Os temores do Ato de Registro - Os direitos civis americanos a partir dos quadrinhos da saga Guerra Civil da Marvel

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1 – Título Os temores do ato de registro: Os direitos civis americanos a partir dos quadrinhos da saga Guerra Civil da Marvel. 2 – Tema A questão dos direitos civis a partir da saga Guerra Civil da Marvel. 3 – Delimitação do tema Antes de começar esse trabalho é preciso analisar mesmo que de forma um pouco superficial o papel dos quadrinhos (HQs) americanos na sociedade contemporânea, desde seu surgimento nos Estados Unidos na década de 30. Inicialmente eram tidos como histórias infantis e que só interessavam às pessoas de classes mais populares e jovens. Mas diversos estudos demonstraram que tal visão estava errada, citando aqui um estudo elaborado por um comitê do Senado Norte-Americano na década de 50 que revelou: a) cada aficcionado dos "comics"1 lia cerca de 15 revistas por mês; b) cada revista vendida era lida em média por três pessoas; c) ao contrário do que se imaginava, 50% dos leitores de quadrinhos nos EUA eram adultos com mais de 20 anos de idade2. Os quadrinhos carregam muitas ideias de quem a escreve, afinal, não existe obra neutra, pois sempre será “contaminada” pelo ambiente cultural em que o autor vive e pelos ideais do mesmo. O mundo dos super-heróis passa a ter uma função propagandística de determinados valores hegemônicos na sociedade, principalmente durante a época da Segunda Guerra Mundial e nos anos cinqüenta, com o início da Guerra Fria. Nessa conjuntura, explicita-se o caráter político das Histórias em Quadrinhos. (Viana, 2005).

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O presente trabalho tem como assunto principal a saga Guerra Civil 3, um mega evento ocorrido nos quadrinhos Marvel entre os anos de 2006 e 2007, escrita por Mark Millar e desenhada por Steve McNiven, e o contexto da quebra das liberdades civis em prol do “bem maior”. Uma tradição na cultura americana desde sua independência, quando a população branca se achava no direito sobre a terra dos indígenas, com a visão de que era a terra prometida por Deus aos povos cristãos e que os nativos eram os pagãos a serem convertidos ou exterminados e que o progresso da nação branca não poderia parar. Mas o que realmente estava em jogo eram os grandes hectares de terras sobre o domínio dos índios. Durante o governo de Andrew Jackson (1829-1937) tal problema ganhou grande atenção da população e das elites, que exigiram rápida resposta: Outro problema enfrentado pelo presidente foi a situação da localização de nações indígenas. O que fazer com os nativos americanos, uma vez que era vistos como obstáculos à conquista de territórios e aos interesses de pequenos e grandes proprietários? Os chamados selvagens resistiam como podiam, inclusive com emprego de violência, ao avanço dos “brancos” sobre seus territórios. (KARNAL, 2007: 90).

No universo de quadrinhos da Marvel, a atividade de pessoas fantasiadas, mascaradas (ou não, veja o Justiceiro, Luke Cage, Jessica Jones, Doutor Estranho, só para citar alguns) e com poderes ou apenas contando com habilidades marciais, inteligência ou tecnologia são comuns. Principalmente nos EUA tal fato é rotineiro e aceito pela maioria dos Estados americanos e população - até porque, trazendo para o mundo real, a editora Marvel é americana, logo seu palco central será o próprio país.

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Comic, palavra inglesa que significa “cômico” ou “humorístico”. Os quadrinhos como conhecemos surgiram nos EUA e lá foram batizadas de comics. Segundo, IANNONE, “Essa expressão universalizou-se e é utilizada até hoje, inclusive para designar história que não são de caráter cômico”. In: IANNONE, 1994, Pp. 22-23. 2

SUPER Cronologia dos Comick Books. HQCD. São Paulo: Nova Sampa, 1997. In: DANTON, 2000.

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A saga Guerra Civil foi dividida em sete edições principais mas com desdobramentos em várias outras revistas de personagens como Homem Aranha, Justiceiro, Cavaleiro da Lua, Quarteto Fantástico, X - Men entre outras, que contam as visões, antecedentes e consequências desses personagens citados mas que foram afetados pelos acontecimentos das revistas principais. 4

Uma cidade pertencente ao Estado americano de Connecticut.

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A chamada Guerra Civil entre os heróis começa a ganhar força logo após a uma tentativa frustrada de um grupo de super-heróis chamados “Novos Guerreiros” que participavam de uma caçada a um grupo de super criminosos localizados na cidade de Stamford4, como parte de um reality show. Mas durante o decorrer da briga (filmada durante todo o tempo), vendo seu time sendo derrotado, o personagem Robert Hunter, conhecido como Nitro (do time dos vilões) canaliza sua energia e a libera de forma descontrolada acarretando na destruição de uma escola infantil próxima ao cenário de confronto, matando instantaneamente 600 pessoas aproximadamente, entre adultos e crianças. As palavras de Deadpool em uma das edições de sua revista e que também fazem parte da saga Guerra Civil resumiu bem o acontecimento central de toda a polêmica: Metade de Stamford foi pelos ares, não que alguém normalmente fosse se preocupar, exceto se acontecesse perto de um colégio. Você sabe como as coisas escapam do controle quando crianças americanas explodem, certo? A partir do momento que sejam super-moleques que causem essa explosão, homens brancos engravatados fazem o que eles fazem melhor, eles aprovam leis, agora todos os super-humanos tem de registrar suas identidades. Uma galera de heróis disse “beleza”, a outra “sem chance”. (NICEZA; JOHNSON, 2006).

Enquanto o Homem de Ferro apoia o “Ato de Registro dos Super Humanos” (como o congresso chamou a lei), cujo objetivo é regulamentar toda a atividade super humana dentro do território dos EUA, transformar todos os vigilantes em funcionários a serviço do governo americano e o ponto principal e de maior polêmica, tornar suas identidades públicas. O Capitão América é contra, pois sua justificativa é a perda da segurança do anonimato daqueles que arriscam suas vidas para o bem da sociedade além de transformarem suas famílias em alvos muito mais fáceis para seus inimigos, acrescentando a perda da independência já que se tornarão peões deslocados para onde e quando o EUA quisesse e passariam por treinamentos e sanções dos agentes federais. Voltando anos anteriores à tragédia, quando a atividade heroica começou a ganhar proporções cada vez maiores e no processo, destrutivas, seja com bens materiais e principalmente civis, pegos no fogo cruzado de uma luta entre os Vingadores (por exemplo) contra alguma ameaça cósmica que tenta mais uma vez subjugar a raça humana, parte dos políticos americanos tentavam, sem sucesso aprovar uma lei que limitasse as ações dos vigilantes, mas mesmo que uma parcela da sociedade apoiasse tal limite, ainda não contava com apoio maciço da mesma. Trazendo para o mundo real, qual é o melhor jeito de se conseguir apoio na criação ou não de leis do que com apoio da sociedade civil? Tendo uma

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“panela de pressão” prestes a explodir bastava apenas o estopim. Voltando ao Universo Marvel, foi isso o que aconteceu, o motivo que o congresso a anos ansiava finalmente chegou, a Ato passou e agora todo aquele mascarado ou não que combate o crime (ou é vilão) deve se registrar ao governo e receber treinamento apropriado, sim, se torna um funcionário como qualquer outro, com direito a férias, pensão, assistência médica, etc, caso contrário será preso como um criminoso comum, e tendo algum poder será encarcerado em instituições apropriadas para suas habilidades. E assim começou a caça, antigos aliados tornaram-se inimigos, sólidas alianças ruíram num piscar de olhos, até mesmo os mais temíveis inimigos transformam-se nos únicos aliados disponíveis. Muitos que ficaram do lado do governo (Homem de Ferro) ou resistência (Capitão América), com o decorrer dos acontecimentos, de sua brutalidade, das mortes, dos protestos civis mudaram de lado, não conseguiram, temeram pelo bem não só de suas vidas, mas de seus entes queridos que nada tinham haver com tamanha guerra, uma guerra dentro de seu próprio país, outros resistiram bravamente, acreditavam que o lado pelo qual lutavam, que os faziam contra sua vontade lutar com amigos, era o lado certo. De volta ao nosso universo, um dos fatos mais curiosos, para alguns talvez o que mais se destaca é que o um personagem que sempre foi criticado por ser um símbolo do imperialismo americano, o Capitão América, é o principal líder da resistência, segundo Sérgio Muniz de Souza, autor do livro Delinquência Juvenil (1959), citado por Santos5 afirma que: O Capitão seria a síntese da ideologia militarista norte-americana: um herói intervencionista, que toma a justiça pelas próprias mãos, contra governos estrangeiros que representariam "o mal", justamente por seguirem outro modo de vida que não o norte-americano. A única arma usada pelo Capitão - um escudo representaria a idéia de que os EUA só atacam para se defender; o fato do Capitão agir de forma independente - do governo ou de instituições - faz parte da ideologia liberal capitalista da "livre iniciativa", onde pessoas vestem uniformes e saem caçando criminosos (no caso do Capitão, espiões e agentes terroristas) por sua própria conta.

Para ele tal lei viola os princípios básicos de cidadania, que é o direito de liberdade, além do risco de envolver parentes e amigos nesse fogo cruzado, já que tornando suas identidades públicas, qualquer um pode se aproveitar dessa brecha para fazer mal a seus entes queridos. A já citada perda de liberdade, não só pelo direito de ir e vir, mas também por passarem a serem comandados diretamente pelo Estado americano sem direito a muitos questionamentos e constantemente vigiados.

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Mesmo os Estados Unidos tendo perdido um pouco do seu “domínio” sobre o mundo neste século XXI, ainda são uma grande potência e com bastante influência no resto do globo. Com o Ato de Registro dos Super Humanos ganhando cada vez mais força no país, era natural que outros Estados nacionais aliados passassem a ver tal lei com bons olhos. Pois muitos desses também possuem atividades de vigilantes dentro de suas fronteiras, fora que os próprios EUA passariam a fazer pressões para os demais aliados elaborassem leis similares em seus países. O personagem Cable6 exemplifica bem o temor dessa lei se tornar definitiva na fala: “Não tenho nada contra o Ato de Registro... Mas a iniciativa dos 50 Estados vai abrir caminho para um Estado Totalitário...” (NICEZA; JOHNSON, 2006), e acrescentando uma fala do Capitão América que também lembra essa preocupação, “Por sessenta anos. Meu governo me procurou para defender a liberdade. Eu não quero acreditar que estava defendendo uma ditadura.”. A história da humanidade nos mostrou determinadas épocas em que um governo não conseguiu atender os desejos, melhorar as condições sociais e gerais de sua população perante as crises acabava correndo grave risco de ser deposto por um mais centralizador, autoritário mesmo, que na cabeça de muitos é a única saída para o problema, os anos anteriores a Segunda Guerra são o melhor exemplo de como esses regimes ganharam força em uma sociedade cada vez mais descrente na democracia.

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SANTOS, Aline Martins. A Segunda Guerra Mundial na Linguagem dos Quadrinhos. Capitão América: “A Sentinela da Liberdade” ou “O Defensor da América para os Americanos”?. 15 f. Monografia – Graduação em História, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro. S.a. [Orientador: Prof. Dr. Luís Edmundo de Souza Moraes]. 6

Nathan Christopher Charles Summers Dyspring mais conhecido como Cable, é um mutante vindo do futuro que possui poderes de telecinese e telepatia.

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Em momentos de crise, sempre há interesses ocultos na tragédia, dificilmente um país inteiro mergulha em uma crise sem que alguém não possa tirar proveito dela, com o passar das edições vai sendo mostrado que há companhias lucrando com a guerra entre heróis, adquirindo contratos milionários com o governo americano, até mesmo um personagem chave na história tira proveito dos acontecimentos, que é o Homem de Ferro. Em uma guerra real empresas de armas e funerárias não tiram seus lucros da morte? Fora o mercado negro de armas que vendem para o inimigo do próprio país sem se importar com as baixas entre o próprio povo. No prosseguimento da trama acaba-se por revelar que Nitro, o responsável pela explosão da escola estava recebendo medicamentos ilegais que ampliavam seus poderes, por isso conseguiu usar tamanha força destrutiva, e a pessoa por trás dele é nada mais que o Diretor-Chefe de uma das empresas que foram beneficiadas com as destruições de patrimônios públicos e particulares nos confrontos. Se como foi citado o governo americano já passava por cima dos direitos civis a bastante tempo, primeiramente dos índios ao tomar suas terras, posteriormente dos negros e mulheres, chegada a Segunda Guerra o alvo agora eram os japoneses e seus descendentes residentes nos Estados Unidos: A hipocrisia racial atingiu um pico com o tratamento dado aos nipo-americanos. Investigações dos serviços de inteligência confirmaram que a comunidade de ascendência japonesa, 75% dos quais detinham cidadania, não representavam nenhuma ameaça à condução da guerra. A histeria antijaponesa expressa no refrão popular “O único “japa” bom é o “japa” morto”, contudo resultou numa política de perseguição e massa com o apoio de quase toda a população. Nenhum grupo significativo mesmo o CPUSA ou organizações pelas liberdades civis, protestou quando Roosevelt assinou uma ordem executiva em fevereiro de 1942 mandando o exército prender todos os 110 mil nipo-americanos na Costa Oeste. Perdendo seus negócios, casas e bens, eles ficaram em campos de prisioneiros no interior pelo tempo que durou a guerra, sem direitos democráticos, justamente os direitos pelos quais a guerra havia sido travada. (KARNAL, 2007: 183).

Terminada a guerra, a luta continuava para negros e mulheres, que com muito custo (principalmente para os negros, que tiveram seus grandes líderes Martin Luther King e Malcom X assassinados) foram gradativamente conquistando seu lugar na sociedade americana, mesmo atualmente ainda não se chegou ao grande ideal, mas a sociedade e o governo não podem e não conseguem mais ignorar as reivindicações desses grupos.

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Um dos personagens centrais da trama da Marvel é o Homem Aranha. Convencido pelo Homem de Ferro que o Ato era o melhor para o país, este vai à público em uma coletiva de imprensa e revela sua identidade, contando com o apoio de sua esposa Mary Jane e sua tia May Parker. Mas no decorrer da história, após enfrentar seus amigos não registrados, ver a morte de um deles, Peter começa a se questionar se o lado que escolheu é realmente o certo, e, após descobrir como se encontra a situação dos contrários a lei (presos na Zona Negativa 7), resolve lutar contra o registro. Mas porque o Homem Aranha mudou de lado? Porque não foi dado o direito de defesa para os encarcerados, foram presos e automaticamente julgados sem qualquer direito a recursos, e ali ficariam nessa situação enquanto não se registrassem perante o governo, caso contrário seria prisão perpétua. O que o Ato de Registro nos mostra é a perda dos direitos civis do cidadão, independente de ser super poderoso ou não, mesmo para um civil comum ser contra lei e ajudar os não-registrados acaba correndo o risco de também ser preso e jogado em uma cadeia com os piores presidiários do país. A lei mexe muito com o patriotismo americano, bastante enraizado na sua cultura, todo aquele contra a lei, está contra o Estado e consequentemente contra a nação, que para se atingir um bem maior (que é regulamentação da atividade super humana), tanto governo como a grande massa (a maioria da população apoiava o Ato de Registro) acreditava que alguns sacrifícios eram inevitáveis tais como supressão de certos direitos civis e prejuízo a determinados grupos (é aqui que se encaixam os super heróis tanto registrados como foras da lei), como aconteceu durante a 2ª Grande Guerra no exemplo retirado do livro a História dos Estados Unidos: “O patriotismo estrito, fomentado em tempos de guerra, e os preconceitos raciais, há muito existentes, resultaram em violações contínuas de direitos civis, especialmente contra negros e a população nipo-americana.” (KARNAL, 2007: 176).

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Zona Negativa é universo paralelo, bastante desconhecido em sua maioria mas entre suas áreas mapeadas encontra-se Asgard, lar dos deuses nórdicos. Em boa parte deste universo é impossível para seres humanos comuns sobreviverem devido a sua atmosfera e aos diversos monstros que ali transitam livremente. Em um pedaço da Zona Negativa foi construída uma mega prisão para aonde todos os heróis e vilões não registrados foram transferidos, o modo como os presos foram tratados durante a Guerra Civil, sendo encarcerados nessa prisão, sem direito a advogados e ampla defesa, além de ser fora de território americano, pode ser pensada como os EUA trataram seus presos enviados a Guantánamo durante sua Guerra ao Terror pós 11 de setembro de 2001.

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4 – Problema Como a sociedade americana reagiu a essa supressão dos direitos civis na saga Guerra Civil da Marvel? 5 – Hipótese Como foi mostrado nos quadrinhos, principalmente nas primeiras edições da saga, boa parte da populção civil apoiou o Ato de Registro porque sempre temeram os poderes de seus heróis, a destruição material e as perdas civis que suas batalhas contra os vilões ou entre si acarretavam. Para piorar a situação havia a falta de controle do Estado americano em lidar com tamanho poderio de certos indivíduos, até mesmo deixando muitos deles agirem sem supervisão ou punição mais severa. A tragédia em Stamford reacendeu com muito mais intensidade o debate sobre até onde esses super seres podem agir sem o controle do Estado, por isso o Ato se fez necessário. Portanto reprimem-se as liberdades civis de se manterem no anonimato aqueles que muitas vezes arriscaram e perderam suas vidas salvando a cidade ou o mundo, por um bem maior que é a segurança da sociedade civil americana.

6 – Objetivos 

Geral

Analisar a perda dos direitos civis na saga Guerra Civil da Marvel.  –

Específicos Analisar as etapas do debate dos direitos civis nos EUA.



Analisar os grupos prejudicados pelo cerceamento dos seus direitos civis.



Analisar como a perda dos direitos civis é abordada dentro da saga Guerra Civil da Marvel.

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7 – Justificativa Procurei com esse trabalho mostrar como as histórias em quadrinhos podem ter importância na análise de como determinada sociedade age e pensa, no caso, a sociedade americana. Apesar de já existir outros trabalhos acadêmicos retratando a Guerra Civil da Marvel relacionando-a aos direitos civis nos EUA, meu projeto toca em pontos que não foram abordados nesses como a questão dos índios pós-independência dos EUA e os nipoamericanos durante a Segunda Guerra, por fim cito brevemente os negros e as mulheres. Usar os quadrinhos para explicar temas pouco abordados na história americana além de poder tornar a leitura mais interessante mostra a força que tais revistas exercem em uma sociedade e até mesmo no mundo. Como toda a obra escrita ela não é neutra, está carregada de ideais daqueles que a escrevem, estes podem inserir temas reais para provocar debates e questionamentos entre seus leitores sobre determinados problemas, como foram os atentados de 11 de setembro de 2001 e o medo do inimigo interno, já que os ataques foram dentro de suas fronteiras. A partir de casos como esse, personagens que vinham tendo histórias ruins/medianas como o Capitão América, por exemplo, ganharam novo fôlego e motivos para serem usados.

8 – Revisão da literatura O artigo do mestrando Victor Callari (“Política e terrorismo na série Guerra Civil da Marvel Comics”) procura mostrar como os atentados terroristas de 11 de setembro de 2001 influenciaram na criação, cinco anos depois, da saga Guerra Civil da Marvel que colocou não heróis contra vilões e sim herói contra herói, motivados pela lei aprovada pelo congresso americano que buscava registrar todo e qualquer indivíduo superpoderoso. O artigo é bem explicativo, deixando o leitor por dentro dos acontecimentos principais da história, com direito a várias imagens das histórias em quadrinhos ajudando dessa forma a entender melhor sobre o que o próprio Victor está querendo mostrar, faz uma boa analogia com o 11 de setembro, no qual motivou o congresso americano a aprovar o Patriot Act, lei essa que dava poderes quase que ilimitados para o governo americano mandar prender, investigar e grampear telefones de qualquer cidadão americano suspeito de ser ou apoiar os terroristas, depois de aprovada não precisava mais do apoio do senado para ser posta em

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prática, suspeitos eram presos e investigados sem passar por autorização da justiça já que tais decisões brutas tinham respaldo no Patriot Act. O livro “História dos Estados Unidos” (Leandro Karnal et al.) procura passar um panorama geral dos principais acontecimentos na história americana de forma sucinta, porém bem explicativa. O capítulo usado em meu artigo chamado “A Segunda Guerra e os EUA como ‘Word Cop’” conseguiu me mostrar uma história pouco conhecida, revelando que apesar do EUA estar combatendo as ditaduras europeias, dentro do seu próprio território tomava medidas arbitrárias contra os descendentes e imigrantes japoneses, com a desculpa de que apresentavam ameaça a segurança nacional. É possível entender bem como era a realidade dos nipo-americanos nos EUA durante a guerra e a hipocrisia americana, a imagem vendida para o mundo era que se sacrificaram em prol da democracia, dos direitos humanos e civis lutando na Europa, mas no seu próprio país colocavam em prática medidas totalmente inversas, tais atos só conseguiram serem implementados porque contaram com o apoio da maior parte da população. O trabalho de Luciana Zamprogne Chagas chamado “Capitão América: Interpretações Sócio-antropológicas de um Super-Herói de Histórias em Quadrinhos” mostra as várias fases do Capitão América, explicando desde sua origem ainda na Segunda Guerra, passando pelas tentativas fracassadas de dar continuidade ao personagem nas décadas de 50 e 60 até chegar aos dias atuais, e a autora do artigo fez questão de explicar bem esses fatos. Seu artigo não se resume a apenas explicar o contexto do Capitão com os fatos reais, aborda de forma resumida até as tentativas de explicar como surgiram os quadrinhos que depois se tornariam como conhecemos atualmente. O personagem como dito anteriormente foi criado durante uma guerra, para motivar os jovens a defender seu país, o Capitão sempre foi conhecido como o “Sentinela da Liberdade”, com seu escudo que é uma forma de “só ataca para se defender”, lema bastante usado pelo governo americano durante sua história. Aline Martins já no início de seu artigo (“A Segunda Guerra Mundial na Linguagem dos Quadrinhos. Capitão América: “A Sentinela da Liberdade” ou “O Defensor da América para os Americanos”?”) resume bem o estigma do personagem, apesar de levar América no nome foi sempre criticado por representar não um continente americano e sim os ideais dos Estados Unidos, a começar pela coloração de sua roupa que remete as cores da bandeira do seu próprio país.

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Apresenta alguns personagens da mitologia do Capitão, como Barão Zemo, seu principal inimigo o Caveira Vermelha e por fim seu “Robin”1, Buck Barnes. É interessante notar como os nazistas foram representados como figuras deformadas, como por exemplo, o Caveira Vermelha com sua famosa máscara de caveira, um tanto estranho vindo de uma nação que pregava a perfeição sob a forma da raça ariana, mas como Aline bem destaca usando uma citação de terceiros, as histórias do Capitão foram escritas por americanos e não pelos nazistas, portanto precisavam mostrar o qual perigoso eram os inimigos da liberdade e usando desses artifícios tornava fácil a popularidade do personagem americano e legitimando ainda mais sua luta.

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Quando a Timely Comics (que depois viria se chamar Marvel Comics) criou o Capitão já existia outro personagem da sua principal concorrente DC chamado Batman que possuía um ajudante de nome Robin e nesse período era bem popular entre os leitores o personagem principal possuir ajudantes, seguindo a tendência a Marvel decidiu pela criação de Buck Barnes.

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9 – Metodologia Busquei entre os vários artigos lidos sobre o tema Guerra Civil da Marvel algo que estivesse faltando para eu poder me aprofundar e com a ajuda do livro História dos Estados Unidos pude enfim achar meu tema, apesar destes artigos retratarem a perda dos direitos civis de determinados grupos, nenhum deles tocou no foco principal de meu artigo que era a situação dos japoneses e seus descendentes durante a Segunda Guerra Mundial, não obstante pude relacionar também a situação dos direitos civis da população indígena após a independência americana. Não me limitei a ler apenas artigos referentes à Guerra Civil da Marvel, li também alguns que tratavam sobre as hqs durante a Segunda Guerra e o personagem Capitão América. De todos os capítulos de História dos Estados Unidos usei apenas aqueles que abordassem temas relativos aos direitos civis. Sobre as hqs, conforme eu lia, selecionava as revistas mais importantes, acrescentava mais textos ao meu trabalho ou destacava as hqs que teriam fator relevante em uma pasta separada para posteriormente retirar algo de útil das mesmas. Fiz cada tópico primeiro em arquivos separados, desse modo tive mais tranquilidade para escrever, terminado, o tópico era copiado e colado ao corpo do trabalho principal, e se fosse o caso era formatado para ficar de acordo com as normas ABNT.

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10 – Cronograma

Atividades Levantamento bibliográfico Fichamento dos textos selecionados Redação do relatório Apresentação e discussão dos dados Entrega do TCC

Fevereiro x

Março x x x

Abril x x x x

Maio x

Junho

Julho

x x

x x

x x

11 - Bibliografia

11.1 Histórias em quadrinhos BENDIS, Brian et al. Guerra Civil: A Iniciativa. Nova York. 2007. BENDIS, Brian et al. Novos Vingadores: Iluminati #31. Nova York. 2006. BENDIS, Brian; MALEEV, Alex. Guerra Civil: A Confissão. Nova York. 2007. BENDIS, Michael et al. Novos Vingadores #21 a 23 . Nova York. 2006. BRUBAKER, Ed et al. Soldado Invernal: Matança Invernal #01. Nova York. 2007. BRUBAKER, Ed; PERKINS, Mike. Capitão América #22 a 24. Nova York. 2006-2007. CUEVAS, Carlos et al. Wolverine #42 a 48. Nova York. 2006-2007. D’ARMATA, Frank et al. Cavaleiro da Lua #07 a 09. Nova York. 2007. DE LA TORRE, Roberto; REED, Brian. Miss Marvel #06 a 08. Nova York. 2006. FRACTION, Matt et al. Justiceiro: Diário de Guerra #01 a 03. Nova York. 2007. GAGE, Christos et al. Homem de Ferro e Capitão América Guerra Civil: Casualidades da Guerra. S.a. GARNEY, Michael et al. O Espetacular Homem-Aranha #529 a 538. S.a. GRAY, Justin et al. Heróis de Aluguel #01 a 03. Nova York. 2006.

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GRUMMETT, Tom; NICEZA, Fabian. Thunderbolts #103 a 105. Nova York. 2006. HINE, David et al. X-Men #01 a 04. Nova York. 2006. HUDLIN, Reginald et al. Pantera Negra #18 a 25. Nova York. 2006-2007. JENKIS, Paul et al. Frontline #01 a 11. S.a. JENKIS, Paul et al. Guerra Civil: O Retorno #01. Nova York. 2007. JOHNSON, Staz et al. Cable e Deadpool #30 a 32. Nova York. 2006. JOHNSON, Staz et al. Guerra Civil: Crimes de Guerra. S.a. KNAUF, Charles et al. Homem de Ferro #13 e 14. Nova York. 2006-2007. MARVEL WIKIA. Zona Negativa. Disponível em: http://ptbr.marvel.wikia.com/wiki/Zona_Negativa. Acesso em: 06 de Abril. 2016 MCKONE, Mike et al. Quarteto Fantástico # 536 a 543. Nova York. 2006. MILLAR, Mark; McNIVEN, Steve. Guerra Civil. Barueri: Panini Books, 2010. SLOT, Dan et al. Mulher-Hulk #08. Nova York. 2006.

11.2 Referências historiográficas CHAGAS, Luciana Zamprogne. Capitão América: Interpretações Sócio-antropológicas de um Super-Herói de Histórias em Quadrinhos. In: SINAIS - Revista Eletrônica, v. 1, n. 3, p. 134162, 2008. KARNAL, Leandro et al. História dos Estados Unidos. Contexto. 2007. SANTOS, Aline Martins. A Segunda Guerra Mundial na Linguagem dos Quadrinhos. Capitão América: “A Sentinela da Liberdade” ou “O Defensor da América para os Americanos”?. 15 f. Monografia – Graduação em História, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro. S.a. [Orientador: Prof. Dr. Luís Edmundo de Souza Moraes]. SUPER Cronologia dos Comick Books. HQCD. São Paulo: Nova Sampa, 1997. In: DANTON, 2000.

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VIANA, Nildo. Heróis e super-heróis no mundo dos quadrinhos. Rio de Janeiro: Achiamé, 2005.

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