PAISAGENS SONORAS COMO RECURSOS PARA A GEOGRAFIA ESCOLAR

June 24, 2017 | Autor: L. Mayer Malanski | Categoria: Paisagem, Paisagem Sonora, Geografía Escolar
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PAISAGENS SONORAS COMO RECURSOS PARA A GEOGRAFIA ESCOLAR Lawrence Mayer Malanski1 - PNFM Grupo de Trabalho - Didática: Teorias, Metodologias e Práticas Agência Financiadora: não contou com financiamento Resumo A geografia escolar está aberta a uma variedade de recursos para apoiar, diversificar e facilitar a prática pedagógica e os processos de ensino e aprendizagem, buscando despertar o interesse dos estudantes e aproximá-los de diferentes formas de compreensão do espaço geográfico. Este, por sua vez, pode ser lido através da inter-relação de categorias de análise da geografia, tais como território, lugar, região e paisagem. O estudo desta última categoria auxilia os estudantes na compreensão da complexidade do espaço geográfico uma vez que é o resultado da vida cotidiana das pessoas, dos processos produtivos, da cultura e da transformação da natureza. Já a paisagem sonora pode ser entendida como o conjunto de sons de um determinado espaço, que soma-se à paisagem como uma camada que reflete aspectos socioeconômicos, culturais, naturais e especificidades de regiões. Nesse contexto, foram desenvolvidas com o uso de um software cinco arquivos digitais de áudio de paisagens sonoras distintas que tiveram como objetivo proporcionar aos estudantes a noção de que os seres humanos, suas técnicas e instrumentos agem diretamente sobre o espaço produzindo e transformando paisagens, destacando o aspecto dinâmico e relacional dessa categoria de análise geográfica. Os recursos elaborados foram utilizados durante duas aulas com uma turma de estudantes do 6° ano do Ensino Fundamental de uma escola pública estadual da cidade de Curitiba, Paraná. A partir da percepção das paisagens sonoras reproduzidas os estudantes elaboraram mapas mentais, que foram lidos e interpretados a partir de metodologia própria e do referencial teórico adotado. Os resultados da análise dos mapas mentais indicaram a possibilidade dos usos de paisagens sonoras como recursos para o estudo da paisagem pela geografia escolar, umas vez que despertaram o interesse dos estudantes, estimularam suas imaginações, valorizaram suas experiências vividas e, ainda, revelaram e destacaram aspectos do cotidiano do lugar. Palavras-chave: Geografia. Paisagem. Paisagem sonora.

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Coordenador de Ciências Humanas do Parque da Ciência Newton Freire Maia (PNFM), Pinhais, Paraná. Aluno do curso de doutorado em Geografia da Universidade Federal do Paraná. Pesquisador do Laboratório Território Cultura e Representações (LATECRE – NEER). E-mail: [email protected].

ISSN 2176-1396

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Introdução O espaço geográfico apresenta-se diverso e complexo, exigindo que os estudantes do Ensino Fundamental o compreendam a partir de diferentes perspectivas que se interrelacionam. Buscando facilitar tal compreensão, pode-se pensar o espaço geográfico a partir de categorias de análise próprias da geografia, tais como lugar, território, região e paisagem. Para tanto, os estudos desta última categoria devem envolver grande número de elementos que efetivamente formam as paisagens e são responsáveis por sua dinâmica, além de contemplar suas dimensões objetivas e subjetivas. Nessa perspectiva, tem-se a paisagem sonora como uma camada da paisagem percebida capaz de adicionar informações referentes a cultura e a sociedade de determinada região, contribuindo, também, para sua dinamicidade. No entanto, de um modo geral, é dada pouca atenção ao aspecto sonoro das paisagens, predominando sua forma visual. Nas práticas escolares de geografia isto também se reflete, sendo comum o uso apenas de imagens nos estudos que envolvem a ideia de paisagem. Contudo, acredita-se que a adaptação das paisagens sonoras aos estudos na escola da ideia de paisagem pela geografia poderia possibilitar aos estudantes novos elementos que não seriam contemplados pelo lance visual, contribuindo, então, para que esses pensem sobre os fatos e acontecimentos mediante várias explicações. Nesse contexto, este artigo tem por objetivo apresentar os resultados de uma pesquisa na qual foram elaboradas paisagens sonoras que foram utilizadas durante duas aulas em uma turma do 6° ano do Ensino Médio de uma escola pública estadual localizada na cidade de Curitiba, Paraná. Os resultados dessa pesquisa indicaram a possibilidade do uso dessa forma de paisagem como um recurso didático viável e interessante. A geografia escolar e a paisagem como categoria de análise geográfica A disciplina escolar de geografia, assim como todo o currículo escolar, permeia entre a realidade da sala de aula e da escola, as transformações e debates da pesquisa científica e as muitas ações governamentais, como os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), refletindo, assim, o momento histórico vivido e a sociedade (OLIVEIRA, 2002). Além disso, a construção do conhecimento geográfico está diretamente relacionada ao binômio ensinoaprendizagem, necessitando, então, a criação de situações, processos e mecanismos

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intelectuais para que o estudante obtenha aquisições mentais ao longo do tempo (OLIVEIRA, 2002). Puntel (2007) afirma que a geografia é a área do conhecimento responsável por fazer refletir, compreender, observar, interpretar e pensar o espaço geográfico. Este pode ser lido através da inter-relação das categorias de análise paisagem, território, lugar e região na busca de processos de ensino-aprendizagem que se busquem formar pessoas mais comprometidas e com raciocínios e conhecimentos a respeito do espaço que habitam (PUNTEL, 2007). Para tanto, os estudos da geografia escolar devem abordar as relações entre os processos históricos na formação das sociedades humanas e o funcionamento da natureza a partir das categorias de análise próprias dessa área do conhecimento, entre eles, a paisagem (BRASIL, 1998). Assim, a análise desta última categoria de análise deve enfatizar seu aspecto dinâmico, abrangendo e relacionando diferentes noções espaciais, temporais, sociais, culturais e naturais (BRASIL, 1998). Se bem conduzidos, os estudos sobre paisagem possibilitam ao estudante compreender, em partes, a complexidade do espaço geográfico, pois ela é o resultado da vida das pessoas, dos processos produtivos, da cultura e da transformação da natureza (PUNTEL, 2007). Para tanto, tais estudos devem contemplar o maior número possível de elementos que formam as paisagens e são responsáveis pela sua dinâmica, fazendo-se necessário então considerar suas dimensões objetivas e subjetivas e seu processo permanente de construção e reconstrução (PUNTEL, 2007). Além disso, há uma relação próxima entre paisagem e lugar (BRASIL, 1998). É a partir do lugar que o estudante começa a ter um entendimento maior do espaço geográfico, pois é nele onde estão as referências pessoais e os valores que direcionam as diferentes formar de perceber e interagir com a paisagem e o espaço geográfico (PUNTEL, 2007). De modo similar Kozel (1999, p. 31) afirma que "através da compreensão do local, torna-se muito mais fácil o estudo de qualquer área do planeta, pois permite estabelecer analogias a partir de uma experiência vivida, além de aguçar o grau de reflexão". Nessa perspectiva nota-se a valorização da vivência do estudante. A partir de tal valorização, espera-se que cada estudante leia e represente uma paisagem de forma distinta, identificando os aspectos que fazem cada um se aproximar dela. Não se deve, no entanto, deixar de relacionar essa vivência (o local) com o global. Assim, a escala geográfica é outro elemento importante para os estudos sobre o espaço geográfico, onde o local e o global são indissociáveis e recíprocos (BRASIL, 1998).

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A paisagem sonora Na cultura ocidental moderna, as pessoas dependem principalmente da visão para sua experiência espacial, negligenciando, muitas vezes, seus demais sentidos perceptivos (SCHAFER, 2011). Contudo, Tuan (1980) indica que tal experiência é aumentada grandemente pelo sentido auditivo. Embora a sensibilidade auditiva humana não seja muito apurada se comparada com a de outros mamíferos, o ser humano se sente mais vulnerável aos sons do que a imagem visual (TUAN, 1980). Assim, "Os olhos obtém informações muito mais precisas e detalhadas sobre o meio ambiente do que os ouvidos, mas geralmente somos mais sensibilizados pelo que ouvimos do que pelo que vemos" (TUAN, 1980, p. 10). A paisagem sonora remete aos trabalhos de Schafer (2011) desenvolvidos na década de 1970, quando ele lançou o World Soundscape Project (WSP), um projeto de estudos comparativos de paisagens sonoras mundiais. Nesse contexto, a paisagem sonora se caracteriza pela unidade dos sons de um determinado lugar, englobando sons de natureza agradável ou desagradável (ruído), além de contribuir com a ideia de que o som de um lugar pode expressar a identidade de sua comunidade (SCHAFER, 2011). Com base na teoria da gestalt, Schafer (2011) propõe para o estudo da paisagem sonora a relação entre três elementos aplicados à percepção visual: figura, fundo e campo, onde: "A figura corresponde ao sinal, ou marca sonora; o fundo corresponde aos sons do ambiente à sua volta - que podem, com frequência, ser sons fundamentais; e o campo, ao lugar onde todos os sons ocorrem, a paisagem sonora." (SCHAFER, 2011, p. 214). Sinais sonoros são os sons de primeiro plano (figura) que chamam atenção. Sons particulares de primeiro plano reconhecidos por uma comunidade e seus visitantes, são chamados marcos sonoros - uma analogia aos marcos geográficos (SCHAFER, 2011). Claval (2014) afirma que o espaço onde se desenvolve a vida social é apropriado por grupos que organizam formas de marcar sua passagem e afirmar a posse do mesmo, fazendo uso para tanto de marcos geográficos (construções, monumentos, rituais entre outros). Assim, tais grupos delimitam o espaço pela multiplicação de marcas que lembram à identidade, à ideologia, comum (CLAVAL, 2014). A partir disto pode-se compreender que, do mesmo modo que os marcos geográficos caracterizam e identificam um lugar e a cultura de sua população, os marcos sonoros podem ter a mesma função, tornando-se “marcos sonoros geográficos” (SCHAFER, 2011).

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Desse modo, entende-se a paisagem sonora como um layer (uma camada) de sons adicionado à paisagem que reflete aspectos socioeconômicos, culturais, naturais e especificidades de regiões, pois é produzido de acordo com a tecnologia e a cultura de cada lugar (BERNAT, 2014; SCHAFER, 2011). Nesse contexto, pensou-se em elaborar e utilizar diferentes paisagens sonoras como recursos para trabalhar com estudantes do Ensino Fundamental a noção de paisagem, envolvendo noções de sua percepção, compreensão, transformação e representação (MALANSKI, 2011). Os recursos didáticos elaborados Os recursos didáticos elaborados consistem em cinco arquivos digitais de paisagens sonoras no formato mp3 com um minuto de duração cada que podem ser reproduzidos em aparelhos de DVD, computadores e alguns aparelhos de som que tenham suporte a esse formato de áudio (MALANSKI, 2011). Tais arquivos foram produzidos a partir de arquivos de sons pesquisados e encontrados para descarga no website 2 e mixados3 no software gratuito Audacity (MALANSKI, 2011). Ao elaborar tais paisagens, buscou-se proporcionar aos estudantes a noção de que os seres humanos, suas técnicas e instrumentos agem diretamente sobre o espaço produzindo e transformando paisagens, o que realça o aspecto dinâmico e relacional desta categoria de análise (MALANSKI, 2011). Nota-se, a seguir, uma breve descrição das paisagens sonoras elaboradas: 1.

Paisagem sonora 1 - Apresenta sons correspondentes a um ambiente sem a interferência de fatores relacionados ao ser humano - ditos "sons naturais". Nela prevalecem como figura os sons de animais (pássaros e sapos) e, ao fundo, o da correnteza de um rio (MALANSKI, 2011). Endereço eletrônico para ouvir e descarregar o arquivo referente a esta paisagem sonora: .

2.

Paisagem sonora 2 - Apresenta sons similares à paisagem sonora anterior, contudo há a inserção de sons produzidos por motosserras. Nela os "sons naturais" passaram a formar o fundo, enquanto o som das motosserras, de vozes e da queda

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O FreesoundProject é um banco de dados colaborativo de sons, onde diversos sons podem ser gratuitamente obtidos a partir de cadastro. 3 Entende-se por mixagem o processo estético e criativo no qual diversas fontes sonoras são combinadas em um ou mais canal de áudio. Durante o processo, manipula-se a frequência, e os níveis de sinal do som entre outros. O produto final busca maior apelo ao ouvinte, o que muitas vezes não pode ser obtido em uma gravação ao vivo.

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de uma árvore a figura (MALANSKI, 2011). Endereço eletrônico para ouvir e descarregar o arquivo referente a esta paisagem sonora: . 3.

Paisagem sonora 3 - Nessa paisagem os "sons naturais" são, praticamente, imperceptíveis. Junto com os sons das motosserras, os "sons naturais" formam o fundo, enquanto os sons de tratores, caminhões, martelos e furadeiras entre outros formam a figura da paisagem sonora (MALANSKI, 2011). Endereço eletrônico para ouvir e descarregar o arquivo referente a esta paisagem sonora: .

4.

Paisagem sonora 4 - Essa paisagem sonora apresenta como fundo "sons naturais", produzidos pelas pessoas e seus instrumentos. Os sons de destaque são o do motor de um veículo, passos de uma pessoa sobre a calçada, vozes e o latido de cães (MALANSKI, 2011). Endereço eletrônico para ouvir e descarregar o arquivo referente a esta paisagem sonora: .

5.

Paisagem sonora 5 - Essa paisagem apresenta como fundo, sons provenientes do tráfego de veículos, o som do murmurinho de pessoas, o acordeom de um artista de rua e alarme automotivo. Como figura, pode-se notar a sirene de uma ambulância, buzinas, freadas de automóveis e o som produzido pela passagem de um helicóptero (MALANSKI, 2011). Endereço eletrônico para ouvir e descarregar o arquivo referente a esta paisagem sonora: .

A experiência com o uso das paisagens sonoras Após a elaboração dos recursos didáticos apresentados anteriormente, formulou-se um plano de aulas cujo objetivo geral foi que os estudantes de uma turma do 6º ano do Ensino Fundamental de uma escola pública estadual localizada em Curitiba, Paraná, compreendessem o aspecto dinâmico da paisagem com auxílio de paisagens sonoras. O plano envolveu duas aulas seguidas de 50 minutos cada e a participação de 28 estudantes (MALANSKI, 2011). Utilizou-se como recurso avaliativo os mapas mentais, considerados representações do mundo real através da perspectiva particular de uma pessoa ou grupo social, passando pela visão de mundo e intencionalidade, refletidas em construções simbólicas (KOZEL, 2007). Deste modo, os mapas mentais diferenciam-se dos mapas tradicionais pois podem ser compreendidos como formas de comunicar, interpretar e imaginar conhecimentos construídos socialmente (SEEMANN, 2003). Ainda, conforme Nuere (2000), os mapas mentais variam segundo um ponto de vista pessoal, influenciados pela idade, pela destreza manual, pelo

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vocabulário e agilidade verbal, pela experiência acerca do espaço e pela diferença de pensamento. Logo, algumas partes dos mapas mentais são comuns a todos, outras a um subgrupo e outras ainda são únicas de cada pessoa (NUERE, 2000). Para a leitura e interpretação dos mapas mentais, Kozel (2009) elaborou uma metodologia composta de quatro fases. Tal metodologia é embasada teoricamente na filosofia da linguagem Mikhail Bakhtin sendo: a primeira fase refere-se à interpretação quanto à forma de representação dos elementos no mapa; A segunda fase refere-se à interpretação quanto à distribuição dos elementos no mapa; A terceira fase faz referência à interpretação quanto às especificidades dos signos representados; Por fim, a quarta fase se refere à apresentação de outros aspectos ou particularidades representadas (KOZEL, 2009). Conforme Kozel (2009, p. 11) "A partir da análise das representações nas quatro fases acima elencadas permite uma maior compreensão sobre a lógica das pessoas e sua relação com o espaço vivido e os discursos estabelecidos por meio dos signos". Assim, nesse contexto, cada estudante elaborou 5 mapas mentais (um para cada paisagem sonora reproduzida) totalizando no fim do processo 140 mapas mentais (MALANSKI, 2011). Deste universo foram selecionados de forma aleatória 10 estudantes e seus mapas, totalizando 50 mapas mentais (MALANSKI, 2011). Estes 50 mapas foram analisados a partir da metodologia elaborada por Kozel (2009) e do referencial teórico adotado (MALANSKI, 2011). A seguir, algumas informações obtidas a partir da leitura e interpretação dos mapas mentais. Primeiramente, notou-se a correspondência entre muitos sons presentes nas paisagens sonoras e elementos representados nos mapas mentais (MALANSKI, 2011). Assim, por exemplo, em todos os mapas referentes à paisagem sonora 1 pode-se notar representações de pássaros e árvores (figura 1). Já em todos os mapas mentais referentes à paisagem sonora 2, árvores e motosserras foram representadas (figura 2) (MALANSKI, 2011).

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Figura 1: Mapa mental elaborado a partir da paisagem sonora 1.

Fonte: Malanski, 2011.

Figura 2: Mapa mental elaborado a partir da paisagem sonora 2.

Fonte: Malanski, 2011.

Com relação aos sons da Paisagem Sonora 3, notou-se que alguns estudantes os perceberam como sendo emitidos por caminhões ou tratores (figura 3), enquanto a maioria deles os perceberam como sendo emitidos por um trem (MALANSKI, 2011). Este último caso foi surpreendente, pois quando a paisagem sonora em questão foi elaborada não foram inseridos sons emitidos por um trem (MALANSKI, 2011). No entanto, este caso mostrou-se interessante pois revelou aspectos do cotidiano dos estudantes, pois há um trecho de um ramal

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ferroviário em frente à escola por onde circulam diariamente vários trens (MALANSKI, 2011). Figura 3: Mapa mental elaborado a partir da paisagem sonora 3.

Fonte: Malanski, 2011.

Quanto às particularidades representadas nos mapas, estas foram notadas, principalmente, no que se refere às paisagens sonoras 3, 4 e 5 (MALANSKI, 2011). Particularidades relacionadas, principalmente, a elementos do cotidiano vivido da cidade de Curitiba e do município vizinho de Almirante Tamandaré (MALANSKI, 2011). Como exemplo disto, tem-se um mapa mental referente à paisagem sonora 4 (figura 4), onde foram representados uma casa, um cachorro, uma cerca e um caminhão de lixo (MALANSKI, 2011). A particularidade fica por conta deste último elemento, pois no caminhão podemos identificar a representação de algo semelhante às personagens da campanha de reciclagem do lixo da Prefeitura de Curitiba (MALANSKI, 2011).

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Figura 4:Mapa mental elaborado a partir da paisagem sonora 4.

Fonte: Malanski, 2011.

Ainda, aliando as vivências dos estudantes às suas imaginações e percepções, elementos que não estavam contidos nas paisagens sonoras foram representados nos mapas mentais (MALANSKI, 2011). Assim obteve-se resultados como alguns mapas referentes à paisagem sonora 5, por exemplo, onde a representação de uma perseguição policial envolvendo uma viatura da RONE (Rondas Ostensivas de Natureza Especial da Policia Militar do Paraná) e um carro (figura 5) (MALANSKI, 2011). Nota-se ainda a frase "Pega ladrão".

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Figura 5: Mapa mental elaborado a partir da paisagem sonora 5.

Fonte: Malanski, 2011.

Assim, de um modo geral, pode-se afirmar que o uso de paisagens sonoras como recursos para o estudo da paisagem pela geografia escolar despertou o interesse dos estudantes, estimulando suas imaginações, valorizando suas experiências vividas e, ainda, revelando e destacando aspectos do cotidiano do lugar (MALANSKI, 2011). Considerações Finais No contexto da geografia escolar, a paisagem, como categoria de análise, precisa ser compreendida pelos estudantes como algo dinâmico, cujos aspectos envolvem diferentes noções espaciais, temporais, sociais, culturais e naturais. Nesse sentido, o uso de paisagens sonoras como recurso didático pode facilitar tal compreensão devido ao fato dessa forma de paisagem refletir aspectos socioeconômicos, culturais, naturais e específicos de regiões. Além disso, notou-se que o uso das paisagens sonoras despertou a imaginação dos estudantes e valorizou suas experiências vividas, favorecendo, deste modo, a compreensão dos lugares que frequentam diariamente. No entanto, deve-se destacar a dificuldade de obtenção pelo professor de arquivos de paisagens sonoras com finalidade didática, uma vez que exige um trabalho de pesquisa que pode ser demorado e difícil. Também, a elaboração de paisagens sonoras como se apresentou neste texto, em ambiente virtual, é algo que demanda pesquisa e conhecimentos para operação do software de mixagem de áudio utilizado. Sendo assim, destaca-se a possibilidade de uso

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rápido das paisagens elaboradas e disponibilizadas para descarga gratuita conforme os endereços eletrônicos apresentados anteriormente. Por fim, considera-se que mesmo o uso das paisagens sonoras nas práticas escolares da geografia não sendo algo comum, existem diferentes possibilidades de aplicação do recurso que podem ser exploradas pelos professores que buscam diversificar suas práticas em sala de aula, contemplando o maior número de elementos que formam o espaço geográfico. REFERÊNCIAS BERNAT, Sebastian. Sound in landscape: the main research problems. Dissertations of Cultural Landscape Comission, Sosnowiec, Polônia, n. 23, p. 89-108, 2014. Disponível em: . Acesso em: 10 mar. 2015. BRASIL. Ministério da Educação e Cultura. Secretaria da Educação Básica: Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) - Ensino Fundamental: Geografia. Brasília: MEC/SEB, 1998. Disponível em: . Acesso em: 17 jul. 2015. CLAVAL, Paul. A geografia cultural. 2ª edição. Florianópolis: Ed. UFSC, 2014. KOZEL, Salete Teixeira. As linguagens do cotidiano como representações do espaço: uma proposta metodológica possível. In: EGAL - Encuentro de geógrafos de América Latina, 12., 2009, Montevideo. Anais... Montevideo: Editora Universidad de la República, 2009. Disponível em: . Acesso em: 24 jul. 2015. KOZEL, Salete Teixeira. Mapas mentais - uma forma de linguagem: perspectivas metodológicas. In: KOZEL, Salete Teixeira; GIL FILHO, Sylvio Fausto. (orgs). Da percepção e cognição à representação: reconstruções teóricas da geografia cultural e humanista. São Paulo: Terceira Margem - EDUFRO, 2007. KOZEL, Salete Teixeira. Produção e reprodução do espaço na escola: o uso da maquete ambiental. Revista paranaense de geografia, nº 4, AGB, Curitiba, p.28-32, 1999. MALANSKI, Lawrence Mayer. Geografia escolar e paisagem sonora. RA’e GA: o espaço geográfico em análise, Curitiba, n. 22, p. 252-273, 2011. Disponível em: . Acesso em: 17 jul. 2015. NUERE, Silvia. ¿Qué es la cartografia mental? Arte, Individuo y Sociedad, Madri. n. 12, p. 229 - 239, 2000. Disponível em: . Acesso em: 08 jun. 2012. OLIVEIRA, Lívia de. O Ensino/aprendizagem de Geografia nos diferentes níveis de ensino. In: PONTUSCHKA, Nidia Nacib; OLIVEIRA, Ariovaldo Umbelino de (orgs). Geografia em Perspectiva. São Paulo: Contexto, p. 217-220, 2002. PUNTEL, Geovane. A paisagem no ensino de geografia. Ágora, Santa Cruz do Sul, n°. 1, p. 283-298, 2007. Disponível em: . Acesso em: 17 jul. 2015.

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SCHAFER, Raymond Murray. A afinação do mundo: uma exploração pioneira pela história passada e pelo atual estado do mais negligenciado aspecto do nosso ambiente: a paisagem sonora. 2ª edição. São Paulo: Ed. UNESP, 2011. SEEMANN, Jörn. Mapas e Percepção ambiental: do mental ao material e vice-versa. OLAM: Ciência e Tecnologia, Rio Claro, n. 1, v. 3, p. 200 – 223, 2003. TUAN, Yi-Fu. Topofilia: um estudo da percepção, atitudes e valores do meio ambiente. São Paulo: Ed. Difel, 1980.

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