Os impactos da adoção da Produção mais Limpa como estratégia de gestão ambiental em uma indústria sucroalcooleira

October 13, 2017 | Autor: T. Botelho de Sousa | Categoria: Environmental Management
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XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO

Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012.

OS IMPACTOS DA ADOÇÃO DA PRODUÇÃO MAIS LIMPA COMO ESTRATÉGIA DE GESTÃO AMBIENTAL EM UMA INDÚSTRIA SUCROALCOOLEIRA Thales Botelho de Sousa (UNIVEM) [email protected] Vania Erica Herrera (UNIVEM) [email protected] Douglas Taroco (EESC-USP) [email protected] Carolina Belotti (UFSCAR) [email protected] Rafael Nobuishi Miyabara (UNIVEM) [email protected]

Presente na economia brasileira desde a época da colonização do país pelos portugueses, o setor sucroalcooleiro sempre teve grande importância no agronegócio nacional. Com as crescentes exportações de açúcar, a crescente demanda interna porr combustíveis renováveis e o estímulo à produção de energia elétrica proveniente de fontes renováveis, o setor vem se expandindo continuamente em todo o país. Por ser um grande utilizador de recursos naturais e gerar impactos significativos no meio ambiente, a gestão ambiental é uma área de grande importância nesse setor. O presente trabalho apresenta um estudo de caso realizado em uma indústria sucroalcooleira situada no oeste do estado de São Paulo, e tem por finalidade analisar e apresentar os impactos da adoção da Produção mais Limpa como estratégia de gestão ambiental na indústria, destacando principalmente a relação dos seus níveis estruturais com as medidas mitigadoras dos impactos ambientais. Palavras-chaves: Produção mais Limpa, Indústria Sucroalcooleira, Gestão Ambiental

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1. Introdução As indústrias sucroalcooleiras do Brasil atualmente se encontram em posição de destaque, por exercerem papéis fundamentais na economia, sendo agentes responsáveis pela geração de empregos e renda, bem como, por realizar o fornecimento de produtos e subprodutos considerados essenciais no cotidiano, tais como açúcar, álcool, energia elétrica, dentre outros. O processamento da cana-de-açúcar e a produção de seus subprodutos acarreta diversos impactos no meio ambiente, tais como geração de resíduos sólidos e efluentes líquidos, emissão de substâncias odoríferas e gases poluentes na atmosfera, bem como outros que; se não forem armazenados, tratados, depositados ou reaproveitados de maneira adequada; acarretam sérios prejuízos a curto, médio e longo prazos ao meio ambiente. Aliadas a todos os fatores abordados anteriormente, as indústrias sucroalcooleiras nos últimos anos vêm concentrando enormes esforços para se adequar aos padrões ambientais, pois a legislação ambiental está cada vez mais severa ante a implantação e ampliação de unidades industriais do setor, tendo em vista os significativos impactos ambientais decorrentes de sua atuação. Atualmente, é relevante e crescente, tanto em âmbito nacional quanto internacional, a preocupação com os impactos ambientais decorrentes das atividades industriais, tendo surgido diversas técnicas e estratégias de gestão ambiental, com o objetivo de minimizar estes impactos, dentre as quais podemos citar a Produção mais Limpa, a qual pode ser definida como uma aplicação contínua de uma estratégia ambiental preventiva e integrada nos processos produtivos, nos produtos e nos serviços, para reduzir os riscos relevantes aos seres humanos e ao ambiente natural e que provoca mudanças na produção industrial com a diminuição dos impactos negativos ao meio ambiente, por meio de medidas que têm como prioridade a utilização mínima de insumos e a diminuição de resíduos e emissões durante todo o processo produtivo (CNTL, 2003; PHILIPPI, 2009). Neste contexto, o presente trabalho tem por objetivo verificar e analisar através de um estudo de caso, a aplicação da Produção mais Limpa como estratégia de gestão ambiental de uma indústria sucroalcooleira do interior do estado de São Paulo, demonstrando de forma geral, os principais impactos ambientais gerados nos processos da indústria, as medidas mitigadoras para controlá-los e a correlação destas medidas com os níveis estruturais da Produção mais Limpa. 2. Referencial teórico Neste item do presente trabalho são apresentadas algumas definições básicas acerca dos termos gestão ambiental e Produção mais Limpa, tendo em vista embasar a análise a que os mesmos se propõem e possibilitar uma melhor compreensão do estudo de caso. 2.1 Gestão ambiental Segundo Barbieri (2007), gestão ambiental pode ser definida como as diretrizes e as atividades administrativas e operacionais, tais como, planejamento, direção, controle, alocação de recursos, dentre outras, realizadas com o objetivo de obter efeitos positivos sobre

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o meio ambiente, com o propósito de reduzir, eliminar ou evitar os danos causados pelas ações humanas no mesmo. Já Bursztyn e Bursztyn (2006) definem gestão ambiental como um conjunto de ações que envolvem políticas públicas, o setor produtivo e a comunidade, tendo em vista o uso sustentável e racional dos recursos naturais. Essas ações podem ser de caráter político, executivo, econômico, de ciência, de tecnologia e inovação, de formação de recursos humanos, de informação e de articulação entre diferentes atores e níveis de atuação. A gestão ambiental diz respeito ao conjunto de políticas e práticas administrativas e operacionais que levam em conta a saúde e a segurança das pessoas e a proteção do meio ambiente por meio da eliminação ou mitigação de impactos e danos ambientais decorrentes do planejamento, implantação, operação, ampliação, realocação ou desativação de empreendimentos ou atividades, incluindo-se todas as fases do ciclo de vida do produto (ROHRICH e CUNHA, 2004). A gestão ambiental é um processo adaptativo e contínuo, por meio do qual as organizações definem seus objetivos e metas relacionados ao meio ambiente, à saúde de seus empregados, clientes e comunidade, e selecionam estratégias para atingir esses objetivos em um determinado tempo, através de constante avaliação de sua interação com o ambiente externo (SEIFFERT, 2007 apud ANDRADE, TAKESHY e CARVALHO, 2000). A gestão ambiental requer, como premissa fundamental, um comprometimento da alta administração da organização em definir uma política ambiental clara e objetiva, que norteie as atividades da organização com relação ao meio ambiente e seja apropriada à finalidade, escala e impactos ambientais de suas atividades, produtos ou serviços (VALLE, 2004). Para Barbieri (2007), a expressão gestão ambiental aplica-se a uma grande variedade de iniciativas relativas a qualquer tipo de problema ambiental. Para o mesmo autor (2007), qualquer proposta de gestão ambiental inclui no mínimo três dimensões, a saber: 1) a dimensão espacial que concerne à área na qual espera-se que as ações de gestão tenham eficácia; 2) a dimensão temática que delimita as questões ambientais às quais as ações se destinam; 3) a dimensão institucional relativa aos agentes que tomaram as iniciativas de gestão. Segundo Ferreira (2003), a finalidade principal da gestão ambiental é proporcionar benefícios à empresa, visando à superação, anulação ou redução dos custos das degradações provocados pelas atividades da empresa, principalmente as da área produtiva. 2.2 Produção mais Limpa Segundo Barbieri (2007), Produção mais Limpa (Cleaner Production) é uma estratégia ambiental preventiva aplicada a processos, produtos e serviços, que visa minimizar os impactos sobre o meio ambiente e que vem sendo desenvolvida desde a década de 1980 pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e pela Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (Onudi), fazendo parte dos esforços para instrumentalizar os conceitos e objetivos do desenvolvimento sustentável. Produção mais Limpa foi definida, em um seminário realizado pelo PNUMA em 1990, como uma abordagem de proteção ambiental ampla que considera todas as fases do processo

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de manufatura ou ciclo de vida do produto, tendo como objetivo prevenir e minimizar os riscos para os seres humanos e o meio ambiente a curto e longo prazos. Essa abordagem requer ações para minimizar o consumo de energia e matéria-prima, e a geração de resíduos e emissões. A Produção mais Limpa envolve produtos e processos e estabelece uma hierarquia de prioridades de acordo com a seguinte sequência: prevenção, redução, reuso e reciclagem, tratamento com recuperação de materiais e energia, tratamento e disposição final (BARBIERI, 2007). A decisão de se adotar um programa de Produção mais Limpa depende diretamente da relação custo-benefício que o investimento terá. Quando há investimentos em Produção mais Limpa, verifica-se que os custos decrescem significativamente com o tempo, resultado dos benefícios gerados a partir do aumento da eficiência dos processos, do uso eficiente de matérias-primas, água e energia, e da redução de resíduos e emissões gerados (CNTL, 2003). A Figura 1 ilustra os níveis de intervenção da Produção mais Limpa, baseada em um estudo elaborado pela CNTL (2003), o qual traz um delineamento e fluxo sequencial de trabalhos a serem realizados para a implementação do programa.

Produção mais limpa

Minimização de resíduos e emissões

Nível 1

Nível 2

Redução na fonte

Modificação no produto

Housekeeping

Reutilização de resíduos e emissões

Reciclagem interna

Modificação no processo

Substituição de materiais

Nível 3

Reciclagem externa

Estruturas

Ciclos biogênicos

Materiais

Mudanças na tecnologia

Figura 1 - Produção mais Limpa - Níveis de intervenção Fonte: CNTL, 2003

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Fazendo uma análise da Figura 1, é possível classificar os níveis de intervenção da Produção mais Limpa com base em seus objetivos, o que pode ser visualizado na Figura 2:

Figura 2: Níveis de intervenção da Produção mais Limpa e seus objetivos Fonte: Domingues, 2007

Segundo Silva e De Medeiros (2006), a Produção mais Limpa pode ser implantada em qualquer setor de atividade e constitui-se de análises técnica, econômica e ambiental detalhadas do processo produtivo, tendo como objetivo identificar as oportunidades que possibilitem a melhoria da eficiência, sem acréscimo de custos para a empresa. Para De Medeiros et al. (2007), a Produção mais Limpa, como um instrumento que visa a melhoria da atuação ambiental das organizações, também pode proporcionar redução de custos de produção e aumento de eficiência e competitividade; redução de multas e penalidades por poluição; acesso facilitado a linhas de financiamento; melhoria das condições de saúde e segurança do trabalhador; melhoria da imagem da empresa junto a consumidores, fornecedores e poder público; melhor relacionamento com os órgãos ambientais e com a comunidade; e maior satisfação dos clientes. Na Figura 3, tem-se um levantamento dos principais benefícios da implantação da Produção mais Limpa nas empresas.

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Figura 3 - Resultados tangíveis e intangíveis da implantação da Produção mais Limpa Fonte: Lemos (1998)

3. Metodologia O presente trabalho pode ser classificado quanto aos seus objetivos como uma pesquisa exploratória. A pesquisa exploratória foi escolhida tendo em vista que a mesma tem como objetivo proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo mais explícito ou a constituir hipóteses, e o seu planejamento é bastante flexível, de modo que possibilita a consideração dos mais variados aspectos relativos ao fato estudado. (GIL, 2002). Na maioria dos casos, essas pesquisas envolvem o levantamento bibliográfico, entrevistas com pessoas que tiveram experiências práticas com o problema pesquisado e análise de exemplos que estimulem a compreensão. Para a realização da pesquisa exploratória é necessário desencadear um processo de investigação que identifique a natureza do fenômeno e aponte as características essenciais das variáveis que se quer estudar (GIL, 2002; KÖCHE, 2009). Com relação aos procedimentos técnicos utilizados para a realização do presente trabalho, o mesmo foi concebido através de um estudo de caso. Para Gil (2002), o estudo de caso consiste no estudo detalhado e exaustivo de um ou poucos objetos, de maneira que permita seu amplo e minucioso conhecimento. Furasté (2008) afirma que para o desenvolvimento do estudo de caso é feito um estudo exaustivo de algum caso em particular, de pessoa ou de instituição, visando analisar suas circunstâncias envolventes. Para a elaboração do estudo de caso, foram feitas pesquisas sobre os principais aspectos e impactos ambientais do setor sucroalcooleiro, elaborados questionários que foram enviados aos responsáveis pela área ambiental e feitas visitas técnicas na indústria objeto de

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estudo. O estudo de caso ocorreu em uma indústria sucroalcooleira situada no interior do Estado de São Paulo, a qual solicitou sigilo quanto à sua identificação. Portanto, durante o decorrer do trabalho, a mesma será citada como Indústria X. Atualmente, a Indústria X produz açúcar, álcool e energia elétrica proveniente da queima do bagaço de cana-de-açúcar. É importante ressaltar que parte da cana é de sua propriedade e parte é proveniente de fornecedores. 4. Perfil do setor canavieiro brasileiro O cultivo da cana-de-açúcar no Brasil começou no início da colonização do país pelos portugueses, em 1533. Na época da colonização a cana era utilizada exclusivamente para a produção de açúcar, o qual era exportado para a Europa pelos portugueses, sendo uma atividade bastante rentável, pois na época o açúcar tinha um valor tão alto quanto o ouro (FURTADO, 2007). Até o século XX, a cana-de-açúcar era utilizada exclusivamente para a produção de açúcar nas indústrias sucroalcooleiras nacionais. Porém, ao final do referido século, com a crise dos combustíveis fósseis, foi desenvolvida a tecnologia de produção de álcool combustível ou etanol, e do final do século XX até os dias atuais, algumas indústrias sucroalcooleiras passaram a produzir energia elétrica, proveniente da queima do bagaço da cana-de-açúcar (UNICA, 2009). Bragato et al. (2008) destacam que o setor sucroalcooleiro no Brasil é considerado evidente propulsor de desenvolvimento, com expressiva dimensão social e base de sustentação econômica do país. De acordo com dados do MAPA (2011), na safra de 2009/2010, foram produzidas 602.254.167 toneladas de cana-de-açúcar no Brasil, 25.714.732.000 litros de álcool etílico e 33.068.261 toneladas de açúcar. No ano de 2011, o valor das exportações de açúcar e álcool etílico chegou a 16.432.000.000 de dólares, representando 6,4% do valor das exportações brasileiras no ano MDIC (2011). 5. Principais impactos ambientais da indústria X De acordo com a Resolução CONAMA nº 01/1986, impacto ambiental é definido como qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas que, direta ou indiretamente, afetem a saúde, a segurança e o bem estar da população, as atividades sociais e econômicas, a biota, as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente e a qualidade dos recursos ambientais. De acordo com a ISO 14001 (ABNT, 2004), impacto ambiental pode ser definido como qualquer modificação do meio ambiente, adversa ou benéfica, que resulte, total ou parcialmente das atividades, produtos ou serviços de uma organização. Com base nas respostas dos questionários aplicados e observações feitas nas visitas técnicas, os principais impactos ambientais da Indústria X apontados são listados a seguir: 1) contaminação do solo pela má disposição dos resíduos sólidos: de acordo com as informações prestadas pelos colaboradores, os resíduos sólidos gerados pela indústria X são proporcionais à quantidade de matéria-prima (cana-de-açúcar) processada, ou seja, quanto

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mais produtiva for a safra, maior a quantidade de resíduos sólidos gerada nas atividades industriais. As principais fontes deste impacto são os resíduos gerados no escritório, refeitório, oficina, laboratório, áreas industriais, áreas de estocagem de matérias-primas e produtos; bagaço de cana; torta de filtro; esgoto sanitário; sucatas ferrosas e não-ferrosas; embalagens vazias de agrotóxicos e produtos químicos tais como graxas, óleos, lubrificantes, dentre outros; e cinzas provenientes da caldeira. 2) contaminação das águas superficiais e subterrâneas: as principais fontes causadoras desse impacto são as águas provenientes da lavagem dos gases da caldeira, a vinhaça e os esgotos sanitários. 3) poluição atmosférica: os principais poluentes do ar atmosférico são os materiais particulados provenientes dos processos industriais (queima do bagaço de cana para geração de energia elétrica) e das atividades agrícolas (queima de palha de cana nos canaviais); emissão de substâncias odoríferas provenientes do processamento industrial e do armazenamento de vinhaça em tanques; e emissão de gases poluentes emitidos pelos veículos movidos a combustíveis derivados de petróleo. 4) emissão de ruídos e vibrações: as principais fontes são os equipamentos utilizados no processamento industrial que emitem ruídos e vibrações, e o trânsito de máquinas e implementos agrícolas que são usadas nas áreas agrícolas para o transporte de cana e insumos. 5) efeitos sobre o sistema viário: os principais impactos desse tipo são a emissão de poeira e ruído, riscos de atropelamento da fauna, e espalhamento de cana nas estradas e rodovias durante o transporte da mesma da lavoura até a usina. 6) armazenamento do álcool: o álcool armazenado nas indústrias pode provocar sérios impactos ao meio ambiente e à segurança dos trabalhadores e das instalações industriais, tais como contaminação das águas e do solo, risco de explosões dos tanques com conseqüentes incêndios nas instalações. 6. Principais medidas mitigadoras dos impactos ambientais A Indústria X procura sempre manter-se adequada dentro dos padrões ambientais, para dentre outros aspectos: atender as exigências da legislação ambiental e dos órgãos governamentais, atender às exigências do mercado consumidor, e evitar possíveis custos com a remediação dos passivos ambientais que o desenvolvimento de suas atividades podem gerar, e as autuações dos órgãos governamentais. As principias medidas para minimização ou eliminação dos impactos ambientais da Indústria X, bem como o nível de intervenção da Produção mais Limpa associado podem ser visualizados na Tabela 1:

Principais impactos ambientais

Origem

Medida mitigadora

Nível da Produção mais Limpa associado à mitigação

Resíduos gerados no escritório, refeitório, oficina, laboratório, áreas industriais, áreas de estocagem de matérias-

Escritório, refeitório, laboratório diversas produtivas

Acondicionamento em tambores e em locais fechados, para posterior envio para aterros sanitários devidamente licenciados

Nível 3 (depósito e destinação dos resíduos em local apropriado)

e áreas

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primas e produtos Bagaço de cana

Produção de açúcar e álcool

Torta de filtro

Produção de açúcar e álcool

Esgotos sanitários

Banheiros refeitório

Sucatas ferrosas e nãoferrosas

Toda a indústria em geral

Embalagens vazias de agrotóxicos e produtos químicos tais como graxas, óleos, lubrificantes, dentre outros. Cinzas provenientes da queima de bagaço de cana na caldeira Águas provenientes da lavagem dos gases da caldeira

e

Processamento industrial e abastecimento dos veículos Geração de energia elétrica Geração de energia elétrica

Vinhaça

Produção álcool

de

Materiais particulados provenientes da queima do bagaço de cana

Geração de energia elétrica

Materiais particulados provenientes da queima de cana-de-açúcar na lavoura

Queima da canade-açúcar para colheita

Emissão de substâncias odoríferas em geral

Processos industriais e armazenamento e

pela CETESB. Utilização como combustível na caldeira para geração de energia elétrica. Utilização como fertilizante na lavoura de cana. Tratamento atendendo aos padrões estabelecidos no Decreto Estadual nº 8468/1976 e Resolução CONAMA nº 357/2005, com posterior lançamento nas águas superficiais. Venda e/ou doação a sucateiros intermediários que efetuem destinação final adequada. Acondicionamento em tambores e posterior envio para unidades reprocessadoras ou de recebimento de embalagens vazias de agrotóxicos. Utilização como fertilizante na lavoura. Tratamento, com posterior reutilização no processo de lavagem de cana. Armazenamento em tanques impermeabilizados para posterior utilização no processo de ferti-irrigação da lavoura, por ser um composto rico em nutrientes. Porém, é importante ressaltar que para aplicação na lavoura, a indústria faz análises periódicas, visando atender o disposto na Norma Técnica CETESB P 4231/2006. Implantação de lavadores de gases nas chaminés das caldeiras, visando recuperar esses materiais. A indústria vem diminuindo gradativamente esse impacto, com a aquisição de implementos agrícolas para colheita mecanizada da cana. Pelo fato de a indústria estar localizada em área rural, esse impacto não gera a

Nível 2 (reintegração dos resíduos no processo produtivo) Nível 2 (reintegração dos resíduos no processo produtivo)

Nível 3 (depósito e destinação dos resíduos em local apropriado)

Nível 3 (depósito e destinação dos resíduos em local apropriado)

Nível 3 (depósito e destinação dos resíduos em local apropriado) Nível 2 (reintegração dos resíduos no processo produtivo) Nível 2 (reintegração dos resíduos no processo produtivo)

Nível 2 (reintegração dos resíduos no processo produtivo)

Nível 1 (evitar geração de resíduos e emissões)

Nível 1 (evitar geração de resíduos e emissões)

Nível 1 (evitar geração de resíduos e emissões)

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Emissão de gases poluentes emitidos pelos veículos da indústria

disposição de vinhaça e torta de filtro Veículos transportadores de cana

necessidade mitigadoras.

de

medidas

A indústria faz Nível 1 (evitar geração de periodicamente a revisão de resíduos e emissões) seus veículos. Isolamento acústico dos Veículos e Nível 1 (evitar geração de Ruídos e vibrações equipamentos que emitem equipamentos resíduos e emissões) tais impactos. Parceria com as Prefeituras Tráfego de dos municípios de Efeitos sobre o sistema veículos no abrangência da indústria viário transporte da cana para manutenção do sistema viário Utilização de bacias de Estocagem do contenção nos tanques que Armazenamento do álcool álcool armazenam o álcool produzido. Tabela 1 - Principais impactos da indústria, medidas mitigadoras de seus efeitos e nível de intervenção da Produção mais Limpa associado à mitigação Fonte: Elaboração dos autores, com base nos dados da pesquisa

7. Considerações finais Através do presente trabalho pôde-se conhecer melhor a estrutura da aplicação da Produção mais Limpa, bem como compreender sua importância no ambiente produtivo da Indústria X, como uma eficiente estratégia de gestão ambiental. Resultados extremamente positivos foram obtidos pela empresa com a adoção da Produção mais Limpa, os quais podem ser visualizados na Tabela 2.

Ações de Produção mais Limpa Acondicionamento dos resíduos sólidos em locais apropriados Utilização do bagaço de cana como combustível Utilização da torta de filtro como fertilizante Utilização da vinhaça no processo de fertirrigação Tratamento dos esgotos sanitários Venda de sucatas ferrosas e nãoferrosas Destinação adequada de embalagens vazias de agrotóxicos e produtos químicos Utilização das cinzas da caldeira como fertilizante Tratamento e recirculação das águas de lavagem de gases e utilização de no máximo 1 m³ de água por tonelada de cana moída Implantação de lavadores de gases

Dimensão do desenvolvimento sustentável

Benefícios Senso de organização na empresa

Política

Geração de energia elétrica

Econômica e ecológica

Reaproveitamento na lavoura

Econômica e ecológica

Reaproveitamento na lavoura

Econômica, ecológica e territorial

Adequação à legislação ambiental Destinação final adequada e ganhos financeiros

Ecológica, social e territorial

Destinação final adequada

Ecológica

Reaproveitamento na lavoura

Ecológica

Economia de água

Econômica e ecológica

Atendimento

às

exigências

Econômica e ecológica

Ecológica,

social,

política

e

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nas chaminés

ambientais territorial Atendimento às exigências Eliminação da queima de cana-deEcológica, social, política e ambientais, melhoria na qualidade açúcar territorial de vida da população Tabela 2 - Ações de Produção mais Limpa, benefícios e dimensão do desenvolvimento sustentável associado Fonte: elaborado pelos autores, a partir dos dados do estudo de caso

Durante o desenvolvimento do trabalho foi possível verificar a relação que a Produção mais Limpa tem com a eficiência dos processos industriais, gestão equilibrada do uso dos recursos naturais, gerenciamento eficaz dos impactos ambientais gerados no processamento industrial, substituição de materiais perigosos, bem como com o atendimento eficiente das rigorosas exigências ambientais impostas a uma indústria sucroalcooleira. Referências ANDRADE, R. O. B.; TACHIZAWA, T.; CARVALHO, A. B. Gestão ambiental: enfoque estratégico aplicado ao desenvolvimento sustentável. São Paulo: Makron Books, 2000. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR ISO 14001: Sistemas da gestão ambiental requisitos com orientações para uso. Rio de Janeiro: ABNT, 2004. BARBIERI, J. C. Gestão ambiental empresarial: conceitos, modelos e instrumentos. 2ª ed. atual e ampl. São Paulo: Saraiva, 2007. BRAGATO, I. R. et al. Produção de açúcar e álcool vs. responsabilidade social corporativa: as ações desenvolvidas pelas usinas de cana-de-açúcar frente às externalidades negativas. Gestão & Produção, São Carlos, v. 15, n. 1, p. 89-100, 2008. BRASIL/CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE (CONAMA). Resolução CONAMA nº 01, de 23 de janeiro de 1986. Dispõe sobre procedimentos relativos a Estudo de Impacto Ambiental. Diário Oficial da União, Brasília, 17 fev. 1986. Disponível em: . Acesso em: 07 mar. 2012. BURSZTYN, M. A. A.; BURSZTYN, M. Gestão ambiental no Brasil: arcabouço institucional e instrumentos. In: NASCIMENTO, E. P. do; VIANA, J. N. S. (Org.). Economia, meio ambiente e comunicação. Rio de Janeiro: Garamond, 2006. CENTRO NACIONAL DE TECNOLOGIAS LIMPAS - CNTL. Implementação de programas de Produção mais Limpa. Porto Alegre, 2003. Disponível em: . Acesso em: 03 mar. 2012. DE MEDEIROS, D. D. et al. Aplicação da Produção mais Limpa em uma empresa como ferramenta de melhoria contínua. Produção. São Paulo, v. 17, n. 1, p. 109-128, 2007. DOMINGUES, R. M. Produção mais Limpa em Sistemas Locais de Produção. 2007. 109 f. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente). Centro Universitário de Araraquara, Araraquara, SP, 2007. FERREIRA, A. C. de S. Contabilidade ambiental: uma informação para o desenvolvimento sustentável. São Paulo: Atlas, 2003. FURASTÉ, P. A. Normas técnicas para o trabalho científico: elaboração e formatação - com explicitação das normas da ABNT. 14ª ed. amp. e reform. Porto Alegre: Dáctilo-Plus, 2008. FURTADO, C. Formação Econômica do Brasil. 34ª edição. São Paulo: Companhia das Letras, 2007. GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4ª ed. São Paulo: Atlas, 2002. KÖCHE, J. C. Fundamentos de metodologia científica: teoria da ciência e iniciação à pesquisa. 28ª ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2009.

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