OS SENTIDOS DA EMBRIAGUEZ E AS ORIGENS DAS PSICOSES: RUMO A UMA PSICOPATOLOGIA FENOMENOLÓGICA DA ASSOCIAÇÃO ENTRE USO/ABUSO DE SUBSTÂNCIAS E PSICOSE

May 28, 2017 | Autor: Guilherme Messas | Categoria: Psychiatry, Drugs And Addiction, Drunkenness, Phenomenological Psychopathology
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OS SENTIDOS DA EMBRIAGUEZ E AS ORIGENS DAS PSICOSES: RUMO A UMA PSICOPATOLOGIA FENOMENOLÓGICA DA ASSOCIAÇÃO ENTRE USO/ABUSO DE SUBSTÂNCIAS E PSICOSE Guilherme Messas

2014

6 passos I. A LITERATURA EPIDEMIOLÓGICA II. A PSICOPATOLOGIA FENOMENOLÓGICA E PSICOSES NAS TOXICOMANIAS III. ESSÊNCIA GERAL DA EMBRIAGUEZ IV. OS SENTIDOS DA EMBRIAGUEZ

V. AS ORIGENS DAS PSICOSES IV. CONSEQUÊNCIAS CLÍNICAS (na discussão de caso)

I. A LITERATURA EPIDEMIOLÓGICOSEMIOLÓGICA

a.Gênese da psicose b.Especificidade psicopatológica c.Motivos da manutenção do uso pós agravos

a.Gênese da psicose Cannabis – evidências causais (Sewell et al., 2009), com vulnerabilidades específicas (Di Forti, 2012) e elevação de risco com início precoce (Bugra et al., 2012) Cocaína – elevada frequência de psicoses transitórias (Vospan et al., 2102), correlação com uso continuado em grandes doses (Satel et al., 1991) Álcool - A prevalência de quadros psicóticos em alcoolistas homens em idade laboral é maior do que a de esquizofrenia na mesma faixa etária (Perälä et al., 2010

b.Especificidade psicopatológica Cannabis - não se pode afirmar resolutamente a especificidade da psicose canabinoide até os dias atuais (Hall & Degenhardt, 2004). Maior presença de pensamento mágico? (Armando et al., 2012). Maior presença de alucinações visuais? (Carol et al., 2007). O importante parece ser a elevação evolutiva do risco para esquizofrenia (Arendt et al., 2005) Cocaína – quadros paranoides com elementos do mundo social (polícia ou familiares). (Satel et al., 1991)) ou alterações perceptuais visuais, como a mudança na vivência de intensidade das cores, proeminência do vermelho e verde nas ilusões (Unnithan & Cuttling, 1992) ou alucinações táteis (Brady et al., 1991). Di Petta (2011) Diferenças com a paranoia funcional: vivência de megalomania, aumento da agressividade, “perceptização” do pensamento, conservação de um “insight” relativo e humor disfórico

b.Especificidade psicopatológica (cont.) Álcool – Alucinose e esquizofrenia (Glass, 1989) -

sugestão de uma maior presença de transtornos do eu nas esquizofrenias do que nas alucinoses alcoólicas e da ocorrência das alucinações com maior frequência e em um espaço externo definido nessas últimas (Soyka, 1990)

- Tsuang et al. (1994) encontraram evidências para a independência do diagnóstico de alucinose alcoólica em relação à esquizofrenia. - Benedetti (1955) encenação no espaço externo de um drama íntimo, com cores alucinatórias e delirantes engendradas pelo etilismo, mas coerentes com sua história pessoal.

c.Motivos da manutenção do uso pós agravos Cannabis - elevada prevalência de abuso de cannabis nos portadores de esquizofrenia (Green et al., 2005) - sinalizações preliminares de que psicóticos tenham efeitos subjetivos de euforia com a intoxicação, sobretudo por maconha, superiores aos não abusadores (Busquets et al., 2005), fazendo com que usem a substância para modulação do próprio humor e de sua socialização (Dekker et al., 2009). - No entanto, também há achados mostrando que os motivos uso de drogas pela população psicótica são os mesmos população geral (Kolliakou et al., 2011), com o emprego cannabis, por exemplo, como estratégia para o manejo cotidiano ou meramente por prazer (Thornton et al., 2012).

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I. A LITERATURA EPIDEMIOLÓGICOSEMIOLÓGICA As psicoses supostamente específicas dessas substâncias não apresentam estabilidade diagnóstica suficiente ao longo do tempo (Whitty et al., 2005; Caton et al., 2007) para que se garanta sua especificidade. Igualmente, restam controversos os motivos de continuidade de uso (Gregg et al., 2007).

I. A LITERATURA EPIDEMIOLÓGICOSEMIOLÓGICA Mathias et al., 2008 propõem a substituição da noção de substance-induced psychotic disorder por substance-associated psychotic disorder, sendo este um diagnóstico que “... implies an association between state and substance, rather than causation, which more accurately reflects our currrent understanding of the interplay between psychotic symptons and substance use” (p.365; my emphasis) INSUFICIÊNCIA DO PARADIGMA (Fuchs, 2010)

II. A PSICOPATOLOGIA FENOMENOLÓGICA E PSICOSES NAS TOXICOMANIAS

Pressupostos e categorias Fundamentos ontológicos: Temporalidade, proporcionalidade e individualidade (Messas, 2010), espacialidade (Binswanger), coporeidade (Fuchs, 2009), interpessoalidade (Moreira, 2012) Condições de possibilidade estruturadas (Charbonneau, 2010a)

Quais as categorias, além da causalidade, especificidade e continuidade?

II. A PSICOPATOLOGIA FENOMENOLÓGICA E PSICOSES NAS TOXICOMANIAS

Investigação das relações entre uma estrutura situada no mundo – e, portanto, relativamente estável – e seu movimento biográfico, constituindo um jogo dialético entre permanência e transformação, entre positividade e negatividade (Blankenburg, 2007) Questões sobre “como se move a existência”

II. A PSICOPATOLOGIA FENOMENOLÓGICA E PSICOSES NAS TOXICOMANIAS

Temporalidade Binder (1979) identificou a psicose alcoólica como uma gradual perda da capacidade de historicização

Zutt (1958) mostrou como o devir pessoal se deforma nas adicções, substituído por uma temporalidade cíclica natural Perda de temporalização (Kemp, 2009)

Doação da existência a um instante eterno (Kimura, 2005), fora dos trilhos da temporalidade humana

II. A PSICOPATOLOGIA FENOMENOLÓGICA E PSICOSES NAS TOXICOMANIAS

Espacialidade Benedetti (1955) e Bilz (1956) reconheceram na alucinação dos alcoolistas o prolapso patológico de dramas íntimos no espaço coletivo, revelando uma excessiva vinculação da consciência à sensorialidade do mundo (Barthélémy, 1987) e à fusão interpessoal (Pringuey, 2005)

II. A PSICOPATOLOGIA FENOMENOLÓGICA E PSICOSES NAS TOXICOMANIAS

Interpessoalidade Desproporcional aproximação da consciência à interpessoalidade (Di Petta, 2011) e ao mundo laboral (Zutt,1943/1963) Antropologia geral da adicção (Gebsattel, 1954) e suas psicoses : todas as substâncias acabam, ainda que por caminhos diferentes, por destituir a figura humana de sua situação histórica no mundo.

III. ESSÊNCIA GERAL DA EMBRIAGUEZ

Essência geral da embriaguez (Messas, 2014a) Destemporalização súbita da existência (a érda da trinariedade temporal) Tendências particulares de cada embriagante Maconha – afastamento do mundo (Charbonneau, 2010b)

Cocaína – aproximação e condensação Álcool – multiplicação da identidade (Aristóteles, Problema XXX)

IV. OS SENTIDOS DA EMBRIAGUEZ A lógica interna de cada existência que determinará suas próprias causalidades, de modo que a causalidade nem sempre atue sobre a existência de modo mecânico. A estrutura precede as partes que lhe compõem e que são sua manifestação exterior (Minkowski, 1933/1995), sobredeterminando e configurando assim suas causalidades eficientes. É exatamente por isso que não existe um efeito geral para cada substância, indistinto em todos os sujeitos e definido pela tipicidade da substância

Método fenomenológico: Investigação dos sentidos que essas atemporalizações transitórias recebem em cada existência e os caminhos pelos quais esta se deixa conduzir à adicção ou, por fim, às psicoses. Assim como, uma vez estabelecida uma psicose, a investigação dos eventuais novos sentidos que a embriaguez passa a assumir, dado que toda psicose é uma nova configuração existencial temporal. Com o desfecho adicto ou psicótico pode-se dizer que a atemporalização subjugou, de modos diversos, a temporalização imanente da existência; porém, é necessário que se conheça toda a trajetória das condições de possibilidade existenciais que culmina nesta dominação

V. AS ORIGENS DAS PSICOSES Messas (2014b) Atuação do efeito destemporalizante da embriaguez sobre estilos básicos de temporalização A endogeneidade como situação (Tellenbach, 1983) (as personalidades) Determinação da endogeneidade e exogeneidade

V. AS ORIGENS DAS PSICOSES A origem de uma psicose determina-se a partir dos movimentos da posição básica da estrutura temporal da existência e suas relações com os atos de embriaguez, explicitando o momento do desfecho psicótico Não se trata de uma diferenciação rígida entre relações de conexão exógenas ou endógenas mas, antes, da determinação das proporções da participação de cada elemento no desfecho produzido (Messas, 2013).

V. AS ORIGENS DAS PSICOSES Nas exógenas, a posição temporal básica da existência no mundo – determinante de suas relações de compreensividade - não é alterada; Nas endógenas, há uma desarticulação da estrutura habitual temporal da existência, iniciada desde seus pontos de fragilidade

V. AS ORIGENS DAS PSICOSES A proporcionalidade da presença endógena ou exógena pode variar ao longo da trajetória biográfica. Assim, mais importante do que o reconhecimento ideal típico de duas origens diversas é a identificação na singularidade do indivíduo dos pontos nos quais a compreensividade se rompe e nos quais ela é apenas reduzida ou até mesmo acentuada com a prática da embriaguez

V. AS ORIGENS DAS PSICOSES Tipos essenciais relacionados às psicoses na toxicomania - Hiperestável - Instável - Esgotado

III. A PSICOPATOLOGIA Tipos essenciais relacionados às psicoses na toxicomania - Hiperestável - Instável - Esgotado

TIPO HIPERESTÁVEL Tipo mais relacionado à toxicomania em sentido estrito (em geral é um temperamento, ou seja, varia pouco ao longo da vida) Características – tendência à experiência “material” - experiências do presente - diretamente ligado no mundo Sentido básico da embriaguez: alinhado com o regime de prazeres da personalidade

TIPO HIPERESTÁVEL PSICOSE origina-se da compressão da realidade (exaltação dos tipos sociais e dos afetos ligados ao coletivo, como culpa ou depressão) (sensorialização alucinatória) (permanência do eu e do eu da alteridade, mesmo na vigência da alteração) Desenvolvimentos deformantes

TIPO INSTÁVEL Tipo de personalidade (esquizoides) ou época da vida (transições existenciais, como adolescência) Características – tendência à experiência representacional

-personalidade é móvel ou está móvel em seus fundamentos - portanto, tendência a perder o “solo” existencial (substância da própria biografia) Sentidos da embriaguez – múltiplos, desde a ligação ao regime de prazer até o retiro “defensivo” da personalidade; também teste de novas formas, imaginárias e ideais da personalidade

TIPO INSTÁVEL PSICOSE origina-se da perda de inserção da realidade (novas significações ou procura aguda de significações) (sensorialização alucinatória) (comprometimento do eu e do eu da alteridade)

(vivências de estranheza) (semelhança formal com os pródromos da esquizofrenia)

A psicose tem muitas vezes função restauradora (busca de alguma forma para a personalidade)

TIPO ESGOTADO Raramente uma personalidade; no mais das vezes um período da vida (crises existenciais) ou evolução psicótica Característica – incapacidade de identificar um sentido para a existência: futuro e passado irrelevantes; presente isolado Sentido da embriaguez – sustentar o presente vazio. Portanto, muitas vezes apenas a embriaguez mantém a vida

TIPO ESGOTADO Psicoses esquizofreniformes ou esquizoafetivas Psicoses atípicas (processos atípicos), nos quais zonas da personalidade não mais conseguem temporalizar-se. “Psicomas” de Cargnello (1962). Concomitância de significados e incapacidade de realizá-los. Todo abuso de drogas pode levar a um estado de esgotamento existencial

GRATO PELA ATENÇÃO

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