Os testemunhos fotográficos de Jean Laurent na Batalha em 1869

July 7, 2017 | Autor: Miguel Portela | Categoria: Fotografia, Historia Regional, Historia Local, História Local e Regional, Batalha
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Jornal da Golpilheira

. entrevista . sugestões de leitura . história .

17

Junho de 2015

.história.

Proibido António Costa Santos Guerra e Paz Editores Esgotado há algum tempo, Proibido continua a ser um dos livros mais procurados pelos leitores. Já imaginou viver num país onde uma mulher, para viajar, precisa de autorização escrita do marido? Como será a vida num país onde meçam o comprimento das saias das raparigas à entrada da escola, para que os joelhos não apareçam? Imagina-se a viver numa terra onde não pode ler o que lhe apetece, ouvir a música que quer, ou até dormitar num banco de jardim? Já nos esquecemos, mas ainda há poucos anos tudo isto era proibido em Portugal. Tudo isto e muito mais, como dar um beijo em público. O beijo na boca era qualificado de acto exibicionista atentatório da moral. Levado para a esquadra, ou para o posto da GNR, o delinquente beijoqueiro era autuado em pelo menos 57 escudos, e passava invariavelmente pela cadeira do agente-barbeiro, de onde saía de cabeça rapada, máquina zero. Esta e outras histórias estão disponíveis na reedição de Proibido. Muito mais do que um livro, é uma viagem e um exercício para a sua imaginação.

José de Guimarães: Um Museu com a Forma do Mundo Diálogo com José Jorge Letria Guerra e Paz Editores | o fio da memória José de Guimarães é o criador de um dos mais singulares e originais universos plásticos das artes visuais portuguesas. Nesta conversa com José Jorge Letria, o artista revisita a sua infância – «a minha mãe desenhava tão bem» – revela as suas influências, evocando a sua relação com a escultura dos povos angolanos ou com a estética mexicana. Fala dos museus, e do seu museu ideal, aquele que tenha a forma do mundo. A crítica, as galerias, a forma como os governos pensam a cultura e a relação com as artes são temas debatidos com vivacidade e originalidade. E este livro, José de Guimarães: Um Museu com a Forma do Mundo, é também um álbum de fotografias de vida e obra.

Miguel Portela Investigador

Os testemunhos fotográficos de Jean Laurent na Batalha em 1869 Ilust. 1 - Vista do Mosteiro da Batalha por Jean Laurent em 1869, in Redol, Pedro e Olindo, Jorge, Arquitectura civil quinhentista da Batalha: Três peças notáveis, Cadernos de Estudos Leirienses, Editor: Carlos Fernandes, Textiverso, Maio-2015, p. 295.

Jean Laurent, fotógrafo francês, nascido em 1816 em Garchizy (Nièvre, França) foi o mais exímio dos fotógrafos do seu tempo, tendo efetuado um vastíssimo levantamento de imagens de povoações e obras de arquitetura em Espanha e em Portugal. O seu espólio de imagens é considerado o mais representativo, de entre os produzidos pelos fotógrafos do seu tempo, do território peninsular no século XIX. Fixado em Madrid em 1843, iniciara o seu interesse pela Arte Fotográfica em 1855, sendo que um ano mais tarde tinha já um estúdio fotográfico no centro da capital espanhola (ARAÚJO, Nuno, A singular viagem do fotógrafo Jean Laurent a Portugal, em 1869, Centro de Investigação Transdisciplinar - Cultura, Espaço e Memória, n.º 1, Porto e Braga, 2010, pp. 87-108). Foi membro da Société Française de Photographie entre 1859 e 1886, tendo participado em várias exposições, destacando-se, entre outras, a London Photographic Society Exhibition, em 1858, e a Exposition Universelle de Paris, em 1867 e 1878. Nesta época, em Portugal, tal como no resto da Europa, os estúdios fotográficos proliferavam de forma relevante, fruto da importância e prestígio que esta nova Arte adquirira na sociedade de antanho (TAVARES, Emília, O retrato: Entre pose e posses, entre a fotografia e a pintura, Ensaio no âmbito do catálogo Columbano, Leya/Museu Nacional de Arte Contemporânea – Ministério da Cultura, 2010, pp. 70-85; TAVARES, Emília, Arqueologia de uma prática científica em Portugal – uma história da fotografia, Revista da Faculdade de Letras, História, Porto, 2005, III Série, vol. 6, pp. 169-183). Jean Laurent deslocou-se a Portugal, onde esteve desde o final do inverno até meados da primavera de 1869. Viajou de comboio pelo país fazendo-se acompanhar

de um pequeno carro-laboratório que, quando necessário, era puxado por tração animal (cavalo ou mula). Todo o seu equipamento laboratorial fotográfico implicava, na maioria das vezes, que o fotógrafo se fizesse acompanhar por um ou mais assistentes, que certamente o auxiliavam nas mais diversas funções. O periódico Diário Popular n.º 918, datado de 16 de abril de 1869, situa a sua presença na capital da seguinte forma: «Está em Lisboa, mr. Laurent, photographo francez muito notável. Tivemos occasião de ver alguns trabalhos d’este artista que gosa de grande reputação em Madrid onde se acha estabelecido, e maravilhou-nos a perfeita execução de todos elles.».

Quando chegava a uma região que pretendia fotografar, descarregava o seu apetrechamento móvel e alugava o veículo de tração animal disponível e essencial para fazer deslocar toda uma panóplia laboratorial. A lista das suas fotografias tiradas em Portugal foi publicada pela primeira vez na edição de 1872 do catálogo de Laurent, onde constam locais como: Lisboa, Sintra, Palácio da Pena e Monserrate, Mafra, Alcobaça, Batalha, Tomar, Coimbra, Porto, Braga, Guimarães, Setúbal e Évora (LAURENT, Jean, L’Espagne et le Portugal au point de vue artistique, monumental et pittoresque. Catalogue, Madrid e Paris, 1872, pp. 165-168). Na sua digressão por Portugal

Ilust. 2 - Pormenor colhido na imagem do Mosteiro da Batalha por Jean Laurent em 1869, in Redol, Pedro e Olindo, Jorge, Op. Cit., p. 295.

efetuou paragem em Alcobaça, onde fotografou o mosteiro, tendo depois visitado a vila da Batalha, onde registou um maior número de registos fotográficos, nomeadamente do mosteiro de Santa Maria da Vitória. Das imagens colhidas por Jean Laurent em Portugal, chegaram aos dias de hoje pouco mais de duas centenas, estando as mesmas preservadas sob tutela do Instituto del Património Cultural de España (Fototeca - Archivo Ruiz Vernacci). Nesta época, Leiria evidenciava-se como uma região pioneira na Arte Fotográfica, onde residiam e passavam fotógrafos nacionais e estrangeiros. Estes deliciavam a sua clientela fotografando famílias, personalidades locais, edifícios públicos e religiosos ou mesmo paisagens. Miguel Nasi, Soupene, D. Joaquim Maria Izidro Forcada de Mendonça, Jacques Wunderli, George Moure, João Rodrigues da Silva ou mesmo Carlos Relvas, são alguns nomes de fotógrafos que encontramos referenciados na imprensa regional (JORGE, José Luís, No princípio: os primórdios da fotografia em Leiria, Cadernos de Estudos Leirienses, Editor: Carlos Fernandes, Textiverso, Maio-2015, pp. 229-244). Em Alcobaça ficou célebre o fotógrafo Francisco Teixeira de Araújo que aí residiu e deixou um espólio notável desse território (Arquivo Distrital de Leiria, Livro de Batismos de Alcobaça, 1873, fl. 37v., datado de 15 de janeiro de 1873). Estas imagens que podemos admirar são verdadeiros ícones da nossa História, reforçando valores pátrios que emanam o apego ao sentimentalismo tradicional e apego à vila e mosteiro da Batalha. Elas são um elemento verdadeiramente essencial na construção do conhecimento histórico de um passado recente, tornando-se documentos de extrema relevância para a edificação da nossa identidade histórica, social e cultural que requerem uma maior atenção de todos nós.

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