Paisagens do Cinema Pernambucano: cotidiano e existencialismo em O Som ao Redor e Amarelo Manga

June 12, 2017 | Autor: Pietro Félix | Categoria: Cultural Geography, Cultural Landscapes, Brazilian Cinema, Cinema
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A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO

Paisagens do Cinema Pernambucano: cotidiano e existencialismo em O Som ao Redor e Amarelo Manga PIETRO RENATO FELIX DE QUEIROZ1 Resumo: O cinema é uma arte profundamente espacial. A produção de filmes torna quase reais a construção/ representação de paisagens de lugares, ressignificadas pela experiência autoral com a cidade. Fruto disto, é a construção do discurso político e ideológico que compostos nas paisagens cinematográficas. Em “Amarelo Manga” e “O Som ao Redor”, Recife é decriptada sob a perspectiva do cotidiano e do existencialismo expressos na paisagem urbana da cidade envolta às tramas narrativas. Para isto, a geografia cultural desponta como caminho possível para a leitura dessas paisagens cinematográficas outrora traduzidas de epifanias existenciais.

Palavras-chave: Paisagem Cinematográfica; Paisagem Geográfica; Geografia Cultural; Recife;

Abstract: The film is a deeply spatial art. The film production becomes almost real building / representation of landscape places, re-signified by copyright experience with the city. The result of this is the construction of political and ideological discourse that compounds in cinematic landscapes. In "Yellow Manga" and "The Sound Around", Recife is decrypted from the perspective of everyday life and existentialism expressed in the urban landscape of the city surrounded the narrative plots. For this, the cultural geography is emerging as a possible way to read these cinematic landscapes once translated existential epiphanies.

Key-words: Film Landscape; Geographic landscape; Cultural geography; Recife;

A Paisagem Geográfica ora vista pelo Cinema A paisagem geográfica tem sido um campo profícuo de estudos de geografia. Mais recentemente, um bom número de trabalhos científicos vem sendo produzidos onde este elemento ganha valor como materialidade dos processos sócioespaciais ocorridos. O uso frequente do termo “paisagem” implica numa série de posicionamentos acerca deste conceito, porém, nos pautaremos para este trabalho no seu uso sob a perspectiva da geografia cultural, considerando todas as outras assertivas provindas de outras linhas de pensamento2. Buscamos através da construção da paisagem pela arte elementos constitutivos para uma ciência da imagem. Ou seja, consideramos a geografia como uma ciência visual seja na elaboração de mapas, pinturas rupestres até uma medianera grafitada, signos geográficos produzidos através da relação entre o ser humano e a natureza. Para

1

Discente do curso de Mestrado no Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal de Pernambuco. E-mail de contato: [email protected]. 2 Sobre as formas de leituras sobre a paisagem ver Claval (2013).

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isso, o desenvolvimento dum debate onde a geografia e arte evidência uma necessidade para os estudos contemporâneos partindo da noção de profundidade que a ideia de paisagem começara a ser pensada e difundida pela pintura. Por caminho semelhante, diversas linguagens artísticas dotaram a paisagem como produto de epifanias e discursos imagéticos contextualizados com seu tempo. A fotografia, a música, a literatura, a dança, a escultura, o teatro e, por último, o cinema, expressam paisagens em suas construções poéticas espacializando, assim, a experiência espacial do autor. Para o caso deste trabalho, traremos à luz a paisagem

cinematográfica

enquanto

construção/representação

da

paisagem

geográfica em Recife, Pernambuco. Especificamente,

tais

leituras

permeiam

obras

da

cinematografia

pernambucana que cunham da paisagem urbana da cidade como elemento narrativo para a construção das obras. Sendo elas epifanias dotadas de experiências espaciais por parte de seus autores, consideramos na produção de cinema em Recife a construção de mapas mentais apresentados em obras cinematográficas partidas da diversidade de paisagens presentes nas obras contextualizadas com os processos sócioespaciais da cidade. Portanto, diversos aspectos podem ser decriptados a partir da análise fílmica das obras. Para tanto, especificaremos para este artigo duas obras situadas em temporalidades distintas no que tange a leitura sobre a paisagem geográfica em curso. A primeira obra escolhida como escopo de observação é o longa-metragem “Amarelo Manga”, lançado no ano de 2003, com direção de Claudio Assis. O segundo é o primeiro longa-metragens do diretor Kleber Mendonça Filho, “O Som ao Redor” (2012). Ambos os filmes propõem sob perspectivas distintas expressões do cotidiano e do existencialismo transfigurado em paisagens cinematográficas que coadunam com o contexto histórico e econômico do Recife.

Percursos na Recife Amarela Tais percursos denotam, inicialmente, da relação entre os autores e a cidade. Porém, é partindo da experiência estética entre filme x público que são decodificados os mapas mentais tecidos nos percursos durante a leitura da obra. Assim como uma experiência no espaço vivido, o percurso geográfico necessita

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como apreensão espacial no cinema da imersão do pesquisador nos espaços produzidos pelo filme. Primeiro, ao observarmos a cena em curso, devemos dispor das nossa gama de valores acumuladas enquanto sujeito pertencente a uma determinada sociedade, nossas referências ideológicas3. Aliado a isto, selecionamos a direção à qual o olhar está disposto, transcendendo a imagem disposta em cena4 e desvendando novas imagens sobre a paisagem ali construída. Tal situação nos reporta às grandes expedições em busca de novas terras como o relatado pelo filósofo Jean-Marc Besse sobre o trajeto de Petrarca ao monte Ventoux5. O percurso provoca no ser humano a experiência com o novo carregada de vivências pretéritas até o dado encontro. Podemos considerar tal fato como uma revelação de paisagens, se analisarmos verticalmente. Dessa forma, podemos afirmar que o cinema é um encontro com o inesperado. O cinema dispõe de recursos teóricos e tecnológicos para a construção de paisagens, representação de lugares e estabelecimento de territórios em obras que derivam de contextos da cultura global. Para a geografia, o papel em ler, decriptar e interpretar paisagens tem sido frequentemente fonte inesgotável de novas formas de concebê-las no que podemos chamar de modernidade. O cinema surge em meio a tantas outras novidades como recurso possível para os estudos geográficos. Para este caso, busca-se entender como o cinema se põe na condição de dispositivo de comunicação de massa, com acesso vias canais de informação e alcance a milhares de pessoas mundo afora. Ainda que estas obras cunham dum caráter autoral e façam parte do circuito de produção de cinema no Brasil. Portanto, há de convir que o cinema haja enquanto prática social ao conduzir discursos e ideologias estabelecendo novas formas de ver e consumir o espaço. Por isso, nota-se que exemplos ocorridos em Recife como a intensa modificação na morfologia da paisagem, emergindo como um caleidoscópio de formas e símbolos que são tratadas pelo cinema local de maneira transnacional. Vale lembrar que tais processos econômicos e políticos têm ocorrido em diversas 3

BERDOULAY (2012). XAVIER (2003) 5 BESSE (2006). 4

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partes do mundo ao que se refere os países em desenvolvimento. Daí, podemos situar que o surgimento de novas paisagens, provocadas pelo discurso do capital político-financeiro são também explorados como formas de arte. Tal processo se faz desde os primórdios do cinema como a invenção da vida moderna 6. Então, ao consideramos tal processo ocorrido nos confins do séc. XIX, início do séc. XX, temos em Recife um sintoma semelhante. Sujeito a tal condição, a cultura se expressa em diversas formas na paisagem geográfica. No caso, o cinema se coloca como dispositivo sensorial fundamental no condensamento de sentidos e práticas existenciais que permeiam a cidade. Isto se encontra em “Amarelo Manga” e “O Som ao Redor” de formas distintas, porém conotam da crise existencial que a cidade revela. Partindo de tais premissas o debate insiste em afirmar que as representações existentes nos filmes não afirmam que o conteúdo apresentado nos filmes sejam fiéis à realidade por mais que o cinema provoque a impressão de realidade sobre o publico 7. Portanto, partimos

das

experiências

dos

autores

transfiguradas

em

construções e

representações dos espaços fílmicos, precisamente na construção da paisagem urbana recifense, onde o choque da impressão x choque estético são postos em confronto na percepção espacial por parte do público. Tomemos como exemplo comum a figura 1 retirada do filme “Amarelo Manga”, lançado em 2003. A imagem em questão já provoca o leitor a interpretá-la a partir de sua cor amarelada, tipifica em atos existentes no filme. O Recife “amarelo” retirado do poema de Renato Carneiro Campos8 conota uma cidade decadente cuja formas de expressão de vida são nutridas pelo banal. Assim como diz o poema que amarelo é a cor das mesas, dos bancos, dos tambores sendo amarelo feito manga, a fotografia do filme contextualiza o poema de Campos em meios as cores dos bairros populares do Recife. Este amarelo, cor adotada durante o filme traduz a ignorância dos povos expressadas em paisagens nos filmes. Em sua maior parte, tendo do Texas Hotel como principal cenário da trama, as tensões que envolvem os personagens, cujas paisagens desta “Recife Amarela” revelam-se importantes para 6

CHARNEY; SCHWARTZ; (2004). METZ (2004). 8 Autor do poema “Tempo Amarelo”, presente na obra “Tempo Amarelo e outros tempos” (1980). 7

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a construção narrativa. A adoção de locações que representam ou constroem sob formas de cenários de um respectivo lugar elucida na formatação de um mapa mental da cidade a partir da obra. Assim como um relato de um viajante, o cinema evoca paisagens que nem sempre são tidas como reais em marcas de um determinado lugar. No caso do “Amarelo Manga”, tal tese se confirma ao depararmos cenários como o Texas Hotel ou mesmo a paisagem da “Rua da Bola”, sendo esta uma vista da zona norte da cidade a partir da Comunidade do Alto José do Pinho.

FIGURA 01 – Vista da “Rua da Bola” em Amarelo Manga. Fonte: ASSIS, 2002.

Sobre isto, pensamos como o discurso sobre a paisagem pode ser produzido diretamente por aqueles que constituem signos sobre a paisagem. Ao considerarmos a câmera de filmar como um olho, entendemos esta como uma extensão óptica aplicada sobre um determinado objeto. Assim como a imagem, a câmera capta aquilo que o observador pretende provocar e produzir, então, uma imagem sobre aquele lugar, aquela paisagem. Por isso, a assimilação partida no confronto da imagem realça a matriz a qual ela foi demarcada9, produzindo então 9

BERQUE (2004).

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significações oriundas de outros processos estéticos e ideológicos por parte do observador. Podemos dizer qual tal assertiva circunscreve a obra citada devido à produção de sentidos e significações àquelas paisagens ali projetadas e cartografadas.

A Paisagem Fílmica em O Som ao Redor Para a compreensão da paisagem fílmica produzida pela recente cinematografia pernambucana, compreendemos aspectos relevantes ao que aferimos como paisagem. Refletindo sobre o artefato cinematográfico como manipulador de massas ao afirmar sobre o poder que as imagens têm de evocar a diversidade e a estabilidade dos contratos sociais acordados em espaços públicos podem ser consideradas metonímias geográficas10, imagens de um consenso possível, senão ideal. Essa hipótese de antecipações cognitivas via paisagens simbólicas (metonímicas) se apoia na capacidade dos indivíduos inscreverem seu cotidiano em esferas territoriais mais vastas que o lugar, do mesmo modo que são capazes de partir de recortes mais amplos para integrar os espaços imediatos da existência. A noção de paisagem permite-nos captar que uma das mais fortes determinações semânticas do imaginário geográfico reside na seleção de certos atributos do mundo ao redor: tais predicados são colocados em primeiro plano e acabam mesmo por designar inteiramente a realidade ao qual querem se referir. Assim, esse procedimento mental metonímico indica de modo claro que as paisagens mobilizadas através de diversas sensibilidades e narrativas podem ser consideradas enquanto esquemas de antecipação cognitiva do real. Do mesmo modo, isto ajuda a relativizar o potencial “manipulador” de paisagens simbólicas e obras fílmicas, uma vez que a retorica sempre envolve disputas, debates e contestações, de modo que as plateias jamais serão totalmente passivas diante da persuasão da imagem. Para tanto, elementos presentes em obras do cinema de Pernambuco dialogam com espaços ainda pouco conhecidos. Temas abordados em filmes produzidos no estado encontram diretamente com o que ocorre, por exemplo, em Shangai. A partir de tais entendimentos, reiteramos a existência do policentrismo na 10

MACIEL (2004).

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produção audiovisual pernambucana, aglutinando feições de paisagem moderna como poderemos ver em “O Som ao Redor” (2012), de Kléber Mendonça Filho, somado às práticas quase invisíveis para a sociedade, mas que em suas minúcias transpassam as barreiras de um cinema nacionalista e percorrem por um cosmopolitismo evidenciado no cinema contemporâneo. Isto, todavia, não é sinônimo de desterritorialização ou abandono de balizas sócioespaciais específicas, pelo contrário. Dessa forma, além de um cinema referenciado, calcado em parâmetros técnicos e estéticos na composição da miseen-scène, os aspectos da cultura local são preponderantes para a construção do filme, de modo que uma construção de universo totalmente particular sob a cunha do olhar do diretor possibilita a imersão em um perímetro de múltiplas histórias. Alguns destes personagens são pontos chaves para a narrativa que se desenvolve ao longo da trama. Assim, o espaço físico é essencial para a construção da leitura feita pelo diretor sobre a espacialidade apresentada. Na construção de paisagens a partir da leitura de um ator social propicia uma complexa e, ao mesmo tempo, prazerosa pesquisa do objeto constituído como fruto da sua experiência de lugar e de vida, consolidando olhares compartilhados de anônimos, também protagonistas das cenas urbanas. Com tal perspectiva, os estudos em geografia, especificamente na Geografia Cultural, nos fornecem métodos e formas possíveis de compreender realidades transpostas pela obra fílmica de maneira a atingir sensorialmente os recursos sinápticos dos espectadores de cada obra e a forma como ela se reproduz na cultura de cada território e, consequentemente, na paisagem. A morfologia da paisagem recifense mostra, através dos filmes, que esta não se refere apenas a um artefato estético do espaço urbano local, mas a um elemento orgânico na dinâmica espacial da cidade. Assim, podemos ver nos filmes pernambucanos que a ação dos personagens se coaduna com essa dinâmica da paisagem presente no recorte geográfico estudado. Então, é possível não apenas nos deparar com a estética da paisagem, mas com sua fisionomia. Portanto, a leitura sobre a paisagem fílmica se torna possível quando partimos da premissa de desconstruí-la em sua materialidade e compreender todo o processo de criação da obra. Sendo no processo de criação que identificamos os mecanismos para a

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produção do filme. Dá redação do argumento à finalização do filme, inúmeras são as ideias produzidas durante o período de produção da obra fílmica e sua distribuição nos circuitos de festivais e comercial de exibição. Ainda desbravando o processo do filme “O Som ao Redor”, em entrevista ao documentário contido nos extras do filme, o diretor Kléber Mendonça Filho relata sobre sua relação com o bairro de Setúbal, seu bairro de moradia, na qual o mesmo afirma conhecer cada ângulo do bairro devido às suas fotografias feitas desde sua juventude. Isso nos remete a pensar o lugar do sujeito, onde ele preserva suas memórias e sentimentos de um período vivido11. Reafirmando tal tese, ao analisarmos a trajetória do diretor, vemos em sua filmografia grande parte de suas obras, a produção ocorrer nas ruas do bairro de Setúbal. Daí, além deste sentimento com o lugar, compreendemos que esta produção do referido diretor se faz tanto nas formas visíveis da paisagem assim como nas invisíveis.

FIGURA 2 – O Abrir de janelas e o percurso histórico pela paisagem. Fonte: MENDONÇA FILHO, 2012.

Para a produção dum trabalho sobre filmes, busca-se sempre enuncia-los através de quadros, fotogramas, etc., o que torna incipiente quando ao analisarmos a obra decidirmos este ou aquele quadro que explique tal proposição aferida. Para este caso, a partir do início da cena, onde mãe e filha vão acompanhadas do protagonista (um corretor de imóveis) conhecer o apartamento, o abrir de janelas, 11

TUAN (2013).

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comum para apreciação da paisagem, revela durante o filme o processo temporal ocorrido sobre aquela paisagem formadas em sua profundidade por prédios antigos que se sucedem até o horizonte sediados por longos espigões. Tal trabalho reforça a tese da relação entre o autor e espaço na determinação dos planos de filmagem, possibilitando a extração minuciosa das paisagens construídas no filme.

A Imagem como Paisagem Política do Cinema A justaposição de imagens em movimento permite uma ideia de representação do real como bem faz o cinema. A realidade transfigurada em epifanias e militâncias por parte de autores, que outrora detiveram expostos durante suas composições de experiências sinestésicas com a natureza. Para isto, a geografia

dispões

de

recursos

palpáveis

para

compreender

fenômenos

contemporâneos que tomam corpo no cenário global expressadas sob formas de movimentos sociais, movimentos vanguardistas, dentre outros, engajados em problematizar ou satirizar as tensões que envolvem o espaço habitado e vivido. Todavia, os meios de comunicações, cujo na era das conexões de dados, inflama ainda mais o debate sobre a paisagem, onde filmes relativizam as instâncias de poder dum capitalismo em crise ou renovação de interfaces, complexificando ainda mais as disputas de poder. Haja visto que “Amarelo Manga” e “O Som ao Redor” despontam como grandes obras do cinema brasileiro recente por trazer à luz questões que envolvem a sociedade brasileira sem perder o caráter autoral de cada uma. Dessa forma, geograficizar o cinema é uma arte ainda não desvendada por existirem diversas metodologias de análise seguindo os diversos caminhos propostos pela geografia. Ainda, é essencial que recorramos a história da arte para buscar respostas para as perguntas que sempre surgem sobre o espaço geográfico, outrora que as manifestações artísticas se consolidam sobre o espaço no estabelecimento de contratos sociais entre o ser humano e a natureza. A paisagem geográfica é vista como a materialidade do olhar do homem sobre a natureza formatada sobre as experiências pretéritas por parte daquele que a observa. Para isto, diversas seriam as formas de leitura sobre a paisagem, considerando as teorias e métodos adotados pelo olho (câmera), assim como pelos

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dispositivos disponíveis em cada cultura, capacitando uma extensa e rica gama de olhares. O visível conta algo, uma história, ele é a manifestação de uma realidade da qual ele é, por assim dizer, a superfície. A paisagem é um signo, ou um conjunto de signos, que se trata então de apender a decifrar, a decriptar, num esforço de interpretação que é um esforço de conhecimento, e que vai, portanto, além da fruição e da emoção. A ideia é então que há de se ler a paisagem12.

Considerando que a discussão não toma fim por um escrito, ao notarmos que a paisagem cinematográfica requer de ávido esforço teórico e metodológico, há também a obrigação do pesquisador em geografia de torná-la visível aqueles que pouco a concebem enquanto produto cultural em derivações das relações espaciais cotidianas. Para tanto, a paisagem é ressiginificada cotidianamente assim como ver um filme. A cada momento defrontado com a paisagem ou um filme, uma nova leitura é processada na experiência.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BESSE, Jean-Marc. Ver a terra: seis ensaios sobre a paisagem e a geografia. São Paulo: Perspectiva, 2006, 108 p. CHARNEY, L.; SCHWARTZ, V.R. (orgs). O cinema e a invenção da vida moderna. 2.ed., rev. São Paulo: Cosac & Naify, 2004. 458 p. CLAVAL, P. A paisagem dos geógrafos. In: CORRÊA, R.L., ROSENDAHL, Z. (orgs.) Geografia cultural: uma antologia (1). Rio de Janeiro: EdUERJ, 2012, p. 245-276. MACIEL, C. A. A. Metonímias Geográficas: Imaginação e Retórica da paisagem no semi-árido pernambucano. 2004. 527p. Tese (Doutorado em Geografia) – Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de janeiro, 2004. TUAN, Y. F. Espaço e lugar: a perspectiva da experiência. Londrina: Eduel, 2013. 248p. XAVIER, Ismail; EMBRAFILME. A experiência do cinema: antologia . 3. ed. rev. e aumentada. Rio de Janeiro: Edições Graal : EMBRAFILME, 2003. 483 p.

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(BESSE, 2006, p. 64)

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FILMOGRAFIA

ASSIS, Cláudio. Amarelo Manga. [Filme-Vídeo]. Produção de Paulo Sacramento e Cláudio Assis, direção de Cláudio Assis. Recife, 2003. 35mm, 100min. Ficção. Colorido. FILHO, Kleber Mendonça. O som ao redor. [Filme-Vídeo]. Produção de Emilie Lesclaux e Cinemascópio Produções Cinematográficas, direção de Kleber Mendonça Filho. Recife, 2012. 35mm, 131 min. Ficção. Colorido.

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