Os Primeiros Passos nas Investigações Fenomenológicas de Husserl

June 6, 2017 | Autor: Patrick Carvalho | Categoria: Edmund Husserl, Fenomenología
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Os Primeiros Passos nas Investigações Fenomenológicas de Husserl Patrick Martins de Carvalho Em sua investigação fenomenológica, Husserl busca mostrar como é preciso revisar todas as ciências positivas para se alcançar uma objetividade enquanto método científico. E o método fenomenológico tem por objetivo renovar a própria filosofia, uma vez que pressupõe uma nova forma de investigação filosófica. Husserl evidencia que há diversas formas por qual um objeto se dá e existem diferentes formas de objetividade. Assim como existem diferentes formas pelos quais esses mesmos objetos se apresentam, e isso é o que exemplifica a necessidade de se estudar como se dá os fenômenos do mundo. Husserl então resgata o método pelo qual Descartes examinou a sua própria consciência e as verdades exteriores a ele na sua obra Meditações. E através da fenomenologia como ciência que examina atos intencionais, Husserl busca espaço para uma ciência formal e rigorosa, que deve ter em si fundamentos lógicos, pois só assim a filosofia teria bases sólidas o bastante para poder pôr em prática o método fenomenológico. Logo, para Husserl, é necessário se distanciar de todo método científico que busca deduzir coisas através da tese do mundo natural, e para isso é preciso examinar a própria consciência, pois através dessa, é possível usá-la como uma escada para certo tipo de processar científico, que nos permite formular hipóteses e avançar no método. Sempre tendo em vista que é preciso questionar a consciência como primordial para se pensar no que são as essências ideais e as reduções fenomenológicas. Uma vez que através da aplicabilidade do que entendemos por redução fenomenológica é, para Husserl, possível alcançar o ego transcendental. Mas para se chegar a isso, é necessário assumir a existência do ego como uma consciência pura, e aqui cabe distinguir consciência pura de qualquer mediação de um “eu psicológico”, pois esse nada tem a ver com as discussões da psicologia. O objetivo de Husserl é aplicar na filosofia, um método que permita criar procedimentos válidos para refletir o próprio ato de pensar filosófico. E parece perceber, que a demonstração da subjetividade, com seu poder de se manter sempre a mesma e permitir um sentido pluralista, é a principal matéria a se ater para a constituição do conhecimento e do saber. Uma vez que é impossível encontrar fora de si essas respostas,

pois as coisas do mundo objetivo se apresentam com frequência de maneira relativa quando indagamos a respeito e, assim, não formam um terreno com bases sólidas para se pensar uma ciência universal e verdadeira. O objetivo do Husserl, portanto, é encontrar na subjetividade pura, uma exterioridade objetiva que apresente provas apodíticas, para assim alcançar verdades que sirvam de bases para uma ciência autêntica e universal. Para o subjetivismo de Husserl, é imprescindível para o método, que haja sempre um retorno a certo tipo de subjetividade universal, a subjetividade transcendental. Uma vez que fenomenologia pressupõe que o racionalismo não compreende a própria razão e, para isso, é necessário que a fenomenologia investigue a própria racionalidade, para só assim compreender aquilo que lhe é exterior, sua essência objetiva. Por isso é tão importante esse retorno, para que o método trabalhe com fundamentos absolutos e sólidos. Husserl questiona em sua primeira meditação o método cartesiano: Mas uma dificuldade se apresenta. Colocadas de lado as ciências (não admitimos o valor de nenhuma), nada mais resta que possa nos servir de exemplo de ciência verdadeira. Não se poderá então duvidar dessa própria ideia, ou seja, da ideia de uma ciência de fundamento absoluto?1.

Isto é, se precisamos encontrar um ponto de partida, devemos colocar todas as ciências em suspenso, seja os sistemas lógicos ou outras matérias formais como as ciências naturais, pois essas também devem ser englobadas na revolução cartesiana.

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Uma vez que para chegarmos a uma ciência geral e final, precisamos de hipóteses e axiomas que nos permitam avançar no método, preservando sua objetividade. Porém, qual deveria ser o ponto de partida para que possamos alcançar essa ciência com um fundamento absoluto? Uma vez que Husserl não busca construir um conceito de ciência por comparação e deixa em suspenso à dimensão de certeza das outras ciências? Como se pode ver nesse trecho:

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HUSSERL, Edmund, Meditações Cartesianas – Introdução à Fenomenologia, Editora Madras, São Paulo, 2001, p. 25. 2 HUSSERL, Edmund, op. cit.

Vale esclarecer que não se trata aqui da formação de conceito de ciência por uma abstração comparativa, que toma as ciências existentes como ponto de partida3.

Para Descartes, o seu método de ir das coisas mais simples às complexas, permite uma forma lógica que o orienta cada vez mais para seu objetivo, tornando-a cada vez menos densa e mais clara à medida que ele aplica seu método. Para Husserl, na medida em que recorremos as ciências em gerais para pensar a ciência, passamos a considera-las como meramente hipotéticas. Com isso, a própria ideia do fim necessário dessas ciências, também se torna hipotético, uma vez que não podemos e nem mesmo sabemos se há um fim necessário. Da mesma forma, por analogia, também concebemos a filosofia, uma vez que não temos como saber em que medida ela é ou não realizável. 4 Para Husserl é necessário esclarecer o ato de julgar e o julgamento5, pois através do julgamento é que conseguimos perceber a correlação entre o que nos é exterior e nossa percepção de verdade e falsidade de algum pressuposto. Isto é, nas palavras de Husserl: Essa liberdade que temos de reproduzir e de perceber novamente em nossa consciência uma verdade concebida, como sendo identicamente “a mesma”, faz com essa verdade seja para nós um bem definitivamente adquirido, chamado então de conhecimento6.

Então é possível deduzir que há essa correspondência entre a ideia e o objeto exterior, pois somos levados através da evidência - que engloba qualquer experiência comprovável - a justificação de um certo conhecimento, tido como uma verdade, por percebermos esse acordo entre o que a coisa é, e a forma com que ela aparece para o sujeito. Para Husserl, a evidência provoca um tipo de julgamento intencional, pois se apresenta a nossa consciência de maneira bastante evidente, pois é presenciada pelo sujeito que a julga como verdadeira. Pois na evidência é expressa sua verdade. Como Husserl endossa:

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HUSSERL, Edmund, ibid., p. 27. HUSSERL, Edmund, ibid., p. 26. 5 HUSSERL, Edmund, ibid., p. 27. 6 HUSSERL, Edmund, ibid., p. 28. 4

Toda coisa vista, respectivamente toda coisa vista na evidência, é expressa. Em geral, a ciência quer emitir julgamentos expressos e fixa-los, a verdade, a título de verdade expressa. 7

E não é difícil entender o rigor necessário ao método, uma vez que a ciência não somente cria teorias sem qualquer correspondência com o mundo, mas deve sempre buscar fundamentá-las. Não basta para a ciência somente emitir julgamentos, sem que tenha provas concretas, que embasem o que está sendo dito e, assim, pressuponha sua verdade científica. Que não deve ser em momento algum uma verdade particular, mas que sempre busca na universalidade o terreno para fixar sua verdade. A ciência então, através da solidez e a formalidade de seus métodos, procura alcançar uma universalidade do conceito, que deve ser fundamentada e sistemática, mas jamais relativa. Como diz Husserl: “A ciência quer verdades válidas de uma vez por todas e para todos, definitivas, partindo de verificações novas e finais” 8. Isto é, que sejam fundamentados e que preveem uma universalidade segura dos fenômenos e da própria certeza da ciência. De forma correlata, Husserl pretende mostrar que, estarmos cientes da fragilidade dessa ciência, que necessita de uma evidência perfeita para manter seu estatuto de uma verdade pura e inabalável, é preciso primeiro fixar um primeiro princípio 9, que sirva de ponto de partida para poder pensar e alicerçar o que chamamos de ciência verdadeira. Isto é, não podemos admitir como certo e verdadeiro nenhum julgamento, a menos que o tenhamos verificado antes através da evidência10. Portanto, devemos refletir primeiro sobre a evidência, para só então descobrir se é possível ou não admitir seu grau de verdade ou de perfeição, como é na terminologia de Husserl. Para assim, saber até que ponto, as coisas são de fato apresentadas em si mesmas, tal como nos parece11. Sendo assim, se Husserl coloca em questão todo tipo de ciência, é preciso assumir um ponto de partida, que seria o princípio metódico da evidência, e que só deve ser aceito o que for sistematicamente deduzido a partir dele, para assim alcançar 7

HUSSERL, Edmund, ibid., p. 29. HUSSERL, Edmund, ibid., p. 30. 9 HUSSERL, Edmund, Meditações Cartesianas – Introdução à Fenomenologia, Editora Madras, São Paulo, 2001, p. 31. 10 HUSSERL, Edmund, op. cit. 11 HUSSERL, Edmund, op. cit. 8

conhecimentos verdadeiros, onde é possível pensar uma ciência universal. Porém, Husserl percebe que para ser considerada uma verdade primeira em si, a evidência precisa ser suficientemente forte para carregar essa verdade. Uma vez que certas evidências podem ser insuficientes para validar sua verdade. Husserl, na primeira meditação ressaltará sua importância: As evidências imperfeitas são unilaterais, relativamente obscuras, indistintas quanto à maneira pela qual as coisas ou os “fatos” são aí mostrados “em si”. A “Experiência” no caso é, portanto, viciada por elementos de intenção significantes não preenchidos ainda por uma intuição correspondente. O aperfeiçoamento dá-se, então, numa progressão sintética de experiências concordantes, em que essas intenções significantes chegam ao estado da experiência real, que os confirma e preenche. A ideia correspondente de perfeição seria a de evidência adequada, sem que pesquisemos se, em princípio, essa ideia está ou não situada no infinito.12

Tendo em vista esses problemas, Husserl tenta tratar da apoditicidade, pois através de evidências apodíticas, que carregam em si uma suposta indubitabilidade absoluta – que óbvio, é contestável em alguns casos – e Husserl admite isso13, mas a partir dela se é possível ter base para pensar princípios, que excluam qualquer possibilidade de dúvida. No entanto, independente do caso apodítico, não se exclui a possibilidade de que se torne duvidoso, uma vez que a experiência sensível pode nos provocar diversas dúvidas quanto à certeza de algo que nos parece óbvio, como por exemplo, o ato de olhar para o sol e vê-lo menor do que é de verdade. Embora podemos observá-la menor, sabemos através de evidências empíricas que ela é muito maior do que nosso olho nos faz conceber. Portanto, uma vez que mesmo evidências apodíticas são possíveis de se tornarem objetos de dúvida – mesmo levando em conta a sua evidência – isso nos obriga a ter uma reflexão crítica. Porém, essa existência apodítica não nos dá somente a certeza sobre um fato, mas trás, nas palavras de Husserl, uma impossibilidade absoluta que não se conceba a sua não-existência e, portanto, exclui de antemão toda dúvida

12 13

HUSSERL, Edmund, ibid., p. 32. HUSSERL, Edmund, ibid., p. 33.

imaginável como desprovida de sentido.14 Pois o próprio fato de existir a evidência dessa reflexão crítica em si, se deduz que ela é também uma evidência apodítica.

Referências bibliográficas HUSSERL, Edmund, Meditações Cartesianas – Introdução à Fenomenologia, Tradução Frank de Oliveira, Editora Madras, São Paulo, 2001.

14

HUSSERL, Edmund, op. cit.

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