Oscar Wilde: o crítico da moral

September 5, 2017 | Autor: Aline Castaman | Categoria: Oscar Wilde
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OSCAR WILDE: O CRÍTICO DA MORAL



Aline Castaman[1]




ABSTRACT


This paper presents some of Oscar Wilde´s works which had been much
influenced by the Victorian Society and how his qualities as a poet had
bewildered the people of his time. The article briefly analyzes how Wilde's
artistic mood still resounds in our days through his gloomy and fine
literary discourse on love, individuality, selfishness and, friendship.

Oscar Wilde, dramaturgo, poeta, novelista, romancista e contista
irlandês, encantou platéias e leitores por transgredir a moral vigente da
era vitoriana, e que por ironia foi condenado pela mesma moral que o
criticou. Dedicou sua vida à criação intelectual, à arte pela arte e à
contemplação do belo como algo de superior importância na sua vida. Wilde
foi um escritor de qualidade singular. "Encantador" foi a palavra escolhida
por Borges ao definir o poeta irlandês no seu Ensayos e Dyalogos, além de
referir-se aos escritos do autor como sendo tão atuais, que "poderiam ter
sido escritos esta manhã" (J. L. Borges. 2001, p. 459 Vol. IV). Sua obra
revela um universo de aparências, formas e cores como numa graciosa pintura
de Renoir, mas tão intrigante e/ou perturbadora como as gravuras de Goya.
Wilde contrapõe-se ao pensamento frívolo de boa parte da era vitoriana,
servindo-se da ironia que suas peças, contos, críticas e ensaios mordazes
estão impregnados. Este poeta transgressor de sensibilidade acentuada
apresentou cenas privadas da vida da alta sociedade inglesa, esteve atento
ao pensamento do homem comprometido com questões de ordem moral, e são as
críticas de cunho moral que permeiam sua obra literária por meio de
metáforas, de elogios à futilidade latente, de personagens de caráter
moralista recheados de superficialidade. Conforme as palavras de Roberto
Pires[2] (2000, p.11):


Oscar Wilde fazia o elogio da superficialidade para
penetrar mais fundo nas mentalidades e no sentido de sua
época. Cem anos depois de sua morte, esta atitude
sobrevive quase intacta, já que os tempos são outros, mas
permanece o mesmo mundo centrado na imagem e na
celebridade, na ostentação de maridos, mulheres, meninas e
meninos ideais.


O melhor deste poeta irlandês é o como ele explora e critica o mundo
movido pelas aparências através de uma linguagem artisticamente elaborada e
aplicada como instrumento para deleitar-se execrando parte da sociedade
inglesa. Legou-nos aforismos críticos ao sugerir o seu desprezo pela
hipocrisia latente de boa parte da sociedade de que era contemporâneo. Sua
obra é capaz de causar, entre distintas impressões, o desconforto como
também provocar a hilaridade, nos envolvendo numa narrativa fluida, rica em
malícia e crítica elevadas a um requinte de alto nível. Mesmo sendo
conhecido como o crítico da moral vigente de sua época, Wilde dizia com
sagacidade que a moral não o ajudava, pois se sentia feito para as exceções
e não para as regras. Considerava a intenção de moralizar através da
expressão artística, algo perigoso a se fazer, podendo ela ser corruptiva.
No entanto, se suas narrativas estão rodeadas dessa corrupção moral, ele as
escreve mantendo uma atmosfera do vago, do indeterminado, do maravilhoso
(Oscar Wilde, 1961, p.1327), e que através da agudeza de seu discurso
invade nosso imaginário promovendo uma apreciação, uma reflexão que nos
fazem revelar a nós mesmos.
Os autores que se debruçaram sobre a obra de Wilde dificilmente
escaparam de falar sobre sua vida, pela suposição de não haver distinção
entre a vida e a obra de Oscar Wilde no que tange a moral. Há vários
exemplos no todo de sua obra para nos inclinarmos nesta direção, contudo,
partiremos de alguns contos e ensaios para melhor discorrer sobre seu
pensamento e a época em que viveu. Estes contos, em forma de fábulas,
ilustram artisticamente o comportamento humano envolvendo valores
considerados fundamentais e de algum modo morais. De acordo com Hegel, a
fábula deve carregar certa ingenuidade para parecer não ter sido escrita
com a intenção de moralizar. Assim, a essência da fábula estaria em pôr os
animais falando e agindo como seres humanos de modo a sugerir uma reflexão
sobre o comportamento humano:

A parte de entretenimento da fábula está na narrativa que
mistura a ironia e a séria amargura do assunto e que dá
uma fiel e excelente representação do que acontece na
comunidade humana, transpondo-a para o mundo animal; e
neste mundo animal a fábula reúne infindas observações e
histórias divertidas de tal modo que, apesar da sua
agressiva rudeza, nos deixa a impressão de termos em
frente dos olhos uma brincadeira que não é perniciosa nem
arbitrária, mas deve, antes, ser considerada muito
seriamente. (Hegel, 1996 p. 436)


Seus contos transitam entre a beleza da expressão literária e a
tristeza impregnada que como uma avalanche desmonta a falsa moral de forma
arrasadora como podemos notar nesta passagem do conto O Amigo Dedicado:


Os patinhos estavam nadando na lagoa, semelhantes a um
bando de canários amarelos, e sua mãe, toda branca com
patas vermelhas, esforçava-se por ensinar-lhes a manter a
cabeça dentro d'água. "Vocês nunca pertencerão à alta
sociedade se não aprenderem a manter a cabeça dentro
d'água" - dizia-lhes. E de vez em quando, lhes mostrava
como se fazia. Mas os patinhos não lhe davam atenção. Eram
tão jovens que não compreendiam as vantagens de freqüentar
a sociedade. [3] (Oscar Wilde, 1961, p. 248)

O Amigo Dedicado faz parte da compilação de O Príncipe Feliz e outros
contos. Esta primeira coletânea foi publicada em 1888, dois anos antes da
primeira versão de O Retrato de Dorian Gray surgir em julho de 1890 na
Lippincott´s Magazine, e foi dedicada aos filhos Cyril e Vyvian frutos do
casamento com Constance Loyd. A pequena história é narrada por um pássaro
em resposta ao comentário do Rato d'água sobre a nobreza e a raridade de
uma amizade dedicada. Assim, o Pintarroxo conta artisticamente a relação de
amizade entre Hugh e o pequeno Hans ao Rato d'água. Hugh tinha o costume de
visitar Hans, e por vezes discorriam sobre assuntos diversos, e sua
argumentação sobre a amizade verdadeira e a beleza das flores fazia o tom
de seu discurso bastante peculiar. Em suas visitas, o abastado moleiro
abarrotava a cesta das flores mais viçosas que desabrochavam no jardim de
Hans, e que ele as cultivava e vendia na feira local para o seu sustento.
Com a chegada do inverno, pequeno Hans ficou impossibilitado de produzir o
suficiente, e por isso teve de vender alguns pertences, em particular, o
seu carrinho de mão, o qual tinha grande serventia para deslocar suas
flores até o mercado. No inverno, Hugh não costumava visitar o amigo, pois,

(...) quando as pessoas se acham em apuros, devem ser
deixadas sozinhas e não serem incomodadas com visitas.
Esta, pelo menos, é a idéia que faço de amizade, e tenho
certeza de estar certo. Esperarei, portanto, que chegue a
primavera, e então lhe farei uma visita, e ele poderá dar-
me um cesto grande de primaveras, coisa que bastante o
alegrará. (Oscar Wilde, 1961, p.249)[4]


No início da primavera, Hugh dirigiu-se a casa de Hans, que lamentou
sobre as dificuldades passadas durante o inverno penoso e o tanto que teria
de trabalhar para reaver seus pertences. Hugh, prontamente, lhe oferece um
carrinho de mão,

Não está lá em muito bom estado; na verdade, já não tem um
dos lados, e quebraram-se os raios da roda; apesar disso,
entretanto, eu lhe darei. Reconheço que isso é muito
generoso de minha parte, e muita gente me julgará
excessivamente tolo por desfazer-me dele, mas não sou como
o resto do mundo. Entendo que a generosidade é a essência
da amizade e, além disso, arranjei um carrinho novo para
mim. Sim, podes ficar tranqüilo, que lhe darei o meu
carrinho de mão. (Oscar Wilde, 1961, p. 251)[5]

E por trás deste presente, que nunca chegou às mãos de Hans realmente,
vieram pedidos e mais pedidos de favores os quais acarretaram na morte
prematura do pequeno Hans:


Foi uma grande perda, sobretudo para mim – replicou o
moleiro. Posso afirmar que fui bastante bom, comprometendo-
me em dar-lhe meu carrinho de mão, e agora nem sei o que
fazer com ele. Atravanca minha casa, e está em tão más
condições que se o vendesse, não lucraria nada. Asseguro a
vocês que daqui por diante não darei nada a ninguém. A
gente sempre acaba sofrendo por ser generoso. (Oscar
Wilde, 1961, p.256). [6]




Este conto expressa a relação de uma amizade em valores que na
narrativa de Wilde se distinguem pelas suas condições sócio-econômicas, bem
como seus princípios éticos e morais bastante distintos. A transposição
para a narrativa do papel subversivo das instituições religiosas e do
sistema educacional sobre as pessoas também é sugerido nas passagens que
seguem:


É uma verdadeira delícia ouvi-lo falar sobe a amizade,
disse a mulher do moleiro. Estou certa de que nem o
próprio clérigo seria capaz de dizer coisas tão bonitas
como as que você diz, embora more numa casa de três
andares e use um anel de ouro no dedo mindinho. (...) Que
menino bobo és tu! – bradou o Moleiro - Francamente, não
sei para que serve mandar-te à escola! Parece que não
aprendes nada! Ora, se o pequeno Hans viesse aqui, e visse
nosso ardente fogo, nossa boa ceia, e o nosso grande
barril de vinho tinto, poderia sentir inveja, e a inveja é
uma coisa terrível, que estragaria qualquer pessoa. Não
permitirei, certamente, que o caráter de Hans venha a ser
prejudicado. Sou o seu melhor amigo, e velarei sempre por
ele e terei todo o cuidado em não expô-lo a nenhuma
tentação. Além disso, se Hans viesse aqui, poderia pedir-
me que lhe desse fiado, um pouco de farinha e isso eu não
poderia fazer. Farinha é uma coisa e a amizade é outra e
não devem ser confundidas' (...) Como você fala bem! –
observou a Esposa do Moleiro, enchendo o copázio de
cerveja quente - Sinto-me até como que adormecida. O mesmo
que se estivesse na Igreja. (Oscar Wilde, 1961, p. 250).
[7]

Hugh adverte seu filho, quando este expressa a vontade de ajudar de
alguma forma o amigo do pai num tom moralizante, de forma a contribuir para
a formação dos princípios morais de seu filho. Além disso, como se vê na
passagem, a inveja corromperia e provocaria a ira do pequeno Hans, já que
Hugh demonstra estar preocupado com a possibilidade de Hans invejar suas
posses. É melhor para Hans se manter ignorante da farta mesa do moleiro,
uma vez que o pequeno Hans enfrenta dificuldades financeiras devido ao
inverno rigoroso, além de não ser possuidor de tamanha fartura. Desse modo,
o autor, de O Amigo Dedicado, nos mostra a total ausência de generosidade e
solidariedade por parte de Hugh, sem deixar de observar a atitude
oportunista que no início se insinua através de uma troca de favores, e que
no decorrer do conto beira a servidão. Segundo Wilde, no ensaio A Alma do
Homem sob o Socialismo, esta falta de solidariedade no mundo moderno se
atribui em grande parte à competitividade, pois, a pressão da concorrência
e luta por oportunidades torna rara essa solidariedade, que é também
sufocada pelo ideal moral de uniformização e conformação à norma, o qual
prevalece em toda parte, mas que talvez seja mais condenável na Inglaterra.
(Oscar Wilde, 2003, p. 77)[8] Constata-se aí a idéia de que o sistema de
ordem capitalista parece devorar o humano a fim de assegurar o lucro a
qualquer custo. Pois, as mudanças ocorridas no âmbito político e religioso
depois do advento da Reforma Protestante, assim como a criação dos Estados
Nacionais e todas as grandes transformações ocorridas a partir do século
XVII, acabaram por culminar no indivíduo econômico e numa sociedade que se
projeta para dar importância ao ter mais do que ser. Max Weber impressiona
ao discorrer sobre a força do espírito capitalista sobre a sociedade em A
Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo:


A economia capitalista moderna é um imenso cosmos no qual
o indivíduo nasce, e que se lhe afigura, ao menos como
indivíduo, como uma ordem de coisas inalterável, na qual
ele tem de viver. Ela força o indivíduo, na medida em que
ele esteja envolvido no sistema de relações de mercado, a
se conformar às regras de comportamento capitalistas.
(...) O capitalismo atual, que veio para dominar a vida
econômica, educa e seleciona os sujeitos de quem precisa,
mediante o processo de sobrevivência do mais apto. (...)
Para que tal modo de vida, tão bem adequado às
peculiaridades do capitalismo, pudesse ser selecionado,
isto é, viesse a sobrepujar os outros, ele teve de se
originar em algum lugar, não em indivíduos isolados, mas
como modo de vida de inteiros grupos humanos. (Max Weber,
2007, p.52)

De uma maneira também muito particular, O Rouxinol e a Rosa, outro
conto da compilação de O Príncipe Feliz e outros contos, aborda a
frivolidade e a leviandade das relações pessoais, as escolhas das
personagens em função de seus interesses em contraposição ao ideal de amor.
E mais uma vez, o dinheiro parece ocupar um lugar de grande relevância na
sociedade ali retratada, avilta o ideal de amor e aniquila os sentimentos
de forma arrasadora. Nele, o contista traz as lamúrias de um estudante que
por não possuir uma rosa vermelha em seu jardim, fica impedido de dançar no
baile do príncipe com a menina por quem se apaixonou. O rouxinol se
sensibiliza ao escutar tais lamentações, e lança-se à morte para dar vida a
rosa vermelha e principalmente por acreditar no ideal do amor. Na manhã
seguinte, o estudante ao abrir a janela do quarto vê a rosa em seu jardim e
rapidamente dirige-se à casa da menina. No entanto, chega tarde demais, e
triste, o estudante volta para seu quarto e se depara com a inutilidade do
amor, retomando os estudos em busca de respostas lógicas sobre a vida:


'Infelizmente, não combina com o meu vestido e, além
disso, o sobrinho do Camareiro enviou-me várias jóias
verdadeiras e todos sabem que jóias valem mais do que
flores'. 'Que ingrata!' – disse o Estudante, com raiva. E
atirou a rosa na rua, onde caiu na sarjeta e uma roda de
carro a esmagou. 'Ingrata?' – disse a moça. – 'Pois digo-
te uma coisa: não passas dum grosseirão! E, afinal de
contas, quem és tu? Um simples estudante! Ora, nem sequer
acredito que tenhas comprado fivelas prateadas para os
teus sapatos de baile, como o sobrinho do Camareiro
comprou. ' – e, levantando-se da cadeira, entrou em casa.
(Oscar Wilde, 1961, p. 243)[9]


Wilde tinha uma apreensão estética, um espírito artístico que, na era
vitoriana, assombrou os tempos de hipocrisia que embalavam os juízos de
valor de sua época. Em O Rouxinol e a Rosa, parece haver um homem
desprezado por Wilde, homem este sufocado por um ideal moral de
uniformização, onde o amor é assombrado pelo utilitarismo e o imediatismo:


Que coisa ridícula é o amor! – declarou o Estudante,
enquanto se distanciava. – Não é, nem pela metade, tão
útil quanto à lógica: nada prova e está sempre a falar-nos
de coisas que não vão suceder, a fazer-nos crer em coisas
que não são reais. Na verdade, é nada prático e, neste
século, a utilidade é tudo. Voltarei à filosofia e ao
estudo da metafísica. (Oscar Wilde, 1961, p.243)[10]

Em outra passagem deste mesmo conto, o estudante faz uma analogia
entre as belas notas do canto do rouxinol com os artistas, e os supõem como
pessoas egoístas e hipócritas. O sujeito poético traz à superfície o
pensamento do estudante conformando-se a idéia de que a Arte, ali
representada pela música do rouxinol, tem uma utilidade prática e/ou
finalidade. E ironicamente, mostra sua inquietude frente ao julgamento que
algumas pessoas fazem sobre os artistas, por adotarem a diferença como um
aspecto imperativo para se viver e se criar artisticamente. Não obstante,
Wilde infere que promover a diferença não é de forma alguma ser um
indivíduo egoísta. Conforme seu pensamento, egoísmo é, de fato, supor que
as pessoas vivam ou pensem da mesma maneira que elas pensam ou vivem, ou
melhor, egoísmo não significa viver como se deseja, mas sim pedir aos
outros que vivam como se deseja.(Oscar Wilde, 2003, p. 75)[11] :


Tem estilo – disse a si mesmo, enquanto atravessava o
bosque. – Isto não se lhe pode negar. Mas tem sentimento?
Receio que não. É de fato como muitos artistas: é todo
estilo, sem nenhuma sinceridade. Não se sacrificaria pelos
outros. Pensa unicamente na música; todos sabem como as
artes são egoístas. Entretanto, é preciso admitir que sua
voz possui lindas notas. É pena que nada signifiquem ou
produzam algum bem prático! (Oscar Wilde, 1961 p.241)[12]



O amor e toda a sua fragilidade, matéria de grande reflexão pelos
poetas desde a Antiguidade, é transposto por Wilde de forma atroz e
penetrante neste conto em particular, sendo a amargura refletida
esteticamente a nossa principal companhia. Para Wilde, porém, o amor tinha
outra dimensão: não é algo que possa ser negociado num mercado ou pesado na
balança de mascate. Sua alegria, como as alegrias do espírito, é sentir que
está vivo. O único objetivo do amor é amar. (Oscar Wilde, 2006, p.57) Nesta
época, este poeta, nada conveniente ao "bom senso" da época, nem imaginava
que escreveria tão profundamente sobre o "amor" em folhas de papel azul que
lhe entregavam uma a uma na prisão de Reading. Oscar Wilde fora condenado
pelo relacionamento "amoral" com Sir Douglas, ou Bosie como costumavam
chamá-lo. Segundo seu filho, Vyvian Holland, o ensaio De Profundis,
publicado em 1905, havia sido redigido em forma de cartas a Sir Alfred
Douglas durante os últimos meses em que ficara na prisão em 1897. Conforme
o Ato de Emenda a Lei Criminal do ano de 1885, seriam condenados à prisão
os homens que tivessem relacionamentos homossexuais. Wilde conheceu o belo
aristocrata em 1891, na mesma época em que publicara A Alma do Homem sob o
Socialismo, e O Retrato de Dorian Gray. Sua vida teve muitas oscilações, e
como confessara em De Profundis, houveram dois momentos singulares que o
marcariam para sempre, o primeiro quando mudou-se para Oxford e o outro
quando fora para a prisão. Wilde era um homem irreverente. O dandismo, em
toda sua pompa, aproxima-se e muito da vida de Oscar Wilde, conhecido como
aquele que ostentava uma vida luxuosa, o dândi que ocupava-se da
toalete[13] e do apreço pelos acessórios, que recusava-se a vida burguesa e
alimentava o espírito reformulando uma nova aristocracia calcada num
temperamento, num estilo, na individualidade e não mais na linhagem ou no
dinheiro. Segundo Michelle Perrot:


De origem britânica e essência aristocrática, o dandismo
toma a distinção como o próprio princípio de seu
funcionamento (...) Homem público, o dândi, ator do teatro
urbano, protege sua individualidade por trás da máscara de
uma aparência que ele tenta tornar indecifrável. Ele
alimenta o gosto da ilusão e do disfarce,... (Michelle
Perrot, 1991, p. 296)

Wilde teve seu primeiro reconhecimento aos 20 anos quando estudava os
poetas helenos no Trinitty College, e por várias vezes recebeu homenagens
pelos trabalhos em literatura grega e latina. Era reconhecido como um homem
habilidoso na arte da conversação e original nas frases de efeito. Suas
preocupações estavam voltadas para o Belo, sendo este o aspecto mais
importante na obra de Oscar Wilde, o fato de que sua obra distingue-se
fundamentalmente por dirigir-se para o Belo. O Belo na obra de Oscar Wilde
está no exercício de criticar a moralidade vigente de sua época, e que ela
deixa transparecer na grandeza das ações humanas, próprias da moral. Estas
características do seu pensamento permearam sua vida e se estenderam ao
talento que possuía com as palavras. Estabeleceu relações entre o
Individualismo e a Arte de forma singular, onde a Arte, por excelência,
ocupa um lugar único e simbólico, sendo ela a representação suprema do
Individualismo e o senso comum seu inimigo:


Uma obra de arte é o resultado singular de um temperamento
singular. Sua beleza provém de ser o autor o que é, e nada
tem a ver com as outras pessoas quererem o que querem. Com
efeito, no momento em que um artista descobre o que estas
pessoas querem e procura atender a demanda, ele deixa de
ser um artista e torna-se um artesão maçante ou divertido,
um negociante honesto ou desonesto. Perde o direito de ser
considerado um artista. A Arte é a manifestação mais
intensa de Individualismo que o mundo conhece. (Oscar
Wilde, 2003, p.46)[14]


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

HEGEL, Georg Wilhelm Friedrich. Curso de Estética: o Belo na Arte; Tradução
Orlando Vitorino e Álvaro Ribeiro – São Paulo: Martins Fontes, 1996.

WILDE, Oscar. Collected Works of Oscar Wilde. Wordsworth Editions Limited.
1997. Cumberland House, Crib Street, Ware, Hertfordshire.

_____________. Obra Completa. Organizada, traduzida e anotada por Oscar
Mendes. Primeira Edição. Editora José Aguilar, LTDA, 1961. Rio de Janeiro,
RJ.

_____________. A Alma do Homem Sob o Socialismo. Tradução de Heitor
Ferreira da Costa – Porto Alegre, L&Pm, 2003.

_____________. De Profundis e outros escritos do cárcere. Tradução de Júlia
Tettamanzy e Maria Ângela Saldanha Vieira de Aguiar – Porto Alegre, L&PM,
2006.

WEBER, Max. A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo. Editora Martin
Claret, 2007. Tradução da versão inglesa de Talcott Parsons, Harvard
University.

PERROT, Michelle. História da vida privada, 4: da Revolução Francesa à
Primeira Guerra. Tradução de Denise Bottman, partes 1 e 2; Bernardo Joffily
partes 3 e 4. São Paulo: Companhia das Letras, 1991.









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[1] Professora Substituta do Departamento de Artes Cênicas/UFSM. Bacharel
em Artes Cênicas (UFSM)
[2] Pires, Paulo Roberto é jornalista e professor da UFRJ, autor da
biografia: Helio Pellegrino – A paixão indignada (1998) e do romance Do
amor ausente (2000).
[3] The little ducks were swimming about in the pond, looking just like a
lot of yellow canaries, and their mother, who was pure white with real red
legs, was trying to teach them how to stand on their heads in the water.
'You will never be in the best society unless you can stand on your heads,'
she kept saying to them; and every now an then she showed them how it was
done. But the little ducks paid no attention to her. They were so young
that they did not know what an advantage it is to be in society at all'.[4]
(Oscar Wilde, 1997, p. 341)
[5] '(…) when people are in trouble they should be left alone and not be
bothered by visitors. That at least is my idea about friendship, and I am
sure I am right. So I shall wait till the spring comes, and then I shall
pay him a visit, and he will be able to give me a large basket of
primroses, and that will make him so happy.' (Oscar Wilde, 1997, p. 342)
[6] It is not in very good repair; indeed, one side is gone, and there is
something wrong with the wheel-spokes; but in spite of that I will give it
to you. I know it is very generous of me, and a great many people would
think me extremely foolish for parting with it, but I am not like the rest
of the world. I think that generosity is the essence of friendship and,
besides, I have got a new wheelbarrow for myself. Yes, you may set your
mind at ease. I will give you my wheelbarrow. (Oscar Wilde, 1997, p. 344)
[7]A great loss to me at any rate, answered the miller; why, I had as good
as given him my wheelbarrow, and now I really don't know what to do with
it. It is very much in my way at home, and it is in such bad repair that I
could not get anything for it if I sold it. I will certainly take care not
to give away anything again. One certainly suffers for being generous.
(Oscar Wilde, 1997, p. 348)
[8]It is quite a treat to hear you talk about friendship. I am sure the
clergyman himself could not say such beautiful things as you do, though he
does live in a three-storeyed house, and wear a gold ring on his little
finger.' (Oscar Wilde, 1997, p. 342), (…)'What a silly boy you are! I
really don't know what is the use of sending you to school. You seem not to
learn anything. Why if little Hans came up here, and saw our warm fire, and
our good super, and our great cask of red wine, he might get envious, and
envy is a most terrible thing, and would spoil anybody's nature. I
certainly will not allow Hans' nature to be spoiled. I am his best friend,
and I will always watch over him, and see that he is not led into any
temptations. Besides, if Hans came here, he might ask me to let him have
some flour on credit, and that I could not do. Flour is one thing, and
friendship is another and they should not be confused.' (…) 'How well you
talk!' said the miller's wife pouring herself out a large glass of warm
ale; 'really I feel quite drowsy. It is just like being in church'. (Oscar
Wilde, 1997, p. 343)
[9]'In the modern stress of competition and struggle for place, such
sympathy is naturally rare, and is also very much stifled by the immoral
ideal of uniformity of type and conformity to rule which is so prevalent
everywhere, and is perhaps most obnoxious in England.' (Oscar Wilde, 1997,
p. 1064)
[10]I am afraid it will not go with my dress, and besides, the
chamberlain's nephew has sent me some real jewels, and everybody knows that
jewels cost far more than flowers.' 'Well, upon my word, you are very
ungrateful', said the student angrily; and he threw the rose into the
street, where it fell into the gutter, and a cartwheel went over it.
'Ungrateful!" said the girl. "I tell you what, you are very rude; and,
after all, who are you? Only a student. Why, I don't believe you have even
got silver buckles to your shoes as the chamberlain's nephew has;" and she
got up from her chair and went into the house. (Oscar Wilde, 1997, p. 331)
[11]What a silly thing love is!, said the student as he walked away. It is
not half as useful as logic, for it does not prove anything, and it is
always telling one of things that are not going to happen, and making one
believe things that are not true. In fact, it is quite unpractical, and, as
in this age to be practical is everything, I shall go back to philosophy
and study metaphysics. (Oscar Wilde, 1997, p. 331)
[12]' Selfishness is not living as one wishes to live; it is asking others
to live as one wishes to live." (Oscar Wilde, 1997, p. 1063)
[13]'She has form,' he said to himself, as he walked away through the grove
– 'that cannot be denied to her; but has she got feeling? I am afraid not.
In fact, she is like most artists; she is all style without any sincerity.
She would not sacrifice herself for others. She thinks merely of music, and
everybody knows that the arts are selfish. Still, it must be admitted that
she has some beautiful notes in her voice. What a pity it is that they do
not mean anything, or do any practical good!' (Oscar Wilde, 1997, p. 329)
[14] Conforme Michele Perrot, na História da Vida Privada, pessoas
preocupadas em demasia com sua vestimenta.
[15]A work of art is the unique result of a unique temperament. Its beauty
comes from the fact that the author is what he is. It has nothing to do
with the fact that other people want what they want. Indeed, the moment
that an artist takes notice of what other people want, and tries to supply
the demand, he ceases to be an artist, and becomes a dull or an amusing
craftsman, an honest or a dishonest tradesman. He has no further claim to
be considered as an artist. Art is the most intense mood of individualism
that the world has known. (Oscar Wilde, 1997, p. 1052)
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