OS JOVENS E O VOTO: DESPOLITIZAÇÃO OU PARTICIPAÇÃO EM NOVOS MOLDES

June 1, 2017 | Autor: A. Pires Junior | Categoria: Voting Behavior, Voting, Young People Voting
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CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES Niterói RJ: ANINTER-SH/ PPGSD-UFF, 03 a 06 de Setembro de 2012, ISSN 2316-266X

OS JOVENS E O VOTO: DESPOLITIZAÇÃO OU PARTICIPAÇÃO EM NOVOS MOLDES? Arnaldo Lucas Pires Junior1 Caroline Trapp de Queiroz2 RESUMO O presente artigo tem por objetivo apresentar os resultados de uma pesquisa que buscou verificar se o afastamento dos jovens do processo eleitoral, no contexto do voto, configura a despolitização dessa nova geração ou uma nova forma de participação política. Além do debate sobre a concepção do voto, nossa pesquisa girou em torno da problematização dos motivos pelos quais a participação política destes jovens é vista como despolitização – principalmente pelas outras gerações, como por exemplo, a que viveu sua juventude na década de 1980, período que abrange o processo de redemocratização brasileira. A compreensão das formas alternativas de sua participação também foi cerne de nossa análise. Palavras-chave: voto; politização; participação. ABSTRACT This paper aims to present the results of one research which that sought verify if the removal of young people in the electoral process, in the context of voting, characterizes the depoliticization of this new generation or another way of political participation. Beyond the debate about the design of voting, our research worked around the questioning of why the political participation of young people nowadays is seen as depoliticization – mainly by other generations, for example, that one who lived our youth in the 80`s decade, period that covers the process of democratization in Brazil. The understanding of this alternative kinds of participations also was the core of our analysis. Keywords: vote; politicization; participation.

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Licenciado e bacharel em História pela Universidade Gama Filho (UGF-RJ). Pós-graduando em Ensino de História e Ciências Sociais pela Universidade Federal Fluminense (UFF)[email protected] 2 Licenciada e bacharel em História pela Universidade Gama Filho (UGF-RJ). Graduanda em Pedagogia e pósgraduanda em Dificuldades de Aprendizagem, ambas pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)[email protected]

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INTRODUÇÃO O presente artigo tem por objetivo apresentar os resultados de uma pesquisa que buscou verificar se o afastamento dos jovens do processo eleitoral, no contexto do voto, configura uma despolitização dessa nova geração ou uma nova forma de participação política. Além do debate sobre a concepção do voto, nossa pesquisa girou em torno da problematização dos motivos pelos quais a participação política destes jovens é vista como despolitização – principalmente pelas outras gerações, como por exemplo, a que viveu sua juventude na década de 1980, período que abrange o processo de redemocratização brasileira – e da compreensão das formas alternativas de sua participação. Nossa pesquisa se encaminhou através do mapeamento das principais mobilizações engendradas por meio virtual, mais especificamente pela rede social Facebook. Sabe-se que muitos empecilhos podem ser colocados a uma pesquisa que tenha como fonte de informaçõesuma rede de relacionamentos virtual, entretanto, devemos destacar que: O "campo virtual" é composto, além dos sites especializados, acadêmicos ou paralelos, por milhões de páginas criadas por grupos de interesse e de identidade, que se apresentam e se comunicam globalmente através da Net. Grupos religiosos (budistas, evangélicos, católicos, islamitas, afro-brasileiros, afro-cubanos, protestantes históricos e outros), por exemplo, têm seus sites na Internet e dialogam com seus fiéis e outros, mundialmente, através da rede, que se tornou, deste modo, um novo campo e novo meio de proselitismo, atestando a modernidade sendo absorvida até mesmo pelas religiões mais tradicionais. Esportistas, artistas, gays, lésbicas e bissexuais, deficientes, negros, mulheres, capoeiristas, punks, darks, skinheads, neonazistas, torcidas de futebol, sambistas, roqueiros, góticos, adolescentes, naturalistas e nudistas, idosos, pacifistas, comunistas, necrófilos, pedófilos, sadomasoquistas, índios americanos, rastafaris, motoqueiros, corredores, e toda a infinidade de categorias que se possa imaginar são encontráveis na Net. (AMARAL, s/d).

Nesse sentido, acreditamos ser legítima a pesquisa que busque no meio virtual os dados com os quais se construirá a argumentação não só por se constituir um campo eminentemente “grupacional”, mas principalmente por se tratar de um espaço no qual julgamos haver menos “filtros” no que se refere à sua expressão. Isso porque: As comunidades virtuais são feitas de pessoas e do que elas realmente querem, daquilo que realmente lhes interessa, sem constrangimentos prévios ou póstumos [...]. As novas tecnologias dão a cada um de nós um poder sem precedentes de construir o nosso próprio mundo de referência, de encontrar as pessoas que realmente nos interessam, estejam onde estiverem, de aprender e ensinar sobre aquilo que realmente queremos que faça parte da nossa vida (SOARES,1999, p.75).

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Para nós, a internet é um espaço (virtual) para o qual os símbolos e as relações do espaço físico e social são transferidos. Assim, “tal como os lugares antropológicos são produtores de social orgânico, os não-lugares criam uma contratualidade solitária” (AUGÉ,1994, p. 99). A internet é, portanto, um novo espaço antropológico, pois compreendemos que ela constitui “um sistema de proximidade (espaço) próprio do mundo humano (antropológico) e, portanto, dependente das técnicas, dos significados, da linguagem, da cultura, das convenções, das representações e das emoções humanas.” (LÉVY, 1997, p. 28). Endossamos, neste sentido,que as modificações advindas da revolução tecnológica que ocasionou o boomda “virtualidade” provocaram toda uma reorganização sociocultural de modo que assistimos, hoje,“a um dos raros momentos em que, a partir de uma nova configuração técnica, isto é, de um novo relacionamento com o cosmos, inventa-seum estilo de humanidade.” (AUTHIER e LÉVY,1998, p. 129). Ora, tal constatação corrobora nossa justificativa. Ademais, tratando-se dos jovens, deve-se atentar ao fato de que a maioria mantém, no mundo virtual, grande parte de suas relações e expressões. Entretanto, devemos ressaltar que nossa pesquisa segue critérios científicos para análise do material coletado no Facebook.Assim, através do mapeamento das principais mobilizações engendradas pelo Facebook, coletamos fontes de análise por meio da observação estruturada, porém não participante (ANDER-EGG, 1978, p.96),de páginas, grupos, comunidades, publicações e comentários da rede social que tiveram seu discurso interno examinado, seja em forma de texto ou imagem. Foram aplicados, ainda, métodos voltados ao “estudo dos sinais” do processo de significação e representação cultural, ou seja, semiótica (SANTAELLA, 1983, p.7), o que nos levou a aproximação não integral com a chamada “Teoria do Discurso estético”, ou seja, do discurso por imagens, e da percepção de determinados valores ideológicos através de traços específicos na análise de determinados condicionantes visuais.

JUVENTUDE E POLÍTICA Tendo em vista o exposto, cabe-nos agora o exame das fontes coletadas na rede social Facebook. A princípio, devemos nos ater ao modo como o voto é concebido pela nova geração: 3

Imagem 1 - Fonte: .

A

página

Occupy

Brazil(Occypy

Brazil.

Facebook.

Disponível

em:

http://www.facebook.com/OccupyBrazil/info. Acesso em: 27 jun. 2012), criada a fim de “informar, divulgar e mostrar suporte ao ocupantes da Wall St e aos Protestos Contra a Corrupcao em todo o Brasil e contra um inimigo em comum: a corrupcao gerada por um sistema falho”conta com 12.789 “curtidas”e na imagem acima traz uma mensagem que julgamos apropriada para o início de nossa análise. Podemos perceber que o voto já começa a ser desmistificado. Primeiramente, é interessante observarmos a crítica a uma falsa democracia, já que essencialmente, o voto deveria ser facultativo, passível, portanto, do livre arbítrio do eleitor.Mais interessante ainda são os comentários que se seguem à postagem:

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Imagem 2 - Fonte: .

Os comentários nos trazem meios alternativos de participação política. Enquanto o primeiro comentarista afirma que a participação política se inicia através do voto, o segundo o afirma como meio, mas destaca a questão da obrigatoriedade, deixando nas entrelinhas a ideia de que sua legitimidade é prejudicada por isso. O terceiro comentarista, por sua vez, sugere uma forma de participaçãoinusitada ao propor que os eleitores justifiquem seu voto argumentando corrupção, descrença e “falência do estado de direito”. Segundo ele, o impacto de tal ação seria superior ao de votos nulos, outro recurso bastante difundido entre os jovens. Embora não seja visto como expoente de mudanças concretas, o voto, mais nos comentários do que na imagem acima, ainda é considerado como um meio capaz de iniciar determinadas modificações e abalar a confiança dos governantes. Na imagem a seguir, o caso se inverte. O voto é contestado na imagem, como também acontece acima, sendo seguido de comentários que corroboram sua ineficácia:

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Imagem 3 - Fonte: .

A comunidade Anonymous Rio,curtida por 7.271 pessoas, cuja filosofia é “Unidos como

UM,

divididos

por

ZERO!”(Anonymous

Rio.

Facebook.

Disponível

em:

http://www.facebook.com/anonymousrio/info?ref=ts. Acesso em: 27 jun. 2012) apresenta nesta postagem o retrato do voto como mecanismo de alienação. A descrição da imagem, ao afirmar que o voto é usado contra nós deixa clara a sensação de que trata-se de disputa que gira em seu torno. E aqui, novamente a questão da falência do Estado nos dizeres “democracia real JÁ!”, aferindo sua gestão ao povo.Uma terceira imagem ilustra novas formas de resistência, como o pagamento da multa e o voto nulo:

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Imagem 4 - Fonte: .

É interessante percebermos que as postagens trazem discursos que se referem à corrupção. Em dois comentários correspondentes à primeira imagem, temos a menção à “fraude” que constitui o voto e à corrupçãoque acarreta falência do estado de direito, e no terceiro comentário da segunda imagem aparece a frase “sistema corrupto e manipulador”. Tendo em vista este panorama inicial, podemos arriscar uma hipótese sobre o desprestígio do voto para os jovens. Ao eleger-se a corrupção como o principal problema do país, imagina-se que o caminho é a retirada dos políticos de seus cargos e não a eleição de novos representantes. Mais do que escolher bons representantes, deve-se expurgar os ruins do governo. Essa impossibilidade de crer em bons políticos aliada aos escândalos cada vez mais recorrentes envolvendo parlamentares faz com que o voto perca sua importância. Como resultado disso temos que, no lugar do voto, surgem novos espaços e formas de reivindicação, mobilização, engajamento e participação políticos. Nos últimos dois anos, segundo nosso mapeamento, o Facebookrecheou-se de convocações para eventos, protestos e passeatas que visavam trazer o povo às ruas.Um dos eventos mais divulgados foi o Occupy Rio, segundo os organizadores, um movimento que visava alertar para os modos de vida através de um acampamento de ocupação na Cinelândia, coração do Rio de Janeiro:

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Imagem 5 - Fonte: .

Imagem 6 - Fonte: .

Outro movimento, o Dia do Basta à Corrupção, foi amplamente divulgado pela comunidade Quero o Fim da Corrupção(Quero o Fim da Corrupção. Facebook. Disponível em: http://www.facebook.com/queroofimdacorrupcao. Acesso em: 27 jun. 2012),que conta com 108.153 “curtidas” e tem como objetivo “mostrar que todo cidadão pode e deve participar da política”, e conseguiu levar às ruas das principais capitais do país milhares de pessoas que proclamavam em uma só voz: Queremos o fim da corrupção!

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Imagem 7 - Fonte: .

Imagem 8 - Fonte: .

Mobilização em âmbito nacional, o Dia do Basta foi um sucesso em todo o país, ganhando repercussão e destaque na imprensa. E seu inicio se deu pelo Facebook, pela livre iniciativa de uns e o comprometimento e participação de outros. A próxima imagem traz, por sua vez, um fator novo à nossa análise: a aliança entre as redes sociais em prol das mobilizações. Pelo Facebook é organizado um movimento chamado de “twittaço”, ou seja, lançar, em determinado horário, a hashtag(palavra-chave precedida do símbolo # que designa o assunto o qual está se discutindo em tempo real no Twitter, outra rede de relacionamentos semelhante ao Facebook) “#codigoflorestalreferendoja”. O resultado quando tal movimento

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ocorre é o destaque internacional dos assuntos mais comentados pelo Twitter dando visibilidade, neste caso, à resistência quanto ao Novo Código Florestal Brasileiro:

Imagem 9 - Fonte: .

Divulgado pela comunidade MJ – Mudança Já(Mudança Já. Facebook. Disponível em: http://www.facebook.com/mudancaja. Acesso em: 27 jun. 2012), que soma um total de 1.008 “curtidas” e tem como bandeira ser um “MOVIMENTO APARTIDÁRIO por uma gestão pública decente, educação e cidadania”, o “twittaço” não alcançou a visibilidade esperada, mas serviu para dar destaque a mais uma ferramenta de resistência e atuação políticas. Diferente do movimento referido, a imagem a seguir nos chama atenção à formação de uma concepção errônea, para dizer o mínimo:

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Imagem 10 - Fonte: .

A oposição entre direita e esquerda nos parece evidente num período em que verificamos a ausência de partidos oposicionistas quanto à posicionamento político em nosso país. O antagonismo que nos salta aos olhos é entre o poder e o povo. Julgamos forte esta imagem exatamente por retratar de forma ácida a alienação a que fomos submetidos ao sairmos do lugar de povo ativo e adentrarmos calmamente à uma sensação de passividade cuja reversão soa distante. Ora, viemos demonstrando até então que a juventude procura novos meios de inserção e participação nos caminhos da política brasileira. Ao analisarmos a imagem acima, o pessimismo que permeia grande parte da população se faz evidentemente justificável devido ao fato de separarem em dois opostos, poder de povo. O regime democrático por excelência diz que o poder emana do povo. Teríamos, portanto, encontrado a raiz de nossa eficácia política? Se quisermos aprofundar nossa análise, podemos recorrer ao contexto da pós-modernidade, no qual vivemos. A ascensão do paradigma pós-moderno marca o ponto de partida das demandas formuladas por muitos grupos distintos. Grandes movimentos sociais se afirmam nesse período, marcando a formação de identidades próprias a cada coletividade. De maneira geral, a década de 1960 é indicada como o momento no qual surge a pós-modernidade. Os debates que permeiam a temática dizem respeito à sua relação com o capitalismo e à naturalização de algumas de suas feições. Duas posições ante esse “novo tempo” são relevantes no contexto de tal debate, a que 11

o vê como uma adaptação às novas realidades da segunda metade do século XX e a que critica a ideia de “novo”, pois vê a pós-modernidade como uma tentativa de justificar a nova fase do capitalismo a partir das ideias de antigos pensadores. Devemos ter em mente que o capitalismo ocidental sofreu um revés com a demolição das teorias que fundamentavam a ideia de progresso liberal. Deparando-se com as duas Grandes Guerras Mundiais, as crises econômicas, os regimes totalitários, as críticas tecidas por Gramsci e Althusser, os movimentos sociais, etc., o capitalismo teve de se reafirmar recorrendo, para isso, às forças de mercado. A escolha do consumidor trouxe consigo um relativismo que influenciou inclusive a ética e a moral da sociedade. Desta forma, “nenhum absoluto moral transcende o cotidiano” (JENKINS, 2004, p. 97). Como consequência imediata desta mudança do sistema capitalista quando da ascensão do paradigma pósmoderno temos, segundo Hall (1998, p. 67): Um complexo de processos e forças de mudança, que, por conveniência, pode ser sintetizado sob o termo “globalização”. (...) a “globalização” se refere àqueles processos, atuantes numa escala global, que atravessam fronteiras nacionais, integrando e conectando comunidades e organizações em novas combinações de espaço-tempo, tornando o mundo, em realidade e em experiência, mais interconectado. (...) Essas novas características temporais e espaciais, que resultam na compreensão de distâncias e de escalas temporais, estão entre os aspectos mais importantes da globalização a ter efeito sobre as identidades culturais.

Não nos referimos aqui a uma globalização que pressuponha uma sistematização do mundo de forma igualitária. A globalização não significa que todos têm o mesmo alcance ou as mesmas possibilidades em relação às condições de vida. As disparidades sociais continuam a existir. A globalização aparece aqui como um termo que designa a extensão alcançada pelo capitalismo a partir da década de 1950. Entretanto, Wallerstein afirma que esta globalização não é algo recente, pois o capitalismo “foi, desde o início, um elemento de economia mundial e não dos estados-nação. O capital nunca permitiu que suas aspirações fossem determinadas por fronteiras nacionais” (WALLERSTEIN, 1979, p. 19). Contudo, não se pode negar que na segunda metade do século XX, “tanto o alcance quanto o ritmo da integração global aumentaram enormemente, acelerando os fluxos e os laços entre as nações” (HALL, 1998, p. 69), e também entre as sociedades. Um exemplo que pode nos ajudar a compreender este novo “capitalismo globalizante” é a questão da fragmentação das identidades. As identidades nacionais, construídas a partir da construção dos Estados nacionais dos séculos XVIII e XIX, se 12

desintegram “como resultado do crescimento da homogeneização cultural” (HALL, 1998, p. 69). Tal homogeneização nada tem de contraditória à multiplicidade cultural da pósmodernidade. Ocorre que: (...) o sujeito previamente vivido como tendo uma identidade unificada e estável, está se tornando fragmentado; composto não de uma, mas de várias identidades, que compunham as paisagens sociais “lá fora” e que asseguravam nossa conformidade subjetiva com as “necessidades” objetivas da cultura, estão entrando em colapso, como resultado de mudanças estruturais e institucionais. O próprio processo de identificação, através do qual nos projetamos em nossas identidades culturais, tornou-se mais provisório, variável e problemático (HALL, 1998, p. 12).

Desta forma, a identidade pessoal passou a ser definida historicamente. Dependendo do momento, a identidade assumida se modificava. Exemplificando, Maria é mulher. É também mãe, filha e professora. Se quisermos definir Maria historicamente, podemos dizer que nasceu como mulher e filha. Tornou-se professora e anos depois, mãe. O sujeito deixa, assim: (...) de ser visto como uma totalidade fechada e fundante das ações e representações, para ser pensado como uma produção histórica, como um lugar que diferentes pessoas vêm ocupar sucessivamente ou como a produção de uma identidade, em que vários fluxos de subjetivação e forças de sujeição se encontram. A sociedade da serialização e do indivíduo obriga a que os indivíduos assumam uma série de papéis, de identidades, fragmentando-se (ALBUQUERQUE JÚNIOR, 2007, p. 58).

Carregamos, neste sentido, uma infinidade de identidades dentro de nós, por vezes contraditórias, de maneira que uma “identidade plenamente unificada, completa, segura e coerente é uma fantasia” (HALL, 1998, p. 12).O “eu” torna-se, portanto, múltiplo. E da mesma forma acontece com os grupos sociais que, cada vez, se compartimentam segundo especificidades próprias. Entretanto, o beneficiário desta fragmentação é o próprio Estado que se mantém no poder através da lógica do “dividir para enfraquecer”. O resultado direto de todo o processo acima explicitado, leva a nova geração a proclamar que:

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Sem personagens políticos que configurem a representação necessária ao regime democrático e tendo como obrigatório um sistema eleitoral muitas vezes fraudulento e gerador de corrupção, a saída é a conscientização da população. E quando se fala em consciências, nada parece mais adequado à nova geração do que a educação:

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Imagem 12 - Fonte: .

Verificamos, portanto, que como meio de ação e participação políticas, o Facebook constitui uma via alternativa de inserção e mobilização sociais. Tanto é verdade que já há iniciativas que visam transformar seguidores das paginas e grupos aqui analisados em eleitores, na contrapartida dos movimentos espontâneos, apartidários e sociais que eles mobilizam:

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Imagem 13 - Fonte: .

Imagem 14 - Fonte: .

No decorrer de nossa pesquisa, encontramos imagens de dois anúncios (acima) inusitados que oferecem os serviços de criação e manutenção de perfis em diversas redes sociais para políticos nas eleições de 2012. Trata-se de pessoas que trabalham de forma a transformar a rede social em palanque político que crie projeção e alcance “públicos-alvo” específicos. Portanto, negar a potencialidade constituída pelas redes sociais é incabível, de maneira que até mesmo os atores políticos reconhecem e se preocupam com a mobilização 16

virtual. Acreditamos, assim, que esta é uma mídia que chegou para modificar a relação que os jovens têm com a política, se configurando como um novo meio no qual sua expressão é livre e sua opinião levada a sério. O resultado disso podemos ver se, e apenas se, abandonamos a crença de que a juventude é apática e nos ativermos ao seu mundo, pois a virtualidade constitui sua área de atuação.

CONCLUSÃO Procuramos, com esta pesquisa, problematizar a inserção da juventude atual na política, a questão de sua dita despolitização, suas concepções sobre o voto, e suas formas alternativas de participação. Constatamos, após a análise feita, que o afastamento dos jovens do processo eleitoral não configura uma despolitização dessa nova geração, mas sim uma nova forma de fazer, pensar e manejar a política. Nesse sentido, pudemos verificar que as redes sociais desempenham papel fundamental na articulação de diversos movimentos, influenciando novos grupos e gerando novas mobilizações. O voto, nesse contexto, perde um pouco seu sentido tradicional, mas permanece como um instrumento fundamental, mesmo porque obrigatório. Reafirmamos, pois que a relação entre estes jovens e a política se dá de formas inusitadas, não constituindo, o voto, elemento tão determinante no processo. Entretanto, seus estilos de inserção configuram, à sua maneira, ação e participação políticas.

BIBLIOGRAFIA ALBUQUERQUE JÚNIOR, Durval Muniz. História: a arte de inventar o passado. Ensaios de teoria da história. Bauru: EDUSC, 2007. AMARAL, Rita. Antropologia e Internet: Pesquisa e Campo no meio virtual. Monografias.com.

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em:

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Acesso

em: 27 jun. 2012.

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ANDER-EGG, Ezequiel. “Capítulo 1”. In:Introducción a lãs técnicas de investigación social: para trabajadores sociales. 7.ed. Buenos Aires Humanitas, 1978. AUGÉ, Marc. Não-Lugares – Introdução a uma antropologia da sobremodernidade. Venda Nova: Bertrand Editora, 2004. AUTIER, Michel e LÉVY, Pierre.As Árvores do Conhecimento. Lisboa: Instituto Piaget, 1998. HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. 2. ed. Rio de Janeiro: DP&A Editora, 1998. JENKINS, Keith. A História Repensada. São Paulo: Contexto, 2004. LÉVY, Pierre. A Inteligência Colectiva – para uma antropologia do ciberespaço. Lisboa: Instituto Piaget, 1997. SANTAELLA, Lúcia. O que é semiótica. São Paulo: Brasiliense, 1983. SOARES, Luís (1999), “Contra a Corrente: Sete premissas para construir uma comunidade virtual”. In: ALVES, José Augusto, CAMPOS, Pedro e BRITO, Pedro Quelhas (Coord.). O Futuro da Internet – Estado da arte e tendências de evolução, Lisboa: Centro Atlântico, 1999. WALLERSTEIN, Immanuel Maurice. The capitalist world-economy.Cambridge: Cambridge University Press, 1979.

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