Os Princípios do Equador como Ferramenta de Desempenho Socioambiental

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ECONOMIA VERDE

ARTIGO

Alejandro Dorado

OS PRINCÍPIOS DO EQUADOR COMO FERRAMENTA DE DESEMPENHO SOCIOAMBIENTAL

A

s mudanças produzidas pelas atividades urbano industriais hoje são as forças que mais transformam o ambiente. Os problemas decorrentes desse processo (clima urbano, enchentes, uso e ocupação do solo, mobilidade urbana, saúde pública, saneamento básico, etc.) desafiam nossa capacidade de resposta e potencializam a degradação dos recursos naturais. Esses temas são hoje preocupações de estados, grandes corporações e empresas. No setor financeiro a Corporação Financeira Internacional (IFC), apresentou, em 2013, esse tema no binômio negócios x sustentabilidade e como os grandes problemas relacionados à crescente e rápida urbanização, ao aumento da população mundial, à demanda de recursos naturais, aos desequilíbrios econômicos, às mudanças climáticas e à perda da biodiversidade são tratados pelas grandes corporações multinacionais.

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Hoje há um consenso na necessidade de incorporar o conceito de sustentabilidade em todas as etapas de todas as atividades industriais, comerciais e serviços. Obviamente já foi superada a etapa da introdução conceitual e estamos no final da adoção desta ideia em todos os setores. O setor financeiro não é imune a essa tendência. O risco e a imagem são assuntos de importância estratégica para os grandes agentes econômicos. Como uma forma de adaptação ao cenário acima descrito, as corporações financeiras adotaram o processo de avaliação dos riscos socioambientais nas políticas corporativas. Os Princípios do Equador Criados em outubro de 2002 pela International Finance Corporation (IFC) e o ABN-Amro no encontro de discussão de experiências em projetos de investimento em

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humanos e negócios, gestão da cadeia produtiva, problemas de gênero, participação das partes interessadas, comunidades indígenas e serviços dos ecossistemas e biodiversidade. O documento publicado em junho de 2013 atualizou os PE e ampliou o número de produtos financeiros para projetos, mantendo o custo de capital inicial em US$ 10 milhões. Em 2006, os bancos brasileiros responsáveis pelo financiamento de projetos de acordo com os Princípios do Equador eram o ABN-AMRO, Banco do Brasil, Bradesco e Itaú. Já em 2011, 80% dos 10 maiores bancos brasileiros possuíam uma política de sustentabilidade e apresentavam relatórios específicos sobre desempenho socioambiental e governança corporativa. Hoje, no mundo, são 83 as instituições financeiras signatárias dos PE. Fora esse universo, 15 grandes corporações financeiras europeias e 32 agências de crédito para exportação de países que pertencem à Organização para a Cooperação Econômica e o Desenvolvimento também utilizam como referência os padrões de desempenho do IFC. mercados emergentes, que envolviam questões sociais e ambientais, os Princípios do Equador (PE) são critérios de desempenho para a concessão de crédito. Esses critérios asseguram que os projetos financiados pelas instituições que aderiram aos PE sejam desenvolvidos de forma social e ambientalmente responsáveis. Em termos práticos os PE determinaram que todas as empresas interessadas na obtenção de recursos no mercado financeiro, para financiar seus projetos, incorporassem a gestão de risco socioambiental, proteção à biodiversidade e hábitat naturais, adoção de mecanismos de prevenção e controle de poluição, proteção à saúde, proteção à diversidade cultural e étnica, adoção de sistemas de saúde e segurança ocupacional, avaliação de impactos socioeconômicos, inclusão de comunidades tradicionais, eficiência na produção, distribuição e consumo de recursos naturais (água e energia), combate à mão de obra infantil e escrava e respeito aos direitos humanos. Na revisão de 2012 dos PE, que levou a sua terceira versão, foi introduzido o conceito de mitigação ambiental (environmental offsets) para proporcionar que os impactos socioambientais inevitáveis sejam contrabalanceados por ganhos ambientais com a visão geral de alcançar um balanço neutro o positivo. Desta forma, tendo a sustentabilidade como meta, as questões ambientais e sociais emergentes no novo documento da IFC são as mudanças climáticas, direitos

Conclusões Desde a percepção da finitude dos recursos naturais, das alterações do fluxo de energia e dos ciclos de nutrientes nos ecossistemas, com as consequentes mudanças ambientais e as ameaças às espécies que hoje habitam o planeta, até a sua incorporação como valor agregado no mercado financeiro, a questão ambiental tem sido palco das diferentes relações entre os homens através da natureza. Nossa visão da base dos recursos naturais é, sem dúvida, bem diferente nesta segunda década do século XXI. O mercado de consumo tenta incorporar a questão socioambiental como um fator no traçado de estratégias de negócios, onde se estreitam as relações com todas as partes interessadas diminuindo riscos. O setor financeiro está ciente dos desafios e das oportunidades que se encontram nesse caminho adotou os PE como ferramenta de avaliação de desempenho, sem esquecer sua missão e objetivo, inseridos na lógica do mercado de uma sociedade de risco e consumo. n

ALEJANDRO DORADO Presidente do Instituto de Estudos Avançados em Gestão Ambiental. Biólogo. Mestre em Ecologia. Doutor e Pósdoutor em Saúde Pública (Gestão Ambiental). Auditor Líder Internacional ISO 14001. Auditor em Biodiversidade e Saúde Pública dos Princípios do Equador. julho | agosto | 2016

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