Os museus à luz da Economia Criativa: estudo de caso em Natal/RN

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Os museus à luz da Economia Criativa: estudo de caso em Natal/RN

Prof. Dr. Fernando Manuel Rocha da Cruz Orientador Doutor em Sociologia pela Universidade do Porto (2012) Professor Adjunto da Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN [email protected]

Maria Carolina Cavalcante Dias² Graduanda Em Turismo pela UFRN [email protected]

INTRODUÇÃO A criatividade tem sido utilizada para aproximar os indivíduos do Patrimônio. No contexto da Economia Criativa, o patrimônio é uma fonte de conhecimento e de representação cultural das comunidades, capaz de reforçar a sua identidade, gerar valor econômico e desenvolvimento, e que se expressa em sítios culturais arqueológico e museológicos, bibliotecas e galerias, em manifestações tradicionais de arte popular, festividades ou até mesmo no artesanato. Este estudo tem foco nos espaços museológicos que, diante desse contexto, buscam através da criatividade comunicar conteúdos que se aproximem da comunidade ao qual representam e adaptá-los às novas demandas de público e aos novos veículos e ferramentas de divulgação.

OBJETIVOS Este estudo de caso tem como objetivo descrever como esse processo de aproximação com a comunidade acontece em cinco espaços museológicos em Natal/RN, através da investigação sobre suas principais coleções, organização de seus acervos, criatividade na organização das exposições temporárias e modo de divulgação das suas atividades.

METODOLOGIA A metodologia utilizada é de abordagem qualitativa com aplicação de entrevistas semiestruturadas junto de representantes de cinco espaços museológicos na cidade de Natal/RN e sua região metropolitana. Entre os museus pesquisados, dois pertencem ao setor público (Museu do Brinquedo Popular – IFRN, na Cidade Alta, e Museu Câmara Cascudo); outros dois museus pertencem ao setor privado (Ludovicus: Instituto Câmara Cascudo e Memorial Aluízio Alves); e o último resulta de uma parceria públicoprivado (Roteiro dos Engenhos de Ceará-Mirim). Trata-se ainda de uma pesquisa de estudo de caso e comparativa e está enquadrada no projeto de pesquisa “Estudo de caso e mapeamento das indústrias criativas no Rio Grande do Norte”, renovado pelo Edital PIBIC_PIBIC_AF_PIBITI_2014-2015.

Foto1: Museu Câmara Cascudo.

Foto 3: Museu do brinquedo Popular do RN – IFRN Cidade Alta.

RESULTADOS Na maioria dos espaços museológicos, não é destacada nenhuma coleção. No Museu do Brinquedo Popular do RN, o acervo retrata os brinquedos populares produzidos pelo território potiguar. Hoje o acervo possui mais de 300 peças que representam quase sessenta municípios pesquisados no estado e estão expostos permanentemente na sede do IFRN localizado no bairro Cidade Alta. O espaço museológico é dedicado à produção cultural e ao patrimônio local (Foto 3). O Roteiro dos Engenhos de Ceará-Mirim busca retratar questões sociais, políticas e econômicas do período imperial quando o município foi um dos grandes produtores de açúcar do RN, através da exibição do patrimônio arquitetônico ainda existente no município. Entre ruas inteiras de casarões históricos, engenhos tombados, engenhos ainda em atividade seja como produtor de açúcar e derivados ou como museus, cerca de 15 monumentos compõem o Roteiro (Foto 4). O acervo do Museu Câmara Cascudo (MCC) é composto por coleções da área de paleontologia do Rio Grande do Norte, arqueologia, coleções de etnologia e coleções do herbário. As exposições são montadas com base nas coleções mantidas na reserva técnica do museu, ou em parcerias com outros museus, artistas ou instituições. Atualmente, o MCC não possui exposições permanentes devido às reformas constantes pelo qual tem passado. As exposições temporárias buscam acompanhar uma linguagem interdisciplinar que dê origem às novas temáticas e que possam atrair novos públicos e comunicar melhor os conteúdos propostos (Foto 1). Apesar de ser dedicado à vida e obra de Câmara Cascudo, no Instituto Ludovicus as exposições temporárias podem ou não ter ligação com o escritor e geralmente são idealizadas pela própria direção do museu com base em datas comemorativas ou em parcerias com outras iniciativas. Permanentemente estão expostas dez coleções museológicas: arte popular brasileira, arte popular estrangeira, arte sacra, pinacoteca, mobiliário, comendas, etnografia indígena e etnografia africana, objetos pessoais e alfaia. Elas abrangem no total mais de 700 peças dispostas na casa e também em exposições temporárias. A coleção bibliográfica tem mais de 40 mil itens, sendo 10 mil livros, 27 mil cartas já digitalizadas, documentos diversos, jornais, fotografias, material original datilografado e alguns manuscritos (Foto 2). No Memorial Aluízio Alves apenas os itens expostos nas vitrines são mudados a cada dez meses. Mas, o Memorial busca em datas comemorativas desenvolver eventos que se integrem com outros setores culturais. O Memorial está organizado por momentos da vida de Aluízio Alves, onde primeiramente é retratada a sua vida pessoal com a família e amigos, e no segundo momento a sua trajetória como comunicador e seu histórico da vida política. A exposição ainda conta com vitrines que exibem pertences dele como birôs, itens pessoais (ex. lenços), máquina fotográfica, além de maquetes dos projetos desenvolvidos por Aluízio enquanto político no estado do RN. Em todos os espaços museológicos pesquisados são desenvolvidas atividades culturais que buscam chamar a atenção para o próprio acervo; e a criatividade surge principalmente do próprio conteúdo. São citadas como barreiras para a montagem de novas exposições, infraestrutura inadequada tanto em tamanho do espaço físico disponível como as condições do ambiente; e as restrições dos editais. Para a divulgação das atividades e produtos desenvolvidos nos espaços museológicos, a internet é o principal veículo utilizado, embora a comunicação pessoal seja apontada como a mais eficaz. Também são utilizados os veículos tradicionais como rádio, televisão e em alguns casos, folders.

Foto 2: Ludovicus - Instituto Câmara Cascudo.

A idealização de projetos e produtos culturais e criativos nos espaços museológicos pesquisados busca vencer os obstáculos e atender ao público da melhor forma possível, seja em exposições interdisciplinares ou integradas com outras atividades sociais, culturais e até mesmo com finalidades econômicas e tendo como base a exploração de novos temas, a construção do conhecimento, e a busca pela preservação do patrimônio local. A consciência das limitações para a execução desses projetos e dos desafios impostos pelo próprio setor não representam um bloqueio para a inspiração. A ligação com a comunidade da cidade de Natal e com o Rio Grande do Norte refletida nos acervos é uma fonte de matéria prima para as atividades de todos os museus e facilita a comunicação do conteúdo idealizado para exposição temporária. Destaca-se ainda que os acervos se complementam aumentando as possibilidades para a montagem de novas exposições. Ressalta-se ainda a necessidade de que se pense em alternativas que vençam as limitações identificadas e que possam melhorar os produtos e atividades desenvolvidas, bem como nos horários de funcionamento dos museus, dado estarem fechados ao fim de semana.

Foto 4: Roteiro dos Engenhos de Ceará- Mirim - Engenho Carnaubal.

REFERÊNCIAS BRASIL. Plano Nacional Setorial de Museus – 2010/2020. Ministério da Cultura, Instituto Brasileiro de Museus. Brasília, DF: Minc/Ibram, 2010. Disponível em: Acesso em: 11 jun. 2014. JOHNSON, S. The Government and the Entrepreneurs. Disponível em: < http://economix.blogs.nytimes.com/2013/08/22/the-government-and-theentrepreneurs/?_php=true&_type=blogs&_r=2 > Acesso em: 17 mar. 2014. JUNIOR, Helcio de Medeiros; JUNIOR, João Grand; FIGUEIREDO, João Luiz de. A importância da economia criativa no desenvolvimento econômico da cidade do Rio de Janeiro. Rio de janeiro: Coleção de Estudos cariocas. Junho de 2011, Nº 20110601. Disponível em: http://portalgeo.rio.rj.gov.br/estudoscariocas/download%5C3067_A_importancia_d a_economia_criativa_no_Rio_de_Janeiro.pdf. Acesso em: 27 fev. 2014. MARCUS, C. Future of Creative Industries: Implications for research policy, p. 315. European Comission, April, 2005. Disponível em: Acesso em: 18 mar. 2014. UNCTAD, Relatório de Economia Criativa 2010. Conceito e contexto da economia Criativa, p. 3-32. In: Economia Criativa: uma opção de desenvolvimento viável. Disponível em: < http://www2.cultura.gov.br/economiacriativa/wpcontent/uploads/2013/06/relatorioUNCTAD2010Port.pdf > Acesso em: 18 mar. 2014. WYZORMIRSKI. Margaret J. Defining and Developing Creative Sector Iniciatives. In: Creative Industries: A measure for urban development?. Viena, 2004. Disponível em: < http://www.fokus.or.at/fileadmin/fokus/user/downloads/reader.pdf > Acesso em: 06 mar. 2014.

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