulo da matéria “Um menino comum” que comenta as características de Justin que são as mesmas de um adolescente típico. Bieber ainda é apenas um adolescente lidando com as sensações e as descobertas típicas dessa fase da vida. Como tirar carta, por exemplo, [...] ter que passar pelas bronquinhas da mãe [...] Assim como os carinhas de 16 anos, ele não esconde que paga pau para pra famosas do tipo gostosonas como Rihanna e também parece ficar meio encanadinho com seu corpo” (TODATEEN, Ed. 177, p. 68)

4.1.8 O novo Justin Em outubro de 2011, quando o fenômeno já fazia parte do cotidiano do público das revistas e já era tratado com “intimidade” nas matérias, a notícia era o “novo” Justin. A matéria, publicada na edição 206 da Atrevida mostra elementos da vida do cantor que mudaram desde que ele estreou na mídia. O principal foco da matéria está nas mudanças na vida pessoal do cantor divididas em pequenas notas acompanhadas de fotos e subtítulo. “Bye, bye, franjão!”, “It boy 5”, “Motorista”, “Fortuna multiplicada”, “Fama de pegador”, “BFFs 6”, “Menino exigente”, “Boa escolha, Selena!” e “Vem, gente!” comentam, respectivamente, a mudança no corte de cabelo de Justin, as tendências de moda que lança, o gosto de Justin por carros, o dinheiro acumulado, os boatos em torno dos relacionamentos amorosos, os amigos famosos, as exigências para o camarim, a banda que abriria o show dele no Brasil, e informações sobre os shows que realizaria no Brasil no mês da publicação da revista. A abertura da matéria já revela a mudança do tom ao se falar de Justin Bieber, enquanto as primeiras reportagens enfatizavam o lado “garoto normal” do cantor, as novas aparições de Justin já enfocam seu lado mais próximo ao estereótipo de celebridade. “Em pouco mais de três anos, ele passou de adolescente normal a superestrela. [...] Justin se tornou um dos jovens mais ricos do 5

It boy faz referência a um rapaz que lança tendências sendo seu estilo copiado por outros. O feminino seria It Girl. 6 BFF significa Best Friends Forever e é uma forma comum entre os adolescentes de se referir a melhores amigos.

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mundo, conquistou uma namorada D-I-V-A e muitas outras coisas” (ATREVIDA, Ed. 206, p. 66) Em 20 de maio de 2012, as mudanças de Justin são tema da matéria de capa da edição 1149 da Capricho, o elemento novidade é o lançamento do CD Believe, no mês seguinte, mas, assim como na matéria da Atrevida, o destaque maior é dado às mudanças de Justin. A matéria ocupa 4 páginas, sendo a primeira apenas com uma foto do cantor, e a última com uma foto que serve de base a pequenas notas indicando as mudanças do cantor, e já no título destaca seu enfoque “Quer conhecer o novo Bieber?”, explicado na linha fina “O cabelo mudou completamente. O som está mais pesado. O estilo mais glamouroso. Justin Bieber revela seu lado mais descolado e polêmico. Vem, a gente promete que você vai amar.” (CAPRICHO, Ed. 1149, p. 23). Logo em seguida ao texto que precede a entrevista na página 23, se vê o destaque a mudança no cabelo, no box “Da franja ao topete”, com quatro fotos do cantor com diferentes estilos de cabelo. Na última página da matéria utiliza a mesma estrutura da matéria da entrevista com pequenas notas sobre as mudanças de Justin. “Topete 50’s”, “Língua solta!”, “Coração ocupado”, “Toque glam 7”, “Milionário” e “Dance, Dance!” que abordam, respectivamente, o novo corte de cabelo, o envolvimento em polêmicas, a vida amorosa, o modo de se vestir, a fortuna conquistada, a evolução das coreografias. Em comparação a matéria da Atrevida, a reportagem da Capricho apresenta mais elementos que atendem o critério de novidade. A entrevista publicada traz dez perguntas, sendo 6 estritamente ligadas a profissão, com destaque ao lançamento do CD Believe, a saber: “Believe tem influência R&B. As músicas vão ser muito diferentes das antigas?”, “Rolaram muitos boatos sobre os artistas que colaboraram no álbum. Quem são eles?”, “Então, a história de que você gravou com o One Direction é boato?”, “Os cantores confirmados no álbum tem estilos bem diferentes, né?!”, “Sua ideia agora é se jogar no rap?”, “Você disse que estava bem envolvido no processo de composição das músicas. Sobre o que você fala nas letras?”. (CAPRICHO, Ed. 1149, p. 24) As mais pessoais questionam impressões que o cantor tem das mudanças em sua vida, expectativas em relação ao lançamento do álbum, e sobre 7

Glamouroso.

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características pessoais, como ser um bom namorado e no que acredita. Em detalhes, as pergunta foram “Como é experimentar tanta novidade?”, “A letra de Boyfriend fala sobre ser um bom namorado. E aí, você é?”, “Você tem vários haters. Agora, com Believe, você sente que vai provar algo?”, “O nome do álbum é Believe (Acreditar, em português). Em que você acredita?”. As perguntas são pautadas nos critérios de noticiabilidade presentes nas outras matérias. A notoriedade aparece na importância que se dá às características pessoais de Justin por ele ser uma pessoa que desperta o interesse do público, justificativa que também vale para a presença do critério de personalização, evidenciado nas perguntas sobre namoro e crença. A proximidade, bastante presente nas matérias do início da carreira que o retratavam como um garoto “comum”, não é mais encontrada. Na construção, permanece a visualidade como critério, na presença intensa das fotos, e se observa então a consonância, na presença de referências a outros fatos da vida ou da carreira do cantor, que se assume ser conhecido do público leitor, como a menção da garota que dissera estar grávida de Justin, na fala do cantor na entrevista: “escrevi sobre aquela garota que disse que esperava um filho meu.” (CAPRICHO, Ed. 1149, p. 22) e no texto da repórter, nas pequenas notas que comentam as mudanças de Justin: “Justin fala o que pensa no novo CD e não teme polêmicas. Tanto que fez uma música para a garota que inventou estar grávida dele.” (CAPRICHO, Ed. 1149, p. 23).

4.1.9 Justlena: Casais são notícia Um casal que é notícia desde 2010 é o formado por Justin Bieber e Selena Gomez. O motivo principal é a notoriedade do casal. Diferentemente de um casal formado por uma celebridade e uma pessoa anônima, Justlena – como as revistas e os fãs os chamam - une o cantor jovem mais famoso do momento com a cantora e atriz de um dos seriados de sucesso do Disney Channel. Foi o critério novidade que motivou a capa da edição 1115 da revista Capricho, de 30 de janeiro de 2011. Naquele momento a novidade não era a proximidade dos dois, que, como a própria matéria explica, já era observada desde o começo do ano anterior. O que era novo era o flagra feito por paparazzi no Réveillon de 2011, quando os dois foram fotografados juntos numa mansão no Caribe.

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A matéria ocupa 4 páginas da revista, sendo mais da metade desse espaço ocupado por ilustrações ou fotos – incluindo as capturadas pelos paparazzi – o que evidencia o critério de seleção da visualidade. Apesar de ser o gancho e o principal acontecimento abordado na matéria, o fato de passarem o Réveillon juntos não predomina no texto, mas é apenas utilizado como mote de uma reportagem com o panorama do relacionamento dos dois. A revista traz inclusive uma linha do tempo, mostrando cada nova etapa e mudança na relação do casal no ano anterior. Na construção, a simplificação é valorizada nessa forma de contar o fato acontecimento por acontecimento. A amplificação e a dramatização são encontradas no trecho sobre a torcida contrária ao namoro e seus efeitos: “dias após as fotos do Caribe vazarem, o Twitter e o Facebook da estrela da Disney foram invadidos. ‘Justin Bieber você é uma porcaria!’, escreveu o hacker no Twitter de Selena, no dia 12/1. [...] O triste é que parece mesmo que muita gente não está feliz com o novo casal.” (CAPRICHO, Ed. 1115, p. 27). Mais tarde, em junho de 2011, o casal foi capa de novo, dessa vez da edição 187 da revista Todateen. A matéria traz as mesmas informações da matéria publicada em janeiro na Capricho – como os dois passaram a ser considerados um casal, como começaram os boatos do relacionamento, o flagra dos paparazzi no Reveillon – mais o fato de em junho o namoro já estar assumido. No entanto, a matéria não foca uma novidade, mas sim aconselha a leitora como ter um relacionamento nos mesmos moldes, fazendo um paralelo entre a história do casal e a realidade da leitora. Essa matéria será analisada mais adiante em 4.2.

4.1.10 Luar: Destaque até no fim do relacionamento Enquanto o casal Justin Bieber e Selena Gomez é assunto sendo considerados um casal modelo, Lua Blanco e Arthur Aguiar são destaque na edição 214 da Atrevida, de junho de 2012, em matéria que traça uma linha do tempo – com informações e fotos – do começo ao fim do namoro, em março de 2012. O critério de noticiabilidade utilizado é o tempo, em seu aspecto de efeméride, como explica a linha fina “No mês dos namorados, a saudade deste casal bate mais forte, né? Mas ainda sonhamos com uma volta! Por isso, a Atrê decidiu contribuir com o CSI Luar

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para saber se os dois estão in love de novo! Indícios não faltam! Ai, ai...” (ATREVIDA, Ed. 214, p. 32). Na construção da matéria, além da visualidade garantida pela foto de destaque do casal e pela linha do tempo, na qual é notável também a simplificação. A personalização está na ênfase dada a Lua e a Arthur e à história de seu relacionamento, a dramatização está em cada informação dada na linha do tempo, como na nota que fala do fim “Neste clima de romance total, quem imaginaria que em março deste ano o relacionamento chegaria ao fim?” (ATREVIDA, Ed. 214, p. 35), e a consonância está presente na inserção da história numa história já conhecida do público, evidenciada na abertura da matéria em “Sabemos que os dois terminaram, mas nem por isso vamos deixar de acreditar no romance, né?” (ATREVIDA, Ed. 214, p. 32). O término do namoro foi mencionado até em entrevistas realizadas meses depois, como a da matéria “Amizade Colorida”. Arthur, você e a Lua também continuaram amigos. Como foi? Arthur: nossa convivência é ótima. A gente se gosta muito. Quando terminamos, rolou um clima estranho até cair a ficha, mas com o tempo a gente foi se entendendo. (CAPRICHO, Ed. 1156, p. 31)

Como demonstra o trecho acima, personalização e consonância são os critérios presentes na cobertura desse caso, reforçando no leitor a ideia de que o romance entre os atores encontra ressonância no leitor, que lê um acontecimento de ordem pessoal como notícia.

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4.2 Ídolo como guia A segunda função desempenhada pelo ídolo é a de “guia”, em matérias construídas principalmente de duas formas: o ídolo é fonte para dar conselhos diretamente ao leitor, o ídolo é utilizado como exemplo – positivo ou negativo – para matérias de dicas de comportamento, moda ou beleza.

4.2.1 Viva um romance pra valer Em junho de 2009, o casal de Crepúsculo voltou a ser destaque na capa da edição 163 da Todateen. A manchete da capa era “Paixão Total! Encontre o seu Edward e viva um romance pra valer!” e a linha fina da matéria: “Viva você também um romance delicioso como o de Edward e Bella, de Crepúsculo” (TODATEEN, 2009, Ed. 163, p. 76). A matéria ocupa três páginas e meia – a metade da última página é dedicada à publicidade – sendo a primeira exlusivamente para uma foto do casal abraçado, o título, a linha fina e os créditos da matéria. O texto é dividido em quatro partes principais: conselhos de relacionamento – parte mais longa, uma entrevista de seis perguntas com Kristen Stewart, um box sobre o filme seguinte a ser lançado e um box sobre o último livro da série. A construção do texto supõe que o casal e sua história sejam conhecidos da leitora, como mostra a linha fina e a abertura do texto: “escolhemos a mais recente e atualmente preferida por centenas de leitoras da tt (e pela redação também, a gente confessa!) para servir de inspiração na hora de ajudar você a viver a sua grande paixão.” (TODATEEN, 2009, Ed. 163, p. 77). O texto é dividido visualmente em 2 quadros – “O lance” e “O gato” –, cinco partes e a abertura. Na abertura, Bella é apresentada como uma personagem com atitudes que servem de inspiração que são apresentadas nas cinco partes, “Pés no chão”, “Seja você”, “Inteligência conta!” e “Doçura”, “Paciência é tudo”. Cada parte aconselha a leitura sobre uma atitude considerada importante para o relacionamento e associa a um comportamento da personagem Bella na história. Os quadros “O lance” e “O gato” buscam mostrar às leitoras, com exemplos de Crepúsculo, que no relacionamento pode haver desafios, e que o garoto pode ter defeitos.

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4.2.2 Justlena: Namoro dos sonhos Em junho de 2011, a edição 187 da Todateen colocou Justin Bieber e Selena Gomez na capa, com a manchete destacada “Você consegue um namoro dos sonhos!” e em fonte menor a explicação: “Tipo do Justin e da Sel. Como? Desvendamos os mistérios para o seu S2 bater megafeliz!”. A matéria ocupa 3 páginas e meia – a última tem metade dedicada à publicidade – sendo mais da metade do espaço ocupado por fotos do casal juntos. O título da matéria “Quero ser Justlena!” (TODATEEN, Ed. 187, p. 66) reforça o apelido do casal e a proximidade com a leitora, já que a utilização da primeira pessoa do singular não se refere a voz da repórter, mas a voz que manifestaria o desejo da leitora. Essa ideia fica mais evidente com a linha fina: “Selena conquistou o namô dos sonhos – Justin #suspiros... Inspire-se nesse casal mais que perfect e ganhe o seu também!”. O texto é dividido em sete partes, que contam a história do namoro - do que seria o início do envolvimento até o momento mais recente do relacionamento – e aconselham a leitora com uma “Dica Justlena S2” – destaque dado aos parágrafos que dão os conselhos. Os conselhos são construídos numa linguagem mais coloquial e mais próxima a linguagem oral que o restante do texto com a utilização do imperativo e de perguntas a leitora como “Anote aí: amizades têm grandes chances de virar namoro. Então, que tal reparar mais nos seus BFs 8 meninos?” (TODATEEN, Ed. 187, p. 67) e “Reparou que Justlena não teve pressa em assumir o namoro?” (TODATEEN, Ed. 187, p. 66). Além das dicas, a matéria inclui um quadro com justificativas para Selena Gomez merecer o namoro e com atitudes românticas de Justin Bieber e um quadro com quatro fotos e legendas do casal juntos, com o título “Momentos #socute!” (TODATEEN, Ed. 187, p. 66).

4.2.3 Rebelde ensina Depois que os atores de Rebelde se tornaram conhecidos e próximos das leitoras das revistas “teen”, eles tornaram-se recorrentes nas matérias de capa que aconselhavam as leitoras.

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Variação de BFF, que significa Best Friends Forever e é uma forma comum entre os adolescentes de se referir a melhores amigos.

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Em dezembro de 2011, a Todateen colocou os seis atores principais na capa com a matéria “Rebelde em Festa!”, quatro páginas de fotos e texto, uma entrevista com os atores dividida em três partes: “Hora da Produção!”, “Pra arrasar!” e “Sweet Sixteen”, que abordavam, respectivamente, dicas de maquiagem e moda, dicas de relacionamentos, e a vida pessoal dos atores quando tinham 16 anos. A matéria também inclui um box “The Best!”, comentando o que seria uma festa boa na opinião dos atores. A justificativa para uma matéria sobre o tema está na abertura “Fim de ano é sinônimo de uma palavra linda: comemorar! Ainda mais quando dá para emendar o niver da tt9 ao Natal e ao Réveillon, né?”. (TODATEEN, Ed. 193, p. 35). A razão para a entrevista com os atores aparece no texto em seguida: “E ninguém melhor para fazer ‘A’ festa com a gente do que o pessoal de Rebelde: eles são animados, cheios de atitude e, claro, não recusam um convite para se jogar na pista!” (TODATEEN, Ed. 193, p. 35) e na linha fina “Essa galera mais descolada ever sabe fazer uma party como ninguém. Caia na balada com eles!” (TODATEEN, Ed. 193, p. 35). Assim como a matéria do casal Justin e Selena, essa também deixa evidente o diálogo com o leitor pelo uso de perguntas e do verbo no imperativo. No mesmo mês, a edição 208 da Atrevida publicou uma entrevista feita somente com os atores masculinos da novela, com perguntas que buscavam responder “O que querem os meninos”, título da matéria. A proposta era solucionar as “maiores dúvidas sobre garotos”, como a abertura da matéria explica. Da mesma maneira que a Todateen, a Atrevida utiliza perguntas no texto para estabelecer uma proximidade com a leitora, e o recurso está presente desde o início do texto: Quem nunca quis se transformar em uma mosquinha e se infiltrar nos lugares frequentados só por meninos para saber o que eles falam? Ou até mesmo pensou em fazer tortura usando métodos de depilação para desvendar os seus segredos? (ATREVIDA, Ed. 208, p. 57)

A matéria justifica a escolha dos atores para responder às dúvidas pelo sucesso que têm. “Escolhemos os três mais cobiçados do momento: os Rebeldes Arthur Aguiar, Micael Borges e Chay Suede.” O assunto relacionamento na perspectiva dos atores de Rebelde volta na edição 1156, de 26 de agosto de 2012, da Capricho. Nessa, o tema foi um pouco 9

Tt é a maneira como os textos da Todateen se referem ao nome da revista.

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mais restrito, como fica claro na chamada de capa “Amor e amizade” com subtítulo “Nossos Rebeldes favoritos contam como lidar com ficadas e romances na turma” e no título da matéria “Amizade Colorida”. A linha fina utiliza busca atender ao critério de proximidade “Elas vivem fofocando, eles só zoam e, claro, também rola pegação10. A galera de Rebelde parece mais com a sua turma do que você pensa!”.

4.2.4 Garota do bem: Selena Gomez como exemplo Na edição de setembro de 2011, Selena Gomez foi destaque na capa, com a manchete “Garota do Bem” e o subtítulo “Selena Gomez é linda, talentosa, tem um currículo amoroso invejável e ainda arruma tempo para apoiar causas sociais. Inspire-se!”. A matéria de quatro páginas fala sobre trabalho voluntário, e apenas utiliza a atriz Selena Gomez como forma de atrair o assunto, o que só fica claro no fim da segunda página da matéria – a primeira é dedicada a uma foto de Selena – a partir do trecho E o que faz uma diva teen embarcar em um programa glamour zero como esse? O mesmo sentimento que move milhares de garotas em todo o planeta a adotarem algum tipo de trabalho voluntário: a certeza de que, juntas, podemos mudar de verdade o mundo. Para melhor, claro. Veridiana Semeraro, 17 anos, de São Paulo, é uma das adolescentes que faz parte dessa corrente do bem. (ATREVIDA, Ed. 205, p. 69)

Nem o título da matéria -

“Mundo melhor: comofaz11” (ATREVIDA, Ed.205,

p. 69) – ou a linha fina – “Selena Gomez já se envolveu em campanhas para transformar este planeta em que vivemos num lugar muito melhor. E você também pode entrar nessa onda do bem se quiser.” - haviam deixado claro o principal objetivo da matéria. As ações voluntárias de Selena são destacadas como um diferencial em relação a outras atrizes, atendendo ao critério do inesperado: “diferentemente da maioria das celebs12, em vez de só curtir baladinhas, aprontando todas, ela resolveu usar a popularidade para reunir seus fãs em torno de campanhas para lá de nobre.”. A presença da atriz na matéria é devido à notoriedade alcançada pela atriz e a 10

11

12

Arthur Aguiar e Lua Blanco já namoraram e Sophia Abrahão namorou Chay Suede e atualmente namora Micael Borges. O título da matéria apresenta as palavras “como faz” sem espaço entre elas, da maneira comumente utilizada pelos adolescentes no Twitter. Celebridades.

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consonância garantida pelo fato da atriz e de sua função como embaixadora da Unicef já ter sido apresentada para os leitores em outro momento, como na página 57 da matéria de capa da edição 186 da Atrevida. Na abertura da matéria, também ficam claras a personalização – pelo destaque dado a Selena, apesar do assunto principal ser o trabalho voluntário – e a proximidade garantida na utilização da primeira pessoa do plural do “podemos mudar de verdade o mundo” (ATREVIDA, Ed.205, p. 69).

4.2.5 O drama de Demi Depois de ficar três meses internada em uma clínica de reabilitação, em 2010, para tratar problemas psicológicos e distúrbios alimentares, Demi Lovato voltou às capas de revistas com reportagens e entrevistas que diferiam de suas primeiras aparições na mídia. Com isso, sua vida pessoal passou a dominar os textos, e os conselhos começaram a ficar presentes nas palavras de Demi, ou nos textos das reportagens. A capa da edição 211, de março de 2012, de Atrevida, trouxe “Demi de verdade – Ser diva e continuar com os pés no chão é difícil. Principalmente quando sua vida parece uma novela mexicana, como a da cantora. Aqui, ela conta #comofaz para superar e seguir a trilha do sucesso!” A matéria de quatro páginas é dividida entre contar um acontecimento da vida da cantora e um aprendizado que aquilo pode trazer para a vida da leitora, o que é explicado na abertura da matéria: “Foram tantos os baphos13 que nunca tivemos tempo de pensar que com todos esses acontecimentos, Demi ensinou, indiretamente, lições valiosas para a nossa vida. Não acredita? Então, check it out!” (p. 34) As “lições” foram divididas nos subtítulos: a) “Fora do ar”, que conta a decisão de Demi se manter longe das câmeras para continuar o processo de aceitação do seu corpo – o que ensinaria a autoaceitação. b) “Ex Bff!” comenta sobre o contato mantido entre Demi e o ex-namorado Joe Jonas, evidenciado em suas publicações no twitter – o que ensina a manter uma amizade com o ex-namorado. Mas a revista coloca ressalvas 13

Acontecimentos que geram fofoca, escândalo.

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no ensinamento “Desde que isso não confunda a sua cabeça e o seu coração” e “só vale para ex gente fina” (p. 36) c) “A fila andou...” fala de um suposto namoro de Demi após a reabilitação, que também já tinha terminado, e que a teria motivado postar no Twitter: “A coisa mais inteligente que uma mulher precisa aprender é nunca precisar de um homem” – o que serviria de exemplo a leitora a manter autoestima após o fim de um relacionamento. d) “Ex+Ex=como assim?” conta sobre a amizade desenvolvida por Joe Jonas e quem era o mais recente ex-namorado de Demi. – isso ensinaria a evitar namorar caras que tivessem amigos em comum. e) “Tchau, twitter!” explica o afastamento temporário da cantora da rede social – o que mostraria que muitas vezes é importante afastar-se um pouco das redes para não se comprometer. No mês seguinte, a atriz foi capa da edição 197 de Todateen, quando a cantora veio ao Brasil para apresentação de quatro shows no Brasil, apesar da turnê ser um dos ganchos da matéria – como na linha fina “Ela virou a página do sofrimento, chega aqui cheia de energia pra turnê e arrumou um tempinho pra lhe dar conselhos” (p. 28) -, a entrevista é pautada pela vida pessoal da cantora. As principais perguntas que buscavam uma dramatização ao tocar na vida pessoal da cantora foram “Como você conseguiu sair desse drama que aconteceu na sua vida?”, “O que mudou em sua vida?”, “Muitas meninas se inspiram em você, o que tem a dizer para elas?”, “É fácil ceder a pressão, né?”, “Qual você acha que é o segredo para se recuperar de um dilema pessoal?”. Além do conteúdo da entrevista, no final da matéria, são reunidos três boxes que lembram problemas com que Demi precisou lidar: a) “A encanação com o corpo” comenta os transtornos alimentares da cantora, e a automutilação praticada pela atriz desde os 11 anos, e como isso afetou seu desempenho nos palcos. b) “Deprê, álcool e drogas” conta que Demi, durante o tratamento na

clínica, descobriu sofrer de transtorno bipolar, e que, antes da internação, costumava buscar conforto no uso de drogas e álcool. A reportagem também aborda a maneira que a cantora trata o assunto:

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foi ser feliz. Mas não antes de alertar todo mundo do perigo que é entrar num caminho errado. Apoiar a campnha Sober Is Sexy e fazer o documentário Stay Strong para a MTV são prova disso. [...] ela fala tudo com sinceridade, pra servir de exemplo! (TODATEEN, 197, p. 30) c) “Problemas com o pai” relata a influência que o pai pode ter tido nos

problemas de Demi ao procurar os meios de comunicação para dar sua opinião quando não falava mais com Demi há muito tempo.

4.2.6 Miley está feliz A atriz Miley Cyrus foi destaque na Capricho em 1º de julho de 2012, na edição 1152, com a chamada principal “Muito Feliz! – Apaixonada, Miley conta como venceu as inseguranças e conquistou o namorado dos sonhos”, a revista traz uma matéria de quatro páginas, começando com uma foto da atriz, uma entrevista de duas páginas, e uma página falando sobre mudanças no corpo da atriz, dieta e exercícios. A reportagem contém elementos que fazem parte dos assuntos que interessam a leitora que costumam estar presentes no restante da revista, como as perguntas sobre sexo e relacionamento: “O que você pensa sobre toda a tensão que rola na primeira vez? Acho que a primeira vez a muda como pessoa porque você começa a pensar que talvez o garoto só queira aquilo de você. Tenho certeza de que as garotas se apegam mais do que os garotos depois da primeira vez. E, muitas vezes, acabamos nos decepcionando e sofrendo. Garotos não são tão legais quanto parecem. Sofrer por amor é horrível, né? Nossa, eu prefiro ter a pior dor de estômago da vida do que sentir aquela pontada no estômago depois que o cara que você ama diz que não gosta de você. [...]” (CAPRICHO, Ed. 1152, p. 25)

4.2.7 Kristen é diva Diva foi o termo usado na edição 1151 da Capricho, de 17 de junho de 2012, para se referir a atriz Kristen Stewart na chamada principal da capa: “Diva rock – Kristen Stewart fala de sua versão cheia de atitude para a Branca de Neve + Roube os looks mais desejados da atriz”. A matéria de 4 páginas, apesar de trazer uma entrevista com a atriz falando sobre seu último lançamento cinematográfico, é

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especialmente focada no visual da atriz, e no que a leitora pode aprender com ela no que se refere a moda e maquiagem, o que fica evidente na linha fina: Kristen Stewart é a garota com mais atitude em hollywood: tanto na escolha de seus personagens do cinema como na de suas roupas e makes únicos. Quer aprender com ela?”. Atendendo ao termo “atitude”, a seleção feita pela revista nas fotos e na entrevista valoriza perguntas como “A Branca de Neve viveu muito tempo sozinha. O que você diria para uma garota que é excluída da galera?” e fotografias com a atriz em roupas que se aproximam do estilo do rock. Na segunda página da matéria, uma foto em close serve como base para ensinar em três passos a maquiagem que Kristen utiliza na imagem. Na terceira e quarta página, um tutorial – também em três passos – acompanhado de uma foto da atriz (em tamanho pequeno em relação à primeira) ensina uma maquiagem para ser utilizada a noite. Além disso, uma galeria com três fotos mostrando apenas sapatos usados pela atriz. O namorado Robert Pattinson também é mencionado – e uma foto sua também pode ser vista – em uma nota com o título “Acessório perfeito!”.

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5 Considerações finais As revistas fazem parte da vida cotidiana das pessoas em seus mais diferentes formatos e sua existência não foi prejudicada pelo surgimento do rádio, da televisão ou da internet. A história desse veículo mostra uma tendência a especialização, uma tentativa de atender nichos específicos, de assuntos ou grupos. Nas últimas décadas, entre esses grupos, os adolescentes cresceram como mercado consumidor e leitor. Para o diálogo com o leitor, essas revistas adolescentes passaram a se utilizar da figura do ídolo, representados principalmente por celebridades da indústria fonográfica e audiovisual do cenário cultural nacional e internacional. O ídolo estava presente na vida da adolescente e se tornava ainda mais próximo dela com a cobertura dada pelas revistas. Seu trabalho, sua vida, suas preferências são objeto de curiosidade da leitora, correspondendo à ideia de estetização da vida estudada por Featherstone (1995). A identificação buscada nas revistas com a escolha da leitora por um ou outro título, por uma ou outra capa tem ligação direta com a ideia de Canclini (2008) de atribuir significado a um objeto ou ação. A leitora que compra uma Atrevida com Justin Bieber na capa vincula-se ao grupo de pessoas que gostam de Justin Bieber – e por isso, compram revistas em que ele é tema – ou ao grupo leitoras de Atrevida – e por isso, compram a revista, independentemente da capa. Este trabalho propôs-se a analisar as semelhanças e diferenças na cobertura realizada por três revistas dirigidas ao público adolescente, nas reportagens de capa que trouxessem quatro fenômenos culturais diferentes. Com a análise, observou-se que a cobertura é semelhante em títulos distintos e mesmo sobre diferentes fenômenos da indústria audiovisual. A estrutura dessa cobertura pode ser explicada pelos critérios de noticiabilidade de Traquina (2008), pelo conceito de consumo de Canclini (2008) e pelas idéias do comportamento da pós-modernidade de Featherstone (1995). Nas reportagens de capa, notou-se um padrão de reportagens recorrentes em que o ídolo era principalmente notícia, atendendo principalmente ao critério de noticiabilidade da novidade; e outras reportagens em que havia pouca correspondência entre os valores-notícia e a participação do ídolo na notícia, mas

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sua imagem era aproveitada para reportagens em que ele servia de guia, uma referência - positiva ou negativa – de comportamento, moda, beleza ou opinião. Na realização do trabalho, percebeu-se que apesar da inegável importância das revistas para a sociedade e para o jornalismo, a literatura carece de bibliografia especializada, principalmente em relação às revistas segmentadas, voltadas a um tipo de leitor - como os adolescentes, no caso deste trabalho – ou a um tipo de assunto. Os estudos relacionados à revista para adolescentes são poucos e costumam focar em apenas um título. Além disso, a presença e a utilização dos ídolos na imprensa também é pouco estudada, apesar de não ser uma exclusividade das revistas para adolescentes e poder ser observada em revistas femininas, de esportes, de música e de cinema. A pesquisa atendeu o objetivo de delinear um dos padrões utilizados nas reportagens de capa, observando similaridade entre veículos e coberturas. Como esperado, a realização desta pesquisa não esgotou o assunto e ainda serviu para perceber outras possibilidades de estudos que envolvem a presença do ídolo nas revistas.

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Referências ALI, F. A arte de editar revistas. São Paulo: Cia. Ed. Nacional, 2009. ANDRADE, M. M.. Introdução à metodologia do trabalho científico: elaboração de trabalhos na graduação. São Paulo: Atlas, 2010. ATREVIDA. São Paulo: Ed. Escala, ed. 163, [mar. 2008] ATREVIDA. São Paulo: Ed. Escala, ed. 183, [nov. 2009] ATREVIDA. São Paulo: Ed. Escala, ed. 186, [fev. 2010] ATREVIDA. São Paulo: Ed. Escala, ed. 188, [abr. 2010] ATREVIDA. São Paulo: Ed. Escala, ed. 205, [set. 2011] ATREVIDA. São Paulo: Ed. Escala, ed. 206, [out. 2011] ATREVIDA. São Paulo: Ed. Escala, ed. 207, [nov. 2011] ATREVIDA. São Paulo: Ed. Escala, ed. 208, [dez. 2011] ATREVIDA. São Paulo: Ed. Escala, ed. 210, [fev. 2012] ATREVIDA. São Paulo: Ed. Escala, ed. 211, [mar. 2012] ATREVIDA. São Paulo: Ed. Escala, ed. 214, [jun. 2012] CANCLINI, N. G. Consumidores e cidadãos: conflitos multiculturais da globalização. Rio de Janeiro: Ed. UFRJ, 1999. CANCLINI, N. G. Culturas híbridas. São Paulo: Edusp, 2000. CANCLINI, N. G. Diferentes, desiguais e desconectados: mapas da interculturalidade. Rio de Janeiro: Ed. UFRJ, 2007. CAPRICHO. São Paulo: Ed. Abril, ed. 1044, 11 mai. 2008. CAPRICHO. São Paulo: Ed. Abril, ed. 1058, 23 nov. 2008. CAPRICHO. São Paulo: Ed. Abril, ed. 1067, 29 mar. 2009. CAPRICHO. São Paulo: Ed. Abril, ed. 1077, 16 ago. 2009. CAPRICHO. São Paulo: Ed. Abril, ed. 1084, 22 nov. 2009. CAPRICHO. São Paulo: Ed. Abril, ed. 1115, 30 jan. 2011. CAPRICHO. São Paulo: Ed. Abril, ed. 1149, 20 mai. 2011.

67

CAPRICHO. São Paulo: Ed. Abril, ed. 1151, 17 jun. 2012. CAPRICHO. São Paulo: Ed. Abril, ed. 1152, 1º jul. 2012. CAPRICHO. São Paulo: Ed. Abril, ed. 1156, CERQUEIRA, A. L. S. Minha amiga Todateen: análise de uma revista adolescente da Editora Alto Astral. 1999. 208 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Comunicação Social – Jornalismo) – Faculdade de Arquitetura Artes e Comunicação, Universidade Estadual Paulista, Bauru, 1999. COUSINEAU, P. (Org.). A jornada do herói Joseph Campbell: vida e obra. São Paulo: Ágora, 2003. DUARTE, J.; BARROS, A. (Org.). Métodos e técnicas de pesquisa em comunicação. São Paulo: Atlas, 2006. ESCOVAR, M. R. G. Videodocumentário: Fany no País das "Maravilhas" : jovem, mídia e magia. 2002. 105 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Comunicação Social – Jornalismo) – Faculdade de Arquitetura Artes e Comunicação, Universidade Estadual Paulista, Bauru, 2002. FEATHERSTONE, M. Cultura de consumo e pós-modernismo. São Paulo: Studio Nobel, 1995. HISTÓRIA revista: Associação Nacional de Editores de Revistas 25 anos: (19862011). São Paulo: ANER, 2011. HOLFELDT, A. Teorias da comunicação. Petrópolis: Vozes, 2002. MARTÍN-BARBERO, J. Dos meios às mediações. Rio de Janeiro: Ed. UFRJ, 2001. MIRA, M. C. O leitor e a banca de revistas: o caso da editora Abril. 1997. 359 f. Tese (Doutorado em Sociologia) – Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 1997. MIRA, M. C. O leitor e a banca de revistas: a segmentação da cultura no século XX. São Paulo: Olho d`Água: Fapesp, 2001. MORIN, E. Cultura de massas no século XX: neurose. Rio de Janeiro: Forense, 1997. v. 1. NOVAES, Allan. Diversão urgente! Disponível em: . Acesso em: 13 jun. 2012. OLIVEIRA, D. P. Juventude em revista: uma avaliação das revistas impressas voltadas para o público jovem enquanto meios de mediação cultural. 2006. 71 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Comunicação Social –

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Jornalismo) – Faculdade de Arquitetura Artes e Comunicação, Universidade Estadual Paulista, Bauru, 2006. A REVISTA no Brasil. São Paulo: Abril, 2000. RÜDIGER, F. Introdução à teoria da comunicação. São Paulo: Edicon, 1998. RUIZ, L. M. Gestão da informação: da criação à recepção. Estudo de caso: Revista Todateen - para público adolescente. 2005. 122 f. Dissertação (Mestrado em Comunicação) – Faculdade de Arquitetura Artes e Comunicação, Universidade Estadual Paulista, Bauru, 2005. SCALZO, M. Jornalismo de revista. São Paulo: Contexto, 2006. SCHIBUOLA, T. Caderno Capricho sobre a adolescente brasileira. Disponível em: . Acesso em: 13 jun. 2012. SOUSA, M. W. (Org.). Sujeito, o lado oculto do receptor. São Paulo: Brasiliense, 1995. TODATEEN. Bauru: Ed. Alto Astral, ed. 152, jul. 2008. TODATEEN. Bauru: Ed. Alto Astral, ed. 163, jun. 2009. TODATEEN. Bauru: Ed. Alto Astral, ed. 177, ago. 2010. TODATEEN. Bauru: Ed. Alto Astral, ed. 187, mai. 2011. TODATEEN. Bauru: Ed. Alto Astral, ed. 193, dez. 2011. TODATEEN. Bauru: Ed. Alto Astral, ed. 197, abr. 2012. TODATEEN. Bauru: Ed. Alto Astral, ed. 199, jun. 2012. TRAQUINA, N. Teorias do jornalismo: Por que as notícias são como são. v. 1. Florianópolis : Insular, 2005 TRAQUINA, N. Teorias do jornalismo: A tribo jornalística - uma comunidade interpretativa transnacional. v. 2. Florianópolis : Insular, 2008 VILAS BOAS, S. O estilo magazine: o texto em revista. São Paulo: Summus, 1996. WOLF, M. Teorias da comunicação. Lisboa: Editorial Presença, 2001.

69

Anexos

70

Atrevida

71

Anexo 1 – Atrevida, Ed. 163, capa

72

Anexo 2 – Atrevida, Ed. 163, p. 34

73

Anexo 3 – Atrevida, Ed. 163, p. 35

74

Anexo 4 – Atrevida, Ed. 163, p. 36

75

Anexo 5 – Atrevida, Ed. 163, p. 37

76

Anexo 6 – Atrevida, Ed. 183, capa

77

Anexo 7 – Atrevida, Ed. 183, p. 52

78

Anexo 8 – Atrevida, Ed. 183, p. 53

79

Anexo 9 – Atrevida, Ed. 183, p. 54

80

Anexo 10 – Atrevida, Ed. 183, p. 55

81

Anexo 11 – Atrevida, Ed. 183, p. 56

82

Anexo 12 – Atrevida, Ed. 183, p. 57

83

Anexo 13 – Atrevida, Ed. 186, p. 57

84

Anexo 14 – Atrevida, Ed. 188, capa

85

Anexo 15 – Atrevida, Ed. 188, p. 80

86

Anexo 16 – Atrevida, Ed. 188, p. 81

87

Anexo 17 – Atrevida, Ed. 188, p. 82

88

Anexo 18 – Atrevida, Ed. 188, p. 83

89

Anexo 19 – Atrevida, Ed. 188, p. 84

90

Anexo 20 – Atrevida, Ed. 205, capa

91

Anexo 21 – Atrevida, Ed. 205, p. 68

92

Anexo 22 – Atrevida, Ed. 205, p. 69

93

Anexo 23 – Atrevida, Ed. 205, p. 70

94

Anexo 24 – Atrevida, Ed. 205, p. 71

95

Anexo 25 – Atrevida, Ed. 206, p. 66

96

Anexo 26 – Atrevida, Ed. 206, p. 67

97

Anexo 27 – Atrevida, Ed. 206, p. 68

98

Anexo 28 – Atrevida, Ed. 206, p. 69

99

Anexo 29 – Atrevida, Ed. 207, p. 92

100

Anexo 30 – Atrevida, Ed. 207, p. 93

101

Anexo 31 – Atrevida, Ed. 207, p. 94

102

Anexo 32 – Atrevida, Ed. 207, p. 95

103

Anexo 33 – Atrevida, Ed. 207, p. 96

104

Anexo 34 – Atrevida, Ed. 207, p. 97

105

Anexo 35 – Atrevida, Ed. 208, capa

106

Anexo 36 – Atrevida, Ed. 208, p. 56

107

Anexo 37 – Atrevida, Ed. 208, p. 57

108

Anexo 38 – Atrevida, Ed. 208, p. 58

109

Anexo 39 – Atrevida, Ed. 208, p. 59

110

Anexo 40 – Atrevida, Ed. 210, capa

111

Anexo 41 – Atrevida, Ed. 210, p. 36

112

Anexo 42 – Atrevida, Ed. 210, p. 37

113

Anexo 43 – Atrevida, Ed. 210, p. 38

114

Anexo 44 – Atrevida, Ed. 210, p. 39

115

Anexo 45 – Atrevida, Ed. 210, p. 40

116

Anexo 46 – Atrevida, Ed. 210, p. 41

117

Anexo 47 – Atrevida, Ed. 211, capa

118

Anexo 48 – Atrevida, Ed. 211, p. 34

119

Anexo 49 – Atrevida, Ed. 211, p. 35

120

Anexo 50 – Atrevida, Ed. 211, p. 36

121

Anexo 51 – Atrevida, Ed. 211, p. 37

122

Anexo 52 – Atrevida, Ed. 214, capa

123

Anexo 53 – Atrevida, Ed. 214, p. 32

124

Anexo 54 – Atrevida, Ed. 214, p. 33

125

Anexo 55 – Atrevida, Ed. 214, p. 34

126

Anexo 56 – Atrevida, Ed. 214, p. 35

127

Anexo 57 – Atrevida, Ed. 214, p. 56

128

Anexo 58 – Atrevida, Ed. 214, p. 57

129

Anexo 59 – Atrevida, Ed. 214, p. 58

130

Anexo 60 – Atrevida, Ed. 214, p. 59

131

Capricho

132

Anexo 61 – Capricho, Ed. 1044, capa

133

Anexo 62 – Capricho, Ed. 1044, p. 36

134

Anexo 63 – Capricho, Ed. 1044, p. 37

135

Anexo 64 – Capricho, Ed. 1044, p. 38

136

Anexo 65 – Capricho, Ed. 1044, capa

137

Anexo 66 – Capricho, Ed. 1058, capa

138

Anexo 67 – Capricho, Ed. 1058, p. 32

139

Anexo 68 – Capricho, Ed. 1058, p. 33

140

Anexo 69 – Capricho, Ed. 1058, p. 34

141

Anexo 70 – Capricho, Ed. 1058, p. 35

142

Anexo 71 – Capricho, Ed. 1058, p. 36

143

Anexo 72 – Capricho, Ed. 1058, p. 37

144

Anexo 73 – Capricho, Ed. 1067, capa

145

Anexo 74 – Capricho, Ed. 1067, p. 28

146

Anexo 75 – Capricho, Ed. 1067, p. 29

147

Anexo 76 – Capricho, Ed. 1067, p. 30

148

Anexo 77 – Capricho, Ed. 1067, p. 31

149

Anexo 78 – Capricho, Ed. 1072, p. 53

150

Anexo 79 – Capricho, Ed. 1077, p. 34

151

Anexo 80 – Capricho, Ed. 1084, capa

152

Anexo 81 – Capricho, Ed. 1084, p. 36

153

Anexo 82 – Capricho, Ed. 1084, p. 37

154

Anexo 83 – Capricho, Ed. 1084, p. 38

155

Anexo 84 – Capricho, Ed. 1084, p. 39

156

Anexo 85 – Capricho, Ed. 1084, p. 40

157

Anexo 86 – Capricho, Ed. 1084, p. 41

158

Anexo 87 – Capricho, Ed. 1115, capa

159

Anexo 88 – Capricho, Ed. 1115, p. 24

160

Anexo 89 – Capricho, Ed. 1115, p. 25

161

Anexo 90 – Capricho, Ed. 1115, p. 26

162

Anexo 91 – Capricho, Ed. 1115, p. 27

163

Anexo 92 – Capricho, Ed. 1149, capa

164

Anexo 93 – Capricho, Ed. 1149, p. 22

165

Anexo 94 – Capricho, Ed. 1149, p. 23

166

Anexo 95 – Capricho, Ed. 1149, p. 24

167

Anexo 96 – Capricho, Ed. 1149, p. 25

168

Anexo 97 – Capricho, Ed. 1151, capa

169

Anexo 98 – Capricho, Ed. 1151, p. 22

170

Anexo 99 – Capricho, Ed. 1151, p. 23

171

Anexo 100 – Capricho, Ed. 1151, p. 24

172

Anexo 101 – Capricho, Ed. 1151, p. 25

173

Anexo 102 – Capricho, Ed. 1152, capa

174

Anexo 103 – Capricho, Ed. 1152, p. 22

175

Anexo 104 – Capricho, Ed. 1152, p. 23

176

Anexo 105 – Capricho, Ed. 1152, p. 24

177

Anexo 106 – Capricho, Ed. 1152, p. 25

178

Anexo 107 – Capricho, Ed. 1156, capa

179

Anexo 108 – Capricho, Ed. 1156, p. 26

180

Anexo 109 – Capricho, Ed. 1156, p. 27

181

Anexo 110 – Capricho, Ed. 1156, p. 28

182

Anexo 111 – Capricho, Ed. 1156, p. 29

183

Anexo 112 – Capricho, Ed. 1156, p. 30

184

Anexo 113 – Capricho, Ed. 1156, p. 31

185

Todateen

186

Anexo 114 - Todateen, Ed. 152, p. 90

187

Anexo 115 - Todateen, Ed. 152, p. 91

188

Anexo 116 - Todateen, Ed. 163, p. 76

189

Anexo 117 - Todateen, Ed. 163, p. 77

190

Anexo 118 - Todateen, Ed. 163, p. 78

191

Anexo 119 - Todateen, Ed. 163, p. 79

192

Anexo 120 - Todateen, Ed. 177, capa

193

Anexo 121 - Todateen, Ed. 177, p.68

194

Anexo 122 - Todateen, Ed. 177, p.69

195

Anexo 123 - Todateen, Ed. 177, p.70

196

Anexo 124 - Todateen, Ed. 177, p.71

197

Anexo 125 - Todateen, Ed. 187, capa

198

Anexo 126 - Todateen, Ed. 187, p. 66

199

Anexo 127 - Todateen, Ed. 187, p. 67

200

Anexo 128 - Todateen, Ed. 187, p. 68

201

Anexo 129 - Todateen, Ed. 187, p. 69

202

Anexo 130 - Todateen, Ed. 193, capa

203

Anexo 131 - Todateen, Ed. 193, p. 34

204

Anexo 132 - Todateen, Ed. 193, p. 35

205

Anexo 133 - Todateen, Ed. 193, p. 36

206

Anexo 134 - Todateen, Ed. 193, p. 37

207

Anexo 135 - Todateen, Ed. 197, capa

208

Anexo 136 - Todateen, Ed. 197, p. 28

209

Anexo 137 - Todateen, Ed. 197, p. 29

210

Anexo 138 - Todateen, Ed. 197, p. 30

211

Anexo 139 - Todateen, Ed. 199, p. 31

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