Osborne Macharia – Arte como esperança por

May 26, 2017 | Autor: Rafael Gonzaga | Categoria: História da arte, História da África, História do Quênia
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Osborne Macharia – Arte como esperança por Rafael Gonzaga de Macedo A República do Quênia é um país localizado na África Oriental, cercada por países como Sudão do Sul, Etiópia, Somália, Tanzânia e Uganda. Boa parte desta região pertenceu ao Império Britânico entre o final do 19 e primeira metade do século 20, quando após a Segunda Guerra Mundial o movimento de independência e o enfraquecimento da Inglaterra permitiram a independência do país em 1963. O Quênia compartilha de uma história semelhante à de muitas outras regiões das Áfricas. O escritor queniano Ngũgĩ wa Thiong’o, no livro Sonhos em tempo de guerra – memórias de infância (Biblioteca Azul 2015), descreve de forma soberba a maneira como sua cultura e sua família foram enlaçadas pelos tentáculos coloniais da administração inglesa bem como pelo seu braço missionário. Para citar um exemplo: após o usufruto ancestral de uma determinada porção de terra, seu pai, um pequeno produtor rural, descobriu por intermédio da administração colonial inglesa, que ele e sua família já não eram “donos” daquela terra que cultivavam a inúmeras gerações, agora ela pertencia à uma

grande empresa estrangeira que pretendia

transformá-la em uma grande propriedade monocultora de exportação de matéria prima. É sob este pano de fundo que eu gostaria de falar da obra artística Macicio (pronuncia-se mashishio) dos artistas quenianos Osborne Macharia e XXXXX. Já se tornou lugar comum falar que a história é contada pelos vencedores, entretanto, o fato de se tornar um chavão não diminui sua verdade. E o projeto Macicio trata quase que exatamente disso. Mas em um sentido inverso. A independência do Quênia foi conquistada através da luta do grupo de guerrilheiros Mau Mau, que eram pintados pela opinião pública inglesa como membros de uma seita secreta, supersticiosos, primitivos e tradicionais (este último termo era contrastado com o “moderno”, maneira como os próprios colonizadores se representavam para se diferenciar dos colonizados).

E Macicio - que em kikuyu, língua mãe dos artistas, significa algo como óculos/espetáculo - é um esforço dos artistas para reescrever a história do Quênia a partir da narrativa ficcional. Macicio inventa e descreve uma unidade especial dos Mau Mau, responsáveis pela criação de óculos mágicos, que permitissem aos guerrilheiros observarem seus inimigos durante a noite. O motivo para isso é que, segundo o próprio Osborne, em uma entrevista para o Afreaka, tudo o que sabíamos dos Mau Mau chegaram a nós por meio dos filtros e dos olhos dos colonizadores.

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